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Polarização

Revista em 2017 semestre 2

Introdução

Os fenômenos de difração e interferência deram apoio às idéias


da teoria ondulatória no início do século XIX. Essa teoria estabelece
que a luz é uma onda eletromagnética. Porém, os fenômenos de
difração e interferência ocorrem tanto para ondas transversais,
quanto longitudinais, comoondas sonoras. Foi a descoberta da
polarização que decidiu em favor da idéia de que a luz pode, de fato,
ser representada por ondas eletromagnéticas transversais.

Os conceitos básicos sobre polarização são apresentados em


vários livros, entre os quais indicamos Optica de E. Hecht, capítulo
8, Waves - Berkeley, capítulo 8 e na aula 14 de Física 4 – Notas
de Aula de M.J.Bechara et al. Nesta apostila vamos tentar resumir os
principais conceitos e resultados para facilitar o entendimento da
experiência proposta.

1 Polarização – 2012-rev2017
Não vamos nos preocupar com a descrição quântica da radiação
eletromagnética porque para as experiências que pretendemos
realizar a descrição clássica baseada na teoria de Maxwell funciona
muito bem.

2 Polarização – 2012-rev2017
Índice

Introdução Página 1

Radiação Eletromagnética Página 4

Objetivos desta experiência Página 9

Polarização por Dicroísmo Página 12

Lei de Malus Página 13

Polarizadores de Grade Página 16

Polarização por Reflexão Página 18

Coeficientes de Reflexão Página 24

Birrefringência Página 27

Placas de Onda Página 28

Atividade Óptica Página 35

Procedimento Experimental Página 37

Procedimento para verificação das características do laser He-Ne


Página 39

Procedimento para verificação da Lei de Malus Página 41

Procedimento para verificação da Lei de Brewster Página 44

Procedimento para Medida dos Coeficientes de Reflexão Página 46

3 Polarização – 2012-rev2017
Procedimento para o estudo da Birrefringência
Placas de ¼ de onda Página 48

Procedimento para o estudo da Birrefringência


Placas de ½ onda Página 50

Procedimento para o estudo da Birrefringência


Atividade Óptica em Solução de Açúcar Página 52

4 Polarização – 2012-rev2017
Radiação Eletromagnética

De acordo com essa teoria a radiação eletromagnética é


considerada como uma onda transversal composta de um campo
elétrico e um campo magnético, oscilantes no tempo,
perpendiculares entre si e à direção de propagação. De fato, o campo
elétrico oscilante no tempo gera o campo magnético. Na verdade os
campos elétrico E e magnético B, são dois aspectos de um único
fenômeno que é o campo eletromagnético. Daqui por diante,
podemos, por simplicidade nos referir somente ao campo elétrico,
porque sabendo as leis que governam esse campo, sabemos também
as leis que governam o campo magnético associado.

Como o campo elétrico da radiação eletromagnética é um


campo transversal, para especificar a onda ponto a ponto, é
necessário especificar a direção de E em cada instante. Essa
descrição corresponde à polarização da luz. No caso da luz
linearmente polarizada, ou polarizada no plano, isso significa que a
orientação do campo elétrico é sempre constante, embora sua
magnitude e seu sinal variem no tempo, como pode ser visto na
figura 3.1 a seguir.

y
x

Figura 3.1: Campos eletromagnéticos E e B para radiação


luminosa linearmente polarizada.

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A polarização linear é o estado mais simples de polarização da
luz e ocorre quando o campo elétrico é sempre paralelo a um plano
definido, chamado plano de polarização da onda. A onda
representada na figura 3.1 é uma onda plano-polarizada ou onda
linearmente polarizada no plano-xy. O campo elétrico pode ser
escrito como:

E ( z,t ) = E0 cos ( kz−ω t ) ĵ (3.1)

onde j é o versor da direção y, ω é a frequência angular e k é o


número de onda, uma constante dada em função do comprimento de
onda λ:


k= (3.2)
λ

Como pode ser visto, numa dada posição (z = constante), o


campo elétrico realiza uma oscilação harmônica na frequência
angular ω. Num dado instante (t = constante), o campo elétrico
varia harmonicamente com a posição x. Há três características de
uma onda transversal ideal embutidas na equação 1.1:
1) o parâmetro E0 indica que a amplitude do campo
elétrico é constante, independente de x ou y, ou seja, a onda é
plana;
2) o versor j garante que o campo E esteja só no
plano y, ou seja, polarizada neste sentido;
3) k é uma constante, ou seja, a onda é
monocromática.

A onda é chamada circularmente polarizada quando o campo


elétrico da onda gira em torno da direção de propagação, tendo
módulo constante. Nesse caso, pode-se dizer que, numa dada posição
o vetor campo elétrico realiza um movimento circular uniforme.

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Quando o vetor campo elétrico descreve uma elipse, a onda é
chamada elipticamente polarizada. Matematicamente, a onda
elipticamente polarizada pode ser descrita como a superposição de
duas ondas, de amplitudes diferentes, linearmente polarizadas em
direções perpendiculares e defasadas de 90°. Em particular, a
superposição de duas ondas, de mesma amplitude, defasadas de
90°, resulta numa onda circularmente polarizada. Deve ser
observado que a superposição de duas ondas ortogonais linearmente
polarizadas e em fase resulta numa onda linearmente polarizada.
Na figura 3.2 a e b, a seguir, vemos uma onda circularmente
polarizada e uma onda elipticamente polarizada, respectivamente.

Figura 3.2: Luz circularmente polarizada (a) e luz elipticamente


polarizada (b).

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A onda elipticamente polarizada é o estado mais geral de
polarização definida para uma onda eletromagnética no espaço livre.
Além disso, existem os estados de polarização não muito bem
definidos. Quando a polarização varia rapidamente e de maneira
completamente aleatória no tempo, a onda é considerada não
polarizada. Em certos casos, a luz é polarizada, mas a polarização
varia lentamente com o tempo. Além disso, a radiação pode ser
parcialmente polarizada, que é a superposição de radiação não
polarizada com radiação de polarização definida. Fontes luminosas
comuns emitem luz chamada de natural ou não polarizada. Em
geral, a luz, seja de origem artificial ou natural, não é nem
completamente não polarizada, nem completamente polarizada. Os
dois casos são extremos, normalmente toda luz é parcialmente
polarizada.

A luz não polarizada é usualmente representada como uma


superposição de duas ondas polarizadas ortogonais, incoerentes e
arbitrárias e de mesma amplitude. Este feixe é representado pela
polarização paralela ao plano de incidência (//) e pela polarização
perpendicular ao plano de incidência (⊥).

Em outras palavras, qualquer feixe de luz não polarizada pode


ser decomposto em dois feixes, perpendiculares entre si, sendo um
polarizado na direção paralela ao plano de incidência e outro na
direção perpendicular ao plano de incidência. Portanto, deve ser
observado que o resultado desta “superposição” não é um estado de
polarização definido, devido ao caráter aleatório das fases
envolvidas, quer dizer, a diferença de fase entre as ondas, ou fase
relativa, varia de maneira rápida e aleatória.

Existem vários métodos para se obter uma onda


eletromagnética linearmente polarizada a partir de uma onda não
polarizada. Esses métodos se baseiam em diferentes propriedades dos
estados ortogonais de polarização, tais como diferentes índices de
refração, diferentes atenuações (dicroismo) ou diferentes
propriedades de reflexão. Esses métodos são discutidos em detalhe
no capítulo 8 do livro Optics de E. Hecht. Os métodos de polarização
por reflexão e dicroismo são resumidos a seguir. Entretanto, deve ser

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observado que existem outros polarizadores, tais como tela de fios
paralelos para radiação infravermelha distante, cristais birrefrigentes
que permitem separar duas polarizações (efeito de dupla refração) e
prismas especiais.

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Objetivos desta experiência

A primeira providência em experiências sobre polarização é


conhecer a polarização da luz utilizada. No caso desta experiência
precisamos de fontes de luz não polarizadas. Temos um laser de He-
Ne que é do tipo chamado “não polarizado”, mas, em geral, ele
possui uma componente polarizada com uma polarização que varia
com o tempo. Se essa variação é lenta ou rápida, vai depender do
tipo de laser e do tempo de estabilização do tubo (veja seções 15.3
e 15.6 da apostila de CFE, vol 2). Nós vamos ter que determinar as
características do laser que temos à nossa disposição para ver se é
adequado às experiências propostas, ou seja, suficientemente estável
e não polarizado. O procedimento para essa verificação está na
página 39.

Em seguida vem o estudo da polarização por dicroismo, com a


verificação da lei de Malus. O resumo teórico pode ser lido na
página 13 e o procedimento experimental na página 41.

A seguir vamos estudar o processo da polarização por


reflexão, medindo o ângulo de Brewster e os coeficientes de
reflexão para o lucite. O resumo teórico encontra-se nas páginas 18
e 24 e o procedimento nas páginas 46 e 48.

A última parte desta experiência é sobre o fenômeno da


birrefringência. Elementos birrefringentes podem ser usados para
alterar o estado de polarização de um material, a placa de ½ onda e
a placa de ¼ de onda são alguns dos dispositivos com essas
características. A proposta é estudar seu efeito sobre feixes de luz
polarizada. Veja a parte teórica nas páginas 27 e 28 e o
procedimento experimental nas páginas 48 e 50.

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Outro tipo de material birrefringente é aquele que apresenta o
fenômeno da atividade óptica cujo efeito é fazer o plano de
vibração do campo elétrico de um feixe de luz polarizada sofrer uma
rotação contínua, à medida que se propaga em determinados meios.
No caso, vamos estudar um meio líquido opticamente ativo e
relacionar algumas propriedades desse meio ao ângulo de rotação
sofrido pelo plano de vibração do campo elétrico da luz polarizada. O
resumo teórico encontra-se na página 35 e o procedimento
experimental na página 52.

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Polarização por Dicroísmo

Certos cristais e materiais sintéticos podem apresentar


diferentes graus de absorção, conforme a polarização da radiação.
Esta propriedade é chamada dicroismo. Se a absorção é bastante
acentuada para um estado de polarização, o material dicróico
funciona como polarizador. Esse tipo de comportamento pode ser
visto na figura 3.3 a seguir:

Figura 3.3: Cristal dicróico -


turmalina.

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Os materiais sintéticos chamados polaróides, só transmitem
campo elétrico numa dada direção, como mostra a figura 3.4. A
onda polarizada na direção perpendicular à direção de transmissão
(indicada na figura como a linha hachuriada) é absorvida. Uma boa
descrição do funcionamento desses materiais é dada na seção 8.3.3,
capítulo 8 do livro Optics de E. Hecht.

Figura 3.4: Polarizador linear.

13 Polarização – 2012-rev2017
Um dos inconvenientes do polaróide comum é a absorção
relativamente alta, da ordem de 50%, também para a polarização
que deve ser transmitida. Além deste problema, polaróides comuns
não funcionam muito bem para luz ultravioleta e para infravermelho.
Mesmo nos extremos do espectro visível (vermelho e violeta), já é
possível observar a deficiência.

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Lei de Malus

Um polarizador ideal transmite perfeitamente uma determinada


polarização e elimina perfeitamente a outra. A figura 3.5 mostra
uma onda não polarizada, incidente na direção-z, com o campo
elétrico oscilando em todas as direções do plano x-y. Se um
polarizador ideal P1 com o eixo de transmissão alinhado numa direção
qualquer, somente as componentes E do campo elétrico de todas as
ondas incidentes, paralelas a essa direção, serão transmitidas.

Figura 3.5: Polarizador linear e analisador para verificação da


lei de Malus.

No caso considerado de luz incidente não polarizada, qualquer


leitura feita pelo detector colocado imediatamente após o
polarizador P1, é independente do ângulo em que o eixo de
transmissão desse polarizador é colocado, porque a luz não

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polarizada é totalmente simétrica, ou seja, a amplitude do campo
elétrico resultante em qualquer direção é a mesma. Assim, se
colocarmos P1 com o eixo alinhado com a direção y, somente serão
transmitidas as componentes na direção y do campo elétrico
incidente, a somatória ou resultante dessas componentes podemos
chamar de E0.

Se um segundo polarizador P2 (que chamaremos de polarizador


analisador), for colocado na frente do feixe de forma que seu eixo de
transmissão faça um ângulo θ com a direção y, (ou que forme um
ângulo θ com o eixo de transmissão do polarizador P1), somente a
componente de campo elétrico paralela ao eixo de transmissão desse
segundo polarizador, Et, (t ≡ transmitida) é transmitida:

Et = E0 cosθ (3.3)

Ter em mente que apesar de estarmos lidando com ondas, em


razão da alta frequência da luz, nosso detector (fotodiodo) vai medir
a irradiância que é a energia média por unidade de área por unidade
de tempo, incidente no detector.
Uma vez que a irradiância da onda é proporcional ao quadrado
do campo elétrico (veja seção 3.3.2 do capítulo 3 do livro Optics de
E. Hecht), resulta que a irradiância transmitida pelo polarizador
analisador ideal P2 é:

It = I0 cos2 θ (3.4)

onde I0 é a irradiância máxima, que ocorre quando θ = 0, quando os


dois polarizadores P1 e P2 estão com os eixos de transmissão paralelos
(I0 também é a irradiância transmitida pelo primeiro polarizador P1 e
será a irradiância que ocorre para θ=0, somente quando os

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polarizadores são ideais, ou seja, não há absorção por qualquer outra
razão). Quando θ=90o a intensidade transmitida é nula, porque o
campo elétrico transmitido pelo primeiro polarizador é perpendicular
ao eixo de transmissão do segundo, que é o analisador (esse arranjo
de polarizadores é dito cruzado). Este resultado, equação 3.4, é
conhecido como Lei de Malus.

Experimentalmente, pode existir uma luminosidade ambiente


que não vem do polaróide. Além disso, uma fração da polarização
indesejável pode ser transmitida pelo polaróide, que não é ideal. E
mais, polaróides não funcionam igualmente bem para a faixa de
comprimentos de onda que vai do infravermelho ao ultravioleta e que
geralmente estão presentes numa experiência desse tipo. Assim, do
ponto de vista experimental, pode-se admitir a Lei de Malus na
forma:

It = I0 cos2 θ + I f (3.5)

onde If é uma irradiância residual, que pode existir para θ=90°, que
dá conta de todos os efeitos indesejáveis descritos acima.

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Polarizadores de Grade

O mais simples dos polarizadores dicróicos, ou seja, dos


dispositivos capazes de absorver somente uma componente do campo
elétrico, sendo essencialmente transparente à outra, é uma grade de
condutores paralelos.

Vamos imaginar que um feixe de luz não polarizada incida


numa grade de fios condutores paralelos, vindo da direita. O campo
elétrico pode ser decomposto em duas componentes ortogonais, uma
paralela aos fios da grade e outra perpendicular a eles, como se pode
observar na figura 3.6 a seguir:

Figura 3.6: Polarizador de grade de fios condutores paralelos.

Como os fios da grade estão orientados na direção y, a


componente y do campo elétrico incidente, Ey, induz a oscilação dos
elétrons de condução ao longo do comprimento de cada fio, gerando
uma corrente. Esses elétrons, por sua vez, colidem com os átomos da
rede, fornecendo-lhes energia que aquece os fios (efeito joule).
Dessa maneira energia é transferida do campo para a grade.

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Paralelamente a esse efeito, os elétrons de condução acelerados ao
longo dos fios irradiam nas duas direções: para frente e para trás.
Nessas condições, a onda incidente tende a ser cancelada pela onda
re-irradiada para frente, resultando em pouca ou nenhuma
transmissão da componente y do campo elétrico. A radiação emitida
para trás vai aparecer como uma onda refletida.

Em contraste, a componente do campo elétrico perpendicular à


direção dos fios da rede, Ex, encontra elétrons de condução que,
praticamente, não podem se mover na direção x. Portanto, não vai
haver onda re-irradiada nessa direção e a componente Ex da onda
incidente propaga-se através da grade praticamente sem alterações.
Isso quer dizer que o eixo de transmissão de um polarizador de
grade é perpendicular aos fios da grade.

Os filmes polaróides que vão ser utilizados nesta experiência


são análogos aos polarizadores de grade só que na escala molecular.

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Polarização por Reflexão

O método mais direto de obter luz polarizada a partir de fontes


luminosas comuns é por meio de reflexão em meios dielétricos. A luz
refletida em janelas de vidro, na superfície polida de objetos
plásticos, em bolas de bilhar, folhas de papel com um pouco de brilho
e até numa careca lustrosa, é sempre parcialmente polarizada.

Para explicar a polarização por reflexão, vamos utilizar o


modelo de elétrons osciladores, que fornece uma explicação bastante
simples do fenômeno. Infelizmente esse modelo não proporciona uma
descrição completa, porque ele não explica o comportamento
observado com materiais magnéticos não condutores. Mas para o
nosso estudo esse modelo é mais vantajoso, por sua simplicidade e
por fornecer explicações satisfatórias para as observações que vamos
fazer.

Vamos supor uma onda plana linearmente polarizada, de


maneira que seu campo elétrico E seja perpendicular ao plano de
incidência. Essa onda penetra num meio dielétrico, proveniente do
ar. Veja a ilustração disso na figura 3.7 a seguir:

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Figura 3.7: Onda incidente, num meio dielétrico, polarizada
perpendicularmente ao plano de incidência.

A onda sofre refração na interface de separação entre os dois


meios e entra no meio dielétrico fazendo um ângulo θ t (ângulo de
transmissão ou de refração) com a normal à superfície dielétrica. O
campo elétrico dessa onda vai obrigar os elétrons ligados do material
do meio a vibrar na direção normal ao plano de incidência (a mesma
direção do campo). Essa configuração é, na verdade, um dipolo, de
um lado uma carga negativa (elétron) que vibra em relação a uma

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carga positiva (o átomo onde o elétron está ligado). Essa
configuração de cargas, por sua vez, re-irradia e essa radiação é,
obviamente, do tipo dipolar.

Uma parte dessa energia re-emitida vai aparecer na forma de


uma onda refletida. Da geometria desse arranjo e das características
da radiação dipolar (veja a figura 3.8 a seguir), tanto a onda
refletida, como a refratada, vão também estar polarizadas na direção
perpendicular ao plano de incidência.

Figura 3.8: Distribuição angular da radiação de um dipolo


oscilante.

Por outro lado, se o campo elétrico E vibra no plano de


incidência, ou seja, a onda incidente tem o plano de polarização
paralelo ao plano de incidência, esse campo ao penetrar o material
dielétrico, vai fazer com que os dipolos osciladores próximos à
superfície, vibrem sob influência da onda refratada, como mostrado
na figura 3.9:

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http://www.sparknotes.com/physics/optics/phenom/section3/page/2/
Figura 3.9: Onda incidente num meio dielétrico, polarizada
paralelamente ao plano de incidência, mostrando os elétrons
oscilantes.

Só que neste caso, uma coisa muito peculiar está acontecendo


com a onda refletida. A intensidade da onda refletida é, agora,
relativamente baixa, porque a direção do feixe refletido faz um
ângulo pequeno com o eixo dos dipolos que irradiam. Observando a
distribuição de intensidade da radiação dipolar na figura 3.8, vemos
que a intensidade da radiação emitida cai muito à medida que a
direção de vibração do campo elétrico da onda incidente se aproxima
da direção do eixo dos dipolos. E na direção do eixo dos dipolos a
intensidade de radiação emitida é nula.

Se pudermos montar um aparato experimental de maneira que


o ângulo θ na figura 3.9 seja igual a zero (e, portanto,
θ r+θ t=90o), a onda refletida desaparece completamente, porque o
ângulo de reflexão coincide com o eixo dos dipolos e estes não
emitem nessa direção.

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Nessas condições, (θ r+θ t)=90o, se a onda incidente for
não polarizada, (lembrando que ela pode ser decomposta em
duas componentes polarizadas, ortogonais e incoerentes), apenas
a componente polarizada na direção normal ao plano de
incidência (e, portanto com a direção de vibração paralela à
superfície do dielétrico) será refletida. A outra componente,
polarizada paralelamente ao plano de incidência, desaparece.

O particular ângulo de incidência para o qual essa situação


ocorre será chamado de θ B, ângulo de Brewster ou de polarização.
Aplicando a Lei de Snell à interface de separação entre os meios ar e
dielétrico:

ni senθ i = nt senθ t (3.6)

em que ni é o índice de refração do ar e considerado igual a 1, nt é o


índice de refração do meio, no caso, o lucite, θ i é o ângulo de
incidência e θ t é o ângulo de refração. Tendo em vista a condição
θ r+θ t=90o, que θ r=θ i e que o particular ângulo de incidência para o
qual a onda polarizada paralelamente ao plano de incidência
desaparece chama-se θ B, vamos ter:

nisenθ B = nt senθt (3.7)

mas θ t=90-θ B, portanto senθ t=cosθ B:

nisenθ B = nt cosθt (3.8)

nt (3.9)
tgθ B =
ni

tgθ B = nlucite para ni = nar =1 (3.10)

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A equação 3.9 é conhecida como Lei de Brewster em
homenagem a Sir David Brewster, professor da St. Andrews University
e inventor do caleidoscópio, que a descobriu empiricamente na
segunda metade do século XIX.

Em resumo, para incidência no ângulo de Brewster, a luz


refletida é completamente polarizada na direção perpendicular ao
plano de incidência, como mostrado a figura 3.10 a seguir:

Figura 3.10: Polarização da luz


por reflexão para incidência no
ângulo de Brewster.

25 Polarização – 2012-rev2017
Coeficientes de Reflexão

Vamos considerar a luz, ou radiação eletromagnética, incidindo


na interface de separação entre dois meios dielétricos com índices de
refração diferentes. O coeficiente de reflexão R, ou refletância, é
definido como sendo a razão entre a densidade de fluxo de energia
radiante refletido na interface de separação entre dois meios, pela
densidade de fluxo de energia radiante incidente.

A densidade de fluxo de energia radiante é a irradiância cuja


unidade é Watt/m2. Essa é a energia média, por unidade de tempo,
cruzando uma unidade de área, perpendicularmente à direção de
propagação.

Analogamente define-se o coeficiente de transmissão T, ou


transmitância, como sendo a razão entre a densidade de fluxo de
energia radiante transmitido através da interface, pela densidade de
fluxo incidente.

Esses coeficientes podem ser decompostos em duas


componentes, uma delas com estado de polarização paralelo ao plano
de incidência e outra com estado de polarização perpendicular ao
plano de incidência. Assim teremos R e R e T e T . As propriedades
// ⊥ // ⊥

da reflexão dependem da polarização, pois as condições de contorno


para os campos na separação entre os meios dependem diretamente
da polarização. A dedução das expressões para esses coeficientes não
vai ser feita aqui, mas pode ser encontrada na seção 4.6.2, capítulo
4 e na seção 8.6.1 do capítulo 8 do livro Optics de E. Hecht.

Os coeficientes de reflexão para polarização perpendicular ao


plano de incidência (R ) e para polarização paralela (R ) são dados
⊥ //

por:

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tg 2 (θi −θ t )
R// = 2
tg (θi +θ t )
(3.11)

sen 2 (θi −θ t )
R⊥ =
sen 2 θ +θ
( i t )

onde θ i e θ t são os ângulos de incidência e de refração indicados na


figura 3.9. O comportamento dos coeficientes de reflexão numa
superfície dielétrica pode ser visto na figura 3.11, a seguir, em
função do ângulo de incidência:

Figura 3.11: Coeficientes de reflexão versus ângulo de


incidência.

27 Polarização – 2012-rev2017
O coeficiente R// se anula quando (θ i + θ t ) = 90°, porque o

denominador da equação 3.11 para R// se torna infinito (tg90=∞).


Ou seja, a refletância com polarização paralela ao plano de
incidência desaparece nessas condições, que, como foi visto,
corresponde ao ângulo de Brewster θ B. Já R⊥ não pode nunca ser
zero. Essa é a essência da lei de Brewster.

28 Polarização – 2012-rev2017
Birrefringência

Há uma classe de materiais chamados de birrefringentes porque


são materiais que apresentam dois índices de refração diferentes.
Essa característica resulta de uma anisotropia nas forças de ligação
dos elétrons aos átomos desses materiais.

Na birrefringência, um meio material anisotrópico separa a luz


em dois feixes polarizados. O chamado feixe ordinário tem
polarização perpendicular ao plano que contém o eixo ótico. O outro
feixe é chamado extraordinário e é polarizado perpendicularmente ao
feixe ordinário. Na medida que a onda se propaga pelo meio haverá
uma diferença de fase entre os dois feixes que aumenta
progressivamente, pois os índices de refração, no e ne são diferentes.
Se escolher uma espessura, d, do meio material, haverá uma
diferença de fase entre os feixes ordinário e extraordinário de θ.

Uma das aplicações do fenômeno da birrefringência é a


construção de elementos ópticos chamados retardadores, capazes de
mudar o estado de polarização de uma onda. Com base nesse
conceito pretendemos construir dois retardadores: a placa de 1/2
onda e a placa de 1/4 de onda e estudar seu efeito sobre feixes de
luz polarizada.

Outra característica de certos materiais, que pode ser


fenomenologicamente descrita como birrefringência, é sua
capacidade de fazer girar o plano de polarização da onda incidente,
quando isso acontece, se diz que esses materiais são opticamente
ativos, e, o fenômeno é chamado de atividade óptica. Vamos, então,
também estudar a atividade óptica numa solução de água com
açúcar.

29 Polarização – 2012-rev2017
Placas de onda
O princípio de funcionamento de uma placa de onda é simples.
O que esse tipo de elemento óptico faz é atrasar um dos dois estados
coerentes de polarização de uma onda em relação ao outro. Ao
emergir do elemento a onda que incidiu linearmente polarizada pode
emergir circularmente polarizada (ou vice-versa), ou o plano de
vibração da onda linearmente polarizada pode sofrer uma rotação,
dependendo do valor do atraso. Vamos estudar dois tipos de placas
de onda, a placa de ½ onda e a placa de ¼ de onda.

Esse tipo de comportamento ocorre com cristais de calcita,


entre outros materiais. Se uma onda plana incide sobre o cristal na
orientação apropriada, observam-se dois feixes na saída, um é
chamado de feixe ordinário, ou feixe-o, e o outro será o feixe
extraordinário, ou feixe-e. Esses feixes têm estados de polarização
diferentes como mostra a figura 3.12 a seguir, o que sugere
imediatamente que feixes com estados de polarização diferentes
viajam dentro do cristal com velocidades diferentes. E isso afeta sua
trajetória dentro do cristal, de tal maneira que, na saída, aparecem
dois feixes.

A explicação é que dependendo da orientação do feixe de luz


em relação ao eixo óptico do cristal, o feixe polarizado
perpendicularmente ao eixo óptico “enxerga” um índice de refração
diferente do feixe polarizado paralelamente ao eixo óptico do cristal.
Uma discussão mais completa desse comportamento está na seção
8.4.1 do capítulo 8 do livro Optics de E. Hecht.

30 Polarização – 2012-rev2017
https://images.fineartamerica.com/images-medium-large/birefringence-in-a-calcite-crystal-dirk-
wiersma.jpg

Figura 3.12: Cristal de calcita sobre uma imagem. Veja que o


cristal proporciona uma imagem duplicada do objeto. Os dois
polarizadores colocados sobre a imagem têm eixos de
transmissão paralelos ao seu lado menor. Portanto, os eixos dos
dois polarizadores são perpendiculares entre si.

As definições de feixe ordinário e feixe extraordinário podem


ser mais facilmente compreendidas observando-se a figura 3.12
acima: o feixe chamado ordinário é aquele que forma a imagem
inferior, e, que, portanto, não foi defletido. Por isso o nome
ordinário. O feixe que forma a imagem logo acima, sofreu uma
deflexão e por isso foi chamado de feixe extraordinário. Nota-se

31 Polarização – 2012-rev2017
nessa figura que esses dois feixes têm estados de polarização
perpendiculares entre si, isso fica evidente pelos dois polaróides. Um
esquema da trajetória dos feixes pode ser visto na figura 3.13 a
seguir:

http://www.science20.com/files/images/birefringence.jpg

https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/e/e9/Ordinay_extraordinary_ray_in_birefring
ence.pn

Figura 3.13: Desenho esquemático de um feixe com duas


componentes ortogonais de campo elétrico incidente num cristal
de calcita apropriadamente orientado.

32 Polarização – 2012-rev2017
Placa de ½ onda

A placa de ½ onda é uma placa de material dielétrico do tipo


retardador que introduz uma diferença de fase relativa de 180o entre
os feixes ordinário e extraordinário. Essa diferença de fase aparece
porque o índice de refração do material da placa varia dependendo
da orientação dos estados de polarização do feixe incidente, em
relação ao eixo óptico do material, à medida que o feixe de luz o
atravessa. Então, a espessura da placa é escolhida de maneira que a
diferença de fase seja exatamente de 1800.

Vamos supor que o plano de vibração do campo elétrico de um


feixe incidente com polarização linear, numa placa de meia onda
faça um ângulo arbitrário, θ, com o eixo óptico da placa, como
mostrado na figura 3.14 logo a seguir. Se a velocidade de
propagação do feixe polarizado paralelamente ao eixo óptico for
maior que a velocidade de propagação do feixe polarizado
perpendicularmente ao eixo óptico, o feixe-e vai se mover através
do material mais rapidamente que o feixe-o, portanto o índice de
refração para o feixe-e, ne, é menor que o índice de refração para o
feixe-o, no. Se a placa de material tiver uma espessura d, a onda
eletromagnética resultante na saída é uma superposição de ondas-e
e ondas-o que, agora, têm uma diferença de fase relativa Δϕ. Sendo
essas ondas harmônicas, de mesma freqüência e com campos
elétricos ortogonais, a diferença de caminho óptico entre elas, Λ, é:

Λ = d ( no −ne ) (3.12)

essa expressão pode ser deduzida tendo em mente que a diferença de


caminho Λ é igual à velocidade da luz pela diferença de tempo entre
os feixes o e e, ou seja:

33 Polarização – 2012-rev2017
Λ = c ( to −te ) (3.13)

como no=c/vo e ne=c/ve , obtém-se a expressão 3.12. E, como a


diferença de fase é Δϕ=koΛ, teremos:

⎛ ⎞
2π ⎟ d ⎛⎜ n −n ⎞⎟
Δφ = ⎜⎜ ⎟ ⎝ o e ⎠ (3.14)
⎝ λ0 ⎠

onde λ o é o comprimento de onda da luz no vácuo.

wikipedia
Figura 3.14: Funcionamento de uma placa de meia onda.

34 Polarização – 2012-rev2017
Para a placa de ½ onda Δϕ pode ser qualquer múltiplo ímpar
de π: π, 3π, 5π, etc, o importante é que uma das componentes do
campo elétrico da onda incidente sofra um atraso que gere uma
diferença de fase de π nessa componente. O que vai fazer com
que, na saída, apareça uma onda, linearmente polarizada, cujo
plano de vibração sofreu uma rotação de 2θ em relação ao plano
de vibração da onda incidente, como se pode ver na figura
3.14. Portanto, para observar esse comportamento, a espessura da
placa deve ser tal que:

d ⎛⎜⎝ no −ne ⎞⎟⎠ = (


2m+1) λ0
m = 0,1,2,...... (3.15)
2

35 Polarização – 2012-rev2017
Placa de ¼ de onda

Por sua vez a placa de ¼ de onda é um elemento óptico que


introduz uma diferença de fase relativa Δϕ = π/2 entre os feixes o e
e. Uma diferença de fase de 90o converte a luz linearmente
polarizada em luz elipticamente polarizada e vice-versa, como se
pode ver na figura 3.15 a seguir:

Figura 3.15 (a): Várias configurações de polarização


dependendo da diferença de fase entre as componentes do
campo elétrico, Ex e Ey.

Para obtermos luz circularmente polarizada as amplitudes E0x e


E0y devem ser iguais. Fica aparente também, que luz linearmente
polarizada na direção de um ou outro dos eixos principais não é

36 Polarização – 2012-rev2017
afetada por qualquer tipo de retardador ou placa de onda. Não é
possível ter uma diferença de fase relativa sem ter duas componentes
de campo elétrico, cada uma vibrando na direção de um eixo
principal.

http://www.olympusmicro.com/primer/techniques/polarized/quarterwavelengthplate.html
Figura 3.15 (b): ação da placa de ¼ de onda

Se fizermos incidir luz natural numa placa de onda, seja de ½


ou ¼ de onda ou qualquer outra, os dois estados de polarização
perpendiculares são incoerentes, quer dizer, suas fases relativas
mudam de maneira rápida e aleatória, então a introdução de uma
alteração de fase adicional não vai provocar nenhum efeito que se
possa notar. Mas quando fizermos incidir luz polarizada linearmente e
fazendo um ângulo de 45o com qualquer um dos dois eixos principais
da placa de ¼ de onda, as componentes o e e terão a mesma
amplitude. Nessas condições a placa de ¼ de onda introduz uma
diferença de fase entre essas duas componentes que converte a luz
linearmente polarizada incidente em luz circularmente polarizada
(veja a figura 3.2).

Analogamente ao caso da placa de ½ onda, a espessura da


placa é de fundamental importância para o funcionamento de uma
placa de ¼ de onda e deve obedecer à expressão:

37 Polarização – 2012-rev2017
d ⎛⎜⎝ no −ne ⎞⎟⎠ = (
4m+1) λ0
m = 0,1,2,...... (3.16)
4

Placas de ¼ de onda podem ser construídas “em casa” usando durex


ou plástico de embrulhar alimentos ou papel celofane. Esses
materiais têm moléculas alongadas alinhadas numa direção, o que os
torna birrefringentes. Adicionando camada a camada desses materiais
sobre uma placa de vidro, se consegue placas de ½ onda ou de ¼ de
onda bastante razoáveis (razoável quer dizer que introduzem uma
diferença de fase dentro de 10% dos valores previstos).

38 Polarização – 2012-rev2017
Atividade Óptica

No início do século XIX foi observado que alguns materiais


tinham a propriedade de induzir uma rotação contínua no plano de
vibração da luz linearmente polarizada que incidia sobre eles. Essa
propriedade foi chamada de atividade óptica. E qualquer material
que faça com que o campo elétrico E de um feixe de luz linearmente
polarizado pareça ter sofrido uma rotação é dito opticamente ativo.

Além disso, algumas substâncias faziam o campo girar para a


direita e outras o faziam girar para a esquerda, isto é, quando se olha
na direção da fonte, se o plano de vibração parece ter girado no
sentido horário a substância é dita dextro-rotatória, e quando
parece ter girado no sentido anti-horário a substância é dita levo-
rotatória. Se a substância é um cristal esse comportamento pode ser
decorrente tanto dos átomos em si como de seu arranjo dentro do
cristal. Em substâncias líquidas esse comportamento é um atributo
das próprias moléculas.

Em 1825 Fresnel propôs uma explicação fenomenológica


simples para a atividade óptica, que apesar de não descrever o
mecanismo que realmente ocorre, explica bastante bem as
observações ao nível que vamos fazer. Ele propôs o seguinte. A onda
de luz linearmente polarizada incidente pode sempre ser
representada como uma superposição de duas ondas circularmente
polarizadas, nos sentidos horário e anti-horário.

Existem substâncias líquidas ou cristais orgânicos em solução


que, por causa de sua estrutura molecular assimétrica, apresentam
índices de refração diferentes para luz polarizada para a esquerda e
para a direita. Ao passar por uma coluna de uma substância desta
descrição, uma das componentes circulares da onda polarizada atrasa
em relação à outra. A onda resultante, ao sair da coluna de matéria é
uma onda polarizada linearmente, recomposta dos componentes
circulares, que apresenta uma rotação de seu plano de polarização
relativo à onda inicial.

39 Polarização – 2012-rev2017
Pode ser verificado analiticamente que esse modelo funciona,
para isso veja a seção 8.10 do capítulo 8 do livro Optics de E.
Hecht.

Figura 3.16 – Atividade óptica de um cristal de


quartzo.

40 Polarização – 2012-rev2017

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