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Nesta pequena reflexão, Michael Apple é apresentado como um dos mais proeminentes
investigadores sobre currículo e como um crítico feroz ao impacto na educação de políticas
neoliberais (APPLE, 2005). Aqui, ele denuncia as mazelas do processo de imposição do
neoliberalismo que domina o mundo e como o mesmo vem se manifestando na educação escolar.
Numa outra obra, Apple faz uma análise sobre importantes contribuições para as discussões
sobre o currículo, pois, apesar de o autor escrever e situar a realidade norte-americana, pode ser
efectivamente trazida para o contexto actual de muitos países, na medida em que situamos as
inúmeras reformas educacionais efectuadas no país, com tentativas de controle e padronização
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dos currículos, feflectindo também nas práticas dos professores em sala de aula. A partir dos
estudos de Apple, compreendemos que as instituições escolares estão sendo cada vez mais
pressionadas a organizar seus currículos e ensino em conformidade com as necessidades
económicas.
No entender de Apple, o Estado é entendido como não neutro, e sim formado por diferentes
grupos que se aliam entre si a partir de objectivos comuns e lutam para que seus objectivos se
tornem hegemônicos. O Estado é onde se materializam as disputas entre as alianças
hegemônicas. No processo de construção de hegemonias na sociedade, alguns momentos são
dominados por forças progressistas e noutros momentos por interesses conservadores. Na
caracterização das forças de direita percebemos um forte apelo aos elementos neoliberais,
neoconservadores e neofundamentalistas. Estes grupos se articulam e constroem um conjunto de
ideologias procurando conservar ou até, voltar a um momento em que as ideologias representem
um tempo passado, construindo hegemonias que são facilmente controladas por seu caráter
religioso ou conservador.
Apple fala também da realidade das escolas da época, embora ainda hoje esta realidade seja
notória, diante de uma política cujos modelos de padronização e controle pedagógico e curricular
confirmam o papel excludente, selectivo e diferenciado do sistema educacional.
Segundo Apple (2001, p. 55), ocorreu uma mercantilização da educação onde os interesses
económicos de grandes grupos empresariais reduziram a escola a uma fábrica de profissionais
qualificados, onde quem não se adapta aos padrões pré-estabelecidos é rapidamente descartado,
ficando à margem do processo, tornando-se um estorvo social. Apple acrescenta ainda que, as
escolas não são "meramente" instituições de reprodução, onde todo o conhecimento ministrado,
explícito e oculto, transforma inexoravelmente os estudantes em seres passivos, aptos e ansiosos
para se inserirem numa sociedade desigual.
Esta perspectiva erra em duas questões fundamentais, a saber, em primeiro lugar, porque vê os
estudantes como interiorizadores passivos de mensagens sociais pré-concebidas. Em segundo
lugar, seja qual for o conteúdo veiculado pela instituição, quer ao nível do currículo formal, quer
ao nível do currículo oculto, este é assimilado sendo insensível às modificações efectuadas pelas
culturas de classe e à rejeição das mensagens sociais dominantes por parte da classe (raça ou
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género). A verdade é que as escolas necessitam de ser vistas de um modo muito mais complexo
do que apenas através da simples reprodução.
Nos últimos anos, a privatização tem sido utilizada com fim de reduzir a presença do Estado
tanto no campo da produção quanto na área social. Por via disso, as políticas sociais vêm sendo
direccionadas para as camadas de baixa renda de modo a reduzir a miséria dos excluídos, mesmo
assim, mantendo a desigualdade social e a pobreza. A privatização e descentralização da
educação, para o neoliberalismo, baseia-se na ideia de que a educação organizada pelo Estado
não consegue atingir a qualidade necessária. Este ponto de vista dá azo às instituições privadas
assim como aos agentes trans-nacionais na planificação e implementação das políticas públicas.
Na obra Ideologia e Currículo (2006), Michael Apple faz um apelo à necessidade de investigar
a forma e o conteúdo do curículo, sua relação com a cultura de determinados grupos sociais, o
que nos leva a entender que as instituições de ensino distribuem valores ideológicos e
conhecimento como se fossem mercadoria, para atender às necessidades e exigências do sector
económico, político e cultural.
Deste modo, as disciplinas de formação humana e social vêm paulatinamente perdendo o seu
prestígio e, até mesmo extintas dos planos curriculares, visando toranar as mensalidades mais
acessíveis aos alunos (todos como clientes), o que possibilita uma saída para os cursos
universitários se tornarem mais competitivos perante o actual cenário educacional. Portanto, as
disciplinas de âmbito prático passam a ser mais valorizadas em prejuízo das disciplinas teóricas
ligadas à formação integral do ser humano.
detrimento das ciências humanas. As reformas e a flexibilização dos currículos, de acordo com
as demandas do mercado educacional, têm vindo a ameaçar a formação integral do homem.
Apesar de lamentáveis, as mudanças que ocorrem nos últimos anos, apresentam uma
oportunidade ímpar para uma séria reflexão crítica.
Apple afirma que é importante levar em conta o Estado nas análises em educação, pois o
processo educacional é justamente uma das responsabilidades do Estado.
Boaventura Sousa Santos (2004) é da ideia de que a mercantilização do ensino superior acontece
de formas diferentes e em diversos níveis. No que se refere aos níveis em que ela se concretiza,
eles seriam a indução da universidade pública a gerar receitas próprias, mediante parcerias com o
capital, com vista a superar a crise financeira gerada pela retirada do financiamento do Estado; o
segundo nível, que elimina a distinção entre universidade pública e universidade privada,
transformando a universidade, como um todo, numa empresa, em “uma entidade que não
produz apenas para o mercado, mas que se produz a si mesma como mercado, como mercado de
gestão universitária, de planos de estudos, de certificados, de formação de docentes, de
avaliação de docentes e estudantes” (SANTOS, 2004, P. 18).
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É de notar que a massificação das Instituições do Ensino Superior privadas ajudou também a
responder a fraca oferta das instituições de ensino público. Porém, nem todas as condições foram
criadas por essas isntituições, de foram a que o produto final tivesse uma formação adequada de
modo a que o diploma atribuido conferisse competências suficientes. Maior parte dessas
instituições não foram apetrechadas de um pessoal docente capacitado para os níveis exigidos
pelos grraus conferidos. Outro constrangimento que foi verificado tem a ver com o
apetrechamento físico das infraestruturas em detrimento do acervo bibliográfico, laboratórios
entre outros equipamentos pedagógicos para a sustentação universitária.
APPLE, 2005 – Para além do mercado – compreendendo e opondo-se ao neoliberalismo. Trad. Gilka Leite
Garcia, Luciana Axhe. R. De Janeiro: Dpe A)
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