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Disciplina: Política e Gestão Educacional

Docente: Marcelo Donizete da Silva


Discente: Brissa Maria Anacleto Silva
Matrícula: 19.2.3185

(Questão) Quais os desafios para se pensar a docência no que toca o debate sobre políticas
educacionais contemporâneas em especial na formação do/da professor/professora?

Os textos de Yáscara Michele Neves Koga e Evandro Ricardo Guindani, "Educação e


Neoliberalismo: Interferências numa relação tirânica", e de Vera Maria Vidal Perroni, "A
gestão democrática da educação em tempos de parceria entre o público e o privado",
apresentam uma crítica à ideologia e lógica neoliberal que tem se manifestado dominante nas
políticas educacionais brasileiras impulsionada à priori pelo neoliberalismo de Margareth
Thatcher, na Inglaterra, e Ronald Reagan, nos Estados Unidos, em 1970, e consolidada nos
anos de 1980 com a difusão quase mundial dos ideais representados pelo bloco capitalista
através de uma expressiva expansão do viés ideológico e econômico capitalista como algo
inerente à condição humana e seu único caminho para o “progresso” — com base no molde
capitalista do que é o progresso — da sociedade como um todo.

Segundo Koga e Guindani, ressaltando o impacto dessa dominação ideológica capitalista, as


políticas educacionais estão cada vez mais voltadas para a formação de mão de obra, para
atender às demandas do mercado, em detrimento da formação crítica e cidadã dos estudantes.
A escola passa a ser vista como uma empresa e o aluno como um produto a ser moldado para
o mercado. Acima de tudo, a escola passa a representar um local onde a ação do Estado deve
ser mínima, uma vez que é defendido, pelo neoliberalismo, a ineficiência do Estado em
promover e organizar políticas públicas e gestar a educação; segundo essa lógica apenas o
livre mercado e sua capacidade de auto regulação seriam capazes de produzir manutenções e
revolucionar a educação no mundo.
É importante ressaltar como essa ideologia neoliberalista do Estado mínimo encontra-se em
voga nas bases da organização da sociedade brasileira, traduzindo-se através do Plano Diretor
de Reforma do Aparelho do Estado (PDRAE), elaborado pelo Governo Federal do Brasil sob
a gestão de Fernando Henrique Cardoso em 1995 pela defesa da desburocratização do Estado
e sua atuação mínima em diversos setores.

As consequências dessa lógica são inúmeras, tanto quando aplicada na educação quanto
aplicada aos métodos de governo, como é apontado na obra de Koga e Guidani, dentre elas
estão: a precarização da educação pública, a privatização do ensino, a hierarquização das
profissões a partir de sua importância para o mercado — fatores, estes especificamente, que
contribuem ativamente para a continuidade da hierarquia social vigente, excludente e
moldada conforme os interesses dos estratos superiores da sociedade — e a desvalorização da
figura do professor, visto por essa lente como uma figura ineficiente, mal capacitada, mal
remunerada e por consequência disso responsável pela qualidade inferior do ensino público
brasileiro. Mais além, essa prática neoliberal interfere diretamente na atuação do docente,
que é cada vez mais compelido a produzir resultados quantificáveis ​e seguir uma cartilha de
ensino pré-estabelecida. Essas interferências tirânicas da lógica neoliberal sobre a educação
têm como objetivo principal garantir a soberania do capital perante a vida e o controle social,
em detrimento da formação de uma sociedade crítica e emancipada.

Já Perroni, em "A gestão democrática da educação em tempos de parceria entre o público e o


privado", defende a gestão democrática da educação em detrimento da gestão gerencial da
educação. Pautada por ela como gestão democrática um projeto baseado na participação e na
tomada de decisões coletivas, através da consideração da educação enquanto um bem
público, pertencente à soberania Estatal, e que a sua gestão deve ser dirigida para o interesse
coletivo, envolvendo a comunidade escolar, professores, estudantes e pais em um processo de
construção conjunta. A gestão democrática é também uma forma de garantir que a escola
atenda às necessidades de todos os alunos, inclusive aqueles em situação de vulnerabilidade
social, buscando promover a formação crítica dos alunos, preparando-os para exercer sua
cidadania e contribuir para a construção de uma sociedade mais justa. Segundo a autora, a
gestão democrática é um princípio constitucional e deve ser garantida em todas as esferas da
educação, desde a elaboração do projeto pedagógico até a escolha dos gestores.
Por outro lado, a gestão gerencial é baseada na eficiência e na busca por resultados, seguindo
modelos de gestão empresarial. É conduzida para o cumprimento de metas e indicadores de
desempenho, com a ideia de que a gestão deve ser orientada para a satisfação dos clientes ou
usuários do serviço. Enquanto produto, a educação deve atender às demandas do mercado,
com foco na qualidade e na produtividade. Para a gestão gerencial, a participação no Estado
com relação às políticas públicas educacionais é mínima e como para Koga e Guidani, deve
ser o mercado em seu processo de autorregulação a única saída para a transformação da
educação em algo que respeite a equidade, possua qualidade e acessibilidade. Entretanto, ao
pensar-se no acessível diante dos ideais capitalistas são ignoradas as desigualdades sociais
presente nos diferentes estratos da sociedade moderna em suas particularidades ao redor do
globo.

Reafirmando os riscos dessa prática, Perroni ressalta os riscos da gestão gerencial na


educação através da consolidação de uma visão restrita da educação como um produto,
focando mais na obtenção de resultados imediatos do que no desenvolvimento integral dos
alunos. Indo além, ela defende que a adoção de modelos empresariais pode gerar a perda de
valores essenciais da educação, como a formação crítica e a participação social

A partir das leituras dos textos de Koga e Guindani e de Perroni, observa-se como a lógica
neoliberal tem se manifestado no Estado brasileiro, através da ideologia dominante por ele
assimilada e disseminada através da educação, setor da sociedade profundamente afetado pela
lógica neoliberal, com consequências prejudiciais para a formação crítica e cidadã dos alunos
e para a gestão democrática da educação. Diretamente impactada por essa ideologia
dominante de mercantilização, a formação do professor vê-se comprometida diante desse
cenário através da primazia da quantidade sobre a qualidade no Ensino, onde o professor e a
escola são bonificados ou punidos de acordo com as avaliações de seus alunos por meio do
estabelecimento de testes padronizados efetuados como métricas para o ensino, limitando a
capacidade didática e o incentivo à criatividade e a diferença pelo próprio docente. É
necessário lutar por uma educação que esteja a serviço do desenvolvimento humano e social,
por uma escola acessível; que proteja e respeite as diferenças nas múltiplas formas de
sociedade em ação e transformação no mundo; que a formação e a atuação do docente sejam
preservadas em seu objetivo de elevar e inovar a qualidade do ensino e capacidade de
raciocínio de seus alunos, em oposição à lógica capitalista que busca apenas a primazia do
capital sob a vida e o controle social através de uma dominação ideológica disfarçada de
educação libertadora.

BIBLIOGRAFIA

1. PERRONI, Vera Maria Vidal. A gestão democrática da educação em tempos de


parceria entre o público e o privado. Revista Pro-Posições. Volume: 23, número: 2.
2012. p. 19—31
2. KOGA, Yáscara Michele Neves. GUIDANI, Evandro Ricardo. “Educação e
neoliberalismo: interferências numa relação tirânica”. Revista Simbiótica. Volume 4,
número 2. Espírito Santo. 2017.
3. Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado. Brasília: Presidência da República,
Câmara da Reforma do Estado, Ministério da Administração Federal e Reforma do
Estado, 1995. 86p. (Documentos da Presidência da República). p. 22-44.

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