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TEMAS DE

MEDICINA LEGAL
E
SEGUROS

(C): Dr. ANTÓNIO EUGÉNIO ZACARIAS

1
Dedicatória:

À Lina, minha esposa,


e a meus filhos,
Júju e Geninho,
que me permitiram escrever esta modesta obra,
roubando-lhes os momentos de carinho e amor;
minha gratidão com imensa ternura.

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Nota do Autor
Ao escrever está obra, após quinze anos de actividade na área Médico Forense, como
profissional no Serviço de Medicina Legal do Hospital Central de Maputo, docente de
Medicina Legal na Faculdade de Medicina e de Direito da Universidade Eduardo Mondlane,
nos cursos de Direito e de Medicina Dentária no ISCTEM, no curso de Ciências Júridicas no
ISPU, reflecti muito; pois há no mercado bastantes obras e tratados, verdadeiras
enciclopédias de Medicina Legal, assim estava com um dilema de repetir o que os outros já
disseram, ou de transmitir a modesta experiência que o Serviço de Medicina Legal possui
apesar de ainda se mostrar precário à investigação pericial.
Eis que movido pelo peso de consciência de que não existe à disposição dos estudantes de
Medicina e de Direito; dos Médicos de Clínica Geral e Médicos Especialistas; dos Juristas;
Magistrados Judiciais e do Ministério Público; dos Agentes e Inspectores da Polícia de
Investigação Criminal; resolvi dar lume a presente obra genuinamente moçambicana.
No tocante aos aspectos relacionados com a Ciência Forense e a Técnica Pericial Forense,
quase não há nada de novo; é simplesmente uma selecção criteriosa dos diversos autores e
escolas Médico Legais que tive contacto durante a minha formação como Especialista e
como profissional no Serviço de Medicina de Maputo.
Quanto à Doutrina, cingi-me ao que penso e sinto, ao que deve ser a nova visão Médico Legal
de que ela como Ciência deve ter um espírito próprio, uma filosofia genuínamente
moçambicana e conduta independente.
Esta obra representa um conjunto de Temas de Medicina Legal e Seguros que são leccionados
nos Cursos de Medicina, de Direito, de Ciências Jurídicas e de Medicina Dentária, representa
uma forma de estar em Medicina Legal como Ciência Forense eminentemente moçambicano,
pois trata de aspectos só existentes na Legislação moçambicana.

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ÍNDICE CLASSIFICADO:

I- Intróito.
II- Proposta de Organização de Medicina Legal em Moçambique.
III – Disposições Legais que o Perito deve conhecer.
IV- Introdução ao estudo da Medicina Legal e Seguros.
V- Tanatologia.
VI- Traumatologia Forense.
VII- Morte Violenta Acidental. Quedas e Precipitações.

VIII- Asfixiologia Forense.


IX- Sexologia Forense.
X- Obstetrícia Forense.Infanticídio.

XI - Toxicologia Forense.
XI- Psiquiatria Forense.
XII- Referências Bibliográficas.

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I - INTRÓITO:

Aforismo de ontem ... e de sempre

“A mission du médecin légist est souvent Difficile, parfois Ingrate, mais elle est Noble et
elle est Grande puisqu’elle s’entend sur deux domaines qui occupent une place
considérable dans la vie des hommes: la Médecine et la Justice.”
C. Simonin

“ O perito deve ser surdo e insensível aos pedidos dos seus amigos, às solicitações dos
poderosos e de todos aqueles a quem deva os benefícios mais insignes.”
Devaux

“A primeira virtude dum médico legista é conhecer as lacunas da sua cultura especial e
ousar confessá-las.”
Brouardel

“ Só há um partido na Ciência, o da Verdade.”


Locard

“Dizer não sei quando não se pode saber é acto louvável de consciência.”
Afrânio Peixoto

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II- PROPOSTA DE ORGANIZAÇÃO DE MEDICINA LEGAL EM
MOÇAMBIQUE

I- PREÂMULO:
Perspectivar o desenvolvimento da actividade Médico Forense no país, pressupõe encarar
com pragmatismo de que o país não vive numa ilha isolada do mundo virtual, intelectual e
físico, de que o índice de criminalidade tende a crescer e organizar-se cada vez mais; e de que
a intervenção da Medicina Legal na resolução dos quesitos solicitados pela Justiça constitui
um dos elementos fundamentais no estudo para determinação das taxas de prevalência da
morbi-mortalidade resultantes de acções criminosas, para combate e prevenção de crime.
A Medicina Legal nasceu da necessidade de solucionar os problemas colocados pelo Direito,
teve de se ir adaptando em cada época aos quesitos cientificos dos respectivos momentos
históricos, bem como às necessidades socio-antropológicas e ao ordenamento jurídico
vigente.
A Medicina Legal é definida como sendo a aplicação dos conhecimentos médicos e de outras
ciências auxiliares na Investigação, Interpretação e Desenvolvimento da Justiça Social.
O diversificado leque de actividades que envolve esta especialidade desde a Tanotologia
Forense, Clínica Médico-Legal, Psiquiatria Forense, Toxicologia Forense, etc., permite
evidenciar que a Medicina Legal não é uma especialidade exclusivamente dedicada ao estudo
do cadáver, mas sim uma disciplina bem viva e dinâmica, que existe em função dos vivos,
para os vivos e onde estes representam actulmente a maior parcela do âmbito e objecto, e não
tem como fim a cura dos doentes/vítimas.
Deste modo, dada a natureza dos assuntos de que se ocupa, contribui de forma fundamental
para um mais correto funcionamento da Administração da Justiça, sendo hoje uma Ciência
Auxiliar insubstituível para o Direito/Justiça.

II- FACTOS HISTÓRICOS:


1- A Portaria n.o2385 do Ministério do Ultramar de 16 de Maio de 1968, tornou
extensivo às Provincias Ultramarinas de Angola e Moçambique o Decreto n.o 5023 –
criação do Conselho Médico Legal de 29 de Novembro de 1918, a Portaria n.o 23383
do Ministério do Ultramar de 15 de Maio de 1968 – criação da Policia Cientifica.
2- O Serviço de Medicina Legal, que é o único no país com instalações próprias, está
localizado no recinto do Hospital Central de Maputo, de 1975 a 1989 era constituído
por pessoal médico e serventuário dependente do Serviço de Anatomia Patológica.
3- Em 1989, devido aos problemas da guerra civil, houve cisão destes dois Serviços, por
decisão unilateral do Serviço de Anatomia Patológica.
Deste então o Serviço de Medicina Legal passou a ter dupla subordinação, do
Ministério da Saúde que contratava os médicos legistas e peritos; e do Ministério do
Interior que administrava e controlava o Serviço por meio dos Agentes da Policia de
Investigação Criminal (P.I.C.) e contratava o pessoal serventuário (evisceradores).
4- Está situação criou sérios embaraços para o desenvolvimento da actividade Médico
Forense, eis que o despacho do Vice-Ministro da Saúde de 18/8/94 integra o Serviço
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de Medicina Legal na Direcção Nacional de Saúde/Departamento de Higiene
Ambiental. O
Serviço de Medicina Legal foi integrado na Direcção de Saúde da Cidade de
Maputo/Centro de Higiene Ambiental e Exames Médicos (C.H.A.E.M.).
5- O despacho do Ministro de Saúde de 27/2/98 transfere a Medicina Legal para o
Departamento de Assistência Médica, integrando o Serviço de Medicina Legal como
serviço autonomo no Hospital Central de Maputo; e cria as Unidades Médico
Judiciárias nos Hospitais.

III- ORGANIZAÇÃO:
A actividade Médico Legal traduz-se na realização de perícias, formação e de investigação
científica. Até ao momento actual a estrutura e modelo organizativo dos Serviços Médico-
Legais no país estão assentes na independência técnico-pericial nos Serviços Autónomos dos
Hospitais Centrais de Maputo, Beira e de Nampula.
Pretentendo-se salvaguardar a independência técnico-científica própria de cada perito na
apreciação de processo, de instruír metodologias periciais uniformes em todo o País
sugerimos a criação:
 Instituto de Medicina Legal.
 Serviço de Medicina Legal nos Hospitais Centrais.
 Gabinetes Médico-Legais ou Médicos Judiciários nos Hospitais Provinciais, Gerais e
Rurais.
1-Instituto de Medicina-Legal
De modo a possibilitar uma maior operacionalidade e flexibilidade dos serviços médico-
legais e o seu desenvolvimento extensivo, por forma que se possa alcançar em todo o
território nacional, o indispensável rigor técnico científico que a actividade pericial deve
revestir e adoptar um conjunto de medidas necessárias para o reforço na qualidade de
formação, cria-se o Instituto de Medicina Legal.
O Instituto de Medicina Legal é uma instituição pública, dotado de personalidade jurídica, de
autonomia administrativa e financeira, sujeito à superitendência e tutela do Ministério da
Justiça, e, é considerado Instituto Nacional de referência.

A- Atribuições do Instituto de Medicina Legal:


 Contribuir para a definição da política nacional na área da Medicina Legal e de outras
Ciências Forenses.
 Coadjuvar e cooperar com os Tribunais, Serviços e Entidades que intervêm na
Administração da Justiça, realizando os exames e perícias de Medicina Legal que lhe
forem solicitados nos termos da lei, bem como prestar-lhe apoio técnico
especializado.
 Dirigir, coordenar e fiscalizar a atividade técnico científica, nomeadamente dos
Serviços de Medicina Legal dos Hospitais Centrais, dos Gabinetes Médicos-Legais e

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dos médicos e outros técnicos de saúde contratados para o exercício de funções
periciais.
 Promover o ensino, formação e a investigação no âmbito da medicina legal e de outras
ciências forenses.
 Prestar serviços a Entidades Públicas e Privadas, bem como aos particulares, em
domínios que envolvam a aplicação de conhecimentos médico-legais e de outras
ciências forenses.
 Assegurar a articulação com Entidades similares estrangeiras e Organizações
Internacionais.
B- Competências do Instituto de Medicina Legal:
O Instituto é constituído pelos seguintes Serviços:
Serviço de Tanatologia Forense, Serviço de Clínica Médico Legal, Serviço de Psiquiatria
Forense, Serviço de Biologia e Toxicologia Forense, Serviço de Administração Geral e
Serviço de Investigação e Formação Profissional.
 Serviço de Tanatologia:
Compete ao Serviço de Tanatologia Forense a realização das autópsias médico-legais,
e de outros actos neste domínio designadamente a identificação de cadáveres , de
restos humanos, estudo de peças anatómicas, etc..
 Serviço de Clínica Médico Legal:
Compete a este Serviço de Clínica Médico Legal a realização de exames e perícias em
pessoas para descrição e avaliação dos danos provocados no corpo e/ou na saúde. No
âmbito do direito penal, civil, do trabalho, penitenciário, etc.
 Serviço de Psiquiatria Forense:
Compete a este Serviço de Psiqiatria Forense ou a Comissão de Psiquitria Forense
realização de exames psiquiátricos em qualquer área do direito.
 Serviço de Biologia e Toxicologia Forense:
Compete a este Serviço realização de perícias e exames laboratoriais de hematologia
forense e dos demais vestígios orgânicos, realização de perícias e exames laboratoriais
químicos e toxicológicos.
 Serviço de Investigação e Formação Profissional:
Compete:
- Promover e coordenar planos de investigação no domínio da medicina legal.
- Elaborar, executar e coordenar planos de formação científica nos diversos domínios
da medicina legal e de outras ciências forenses.
- Coordenar e organizar cursos e estágios, ensino pré-graduado e pós- graduado na
área da medicina legal e outras ciências forenses, colaborar com outros organismos
em acções de investigação e formação profissional.
- Coordenar a realização do internato complementar de Medicina Legal, emitir
recomendações relativas ao ensino da medicina legal e de outras ciências forenses,
harmonizar o conteúdo programático dos cursos desenvolvidos no Instituto de
Medicina Legal e nos Serviços de Medicina Legal.
 Serviço de Administração geral:
É um Serviço de apoio técnico-administrativo, que têm as seguintes competências:
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- Assegurar a execução de todo o expediente do Instituto de Medicina Legal.
- Realizar as demais tarefas que lhe sejam atribuídas.
2- Serviços de Medicina Legal
São criados os Serviços de Medicina Legal nos Hospitais Centrais da Beira e de Nampula,
com as mesmas competências que o Instituto de Medicina Legal, para a região centro e norte
do País, cabendo ao Instituto de Medicina Legal a área jurisdicional da região sul.
Os Serviços de Medicina Legal deve contratar especialistas em Medicina Legal para assegurar
o seu funcionamento.
3- Gabinetes Médico Legais
São criados os Gabinetes de Medicina Legal que funcionariam nos Hospitais Provinciais,
Hospitais Gerais e Hospitais Rurais na dependência directa do Instituto de Medicina Legal
para a região sul e dos Serviços de Medicina Legal nas regiões centro e norte
respectivamente.
Aos Gabinetes Médicos Legais compete a realização das autópsias médico-legais,
identificação de cadáveres, exemes em pessoas para a descrição e avaliação dos danos
provocados na integridade psico-físico no âmbito do direito penal, civil e do trabalho nas
comarcas integradas na sua área de actuação.
Os Gabinetes Médico Legais devem contratar médicos e outros técnicos de saúde com
formação prévia que estejam a exercer a sua actividade nestes hospitais para efectuarem as
pericias.
IV- COLABORAÇÃO COM OUTRAS ENTIDADES:
O Instituto de Medicina Legal integra-se no Ministério da Justiça, pode solicitar aos diversos
Serviços e Organismos Públicos, a Entidades Privadas as informações e elementos
necessários ao desempenho das suas funções, no âmbito dos processos judiciais em curso.
1- Ministério da Saúde: O
Instituto de Medicina Legal deve celebrar com o Ministério da Saúde protocolos de
cooperação tendo em vista:
 Cedência e utilização de instalações dos hospitais e dos seus equipamentos para a
prestação de serviços aos cidadaõs que por terem sido vítimas de acidentes ou crimes
são simultâneamente utentes dos serviços de saúde e dos serviços de justiça,
nomeadamente as de âmbito tanatológico, de clínica médico-legal, laboratoriais e
desenvolvimento de projectos de investigação.
 Formação técnico científica dos médicos e técnicos de saúde que exercem ou venham
a exercer actividade médico legal, bem como a realização conjunta de projectos de
investigação científica.
 A colaboração de pessoal destas instituições do Ministério da Saúde no âmbito dos
exames e perícias Médico-Legais.
2- Ministério do Interior:
O Instituto deve celebrar com o Ministério do Interior acordos/memorandos de cooperação
tendo em vista:
 Celebração de protocolos de cooperação e de conduta ética.

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 Celebrção de protocolos de cooperação sobre qual das corporações policiais que deve
solicitar um exame e perícia médico-legal.
 Celebração de protocolo de cooperação com Policia de Investigação Criminal relativo
a participação do médico legista no levantamento cadavérico, quer dizer o exame no
local do facto e na reconstrução do crime.
3- Tribunais/Procuradoria:
O Instituto deve celebrar acordos e/ou protocolos com estas Instituições tendo em vista:
 Reativar a presença dos peritos junto dos tribunais.
 Coordenação para a efetivação de exames e perícias médico legais solicitados por esta
Instituições como por exemplo exames psiquiátrico forense, etc.
4- Estabelecimentos de Ensino e Instituições de Investigação:
O Instituto prossegue as suas atribuições e exerce as suas competências em colaboração com
as Universidades, Institutos Superiores e outras Instituições de Investigação, mediante a
celebração de protocolos nas áreas de ensino, da formação e investigação científica.

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III- Disposições legais de ordem geral que aos peritos interessa
conhecer:

1- Artigos do Código de Processo Penal:


Art. 70º - O processo penal é secreto até ser notificado o despacho de pronúncia ou
equivalente ou até transitar em julgado o que mandar arquivar o processo.
Art. 71º - O juiz poderá dar conhecimento aos peritos, intérpretes ou testemunhas dos actos
do processo ou documentos que convenha mostrar-lhes para melhor investigação da verdade
e que eles não poderão revelar.
Art. 91º - Toda pessoa devidamente notificada ou avisada que não comparecer no dia, hora e
local designados, nem justificar a falta nesse acto, incorrerá na multa de 100$00 a 1.000$00 e
em indemnização de igual importância a favor do Cofre Geral dos Tribunas, sendo a multa e
a indemnização logo fixadas no respectivo auto se a comparência for obrigatória.
§ 1º - É admissivel qualquer espécie de prova, incluindo a testemunhal, para a justificação da
falta, não podendo, porém, ser ouvidas mais de três testemunhas. O juiz apreciará a prova
produzida segundo a sua livre convicção e decidirá sem recurso, depois de ouvido o
Ministério Público.
§ 2º - A justificação poderá ainda ser feita dentro de cinco dias, não se executando a
condenação até que tenha decorrido esse prazo. Se a justificação se fizer, o juiz, ouvido o
Ministério Público, declarará sem efeito a condenação.
§ 3º - Independentemente das penas cominadas neste artigo, o juiz pode ordenar a captura do
que tiver faltado injustificadamente, para comparecer sob prisão se isso for julgado
indispensável.
Art.96º - Os peritos, os tradutores e intérpretes tomarão sempre perante o juiz o compromisso
de, sob sua honra, desempenhar com fidelidade as suas funções. Para este efeito o juiz lhes
perguntará se prometem pela sua honra desempenhar fielmente as funções que lhes são
confiadas, ao que deverão responder afirmativamente.
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
§ 2º - O juiz poderá sempre advertir as pessoas que prestem compromisso de honra da pena
em que incorrem se a ele faltarem.
Art.104º - Nenhum juiz, efectivo ou substituto, poderá funcionar em um processo penal:
1º - Quando ele ou o seu cônjuge for ofendido, arguido ou possa constituir-se parte acusadora
do processo e ainda quando tiver direito a reparação civil;
2º - Quando for ofendido, arguido ou possa constitui-se parte acusadora e ainda quando tiver
direito a reparação civil algum ascendente, descendente, colateral até o terceiro grau ou afim
nos mesmos graus, tutelado ou curatelado dele ou do seu cônjuge;
3º - Quando tiver intervindo no processo como perito, como representante do Ministério
Público ou como advogado constituido ou defensor oficioso;

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4º - Quando contra ele tiver sido admitida acção por perdas e danos ou acusação em acção
penal por factos cometidos no exercicio das suas funções ou por causa delas e seja
participante, parte acusadora, co-réu ou autor na acção o arguido, o ofendido, a parte
acusadora no processo penal, o cônjuge de qualquer deles ou algum ascendente, descendente,
irmão ou afim nos mesmos graus;
5º - Quando houver deposto ou tiver de depor como testemunha.
§ 1º - Nenhum juiz pode intervir na decisão de recurso interposto de acórdão, sentença ou
despacho proferido por ele ou por algum seu parente de linha recta, no segundo grau da
linha colateral, ou afim nos mesmos graus.
§ 2º - Os impedimentos devem ser declarados oficiosamente pelo juiz e, quando o não sejam,
deve o Ministério Público promover a sua declaração, podendo também requerê-la não só
a parte acusadora, mas também o arguido, logo que seja admitido a intervir no processo.
Art.106º - Aos escrivães é aplicavel o disposto nos n.º 1º , 2º e 4º do art.104º , quando tenha
havido condenação ou pronúncia nas acções a que este último número se refere, e aos
peritos e intérpretes o disposto nesses números e ainda no n.º 3º do mesmo artigo. Não
poderão também ser nomeados peritos nem intérpretes o Chefe do Estado, os Ministros e
os menbros do Congresso, com ofensa das suas imunidades, e não poderá ser nomeado
intérprete o escrivão do processo.
§ 1º - A procedência dos motivos de impedimento, ou seja declarada pelo impedido ou seja
requerida a sua declaração pelo Ministério Público, parte acusadora ou arguido, será
sempre apreciada pelo juiz, que deverá também, oficiosamente, julgar procedente o
impedimento, se dele tiver noticia.
§ 2º - Declarado o impedimento por despacho, servirá como escrivão do processo aquele que
deva substituir o impedido e, como perito ou intérprete, outro nomeado pelo juiz.
Art.178º - Ninguém pode eximir-se a sofrer qualquer exame ou a falcutar quaisquer cousas
que devam ser examinadas, quando isso for necessário para a instrução de qualquer
processo, podendo o juiz tornar efectivas as suas ordens, até com o auxilio da força, sem
prejuizo do disposto nos arts. 209º e 210º .
§ único. – Os exames que possam ofender o pudor das pessoas examinadas só deverão
realizar-se quando forem indispensáveis para a instrução. Ao exame assistirão sómente o
juiz e os peritos, podendo o examinado fazer-se acompanhar de uma ou duas pessoas de
sua comfiança, devendo ser prevenido de que tem esta faculdade.
Art.179º - Os exames serão feitos por dois peritos nomeados pelo juiz, devendo perante
prestar compromisso de honra.
§ 1º - Nos casos de extrema urgência ou quando pela grande simplicidade das investigações
ou pequena gravidade da infracção o juiz julgue bastante a intervenção de um só perito,
com ele se fará o exame.
§ 2º - O exame será feito na presença do juiz e com a assistência do Ministério Público,
podendo assistir os ofendidos, a parte acusadora e também os arguidos, depois de
admitidos a intervir no processo, salvo o caso previsto no § único do art. 178º .
§ 3º - O agente do Ministério Público, bem como o ofendido, a parte acusadora e o arguido
poderão requerer no acto do exame, e sem prejuizo do bom andamento da diligência, o que
convier para a descoberta da verdade, devendo o juiz indeferir tudo quanto for inútil para a
causa. Se forem precisos quaisquer esclarecimentos, nos exames a que se refere o § único
do art.178º serão pedidos e dados depois das respostas aos quesitos.
Art.180º - Quando os exames dependerem do conhecimento particular de qualquer ciência ou
arte, serão nomeadas as pessoas com as habilitações necessárias para os efectuar.

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§ 1º - Se no lugar em que tenha de se fazer o exame ou nos 5 quilómetros em redor não
houver snão um perito, assim se declarará no auto e o exame será válido apenas com a sua
intervenção.
§ 2º - Se no lugar onde deva fazer-se o exame e nos 15 quilómetros em redor não houver
perito algum e o houver na sede da comarca, o juiz poderá ordenar que o objecto que deva
ser submetido ao exame seja transportado para ali, se o transporte puder efectuar-se sem
prejuizo da averiguação da verdade ou da saúde pública, podendo para este efeito
requisitar as diligências necessárias á autoridade administrativa ou policial, que a elas
procederá imediatamente e com as cautelas devidas.
§ 3º - No caso do parágrafo anterior, se o transporte não puder ter lugar e o juiz entender que
é indispensável a intervenção de peritos especializados, poderá nomeá-los, se os houver na
própria comarca, ou, se os não houver, requisitá-los a uma das comarcas mais próximas.
Art.181º - Os exames médico-forenses, nas comarcas de Lisboa, Porto e Coimbra, serão feitos
pelos institutos de medicina legal, onde se farão também os exames de reconhecimento de
letra ou de documentos que se digam falsificados e quaisquer outros que esses institutos
estejam especialmente habilitados a realizar.
§ 1º - Os serviços periciais de medicina forense que exijam conhecimentos particulares de
alguma especialidade médica serão, nestas comarcas, feitos no respectivo instituto ou
clinica universitária dessa especialidade pelos professores e assistentes respectivos e, na
falta desses institutos ou clínica, nos hospitais consagrados a essa especialidade, pelo
pessoal médico a eles pertencente.
Art.182º - O juiz poderá ordenar que os exames se façam em laboratórios ou
estabelecimentos cientificos apropriados, quando a natureza das investigações assim o
exija, devendo tomar as precauções indispensáveis para assegurar o bom êxito da
diligência.
Art.183º - Não poderão ser nomeados peritos os impedidos nos termos do código.
§ 1º - Os peritos nomeados podem alegar como escusa a falta de conhecimentos especiais ou
de material próprio para exame que os exija e podem com o mesmo fundamento ser
recusados pelo Ministério Público, parte acusadora e arguido, se tiver intervenção no
processo. A escusa com este fundamento só poderá ser alegada no prazo de quarenta e oito
horas, a contar do dia em que o perito for notificado da nomeação, e a recusa só poderá ser
deduzida no mesmo prazo, a contar do momento em que aquele que a opuser tenha
conhecimento da nomeação.
§ 2º - Alegada a escusa ou posta a recusa, o juiz decidi-la-á imediatamente, sem recurso,
ouvido o perito, se assim o entender, tudo sem prejuizo da realização da diligência, se for
urgente.
Art.184º Se o juiz julgar procedente a escusa ou recusa, ou se o perito falecer, estiver
impossibilitado de comparecer ou for negligente, nomeará outro em substituição ou
procederá nos termos do art.182º , se for caso disso.
Art.185º - Todo o perito que for convenientemente notificado para qualquer exame deverá
comparecer no dia, hora e local designados, sob pena de incorrer na sanção do art.91º .
Art.186º - O juiz deverá formular quesitos, sempre que os peritos lho requeiram ou a natureza
do exame o exija.
§ único.- O Ministério Público, a parte acusadora e o arguido, depois de admitido a intervir
no processo, poderão formular quesitos, mas o juiz não os admitirá, quando os julgue
desnecessário para a descoberta da verdade.

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Art.187º - Se os peritos carecerem de quaisquer diligências ou esclarecimentos para
responderem convenientemente, poderão requerê-los ao juiz, que ordenará que essas
diligências se pratiquem ou esses esclarecimentos lhes sejam fornecidos, se o julgar
necessário.
§ único.- Poderão também ser mostrados aos peritos quaisquer actos do processo ou
documentos juntos, se o juiz o julgar conveniente.
Art.189º - Os peritos no exame descreverão com a minúcia necessária o estado do que
examinaram, expondo em seguida as suas conclusões devidamente fundamentadas,
podendo o juiz , o Ministério Público, a parte acusadora ou o arguido que tenha sido
admitido a intervir no processo, pedir quaisquer esclarecimentos.
Art.190º - Feito o exame, se os peritos declararem que podem dar logo as suas respostas,
escrever-se-ão no respectivo auto, que será rubricado pelos peritos e por eles assinado logo
em seguida às suas respostas ou declarações ou aos esclarecimentos que lhes sejam
pedidos.
§ 1º - Se os peritos declararem que não podem respoder desde logo, ser-lhes-á marcado um
prazo dentro do qual apresentarão na secretaria do tribunal o seu relatório escrito, por eles
rubricado e assinado, e que será também rubricado pelo escrivão e junto aos autos,
lavrando-se termo de apresentação e juntada.
§ 2º - Havendo discordância entre os peritos, cada um deles apresentará o seu relatório
fundamentado.
Art.191º - A autópsia será sempre precedida do reconhecimento do cadáver e, se este não for
logo reconhecido, não se procederá ao exame senão passadas 24 horas, durante as quais,
sendo possivel, o cadáver estará exposto em estabelecimento apropriado ou em lugar
público, a fim de ser reconhecido, salvo se houver perigo para a saúde ou ordem pública
ou se houver urgência imediata no exame.
§ único.- Se o cadáver não for reconhecido, descrever-se-ão no auto as particularidades que o
possam identificar e só depois se procederá à autópsia.
Art.192º - Nos crimes de ofensas corporais, se os peritos declararem no exame que o ofendido
se encontra ainda doente ou impossibilitado de trabalhar por certo espaço de tempo,
proceder-se-á,findo este prazo, a novo exame.
§ único.- O segundo exame deverá ser realizado imediatamente depois de terminado o tempo
previsto pelos peritos para a doença ou impossibilidade de trabalho e, se o ofendido então
não estiver curado, será de novo examinado, quando terminar o prazo que lhe for assinado
nesse exame. O mesmo se observará, se houver necessidade de novos exames, até que o
examinado esteja curado ou apto para o trabalho.
Art.196º - Os peritos poderão ser convocados pelo juiz em qualquer altura da instrução, para
prestarem esclarecimento no processo.
Art.197º - O Ministério Público, a parte acusadora ou o arguido, quando intervenha no
processo, poderão requerer, e o juiz oficiosamente ordenar, novos exames sobre o mesmo
ou diversos objectos, mas, se o objecto for o mesmo, os novos exames serão feitos por três
peritos nomeados pelo juiz, nenhum dos quais tenha intervindo nos anteriores.
§ único. – Se o juiz entender que estas diligências, quando requeridas, não têm interesse para
a descoberta da verdade, indeferirá o pedido.
Art.200º - Serão revistos pelo Conselho Médico-Legal todos os relatórios de exames
microscópicos, químicos, bacteriológicos e mentas, e ainda todos os outros exames
médicos-forenses relativos a processos por infracções a que corresponda pena maior,
efectuados nas comarcas da respectiva circunscrição.

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§ 1º - Para este fim será remetida pelo juiz ao respectivo Conselho Médico-Legal cópia dos
relatórios, no prazo de cinco dias, a contar da sua junção aos autos.
§ 2º - Se os exames sujeitos a revisão forem feitos pelos institutos de medicina legal, serão
directamente remetidos pelo seu director ao Conselho Médico-Legal.
§ 3º - O parecer do Conselho Médico-Legal será remetido ao respectivo juiz no prazo de vinte
dias, a contar da data em que for recebido o relatório a rever.
§ 4º - Se o Conselho Médico-Legal tiver justificáveis razões para não se pronunciar em
determinada revisão, recurso ou consulta, assim o declarará, comunicando a sua
deliberação ao Ministério da Justiça e dos Cultos, que, se julgar procedentes as razões
aduzidas, designará alternadamente, entre os dois outros conselhos, aquele a que será
devolvida a competência.
§ 5º - Se a devolução da competência a que se refere o artigo for autorizada, o processo de
revisão, recurso ou consulta será remetido directamente pelo primeiro conselho médico-
legal ao segundo, e por este, depois de dado o parecer, ao juiz do processo.
Art.201º - Haverá recurso para o Conselho Médico-Legal dos relatórios dos exames médico-
forenses, quando não estejam sujeitos a revisão obrigatória, nos termos do artigo anterior.
§ 1º- Não haverá lugar ao recurso a que este artigo se refere, quando o processo for de polícia
correccional, sumário ou de transgressões.
§ 9º- Independentemente do recurso, pode o juiz ou o Ministério Público fazer directamente
ao Conselho Médico-Legal da respectiva circunscrição as consultas que julgarem
necessárias.
Art.209º - Nas apeensões a realizar em repartições ou estabelecimentos públicos de qualquer
natureza, etc.
Art.431º .
§ 2º - O juiz poderá ordenar que os peritos compareçam na audiência para prestarem
declarações.

2 – Artigos do código penal:


Art.1º - Crime ou delito é o facto voluntário declarado punível pela lei penal.
Art.2º - A punição da negligência, nos casos especiais determinados na lei, funda-se na
omissão voluntária de um dever.
Art.3º - Considera-se contravenção o facto voluntário punível, que únicamente consiste na
violação, ou na falta de observância das disposições preventivas das leis e regulamentos,
independentemente de toda a intenção maléfica.
Art.4º - Nas contravenções é sempre punivel a negligência.
Art.5º - Nenhum facto, ou consista em acção ou em omissão, pode julgar-se criminoso, sem
que uma lei anterior o qualifique como tal.
Art.8º- São puníveis não só o crime consumado mas também o frustrado e a tentativa.
Art.9º- Sempre que a lei designar a pena aplicável a um crime, sem declarar se se trata de
crime consumado, de crime frustrado, ou de tentativa, entender-se-á que a impõe ao crime
consumado.
Art.10º- Há crime frustrado quando o agente pratica com intenção todos os actos de execução
que deveriam produzir como resultado o crime consumado, e, todavia, não o produzem por
circunstâncias independentes da sua vontade.

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Art.11º - Há tentativa quando se verificam cumulativamente os seguintes requisitos:
1º - Intenção do agente;
2º - Execução começada e incompleta dos actos que deviam produzir o crime consumado;
3º - Ter sido suspensa a execução por circunstâncias independentes da vontade do agente,
excepto nos casos previstos no art. 13º ;
4º - Ser punido o crime consumado com pena maior, salvo os casos especiais em que, sendo
aplicável pena correccional ao crime consumado, a lei expressamente declarar punível a
tentativa desse crime.
Art.13º - Nos casos especiais, em que a lei qualifica como crime consumado a tentativa de um
crime, a suspensão da execução deste crime pela vontade do criminoso não é causa
justificativa.
Art.18º - Não é admissivel a analogia ou indução por paridade ou maioria de razão, para
qualificar qualquer facto como crime, sendo sempre necessário que se verifiquem os
elementos essencialmente constitutivos do facto criminoso, que a lei expressamente
declarar.
Art.19º - Os agentes dos crimes são autores, cúmplices, ou encobridores.
Art.20º - São autores:
1º - Os que executam o crime, ou tomam parte directa na sua execução;
2º - Os que por violência fisica, ameaça, abuso de autoridade ou de poder constrangeram
outro a cometer o crime, seja ou não vencível o constrangimento;
3º - Os que por ajuste, dádiva, promessa, ordem, pedido, ou por qualquer meio fraudulento e
directo determinam outro a cometer o crime;
4º - Os que aconselham ou instigaram outro a cometer o crime nos casos em que sem esse
conselho ou instigação não tivesse sido cometido;
5º - Os que concorreram directamente para facilitar ou preparar a execução nos casos em que,
sem esse concurso, não tivesse sido cometido crime.
§ único.- A revogação do mandato deverá ser considerada como circunstância atenuante
especial, não havendo começo de execução do crime, e como simples circunstância
atenuante, quando já tiver havido começo de execução.
Art.21º - O autor, mandante, ou instigador, é também considerado autor:
1º - Dos actos necessários para a perpetração do crime, ainda que não constituam actos de
execução;
2º - Do excesso do executor na perpetração do crime nos casos em que devesse tê-lo previsto
como consequência provável do mandato ou instigação.
Art.22º - São cúmplices:
1º - Os que directamente aconselharam ou instigaram outro a ser agente do crime, não estando
compreendidos no artigo 20º .
2º - Os que concorreram directamente para facilitar ou preparar a execução nos casos que,
sem esse concurso, pudesse ter sido cometido o crime;

Art.23º - São encobridores:

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1º - Os que alteram ou desfazem os vestígios do crime com o propósito de impedir ou
prejudicar a formação do corpo de delito;
2º - Os que ocultam ou inutilizam as provas, os instrumentos ou os objectos do crime com o
intuito de concorrer para a impunidade;
3º - Os que, sendo obrigados em razão da sua profissão, emprego, arte ou ofício, a fazer
qualquer exame a respeito de algum crime, alteram ou ocultam nesse exame a verdade do
facto com o propósito de favorecer algum criminoso;
4º - Os que, por compra, penhor, dádiva ou qualquer outro meio, se aproveitam ou auxiliam o
criminoso para que se aproveite dos produtos do crime, tendo conhecimento no acto da
aquisição da sua criminosa proveniência;
5º - Os que dão coito ao criminoso ou lhe facilitam a fuga, com o propósito de o subtraírem à
acção da justiça.
§ único. – Não são considerados encobridores o cônjuge, ascendentes, descendentes e os
colaterais ou afins do criminoso até ao terceiro grau por direito civil, que praticarem qualquer
dos factos designados nos números 1º , 2º e 5º deste artigo.
Art.26º - Sòmente podem ser criminosos os indivíduos que têm a necessária inteligência e
liberdade.
Art.181º - Aquele que ofender directamente com palavras, ameaças ou por actos ofensivos da
consideração devida à autoridade, algum ministro ou conselheiro de Estado, membro das
câmaras legislativas ou deputações das mesmas câmaras, magistrado judicial, administrativo
ou do ministério público, propfessor ou examinador público, jurado ou comandante da força
pública, na presença e no exercício das funções do ofendido, posto que a ofensa se não refira
a estas, ou fora das mesmas funções, mas por causa delas, será condenado a prisão até um
ano. Se neste crime não houver publicidade, a prisão não excederá a seis meses.
Art.182º - O crime declarado no artigo precedente, cometido contra algum agente da
autoridade ou força pública, perito ou testemunha no exercício das respectivas funções, será
punido com prisão até trê meses.
Art.184º - Se as ofensas corporais de que trata o artigo antecedente, forem praticadas contra
as pessoas designadas no art.182º , serão punidas com as penas estabelecidas para as ofensas
corporais nos arts. 359º e seguintes, mas sempre agravadas.
Art.188º - Aquele que se recusar a prestar ou deixar de prestar qualquer serviço de interesse
público, para que tiver sido competentemente nomeado ou intimado, ou que faltar à
obediência devida às ordens ou mandados legitimos da autoridade pública ou agentes dela,
será condenado a prisão até três meses, se por lei ou disposição de igual força não estiver
estabelecida pena diversa.
2º - A pena estabelecida neste artigo será agravada com a de multa por seis meses, se a
desobediência for qualificada.
Art.189º - É considerada desobediência qualificada, a que for feita na qualidade de jurado,
testemunha, perito, intérprete, tutor ou vogal do conselho de família.
Art.241º As penas declaradas nos artigos antecedentes são aplicáveis aos peritos que fizerem,
com juramento, declarações falsas em juízo.

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Art.250º - O facultativo que em caso urgente recusar o auxílio da sua profissão, e bem assim
aquele que competentemente convocado ou intimado para exercer acto da sua profissão,
necessário, segundo a lei, para o desempenho das funções da autoridade pública, recusar
exercê-lo, será condenado a prisão de dois meses a um ano, e multa correspondente.
§ único.- O não comparecimento sem legítima escusa, no lugar e hora para que for convocado
ou intimado, será considerado como recusa para todos os efeitos do que dispõe este artigo.
3 –Artigos do Código de Processo Civil:

Art.580º - 1. Não podem servir como peritos:


a) O presidente da República;
b) Os membros do Governo;
c) Os membros da Assembleia Nacional e da Câmara Corporativa enquanto estiverem no
exercício efectivo das suas funções, salvo se a Assembleia ou a Câmara conceder
autorização;
d) Os arcebispos e bispos;
e) Os militares em efectivo serviço e os funcionários públicos que tenham de prestar serviço
em secretarias ou repartições, salvo se obtiverem licença do seu superior hierárquico;
f) Os funcionários quando se trate de causas em que uma das partes seja o Estado;
g) Os funcionários das Direcções-Gerais dos Serviços Hidráulicos e Eléctricos que estejam
prestando serviço em qualquer divisão hidráulica, pelo que respeita às questões de
águas e obras correlativas que se ventilem na área da sua divisão;
h) Os que não possuam os conhecimentos técnicos especiais ixigidos pelo arbitramento.
i) Os que seriam incapazes de depor como testemunhas.
-2. Nos casos das alineas c) e e) do número anterior, a nomeação fica sem efeito se até ao dia
da diligência não for apresentada a autorização ou a licença respectiva; mas a licença não será
necessária quando o funcionário intervir por virtude de disposição legal, e não deve ser
negada quando ele tenha sido nomeado em atenção à sua especial competência técnica.
-3. Os impedimentos a que se referem as alíneas f) e g) do n.º 1 cessam no caso de o
funcionário ser nomeado perito pelo Estado ou pelo tribunal.
Art.581º 1 Os impedimentos podem ser opostos pela parte contrária ou pelos peritos e
podem também ser suscitados oficiosamente, até ao dia da diligência. 2 A infracção do
disposto nas alineas f) e g) do n.º 1 do artigo anterior conjugado com o n.º 3 do mesmo artigo
determina a nulidade da diligência, a qual pode ser arguida pela parte contrária e deve ser
declarada oficiosamente até à sentença final em 1ª instância; além disso, o funcionário
nomeado deve recusar-se a intervir , enquanto a isso não for obrigado por ordem expressa do
juiz, sob pena de incorrer em falta disciplinar.
Art.582º 1 Podem escusar-se de servir como peritos:
a) Os conselheiros de Estado, os juízes e magistrados do Ministério Público em efectivo
serviço;
b) Os eclesiásticos que tenham cura de almas;
c) Os que tiverem mais de setenta anos de idade.
Art.583º 1 A escusa de ser pedida pelo nomeado no prazo de vinte e quatro horas, a contar
do conhecimeto oficial da nomeação, e não pode deixar de ser conhecida, desde que se
verifique o fundamento invocado.

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2 Se invocar a escusa da idade, o requerente juntará certidão do registo de nascimento ou
exibirá o seu bilhete de identidade; se não puder logo juntar ou ixibir o documento,
pode fazê-lo dentro de três dias.
3 Nos casos das alineas a) e b) do artigo anterior, o requerente não é obrigado a produzir
a prova do fundamento alegado; o juiz, se tiver duvidas, ouvirá as partes ou solicitará
as informações necessárias.
Art.584º - Os peritos podem ser recusados com os mesmos fundamentos por que podem ser
recusados os juízes, e ainda com os fundamentos constantes das alineas b) e d) do n.º 1 do art.
122º , na parte em que estes não constituem causa de impedimento, nos termos da alinea i)
do n.º do art.580º.
4 – Artigos da Carta de lei de17 de Agosto de1899

Art.7º - Nos exames que não forem feitos pelos conselhos médico-legais deverão os
peritos observar o questionário e as instruções especiais que um regulamento
determinará.
§ único. – Destes exames poderá interpor-se recurso para o conselho médico-legal da
respectiva circunscrição.
Art.9º - Haverá em cada comarca, e a cargo do juízo de direito, uma caixa com
instrumentos de autópsia e outros aprestos indispensáveis para o uso dos peritos.
5 – Artigos de Decreto n.º 5023, de 29 de Novembro de 1918

Art.1º - Os serviços de medicina forense das comarcas juricias do continente e das ilhas
adjacentes do território da República Portuguesa serão desempenhados por médicos
legistas, e nas comarcas de Lisboa, Porto e Coimbra, pelos institutos de medicina legal.
Art.2º - O continente da República Portuguesa será dividido em três circunscrições
médico-legais, com sede em Lisboa, Porto e Coimbra, cujas áreas serão
respectivamente as destes distritos judiciais, e em cada uma funcionará um conselho
médico-legal.
§ único.- As comarcas das ilhas adjacentes e ultramarinas pertencerão à circunscrição
médico-legal de Lisboa.
Art.9º - Todas as vezes que os peritos reconhecerem que o exame que lhes foi determinado
exige observação em alguma clínica de especialidade médica ou cirúrgica, assim o
declararão para o efeito de ser o observando internado nessa clínica, por determinação do
juiz passando-se, sendo necessário, a competente precatória e procedendo-se nos termos
estabelecidos no art. 11º .
Art.10º - Todas as vezes que pelo exame pericial se verificar a necessidade ou
conveniência de se proceder a exames especiais de laboratórios químicos, bacteriológicos
ou outros, ao juiz compete ordenar a remoção com a expedição, quando necessária, da
respectiva precatória com todas as formalidades legais, dos objectos a analisar para o
Instituto de Medicina Legal da respectiva circunscrição, sendo este serviço efectuado sob a
direcção do médico-legista.

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Art.11º - Os serviços periciais de medicina forense que exijam conhecimentos particulares
dalguma especialidade médica serão feitos em Lisboa, Porto ou Coimbra, conforme a
circunscrição a que respeitem, no Instituto Universitário ou clínica dessa especialidade
pelos professores e assistentes respectivos; e, caso não estejam criada ainda qualquer das
especialidades inumeradas no § 1º deste artigo, nos hospitais consagrados a essa
especialidade, pelo pessoal médico a eles pertencente, e sempre sob a presidência do Juiz
de direito do processo ou do Juiz deprecado.
§ 1º- Compreendem-se neste artigo os exames periciais de doenças mentais, nervosas, dos
olhos, da garganta, nariz e ouvidos, do aparelho génito-urinário, do puerpério, da gravidez,
de moléstias cutâneas e os de radiologia.
§ 2º - Os peritos que intervierem nos exames a que se referem neste artigo, vencerão, por
este serviço, os salários que lhes competem pela tabela em vigor e que lhes serão pagos
pelo cofre de juízo a que pertencer o processo, sendo aplicável a este pagamento, quanto
ao mais, o disposto no art.8º e seus parágrafos.
§ 3º - Todos os outros exames serão efectuados pelos Institutos de Medicina Legal.
6- Artigos do Decreto-Lei n.º 35042, de 20 de Outubro de 1945

Art.6º - São orgãos auxiliares da Polícia Judiciária os Institutos de Medicina Legal e os


arquivos de identificação e do registo criminal e policial, as quais cumpre prestar aquela
polícia, com a urgência exigida pelo serviço, toda a colaboração que lhes for solocitada,
podendo, quando necessário, ser requisitados funcionários seus para a realização de
deligências ou pesquisas.
Art.79º - Em colaboração com Instituto de Medicina Legal e os Institutos de
criminologia, a polícia judiciária organizará cursos de técnica policial, destinados a
preparação e especialização dos seus agentes.
7- Artigos Decreto-Lei n.º 39688, de 5 de Junho de 1954.

Art. 1º - A epigrafe do titulo II do livro I do codigo penal passa a ter a seguinte


redaccao: < Das penas e seus efeitos e das medidas de segurança>. E a actual epigrafe
do capitulo I do titulo II do livro I e substituida por estoutra:< Das penas e das medidas
de seguranca >.
Art.2º - Sao substituidos os arts. 54º, 55º, 56 , 57º, 58º, 59º, 60º, 61º,62º,63º,64º,65º,
66º, 67º , 68º , 69º ,70º , 71º , 72º , 73º , 84º ,86º, 87º , 88º , 89º , 91º , 92º , 93º , 94º ,
95º , 96º 97º, 98º , 99º , 100º , 101º , 102º , 104º , 106º ,107º , 108º ,109º , 110º , 113º ,
114º , 117º , 119º , 120º , 122º e 129º do codigo penal, cuja a redaccao passa a ser a
seguinte:
Art.54º - Para prevencao e reprecao dos crimes havera penas e medidas de seguranca.
Nao poderao ser aplicadas penas ou medidas de seguranca que nao estejam declaradas
na lei. As penas e medidas de seguranca sao as que se declaram nos artigos seguintes:
Art.55º - As penas maiores sao:
1º - A pena de prisao maior de vinte a vinte e quatro anos;
2º - A pena de prisao mior de dezasseis a vinte anos;

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3º - A de prisao maior de doze a dezasseis anos;
4º - A de prisao amior de oito a doze anos;
5º - A de prisao maior de doze a oito anos;

Art.56º - As penas correccionais sao:


1º - A pena de prisao de tres dias a dois anos;
3º - A de suspensao temporaria dos direitos politicos;
4º - A de multa;
5º - A repreensao.
Art.57º - As penas especiais para os empregados publicos sao:
1º - A pena de demissao;
2º - A de suspensao;
3º - A de censura.
Art.70º - Sao medidas de seguranca:
1º - O enternamento em manicomio criminal;
3º - A liberdade vigiada;
4º - A caucao de boa conduta;
5º - A interdiccao do exercicio de profissao.

Atr.129º - no codigo penal e Legislacao penal extravagante considerar-se-ao substituidas as


penas abolidas pelas que lhes correspondem nos termos seguintes:
1º , 2º , 3º , 4º , 5º , 6º , 7º , revogada

8- Artigos do Decreto-Lei n.º41306, de 2 de Outubro de 1957

Art. 1º - Sao criados na directoria da policia judiciaria o laboratorio de policia cientifica a


biblioteca da policia judiciaria e museu criminalistico.
Art. 2º - 1- O Laboratorio de policia cientifica tem competencia para proceder, em
processo penal, a quaisquer delegencias ou exames que, exigindo conhecimentos
cientificos especializados, caibam nas suas possibilidades tecnicas de realizacao.
2- A competencia do laboratorio e cumultiva com a dos institutos de medicina legal salvo
no que se refere aos exames de tanatologia e exames directos nas pessoas, que sao da
exclusiva competencia dos institutos, nas comarcas de Lisboa, Porto, e Coimbra.
3- Os exames directos nas pessoas poderao ser efectuados pelo medico legista do
laboratorio, nos casos previstos pelo § 1º do art. 179º do codigo do processo penal.
Art.10º - Pode o procurador geral da Republica, a requerimento fundamentado das
entidades interessadas, autorizar que os exames, da competencia cumulativa do
laboratorio da policia judiciaria e dos Institutos de medicina legal, requeridos a estes
ultimos, sejam efectuados por aquele estabelecimento e vice-versa, em ordem a
promover a sua mais breve realizacao.

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9- Artigos do Decreto-Lei n.º 42216, de 15 de Abril de1959.
Art.1º - 1 Os peritos para a pratica dos exames medico-forence, nas comarcas e julgados
municipais do continente e Ilhas adjacentes, serao em cada ano os constantes da lista a
publicar pelo ministerio da justica ate 15 de Dezembro do ano anterior.
2- O numero dos peritos de comarca, modificavel por simples portaria do ministerio da
justica, sera constante do quadro anexo.
Art.2º - 1 Ate 15 de Outubro de cada ano, deverao os m’dicos interessados requerer a sua
inclusao na lista a direccao geral da justica, que enviara os requerimentos dos candidatos
nao excluidos a comarca respectiva, para efeitos de informacao.
2- As informacoes sobre os requerentes serao prestadas, dentro do prazo de oito dias, pelo
juiz de direito, e pelo agente do ministerio publico, aos quais incumbe ainda propor os
peritos a nomiar , sempre que nao haja requerentes idoneos em numero suficiente.
3- Recolhidas as informacoes sobre a idoneidade moral e profissional dos requerentes ou
propostos e juntos os documentos que forem considerados necessarios, sera lista
submetida a aprovacao do ministerio da justica e publicada no diario do governo.
Art.3º - Constitui motivo de preferencia, para o efeito de inclusao na lista, a habilitacao
do requerente com o curso superior de medicina legal.
Art. 5º - 1 Os exames medico-Forense, nas comarcas de Lisboa, Porto e Coimbra, serao
feitos pelos respectivos Institutos de Medicina Legal ou, se for caso disso, pelo
laboratório de policia cientifica, neles se efectuando tambem os exames de
reconhecimento de letra ou de documentos que se digam falsificados e quaisquer outros
que esses servicos estejam especialmente habilitados a realizar.
2- Os servicos pericias de medicina forence que exijam conhecimentos particulares de
alguma especialidade medica serao, nas comarcas a que se refere o n.º1, feitos no
respectivo instituto ou clinica universitaria dessa especialidade, pelos professores e
assistentes resprctivos, e, na falta desses institutos ou clinicas, nos hospitais
consagrados a essa especialidade, pelo pessoal medico a eles pertencente.
Art.6º - 1 Nas restantes comarcas e julgados municipais do continente, os exames
cadavericos serao feitos, quando haja suspeitas de que a morte resultou da pratica do
crime doloso, por um perito do respectivo instituto de medicina legal, a designar em
cada caso pelo director, e por um dos peritos medicos da comarca ou julgado, e por dois
destes peritos nos casos de suspeita de crime culposo ou tratando-se de morte resultante
de acidente no trabalho por conta de outrem; nas comarcas e julgados das Ilhas
adjacentes esrao os exames cadavericos feitos sempre por dois peritos.
2- Nos demais casos de morte violenta ou de causa ignorada despensar-se-a a autopsia
deste que no processo estuarado nos termos do art.226º do codigo de Registo Civil nao
se levante a hipotese de existencia de crime.
3- Se a autopsia for realizada sem intervencao do perito do instituto de medicina legal, por
nao haver suspeita de crime doloso que sao mais tarde venham a levantar-se, poderao as
autoridades judiciais ordenar a realizacao segunda autopsia, com intervencao daquele
perito, se a julgarem necessaria ao esclarecimento da verdade.

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4- Os exames de alienacao mental serao feitos por um psiquiatra da respectiva zona,
sempre que possivel, e, nao sendo, por dois peritos medicos da comarca ou julgado,
sem prejuizo da possibilidade da sua realizacao pelos anexos psiquiatricos, nos termos
da legislacao vigente.

5- Todos os outros exames serao feitos por um so dos peritos da comarca ou julgado, com
a excepcao dos que envolvam conhecimentos esoeciais que todos os peritos declarem
nao possuir, devendo conseder-se, quando assim seja, em conformidade com o disposto
no art.184º do Codigo de Processo Penal.
Art.8º - 1 Os emolumentos devido aos peritos medicos, em processo penal, sao 25$ por
cada exame que nao seja de especialidade, de 50$ por cada exame de especialidade e de
150$ por cada autopsia.
Art. 11º - Sao excluidos da revisao obrigatoria a que se refere o art. 200º do Codigo de
Processo Penal os relatorios dos exames efectuados pelos institutos de medicina legal
ou pelo laboratorio de policia cientifica.
Art.12º - 1 Sao aditados ao quadro de pesssoal de cada um dos institutos de medicina
legal de Lisboa, Porto e Coimbra dois lugres de assistente, especialmente destinados aos
exames externos de tanatologia.
10- Artigos do Decreto-Lei n.º 45108, de 3 de Julho de 1963.
Art.1º - 1 Os processos por crime de ofencas corporais cuja a instrucao tenha ja excedido o
prazo legal em consequencia da realizacao de sucessivos exames directos devem passar a
fase acusatoria, se for caso disso, logo que os peritos medicos possam determinar os
efeitos provaveis das lesoes examinadas, embora estas nao estejam ainda clinicamente
curadas, se a qualifecacao juridica do facto criminoso se mantiver inalteravel.
2- O encerramento da instrucao preparatoria nao impede no caso previsto, a realizacao de
ulteriores exames para exacta determinacao dos efeitos das lesoes, em ordem ao
apuramento da gravidade objectiva do crime e a fixacao da indemnizacao devida.
3- Se a data do despacho que designar o dia para o julgamento, o processo nao fornecer
ainda os elementos necessarios a exacta determinacao dos efeitos das lesoes, o juiz
mandara, nesse despacho, notificar os titulares do direito a eventual indemnizacao de
que, no caso de condenacao do reu, a fixacao do montante daquele podera, desde que
assim o requeiram ate ao comeco do julgamento, ser relegada para execucao da
sentenca.
4- O disposto neste artigo nao obsta a aplicacao do preceituado no § unico do art.338º do
Codigo do Processo Penal.
Art.2º - 1 E criado, junto da subdirectoria da policia judiciaria no porto, o lugar de perito
medico, para colaborar com o laboratorio de policia cientifica na area dessa sbdirectoria.
2- O lugar e provido por meio de contrato constituindo a remuneracao do perito encargo
do Cofre Geral dos Tribunais.
3- O perito medico tem competencia legal para proceder a axames directos nas pessoas,
nos mesmos termos em que a tem o adjunto medico legista do laboratorio da policia
cientifica.

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Art.3º - E aplicavel aos realtorios das autopsia efectuadas com intervencao do perito dos
institutos de medicina legal, nos termos do n.º 1 do art.6º do Decreto-Lei n.º42216, de 15 de
Abril de 1959, o disposto no art.11º do mesmo diploma.
11- Artigos do Decreto-Lei n.º45683, de 25 de Abril de 1964
Art.1º - E permitida nos termos do presente decreto-lei a colheita no corpo de pessoa falecida
de tecidos ou orgaos qualquer natureza, nomeadamente ossos, cartilagens,vasos,pele, globos
oculares e sangue, quando eles forem necessarios para fins terapeuticos ou cientificos e essa
intervecao, para ser util, nao possa aguardar o decurso do prazo legal de prevencao contra a
morte aparente.
§ 1º - Ainda que autorizadas pelo falecido, as colheitas nao podem efectuar-se ao abrigo deste
artigo quando forem contrarias a moral ou aos bons costumes ou quando se verifique o caso
de morte sem assistencia medica, de morte violente ou qualquer outro em que por lei deva
proceder-se a autopsia forense.
§ 2º Se a mote violenta tiver sido causada por acidente, a colheita podera realizar-se quando
nao seja de prever que possa vir a prejudicar os resultados da autopsia.
Art.9º - As colheitas, qualquer que seja o lugar do obito, so podem efectuar-se em instalacoes
aprooriadas dos servicos mencionados no corpo do art.3º deste diploma.
§ unico. Os directores dos centros de colheita podem, todavia, em harmonia com as
instrucoes aprovadas por portaria do Ministro da Saude e Assistencia, permitir, a titulo
generico ou em casos singulares, que as colheitas efectuadas pelos respectivos servicos se
facam em lugar diverso do perscrito neste artigo, desde que se certifiquem, etc.
Art.10º - Nenhuma colheita de tecidos ou orgaos se pode efectuar nos termos deste decreto-lei
sem que o obito seja verificado pelo menos por dois medicos, segundo as regras da simiologia
medico-legal que, ouvidos os departamentos oficiais competentes e a Ordem dos Medicos,
forem definidas por portaria conjunta dos Ministros da Justica e da Saude e Assistencia.

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III- INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA MEDICINA LEGAL E
SEGUROS
I- CONCEITO E DEFINIÇÃO:
A Medicina Legal e Seguros nasceu da necessidade de solucionar as questões judiciárias por
meio dos conhecimentos médico-biológicos, teve de se ir adptando em cada época aos
requisitos técnico-científicos de cada momento histórico, bem como a evolução socio-
antropólogica, politica das sociedades e aos ordenamentos jurídicos vigentes, possui desde o
princípio e conserva ainda hoje um caracter aplicativo com objectivo eminentemente prático.

A Medicina Legal e Seguros é um conjunto de conhecimentos médicos e biológicos


necessários para a resolução dos problemas que coloca o Direito, tanto na aplicação das Leis
como no seu aperfeiçoamento e evolução.
A Medicina Legal e Seguros é a Ciência que tem como objectivo o estudo das questões que
se apresentam no exercício profissional do Jurista cuja resolução se fundamenta total ou
parcialmente em certos conhecimentos médicos ou biológicos prévios.
Ela é definida como sendo a aplicação dos conhecimentos médicos e de outras ciências
auxiliares na interpretação, investigação e desenvolvimento da Justiça Social.
A Medicina Legal e Seguros é uma Ciência auxiliar do Direito, insubstituível, sem a qual não
se concebe uma correcta administração da Justiça.
É uma especialidade médica, complexa e polimorfa na sua constituição, heterogénea nos seus
propósitos concretos e não têm como fim a cura de doentes, mas o esclarecimento da verdade
em beneficio da moral social.
A Medicina Legal e Seguros não é uma especialidade “morta”, dedicada exclusivamente ao
estudo do cadáver; é uma especialidade bem viva e dinâmica, sendo o objectivo fundamental
assegurar para o doente/vítima ou seu representante legal as ligações necessárias com todos
os Serviços ou Instituições Administrativos ou Entidades Públicas ou Privadas que intervêm
no seu estado patológico tais como:
a)- Justiça:
Para apreciar as consequências de um acto de violência na vítima: nos casos de morte
violenta ou suspeitosa de crime; lesão ou dano corporal intencional ou não intencional - crime
de ofensas corporais; delitos sexuais - crime contra a honestidade; aborto criminoso; partos
supostos; exame de alienção mental, etc..
Responsabilização dos autores ou intervenientes no acto de um crime - circunstâncias em que
ocorreu o facto delituoso.
Resarcimento ou indemnização das vítimas por Acidentes de Trabalho, Doença Profissional,
Acidente de Viação ou de outro Meio de Transporte, etc.
b)- Companhias de Seguros/Instituto Nacional de Segurança Social e Serviços de
Pensões Militares e Civis:
Instituições que têm os encargos as vítimas ou doentes, a fim de se avaliar a Incapacidade
resultante de: acidentes de trabalho; doença profissional; acidentes de viação ou de outro

25
meio de transporte; invalidez; doença de causa traumática e não traumática, seguro médico,
etc.

c)- Ordem dos Advogados (Escritórios Privados)/O.N.Gs, etc:


Instituições que solicitam Perícias Médico Legais; Instituições que protegem e auxiliam
mulheres e crianças vítimas de violência e abuso sexual à quem lhes é útil um parecer Médico
Forense (Laudo Pericial).
II- IMPORTÂNCIA DA MEDICINA LEGAL e SEGUROS:
1- Natureza da sua actuação:
A actividade Médico Forense transborda o interesse individual e particular da Medicina
Privada para se irradiar à Ordem Social. É
na prática um ramo dos Serviços Públicos que contribui com extraordinária eficácia no
correcto funcionamento da Administração da Justiça, além de colaborar na elaboração das
Leis e Regulamentos, assumindo deste modo a sua transcendência Social do Direito.

2- Responsabilidade da sua actuação:


a)- Ordem Moral: A
função Médico Legal pela sua repercussão, pode sugerir a condenação ou absolvição de
um arguido; a honra, a liberdade e fortuna dos cidadãos; citando Mahon “A Medicina
Legal decide muitas vezes em assuntos de que depende a vida, a fortuna e a honra dos
Cidadãos” .
A Perícia Médico Legal é realizada por meio de análises, comprovações e exames de vária
índole, em que são exigidos conhecimentos médico-biológicos actualizados.
b)- Ordem Material:
Como todo profissional de Saúde, o Médico Legista que ignorar os seus deveres e
obrigações, que não segue os princípios Éticos e Deontológicos da sua profissão está
sujeito à penalização de acordo com a Lei.
3- Obrigatoriedade: A
função pericial Médico Legal sempre cheia de conflitos, de situações desagradáveis e
ingratas, pode ser imposta obrigatoriamente pelo Ministério Público a todo Médico ou
Técnico de Saúde em exercício, sem que seja necessáriamente Médico Legista.
Qualquer que seja a natureza da actuação o Médico ou Técnico de Saúde não pode
recusar-se.
4- Antecedentes históricos:
A Medicina Legal possuí antecedentes históricos que remontam desde as mais antigas
civilizações.
Desde que o homem começou a governar com Leis, existiram obviamente problemas que
poder-se-ia chamar de médico-legais, porque havendo Lei como sujeito de Direito e
também como objecto, o homem teve a necessidade de fazer relatórios ou indagações
sobre as pessoas, de fazer uma avaliação dos factos e acções que tinham um caracter
fundamentalmente bio-antropológico e médico.
No Código Hammurabi (1700 A.C.) já se regulamentava a prática médica e cirúrgica, e
estabelecia-se a Responsabilidade Profissional do Médico segundo a Lei Talion; também

26
estavam descreminados certas doenças dos Escravos que invalidavam os contratos de
compra e venda.
Nas Leis de Hititas havia referência em relação as formas ou procedimentos que os
médicos deveriam ter na redacção ou elaboração dos laudos periciais.
Procedimentos análogos vinham referenciadas nas Legislações Hebraica, Egípcia, Chinesa,
Grega, Latina, etc.
Naqueles tempos, a noção cientifica era rudimentar em todos os campos e constituíam um
património comum de Personalidades Cultas, assim que o Magistrado estava em grau de
decidir de decidir sozinho em cada questão.
Foi com o desenvolvimento dos conhecimentos técnicos que tornou insuficiente a Cultura
dos Juizes, que provocou a intervenção de um expert ou perito, fazendo surgir o “Instituto
das Perícias”, iniciando deste modo as bases de desenvolvimento de uma nova disciplina,
que se preocupava ou se dedicava ao estudo dos problemas que o Magistrado colocava ao
Perito.
Contemporaneamente do século IX ao seculo XIV as primeiras escolas médicas viram de
forma implicita a necessidade da intervenção dos médicos nos processos judiciais em
particular no Decreto Innocenzo III (1209) e Decreto Greorio IX (1234).
A Medicina Legal, tal como é concebida actualmente, aparece no Século XVI, quando se
requer nos Códigos de maneira explícita a intervenção pericial do médico nos processos
jurídicos ou judiciais.
Citando Ambroise Paré “Os Juízes julgam pelo que se lhes diz”.
5- Categoria Cientifica:
A Medicina Legal e Seguros utiliza as técnicas e procedimentos científicos mais
actualizados para a resolução dos quesitos que são colocados pela Justiça.
Técnicas e métodos de outras Ciências tais como: Química, Física, Anatomia, Histologia,
Fisiologia, Clínica e outras Ciências a fins, que desenvolveram elas próprias metodologias
e procedimentos especiais que são utilizadas de forma rigorosa, selectiva pela Medicina
Legal e Seguros de modo a responder a qualquer género de solicitude, conferindo deste
modo à Medicina Legal e Seguros uma fisionomia própria e especial.

6- Repercussão económica:
É evidente a transcendência económica da Medicina Legal e Seguros, pelas repercussões
que têm os Laudos Periciais em qualquer Ramo de Direito.
Esta repercussão económica é manifesta nas Perícias Médico Legais na área Penal
(valorização do dano ou lesão corporal resultante de um crime de ofensas corporais,
homicídio, de um acidente de viação ou de outro meio de transporte, etc); na área Cível
(acidentes de viação ou de outro meio de transporte, testamento, anulação de contratos por
incapacidade, etc); na área Laboral (valorização dos danos ou lesões resultantes de um
acidente de trabalho, doença profissional, etc).
Citando Furtado Galvão “O Perito não deve ser nem pelo Auctor, nem pelo Reo; deve
collocar-se entre a accusação e a defeza: applica a Sciencia, cujo misnistro é; e diz a
verdade toda, com lisura e imparcialidade. ”
III- HISTÓRIA DA MEDICINA LEGAL (E SEGUROS):

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A Medicina Legal teve ao longo da história várias interpretações e modificações quer do
ponto de vista concepcional e do ponto de vista filosófico e académico.
Evidentemente na prática, a Medicina Legal e Seguros é uma especialidade com conteúdo
amplamente evolutivo e revolucionário, segundo as necessidades e as diferentes evoluções
socioculturais, antropológicas e científicas que em cada época foram colocados as
Ordenações Jurídico-Sociais em relação à Medicina.
A Medicina Legal como Ciência só atinge uma certa maturidade na época do
Renascimento, apesar disso é possível distinguir vários períodos da sua evolução.

1- FACTOS ISOLADOS DAS PRIMEIRAS CULTURAS DIFERENCIADAS:


Nas Culturas mais antigas já era possível encontrar alguns aspectos de relevância médico-
legal, que foram factos que comprovavam a participação dos médicos em processos
judiciais, apesar dos antigos não conhecerem a Medicina Legal no sentido mais específico
e mais moderno como Ciência.
Mesopotâmia:
Nas culturas mesopotâmicas, na Babilónia já existiam normas sobre delitos ou lesões
corporais; sobre aborto, violência carnal, etc., que para sua resolução eram necessários
conhecimentos médico legais.
Esta relação entre o Direito e Medicina é nos dada pelo Código Hammurabi (que é o mais
velho documento legislativo oficial do mundo), datado do século XVIII A.C., em que vem
descrito temas relacionado com o Direito Médico, destacando-se os relativos aos
honorários médicos e responsabilidade profissional.
Este código fazia menção as indemnizações resultantes de lesões corporais, facto que
marcou profundamente vários textos legais de épocas sucessivas, e também mencionava
algumas enfermidades que impediam a compra e venda dos escravos tal como a epilepsia.
Outras Civilizações:
Os dados de maior relevância da civilização egípcia é nos dada pelas técnicas de
conservação dos cadáveres - embalsamentos, cujo finalidade era meramente religiosa e não
médica; o uso dessas técnicas de conservação dos cadáveres pré-supunha conhecimentos
tanatológicos.
O património da cultura hebraica destacam-se aspectos relacionados com a “descrição
dos costumes e obrigações relacionados com a actividade sexual”, das causas médicas da
nulidade do matrimónio e do divórcio.
Da civilização chinesa o facto mais importante é nos dado pelo Texto tipicamente Médico
Legal Si-yuan-lu escrito em meados do século XIII por Song Ts’eu, em que vem
referenciados aspectos da Reparação ou Indemnizações das Injustiças.
Na civilização hindu existem escritos relacionados com a valorização das lesões, da qual
dependiam o castigo que iria sofrer o autor do delito; destacando-se as amputações que
faziam parte das penas previstas na legislação e permitia também identificar os criminosos.

2- CULTURA CLÁSSICA:

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Da Cultura Grega destacam-se os aspectos Deontológicos e Éticos no exercício da
actividade médica, que ainda se mantêm até os dias de hoje, tal como o Juramento de
Hipocrates.
Há também referências da toxicologia - dos venenos, escrita por Nicandro de Colofón no
século II A. C.; descrição dos primeiros sinais de morte feitos por Hipócrates.
Da Civilização Romana, no período compreendido entre os séculos IX ao século XIV,
várias escolas médicas, viram a necessidade da intervenção do médico nos processos
judiciais, em particular os Decretos de Inocenzo III (decreto canónico de1209) inicia a
actividade pericial dos profissionais de medicina que eram convidados a visitar os feridos
que estavam à disposição dos tribunais; e o do Gregorio IX (1234) em Decretales, sob o
título Peritorium indicio medicorum, em que era indispensável a opinião do médico em
casos de morte violenta; e sob o título De probatione que criava condições para a nulidade
de casamento se se provasse a não consumação da conjunção carnal na mulher; e várias
outras legislações referentes a reparação dos danos tais como: Lex Cornelia de injuris; Lex
Aquilia; e a que restringia o uso de venenos Lex Cornelia de sicariis et veneficiis.
3- ÉPOCA MEDIAVAL:
Na Idade Média surgem as primeiras intervenções médicas na Administração da Justiça,
e a influência dos conhecimentos médicos na redacção das Leis, que é manifesta por
exemplo no Código de Justiniano; El Digesto e Os Capitulares, que ditavam normas
positivas para determinação da vitalidade fetal exigindo a presença de três matronas que
comprovavam a gravidez; se ordenava a descrição dos ferimentos nos cadáveres.
Contudo a perícia médico legal de um modo geral não estava previsto taxativamente.
Este período é caracterizado por interesses e/ou repercussões legais da Medicina,
particularmente na área do Direito. Destacam-se vários textos legais em diversos países da
Europa tais como Itália, França, Espanha, Inglaterra, Alemanha, etc; em que os temas
referenciados abordavam :
- Estudo das lesões, sobretudo as penas a serem aplicadas e respectivo ressarcimento;
mecanismos de produção de certas lesões traumáticas como forma de punição por
exemplo açoites e amputações; nalgumas havia referência das taxas especificando todo o
género de lesões.
- Aspectos da Sexologia/Obstetríca Forense, particularmente as Violações e Aborto; penas
ou castigos nos casos de alterações da conduta sexual.
- Psiquiatria Forense, princípios de Imputabilidade.
- Critérios médicos em questões processuais: veracidade de uma confissão “Juízo dos
Deuses, Juízo da água quente”.
Foi no final desta época em que se autorizou o estudo do cadáver, que tinha na altura um
interesse anatómico, e, não o estudo minucioso das causas de morte.

4-ÉPOCA DO RENASCIMENTO:
A Época do Renascimento que corresponde para as Ciências e Medicina o século XVI,
encontramos nos Livros de Medicina uma intenção clara e inequívoca da especialidade
Médico Legal, sobretudo nas obras de Cirurgia, quando faziam distinção das lesões mortais e
não mortais nos casos de morte violenta; sendo na altura o cirurgião chamado pelo Juiz para
aclarar este tipo de lesões.
Neste período entre 1453 à 1600, houve o primeiro contacto real entre a Medicina e as
disposições legais, surgindo deste modo a função Médico Forense, cujo primeiro
29
Regulamento data de 1507 com a promulgação do Código de Bamberg (obrigatoriedade da
opinião médica nos casos de homicídio; responsabilidade profissional; infanticídio e exames
médico-legais dos cadáveres nos casos de suspeita de morte violenta.
Contudo a máxima transcedência corresponde ao Constitutio Criminalis de Carolina -
primeiro marco histórico de Medicina Legal - votada em 1532 por Dieta de Ratisbone ao Rei
Carlos V de Alemanha e I de Espanha que passou a vigorar em quase toda Europa.
Neste texto se fixava os elementos essenciais da comprovação do delito, estabelecendo
taxativamente a intervenção dos médicos, cirurgiões e matronas dependendo dos casos nos
processos por lesões corporais, homicídios, suicídios, doenças mentais, partos provocados ou
clandestinos, abortos, infanticídio, envenenamento, erros profissionais dos médicos, etc.
Nesta época se destacam Ambrósio Paré, que foi o impulsionador da cirurgia europeia, as
suas obras abordavam aspectos da Traumatologia, Sexologia Médico Legal e da área de
Tanatologia - Des rapports et des moyans d’embaumer les corps morts, Paris 1575; e Juan
Fragoso (espanhol), autor de um dos primeiros textos médico-legais - Tratado das declarações
que os cirurgiões devem fazer em relação as diversas enfermidades e formas de morte
violenta, 1581.
Existindo já a função pericial, começaram a surgir e a se desenvolver textos da área Médico
Legal, iniciando-se deste modo nesta época a notabilização dos médico-legistas que com as
suas obras davam corpo a está ciência.
Destacam-se Paolo Zacchia (1584-1659), que é autor do Texto mais famoso da história da
especialidade “Quaestiones medico-legales, in quibus omnes eae materiae medicae, quae ad
legales facultates videntur pertinere, proponuntur, pertractantur, resolvontur. Opus ipsis
jurisperitis apprime necessarium, medicis perutile, caeteris non injucudum - Roma 1621-
1635. P. Zacchia não representou um facto isolado na evolução da Medicina Legal, outros
autores tais como Rodrigo de Castro; Gaspar Bauhim; J.G. Zuller, Gottfried Welsch, etc.

5- RECONHECIMENTO DA ESPECIALIDADE:
Nos finais do século XVIII os temas da área médico forense era ensinado tanto aos médicos
como aos cirurgiões, que na altura eram duas profissões separadas, e um tanto a quanto
polémicas, surgindo desta forma a Medicina Legal e a Cirurgia Forense; que tiveram
evoluções diferentes, e se constituíram com temas concretos de ensino em função das escolas.
A primeira Cátreda Oficial segundo dados históricos ocorreu em Nápoles na Itália em 1789,
sob responsabilidade de Ronchi.
Em França - Paris é estabelecido o primeiro Curso de Medicina Legal em 1794.
Nesta época se destacaram François Fodré, Mahon e Royer Collard, mais tarde Mateo Orfila
(1787-1853) grande impulsionador da Toxicologia Forense, foi o decano da Faculdade de
Paris durante 17 anos.
Outros autores tais como Pinel e Esquirol (estudaram as doenças mentais); na Grã Bretanha
destacou-se Robert Chrisison e James Marsh (1836) na área de Toxicologia Forense; na
Alemanha as obras de Mende, Göttingen, etc.
Nesta época surgiram as primeiras Revistas de Medicina Legal, na Alemanha em 1821
editada por Henke e Professor Erlanen; a Revista Annales d’Hygiéne Publique et Médecine
Légale em 1829 promovida por Orfila e Tardieu, etc.
A influência de Orfila (decano da Faculdade de Paris) foi de relevante importância para a
afirmação da Medicina em geral e da Medicina Legal em particular, pelo impacto social e
cientifico que naquela época em Paris, pois era um dos Peritos mais solicitados.
Além dele, surgiram em Paris professores e autores de primeira linha, tais como Alphonse
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Devergie, Ambroise Tardieu, Paul Brouardel; na Escola de Lyon - Alexandre Lacassagne
(1834-1924); no inicio deste século Vibert, Thoinot e Balthazard.
Noutros países destacaram-se vários Professores e autores, da Escola Alemã Maschka
(Professor em Praga) e outros; da Escola Inglesa Alfred S. Taylor; nos Estados Unidos Stille e
Wharton; Escola Italiana Giorgio Canuto, Sérgio Tuvo, Cesare Lombroso, etc.
Na época actual distinguimos dentro da Medicina Legal e Seguros duas partes bem distintas:
Medicina Forense que utiliza os conhecimentos da Ciência Médica e de outras Ciências
Auxiliares para o Exame ou Estudo das questões/quesitos de base médico-biológico que são
colocadas pelas Autoridades Competentes, isto é, a actividade pericial diária e a respectiva
técnica.
 Medicina Judiciária ou Conselho Superior de Medicina Legal, é constituido por
Professores das diferentes especialidades médicas, estudam os problemas gerais do
ponto de vista Ético e Deontológico relacionado com a prática de medicina, elaboram
o material médico-biológico dos últimos avanços cientificos, estudam e comparam
com as leis em vigor,e através de pareceres técnico-cientifico, criticam e aconselham
as Autoridades ou Instituições Competentes o aperfeiçoamento e criação de novas
leis.

Perícia Médico Legal também chamada de Acto Pericial Médico são todas aquelas
actuações periciais médicas mediante a qual se assesoria a Administração da Justiça em
relação a um determinado quesito de natureza médico-biológico.
Isto é, Perícia Médico Legal é um conjunto de procedimentos médicos e paramédicos que
tem como finalidade o esclarecimento de um facto de interesse da Justiça; pode ser efectuada
em qualquer ramo de Direito (Penal, Cível, Laboral, etc), no ser vivo, no cadáver, em
objectos e em animais.
As perícias médico-legais estão disciplinadas na legislação em vigor, vêm dispersos em
diferentes leis, normas e regulamentos.
As perícias médico-legais são realizadas nas Instituições Médico Legais, nas Instituições de
Saúde por Peritos e Técnicos de Saúde.
A finalidade da perícia médico legal é produzir a prova, e a prova não é outra coisa senão
um
elemento demonstrativo de um facto.

Perito é qualquer pessoa qualificada ou experiente em certos assuntos a quem é incumbido a


tarefa de esclarecer um facto de interesse da Justiça, quando solicitado para tal.
O ideal para as perícias médico-legais seria o concurso de um médico legista ou um perito
oficial, entretanto pode ser recrutado qualquer Técnico de Saúde de qualquer especialidade ou
simplesmente um profissional com certa experiência na matéria ou com um diploma
relacionado com a natureza da perícia.

6- DOCUMENTOS MÉDICO-LEGAIS:
 Documento é uma declaração escrita, oficialmente reconhecida, que serve de prova de
um estado, facto ou acontecimento, isto é, todo o instrumento que tem a faculdade de
reproduzir e representar uma manifestação de pensamento.
Do ponto de vista médico-legal representam manifestações públicas ou privadas, que tem um
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caracter representativo de um facto a ser avaliado em juízo.
Os documentos de interesse da Justiça são: notificações, os atestados, os relatórios e os
pareceres.
Além desses, os esclarecimentos não escritos durante uma audiência nos tribunais –
depoimentos ou declarações orais.

Notificações: são comunicações compulsórias feitas pelos médicos ou técnicos de saúde às


autoridades competentes de um facto profissional, por necessidade social, de saúde pública ou
juridico-legal, tais como: acidentes de trabalho, doenças profissionais, doenças infecto-
contagiosas, uso habitual ou não de substâncias psicotrópicas lícitas sob controle, se o médico
ou técnico de saúde tomou conhecimento de um crime público práticado ou com conivência
do seu paciente, não pretendendo que este se exponha a um procedimento criminal.
Atestados: documento assinado sob responsabilidade, pelo qual se certifica, se atesta alguma
coisa. É elaborado ou escrito pelo médico ou técnico de saúde, deve ter como fim provar um
estado mórbido real, presente ou anterior, para fins de licença, dispensa, justificativo e um
estado de saúde.
Os atestados são classificados em:
 Oficioso: serve como prova ou justificativo por ausências no local de trabalho ou
serviço, etc.. Por exemplo Atestado de Doença.
 Administrativo: serve geralmente para Administração Pública, para efeitos de licença,
reforma ou justificativo de faltas.
 Judiciário: de interesse da Administratação da Justiça, requisitado pelo Juiz.

Relatórios: relatório médico-legal é a exposição escrita e minuciosa de uma perícia médico-


biológica a fim de responder à solicitação da autoridade policial ou judicial, de uma entidade
pública ou privada.
 Laudo é um relatório realizado pelo perito após investigações, contando para isso com
ajuda de outros recursos ou consultas a tratados especializados, geralmente efectuado
nas Instituições Médico Legais sem a presença das autoridades competentes.
 Auto é um relatório ou exame realizado pelo perito quando dita directamente a um
escrivão diante das autoridades competentes que solicitaram a perícia.

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III- TANATOLOGIA MÉDICO LEGAL
1- INTRODUÇÃO:
Tanatologia provem da expressão grega thanatos, que significa morte.
Tanatologia Médico Legal é o capitulo da Medicina Legal que estuda todos os aspectos
biológicos relacionados com a morte e as suas repercussões na esfera do Direito.
As questões referentes a Tanatologia têm interesse Médico Legal, porque com a morte, cessa
o trabalho médico a não ser a confirmação anatomopatológica do diagnóstico clínico e
cumprimento das normas higiénico-sanitárias preventivas.
A morte do homem como destino final, transcende a um mero processo biológico, visto que
ela têm repercussões antropológicas, morais, filosóficas, sociais, jurídicas e politicas, que
torna quase que impossível que nos sintamos numa situação de neutralidade ou indiferença
perante ela.
Citando António Machado “ a morte é uma situação em que se sente mais do que se pensa”.
Não existe cultura ou sociedade, que esteja insenta de enfrentar este fenómeno - a morte,
visto que ela está rodeada e integrada num sistema de crenças e de outras manifestações
socioculturais, antropológicas, religiosas, politicas e juridico-legais que tem como objectivo
ou finalidade de ajudar o homem e a sociedade a enfrentar o seu destino final.
A resposta social, moral, religiosa e politico-economica perante a morte varia segundo a
cultura, sociedade, momento histórico, existindo diferenças numa mesma cultura e sociedade,
e, coexistem no mesmo espaço de tempo e contexto socio-cultural e socio-politco várias
modalidades de resposta.
A morte é considerada sob um perfil legal, porque com ela termina a existência jurídica da
pessoa, segundo o artigo 68º do Código Civil -Termo da Personalidade, e ocorrem mudanças
relativas aos bens, propriedades, obrigações, comprimissos de responsabilidade penal ou
civil, etc.
É por isso fundamental certificar na realidade o exitus ou a morte, a fim de se fixar com maior
precisão possível o tempo/data em que ela ocorreu.
Seguem-se depois outros problemas Médico Legais de grande importância, como determinar
o tipo de morte, a causa básica de morte, a causa jurídica de morte, em que circunstâncias
ocorreu a morte, agente ou instrumento ou ainda o meio empregue, identificação do cadáver,
data da morte, outras de maior ou menor significado dependendo dos quesitos colocados
pelas autoridades judiciais ou policiais, como por exemplo estabelecer se a morte foi rápida
ou lenta; se o indivíduo morreu no local em que foi encontrado o cadáver ou se o corpo foi
antes removido ou transportado; enfim se há alterações que eventualmente mostram que elas
foram a causa das lesões ou processos mórbidos ocorridos em vida; ou se elas foram
produzidas sobre o cadáver; diagnóstico dos fenómenos tanatológicos, etc.

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2- EUTANÁSIA E DISTANÁSIA:
Eutanásia:
Entimológicamente, a palavra eutanásia deriva da expressão grega “eu = bom; thanatos =
morte”, literalmente significa boa morte.
Com base no esquema de Santidrián, ao longo da história está expressão teve várias
interpretações e conceitos.
Na época Grego-Romana a eutanásia significava ou era interpretada como sendo o facto de
morrer bem ou morrer sem dor, praticava-se todo tipo e género de cerimónias culturais e
rezas a fim de aliviar a agonia e sofrimento do paciente,não havendo referência de qualquer
tipo de ajuda ou acto para acelerar a morte.
Na época Medieval e inicio do Renascimento, por influência da doutrina Cristã, a expressão
eutanásia era interpretada e empregue como um acto cerimonioso ascético-religioso.
Durante o período do Renascimento surge o conceito propriamente dito ou médico da
expressão eutanásia, e muitos textos fazem referência que foi Francês Bacon o autor da obra
Novum Organum (1620) que criou este conceito.
Entretanto esta expressão e conceito de eutanásia é melhor retractada nas obras de Tomás
Moro in Utopia e Diálogo del Consuelo, em que o autor centra o debate da problemática da
eutanásia em questões ligados com a Medicina e Moral.
Nos séculos XIX e XX a expressão Eutanásia foi usada de forma bastante diversificada, e, é-
lhe acoplado conteúdos e conceitos Médicos, Jurídicos, Morais, Éticos e Sociais.
Desde então, até os dias de hoje, têm-se utilizado esta expressão “eutanásia” de forma
bastante ambígua como se fosse sinónimo de eutanásia activa; há contudo a salientar que à
nível mundial se assiste um debate bastante acesso em relação a prática ou não da Eutanásia,
sendo ainda esta prática tabu na grande maioria dos países, apesar de alguns, nomeadamente
a Suécia, Dinamarca e outros países nórdicos, Colómbia, China, admitirem implicitamente a
sua prática.
A Austrália foi o primeiro país do mundo a legalizar a prática no Estado do Norte em 1996,
entretanto essa lei foi revogada a nível federal e, na Holanda há perspectivas da legalização
efectiva com inclusão no Código Penal, apesar desta prática estar discriminalizada desde
1994.
Classicamente distingue-se duas formas- Eutanásia Passiva e a Eutanásia Activa; e, é fácil
fazermos a delimitação conceitual entre ambas formas do ponto de vista académico e
filosófico, todavia esta delimitação na prática real e clínica pode ser difícil de se efectuar em
alguns casos.
Eutanásia que significa literalmente “boa morte”, e muitas das vezes chamada de “direito a
morrer com dignidade” ou termos equivalentes, expressão coloquial e académica não exclue
em absoluto nenhuma actuação médica directa sobre a vida do paciente, sendo por isso

34
fundamental definir com maior precisão possível o seu conceito e conteúdo na altura em que
se utiliza ou se prática tal acto.

Eutanásia Passiva e/ou chamada também de Eutanásia por Omissão: nesta forma ou tipo
de Eutanásia não há uma actuação ou intervenção directa do médico ou técnico de saúde para
acelerar a morte ou encutar a vida do paciente.
 Eutanásia Passiva é uma forma em que se deixa o processo mórbido evoluir
naturalmente, isto é, o médico ou técnico de saúde não aplica ou utiliza medidas
terapêuticas com vista a acelerar o exitus ou a morte do paciente, prescreve ou
administra um tratamento paliativo com vista a aliviar o sofrimento do paciente, as
infecções intercorrentes, etc.
Muitas das vezes dependendo da condição clínica do paciente é-lhe recomendado que
o tratamento seja domiciliário.
Esta forma de Eutanásia é aceite pela maioria dos Códigos de Ética e Deontologia
Médica, isto é, um acto lícito eticamente quando as circunstâncias o permitem, sendo
importante na maioria dos casos necessário o consentimento informado e a permissão
do paciente ou familiares, de acordo com Direito Médico moderno, e não viola a Carta
Universal dos Direitos Humanos.

 Eutanásia (passiva) por Omissão – Omissão é uma expressão que provem do latim
õnis, isto é, acção ou resultado de omitir, facto de não fazer.
Do ponto de vista jurídico-legal sub-entende-se como sendo por imperícia ou acto
culposo ou ainda por negligência.
Consideramos que do ponto de vista médico-legal estamos perante esta forma de
Eutanásia quando o médico ou técnico de saúde na maioria dos países
subdesenvolvidos, devido a escassez de meios opta por direccionar o tratamento ou
actuação terapêutica para um paciente em detrimento do outro na mesma condição
clínica, tendo como base de opção principalmente critérios clínicos e eventualmente
outros tais como a “idade?”, etc, por exemplo para a opção de quem deve ficar com
aparelho de respiração assistida. O
médico ou técnico de saúde deixa o processo mórbido evoluir ou seguir o seu curso
naturalmente, fazendo o tratamento paleativo ao paciente a quem lhe foi obstado a
medida ou meio terapeútico.
Este tipo de Eutanásia é um acto éticamente lícito em termos de Direito Médico
moderno, não ferindo deste modo a Carta Universal dos Dieritos Humanos do ponto
de vista moral e ético, sendo portanto, um acto aceite de acordo com as normas de
conduta ética e moral que nortea o exercício da actividade médica.

Eutanásia Activa: nesta forma de Eutanásia há uma actuação ou intervenção directa do


médico ou técnico de saúde com finalidade de encurtar a vida ou acelerar a morte do paciente.
Existem três formas:
 Eutanásia Activa Directa: é quando o médico ou técnico de saúde, com prévio
consentimento conscientemente manifesto por escrito do paciente que padece de uma
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doença incurável com sofrimento físico, psiquico e psicológico, prescreve ou
administra uma droga com a intenção de acelerar o exitus ou a morte deste.
Em Direito Médico moderno, nos países em que esta prática vem explicita na Lei ou
descriminalizada é considerado como sendo um acto de “ direito a morrer com
dignidade”, existindo porém nesses países critérios clínicos e procedimentos juridico-
administrativos bem estabelecidos e definidos para sua prática, tais como de doença
incurável com sofrimento físico, psíquico e psicológico, que o paciente esteja em
plena posse das suas faculdades - consciente, etc, havendo porém excepções por
exemplo para doentes menores.
Achamos também que esta forma de Eutanásia não fere nestes países a Carta
Universal dos Direitos Humanos, apesar de a vida ser o bem jurídico mais valioso e
sagrado, inegociável, o paciente consciente têm o direito de solicitar o fim da sua
existência jurídica quando está numa situação clínica bem diagnósticada e definida,
isto é, quando padece de uma doença incurável com sofrimento físico, psíquico e
psicológico. Deve-
se salientar no entanto que na maioria dos países em que ainda prevalece os Códigos
de Ética e Deontologia Médica hipocatriana ou conservadora este acto é considerado
eticamente ílicito. Na nossa
legislação o médico ou técnico de sáude que prescreve ou administra o medicamento
ou droga pode ser punido por um crime de auxilio ao suicídio Art. 354 do Código
Penal ou ainda um crime de homicídio Art.349 e seguintes do Código Penal além de
ser passível de sofrer ou responder a outras implicações juridico-legais e
administrativas.

 Eutanásia Activa Directa por Compaixão estamos perante esta forma quando o
médico ou técnico de saúde decide unilateralmente e intencionalmente por termo a
vida paciente, sem o seu consentimento.
A motivação ou argumentação do médico ou técnico de saúde para a prática desta
forma de eutanásia,isto é, a aceleração do existus ou da morte do seu paciente é de
piedade ou compaixão que ele sente devido ao sofrimento insuportável resultante de
uma doença incurável.
Esta forma de Eutanásia não é e não deve ser permitido por nenhum Código de Ética
e de Deontológia Médica, constitue uma violação gravissima da Carta Universal dos
Direitos Humanos, e com base na legislação em vigor o médico ou técnico de saúde
pode ser punido por um crime de homicídio qualificado segundo art. 349 e seguintes
do Código Penal além de outras implicações juridico-legais e administrativas.

 Eutanásia Activa Indirecta – estamos perante esta forma de eutanásia quando não
existe uma acção deliberada ou intencional do médico ou técnico de saúde de acelerar
o exitus ou a morte, isto é, de por termo a vida do paciente.
O médico ou técnico de saúde predente aliviar o sofrimento, tratar a patologia de que
o paciente padece, indicando uma conduta terapêutica e/ou prescrevendo a
medicação correcta e adequada, contudo, devido os riscos da conduta terapêutica e/ou
efeitos secundários conhecidos da droga prescrita, esta pode levar a aceleração do
exitus produzindo a morte deste. As
considerações médicio-legais que deveremos efectuar nestes casos de
responsabilidade médica, de acordo com o Direito Médico moderno, é que o médico
ou técnico de saúde deve informar o paciente do seu estado – diagnóstico da doença,
36
que contuda terapêutica ou prescrição medicamentosa se propõe a indicar-lhe,
devendo informa-lhe os riscos e/ou efeitos secundários que tal conduta ou medicação
acarreta, e quais são as outras possiveis opções.
O paciente ou seu representante legal deve afirmar e firmar conscientemente de que
percebeu ou entendeu qual é patologia que padece, que percebeu e aceita
voluntariamente a prescrição ou conduta terapêutica indicada, que percebeu quais são
os riscos que incorre decorrente da administração da droga, isto é, quais são os efeitos
secundários da droga ou riscos da conduta terapêutica indicada.
Nestes casos estamos perante uma situação de duplo efeito, que é justificável
éticamente e é um acto lícito, não viola a Carta Universal dos Direitos Humanos nem
os Códigos de Ética e Deontologia Médica, devendo para tal ser compridos os
preceitos acima referenciados, e avaliação deve ser caso por caso.

Distanásia ou Encarnização Terapêutica: é uma expressão oposta a eutanásia, que engloba


todas as actuações terapêuticas com vista a manter com vida um paciente em estado de
agonia, contra provável esperança de possível recuperação, “ prolongando deste modo um
sofrimento sem sentido”. É
acto condenável eticamente pelos os seguidores dos Códigos de Ética e Deontologia Médica
conservadora hipocratiana, visto que, o beneficio que um paciente tem, no sentido mais
amplo da expressão e que constitui o apanágio do exercício da medicina, é de o médico
ajudar com os seus conhecimentos científicos e a sua arte manter com dignidade um paciente
em estado de agonia.
Em termos de Direito Médico Moderno e segundo a carta Universal dos Direitos Humanos,
achamos que é um acto lícito, visto que, se um paciente consciente decide que tem o direito
de por termo a sua vida porque padece de uma doença incurável com sofrimento físico,
psíquico e psicológico, de acordo com a lei nos países em que está prática vem explicita ou
descriminalizado, seguindo todo o processo normal de tramitação para que a Eutanásia
Activa com Consentimento se efectue, isto quer dizer que, é também éticamente lícito que um
paciente consciente, com conhecimento prévio da sua patologia e num estado de agonia
terminal tem o direito de prolongar a sua vida, “prolongando deste modo o seu sofrimento”
desde que haja condições clínicas e terapêuticas para tal.

3- DIAGNÓSTICO E DEFINIÇÃO DE MORTE:


A primeira definição clássica dos sinais de morte foi feita por Hipócrates (500 A.C.) na sua
obra De Morbis (2 Livro, Secção 5), onde descreve as alterações que a face sofre no período
imediato póst mortem - a chamada “ fácies hipocrática devido a rigidez dos músculos da
face em particular o rissório de Santorino.
Para que a vida se mantenha é necessário que todo o complexo de fenómenos biológicos
estejam em constante equilíbrio, e a morte é um processo, que depende da intensidade e
qualidade da agressão que a desencadeia, terá uma duração variável, é constituída por uma
sucessão evolutiva de fases de desestruturação progressiva do funcionamento integrado do
organismo como unidade biológica.
Bichat definiu : “ a morte como um processo cronológico que conduz a uma catástrofe
fisiológica”, isto é, definido no sentido mais lacto de forma negativa como sendo a cessação
definitiva das funções vitais.

37
Na prática é necessário a cessação de três funções para o diagnóstico de morte: função
nervosa; função cardiocirculatória e função respiratória – é chamada a Tríade de Bichat.
A causa de morte é um dos factores fundamentais muitas das vezes para o diagnóstico da
morte.

O diagnótico de morte de um individúo, teve desde que o homem têm vida social organizada
implicações e impacto socio-antropológico, cultural, moral, ético, religioso, económico,
médico e jurídico, criando desde sempre não só nos profissionais de saúde, como também na
sociedade em geral o temor e fantasia de possivel erro de diagnóstico de morte, que levaria
eventualmente a iumações prematuras de corpos.
Estes factos tiveram maior transcendência durante as grandes epidemias ocorridas nos séculos
passados, em que havia um grande número de pacientes provocando deste modo prováveis
erros de diagnótico de morte, levando a enterros colectivos sem que se esperasse o
surgimento dos sinais cadavéricos bem estabelecidos, por imperativos de saúde pública.
A pressão social de prováveis erros de diagnóstico de morte, associado as fantasias de
inumações pré-maturas, exigiram na altura respostas fiáveis e correctas para o diagnóstico da
morte, estimulando e premiando trabalhos de investigação cientifica para o estudo dos sinais
de morte. O
primeiro trabalho sobre inumações pré-maturas foi de Bruhier (1742) “Les incertitudes des
singes de la mort et l’abus des enterrements et des embaumement précités - recolha de 189
casos”.
Surgiram também em vários países medidas tendentes a solucionar este problema de
inumações pré-maturas, eis que na Alemanha e Itália foram criadas as primeiras câmaras ou
casas mortuárias em 1793, onde os corpos dos presumíveis mortos permaneciam atados a
uma corda na mão conectado a uma campainha, até que surgissem os primeiros sinais de
putrefacção, que são sinais inequívocos de morte.
A Académia de França decidiu em 1837 premiar trabalhos consagrados a Tanatologia, tendo
Bouchut com a sua obra “Traité des signes de la mort et des moyens de prevenir les
enterrement prématures” ganho o prémio em 1849.
Actualmente, os prazos exigidos na maioria das legislações é de 24 horas no mínimo para se
efectuar a inumação ou outro destino do cadáver por exemplo a cremação após declaração de
óbito, salvo raras excepções claramente evocadas.
Referem-se a este período de espera e às excepções os artigos 255º e 256º do Código do
Registo Civil, de 5 de Maio de 1967 (Decreto-Lei n.o 47678) e o &1º do artigo 15º do
Regulamento dos Serviços Médico-Legais.
Também o n.o 5º do artigo 4º do Decreto-Lei n.o 32171, de 29 de Julho de 1942, prevê “ a
necessidade de enterramento urgente e antes do prazo legal em caso de epidemia ou moléstia
contagiosa que assim o exija ou de outra qualquer circunstância que interessa à saúde
pública.”
Terminologia Tanatológica ou diferentes Tipos de Morte:
É uma abordagem filosófica e académica dos diferentes tipos de morte do ponto de vista

38
médico-legal em termos de conceito e definição, não correspondendo nalguns casos com os
conceitos clínicos de morte.
Morte Real: ocorre quando há uma cessação definitiva das funções vitais do paciente ou da
vítima, isto é, cessação da função nervosa, função cardiaca e da função respiratória.
Morte aparente: ocorre quando o paciente ou vítima encontra-se num grave estado de
choque, tipo hipovolémico por exemplo ou de outro género, as funções vitais estão presentes
só que bastante diminuídas e de difícil percepção, devido ao quadro sindrómico.
O paciente ou vítima aparenta estar morto.
Morte Clínica: ocorre quando o paciente ou vítima tem a cessação de uma das funções vitais,
por exemplo a cardiaca - paragem cardiaca, mas que devido as manobras terapêuticas de
ressuscitação ela volta a funcionar.
Neste tipo ou género a morte é reverssível.
Morte Biológica: ocorre quando o paciente ou vítima tem a cessação de uma das funções
vitais associado a extensas e graves lesões do órgão em causa, por exemplo, a cardiaca -
paragem cardiaca com extensa área de infarto do miocardio, ferida corto-perfurante do
miocardio com tamponamento cardiaco, etc.
Nestes casos devido a gravidade da lesão a morte é irreversível, o paciente ou vítima pode
manter-se vivo graças ao meios tecnológicos como por exemplo aparelho de circulação extra-
corporea, entretanto só sobreviverá se for feito o transplante do coração.
Morte Lenta ou Agónica: ocorre quando a morte ou a cessação definitiva das funções vitais é
precedida por um periodo mais ou menos longo de agonia.
Importância Médico Legal:
 Quando o paciente ou vítima decidir fazer valer os seus direitos tais como - alterar
testamento, reconhecer filhos, doar bens, etc. durante o periodo de agonia.
Neste caso o problema médico-legal surge quando um familiar contestar a
alteração/doação de bens, etc., alegando que o paciente ou a vítima no momento em
que fez valer os seus direitos não estava em plena posse das suas faculdades mentais,
estava privado do uso da razão ou dos sentidos, com uma pertubação mental aguda,
isto é, com transtorno mental transitório, devido a doença em estadio terminal ou
agónico. A
discussão médico-legal deve ser direccionada no sentido de se provar que o paciente
ou vítima ao fazer valer o seu direito estava consciente, em plena posse das suas
faculdades mentais, sem nenhuma perturbação ou transtorno mental agudo ou
transitório, e a prova deste facto, é a Notificação ou Atestado de um ou mais médicos
ou técnicos de saúde que assistiram o paciente/vítima e acompanharam o evoluir da
doença, até o existus ou a morte.
Na Notificação e/ou Atestado consta que o paciente/vítima estava consciente, em
plena posse das suas faculdades mentais sem nenhuma perturbação ou transtorno
mental agudo ou transitório no momento em que assinou com seu próprio punho as
alterações do testamento, doação de bens, etc.

 Nos casos em que quando um dos quesitos colocados pelas Autoridades Judiciais ou
Policiais ao Perito Médico Legista for o de determinar o tempo de sobrevida da vítima
após o trauma/lesão, nas mais diversas situações como por exemplo após um acidente

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de viação, para se determinar se o condutor omitiu ou não o socorro imediato da
vítima transportando-o logo para o hospital.
Os sinais anatomo-patológicos achados na autópsia determinarão quanto tempo de
sobrevida teve a vítima.

Morte Rápida ou Imediata: ocorre quando a morte ou a cessação das funções vitais não é
precidita por um periodo de agonia.
Esta situação acontece quando há lesão grave de uma função vital, por exemplo infarto
fulminante do coração, lesão dos centros nervosos superiores póst trauma, etc.
Morte Natural: é a morte ou cessação das funções vitais provocada por uma doença ou
enfermidade, ou ainda devido a idade avançada.
Morte Violenta: é a morte ou cessação das funções vitais provocada por causas externas.
Compreende os feticídios (abortos provocados), infanticídios, homicídios, suicídios e
acidentes.

Morte Súbita: é morte ou a cessação das funções vitais que ocorre num indivíduo
aparentemente são num curto período ou espaço de tempo.
Frequentemente nestes casos a causa básica de morte é natural e variam segundo a idade,
sexo e raça. As
causas básicas de morte mais frequentes registados no Serviço de Medicina Legal de Maputo
são: nos homens adultos infarto do miocardio, ruptura do aneurisma dissecante da aorta intra-
pericardica, etc. ; nas mulheres adultas ruptura de gravidez ectópica.
 Importância Médico Legal:
 Neste tipo de morte geralmente suspeita-se de um crime, a autópsia demonstra por
meio dos sinais anátomo-patológicos que a causa básica de morte é natural.

Morte Encefálica:ocorre quando há cessação definitiva da função nervosa que compremete


irreversívelmente as funções de vida de relação e a coordenação da vida vegetativa.
Houve até a data progressos e evolução do ponto de vista conceitual e tecnológico em relação
a este tipo de morte, que anteriormente era designada por Morte cerebral “ a cessação
definitiva da função nervosa só com o comprometimento das funções de vida de relação “.
Esta evolução conceitual, de critérios de diagnóstico clínico com auxilio de meios auxiliares
tecnológicos de ultima geração a disposição da comunidade cientifica, colocou novas
exigências e problemas éticos, morais e juridico-legais, de modo a se efectuar o diagnóstico
mais precoce possivel de morte, devido aos transplantes de órgãos.
4- FENOMENOS CADAVÉRICOS OU SINAIS DE MORTE:
São os sinais ou transformações que se observam no organismo após a extinção dos processos
bioquímicos vitais, que ocorrem de uma forma passiva devido a influência dos factores
ambientais.
Borri classificou estes sinais em Sinais Negativos ou Abióticos e Sinais Positivos ou
Transfomativos.
Sinais Negativos ou Abióticos: são os sinais que se observam no organismo devido a
cessação das funções vitais, sub-dividem em:

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 Sinais negativos ou abióticos imediatos: que são a perda da consciência, perda da
sensibilidade voluntária, perda da motilidade voluntária, cessação da respiração e
cessação da circulação.
 Sinais negativos ou abióticos consecutivos:que são a perda da excitabilidade neuro-
muscular, evaporação dos tecidos, esfriamento, acidificação dos tecidos e líquidos,
livor e rigidez cadavérica.
Sinais Positivos ou Transformativos: são processos novos que ocorrem no cadáver, a
autólise dos tecidos e o processo putrefactivo, isto é, um complexo de actividade bioquímica
e biológica que leva a divisão da matéria orgânica em compostos moleculares cada vez
menos complexos.

A- Sinais Negativos ou Abióticos:


1- Sinais Negativos ou Abióticos Imediatos:
Estes sinais não servem muitas das vezes para o diagnóstico de certeza da morte, em
particular
as mortes extra-hospitalares.
 Perda da consciência, perda da sensibilidade e da motilidade voluntária ocorrem
em muitas situações clínicas neuro-psiquicas, como por exemplo um simples desmaio.
Estes sinais são pesquisados na prática por meio de reflexos corneanos, reflexos
pupilares e outros sinais neurológicos por meio do martelo.
 Cessação da respiração (pesquisada antigamente pela prova do espelho diante da
boca e nariz) é difícil diagnosticar nos casos de catalepsia em que há uma morte
aparente a mobilidade toráxica é nula. O uso da radioscópia para o diagnóstico de
morte é usado excepcionalmente.
 Cessação da circulação pode ser confirmada pela auscultação cardíaca e pesquisa
dos pulsos periféricos (carotideo, radial e femoral) é muitas das vezes de difícil
percepção nos casos de morte aparente.
Na Italia os Institutos Médicina Legal introduziram uso de Electrocardiograma portátil
para a confirmação da morte extra-hospitalares, a confirmação é dada por
isoelectricidade por mais de vinte minutos.

2- Sinais Negativos ou Abióticos Consecutivos:


Estes sinais simples e mais seguros permitem o diagnóstico correcto e de certeza da morte.
 Algor Mortis ou Esfriamento cadavérico: o homem é um animal homeotermo cuja
temperatura corporal é mantida devido a um conjunto de factores exotérmicos.
Com a morte cessa no organismo o sistema de regulação que mantinha constante a
temperatura, termina também o metabolismo celular que é a fonte constante de calor
animal, este metabolismo não termina subitamente, devido a “vida residual” dos
tecidos que continua até que todo o oxigénio (O2) do sangue seja consumido.
A cessação deste fenómeno dá lugar a um progressivo esfriamento do cadáver - algor
mortis, fenómeno conhecido desde a antiguidade, e que já foi objecto de estudo e
investigação preconizado por muitos autores tais como Bouchut, Taylor, etc.
O esfriamento cadavérico ocorre de forma gradual, a temperatura vai diminuindo até
igualar-se a do meio ambiente e pode-se comparar como o que ocorre a um corpo
metálico quente quando não recebe mais calor; inicia-se nos pés, mãos e face, duas
horas após a morte extende-se depois para as extremidades, região peitoral e dorsal e,
41
finalmente para o abdómen, axilas e pescoço.
Segundo vários autores tais como Gasper, o esfriamento cadavérico ao tacto está
generalizado entre às 8 e 17 horas após a morte, em média com base na nossa
experiência em clima tropical entre às 6 e 12 horas após a morte.
Como critério geral, obedecendo a Lei do Esfriamento de Newton, a temperatura
rectal diminuí nas primeiras três horas ½ grau/hora; no segundo período entre 6 à 10
horas a temperatura diminuí 1grau/hora e no último período até igualar-se a
temperatura ambiental ¾ grau/hora à ¼ grau/hora, sempre cada vez mais lento.
Entretanto, várias observações e experiências permitiram constatar que a evolução do
esfriamento cadavérico é influenciada por muitos factores:
1- Causa básica da morte:
Doenças crónicas, hemorragias, grandes queimados, intoxicação por fósforo, arsénico
e outras causas levam a um rápido esfriamento cadavérico.
Por outro lado doenças agudas, apoplexia, insolação, asfixias mecânicas, intoxicações
por venenos convulsivantes tais como nicotina, estricnina entre outras retardam o
esfriamento. 2-
Factores individuais: tais como a idade, estatura, estado nutricional, peso, etc.,
elementos que condicionam a extensão da superfície corporal, a capacidade calorífica
e a capacidade especifica de condução calórica; sendo por está razão que os cadáveres
dos fetos se esfriam mais rapidamente de que o dos adultos, e o de indivíduos
caquécticos em relação ao dos indivíduos bem alimentados.
3- Factores ambientais: este tipo de influência está intimamente relacionado com a
curva do esfriamento cadavérico, é um elemento importante devido a dependência do
mecanismo físico da perda do calor corporal, que são a temperatura ambiente,
humidade, ventilação, etc.
Importância Médico Legal: O
esfriamento cadavérico permite : (1)-
Diagnóstico real ou certo de morte, temperaturas inferiores a 20 graus Centígrados são
consideradas incompatíveis com a vida. (2)- A
termometría pode ser útil para a cronotanatodiagnóstico.

 Desidratação cadavérica ou Evaporação:


A secura da pele e mucosas é devido ao facto de não existir mais a circulação do fluxo
de humor e a cessação da circulação sanguínea, associada a condições ambientais
externas caracterizada por elevadas temperaturas e intensa ventilação dão lugar no
organismo a evaporação dos líquidos e tecidos, ela é mais evidente nas partes
descobertas do cadáver onde a pele é mais subtil (fina) como por exemplo narinas e
escroto e nas mucosas, formando-se nódoas ou manchas apergaminhadas que se
assemelham as escoriações.
A perda de peso também pode ocorrer, varia de intensidade segundo as influências
ambientais, é muito mais apreciável em recém nascidos ou crianças de tenra idade.
Fenómenos oculares: são sinais que se observam nos olhos descritos por muitos
autores clássicos, que são:
(1)- a perda da transparência ou turvamento da córnea é a formação de uma fina
lâmina albuminosa, surge tardiamente quando o cadáver permanece com os olhos
fechados 24 horas após a morte, se o cadáver permanece com os olhos abertos surge
precocemente 45 minutos depois da morte.
(2)- Mancha esclerótica de Sommer-Larcher é uma mancha de cor preta de contornos
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mal delimitados inicialmente após a morte até adquirir uma forma oval ou
arredondada, aparece primeiro no lado externo do globo ocular e mais tarde no lado
interno. (3)- encovamento do globo ocular devido a evaporação dos líquidos
intra-oculares.

 Livor Mortis ou Lividez cadavérica ou hipostase:


Deriva da expressão grega (üpò = sob e stàsis = estáse.
Com a paragem da actividade cardíaca inicia-se um processo de contracção
progressiva desde o ventrículo esquerdo até a periféria, levando ao deslocamento da
massa sanguínea que esvazia as artérias e origina uma hiper-replecção das veias, e,
por influência da força da gravidade há um defluxo passivo do sangue e dos líquidos
corporais para as regiões ou partes do corpo em declive, cujos capilares se distendem,
produzindo desde modo na superfície cutânea manchas de cor roseo -violaceo,
conhecidas como livores cadavérico ou livor mortis ou hipostase.
Nos órgãos ou visceras tais como cérebro, pulmões, coração, fígado, rins, etc,
chamam-se hipostases viscerais, onde se deve fazer um diagnóstico diferencial com
congestão visceral.
Como a lividez cadavérica é devido ao enchimento dos vasos não impelidos pela
pressão sanguínea, ela não se manifesta naquelas áreas do corpo onde há compressão,
isto é, nas áreas onde a pele está em contacto com a superfície de sustentação ou onde
há ligaduras, cintos, etc., mais ou menos apertados. A
lividez cadavérica é um fenómeno constante, mas pode ser escassa ou mesmo não
existir nas mortes devido a grandes hemorragias, onde há uma verdadeira ex-
sanguinação. A
sua formação começa no período de agonia, e é muito intensa nos casos de asfixias
mecânicas, a sua côr depende muitas das vezes da côr do sangue, é por exemplo de
cor carmim ou muito roseo nos casos de intoxicação por Monóxido de Carbono e de
côr violáceo escuro nos casos de asfixia mecânica.
Evolução da Mancha Hipostática: a lividez inicia-se sob a forma de pequenas
manchas isoladas que se vão confluindo gradualmente até formarem grandes manchas
½ hora após a morte, entre 6 e 8 horas em média está completamente difundida ou
estabelecida. A
mancha hipostática mantêm-se ou fixa-se, e pode expandir-se ainda por mais 24 horas
ampliando a sua superfície até que comece o processo putrefactivo, e se não houver
mudança da posição do cadáver – este é o primeiro período ou estádio da fixação da
mancha hipostática. A fixação da
mancha hipostática deve-se ao empilhamento ou acumulação dos eritrócitos nos vasos
provocado pela saida do soro das paredes dos hiper-permiáveis.
Se houver mudança da posição do cadáver ocorre a migração ou formação de outra
mancha hipostática, pois a medida que houver deslocação do corpo há também a
defluxo passivo do sangue e fluidos corporais para as áreas de declive segundo a
posição. O
diagnóstico diferencial entre a lividez cadavérica e equimose,é fácil nos cadáveres
recentes, faz-se uma incisão na região afectada, nas equimoses o sangue extravasado
está coagulado e firmemente aderido as malhas dos tecidos, enquanto que na lividez
não há extravasão de sangue, nota-se o fluir de escasso sangue cortado dos capilares.
Se há dúvida lava-se a ferida com um jacto fino de água sobre os seus lábios, arrasta-
se deste modo todo o sangue que não está coagulado, na lividez a ferida fica
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completamente limpa.
Nos cadáveres em estado de putrefacção, em que os tecidos se tornam permeáveis ao
pigmento hemático, é bastante difícil de fazer o diagnóstico diferencial quando as
manchas são pequenas, mas pode-se reconhecer o sangue extravasado coagulado.
Importância Médico Legal: a lividez cadavérica permite:
(1)- fazer o diagnóstico real ou certo da morte, quando são intensas e extensas.
(2)- determinação da data da morte, associando aos outros sinais abiótico
consecutivos de morte.
(3)- evidenciar se houve ou não mudança da posição do cadáver depois da morte,
especialmente se a localização topográfica das manchas tiverem um localização
anormal, isto é, em planos opostos, indicando que houve uma transposição depois das
6 à 8 horas de morte mas antes das 24 horas.

 Rigor Mortis ou Rigidez cadavérica:


Logo após a morte produz-se um estado de relaxamento e flacidez muscular em todo o
corpo, mas passado algum tempo, dependendo de vários factores, inicia-se lentamente
um processo de contractura muscular que se chama de Rigidez cadavérica ou Rigor
Mortis.
É um processo que se produz em toda a espécie animal, incluindo os de sangue frio,
afecta todos os tipos de músculos, estriados ou voluntários, miocárdio, diafragma e os
músculos lisos.
Evolução: seu inicio depende de vários factores, os distintos sistemas musculares
entram em rigidez ordinariamente: primeiro os músculos lisos; miocárdio e diafragma
e por último os músculos esqueléticos.
1-Rigidez cadavérica nos músculos lisos, coração e diafragma: começa ½ a 2 horas
após a morte, mais precocemente nos músculos lisos e coração mais tarde no
diafragma.
Este fenómeno de contração da musculatura lisa pode ser mal interpretado por
leigos.
a)- Vesicula seminal:a contração dos músculos da vesicula seminal produz a
ejaculação do liquido seminal, se ela estiver cheia.
Importante do ponto de vista médico-legal para a determinação da última relação
sexual da vítima e da cronotanatodiagnótico.
b)-Pupilas:inicialmente logo após a morte há dilatação do esfincter da íris, seguida
da contração – miose.
É um dos sinais clínicos certos de morte.
c)- Coração:a contração muscular é mais intensa no ventriculo esquerdo que no
direito, produz esvaziamento do coração.
d)- Diafragma:a contração deste músculo produz a expulsão do ar nos pulmões,
originando oscilações na glótis com a saida de um ruido apagado chamado por
som da morte ou último suspiro.
e)- Útero:a contração de um útero gravidico pode produzir um parto póst-morte.

2- Rigidez cadavérica nos músculos esqueléticos ou estriados:começa entre 2 e 3 horas


após a morte nos músculos da mandíbula e orbicular das palpebras, e
progressivamente evolui para os outros músculos da face, pescoço, torax, membros
superiores, abdómen e finalmente membros inferiores.
Está ordem pode ser alterada em cadáveres em posição de declive, em que a cabeça
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está a um nível inferior dos pés, a ordem em vez de ser descendente ela é ascendente,
dos membros inferiores para cabeça.
A rigidez cadavérica é total e completa entre 8 a 12 horas após a morte, e alcança
máxima intensidade após 24 horas, começa a desaparecer quando surgem os sinais
putrefactivos, nos climas tropicais como o nosso nas primeiras 24 horas seguindo a
mesma ordem com que se propagou.
Factores que influenciam a rigidez cadavérica:
(1)- Lei de Nysten “a intensidade da rigidez, sua duração depende do momento em
que ela começa”, isto é, quando começa precocemente é de pouca intensidade e de
curta duração. Vários factores são influenciados por está Lei tais como: idade,causa
básica de morte e constituição esquelética.
(2)- Brown-Sequard comprovou que a intensidade da rigidez depende do estado de
conservação ou da integridade da musculatura.
(3)- Factores individuais.
(4)- Factores ambientais.
(5)- Causa básica de morte.

Importância Médico Legal: a rigidez cadavérica permite:


(1)- diagnóstico real ou certo de morte.
(2)- determinação da cronotantodiagnóstico.
(3)- Permite a reconstruação das circunstâncias em que ocorreu a morte, para o
diagnóstico de simulação de suicídio nos disparos por projécteis de arma de fogo.
 Espasmo cadavérico ou Rigidez Cataléptica (dos autores alemães):
É um tipo especial de rigidez cadavérica que se manifesta de forma súbita e intensa,
fixa na morte as posições e atitudes que o individuo tinha na ocasião em que morreu,
não existe o período inicial de relaxamento muscular como na rigidez cadavérica
típica.
Fenómeno pouco frequente, mas de grande valor etiológico médico legalmente.
Este forma de rigidez cadavérica aparece nas seguintes condições:
(1)- Quando há uma emoção ou grande tensão nervosa no momento da morte.
(2)- Quando o agente ou instrumento, meio empregue ou outra causa básica de morte
provoca a lesão abrupta de um centro vital (coração, encéfalo, etc.; ou fulguração,
intoxicação por estrecnina, etc).
Importância Médico Legal: por ser um fenómeno vital, última atitude da vítima
permite reconstruir os factos ou circunstâncias em que ocorreu o exitus ou a morte.

 Perda da excitabilidade muscular:


Para se estabelecer a cronotanatodiagnóstico pesquisou-se a excitabilidade muscular
que persiste no cadáver por algum tempo.
Este género de pesquisa pode ser efectuado por meio de estímulos eléctricos,
estímulos químicos, estímulos mecânicos e na prática clínica por meio de um martelo
de reflexos. A
duração da excitabilidade é variável segundo a espécie animal, têm maior duração nas
espécies que têm pouca troca gasosa, é influenciada por numerosos factores
intrínsecos tais como robustez física, causa de morte, idade, etc.
A excitabilidade muscular não desaparece ao mesmo tempo em todos os grupos
musculares, a sua persistência é inversamente proporcional a massa muscular.

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Geralmente a excitabilidade dos músculos estriados diminui 5 horas após a morte,
desaparece entre 8 e10 horas.
A excitabilidade dos músculos lisos diminui gradualmente e só desaparece 2 a 3 dias
após a morte.
B- Sinais Positivos ou Transformativos:
 Autolise:
É um conjunto de processos de decomposição ou fermentação anaeróbica que ocorre
no interior da célula produzidas por enzimas celulares.
É o mais precoce dos processos transformativos cadavéricos.
Do ponto de vista estrutural a autolise é uma necrose celular, semelhante a que ocorre
num vivo, quando um órgão sofre alterações isquémicas ou anóxicas.
As enzimas responsáveis pela autolise provêm dos lisossomas, com a morte a
permeabilidade da membrana destas organelas sofre um processo de deterioração,
permitindo a passagem das enzimas para o citoplasma, ocorrendo deste modo a
digestão ou destruição da própria célula.
Do ponto de vista bioquímico, a autolise é um processo de destruição molecular dos
elementos orgânicos existentes na célula devido a acção das enzimas celulares.
Borri, dividiu as enzimas que intervêm nestes fenómenos em dois grupos:
(1)- Hidrases, que são enzimas de hidratação-desidratação.
(2)- Óxido-reductases, que são enzimas de oxidação-redução.
Com o evoluir do processo as próprias enzimas auto destroem-se, terminando deste
modo o processo para ser substituído pela putrefação.

 Putrefacção:
É um processo de decomposição ou fermentação pútrida de origem bacteriana, os
germes responsáveis desenvolvem-se na matéria orgânica e produzem enzimas que
actuam selectivamente sobre os princípios orgânicos - proteínas, lípidos e
carbohidratos, que conduzem a destruição do cadáver.
A intervenção de microorganismos no surgimento dos fenómenos pútridos, foram
evidenciados por Pauster, mas não se pode deixar de mencionar os estudos anteriores
feitos por Redi no século XVII, Spallanzani no século XVIII.
Numerosos são os gremes que intervêm neste processo, das quais se destacam a
Escherichia Coli; Bac. flurescens, B. cadaveris mesentericus, Cl. sporogenes, Cl.
putrificum, Cl. perfringens, etc.
Os germes responsáveis pela putrefacção podem vir directamente do exterior atráves
da boca, narinas e vias respiratórias, contudo o papel principal neste fenómeno é
desempenhado pelos germes saprófitas existentes no tracto intestinal, cuja flora é
relativamente fixa.
Estes germes não actuam ao mesmo tempo, existe uma sequência cronológica antes da
intervenção da “fauna cadavérica”, pequenos animais que ajudam a obra destes
microorganismos.
O processo de decomposição começa quando há ainda nos tecidos vida residual com
escasso oxigénio (O2), permitindo a acção de bactérias aeróbias (Bacilos subtilis, B.
fluorescens, Proteus vulgaris. B. coli), que consomem o O2 rapidamente, criando
condições para o desenvolvimento de germes aeróbios facultativos (B. putrificus coli,
B. liquefaciens magnus, Vibrio septicus), que acabam com todo o O2, permitindo a
intervenção dos anaeróbios que têm máxima acção desintegrativa (B. perfringes, B.
46
putridus gracilis, B. magnus anaeróbius, Clostridum sporogenes, etc).
O local onde há maior concentração de germes no tracto digestivo é o Cego localizado
na Fossa Ilíaca Direita, e segundo Romanese o Cl. Perfringes é o primeiro germe a se
desenvolver. Os
germes propagam-se através do tracto digestivo, penetram facilmente nos vasos
sanguíneos (artérias, veias e vasos linfáticos) do abdómen onde encontram ambiente
propicio para seu desenvolvimento, produzindo grandes quantidades de gases que
aumentam a pressão intra-abdominal dando lugar a uma circulação póst mortem de
Brouardel, os vasos sanguíneos disseminam os germes para todo o organismo -
período cromático.
A acção dos microorganismos consiste em degradar:
(1)- As substâncias proteicas em compostos mais simples - aminas até sua
constituição final em líquidos e gases - sulfureto de hidrogénio, amoníaco, etc.
(2)- Os carbohidratos são degradados até a produção de H2O (água) e anidrido
carbono. (3)-
Os lípidos são degradatos até sua formação em ácidos gordos inferiores e substâncias
voláteis. O cheiro
nauseabundo do cadáver deve-se a decomposição destes elementos orgânicos (aminas,
sulfureto de hidrogénio, amoníaco e dos ácidos gordos inferiores). Quando
ocorre a ruptura das bolhas enfisematosas e maceração da pele com posterior
descamação do extracto da epiderme, intrometem-se os germes aeróbios que provêm
do meio ambiente exterior, degradando o cadáver da superfície para a profundidade,
dando inicio a coliquação cadavérica que termina com a esqueletização.

A Putrefacção evolui no cadáver em quatro fases ou períodos bem caracterizados:


 Período Cromático ou Colorativo:
O primeiro sinal da putrefacção, é o aparecimento da mancha esverdeada na pele na
região ileo-cecal - na fossa ilíaca direita.
Desde Rokitanski (1856) se sabe que esta coloração deve-se a acção do ácido
sulfidrico, produzido pela putrefacção dos tecidos sobre a hemoglobina sanguínea em
presença do oxigénio do ar, esta reacção produz a sulfohemoglobina de cor
esverdeada só em presença do ar.
A mancha esverdeada extende-se gradualmente por toda a pele seguindo o trajecto dos
vasos sanguíneos, sendo mais intenso onde há maior quantidade de pigmento
sanguíneo, nas áreas hipostáticas.
A mancha esverdeada pode também começar em outras partes ou regiões do corpo,
por exemplo, onde exista uma colecção de purulenta; nos cadáveres que ficam
submersos na água por um período de tempo, a mancha esverdeada é mais intensa na
cabeça e região escapular; nos fetos e recém nascidos que não tenham deglutido este
fenómeno começa nos orifícios respiratórios.
O período cromático começa geralmente entre 24 e 48 horas após a morte, podendo
aparecer mais cedo nos dias muito quentes, tem a duração de um a dois dias.

 Período Gasoso ou Enfisematoso:


Caracteriza-se pela produção de grandes quantidades de gases por germes anaeróbios
que incham e desfiguram o cadáver (enfisema putrefactivo), esta infiltração gasosa
invade todo o tecido celular subcutâneo com bolhas enfisematosas e os órgãos

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parenquimatosos tornam-se esponjosos.
A face fica edemaciada com exoftalmia ou protusão dos globos oculares, edema dos
lábios e protusão da língua; os genitais masculinos ficam volumosos com inchaço do
escroto e erecção do pénis; o tórax e abdómen ficam distentidos com som timpânico a
percussão. O
cadáver fica com um aspecto gigantesco em posição de boxer com a circulação póst
mortem Brouardel ; a pressão dos gases nas ansas intestinais provoca na mulher
prolapso uterino, e se estiver grávida pode produzir um parto, chamado por muitos
autores como parto no caixão.
A epiderme espolia-se, nas mãos e pés pode ocorrer a sua separação total
assemelhando-se às luvas.
O periodo gasoso têm a duração de vários dias a um par de semanas, nos países
tropicais tem duração de um par de dias.

 Período Coliquativo ou de Liquefacção:


Com a diminuição da produção de gases e o desprendimento da epiderme, o cadáver
começa a perder o aspecto gigantesco, a cor esverdeada torna-se mais escura,
acastanhada, os órgãos ficam amolecidos, na superfície das vísceras podem aparecer
pontos esbranquiçados que são constituídos por cristais de leucina e tirocina, as
cavidades do coração e os grandes vasos ficam vazios, e os tecidos transformam-se
gradualmente em um liquido castanho escuro, fétido e de cheiro inicialmente pútrido
(amoniacal). O
liquido sai do corpo infiltra-se na terra ou solo/caixão se este for impermeável.
Nem todos os orgãos ou tecidos se liquifazem ao mesmo tempo, o cérebro é dos
primeiros, depois as vísceras parenquimatosas, e a seguir os órgãos do tracto intestinal
(estômago e intestino) por último o útero e a próstata, sendo estes órgãos mais
resistentes e permite muitas das vezes a identificação do sexo.
O periodo coliquativa tem a duração entre oito dez meses, entretanto segundo a nossa
experiência dependendo do tipo terreno e clima onde o corpo estiver inumado, e só
embrulhado em lençois este processo pode ser mais celere entre 2 e3 meses.
O cadáver chega a esqueletização completa durante cinco anos.

 Período de Redução Esquelética ou de Esqueletização:


Com a liquifação ou coliquação dos tecidos moles fica a descoberto a estrutura óssea.
Não há uma regra fixa em relação à região em que se inicia este processo, existem
numerosos factores que a influenciam, dos quais se destacam animais “devoradores”
dos cadáveres, geralmente começa nas partes descobertas do corpo.
Este periodo caracteriza-se dois sub-estadios:
(1) Estádio de pré-esqueletização quando ainda existem sobre os ossos tecidos moles
mais ou menos secos, tendões e ligamentos articulares.
(2) Estádio de esqueletização quando resta só a estrutura inorgânica, os ossos ficam
isolados e conservam-se por muitos séculos ou milénios.
Pode ocorrer ulteriores transformações nos ossos, de modo a que só existam minerais
(fosfatos e carbohidrato de cálcio), tornando-se assim frágeis e se estes estiverem no
solo misturam-se com o pó ou terra cumprindo deste modo à passagem Biblica
“mement homo quia pulvis es, et in pulverem reverteris”.

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Factores que influenciam a evolução da putrefacção:
Este processo pode ser modificada ou influênciado por diversos factores individuais e do
meio ambiente.
 Factores individuais: (1)-
Constituição física: nos individuos obesos o processo de decomposição é mais celere
que nos indivíduos magros. (2)-
Idade: a putrefacção é mais rápida em crianças e lenta nos idosos. (3)-
Causa de morte: a putrefacção é mais rápida e intensa nos casos de feridas graves ou
com extensas área de contusão, em doenças sépticas e mortes lentas agónicas, etc. É
mais lenta nas casos em que há grandes hemorragias, desidratação severa, após
tratamento prolongado com antibióticos, etc.
 Factores ambientais:húmidade, calor, frio e arejamento.
Depende também se cadáver estiver exposto ao ar livre, enterrado no solo ou num
outro meio.
Citando Casper “ 1 semana de putrefacção ao ar livre equivale a 2 semanas na água
ou em terra”.

5- ENTOMOLOGIA FORENSE OU FAUNA CADAVÉRICA:


Quando o cadáver permanece exposto ao ar livre sofre acção destruidora produzido por
grandes animais tais como ratos, gatos, cães e aves de rapina que mutilam e devoram o
corpo.
Além da acção destes grandes animais, no processo destrutivo do cadáver exposto ao ar
livre participam diversas espécies de insectos que depositam ovos sobre o corpo, que ao
encontrarem um local ideal e nutritivo para se desenvolverem produzem milhares de
larvas.
Estes insectos participam de forma cronológica nas diferentes fases do processo
putrefactivo, é chamada a Fauna Cadavérica ou Entomologia Forense.
Bergeret foi o primeiro a descreve-los em 1855, Megnin mais tarde designou-os de
trabalhadores de morte, porque estes são capazes de produzirem a esqueletização de um
cadáver entre 15 dias a 2 meses.
As especíes que compõem cada grupo variam de região para região, de clima e de estação
do ano, mas elas são especíes constantes na composição geral dos grupos
independentemente destes factores.
Os insectos que normalmente compõem a fauna cadavérica são os dipteros, coleópteros,
microlepidópteros e acarianos.
Existem oito grupos ou quadrilhas de insectos:
1º grupo: formado por dípteros, inicialmente por moscas especíe Musca e Curtonevra,
posteriormente aparecem outras moscas da especíe Calliphora e Anthomia. Este grupo
ataca cadáveres frescos.
2º grupo: actuam quando o cheiro cadavérico se exala para o ar livre, é composto por
Lucilia e Sarcophaga.
3º grupo: intervêm 3 a 6 meses após a morte, atraídos pelos gases da putrefação, é
constituida por Coleópteros (Dermestes) e Lepidópteros (Aglossa).

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4º grupo: é atraída pela fermentação caseica ou albuminóide, é composta por moscas
Anthomia e Pyophila Casei, Coleópteros (Corynetes).
5º grupo: é atraida pela fermentação ou degradação amoniacal. Surgem os Dípteros do
género Tyreophora, Lonchea, Ophyra e Phora, os Coleópteros da familia Silfidos e do
género Uropoda, Trachimotus, etc.
6º grupo: absorve restos de liquidos deixados pelos grupos anteriores, dissecam até a
mumificação dos orgãos. São os Acarianos do género Uropoda, Trachimotus, etc.
7º grupo: aparecem só quando restam tecidos mumificados. São os
Coleópteros(Dermestes, Attagenus, Anthrenes) e os Leptopteros (Anglossa e Tineola).
8º grupo: é composto por duas especíes de insectos, Tenebrio e Ptirus, que consomem os
restos dos tecidos deixados por outras especíes.
Importância Médico Legal:
 Permite o estudo da cronotanatodiagnóstico, ao estudar os insectos e larvas presentes
no cadáver que são levados para o Laboratório de Entomologia.
 Com outros elementos recolhidos durante a investigação policial ou judicial,
associado aos sinais de morte que o cadáver apresenta permite a Identificação do
corpo e a determinação da data de morte.
Também pode ser estudado os fungos ou bolor que se encontra na superficie cutânea e nas
visceras do cadáver.

6- PROCESSOS ANORMAIS DE PUTREFAÇÃO OU CONSERVADORES DO


CADÁVER :
Nem sempre a putrefacção acaba destruindo o cadáver, pois em determinadas circunstâncias
o processo putrefactivo é interrompido, às vezes determinados factores físicos impedem que
ele se inicie, levando ambas as circunstâncias a que o cadáver se conserve.
As circunstâncias que param o processo putrefactivo, uma vez iniciados denomina-se de
Processos anormais de putrefacção ou conservadores dos cadáveres - que são: Maceração;
Mumificação; Saponificação e Corificação.
Entre as causas naturais que impedem o inicio do processo putrefactivo de maneira natural
temos o congelamento.
1- Maceração:
É a autolise associado a imbibição hidrófila dos tecidos.
Ocorre geralmente em cadáveres que permanecem num meio liquido (água), é típico
dos fetos mortos que não são expulsos do útero materno do sexto ao nono mês.
No cadáver fetal observa-se o destacamento da epiderme, os tegumentos adquirem uma
tonalidade avermelhada e o corpo perde a sua consistência.

2- Mumificação:
É a dissecção do cadáver resultante da evaporação da água nos seus tecidos, levando a
que estes sofram transformações graças a qual permite a persistência do aspecto
exterior do corpo por um período mais ou menos prolongado.
O facto mais destacável é que este processo produz uma rápida dissecção do corpo, que
ao priva-lo de água impede o desenvolvimento dos germes, interrompendo deste modo
50
a evolução do processo putrefactivo.
A mumificação pode ser natural ou artificial, a que tem importância médico-legal é a
natural. A
Mumificação Natural inicia-se nas partes descobertas do corpo, tais como a face, mãos
e pés, extendo-se posteriormente para as restantes partes do cadáver incluindo os órgãos
internos. O corpo
inteiro diminui de volume, perde peso e pode ficar tenso e quebradiço. Se o
cadáver mumificado não estiver protegido pode ficar completamente reduzido a pó
devido a influência ambiental, mas se estiver protegido pode ficar preservado durante
muitos anos.
O processo de mumificação completo, leva 1 à 12 meses dependendo das condições
ambientais e do volume corporal.

A- Características gerais das Múmias:


 Morfologicamente todas os cadáveres mumificados apresentam:
(1)- Grande perda do seu peso. (2)-
Aumento da consistência da pele, que têm um aspecto de couro curtido que ressoa à
percussão. (3)-
Conservação das formas ou do aspecto exterior, até ao extremo de se poder
reconhecer as feições; em contrapartida os órgãos internos podem não estar
completamente conservados dependendo dos casos.
(4)- Capacidade prodigiosa de conservação por um longo período de tempo.

B- Condições que influenciam ou favorecem a Mumificação:


 Condições ambientais:
(1)- Ar quente dos desertos ou ambientes de elevada temperatura, seco com abundante
e forte corrente de ar circulante cheio de oxigénio (O2).
(2)- Certas zonas subterrâneas, criptas ou grutas naturais que possuem substâncias
higroscópicas ou radioactivas.
(3)- Em determinados cemitérios que reúnem condições naturais para tal, como por
exemplo no nosso país em Nampula, o Cemitério Inocentes de Paris, etc.
 Condições individuais:
(1)- Idade, nos recém nascidos será mais factível que ocorra a mumificação, visto ser
neles mais intenso o processo de desidratação.
(2)- Sexo, é mais frequente que este fenómeno ocorra em indivíduos de sexo
maculino. (3)- Constituição física, ela é mais rápida e frequente nos cadáveres de
constituição delgada/magra.
(4)- Causa de morte, algumas delas favorecem a mumificação como por exemplo nos
casos de grandes hemorragias, desidratação grave, tratamento prolongado com
antibióticos, etc.

C- Importância Médico Legal:


 Diagnóstico da data da morte:estes cadáveres podem criar problemas da
cronotantodiagnóstico, visto ser difícil a determinação da data ou época em que ocorre
o existus.

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Contudo é fácil diferenciar:
(1)- Múmias Recentes ou Pesadas correspondem aos cadáveres que tem períodos de
evolução ou de tempo de sua formação de meses, ou excepcionalmente de algumas
semanas, mas nunca a um período superior a 1 ano. Caracterizam-se por conservar
ainda o seu peso, apesar de ser inferior a de um cadáver fresco, persistência de tecidos
não dissecados por completo de consistência mais ou menos branda que foi chamado
por Derobert e Dervieux por mumificação incompleta.
(2)- Múmias não Recentes ou Ligeiras correspondem aos cadáveres que tem periodos
de evolução de vários anos ou decadas. (3)
Múmias Antigas ou Ligeirissímas correspondem aos cadáveres que tem periodos de
evolução de vários séculos.
 Diagnóstico da causa da morte: este processo tem grande importância médico legal,
pois nos cadáveres mumificados pode-se reconhecer a causa da morte, em particular
nas mortes violentas, apesar de ter passado um algum período de tempo.
O cadáver mumificado pode conservar na pele e tecidos moles dissecados as
características das feridas, dos orifícios dos projecteis de arma de fogo, sulcos, etc.
As lesões viscerais traumáticas o seu diagnóstico anatomopatológico muitas das vezes
é dificil.
 Identificação do cadáver: é possível visto que este fenómeno conserva as feições e
outros elementos de identificação.

3- Saponificação ou Adipocera:
É um processo transformativo do cadáver que conduz a formação de uma “carcaça de
gordura” untosa e viscosa em estado húmido, que depois seca quando exposto ao ar livre, e
adquire uma consistência dura, granulosa, de cor cinzento-esbranquiçado.
Este processo decorre do exterior para o interior do cadáver, pode ser parcial ou total,
sendo a saponificação total ou generalizada a que têm maior importância Médico Legal.
A saponificação foi descrita pela primeira vez por Fourcroy, nalguns cadáveres exumados
no Cemitério Inocentes de Paris.
A- Evolução:
 Este processo inicia-se nas regiões do corpo onde há maior quantidade de tecido
adiposo, em particular nas nádegas e bochechas, e paulitanamente extende-se para o
tecido adiposo das restantes regiões do corpo até atingir todo tecido celular
subcutâneo.
Em relação aos órgãos internos, estes sofrem estas alterações, contudo inicialmente
têm uma evolução normal dos fenómenos putrfactivos.
Segundo Kratter, a saponificação só começa seis semanas após a morte, apesar existir
relatos descritos por vários autores de terem observado este fenómeno antes deste
período, facto por nós constatado em mais de dez exumações.
O inicio deste processo é sempre precedido de fenómenos macerativos e putrefactivos
de variável intensidade. A
Adipocera é uma substância de cor esbranquiçada, se tiver sido formada na água ou de
cor amarelada se tiver sido formada em terra húmida ou pantanos. Com
o decorrer do tempo é possível diferenciar a adipocera recente ou jovem da adipocera
velha ou não recente. A transformação de uma variedade para outra é muita lenta e
gradual, e, não é possível fixar um limite cronológico exacto. (1)-

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Adipocera Recente ou Jovem: é untosa ou viscosa ao tacto, deixa-se modelar com os
dedos, ao corte se assemelha à um queijo amolecido. Tem pouco homogeneidade das
estruturas, permitindo deste modo distinguir ao corte ou microscopicamente, porções
de tecidos estranhos tais como músculos, tendões, etc bem reconhecíveis. (2)-
Adipocera não recente ou Velha: é dura, seca e parcialmente quebradiça ao se fazer
uma incisão,ao partir com as mãos desfaz-se como um queijo velho.
Microscopicamente apresenta uma estrutura homogénea assemelhando-se como um
retículo fibroso no seio de uma substância branca de aspecto gorduroso.

B- Condições que influenciam ou favorecem a Saponificação:


 Condições ambientais:
(1)-Permanência do cadáver submerso em águas paradas ou de pouca corrente.
(2)- Cadáver inumado em solo argiloso húmido.
(3)- Cadáveres inumados em valas comuns sobrepostos, os cadáveres que estão nas
camadas inferiores saponificam-se em maior ou menor grau, em relação aos que estão
nas camadas superiores.
 Condições individuais:
(1)- Idade: a saponificação é mais frequente em crianças de tenra idade, pois têm
grande quantidade de tecido adiposo.
(2)- Sexo: é mais frequente em indivíduos do sexo feminino, devido a distribuição e
quantidade do tecido adiposo.
(3)- Estado Nutricional: é mais frequente em obesos do que nos indivíduos magros.
(4)- Condições patológicas: certas condições patológicas favorecem a saponificação
tais como o alcoolismo e outras intoxicações que originam degeneração gorda.

C- Mecanismo de formação:
 A opinião generalizada de vários autores é de que a Adipocera forma-se após a
divisão das gorduras neutras do tecido adiposo em glicerina e ácidos livres. A
glicerina e os ácidos gordos líquidos dissolvem-se na água, e os ácidos gordos
superiores na ausência do oxigénio reagem com os iões de cácio, magnésio, sódio,
potássio e amónio presentes no meio liquido ou argiloso, difundindo-se depois para os
tegumentos. Não se exclue a intervenção de microorganismos presentes no meio onde
o cadáver se encontra.

D- Importância Médico Legal:


 Diagnóstico da data ou época da morte: pela distinção de Adipocera Recente da
Adipocera não Recente.
 Determinação da causa da morte: particularmente nas morte violentas pela
identificação das lesões traumáticas na pele como por exemplo feridas das armas
brancas, sulcos, etc.
 Identificação do cadáver:é possivel porque este fenomeno perserva as feições e
outros elementos de identificação.

4- Corificação:
É um processo conservador descrita pela primeira vez por Dalla Volta ao observar
cadáveres que tinham permanecido durante um período de tempo em caixões de cinzo.
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É chamado de corificação devido as características que a pele destes cadáveres
apresentam, é uniforme em toda sua extensão, assemelhando-se a couro curtido
recentemente. Ao
exame o cadáver apresenta os tegumentos de cor cinzento amarelecido, consistente e
resistente ao corte, a pele está aderida ao esqueleto, o tecido celular subcutâneo, a
musculatura e vísceras estão reduzidas de volume, as articulações apresentam certa
mobilidade.
Este processo leva em média um ano para que esteja generalizado e no segundo ano a pele
adquire um aspecto metalizado com dissecção profunda de todos os tecidos.
A corificação permite a identificação do cadáver e o diagnóstico da causa de morte pelo
reconhecimento das lesões anátomo-patológicas.

7- DATA DA MORTE:
A data preside todas as actuações Médico Legais, pois em todos os actos Periciais é sempre
uma questão a resolver, visto ser importante fundamentar a data da fecundação, o tempo de
uma gestação, parto, tempo de sobrevida de um recém nascido, idade de um indivíduo vivo,
cronologia das lesões, etc; até aos problemas cronológicos que surgem após a morte.
Metodologia da Crono-Tanato-Diagnóstico:
Para se efectuar este género de estudo, é importante que classifiquemos os sinais segundo a
sua cronologia de aparecimento, dividindo assim em dois grandes grupos: data de morte em
cadáveres recentes (aqueles em que ainda não apareceram os fenómenos putrefactivos) e
data de morte em cadáveres antigos (aqueles em que o processo putrefactivo iniciou até a
fase de esqueletização).
I- Diagnóstico da data de morte em cadáveres recentes:
Pode-se fazer o diagnóstico baseando-se essencialmente em quatro tipos de sinais:
a)- Sinais paramédicos:
 Na altura do levantamento cadavérico o perito pode demonstrar a sua capacidade de
bom observador e génio, ao basear-se numa serie de elementos que irá recolher para
melhor determinar a data da morte que qualquer técnica laboratorial - por exemplo
observando o estado em que se encontra o solo onde repousa o cadáver, se está seco e
o corpo húmido levará a concluir que o cadáver estava aí quando choveu, etc.

b)- Sinais de vida residual:


 Estes são conhecidos desde a antiguidade, mas a sua contribuição para a data da morte
é limitada, citaremos alguns exemplos:
(1)- a mobilidade dos espermatózoides persiste até 34-36 horas póst-mortem.
(2)- a pupila reage á luz até 4 horas após a morte, é capaz de reagir a administração da
pilocarpina e atropina 2 a 4 horas após a morte.

c)- Sinais devido à cessação das funções vitais:


 As função fisiológicas interrompidas devido morte podem ser medidas.
São consideradas do ponto de vista Académico como a melhor forma de estabelecer a
54
data da morte, porque não sofrem alterações, contudo a sua valorização é discutível
actualmente. (1)-
Estado de enchimento da bexiga: baseia-se no facto de que a filtração renal é uniforme
e é hábito das pessoas antes de se deitarem urinarem. Se encontrarmos no cadáver a
bexiga cheia de manhã, poderemos deduzir de que a morte decorreu 6 horas antes de
se deitar; ou, se estiver vazia, a morte terá ocorrido pouco depois de se deitar. (2)-
Comprimento dos pêlos da barba: o crescimento dos pêlos da barba cessa logo que se
instala a morte. O seu crescimento médio é de 0,5 mm/dia segundo Balthazard; se
sobermos quando foi a última vez que o indivíduo se barbeou, poderemos deduzir a
hora em que morreu. (3)-
Fase da digestão e evolução do trânsito: o dado útil que poderemos obter é que na
autópsia poderemos reconstruir o menu e associarmos a data (hora) da morte com a
presença ou ausência de comida distinguivel no estômago.

d)- Sinais de morte molecular:


São os sinais que se observam no cadáver após a morte, são os sinais negativos ou abióticos.
Estes sinais são em principio a chave da cronotanatodiagnóstico, visto que são fenómenos
inertes influenciados basicamente por circunstâncias ambientais.
 Desidratação: pode estar localizada ou generalizada no cadáver.
A desidratação localizada em particular ao nível do olho tem grande relevância para a
determinação da data da morte:
(1)- Turvamento da córnea: se o cadáver permaneceu com os olhos abertos este
fenómeno ocorre entre 2 a 4 horas após exitus ou morte.
Se o cadáver ficou com os olhos fechados o turvamento da córnea é tardia, estabelece-
se 24 horas depois da morte. (2)-
Tensão intraocular: diminui rapidamente logo após a morte, com a deformação da
pupila - sinal de Ripauld. Após 2 a 3 horas não é possível medir a tensão intraocular.
(3)- Transparência das coróides: é observada através da esclerótida devido ao seu
adelgazamento pós mortem - sinal de Sommer-Larcher, é uma mancha negra que
surge entre 10 a 12 horas após a morte se o cadáver tiver permanecido com os olhos
abertos.

 Lividez cadavérica: pode ser generalizado ou localizado no cadáver.


A Lividez ou Hipostase cadavérica generalizada têm importância para
cronotantodiagnóstico pois permite baseando-se no Esquema de B. Muller conhecer o
seu inicio, evolução e generalização:
0-1 hora - pequenas manchas na face posterior do pescoço.
1- 5 horas - lividez abundante na áreas de declive; e, palidez total se mudar a posição
do cadáver na face oposta. 5
- 8 horas - desaparecimento da lividez a pressão; difusão da hemoglobina e focos de
hemolíse. 8
- 14 - horas palidez a pressão não desaparece totalmente; não há desaparecimento da
lividez ao se mudar a posição do cadáver; hemólise intravascular com infiltração da

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hemoglobina (Hb) no epitélio.
+ de 14 horas - não há palidez a pressão (fixação da mancha hipostática).

 Esfriamento:
O esfriamento dos pés, mãos e face é perceptível 2 horas após a morte ao tacto; e nas
partes cobertas do corpo é perceptível ao tacto depois de 4 a 5 horas.
Por meio do termómetro pode-se estudar a curva do esfriamento, mediante a formula
de Glaister e Rentoul: Tempo póst morte = 36, 9 - temperatura rectal./0,8.
Actualmente existem fórmulas mais complexas das quais se destacam a de Marshall e
Hoare.

 Rigidez cadavérica:
É um processo de contracção muscular por anaerobiose, governado por alterações
bioquímicas que afectam a ATP-ATPase, Ca/Mg, glucogénio, fosfo-creatina.
O estudo da evolução da rigidez cadavérica por meio da analise dos componentes
bioquímicos não fornecem elementos de avaliação para estimar a data da morte.
As etapas da rigidez cadavérica que fornecem elementos para estimar a data da morte
são: fase de inicio, generalização, restauração e lise.
Com base no esquema de Niderkorn a rigidez cadavérica:
Começa entre 2 a 4 horas após a morte. Está completa entre 6 a 8 horas após a morte.
Atinge sua máxima expressão 13 horas após a morte. Começa desaparecer à partir das
36 horas após a morte. A
rigidez cadavérica é um fenómeno bioquímico influenciado por factores endógenos e
exógenos segundo a Lei de Nysten.

 Transformações físico-químicos no sangue:


De grande importância Académico, vários autores estudaram o hematócrito, o ponto
crioscópico, índice de refracção, queda do potencial redox, etc.

 Manifestações bioquímicas:
Também de grande importância Académica, foram estudados vários componentes
bioquímicos no cadáver tais como fósforo, potássio, etc.

 Relógio Póst Mortem de Fatteh os elementos ou dados mais importantes são:


temperatura rectal do cadáver; temperatura ambiente no momento do levantamento
cadavérico e do período anterior; peso do cadáver; saber se o cadáver estava despido
ou não; recolher a amostra do humor vítreo de ambos olhos para determinar o nível de
potássio e o estado dos fenómenos ou sinais cadavéricos.

II- Data de morte em cadáveres antigo:


A determinação da data da morte é um problema médico legal e não anatómico, pois é
importante recorrer a todo um conjunto de elementos de avaliação que são importantes
durante o acto pericial, como sendo elementos estranhos a evolução do cadáver que dar-nos-
ão dados de valor inestimável para a cronotantodiagnóstico.
Devemo-nos basear em elementos ou dados paramédicos recolhidos no momento em que se
procede o levantamento cadavérico, sobretudo na informação policial ou judicial e quesitos
colocados por estas autoridades.
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 Processo Putrefacção:
O processo putrefactivo evolui em quatros períodos sucessivos: período cromático,
enfisematoso, coliquativo e o de esqueletização.
A evolução deste processo destruidor do cadáver representa uma forma criteriosa para
avaliarmos o tempo que transcorreu após a morte, visto que a duração de cada um dos
períodos é relativamente fixo e vai aumentando em ordem crescente.
O 1º periodo cromático é avaliado em dias, um a dois dias. O
2º periodo gasoso é avaliado em par de dias, dois a quatro dias. O
3º periodo coliquativo é avaliado em meses. O
4º periodo de esqueletização é em anos.
Nos casos em que são exumados os cadáveres a determinação da data de morte é
baseada no estado em que se encontram os órgãos com intervalos de mais ou menos 2
a 3 meses, além de outros dados paramédicos e da informação policial e familiares.
 Entomologia Forense para os cadáveres expostos ao ar livre, além dos sinais
cadavéricos - período de putrefação é importante a recolha dos insectos, larvas e
fungos para o diagnóstico entomológico e determinação do grupo ou quadrilha,
informação dada pela policia e dos familiares em relação a data do desparecimento da
vítima.
8- EXAME NO CADÁVER OU AUTÓPSIA:
Eimológicamente a expressão autópsia provem do grego autos=mesmo e ophis=ver, isto
é, exame com os própios olhos, comprovar pessoalmente.
Autópsia ou Necrópsia é estudo minucioso dum cadáver com o fim conhecer a causa da
morte ou estudo das lesões orgânicas.
O progresso técnico-cientifico, a evolução sócio-antropológica das sociedades levou a
alteração do ponto de vista filosófico-académico e conceiptual da autópsia, exitindo
actualmente quatro tipos:
 Autópsia Psicológica:
É feita com objectivo de conhecer a causa juridica de morte, o móbil de um crime ou
motivações de um suicídio e outros quesitos colocados pelas autoridades policiais ou
judiciais, por meio de entrevistas com familiares, testemunhas ou declarantes
constantes no processo ou autos da vítima em que se suspeita de morte violenta.
Estes devem descrever os sinais de morte, provável causa básica de morte ou lesões
traumáticas que o cadáver apresentava ou ainda o meio empregue, provável causa
juridica de morte, antecedentes de doença, etc.
Foi inicialmente concebido para obter dados sobre o perfil ou personalidade das
vítimas de suicídio.
Utilizamos este tipo de autópsia com posterior exumação dos cadáveres para
comprovar a não extração de órgãos em quatro casos na cidade de Nampula com bons
resultados após entrevista com mais de quinze testemunhas, declarantes e familiares
constantes nos autos ou processo, em que foi possivel estabelecer a causa juridica de
morte.

 Autópsia Virtual:
É feita com objectivo de estudar a causa de morte por meio de imageologia, usando
meios tecnológicos da última geração tais como a Ressonância Magnética Nuclerar ou
Tomografia Axial Computarizada.

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 Autópsia Clínica ou AnátomoPatológica:
É o estudo minucioso de um cadáver com o objectivo de:
(1)- Determinar ou confirmar a causa de morte de um processo mórbido já
diagnósticado, sua confirmação clínica.
(2)- Estudar as alterações anátomo-patológicas e histo-patológicas nos diversos orgãos
e tecidos provocados por um processo mórbido ou por sintomas funcionais.
Nas mortes naturais não há nenhuma regulamentação que dá permissão ou amparo
legal ao médico para a prática deste tipo de autópsia.
Em termos de Direito Médico é prática comum os hospitais exigerem aos familiares
ou representantes legais um termo de permissão, para que nos casos de morte dos
pacientes se possa realizar a autópsia clínica.
Se o médico proceder o exame sem permissão, pensamos que não há fundamentação
legal para imputar-lhe um crime, a não ser eventualmente a responsabilidade civil que
pode ser arguida. Por
imperativos da Ciência, há situações em que o médico tem dúvidas quanto ao
diagnóstico de morte, assiste-se nesta situação a necessidade do direito de necropsiar,
mesmo sem o consentimento da familia tendo em vista o interesse indiscutível da
ciência em contribuir para o bem estar colectivo.
Convém resalvar entretanto que este tipo de autópsia com fim diferente do
mencionado no paragrafo anterior, útil para estudo dos médicos e para ensino dos
estudantes de Medicina (no Departamento de Anatomia Humana da Faculdade de
Medicina), só podem ser efectuadas nas condições indicadas no parecer da
Procuradoria-Geral da República, publicada no Diário do Governo n.o 119, II série, de
19 de Maio de 1961 – que diz:
(1)- na falta de disposição deixada em vida pelo próprio, a autópsia para fins de
ensino ou de pesquisa cientifica nos hospitais universitários só é permitida, em face da
legislação vigente, nos cadáveres dos falecidos nos hospistais, asilos e casas de
assistência pública, que, dentro do prazo de doze horas, decorridas depois do
falecimento, não sejam reclamados pelas famílias para procederem ao seu
enterramento.
(2)- para o efeito, devem esses estabelecimementos dar conhecimento imediato do
falecimento às familias; etc..

 Autópsia Médico Legal ou Judicial:


Compreende a colheita dos sinais relativos à identificação, dos sinais de morte ou
fenómenos cadavéricos, o exame do hábito externo e o exame do hábito interno.
Necessidade da autópsia - Preceitua o Regulamento “nos casos de morte, ou
consecutiva a ferimentos e ofensas corporais, ou suspeita de envenenamento, ou
qualquer outro género que não seja verificado como natural terá lugar a autópsia”.
Estabelece o art. 226º do Código de Registo Civil que “havendo índicios de morte
violenta ou qualquer suspeita de crime ou declarando o médico ignorar a causa de
morte, deve o funcionário do registo civil, a quem o óbito for declarado, abster-se de
lavrar o assento e comunicar imediatamente o facto às autoridades judiciais ou
policiais a fim de estas promoverem a autópsia do cadáver e as demais diligêncais
necessárias à averiguação da causa da morte e das circunstâncias em que terá
ocorrido.”
Determina o artigo 244 do mesmo Código que “em caso de morte violenta, a
58
inceneração só poderá ser autorizada, depois de realizada a autópsia e com o
parecer favorável do agente do Minitério Público”.
A necessidade da necrópsia nas mortes precedidas de acidentes de viação e de
trabalho ou ocorridas na sua ocasião, é manifesta para estabelecer a independência do
acidente ou, pelo contrário, confirmar a natureza acidental da morte.
Nos casos de agressão, a autópsia indica, umas vezes, que a morte resultou como
efeito necessário da ofensa, demonstra, noutras, a existência de concausas
(diminuindo a responsabilidade do agressor) artigos 361º e 362º Código Penal.
Contribui ainda para se poder presumir se houve ou não intenção de matar artigos
349º,350º ,355º e seguintes.
Estabelece n.º 2 do art.6º do Decreto-Lei n.º42216 de 15 de Abril de 1959, que “nos
demais casos de morte violenta ou de causa ignorada dispensar-se-á a autópsia
desde que no processo instaurado nos termos do art.226 do Código de Registo Civil
não levante a hipótese da existência de crime”.

 A - Objectivos de Autópsia Médico Lega ou Judicial:


É uma operação de interesse social, tem outros objectivos que não existem na
autópsia clínica:
(1)- Determinar o tipo de morte, se a morte foi natural ou violenta, investigando a sua
causa. (2)-
Se a morte for violenta, determinar a causa juridica de morte, se a morte resultou de
acidente, suicídio, homicídio ou infanticídio. (3)-
Determinar a causa básica de morte, isto é, qual foi o instrumento ou objecto que
produziu as lesões, ou ainda o meio empregue.
(4)- Determinar nos homicídios se as lesões foram a causa necessária de morte ou
sómente causa ocasional. (5)-
Determinar nos homicídios se as lesões fazem ou não presumir intenção médico legal
de matar. (6)-
Identificação do cadáver. (7)-
Determinar a data da morte.
Outros quesitos dependendo dos casos em particular e das autoridades judiciais ou
policiais para determinar:
(8)- Se a morte foi rápida ou precedida de agonia.
(9)- Se houve deslocação do cadáver, e qual a sua situação ou posição primitiva.
(10)- Se as lesões observadas na autópsia foram produzidas antes ou depois da morte.
(11)- Qual a lesão mortal , no caso de múltiplas lesões.
(12)- Determinar a cronologia das lesões, número de agressores, a posição dos
agressores e da vítima, identificação dos agressores, etc.
(13)- Solicitar o exame toxicológico.
(14)- Por exemplo, a que distância foi disparado o projectil de arma de fogo, etc..

Interpretação de termos e expressões legais:


Causa necessária de morte e causa ocasional ou acidental; Intenção de matar:
Como a Lei nem sempre indica o que deve entender-se pelos termos e expressões que
contém, sucede que uns e outras são interpretados de modo diferente.
Ferimento necessariamente mortal – escreveu o Prof. Azevedo Neves “o que produz
invariavel e constantemente a morte em quaesquer condições de individuo”.

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Ferimento causa ocasional da morte- citando ainda o Prof. Azevedo Neves no livro guia
das autópsias, Lisboa 1930 “a afirmação de que um ferimento foi apenas causa occassional
demanda que se prove que elle não era sufficiente para, só por si, produzir a morte, e por
outro lado que havia circumstancias particulares no offendido e victima que fizeram com que
a offensa, que n’outros seria benigna, para elle se tornasse mortal”.
Achamos que é fundamental que o Perito tenha a capacidade de determinar se efectivamente
a lesão ou ferimento primário ou causa básica de morte provocou ou produziu enfermidade
mortal, e se houve ainda qualquer circunstância ocasional ou acidental idependente da
vontade do criminoso que foi a causa da morte, pois segundo as Instruções das autópsias os
Peritos são chamados a considerar e distinguir as concausas preexistentes das concausas
supervinientes.
Porque segundo o artigo 362º do Código Penal diz ”Se o ferimento ou espancamento ou
ofensa não mortal, nem agravou ou produziu enfermidade mortal, e se provar que alguma
circunstância acidental, indenpendente da vontande do criminoso, e que não era consequência
do seu facto, foi a causa da morte, não será pela circunstância da morte agravada a pena do
crime” e o artigo 350º do C.P. “ Será punido como tentativa de homicídio ou como delito
frustrado, segundo as circunstâncias, todo o ferimento, espancamento ou ofensa corporal,
feita com intenção de matar, nos casos em que a morte se não seguiu, ou se seguiu por efeito
de causa acidental, e que não era consequência do facto criminoso.”
Intenção de matar- animus necandi descrevemos mais adiante os elementos médico-legais
que caracterizam na avaliação qualitativa do crime de ofensas corporais, está transcrita no
artigo 350º do C.P., vem explicita nos artigos 349º e 355º do Código Penal que determina:
artigo 349º “Qualquer pessoa, que voluntáriamente matar outra, será punida com prisão maior
de dezasseis a vinte anos”, e o artigo 355º “Aquele que matar voluntáriamente seu pai ou
mãe, legítimos ou naturais, ou qualquer dos seus ascendentes legítimos, será punido, como
parricida, com pena de prisão maior de vinte a vinte e quatro anos”.
&1º - Se não houve premeditação, poderá ser atenuada a pena, provando-se a provocação, na
forma que se declara no artigo 375º.
&2º - Se houve premeditação, nenhuma circunstância poderá ser considerada para a
atenuação da pena do parricidio.
&3º - A tentativa do parricídio premeditado será punida com a pena de prisão maior de doze a
dezasseis anos”.

B- Tempos de Autópsia Médico Legal ou Judicial: Em


muitos casos de morte violenta, os peritos não poderão elucidar convenientemente a
Justiça se antes de efectuarem a autópsia, limitarem-se exclusivamente ao exame do
cadáver.
 Informação:
Antes de procederem à autópsia, têm os peritos a faculdade, que lhes dá a Lei, de
examinar o respectivo processo, a fim de colherem as informações judiciais e policiais
relativas ao caso. Diz
o Regulamento “das informações que colherem farão os mesmos peritos uso
discreto, nunca se prevalecendo delas para se pouparem ao encargo de uma
autópsia mais minuciosa e completa, mas sim de modo que as informações havidas
só venham a completá-las e a confirmá-las”.
Há alguns autores que estão em absoluto desacordo sobre a utilidade do conhecimento
prévio da informação antes da autópsia, contudo nós somos da mesma opinão doutros
autores como Afrânio Peixoto, Lacassagne, etc. de que o perito ao tomar
60
conhecimento prévio das circunstâncias que precederam a morte poderá indicar a
adopção de variantes de técnica operatória, as quais são úteis se forem efectuadas a
tempo para o diagnóstico da causa mortis, citando Zacchias “uma autópsia mal feita
não se corrige”.

 Exame do local de facto:


Segundo o Regulamento os peritos “antes de dar princípio à autópsia poderão
requerer para examinar o local onde o cadáver foi encontrado”.
Esta disposição legal na prática não tem sido útil, porque o exame do local, é muito
proveitoso quando é feito de início, por individuos que sabem pesquisar, colher e
fixar os variados vestígios, nem sempre aparentes, que podem encontrar-se.
Locard diz “observar é proceder a uma investigação metódica, segundo plano
préviamente aprendido, e não olhar ao acaso e anotar apenas o que impressiona a
vista.” Em
Maputo, como aliás pensamos que ocorre em todo o país, as autoridades judiciais ou
policiais, sem preparação cientifica para compreenderem o valor da inspecção
cuidadosa dos locais de facto,não fornecem habitualmente aos peritos elementos de
valor.
Geralmente quando o perito requere para examinar o local de facto, já se produziram
profundas alterações, julgamos entretanto que este facto não retira a utilidade ao
exame a posterior, visto que poderiamos reconstituir os factos e eventualmente
encontrarmos algum índicio.
Infelizmente, no nosso meio quando solicitamos às autoridades policiais para nos
deslocarmos ao local de facto, estas não tem correspondido as nossas expectativas no
sentido de permitirem a consumação deste acto pericial importante na maior parte dos
casos. O
ideal seria se o exame do local de facto fosse efectuado antes da remoção do cadáver,
e a maior parte dos autores são unanimes em afirmar que 90% ou mais da autópsia
médico legal está feita quando se examina o cadáver no lugar de facto.
Este procedimento de exame no local de facto antes da remoção do cadáver por uma
equipe de peritos multi-sectorial composta por: médico legista, criminalistas
(dactiloscópista, biológos forense, balistica, fotografo,etc), procurador da república e
inspector da P.I.C. denomina-se de levantamento cadavérico.
A autópsia médico legal começa com o exame do cadáver no local de facto ou onde
foi encontrado o cadáver.
Este acto é uma Diligência Judicial ( auto de levantamento cadavérico), que tem os
seguintes objectivos: (1)-
Certificar efectivamente a morte, requisito fundamental para transladar o corpo para a
morgue e posterior necrópsia. (2)-
Determinar a data de morte com base nos fenomenos cadavéricos ou sinais de morte,
porque quando mais cedo maior é a probabilidade de se determinar com exatidão a
hora/data do exitus ou da morte. (3)- Precisar
o mecanismo de morte, descrevendo - o tipo e localização das lesões traumáticas;
atitude do cadáver (gestos que o individuo fazia na ocasião da morte); posição do
cadáver em relação com os objectos do local, armas, manchas de sangue ou de outro
tipo sinais; examinar o estado da roupa (o seu desalinho, manchas, rasgaduras, etc.);
indicios de luta; estado em que se encontra o local arrumado ou dessarrumado; etc.,
para se efectuar o diagnóstico diferencial médico-légal entre homicídio, suicídio e
61
acidente.. (4)- Documentar por
meio de fotografia métrica judiciária, filmagem e esquemas (desenho).
O artigo 175º do Código do Processo Penal diz: “Nos corpos de delito verificar-se-ão,
por meio de exames, plantas devidamente conferidas, decalques, fotografias ou
quaisquer outros processos, os vestígios que possa ter deixado a infracção, o estado do
lugar em que foi cometido e todos os indícios relativos ao modo como foi praticado e
às pessoas que a cometeram”.
(5)- Ditar o Auto de Levantamento Cadavérico para o escrivão.
(6)- Efectuar a recolha de todos os vestigios ou indicios, objectos ou armas para se
proceder os exames de biologia forense, toxicologia e de criminalistica.
(7)- Mandar proceder a transladação do cadáver para o Serviço de Medicina Legal a
fim de se efectuar a necrópsia.
A lei reconhecendo a importância do estudo dos locais de facto, procura protegê-los
por meio dos artigos 82º e 85º do Regulamento de 16 de Novembro de 1899, artigos
905º,906º e 907º da Novíssima Reforma Judiciária e do artigo 176º do Código do
Processo Penal – que dizem:
Artigo 82º “ O funcionário de saúde, que verificar o óbito, procederá, antes do
levantamento cadavérico, ao exame do hábito externo, ao do local, e à indagação de
todas as circunstâncias que poderiam ter concorrido para a situação do cadáver, ou
que poderiam determinar qualquer facto de observação, tendo valor médico-legal.
& único. Na falta destes funcionários, cumprirá as prescrições deste regulamento o
médico que verificar o óbito”.
Artigo 85º “No prazo de 24 horas, contadas do levantamento do cadáver, o médico
enviará ao director da morgue (hoje Serviço deMedicina Legal) uma nota contendo os
elementos do seu exame e as apreciações que, sobre o assunto, julgar oportunas”.
Artigo 905º “No acto do corpo de delito se apreenderão também todas as armas e
instrumentos, que serviram ao crime, ou estavam destinadas para ele; e bem assim
todos os objectos, que foram deixados pelos deliquentes no lugar do delito, ou
quaisquer outros que possam servir para o descobrimento da verdade. Destas
apreensões se fará declarada menção no auto”.
Artigo 906º”Antes de concluido o corpo de delito não se poderá fazer alguma
alteração no lugar do crime, vestígios, e objecto dele, sob pena de multa, segundo a
gravidade do caso e grau de malícia”.
Artigo 907º “Enquanto se não ultimarem os autos de corpo de delito, os juizes
evitarão que se alterem os vestígios do crime, ou se afastem do lugar dele as pessoas
que dele podem dar informação”.
Artigo 176º do Código do Processo Penal diz ”Logo que tenha noticia da prática de
qualquer infracção que possa deixar vestígios, o juiz providenciará imediatamente
para evitar, tanto quanto possivel, que esses vestígios se apaguem ou alterem, antes de
serem devidamente examinados, proibindo, quando for necessário, sob pena de
desobediência, a entrada ou trânsito de pessoas estranhas no lugar do crime ou
quaisquer outros actos que possam prejudicar a descoberta da verdade.
O mesmo deverá fazer qualquer autoridade ou agente da autoridade que para isso
tenha competência. &
único. Se os vestigios deixados pela infracção se encontrarem alterados ou tivverem
desparecidos, o juiz fará descrever o estado em que encontrou, no acto do exame, as
cousas ou pessoas em que possam ter existido, procurando, quanto possivel,

62
reconstituí-los, descrevendo o modo, o tempo e as causas por que se deu essa
alteração ou desaparecimento”.

 Exame do Vestuário:
Estabelece
o Regulamento que os peritos podem requerer para examinar o fato ou roupa que
trazia vestido o individuo cujo cadáver vão autopsiar.
Se os peritos dirigirem ou presenciarem o levantamento cadavérico, devem começar
por atender ao estado de compustura ou desalinho da roupa, à relação entre a posição
do corpo e a situação de manchas (sangue ou de outro tipo ou género) ou de dobras do
vestuário; nos casos de morte por armas brancas ou de fogo, se os ferimentos
estiveram localizados em regiões habitualmente cobertas pela roupa, é necssário se
esta foi ou não interessada e, no caso negativo, procurar ver se teria sido
proposidatamente afastada ou se foi poupada por mera disposição casual, etc.
O exame do vestuário pode ser útil para a identificação de individuos desconhecidos.
Para facilitar a descrição de soluções de continuidade, manchas ou queimaduras nas
peças de vestuário, tipo, etc. a fotografia, filmagem é muito útil e deve ser realizada.
Muitas das vezes acontece que os cadáveres aparecem no Serviço de Medicina Legal
de Maputo sem a roupa ou peças de vestuário, que é recolhida pela familia ou pelas
autoridades policiais ou judiciais.
Sempre que o julgem conveniente, devem, pois os peritos requisitar ao juiz ou
autoridades competentes a roupa que o individuo trazia vestida na ocasião da morte,
indicando com precisão, a natureza do exame que se pretende.
No caso em apreço aquando da requisição da roupa pelos peritos na maioria dos casos
não é-lhes entregue ou se for vem já lavada, engomada ou remendada.
Nestas circunstâncias os peritos devem assinalar estes factos no relatório e pedir que
também fique exarado no auto.

 Autópsia ou Necrópsia:
O estudo minucioso do cadáver com vista a determinar as causas de morte e as
circunstâncias em que ela ocorreu.
É uma operação de imediato interesse social, compreende a descrição dos sinais
relativos a identificação, sinais de morte ou dos fenómenos cadavéricos, peças de
vestuário que acompanham o corpo, exame do hábito externo em que se deve
descrever a constituição esquelética e estado nutricional, as lesões traumáticas ou
patológicas em cada região do corpo; exame do hábito interno com a descrição das
lesões traumáticas ou anátomo-patológicos encontradas em todas as regiões, visceras
e tecidos.
O tempo que se demora a efectuar uma autópsia médico-legal depende essencialmente
da causa básica da morte, da prática e destreza dos peritos e particularmente do
volume ou número de cadáveres ou casos por autopsiar, e no nosso Serviço de
Medicina Legal de Maputo devido ao número reduzido de peritos e volume de
trabalho não é possivel que se gaste em média duas horas por cada caso, tal como vem
referenciado na literatura.
Principais técnicas de autópsias:
Instrumental: para que uma necrópsia forense seja realizada, o perito deverá dispor
do seguinte material: (1)-
roupa completa da sala operatória: pijamas, batas, barretes, máscaras, óculos plásticos,
63
aventais plásticos, luvas cirúrgicas e luvas de borracha e botas de borracha.
(2)- material médico-cirúrgico com: cabos de bisturis, lâminas de bisturis, tesouras
longas de extremidades em ponta, tesouras longas de extremidades rombas, tesouras
curtas de extremidades em ponta, costótomos, pinças de dissecção, pinças de “dentes
de rato”, facas de vísceras, bisturi abotado, ruginas, serra electrica ou serra de lâminas
manuais, martelo, escopo, estiletes e tentacânulas, raquiótomo de Amussat.
(3)- balanças para órgãos, provetas, cálices e vidros de boca esmerilhada, réguas
métricas metálicas, paquimetro, aspirador, agulhas de sutura e linha crua, cepa de
madeira e mesinhas para corte e estudo das vísceras.
Técnica de autópsia: é um conjunto de procedimentos operatórios que tem como
objectivo facilitar a exteriorização e exame dos ógãos e tecidos que integram o corpo
humano ou organismo animal.
O Regulamento, que contém numerosos preceitos de técnica mas que é
manifestamente deficiente em muitos pontos, determina que “nos casos omissos
devem os peritos guiar-se pelos preceitos geralmente exarados nos livros autorizados
sobre a especialidade médico-legal”.
Ao longo da história, evolucionaram diferentes técnicas e métodos de autópsia, das
quais se destacam:
(1)- Método de Morgagni:é um procedimento clássico ou primitivo, descrito pelo
autor em 1761. (2)-
Método de Rokitansky (1842): da Escola Veneza de Anatomia Patológica, é o
primeiro método ordenado e completo de autópsia, que se fundamenta no exame e
dissecção in situ das vísceras.
(3)- Método de Gohn (1890): modificou a técnica de Rokitansky, introduzindo a
extração dos órgãos em bloco. (4)-
Método de Letulle (1900): introduziu a técnica de abertura das faces anteriores do
torax e do abdomen por meio de uma grande incisão oval, para conseguir uma visão
mais ampla do conjunto das vísceras. A extração das vísceras era em massa e seu
exame fora do cadáver. O
Professor Thoinot aperfeiçou este método. (5)-
Método de Virchow (1893): é a aplicação especifica dos métodos anteriores a prática
forense. Caracteriza-se pelo reconhecimento global das vísceras in situ e seu estudo
separado, uma vez extraídas do cadáver, descrevendo minuciosamente a técnica de
exame de cada uma das vísceras. Éo
método mais universalmente conhecido.
Exame do hábito externo: Se
nas autópsias anátomo-patológicas é importante o exame do hábito externo, muito
mais será nas autópsias médico-legais, onde esse exame assume um valor de mais alta
significação. Este
exame compreende a inspecção ou exame do conjunto e exame dos grandes
segmentos.
Exame do conjunto:
(1)-descreve-se os caracteres humanos somatoscópicos e somatométricos para a
identificação do cadáver tais como: sexo, idade aparente, grupo étnico-rácico, côr dos
cabelos, côr da íris, fómula dentária, anomalias, cicatrizes, tatuagens, sinais
profissionais, peso, altura ou estatura, impressões digitais, o biótipo ou constituição
esquelética e estado nutricional.
(2)- descreve-se os sinais de morte ou fenómenos cadavéricos.
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(3)- descreve-se o vestuário e peças que aacompanham o cadáver.
Exame dos grandes segmentos:em seguida passa-se à descrição dos diversos
segmentos do corpo, na seguinte ordem: cabeça, pescoço, torax, abdomen, anus e
órgãos genitais, membros superiores e membros inferiores.
Cabeça: (1)-
descrevem-se as deformidades, ferimentos e o aspecto do couro cabeludo, precisando
o tipo de lesões traumátticas e as regiões anatômicas atingidas, e outras eventuais
alterações. (2)- na face
descreve-se todas as alterações nela encontradas e as respectivas regiões anatômicas.
Nos orificios naturais deve-es observar se delas fluem liquidos (qual a consistência e
tonalidade), se há objectos ou corpos estranhos a obstaculiza-los.
Pescoço: observa-se a sua mobilidade a fim de se evidenciar fracturas da coluna
cervical, examina-se toda a superficie do pescoço em busca de ferimentos, sulcos ou
quaisquer outros sinais de violência.
Torax: descreve-se devidamente a sua configuração, as lesões encontradas,
localizando-as nas diversas regiões e tomando pontos espeficos (mamilos e outros)
como de referência.
Abdomen: observa-se o seu grau de distensão ou depressão, as alterações e lesões
traumáticas, localizando-as nas diversas regiões anatómicas.
Anus e órgãos genitais:deve-se dar particular atenção nos casos de homicídios e
suicídios, examina-se o períneo em busca das alterações e lesões traumáticas; os
orgãos genitais externos maculinos o pénis e escroto a procura de lesões traumáticas
ou alterações patológicas; a vulva, vagina e hímen em busca de lesões traumáticas e
alterações patológicas; o anús a procura de lesões traumáticas e alterações patológicas;
caso seja necessário deve-se fazer a colheita de material ou secreções para exame
biológico forense.
Membros superiores e inferiores:descreve-se o tipo de lesões traumáticas,
deformidades ou mobilidade a fim de se evidenciar fracturas e outras alterações,
localizando-as nas diversas regiões anatômicas.
Exame do hábito interno:
Coloca-se o cadáver em decúbito dorsal com um cepo de madeira sob a nuca, a
cabeça numa das extremidades da mesa e os pés noutra.
Exame da cavidade craniana: faz-se uma incisão bimastoidea vertical, rebate-se para
trás e para dianteos retalhos do couro cabeludo, anotando as alterações da face interna
do couro cabeludo e dos muscúlos temporais ( por exemplo infiltrações
hemorrágicas). De seguida retira-se o periósteo
da calvária, rebatendo os musculos temporais e descreve-se as alterações da face
externa do crânio (fracturas, disjunções das suturas, etc.), serra-se a calvária em
sentido horizontal. Retirada a
calvária, descreve-se a tonalidade e consistência da dura-mater e, quando presentes as
coleções hemorrágicas (hematomas); corta-se a dura-mater rente ao corte da serra na
calvária, afastam-se para trás os polos frontais, seccionam-se a foice do cerebro, os
nervos e vasos da base do cerebro, a tenda do cerebelo e dentro do canal vertebral
corta-se a medula, retirando todo o bloco encefálico, a fim de ser examinado na mesa.
Descreve-se as alterações do espaço sub-dural, a transparência da pia-mater e da
aracnoide, os vasos do circulo arterial do cerebro.
Descola-se então a dura-mater da base do crânio, a fim de examinar detalhadamente
as estruturas ósseas, descrevendo as alterações da base do crânio (fracturas e outras
65
lesões).
Separa-se o cerebro dos outros elementos do encéfalo; abre-se os ventriculos laterais,
descrevendo a tonalidade do líquor e examina-se os núcleos de base. De seguida
usando a técnica de Virchow, faz-se vários cortes longitudinais nos hemisférios
cerebrais, anotando todas as lesões, a consistência, o aspecto e a tonalidade da massa
cerebral. Corta-
se o cerebro em duas metades na direcção dos pendúculos cerebelares e descreve-se as
alterações encontradas. E, finalmente faz-se vários cortes na ponte e bulbo,
procurando localizar infiltrados hemorrágicos.
Exame do pescoço e das cavidades toráxica e abdominal: com o cadáver colocado
em decúbito dorsal e as espáduas calçadas por um cepo de madeira de modo que a
cabeça fique pendende e o pescoço distendido, faz-se uma incisão mediana mento-
pubiana. Exame do pescoço: rebate-se a pele
e o tecido celular subcutâneo para um lado e para outro lado, examinando atentamente
as alterações (infiltrações hemorrágicas do tecido celular subcutâneo e da
musculatura, as rupturas musculares, etc.).
Secciona-se os músculos supra-hiódeos e disseca-se a lingua com o bloco visceral
constituido pela laringe, traqueia, glândula tireóide e esofago, pondo a descobertoas
arterias carótidas comuns, veias jugulares internas e os nervos vagos; e anota-se as
alterações que eventualmente existam no paquete vasculo-nervoso (sufusões
hemorrágicas na túnica externa da carótida, secção da túnica interna da carótida, etc.),
as lesões retrofaringeas (equimoses e outras).
Tomando o bloco, faz-se o exame externo da língua, abre-se em toda a extensão a
faringe e o esofago, descrevendo as alterações. O
exame do osso hióide têm importância nas mortes suspeitas de traumatismo cervical
ou asfixias mecânicas, disseca-se os tecidos moles até por a descoberto o osso.
A laringe deve ser aberta na linha mediana, expondo as cordas vocais, amplia-se a
incisão até a traqueia a fim de se descrever as alterações (fracturas, corpos estranhos,
liquidos, etc.).
Exame do torax e abdomen:a incisão mento-pubiana deve atingir o plano
aponeurótico do pescoço e torax alcançado a cavidade peritoneal.
Após a abertura da cavidade peritoneal, rebate-se todo o plano de estruturas moles do
torax para os lados, pondo a descoberto as cartilagens costais, desarticula-se as
claviculas com bisturi abotoado e retira-se o plastrão condro-esternal, deixando à
mostra os órgãos toraxicos.
Abertas as cavidades toraxicas e abdominal, aprecia-se as vísceras do abdomen, do
conteúdo peritoneal, o aspecto e consistência do peritoneu. Depois descreve-se as
condições do plastrão condro-esternal e das costelas, as cavidades pleuro-pulmonares
e seu conteúdo.
Descreve-se os pulmões nas cavidades, e retirando-os, examina-se a forma,
consistência, volume, aspecto e as lesões que proventura existam, e posteriormente
fazem-se incisões observando a tonaliadade de sua superficie de corte, e pela
expressão do órgão inteirar-se da existência de edema, sua natureza, seu aspecto e sua
consistência. Em
seguida abre-se os brônquios, observando o seu calibre e conteúdo, os vasos
pulmonares anotando se existem ou não coágulos no lúmen arterial.
O exame do coração, faz-se abrindo de inicio o pericardio analisando sua consistência
e contéudo; cortam-se os vasos da base do coração e examina-se o sangue do seu
66
interior; depois a grosso modo examina-se o volume, forma e consistência do coração,
abre-se o coração por meio de técnicas próprias (incisões auriculo-ventriculares) a fim
de se examinar o interior (a túnica íntima da aorta, os óstios das arterias coronárias, os
septos auriculo-ventriculares e suas valvulas, etc.), a espessura do miocardio e
eventuais alterações.
Na cavidade abdominal, antes de se reirar orgão por orgão, faz-se o exame do
conjunto. Geralmente o primeiro órgão a ser estudado é o figado, segue-se o
estômago, pâncreas, baço, jejuno-ileo e intestino, rins, bexiga, útero e ovários ou
prostáta. Também
pode-se fazer o exame dos orgãos, pela evisceração em bloco do complexo das
vísceras oro-cervico-toráco-abdomino-pélvicas seguindo o método de Rokitansky,
com algumas modificações; e sobre o complexo, efectua-se o estudo de cada estrutura,
usando a técnica apropriada a cada uma, extraem-se as medidas necessárias de cada e
das coleções existentes nas cavidades naturais.
Exame da cavidade vertebral: com o cadáver em decúbito ventral, sob dois cepos de
madeira, faz-se uma longa incisão mediana sobre os processos espinhosos, desde a
protuberância occipital até ao coccix.
Após a exposição do plano ósseo, rebatem-se para um e para outro lado a pele e tecido
celular subcutânea, retirando a massa muscular até pôr à descoberto as goteiras e
lâminas vertebrais.
Por meio de uma serra dupla de Luer ou raquítomo de Amussat ou de Brunetti,
secciona-se as l6aminas vertebrais de cada lado, expondo a superficie externa da dura-
mater, observa-se nessa altura todo o esqueleto ósseo vertebral e anota-se as alterações
(fracturas por exemplo). De
seguida abre-se a dura-mater, observa-se o líquor, seu aspecto, e palpa-se a medula em
toda a sua extensão, para sentir a consistência, e finalmente retira-se para seu estudo
na mesa, por meio de vários cortes transversais de bisturi em toda sua extensão,
descreve-se as alterações (hemato-mielia-traumática).
Exame das cavidades acessórias da cabeça: são sa cavidades orbitárias, as fossas
nasais, os ouvidos, os seios frontais, seios maxilares e seios esfenoidais.
O seu estudo é excepcional e usa-se as técincas e métodos de abordagem apropriadas
para tal. Importa
salientar que a autópsia médico-legal pode ser terminada pela abordagem músculo
esquelética no tronco e membros superiores e inferiores; excepcionalmente na face,
para pesquisa de lesões que externamente não são visiveis no hábito externo
(equimoses, rupturas musculares, fracturas, etc.).

 Reconhecimento cadavérico :
É quando o perito decide não efectuar o exame do hábito interno porque o corpo
apresenta lesões traumáticas vitais no hábito externo que justificam a morte. Este
preceito vem estabelecido no n.o 2 do Artigo 6º do Decreto-Lei n.o 42 216, de 15 de
Abril de 1959, que “nos demais casos de morte violenta ou de causa ignorada
dispensar-se-á a autópsia desde que no processo instaurado nos termos do artigo 226º
do Código de Registo Civil não se levante a hipótese da existência de crime.”

 Exumação:
É o desenterramento dum cadáver com a finalidade de atender as solicitações das
autoridades policiais ou judiciais para averiguar uma causa exacta da morte,
67
esclarecimento ou confirmação de um detalhe, identificação do corpo ou ainda
dependendo dos quesitos como por exemplo numa grave contradição das informações
constantes nos autos ou ainda a confirmação de um diagnóstico.
Também pode ser efectuado para atender às necessidades sanitárias ou familiares para
a transladação do corpo.
Procedimentos: (1)-
certificar junto da administração do cemitério a hora e data da realização do exame.
(2)- Convidar as autoridades policiais, familiares do decujo e testemunhas constantes
nos autos para efectuarem a identificação da sepultura.
(3)- Comfirmado a sepultara os peritos devem na presença das autoridades policiais e
judiciais começar o ditame para o escrivão com auxilio de fotográfias e filmagem.
(4)- O exame cadavérico é efectuado com a mesma técnica das necrópsias , descrever
com detalhes a sepultura, o caixão, o vestuário, aspecto do cadáver e evolução da
putrefação. Deve-se recolher um pouco da terra que se encontra sobre o caixão ou
sobre o cadáver, fragmentos do caixão e retalhos do vestuário para posterior exame,
em particular nos casos em que há suspeita de envenenamento.

 Status Legal do Cadáver: É


um conjunto de leis, normas e regulamentos avulsa que tem com base legal o Código
Civil que no seu artigo 68º refere que com a morte termina a existência juridica da
pessoa. São
os dispositivos legais constantes no Código Civil, Código de Registo Civil, Código
Penal, Código do Processo Penal, Regulamentos e Normas Sanitárias, Municipais, etc
dirigidas ao cadáver, que tratam do seu maneio, desde a semi-posse e direitos
familiares, repeitar as vontades manisfestas por escrito ou oralmente do decujo,
repeitar interesses superiores da sociedade do ponto de vista sanitário, judicial e da
moral pública como por exemplo onde deve decorrer as cerimónias fúnebres, destino
final do cadáver, etc. Cadáver do
ponto médico-legal não é uma pessoa e também não é uma coisa, é sim um corpo sem
vida que foi uma pessoa, isto é, teve uma personalidade Juridica segundo o art. 66º do
Código Civil, pelo que requere tratamento especial.

Do relatório da autópsia dos peritos, diz o Regulamento:


“Convirá sempre que os peritos se reservem elaborar o seu relatório com mais reflexão e
tranquilidade, solicitando do magistrado que presidir ao acto, a razoável dilação de alguns
dias, até oito, e só muito excepcionalmente mais, conforme a complexidade particular do
caso. Entretanto devem os peritos tomar desde logo as suas notas de tudo quanto forem
oobservando e reconhecendo, para que não haja risco de esquecimento de alguma noção
conveniente, quando redigirem o seu relatório. Nos casos de morte por ferimentos, terão os
peritos que responder aos quesitos que lhes forem propostos judicialmente e em que nunca
deixam compreender-se os seguintes principios:
a)- Se a morte resultou ou não do ferimento ou ferimentos encontrados.
b)- Se tais ferimentos causa necessária da morte.
c)- Se somente foram causa ocasional e acidental.
d)- E, proventura e ainad, com que intenção.
A afirmação de que a morte resultou necessariamente do ferimento exige que se demonstre-
que tal ferimento produzirá invariável e constantemente a morte em quaisquer condições de
individuo; do mesmo modo que a afirmação a afirmação de que um ferimento foi apenas
68
causa ocasional demanda que se prove que ele não era suficiente para, por si só, produzir a
morte, e por outro lado também que havia circunstâncias particulares no ofendido e vítima
que fizeram com que a ofensa, que noutros seria benigna, para ele se tornasse mortal. Nos
casos de morte imprevista ou de causa desconhecida, ainda que a autópsia dê resultados
negativos e não descubra causa alguma de morte violenta, nem motivo de suspeita, e
conquanto seja possivel em muitos de tais casos ser a morte natural, será preciso que todos
os outros meios de investigação, e inclusivamente a análise toxicológica, deêm também
resultado negativo, para que os peritos se julguem autorizados a excluir com segurança a
hipotese de crime. No relatório devem os peritos responder o mais precisamente que lhes for
possível aos quesitos propostos, justificando as suas conclusões ou asserções, com a citação
dos dados da autópsia que em seu entender as abonem.
Em toda a sua exposição deverão os peritos ser concisos, sem deixar de ser precisos e
claros; e para isto convém que nunca empreguem termos técnicos, ininteligiveis para a
maior parte, sem ao mesmo acrescentarem a correspondente noção em termos vulgares.
Finalmente, a quererem os peritos discutir algum dos pontos a que se hajam referido,
deverão fazê-lo de modo que não obscureçam as conclusões e afirmações essenciais, nem
tão-pouco difilcultem a sua inteligência.”

Nb- por os esquemas do corpo humano e modelo de relatório de autópsia do Serviço de


Medicina Legal.

69
IV- ANTROPOLOGIA FORENSE OU IDENTIFICAÇÃO
ANTROPOLÓGICA
1- Noções gerais:
O homem como ser social tem a capacidade de se adptar ao meio físico e ambiente
cultural onde se instala, estabelecendo padrões de comportamento social de reciprocidade,
aceitando ou rejeitando certos valores.
Etimológicamente Antropologia provem da expressão grega anthropos,logos, ia que
significa Ciência do homem.
Antropologia é a ciência que estuda o homem, a sua origem e evolução, os seus caracteres
físicos ou pisiquicos, as suas tendências sociais, as suas relações com o meio ambiente e se
preocupa igualmente das sociedades humanas e das práticas socialmente adquiridas e
transmitidas.
Antropologia é a ciência que estuda a evolução do homem sob aspecto físico e cultural,
preocupa-se com a sua origem, sua posição na escala zoológica e a compreensão acerca
dos diferentes grupos étnicos e sociedades.
Aristótles que viveu entre 383 a 322 A.C. designava de Antropólogos os filósofos que se
preocupavam com o estudo dos factos sociais e com a história natural, a expressão ou
vocábulo antropologia surgiu sómente no principio do sec. XVI em 1501 quando Magnus
Hundt publicou um livro com esse titulo.
Entretanto no sec. II, Galeno nascido em 129 d.C. realizou vários estudos sobre o homem
valendo-se dos símios, porque o cadáver humano era intocável. Mais tarde Vesalius no
sec. XVI criticou os trabalhos de Galeno, afirmando que o estudo comparativo era válido,
mas não se podia afirmar como análogo ao de ser humano, seus seguidores Sylvius,
Estáquio, Bertolin entre outros vieram confirmar estes factos.
A ciência antropológica pode ser dividida em Antropologia Cultural que se preocupa com
o estudo das sociedades e Antropologia Física que se preocupa com o estudo das
variações qualitativas e quantitativas dos caracteres humanos somatoscópicos (estuda as
variáveis qualitativas - cor da pele, cor dos olhos, etc); somatométricos (estuda variáveis
quantitativas – altura, medidas do cranio, etc ) e a hemogenética (grupos sanguineos,
DNA).
2- História da Identificação:
70
É muita antiga , no Código de Hamurabi, dos caldeus e babilônios havia referência na
forma de identificação dos criminosos com amputações de órgãos tais como orelhas, nariz,
dedos até vazamento dos olhos dependendo da infracção.
Em França antes da revolução era praxe ferrar os ladrões e vagabundos com uma flor-de-
lis no rosto e região escapular. Os criminosos primários eram marcados V e os reincidentes
com GAL (gallerien).
Com a humanização dos costumes, estas formas arbirárias e desumanas foram
desaparecendo. A ciência evolui e surgiram meios e recursos para uma estruturação
cientifica da identificação.
É inquestionável nos dias de hoje o valor e a importância da Identificação, maiores são as
exigências no que diz respeito a Identidade individual nas relações sociais, interesses
civis, administrativo, comercial e penal.
Acrescenta-se os imperativos de identificar cadáveres decompostos, restos cadavéricos,
esqueletos até mesmo peças osseas desarticuladas.
3- Conceitos:
Identidade:
É um conjunto de caracteres que individualiza uma pessoa ou coisa fazendo-a distinta das
demais.
Identidade Pessoal Absoluta – é a determinação integral da individualidade de uma
pessoa, isto é, são os elementos que o caracterizam.
Identidade Pessoal Relativa – é quando se estabelece únicamente algum caracter, alguma
condição ou peculiaridade que se relaciona com a pessoa.
Identidade Objectiva – é a que nos permite afirmar tecnicamente que determinada pessoa
ou coisa é ela mesma por apresentar um elenco de elementos positivos e perenes que a
distinguem das demais.
Identidade Subjectiva – é a sensação que cada individuo tem de que foi e será ele mesmo
ou seja, a consciência da sua própria identidade ou do seu “eu”.
Identificação:
É o processo pelo qual se determina a identidade de uma pessoa ou coisa, ou seja, é uma
diligência cuja finalidade é levantar a identidade.
É um conjunto de meios ou técnicas empregadas para que se obtenha uma identidade.
Identificação Médico Legal – é feita por médicos legistas ou biológos forenses. Exige-se
conhecimentos médicos, biológos e de outras ciências auxiliares empregando técnicas
médico-legais.
Identificação Policial ou Judicial – é feita por leigos em medicina, peritos em
identificação. A sua fundamentação reside no uso de elementos antropométricos e
antropológicos para a identidade civil e caracterização dos criminosos primários ou
reincidentes.

Reconhecimednto – é uma afirmação laica, de um parente ou conhecido sobre alguém ou


coisa que diz conhecer. É apenas um acto de certificar, admitir como certo ou afirmar
conhecer. O

71
familiar ou pessoa que reconhece uma pessoa ou coisa nas Instituições Médico Legais deve
assinar um Têrmo de Reconhecimento.

4- Elementos Biológicos ou Técnicos para eleger um método de Identificação:


 Unicidade ou Individualidade: conjunto de elementos biológicos especificos naquele
individuo que é diferente nos demais.
 Imutabilidade: são caracteristicas biológicas que não mudam e não se alteram ao
longo do tempo.
 Perenidade: é a capacidade que certos elementos biológicos tem de resistir à acção do
tempo, permanecendo toda a vida e até depois da morte.
 Practicabilidade: é um processo técnico que não seja complexo para a obtenção e
registo dos caracteres.
 Classificabilidade: é um processo técnico metodologico para arquivar os registos dos
dados, a sua facilidade e rapidez para busca dos mesmos dados.

5- Identificação Médico Legal: Este


processo de identificação exige-se conhecimentos e técnicas médico-legais e de outras
ciências auxiliares, pode ser efectuada quanto a:

 Espécie: é fácil muitas das vezes fazer a identificação de um animal vivo ou morto
com configuração normal. Entretanto quando estamos perante fragmentos ou partes
do corpo de um animal, é necessário distinguir com restos humanos.
Este estudo deve considerar os seguintes elementos:
(1)- Ossos:a distinção entre os ossos de animais e do homem pode por:
- Estudo da Anatomia Comparada, descrição das caracteristicas morfologicas em
relação as dimensões e outros caracteres que os distingue.
– Estudo microscópico pela observação dos canais de Havers que são em menor
número e mais largos no homem, mais estreitos, redondos e mais numerosos nos
animais. –
Estudo Imunológico, por meio das reacções biológicas, usando as provas de
anafilaxia, fixação do complemento e soro-precipitação.
(2)- Sangue: quando estamos perante uma mancha é imprescindível determinar que
tipo de mancha se trata (sangue?, outra secreção orgânica? Ou produto quimico?).
Para determinar se se trata de uma mancha de sangue, recorre-se a um teste simples
para a pesquisa de Cristais de Teichmann .
Sendo positivo deve-se determinar a espécie por meio de: - Exame microscópico das
hemacias que tem forma e dimensão diferentes e a presença ou não de núcleos.
- Também pode-se efectuar exames biológicos, método mais seguro, provas de
anafilaxia, fixação de complemento e soro-precipitação.

 Raça:
(1)- Tipos Étnico-Rácicos Fundamentais:Este estudo visa a descrição dos caracteres
biológicos qualitativos somatoscópicos dos diferentes grupos étnicos-racicos.
É importante realçar que não existe raça superior ou raça inferior, e que vários seculos
da história da humanidade e a globalização permitiram a miscisnagem e intercâmbio
cultural entre povos e grupos étnico-racicos.
De modo que muitos autores são unanimes em afirmar que não existe hoje raças
72
puras, mas grupos étnicos-rácicos que aparentam exteriormente caracteres biológicos
somatoscópicos que recordam os nossos ancestrais originários dos cinco continentes.
Segundo Ottolenghi existem cinco tipos étnico-rácicos fundamentais: Tipo Negróide
(pele negra), Tipo Caucasóide (pele branca), Tipo Mongolóide (pele amarela), Tipo
Indio ou Indiano (pele amarelo-trigueira) e Tipo Australóide ( pele trigueira).
A expressão “óide”provem do grego que significa “forma”, exprime a noção de
aspecto, forma.
(2)- Elementos de Caracterização Racial:Este estudo visa a descrição dos caracteres
biológicos qualitativos, sobretudos os caracteres biológicos somatométricos:
– Forma do crânio: descreve-se a semelhança geométrica que tem as formas dos
crânios vistas de cima para baixo, de diante para trás e lateralmente.
– Indice cefálico:descreve-se os caracteres somatométricos, com base na Fórmula de
Retzius: largura x 100/comprimento.
Obtem-se os seguintes tipos:
- Dolicocéfalos: índice igual ou inferior a 75.
- Mesaticéfalos: índice de 75 a 80.
- Braquicéfalos:índice superior a 80.
– Indice Tíbio-femoral: comprimento da tíbia x 100/comprimento do fémur.
– Índice Rádio-Humeral: comprimento do rádio x 100/comprimento do húmero.
– Ângulo Facial: o objectivo é determinar-se o prognatismo. Segundo Jacquart, o
ângulo de 76,5 é tipico dos caucasoides, ângulo de 72 tipico dos mongoloides e
ângulo de 70,3 tipico dos negróides.

 Sexo:
O sexo é um dos elementos constituitivos da personalidade de um individuo, a ele
vem acoplado outros elementos de Identificação Judicial ou Policial.
A sua determinação não se baseia somente no sexo somático, tem em consideração os
caracteres genéticos, morfológicos ou anatómicos, hormonais ou glandulares,
psicológicos ou comportamentais e jurídico-legais.
(1)- Sexo Cromossómico ou Genético: é definido pela avaliação dos cromossomas
sexuais e pelo corpúsculo florescente. É do sexo masculino o que tiver 46XY e
corpos florescente, do sexo feminino o que tiver 46XX e não conter corpos
florescentes. (2)-
Sexo Gonádico: é definido como sendo do sexo masculino o portador de gónadas
masculino – os testículos, e do sexo feminino a portadora de gónadas femininas – os
ovários. (3)-
Sexo Cromatínico: é definido pela presença de corpúsculos de Barr presentes nos
nucléolos de celulas femininas. É do sexo feminino se for cromatínico positivo, e do
sexo masculino se for cromatínico negativo.
(4)- Sexo Genital Interno: é definido como sendo do sexo masculino se houver
desenvolvimento dos ductos de Wollf, e do sexo feminino se houver desenvolvimento
dos ductos de Múller.
(5)- Sexo Genital Externo ou Fenotípico: é definido como sendo do sexo masculino o
que tiver pênis e escroto com os testiculos presentes, e do sexo feminino o que tiver
vulva, vagina e desenvolvimento dos seios. É com este tipo de sexo que os recém-
nascidos são registados nas maternidades.
(6)- Sexo Jurídico: é o sexo com que se é registado no Registo Civil. Também é assim
designado quando as Autoridades Legais mandam que se registe um individuo num ou
73
noutro sexo, após suas convicções médico-legais, morais ou doutrinais.
(7)- Sexo de Identificação Psíquico ou de Identificação Comportamental ou Sexo
Moral:é definida pela identificação sexual que o individuo faz de si próprio e que se
reflecte no seu comportamento.
(8)- Sexo Médico Legal: é determinado após uma perícia médica nos portadores de
genitália dúbia ou estados inter-sexuais, quando solicitado pelas Autoridades Policiais
ou Judiciais por diversas razões.
A complexidade na determinação do sexo depende das circunstâncias.
Num ser normal, vivo ou morto recentemente a determinação do sexo é muitas vezes simples
pela descrição morfológica e anatómica do individuo.
Nos casos de sexo dúbio ou estados inter-sexuais a sua determinação implica o uso de meios
técnicos mais complexos como por exemplo a pesquisa de cromatina sexual,
cromossomas sexuais, etc.
Nos casos em que o cadáver apresenta-se em estado avançado de putrefação ou cadáver
mutilado deve-se abrir a cavidade abdominal verificar se este apresenta o útero ou próstata
para a determinação de sexo.
No esqueleto ou nos casos de peças ósseas a determinação do sexo faz-se principalmente
por estudo dos caracteres somatoscópicos e somatométricos dos ossos do crânio, do
torax e da pelve. Geralmente o esqueleto humano no seu conjunto num individuo do sexo
masculino é maior, mais resistente e com extremidades articulares maiores.
– Crânio: no homem o crânio tem maior capacidade que na mulher; as apófises
mastóideas são rugosas e mais proeminentes, na mulher pouco proeminentes; os
arcos superciliares são salientes, na mulher são suaves; os côndilos occipitais são
longos e delgados, na mulher são curtos e largos; a mandibula do homem pesa mais
que na mulher.
– Torax:no homem assemelha-se a um cone invertido, na mulher parece ser ovóide;
no homem há predominância da cintura escapular, na mulher predomina a cintura
pélvica.
–Pelve: é a estrutura óssea em que há maior diferenciação dos caracteres. No homem a
consistência ossea é mais forte, rugosa, há predominio das dimensões verticais em relação
as horizontais; na mulher o dimensões horizontais ou transversais predominam em
relação as verticais , e o ângulo sacro-vertebral é mais fechado e saliente.

Tabela de Ramírez
caracteres masculino Feminino
Em geral Rugosa, com inserções Lisa, com inserções
musculares marcadas pouco proeminentes
De coração Circular ou eliptico, mais
Forma (estreito superior) amplo
Íleon Alto Baixo
Articulação sacro-ilíaca Grande Pequena e mais oblíqua
Acetábulo Grande e dirigido para o Pequeno e dirigido
lado antero-lateralmente
Buraco obturador Grande e oval Pequeno e triangular
Corpo do púbis Triangular Quadrangular
Sínfise do púbis Alta Mais baixa
Ângulo subpubiano Estreito e em forma de V Ampla e em forma de U

74
Sacro Longo, estreito e pouco Curto, largo e
curvo, podendo ter mais marcadamente curvo em
de 5 segmentos S-1-2 e S-3-5, sempre
com 5 segmentos
Escavação pélvica É relativamente mais Mais obliqua e curta,
pequena mais espaçosa; mais
limitada entre as
tuberosidades isquiáticas

 Idade:
Para a determinação da idade, deve-se considerar os seguintes métodos ou elementos:
(1)- Aparência: É fácil geralmente distinguir um recém-nascido de um jovem ou de
idoso. A maior dificuldade está em estabelecer diferenças por este método nas faixas
etárias transitórias, e a medida que a idade vai avançado mais dificil se torna. O valor
deste método somatoscópico ou elemento na determinação da idade é bastante
subjectivo. (2)-
Pele: Este método somatoscópico avalia o surgimento das rugas. Começam
geralmente entre os 25 e 30 anos de idade, nas imediações das comissuras externas
das pálbebras, depois surgem nas comissuras nasolabiais, pescoço e região frontal.
É importante realçar que há muitos factores que intervêm na sua génese, desde os
factores socio-economicos, doenças, tratamento da pele com cremes, cirúrgias
plásticas, etc., que tornam este método de insignificante importância para a
determinação da idade.
(3)- Pêlos:este método somatoscópico avalia o surgimento dos pêlos póst-puberdade.
No sexo feminino os pêlos pêlos púbicos surgem geralmente entre os 12 e 13 anos, os
axilares dois anos mais tarde. No individuos do sexo masculino os pelos pubianos e
axilares surgem entre 13 e 15 anos.
(4)- Globo Ocular: este método somatoscópico avalia o surgimento do arco senil que
é uma faixa acizentada na córnea, composto por colesterol, triglicéridos e fosfolípides.
Está presente em 20% dos individuos acima dos 40 anos de idade e em 100% dos
octagenários. (5)-
Marcha de Ossificação por meio radiológicos: este método somastoscópico avalia
desde o estado embrionário até aos trinta anos, em que começa a fase regressiva. Esta
evolução começa com a aparição dos núcleos de ossificação no feto, a transformação
do esqueleto cartilaginoso em ósseo, encerramento das fontanelas e o surgimento dos
núcleos de ossificação nas epifises. Depois na vida extra-uterina o crescimento
longitudinal dos ossos leva a soldadura das eifises com as diafises que ocorre aos
vinte e dois anos de idade, e até aos trinta ainda não há sinostosis das suturas craniais.
A partir dessa idade começa a fase regressiva com modificações nos ossos e
ossificação dos cartílagos. (a)-
encerramento das fontanelas: as laterais entre os três a quatro meses de vida; as
fontanela anterior fecha-se até ao décimo quinto mês.
(b)- núcleos de ossificação: tem grande valor no estudo da idade de seres vivos ou
cadáveres recentes, desde o nascimento até aos dezoito anos.
(c)- soldadura das epifises: este periodo vai dos dezasseis anos até aos vinte e dois. -
-- 17 anos soldam-se o olecraneo. Extremidade inferior do húmero, as três peças da
coxa na cavidade cotoloidea e extremidade superor do fémur.
-18 anos extremidade superior do rádio, cabeça do humero e extremidade inferior da
75
tibia. –
19 anos soldam-se cabeça do húmero, cabeça do fémur, extremidade inferior do
femur, extremidade superior e inferior da tibia.
– entre 19 a 22 anos é fundamental pesquisar a soldadura da cabeça do húmero que
está presente até aos vinte e dois anos.
(d)- apagamento das suturas cranianas: as sinostoses ou apagamento das suturas
cranianas na face interna e externa para a determinação da idade, sendo de maior
significância o apagamento na face externa que começam depois dos vinte e dois
anos. (6)-
Dentes: este método somatoscópico avalia o surgimento dos dentes, que tem uma
época própria para brotarem dependendo do tipo de dentição (primeira ou segunda).
Na prática a fórmula dentária de 16/16 presume-se que seja de um individuo superior
a 18 anos, a fórmula de 14/14 de um individuo maior de 14 e menor de 18 anos e a
fórmula de 12/12 de um individuo menor de 14 anos.
A determinação da idade também pode ser feita a partir do crescimento de cada dente,
desde a vida intra-uterina até aos 25 anos de idade através da cronologia da erupção
dentária decídua ou permanente.
– Primeira Dentição:
Dente Mínimo Máximo Médio
Incisivos centrais inferiores. 5 meses 12 meses 7 meses
Incisivos centrais superiores 6 meses 14 meses 9 meses
Incisivos laterais superiores 7 meses 18 meses 11 meses
Incisivos laterais inferiores 8 meses 19 meses 13 meses
Primeiros molares superiores 12 meses 26 meses 15 meses
Primeiros molares inferiores 12 meses 25 meses 17 meses
Caninos 16 meses 30 meses 22 meses
Segundos molares 18 meses 36 meses 26 meses

- Segunda dentição:
Dente Mínimo (anos) Máximo (anos) Médio (anos)
Primeiros grandes molares 5 8 5 e meio a 6
Incisivos centrais 6 10 6 e meio a 10
Incisivos laterais 7 12 8 a 8 e meio
Primeiros pré-molares 8 14 9 a 9 e meio
Segundos pré-molares 10 15 10 e meio a 11
Caninos 9 15 11
Segundos grandes molares 10 15 12
Terceiros grandes molares 15 28 18

 Estatura:
Este método somatométrico é avaliado no vivo com o individuo em pé, na posição
vertical. No
cadáver obtem-se por meio de uma régua especial de madeira cujas hastes tocam no
ponto mais alto da cabeça e na face inferior do calcanhar.
Quando temos somente restos cadavéricos, a avaliação faz-se por meio dos ossos

76
longos dos membros em particular dos membros inferiores, utilizando a tábua
osteométrica de Broca, ou as tabelas de Etienne-Rollet, etc.

 Sinais individuais: Este


método de identificação somatoscópico, permite identicar os individuos por meio de
certos sinais particulares, tais como unhas roídas, nevos, manchas, verrugas, etc.

 Malformações: É
um método de identificação somatoscópico, as malformações podem ser congénitas
ou adquiridas, tais como lábio leporino, consolidação viciosa de uma fractura, etc.

 Sinais profissionais: É
um método de identificação somatoscópico, são estigmas ou marcas que ficam no
corpo ou regiões devido ao exercicio de uma actividade profissional rotineira que
perdura ao longo do tempo ou anos, como por exemplo calos nos dedos dos
sapateiros.

 Biótipo: É
um método de identificação somatométrico, tem grande relevância para a psiquiatria.
Avalia as crianças em eutróficas ou distróficas, os adultos conforme o seu biótipo em
normolíneo, longíleno e brevíleneo, podendo ainda existir extremos como atlético e o
picnico.

 Tatuagem: É
um método de identificação somatoscópico, a expressão provem do polinésio tão-tão
que significa tatuagem. Éa
inoculação intradermica de substâncias corantes ou escarificações na derme que é
tipico das tatuagens tradicionais.
As motivações da escolha do desenho e tipo pode ser das mais variadas, Ipso facto,
classificam-se em: tradicionais para amor, proteção, profissionais, afectivas,
patrióticas, etc.
 Cicatrizes:
É um método de identificação somatoscópico, também serve para referir factos ou
estados patológicos anteriores.
As cicatrizes classificam-se em:
(1)- cicatrizes cirúrgicas: são produzidas por um tratamento médico-cirúrgico, por
exemplo após uma laparatomia.
(2)- cicatrizes patológicas:são produzidas após uma vacina tipo tuberculina ou devido
a uma doença por exemplo pós escabiose.
(3)- cicatrizes traumáticas:são produzidas por acção de um agente mecânico, físico,
após um trauma intencional ou não intencional, por agressão ou acidente de viação
por exemplo.

 Odontologia Legal:
Os dentes constitue um elemento fundamental de identificação médico-legal, tem
grande valor devido a extraordinária capacidade de resistência que tem aos agentes
que acasionam destruição dos tecidos moles tais como: a putrefação, agentes

77
traumáticos, agentes físicos, agentes quimicos, etc.
Também pode-se afirmar que não há duas pessoas com a mesma dentadura, dada
grande variedade de caracteristicas pessoais ou individualizadoras que são
proporcionadas pelas peças dentárias.
Este método é de grande valia nos casos de catástrofes ou desastres naturais ou
provocados que causam a morte colectiva de muita gente com destruição dos
cadáveres, infelizmente frequente no nosso meio, tais como acidente ferroviário de
Tenga em 2002, acidente de viação envolvento os transportadores semicolectivos, etc;
em que os métodos habituais e simples não tem sucesso tais como impressões digitais,
traços fisionómicos, objectos pessoais, etc.
É um método de identificação somatoscópico, estuda as arcadas dentárias de um
individuo e compara com uma ficha dentária anterior fornecida pelo dentista ou
familia.
Importância Médico-Legal:
(1)- A ficha dentária é importante para a identificação dos cadáveres desconhecidos
isolados ou em vítimas de catástrofes ou acidentes de qualquer genero ou tipo.
(2)- O estudo das arcadas dentárias permite a determinação da especie, raça, sexo,
idade, altura do individuo.
a)- especie: estes diagnóstico diferencial surge quando aparecem dentes isolados,
geralmente é feito pelo estudo da anatomia comparada, descrição morfológica.
Os dentes humanos a coroa e a raiz estão no mesmo plano dando um aspecto
longitudinal recto ao contrário os dentes dos animais tem a raiz muito curva
produzindo assim uma angulação.
b)- raça: os dentes que apresentam maior diferenciação étnico-rácico sãos os molares,
existem três grupos descretivos: prognatas para o grupo de origem negroide;
ortognata para o grupo de origem caucasoide e primitivo para o grupo de origem
australoide. c)-
sexo: os dentes que permitem fazer essa diferenciação são os incisivos centrais
superiores, que são mais volumosos no homem.
d)- altura: existem formulas para o estudo da altura, idealizadas por Prof. Carrea,
outra de Bloise. É importante nos casos em que o cadáver está esquartejado e só
dispomos de dentes. A
determinação da idade foi referenciado na alínea para a identificação médico-legal da
idade.
(3)- O estudo das arcadas dentárias superiores e inferiores permite a identificação das
vítimas e dos autores nas lesões produzidas por mordeduras humanas.
A Federação Dentária Internacional sistematizou a numeração dos dentes
nb colocar os esquemas de classificação dos dentes.

 Palatoscopia ou Rugoscopia Palatina:


É um método de identificação somatoscópico, estuda as pregas palatinas transversas
presentes na abóbada da boca. A impressão palatina é feita numa ficha palatoscópica
com uso de material plastiforme, que adere a mucosa palatina, emitindo vestígios que
ficam registados nas fichas dentárias.

 Queiloscopia: É
um método de identificação somatoscópico, estuda os sulcos da estrutura anatômica
dos lábios. As impressões são feitas com a pintura dos lábios ou com batom comum
78
sobre um papel branco.
Foi descrito pela primeira vez por Lemoyne Snyder norte-americano e aperfeiçoado
pelo brasileiro Martin Santos. Não
é um método prático e comum para a identificação médico-legal, pela dificuldade em
classificar e modificações que as impressões labiais sofrem ao longo do tempo com o
decorrer da idade das pessoas. O
uso deste método é muito mais útil na investigação criminal, quando se confronta as
impressões lábiais recentes encontradas em objectos tais como copos, beatas de
cigarros, etc., ou em objectos empregues nos casos de sufocação directa tais como
almofadas, lenços, etc.

 Identificação por Superposição de Imagens ou método crânio-foto-comparativo:


É um método de identificação somatoscópico, que consiste na superposição de
negativos de fotos do individuo tiradas em vida sobre o crânio.
Este método fundamenta-se em encontrar correspondência dos vários pontos ósseos e
dos tecidos moles da face, principalmente na região frontal, nariz, região orbitária e
mentoniana com fotografias frente e perfil. Hoje-se emprega-se um programa
computurizado.

 Identificação por Radiografias: É


um método de identificação somatoscópico, que compara as radiografias antigas com
as obtidas do individuo em causa. As mais frequentes são as radiografias do crânio,
face, ossos longos e dos dentes.

 Identificação por Superposição Crânio-Facial por Vídeo:


É um método de identificação somatoscópico, que se baseia na superposição de
fotografias ampliadas e radiografias do crânio com objectivo de identificar um
individuo pela coincidência dos caracteres antropológicos. Usa-se o computador
conectado a um vídeo.

 Hemogenética Médico Legal:


Bateson em 1905 foi o primeiro a definir a Genética como a ciência da
hereditariedade e da variação.
Entretanto a base da genética física existe desde 1885, quando Weissmann ao
descrever as diferenças entre o somatoplasma que constitue os diferentes tecidos do
organismo ou soma do germoplasma que é formado pelas celulas germinativas, os
espermatozóides e os óvulos que asseguram a continuação genética do individuo.
Outros autores deram contribuições para o desenvolvimento dessa área dos quais
destacamos:
(1)- em 1909 Johansen ao distinguir fenótipo expressão de origem grega
(phainein=aparecer, mostrar) que é um conjunto de caracteristicas estruturais,
fisiológicas e comportamentais de um indivinduo, do genótipo que é conjunto de
genes portadores de informação genética, potencialmente capaz de produzir variações
fenotípicas em interação com factores ambientais.
(2)- em 1865 Mendel ao demonstrar que a programação dos caracteres genéticos está
sujeito às leis gerais de segregação e recombinação independente.
(3)- em 1900 Landsteinar ao descobrir os grupos sanguineos ABO, fundamental na
Medicina Forense por causa dos antígenos eritrocitários para a determinação dos
79
vários sistemas de grupos sanguineos.
(4)- em 1939 Levine e Stetson descobriram antígeno eritrocitário fetal responsável
pela incompatibilidade materno-fetal.
(5)- em 1940 Landsteinar e Levine reconheceram este factor como factor de Rhesus
ou Rh.
Foram descobertos outros sistemas antigénicos eritrocitários importantes na história
da imunohematologia Kell, Duffy, Coombs, Lewis,etc.
(6)- em 1954 teve grande importância na Medicina Forense o sistema de
histocompatibilidade mediada por antígenos na superficie dos leucócitos, é o
complexo HLA (histocompatibility leucocyte antigen).
Posteriormente à descoberta do sistema HLA, foram descobertos outros locus gênicos
envolvendo sistemas polimórficos de interesse médico-legal.
(7)- em 1980 foi descoberto por Wyman e White o primeiro locus de DNA humano.
(8)- em 1985 por Jeffreys e cols. utilizaram pela primeira vez o DNA( fingerprinting),
para a identificação da maternidade de um filho, quando o Departamento de Imigração
inglês em 1983 moveu uma acção jurídica contra a residência de uma criança nascida
na Inglaterra, filho de mãe imigrante de Gana, que regressou para seu país de origem
com o pai, mas mais tarde retornou à Inglaterra.Os testes sanguineos e HLA feitos na
altura não tiveram êxito na identificação da maternidade, que foi solucionada através
da técnica de DNA. Outro marco histórico foi a utilização da mesma técnica para
identificação no âmbito criminal pelos mesmos autores em 1985 no caso de violação
seguido de homicídio, em que Jeffreys e cols. colheram esperma no local do crime e
mais tarde colheram amostras de sangue dos moradores desse condato na Inglaterra e
foi estabelecido a correspondência genética entre as duas amostras que possibilitou a
identificação e prisão do criminoso.
É um método em que se estuda o genoma humano para a determinação do DNA, para
a identificação civil e identificação criminal, recorrendo ao estudo de manchas de
sangue, manchas de sêmen, saliva, pêlos, peças cadavéricas, etc., no nosso país nào
utilizamos a sua técnica e conhecimento em qualquer área de Direito eventualmente
por razões económico-financeiras.
É importante realçar que do ponto de vista criminal para a operacionalização desta
técnica é necessário padronizar e criar um banco de dados para facilitar a
confrontação. Para que estes últimos avanços da ciência tenham credibilidade e seja
inquestionável o seu valor probatório no nosso país é fundamental a credibilização do
laboratório e a resolução dos imperativos éticos.

6- Identificação Judiciária ou Policial:


É um processo que não requere conhecimentos médicos ou biológicos.
A sua fundamentação baseia-se no uso de métodos somatoscópicos e métodos
somatométricos para a identificação civil e a caracterização dos criminosos primários ou
reicidentes. Esse processo é feito por peritos em identificação ou criminalistica.

 Processos Antigos:
(1)- O ferrete foi o primeiro processo a ser usado pelo homem. Consistia em marcar
as pessoas com um ferro em braça, em diversas regiões do corpo, tais como região
frontal, escapular, coxas, etc. Servia para identificar escravos na antiga babilônia e
punir os criminosos, e por cada infracção ferravam uma determinada letra.
(2)- Mutilações um processo que se baseava em amputar certas partes do corpo, tais
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como orelhas, nariz, dedos e mãos, língua, castração, etc. Servia para identificar e
punir os criminosos, as regiões do corpo amputadas tinham a ver com o tipo de
infração.

 Assinalamento Sucinto:
É o método de uso mais corrente actualmente. É o que se usa hoje nos Bilhetes de
Identidade, Passaportes, etc.
Consiste em anotar nesses documentos dados referentes ao nome, filiação, local de
nascimento, nacionalidade, estatura, raça, idade, cor dos olhos e cabelos, impressão
digital, etc.

 Fotografia Simples (preto e branco ou colorida) :


É um processo em voga nos Bilhetes de Identidade, Passaportes e outros meios de
identificação civil dos cidadãos.
É utilizado pelas autoridades policiais para o reconhecimento dos criminosos ou das
vítimas procurados ou desaparecidos, quando estas colocam as fotografias em locais
públicos.
Também é utilizado pelas autoridades policiais quando colocam nos processos crimes
as fotografias antero-posterior e perfil dos criminosos com a devida enumeração.

 Retrato Falado: É
um processo em que se usa a capacidade de memória das testemunhas ou vítimas, que
devem descrever minuciosamente as feições do individuo em causa.
Dantes utilizavam os préstimos de um desenhador, actualmente existem programas e
fichas no computador com vários modelos que tornam mais fácil e rápido a
caracterização fisionómica do criminoso.

 Sistema Dactiloscópico de Vucetich:


Este notável método de identificação foi lançado na Argentina em 1891 por Juan
Vucetich que definiu dactiloscópia como sendo “a ciência que se propõe a identificar
as pessoas, físicamente consideradas, por meio das impressões ou reproduções físicas
dos desenhos formados pelas cristas papilares das extremidades digitais.”
Desenho digital é um conjunto de cristas e sulcos que existem nas polpas dos dedos.
Impressão digital é o reverso do desenho, um conjunto de linhas brancas e pretas
sobre determinado suporte.

7- Criminalistica:
É a ciência que estuda os indicios ou vestigios deixados no local do crime ou no de facto.
Graças a esses indicios é possivel estabelecer a identidade do criminoso e as circunstâncias
que concorreram para o facto delitivo.
O tipo ou a natureza desses indicios é variável, quando se faz a deslocação para o local de
facto é fundamental que a equipe seja multidisciplinar ou multisectorial, formado por médico
legistas, policias e peritos da criminalistica tais como dactiloscópistas, biológos, quimicos,
etc.
A Investigação Pericial de um indicio têm três fases:
(1)- busca na cena do crime; (2)-
recolha e envio para o laboratório. (3)-
exames analiticos e interpretação.
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Regra de ouro na Investigação Criminal é a fotografia e os esquemas que devem preceder
qualquer avaliação.

Mancha: é toda a modificação da cor, todo género de sujidade ou ainda toda a adicção de
uma matéria estranha, visivel ou invisivel a olho nú.
Pode estar depositada na superficie do corpo humano, sobre instrumentos ou ainda sobre
objectos.
A origem ou provinência das manchas é variável, pode ser de um produto liquido, pastoso ou
mole e as vezez sólido.
O estudo das manchas permite estabelecer uma relação de intervenção ou participação de um
individuo ou coisa num facto criminoso ou dilectivo.

Metodologia do estudo das Manchas: para o estudo das manchas independentemente da sua
origem e tipo existe uma metodologia ou uma serie de provas:
(1)- Prova de Orientação:é feita no local de facto, o perito leva consigo um Kit para efectuar
provas que lhe permite diante de uma mancha com determinadas caracteriticas, orienta-lo
para saber se uma mancha é por exemplo de sangue ou mancha de produto quimico
(tinta),etc..
(2)- Prova de Certeza: pode ser feita também no local de facto ou no laboratório, para se ter
efectivamente a certeza que a suposta mancha é efectivamente mancha de sangue, pesquisa-se
os Cristais de Teichann ou semén por meio luz ultra violeta ou de Wood.
(3)- Prova de Especie: é feita no laboratório, com vista a determinar se a mancha é da especie
humana ou de outra especie usando as provas imunológicas ou microscópicas.
(4)- Prova de Individualidade:é feita no laboratório, onde se predente individualizar ou
identificar a quem pertence a mancha em apreço pela determinaçào dos grupos sanguineos,
HLA e DNA.

Existem diferentes tipos de manchas ou de secreções orgânicas:


 Manchas de Sangue: O
sangue é um dos vestigios ou indicios mais frequentemente estudados. Quando
descobertas deve ser cuidadosamente estudado quanto ao aspecto e mecanismo de
produção.
(1)- Aspecto das Manchas: o aspecto das manchas variam de acordo com a
antiguidade e onde elas se encontram depositadas:
- Nos tecidos absorventes e claros, as manchas ficam com a cor vermelho escuro e que
com o decorrer do tempo tornam-se mais escuras.
- Nos tecidos absorventes e escuros, torna-se dificil visualizar as manchas, sendo
necessário o uso de reagentes para torna-las claras.
- Nos objectos não absorventes, as manchas formam crostas mais ou menos
brilhantes, se forem recentes as crostas são vermelhas e com o decorrer do tempo,
tornam-se mais escuras.
(2)- Mecanismo de Produção das Manchas:segundo Simonin existem cinco
mecanismos: -
mecanismo de projecção: ocorre quando o sangue sai projectado com força ou
pressão e descreve uma curva parabólica em queda livre.
Produz-se quando há secção violenta de uma artéria de pequeno ou médio calibre, ou
ainda quando um charco de sangue é pisado com violência no chão.
– mecanismo de escorrimento: ocorre quando o sangue se acumula ou se concentra
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formando um charco numa marquesa ou local com certa altura, e por acção da
gravidade vai caindo ou escorrendo formando um segundo charco. Este mecanismo
permite nalguns casos reconstruir as mudanças de posição do cadáver.
– mecanismo de contacto: ocorre quando o objecto ou partes do corpo ensanguetado
entra em contacto com outro substrato deixando a marca ou impressão neste, como a
marca dos pés ou mãos ensaguetadas no chão ou paredes.
– mecanismo de impregnação: ocorre quando o sangue liquido entra em contacto
com tecidos absorventes, levando a imbibição do sangue nesses tecidos.
– mecanismo misto ou de limpeza: é a mistura dos dois mecanismos, de contacto e
de impregnação. Ocorre quando se enxuga ou limpa-se uma arma branca
ensaguentada num tecido absorvente, fica a forma ou marca ou ainda impressão do
objecto impregnado no tecido.

 Manchas de semén ou de liquido espermático:


É um liquido cremoso, de cor opalina, que tende a amarelo esverdeado com o decorrer
do tempo e com cheiro especifico.
É constitu ido por diferentes elementos – celulares ou espermatozóides e plasma
seminal que é o suporte, veiculo, meio de nutrição e estabilizador do espermatozóide.
O semém pode-se apresentar em três formas distintas:
- como uma mancha impregnada num tecido;
- como um fluído misturado com outros fluídos ou secreções organicas tipo secreção
vaginal, saliva, etc; -
como fluido sem estar misturado com outras secreções, ao obte-lo directamente no
individuo para o estudo da esterilidade.
O seu estudo é efectuado em Medicina Legal na área do Direito Penal como em
Direito Civil.
Em Direito Penal tem grande relevância nos casos de crime contra a honestidade
previstos nos artigos 391 e seguintes do Código Penal, a pesquisa de manchas sobre as
roupas, no autor e na vítima constituindo prova de grande importância.
Na vítima podemos pesquisar na boca, na vagina, no recto e noutras regiões do corpo,
citando algumas entre os seios, na região púbica, entre as coxas, etc.
Em Direito Civil é importante nos casos de paternidade, quando é necessário prova-lá
de uma relação matrimonial ou extra-matrimonial; também nos casos em que o autor
após ter cometido um crime contra a honestidade a vítima imputa-lhe a paternidade.
A metodologia do diagnóstico é a mesma para o que referimos no estudo das
manchas, com o objectivo de de verificar se há ou não espermatozoides por via de
microscópica; ou de espermina e colina por meio de provas enzimaticas (fosfatase
acida prostática) ou métodos imunológicos.

Falar de outras secreções órganicas.(?)

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V- TRAUMATOLOGIA FORENSE OU MÉDICO-LEGAL
Traumatologia é o capitulo que estuda as lesões e estados patológicos, imediatos ou tardios,
produzidos por violência sobre o corpo humano.
Estuda o diagnóstico, prognóstico e as suas implicações legais e socio-económicas.
É um dos capitulos mais significativos da Medicina Legal, constituindo nos nossos Serviços
mais de dois terços das pericias.
Este capítulo também estuda as diversas modalidades de energias causadoras dos danos, que
são de diversa ordem alguns de influência ambiental. Temos energias de ordem mecânica,
energias de ordem física e energias de ordem quimica.

1- Avaliação do Dano em Direito Comum:


A definição da Incapacidade Fisiológica Permanente (I.F.P.) também designada por
Incapacidade Funcional ou ainda por Handcap pessoal em oposição ao Handcap profissional
(que têm uma tabela especifica) não foi pacifica à nivel mundial devido ao vários conceitos
que muita das vezes não se coadunavam com as legsilações vigentes, eis que com intuito de
uniformizar os critérios de avaliação do Dano em Direito Comum em 1978 no Congresso de
Djerba importantes passos foram dados para a uniformização téorica do problema.
O objectivo do autor é de levantar a problemática da avaliação do Dano em Direito Comum
em Moçambique, com base nos critérios teóricos mais recentes, para que tanto os
Magistrados, as Companhias de Seguro e os Clínicos (peritos) usem os mesmos critérios para
o seu diagnóstico e avaliação.

O conceito de Dano é um conceito jurídico.


Dano Patrimonial são danos corporais passiveis de avaliação pecuniária ou de ressarcimento.
Dano não Patrimonial são danos corporais em que não é possivel a sua avaliação
pecuniariamente, mas servem para que com a sua descriminação se faça a Justiça Social,
pedindo ou não a agravação da sentença do ponto de vista criminal ou civil.

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Incapacidade Fisiológica Permanente ou handcap pessoal: é definido como sendo o
atentado a uma ou várias funções orgânicas intelectuais ou físicas, provocando a diminuição
parcial ou total da performance do individuo na esfera física, intelectual ou mental como de
(compreender, pensar, julgar, convencer, agir, comunicar-se, deslocar-se, fazer uso das mãos,
etc.). Esta
definição exclui às repercusões profissionais que esse atentado pode eventualmente causar,
que é analisado em segundo tempo quando se faz a avaliação dos Danos não Patrimoniais.
Temos como alguns exemplos ilustrativos de incapacidade fisiológica:
(1)- amputação de vários dedos da mão: atentado a função de preensão.
(2)- problemas da memória (amnésia) e da atenção: atentado a função intelectual.
(3)- problemas de pensamento, de julgamento, do comportamento: atentado a função
psiquica. A
avaliação é feita de forma qualitativa (descrição da lesão) e de forma quantitativa por meio da
Tabela Internacional de Invalidez. A
incapacidade fisiológica permanente é expressa em percentagem, a regra de calculo foi
estabelecido recentemente a partir trabalhos orientados por Prof. Louis Melennec em Djerba
1978 e mais tarde em 1983 em Masson (Tabela Internacional de Invalidez pós Traumática).
As Regras ou Leis tem certos principios.

- 1ª Lei ou Principio: mesmo nos casos de enfermidades gravíssimas não existe em Direito
Comum a taxa de incapacidade fisiológica de 100%, que representaria a taxa máxima, a de
um individuo morto. O calculo deve ser feito seguindo a escala do Handcap, desde a
enfermidade mais benigna de 1% a mais grave de 99%.
Exempleficando se se atribuir a um paciente a taxa de 97%, isto quer dizer que a vítima
perdeu 97% da sua capacidade como pessoa, consequentemente sobra-lhe 3% da sua
capacidade fisiológica.

– 2ª Lei ou Principio - “teoria das restantes capacidades”: o perito ao avaliar a taxa de


incapacidade fisiológica não deve fazer outro caculo, deve considerar que o individuo vale
100% da sua capacidade fisiológica, e que a soma da capacidade perdida (expressa pela taxa
de incapacidade) e da capacidade restante é igual ao individuo inteiro, isto é, 100%.
Incapacidade fisiológica permanente + capacidade restante = 100

Nos casos em que existia um estado patológico anterior, resultante de outros


traumatismos ou de doenças, sequelas cirúgicas, etc o calculo deve ser feita da seguinte
forma. .
Incapacidade do estado anterior + incapaciade fisiológica a avaliar +
capacidade restante = 100

- 3ª Lei ou Principio - “hierquização estrita das incapaciades segundo a gravidade


real”: a tabela deve avaliar e classificar as enfermidades segundo a sua real gravidade; as
enfermidades de gravidade similar devem ter a mesma taxa de incapacidade, inversamente as
enfermidades de gravidade diferente devem ter coeficientes de incapacidade distinto.

- 4ª Lei ou Principio – “independência estricta da incapacidade fisiológica da


incapacidade profissional”: com o objectivo de evitar erros de avalição que eram frequentes
anterioremente a nova Tabela em que se confundia as avaliações das incapacidades em
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Direito Social das do Direito Comum, foi efectuada uma analise doutrinal mais clarividente
entre os dois conceitos. Não existe nenhuma proporcionalidade e paralelismo entre as Taxas
de Incapacidade Fisiológica (Handcap pessoal) e da Incapacidade Profissional visto que os
dois conceitos são distintos e devem ser analisados e quantificados separadamente.
Dois exemplos são claros para demonstrar ou ilustrar as diferenças:
(1)- um pianista que tem amputação do 2º dedo tem a Incapacidade Fisiológica ligeira de 8%
em Direito Comum, mas se fosse avaliado como Acidente de Trabalho a sua Incapacidade
Profissional seria total ou teria que ser reciclado para posterior avalição.
(2)- um gestor do banco com paraplegia tem uma Incapacidade Fisiológica grave em Direito
Comum de 75%, mas se fosse avaliado como Acidente de Trabalho a sua Incapacidade
Profissional é ligeira, predominantemente nas esfera psicológica.

Apresentamos a Tabela Universal de Handcap ou de Incapacidade Fisiológica para


ilustrar o quadro geral dos grupos de incapacidade, a consulta mais detalhada deve ser feita
em livros de especialidade.

Taxa de Capacidade
Enfermidades ou Sequelas Incapacidade fisiológica
fisiológica restante

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1º grupo – enfermidades ou sequelas ligeiras- critérios:
- os sinais funcionais se existem são pouco incomodativos,
intermitentes, não invalidam, é um simples desconforto, não
é um Handcap.
- o exame clínico geralmente é normal, se há alterações elas
são mínimas, pouco significativas funcionalmente (cicatrizes,
deformidades, etc.)
- o estado geral é normal.
- a capacidade geral de esforço é normal.
- a autonomia (física, intelectual e de se deslocar) é total.
- a vida privada, social e profissional é normal. 0 à 5% 95 à 100%
Exemplos:
- sistema nervoso central:sintomas banais tais como
cefaleias, ansiedade, insónias, etc.
- sistema nervoso periférico:dores intermitentes ligeiras,
localizadas, parestesias, etc.
- oftalmológico: alterações mínimas da acuidade visual, etc.
- otorrinolaringológia: anosmia parcial ou total, ligeira
diminuição da acuidade auditiva, etc.
- sistema cardiorespiratório: sintomas banais que invalidam,
tipo dores toraxicas, palpitações, hipertensão arterial ligeira,
etc.
- rins e baço:nefrectomia unilateral e esplenectomia total
sem sequelas, com excepção das cicatrizes.
- membros superiores e inferiores :atentados minimos da
função com sequelas de fracturas, entorses, luxações ou ainda
amputações distais não invalidantes como de das falanges
distais dos dedos das mãos ou amputações dos dedos dos pés.
- coluna vertebral:dores intermitentes da coluna nas
diferentes regiões.

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2º grupo – enfermidades ou sequelas moderadas -
critérios:
- os sinais funcionais são mais incomodativos que os do
grupo anterior, e podem ser considerado uma invalidez ou
handcap.
- o exame pode ser normal, mas existem anomalias.
- o estado geral é normal. 5 à 15% 85 à 95%
- a capacidade de esforço é normal ou mais do que suficiente,
está apto para grandes esforços (longas marchas, subir
escadas, desportos, etc.).
- a autonomia é total.
- pode existir incomodos na vida privada e social, mas é
capaz de exercer a maioria das profissões.
Exemplos:
- sistema nervoso central:neuroses comuns pouco invalidante
que permite uma vida afectiva, inserção social e profissional
satisfactória.
- sistema nervoso periférico:dores intermitentes, paralisias
periféricas localizadas pouco invalidantes (levantar o pé,
etc.).
- oftalmologia:alteração da acuidade visual de 5 a 6/10 para
longe.
- otorrinolaringologia:anosmia total, diminuição da acuidade
auditivia que permite conversação a média voz, etc.
- sistema cardiorespiratório:dispneia para grandes esforços,
etc.
- membros superiores e inferiores:alterações que podem
levar a diminuição de ¼ da função resultantes das sequelas
das fracturas, luxações, entorses, amputações dos dedos da
mão, sequelas que permitem a marcha de alguns kilometros,
etc.
- coluna vertebral: dores na coluna com irradiações para os
membros.
-rins: insuficiência renal ligeira.

88
3º grupo enfermidades ou sequelas moderadas a grave -
critérios:
- o desconforto provocado pelos sintomas é nitido, e é
invalidante ou handcapante.
- o exame clínico revela uma anomalia patente.
- o estado geral geralmente é normal, pode exister certas
alterações como fadiga, emagrecimento, etc.
- a autonomia é total. 15 à 30% 70 à 80%
- a capacidade de esforço global pode ser normal ou com
alterações.
- a invalidez ou a sequela pode interditar para o exercicio de
certas profissiões.
Exemplos:
- sistema nervoso central:neuroses com sintomas e
sofrimento evidentes que permite uma inserção social e
profissional.
- sistema nervoso periférico:paralisias distais como por
exemplo do nervo ciatioco popliteo interno.
- oftalmologia:perda de um olho é 25%, redução significativa
da acuidade visual em ambos olhos, etc.
- otorrinolaringologia:diminuição da acuidade autidiva que
permite conversação em voz alta.
- sistema cardiorespiratório:doenças crónicas invalidantes,
com dispneia para pequenos a médios esforços, etc..
- membros superiores e inferiores:sequelas levam a redução
de um ¼ a 1/3 da função, exemplo amputações do polegar,
amputação de um pé, etc.
- coluna vertebral: dores crónica com irradiações
significativas.

89
4º grupo de enfermidades ou sequelas graves - critérios:
- os sintomas funcionais são invalidantes, é um handcap
evidente.
- o exame clínico demonstra grandes anomalias ou alterações.
- o estado geral pode estar normal (alteração da visão ou
audição) ou está alterado significativamente (fadiga,
emagrecimento, etc.).
- a capacidade global está alterada geralmente, está apto para 30 à 60 % 40 à 70%
médios esforços.
Exemplos:
- sistema nervoso central: neuroses com sintomas e
sofrimento maiores permitindo ao paciente ainda ter uma
vida profissional; psicoses bem equilibradas com o
tratamento, etc.
- sistema nervoso periférico: paralisias de um membro
superior ou inferior.
- oftalomologia:alterações da visão que ainda permite
deslocar-se sózinho (visão 2/10 num e noutro 1/20).
- otorrinolaringologia: surdez de um lado tem uma taxa 50%
por exemplo.
- sistema cardiorespiratório:dispneia para médios esforços,
etc.
- membros superiores e inferiores: por exemplo perda do
membro superior não dominante 50%, incapacidade de se
deslocar permite a marcha num perimetro entre 1Km e 100
metros.

90
5º grupo de enfermidades ou sequelas muito graves –
critérios:
- a vítima tem uma grande invalidez com sintomas muito
marcados.
- o exame clínico é anormal com invalidez bem evidentes.
- a capacidade de esforço está bem diminuida, podendo
necessitar de ajuda de terceiros para os actos essenciais da
vida corrente.
- o exercicio de uma profissão pode ser impossivel com - mais de Menos de
excepções para a cegueira bilateral ou paraplegia, etc. 60% 40%
- o estado geral pode estar conservado (insuficiência
coronária) ou alterado na maior parte dos casos (fadiga física,
intelectual, perda de apetite, etc.)
Exemplos:
- sistema nervoso central:psicoses crónicas alucinatórias,
esquizofrenias graves, etc..
- sistema nervoso periférico: paraplegias, etc..
- oftalmologia: cegueira total bilateral.
- sistema cardiorespiratório:doenças crónicas com dispneia
para pequenos esforços.
- membros superiores e inferiores:alterações funcionais
bilateralmente com a preensão dificil; paraplegias,
amputações de ambos membros, etc.
I- Danos Patrimoniais:
Uma parte dos danos patrimoniais não é calculada ou feita pelo perito, corresponde ao custo
de todo o tratamento médico-cirúrgico, psicológico, fisioterapêutico, de transporte, etc. que a
vítima se sujeita devido ao dano. Geralmente este cálculo é feito pela unidade sanitária.
 Tempo de cura das lesões: avaliado em número de dias.
 Incapacidade total para o trabalho: avaliado em número de dias.
 Incapacidade parcial para o trabalho: avaliado em percentagem do tempo diário de
trabalho que a vítima deve dispender até completar o tempo de cura atribuido pelo
perito.
 Incapacidade fisiológica: avaliada em percentagem acima descrita.

II- Danos não Patrimoniais:


 Pretium Doloris ou quantum doloris: Também foi designada tempos atrás de
Prejuizo Moral. A dor é um sintoma e sinal bastante subjectivo, muitas das vezes de
dificil avaliação ou apreciação. Deve ser avaliada como dor ou sofrimento que a
vítima sofre, sente dependendo muitas das vezes do tipo de tratamento médico-
cirúrgico e às circunstâncias em que terá ocorrido o facto delictivo (nestes casos
elementos qualitativos médico-legais que agravam as ofensas corporais); a dor e
sofrimento dos familiares e acompanhantes. É avaliado numa tabela de 1 à 5 ou de 1 à
7; isto é, ligeirissímo, ligeiro, ligeiro à moderado, moderado, moderado à grave,
grave, gravissímo.
 Prejuizo estético: quando o dano ou sequela causa deformidade notável, isto é,
alteração de forma que afeie e deturpe o indivíduo no complexo do seu organismo.

91
 Prejuizo profissional: quando o dano ou sequela resulte em prejuizo
(impossibilitando ou incapacitando total ou parcialmente) às actividades habituais ou
profissionais da vítima.
 Prejuizo de idade: este é avaliado para as idades extremas, à primeira e a terceira
idade, quando o dano ou sequela resulte em prejuízo (impossibilidade ou
incapacidade) da criança brincar (por exemplo correr, jogar, etc) como outras da
mesma idade.
 Prejuizo de lazer: quando o dano ou sequela resulte em prejuízo para as actividades
não renumeráveis ou ao hobby à vítima.
 Prejuizo obstétrico: quando o dano ou sequela resulte em prejuízo que impossibilite a
vítima de engravidar ou manter uma gravidez, por exemplo devido as lesões da parede
abdominal.
 Prejuizo de vida de relação: quando o dano ou sequela resulte em lesão gravissimo
aos órgãos ou aparelhos de vida de relação.

2-Classificação Legal das Lesões Traumáticas:


A- Exame no Vivo – Exame em Casos de Ofensas Corporais:
Médico legalmente com base nos art.359 e seguintes do Código Penal definimos de ofensas
corporais “a perturbação ilícita da integridade corporal doutrem”.
Subentende-se que esta definição não abrange as perturbações anatómicas ligadas a outras
entidades jurídicas. Não consideramos de ofensas corporais as lesões traumáticas
direccionadas para os seios, coxas, vulva, vagina, boca, anus, útero e gónadas em ambos os
sexos que seriam indicativos ou constituitivos de crimes contra a honestidade, aborto
criminoso ou castração.
A importância médico-legal das ofensas corporais deve-se as consequências ou sequelas
físicas, psicológias e psiquicas que a vítima apresenta.
Elementos Médico Legais que agravam o crime de ofensas corporais:
Estes elementos vêm explicitados nos art. 359 e seguintes do Código Penal.
 Elementos qualitativos:
(1)- Vitriolagem:consiste no arremesso geralmente para a face da vítima de uma
substância caústica (ácido sulfúrico ou vitríolo) com intenção de desfigurar, afear.
Este elemento médico-legal era frequente nos séculos passados, raro nos dias de hoje,
praticado principalmente por ciúmes ou despeitos amorosos.
(2)-Sevícias, literalmente significa maus tratos. Devido a evolução sócio-politica,
cultural, cientifica e jurídica das sociedades e povos este conceito foi evoluindo
havendo países em que este elemento médico legal vem tipificado como um crime
gravoso- violência doméstica.
Fazendo uma simbiose das duas palavras Violência Doméstica, esta expressão
pressupõe toda a acção ou omissão que consiste no mau trato físico, psicológico ou
sexual, praticado por um membro da família contra a mulher ou contra qualquer dos
integrantes do núcleo familiar.
Refere-se particularmente à violência que ocorre entre pessoas que habitam o mesmo
lar, entre marido e mulher, de pais para filhos, entre irmãos, de filhos para pais, entre
familiares próximos. Do
ponto de vista médico legal com base na legislação em vigor, a nossa interpretação
92
deste conceito no sentido positivo de Direito e de Justiça Social assume diferentes
facetas dependendo das circunstâncias em que ela ocorre, da relação existente entre o
agressor e a vítima, e do periodo do tempo em que transcorre o trauma psicológico,
psiquico ou físico.
- Sevícias (maus tratos): estamos perante este tipo ou elemento médico-legal
qualificativo de ofensas corporais quando a vítima é um menor de idade e o acto é
praticado ou infligido por uma autoridade familiar (pais, encarregados de educação ou
outros membros da familia adultos) ou por uma autoridade institucional (professor,
encarregados dos lares, creches ou instituições afins). É importante nestes casos que
exista uma relação familiar ou institucuinal entre a vítima (menor) e o agressor
(autoridade). As sevícias pode ser praticado de uma só vez ou isoladamente, várias
vezes ou sistemáticamente, por diversas razões ou motivações tais como por
perversidade, sadismo ou para satisfazer desejos inconfessáveis, consistindo em actos
de: (a)-
omissão ou privação de cuidados – nutricionais, higiénicos, isolamento ou reclusão
em espaços confinados, etc. (b)-
violência moral e psicológica – insultos, gritos, verborreia, etc. (c)-
violência física – trauma por meio de vários agentes mecânicos, fisicos, quimicos,
deglutição forçada de substâncias imundas, etc. Ao
examinar o menor ou vítima constatamos de que ela padece de um quadro de stress
pós traumático ou de sindroma pós emocional com as componentes ansioso-fóbico-
depressivo isoladamente ou associado, com ou sem sinais de lesões traumáticas
físicas. O menor geralmente tem fraco aproveitamento escolar, medo ou fobia de estar
diante do agressor, rebeldia, alterações do comportamento, etc.
O tratamento deve-se ser direccionado principalmente para a área psicológica para a
recuperação da auto-estima, psicoterapia, e médico das lesões existentes.
– Sevícias (maus tratos e/ou tortura): estamos perante este tipo ou elemento médico-
legal qualificativo de ofensas corporais quando este acto é praticada por:
(1)- Agentes ou elementos das Autoridades Policiais, Penitenciárias, Judiciais, Policia
Secreta e da Segurança Privada.
(2)- Singulares ou grupo de individuos populares que decidem fazer justiça popular ou
com as próprias mãos.
A vítima pode ser: (a)-
um individuo que está sob a custódia destas autoridades acima referenciadas. Este
acto pode ser praticado por diversas razões ou motivações das quais destacamos: para
obtenção de uma confissão, para castiga-lo, por perversidade, sadismo, para satisfazer
desejos incofessáveis, etc.
(b)- um (uns) individuo (s) que ao ser (serem) abordado (s) ou interceptado (s) por
estas autoridades acima referencidas, ela (s) usam ou empregam excesso de força ou
de zelo, por exemplo durante acto de detenção, durante um acto de auto-stop, no acto
de exigência de documentos de identificação, durante o acto de repreensão duma
manifestação, etc.
(c)- um individuo em que populares suspeitam de que este tenha praticado um crime
de furto, de roubo ou doutro género, e sem esperar decisão judicial ou das autoridades
competentes decidem amarra-lo nos braços e pernas, agredirem-lhe e tortura-lhe.
As sevícias (maus tratos e/ou tortura) pode ser praticada de uma só vez ou como um
acto isolado, de forma sistemática ou por várias vezes, este acto consiste em:
- tortura física por meio de diferentes tipos de agentes mecânicos - contundente tipo
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cassetete ou chicote nas nádegas ou tronco; físicos tipo electrocução no escroto, planta
dos pés; suspensão pelas pernas, etc. –
tortura psicológica e moral por meio de chantagem aos familiares ou amigos da (s)
vítima (s); insultos e verborreia com interrogatório de forma alternada em horas
impróprias ; impedir a vítima de fazer as necessidades fisiológicas; despir e ou palpar
a vítima diante de muita gente do sexo oposto ou do mesmo sexo; encandear a vítima
com luz intensa e forte na face por longos periodos de tempo ou mante-lo privado de
luz durante muito tempo; etc.
– Sevícias (maus tratos) estamos perante este tipo ou elemento médico-legal
qualificativo de ofensas corporais quando existe uma relação íntima de comprimisso
amoroso e/ou patrimonial entre um casal ou parelha, isto é, entre namorados, casados
tradicionalmente ou lobolados, casados maritalmente, casados relegiosamente,
casados oficiamente, que estão em união de facto ou que vivem em concubinagem
sendo ela a 2ª ou 3ª mulher por exemplo.
Do ponto de vista médico-legal para que este acto seja considerado como elemento
qualificativo, as sevícias devem decorrer durante um certo periodo de tempo, que não
seja um acto isolado, mas que sejam vários actos de violência moral, psicológica,
psiquica e física; e que entre a vítima e o agressor exista uma relação intima amorosa
e/ou patrimonial.
Estes actos consistem em: (a)-
omissão ou privação: de recursos financeiros para subsidiar a familia, cuidados de
saúde, alimentação, etc.
(b)- violência moral e psicológica: actos de intimidação de morte, agressão física,
retirada apoio financeiro, etc; chantagem de separação ou contra terceiros – enteados
(filhos), sogros, etc; insultos e gritos, etc.
(c)- violência física e psiquica: actos de agressão por meio de agentes mecânicos,
físicos, etc; tentativa de homicidio por meio de esgandura; etc.
A vítima apresenta um sindrome ansioso com ou sem a componente fóbico e
depressivo, que se manifesta por ausências sistemáticas ao local de serviço, falta de
interesse pela vida, de cuidados de higiene, de auto-estima, etc além de sinais de
lesões traumáticas.
O tratamento além do médico, deve ser fundamentalente psicológico e de reinserção
psico-social. Deve-se criar condições para existência de um local de acolhimento para
as vítimas. Noutros países, em Direto Comparado esta figura gravosa é um crime
especifico, tipificado como Violencia Doméstica.
(3)- Intenção Médico Legal de Matar: é animus necandi, este tipo ou elemento
médico-legal qualificativo de ofensas corporais vem explicitado nos art.349º, 350º e
355º do Código Penal. Do ponto de vista médico legal considera-se que há intenção
de matar dependendo:
(a)- sede ou região do corpo atingida ou alvejada é das que vulgarmente se sabe
alojarem órgãos essenciais à vida. (b)-
a natureza dos ferimentos, os seus caracteres e número concorrem para demonstrar
aquela intenção. (c)- os
ferimentos foram produzidos com violência. (d)- o
instrumento empregado tem as caracteristicas e a eficiência dos instrumentos
procurados e utilizados quando há aquela intenção, quer dizer, é evidentemente
adequado a produzir lesões mortais, pela sua capacidade vulnerante.
(e)- nos casos de ferimentos por projécteis de armas de fogo, adequados a produzir
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lesões mortais, existem sinais indicativos de arma ter sido disparada a boca tocante
ou a curta distância.
(4)- Perigo eminente de vida da vítima: este tipo ou elemento médico-legal
qualificativo de ofensas corporais, se as lesões puseram ou não em perigo a vida da
vítima é avaliado em função de: (a)-
natureza ou tipo da lesão, gravidade e sede da lesão. (b)-
necessidade de tratamento médico-cirúrgico de urgência, se o tratamento não
ocorresse a vítima morreria devido as lesões, por exemplo tramatismo abdominal
fechado com laceração do baço e hemoperitoneu.

 Elementos Médico Legais Quantitativos: Com base nos artigos 359 e seguintes do
Código Penal os elementos quantitativos médico-legais que agravam o crime de
ofensas coporais, fazem parte dos Danos Patrimoniais da avaliação do Dano em
Direito Comum, e são: (1)-
Tempo de cura das lesões: segundo Luís Osório “ o réu só tem responsabilidade
criminal pelos resultados necessários da ofensa corporal.” É fácil definir o que é saúde
– segundo Organização Mundial da Saúde (O.M.S.) “saúde não significa só ausência
de doença, mas sim é um bem estar físico, social e económico”.
Do ponto de vista juridico Doença “é qualquer lesão no organismo que precisa de
cura”, entretanto Santana Rodrigues teceu a seguinte opinião em função do que vem
mencionado no art.360º do Códiogo Penal “Doença é o estado anátomo-fisiológico
anormal caracterizado pou um conjunto de sinais objectivos físicos ou psiquicos,
localizados ou generalizados.”
O perito deve ter a capacidade de avaliar a lesão e fazer o prognóstico a fim de
determinar em termos de dias quanto tempo demanda uma lesão para curar, que em
principio não deve coincider com o tempo de incapacidade total para o trabalho.
(2)- Incapacidade ou Impossibilidade Total para o Trabalho:segundo Dias Ferreira
“da-se a impossibildade de trabalhar desde que algum ou alguns dos órgãos do corpo
estão inabilitados para exercer o género de trabalho para que a sua respectiva
constituição os tornava próprios e com a perfeição compátivel com sua organização
natural e cultivada”. Esta
impossibilidade total para o trabalho é avaliada médico-legalmente em dias, e deve
ser uma Incapacidade real e efectiva para uma ou para toda a espécie de trabalho. D.
Leote considera que “ não é necessário que a impossibilidade legal de trabalhar uma
absoluta impossibilidade, mas basta que seja uma impossibilidade meramente
clínica”. E António Gil famoso penalista refere “se os peritos calculam a
impossibilidade de trabalho em 10 dias e que são precisos 20 de cura, é pela
impossibilidade de trabalho que se deve regular a pena, pois na cura de qualquer
enfermidade entra o tempo de convalescença que se não deve contar como
enfermidade senão produzir impossibilidade de trabalhar.”
(3)- Deformidade:segundo António Gil “alteração de forma que afeie e deturpe o
indivíduo no complexo do seu organismo.
Com base na Lei a deformidade classifica-se em deformidade pouco notável quando é
pouco aparente, e deformidade notável quando se nota à primeira vista.
A deformidade deve ser considerada em relação ùnicamente ao prejuízo estético e
portanto considerar a vítima nua, independentemente da região córporea atingida, da
idade, raça, sexo, profissão e condição social.
(4)- Cortamento:segundo Asdrúbal de Aguiar “é ablação parcial ou total dum órgão
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ou membro por instrumento agressivo de gume. Sempre que o instrumento agressivo
não seja de gume não haverá cortamento”. Actualmente o conceito de ablação pode
perfeitamente ser substituido pelo de privação, visto que o fundamental não é o
instrumento com gume, mas o efeito ou consequência da lesão.
(5)- Privação: segundo o critério do Conselho Médico-Legal do Porto, privação “é a
ablação parcial ou total de membro ou órgão”.
A. de Aguiar definiu que a privação “é constituida por ablação parcial ou total dum
membro ou órgão por meio de qualquer instrumento agressivo”. A avalição médico-
legal deste elemento quantitativo do crime de ofensas corporais é de que a ablação
parcial ou total dum órgão ou membro não deve evoluir com a alteração funcional ou
potencial desse um órgão ou membro.
(6)- Aleijão: segundo o legista A. de Aguiar “é o defeito físico de um membro ou
órgão consistindo em alteração da sua forma normal ou da sua posição com
diminuição da sua potência funcional”.
Isto é, aleijão é ablação ou alteração parcial ou total de um órgão ou com membro
com prejuízo estético e funcional.
(6)- Inabilitação: é a alteração funcional, mais ou menos acentuada, do membro ou
órgão, sem modificação morfológica, isto é, alterção de um membro ou órgão de que
resulta prejuízo funcional sem prejuízo estético, por exemplo paralisias de membro.
Achamos que este elemento que vem comtemplado na Lei ser perfeitamente encoberto
ou implicito no elemento Aleijão, porque a paralisia de um membro altera
posteriormento a morfologia deste devido a atrofia ou desuso do membro.
(7)- Privação da razão:devido ao trauma há uma lesão cerebral e/ou encefálica com
uma psicoce traumática. Nós achamos que o diagnóstico desta sequela permanente
deve ser diagnosticada pelo psiquiatra e confirmada ou homologada posteriormente
pela comissão de psiquiatria forense.
(8)- Incapacidade ou Impossibilidade por toda a vida de trabalhar: a avaliação desta
sequela permanente deve considerada em relação ao trabalho em geral, pois a
avaliação do dano em direito comum. Segundo A. de Aguiar “o perito deve indicar a
impossibilidade perpétua de trabalhar relativamente ao trabalho e geral. O art. 361º do
Código Penal não alude às variedades de trabalho profissional e qualquer outro.”

B- Elaboração do Laudo Pericial:


Estabelece o Regulamento que “ nos casos de exame por motivo de ofensas corporais,
deverão os peritos observar, minuciosamente, as lesões que existirem, indicar o número
destas, precisar-lhes a sede, referindo-a a regiões determinadas do corpo, e descrever a sua
forma, extensão e direcção; abstendo-se, todavia, de praticar explorações e sondagens que
magoem o ofendido ou que possam ser inconvenientes para o mesmo.
Do mesmo modo devem procurar avaliar com que instrumento, actuando em que direcção e
com que condicões de violência e com que intenção indicam tais ofensas haver sido feitas, e
qual a antiguidade da lesão.
E do conjunto de todos os dados objectivos e subjectivos que puderem colher deverão os
mesmos peritos, deduzir com a possivel segurança, que grau de gravidade inculcalm as
lesões, que tempo demandarão para curar-se, que impossibildade de trabalho determinarão,
expressa em dias; as consequências de alejião ou deformidade, privação de órgão
importante ou perda de faculdade valiosa e qual, que delas hajam de resultar; e isto tudo
partindo da hipótese de que o ofendido se sujeita a um tratamento regular, que possa
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auxiliar e promover a cura; e não de que ele as despreze, ou entretenha, ou agrave por
qualquer forma e com ou sem intenção”.
O primeiro exame que os peritos fazem é o Exame Directo. Se após o exame os peritos
considerarem que as lesões ainda não estão curadas ou consolidadas do ponto de vista
médico-legal, ou ainda a vítima ou ofendido necissita de uma inter-consulta de outra
especialidade, esse exame seguinte chama-se de Exame de Sanidade que pode ser vários em
função do estado da vítima; vem estabelecido no Código de Processo Penal art. 192º “ os
exames de sanidade devem ser realizados imediatamente depois de terminado o tempo
previsto pelos peritos, nos exames anteriores, para doença ou impossibilidade de trabalho.”

1- Elaboração do Laudo Pericial:


 Identificação da vítima: deve constar o nome completo, idade, sexo, estado civil e
profissão.
 Informação: deve constar a razão ou motivo do pedido do Exame Directo.
Geralmente estas solicitações são feitas pela P.I.C. ou outro género da Policia,
Procuradoria, Tribunal Judicial, Escritório privado de um Advogado devidamente
inscrito na Ordem, por O.N.Gs. tipo L.D.H. (liga dos direitos humanos), Empresas de
Seguros (EMOSE), etc.
 Informação da vítima ou História da doença actual: a vítima relata em que
circunstâncias ocorreu o trauma ou a agressão, data, instrumento ou meio utilizado,
quem foi o agressor/relação que tem com a vítima, sintomas e lesões que teve
imediatamente após o trauma, tratamento médico-cirúrgico efectuado. Queixas
actuais, isto é, quais sãos os sintomas, sinais e outro tipo de disfunção orgânica que
têm; se é a primeira vez que foi agredido pela mesma pessoa ou não, se devido ao
trauma têm sequelas que interverem com a sua vida ou inserção pessoal, social e
profissional.
 História clínica pregressa: a vítima relata a história das doenças que teve
anteriormente, as que tem actualmente sem relação com o trauma. Deve referir se o
trauma exacerbou ou não o estado anterior ou doença.
 Informação hospitalar: informação constante no processo clínico de internamento ou
das consultas externas relativas a patologia provocada pelo trauma ou agressão.
Também serve as guias de transferências para consultas de especialidade ou para o
Centro de Saúde, os relatórios médicos e cópias das receitas. Estes documentos são
chamados de papeleta hospitalar.
 Exame objectivo: é um exame clínico completo da vítima. Estado geral, estado de
consciência, devendo enfatizar as lesões ou os sinais de lesões traumáticas, sua sede e
as incapacidades funcionais resutlantes do trauma, isto é, as sequelas em todos os
órgãos, aparelhos e sistemas.
 Considerações médico-legais: é a discussão médico-legal do problema, em que se
confirma se o ofendido foi ou não vítima de ofensas corporais, qual foi o agente ou
meio utilizado. Também deve-se mencionar se dessas ofensas corporais resultaram ou
há elementos médico-legais que qualificam esse crime.
 Conclusões: é a avalição dos Danos Patrimoniais (elementos quantitativos médico-
legais) e dos Danos não Patrimoniais. (1)- Danos Patromoniais: - Tempo de cura das
lesões – expressa em dias. - Incapacidade Total para o Trabalho- expressa em dias. -
Incapacidade Parcial para o Trabalho – expressa em percentagem do tempo diário de
trabalho. - Incapacidade Fisiológica – expressa em percentagem, com base na Tabela
97
Internacional de Invalidez ou Avaliação do Hand-Cap ou do Dano Corporal. Deve-se
mencionar se as sequelas mencionadas constituem ou não em elementos médico-
legais previstos na lei. (2)- Danos não Patrimoniais - Pretium Doloris ou Quantum
Doloris. - Prejuízo de Lazer. - Prejuízo Estético. - Prejuízo de Idade. - Prejuízo
Profissional. - Prejuízo Obstétrico. - Prejuízo de vida de relação.

3- Lesões produzidas por energias de ordem mecânica:


De acordo com as caracteristicas das lesões os intrumentos ou agentes classificam-se em:
lesões produzidas por agentes contundentes, lesões produzidas por armas brancas, lesões
produzidas por projecteis de arma de fogo.
A- Lesões produzidas por Instrumentos ou Agentes Contundentes.
Agentes ou Instrumentos contundentes: são instrumentos que actuam por meio de
superficie relativamente extensa não sendo possivel enumerá-las todas, dada a grande
variedade dos instrumentos ocasionais, entre os habituais podemos mencionar os órgãos de
defesa e de ataque dos homens e dos animais (cabeça, mãos, pés,etc), as pedras, os paus,
coronha das armas de fogo, cassetetes, etc.
São os agentes mecânicos maiores causadores do dano. Agem por pressão, deslizamento,
percussão, compressão, descompressão, torção, contragolpe ou de forma mista.
As lesões produzidas por agentes contundentes segundo Thoinot classificam-se em:
 Rubefação: é a menos grave lesão, mais simples produzida por um agente
contundente, consiste numa hiperémia temporária da pele ou das mucosas devido a
congestão dos vasos. Acontence após por exemplo uma bofetada na face ou nádegas
fica a marca dos dedos do agressor, sinal para casos de ofensas corporais associado a
sevícias. Também surgem em casos dos chupões – chamada equimose de sucção,
importante sinal ou prova para os casos em que se suspeita de um crime contra a
honestidade.
 Escoriação: são ferimentos que resultam dum simples desnudamento ou
arrancamento da camada epidermica da pele ou erosões da mucosa. A escoriação
cobre-se depois de serosidade albuminosa e de gutículas de sangue que depois de
secar formam a crosta. A escoriação do ponto de vista clínico é uma lesão
insignificante, podendo as vezes constituir porta de entrada das infecções.
Do ponto de vista médico-legal ela reveste-se de grande importância. A forma permite
determinar o tipo de agente que a produziu, por exemplo semi-lunar ou linear são
produzidas pelas unhas; a sede permite deduzir a intenção do agressor, por exemplo
no pescoço tentativa de esganadura; o número dá idea da multiplicidade de
traumatismo; a direcção permite identificar as lesões de ataque e as lesões de defesa;
o aspecto permite determinar a data em que elas foram produzidas e também se as
lesões são vitais ou pós mortem.
 Derrames sanguineos:
(1)- Petéquias- são infiltrações de sangue nos tecidos de pequeníssimas dimensões
com forma de cabeça de alfinete. Devem-se a ruptura de micro-capilares, são lesões
vitais, sempre presentes por exemplo nas Asfixias Mecânicas, chamadas de Manchas
de Tardieu subpleurais e epicardicas ou subpericardicas.
(2)- Sufusão: extravasamento sanguineo de disposição lâminar, resultante de ruptura
de vasos de maior calibre, exemplo hemorragia subaracnoidea.
(3)- Equimoses: infiltração sanguinea nas malhas dos tecidos, resultante de ruptura de
98
vasos de pequeno calibre. As equimose podem ser superficiais ou profundas.
Importância médico-legal: a forma permite identificar o agente ou objecto que a
produziu; o aspecto permite em função da mudança da coloração determinar a data
em que ela foi produzida. Segundo Lacassagne as equimoses tem inicialmente cor
vinosa, escurecem do 2º ao 3º dia, azulam do 3º ao 6º , esverdinham do 7º ao 12º e
amarelecem do 13º ao 20º dias. Também permite afirmar com certeza absoluta que se
trata de uma lesão vital.
(4)- Hematomas: colecção de sangue coagulado numa cavidade limitada por tecido
subcutâneo ou outro, em cavidades pré-existente ou que se formam, devido a ruptura
de vasos de médio calibre.
(5)- Hemorragias intra-cavitárias: temos as hemorragias localizadas em distintas
cavidades: na cavidade pleural – hemotorax, cavidade pericardica – hemopericardio,
cavidade abdominal – hemoperitoneu, cavidades articulares – hemoartrose. (6)-
Hemorragias que se manifestam nos orificios e vias dos aparelhos e sistemas: canal
auditivo externo – otorragia; narinas – rinorragia ou epistaxes; cavidade bucal –
bucorragia; tubo digestivo – hemorragia digestiva alta- hematemeses, hemorragia
digestiva baixa-melenas, anal – rectorragia; vias respiratórias – hemoptises; vias
úrinárias – hematúria; vaginal – hemorragia vaginal.
 Derrames serosos: resultam da lesão tangencial dos instrumentos contundentes nos
vasos linfáticos com derrame da linfa.
 Feridas contusas: é uma solução de continuidade na pele, tem forma irregular com
desigualdade e descolamento dos bordos, que se apresentam escoriados com derrames
hemorrágicos e ligados com pontes de tecido lesados ou por vasos.
 Fracturas: é uma solução de continuidade dos ossos, podem ser fechadas e abertas ou
exposta, fracturas directas ou indirectas, lineares ou cominutivas, de grande ou
pequeno raio, em foco, em rampa, etc.
 Luxações: é o deslocamento de dois ou mais ossos cujas superfícies articulares
deixam de manter as suas relações de contacto que lhe são comuns. As luxações
podem ser completas quando as superfícies articulares se afastam totalmente e
incompletas quando a perda de contacto das superfícies articulares é parcial; e podem
ser fechadas e abertas ou expostas.
 Entorses: são lesões articulares provocadas por movimentos exagerados dos ossos
que compõem uma articulação, incidindo apenas nos ligamentos. A vítima apresenta
dor na articulação afectada com diminuição da função. Nos casos mais graves pode
ocorrer ruptura dos ligamentos e outras lesões intra-articulares.
 Arrancamentos e lacerações dos tecidos moles: as lacerações dos tecidos moles
provocam hemorragias. Por acção de tracção de máquinas ou de veículos em
movimento pode ocorrer arrancamento de tecidos ou membros, uma variedade rara de
arrancamento é o escalpo, isto é, o arrancamento dos cabelos com o couro cabeludo.
Por acção de veículos e corpos pesados produzem-se esmagamentos.
 Rupturas ou lacerações de órgãos internos: após traumatismo fechado ou aberto
das cavidades e regiões do corpo, pode produzir-se lacerações ou rupturas das vísceras
internas provocando hemorragias.

B- Lesões produzidas por Armas Brancas.


Armas Brancas: são agentes ou instrumentos que actuam :
(1) por meio da lâmina ou folha do objecto – instrumento cortante.
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(2) por meio da extremidade ou ponta do objecto – instrumento perfurante.
(3 ) em simultâneo a lâmina e a extremidade do objecto – instrumento corto-perfurante.
(4) em simultâneo a lâmina e o peso do objecto – instrumento corto-contundente.
(5) em simultâneo a extremidade e o peso do objecto – instrumento perfuro-contundente.
(6) em simultâneo a lâmina, a extremidade e o peso do objecto – instrumento corto-
perfuro-contundente.
 Instrumentos Cortantes- Segundo Lacassagne “são os intrumentos que cortam os
tecidos de maneira rectilínea, provocando feridas mais compridas do que largas, com
bordos nítidos e ângulos agudos”.
As lesões produzidas por instrumentos cortantes são chamadas de feridas cortantes ou
feridas incisas.
Temos como exemplo de instrumentos cortantes ou actuando como tal: lâmina,
bisturis, pedaços ou fragmentos de vidro, folhas metálicas de facas, etc.
Geralmente as feridas cortantes são mais profundas no centro do que nas
extremidades, marcando-se o seu inicio pela maior nitidez e profundidade da secção, e
a extremidade terminal pela superficialidade do corte em cauda escoriativa.
Estes caracteres distintivos são valiosos para determinar a direcção em que o
ferimento foi produzido ou o instrumento manejado, o que têm grande importância
para estabelecer o diagnóstico diferencial médico-legal entre homcídio, suicídio e
acidente. Por exemplo nos casos de Degolação, ferida cortante na região cervical, o
diagnóstico diferencial médico-legal entre degolação homicída e degolação suicída é
feita em função da localização e direcção da lesão, nos casos de homicídio a ferida
cortante localiza-se geralmente nos 2/3 superior do pescoço de direcção transversal da
esquerda para direita se o agressor for dextro e supreender a vítima por detrás; nos
casos de suicídio nos individuos dextros a ferida cortante está localizada na face
antero-lateral esquerda do pescoço e a direcção é oblíquo de cima para baixo que
termina em cauda, existindo vários cortes paralelos satélites feitos pela vítima ao
experimentar a eficácia da arma branca, podemos encontrar na face dorsal da mão
manchas de sangue do tipo de projecção.

 Instrumentos Perfurantes: são os que produzem feridas em que a profundidade é


maior do que a extensão superficial, feridas com um orifício, em regra de pequenas
dimensões, seguido de canal de penetração, mais ou menos profundo.
Há instrumentos que podem produzir mais do que um orifício quando manejados uma
só vez, um compasso actuando simultâneamente com duas pontas produz dois
orifícios, etc. As
lesões graves encontram-se no interior, produzidas pela profundidade que o
instrumento alcança nos órgãos e vísceras. As
lesões produzidas por instrumentos perfurantes são chamadas de feridas penetrantes
segundo Afrânio Peixoto e Furtado Galvão, e feridas perfuradas segundo Asdrúbal
Aguiar. Temos como
exemplo de instrumentos perfurantes objectos tais como: agulhas hipodermicas,
pregos, chave de fenda, alfinetes, estiletes, etc.

 Instrumentos Corto-Perfurantes: são os instrumentos que actuam por um mecanismo


misto, cortante e perfurante, agem por secção e pressão.
Os intrumentos corto-perfurantes podem ter um só gume ou lâmina (canivete), dois

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gumes ou lâminas (punhal) e três gumes ou triangulares (lima).
As feridas corto-perfurantes tem as caracteristicas de uma ferida cortante na
superficie da pele com bordos rectilíneos e regulares, outra ferida perfurante
desenhando a forma e o tipo de instrumento utilizado.

 Instrumentos Corto-Contundentes: são os instrumentos que actuam por um


mecanismo misto, cortante e contundente derivado do peso do instrumento ou da
força activa de quem o maneja; agem por deslizamento ou secção, por percussão e por
pressão. Temos
como exemplo de instrumentos corto-contundentes a catana, o machado, a enxada, as
rodas de um comboio, etc. As feridas
corto-contundentes tem as caracteristicas de uma ferida cortante associado as lesões
tipicas produzidas por agente contundenteou actuando como tal, de forma váriavel
dependendo da região atinginda e da inclinação, da lâmina ou gume, do peso e da
força activa que actua. As
lesões quase sempre são graves, profundas atingindo os planos interiores provocando
fracturas.

 Instrumentos Perfuro-Contundentes: são os instrumentos que actuam por um


mecanismo misto, perfurante ou penetrante e contundente derivado do peso do
instrumento ou da força activa de quem o maneja, agem por perfurar ou penetrar, por
percussão e/ou por pressão. Temos
como exemplo de instrumentos perfuro-contundentes ou actuando como tal, as
ponteiras de guarda-chuvas, os dentes de ancinhos, os projectéis de arma de fogo
isoladamente, etc. As
feridas perfuro-contundentes tem as caracteristicas de uma ferida perfurante, com um
orifício associado as lesões tipicas porduzidas por agente contundente, isto é, orla de
contusão no orifício, infiltração hemorrágica subjacente e pode haver fracturas ósseas.

C- Lesões produzidas por Armas de Fogo.


Armas de Fogo são instrumentos de forma e tamanho variável, que lançam violentamente
projecteis devido a força expansiva dos gases que se desprendem ao inflamar
instantaneamente substâncias explosivas num espaço confinado.
Mantem esse nome até os dias de hoje, porque nas armas primitivas os projecteis quando
disparados saiam do cano com chamas de fogo.
As armas de fogo são constituidas de um ou dois canos, abertos numa das extremidades e
parcialmente fechados na parte de trás, onde se coloca o projéctil. Quando é produzido o
disparo saêm do cano além do (s) projéctil (eis), gases superaquecidos, chama, fumaça,
grânulos de pólvora incombusta e a bucha.

1- Classificação das armas de fogo:


As armas de fogo classificam-se em função as dimensões, ao modo de carregar, ao modo
de percurir e quanto ao calibre dos projecteis.
 Dimensões: (1)- Armas de fogo portácteis, que são as mais usadas para defesa
pessoal. (2)

101
- Armas de fogo semi-portácteis. (3)-
Armas de fogo não portácteis, as verdadeiras armas de guerra.
 Modo de carregar: (1)- Antecarga, quando a munição é colocada no cano ou na
boca, parte anterior do cano. (2)-
Retrocarga, quando a munição é colocada no pente, no tambor ou na parte posterior
do cano.
 Modo de percussão: (1)- o gatilho é percutido pela pederneia.
(2)- o gatilho é percutido por meio da espoleta que existe no ouvido.
(3)- o gatilho é percutido por meio da espoleta existente no estojo.
 Quanto ao calibre: este tipo de classificação tem maior importância médico-legal.
Podem ser classificadas pelo peso e pela medida da extensão. A extensão ou
diâmetro dentro da boca do cano é usada para as armas raiadas, o calibre é dado em
milímetros classificação francesa, em centésimos de polegadas classificação
americana e milésimos de polegadas a inglesa.

2- A Munição:
A munição é composto por cinco partes.
 Estojo ou Capsúla é um receptáculo de latão ou papelão prensado, cilindrico e
contem todos os elementos da munição.
 Espoleta é a parte do cartucho que se destina a inflamar a carga. É constituida por
estifinato de chumbo, tetrazeno, nitrato de bário, trissulfeto de antimônio e alumínio.
 Bucha é um disco de feltro, cartão, couro, borracha, cortiça ou metal dependendo do
fabricante, separa a pólvora do projectil.
 Pólvora é a substância que explode pela combustão. Há pólvora negra, antiga e que
produz fumaça; e pólvora branca sem fumaça. Ambas produzem 800 a 900 cm
cúbicos de gases/grama. Geralmente à pólvora vem misturado carvão pulverizado,
enxofre e salitre.
 Projéctil é um instrumento que actua como perfuro-contundente quando penetra no
organismo, de forma cilindrico-ogival, feito de chumbo ou revestido de níquel ou de
outra liga metálica. Os projecteis antigos tinham forma esférica, daí a designação de
bala.
3- Balística Forense.
Segundo Domingos Tochetto Balística Forense “é uma disciplina integrante da
Criminalística, estuda as armas de fogo, suas munições e efeitos dos tiros por elas
produzidos, quando o disparo for relacionado directa ou indirectamente as infrações
penais.”
A Balistica era anteriormente tratada na Medicina Legal, hoje constitue um capitulo
independente pertencendo a Criminalistica, como ciência autónoma e peritos
especializados nesta área devem falar dos seus efeitos explosivos, das armas de alta
energia, raios do cano,etc.
4- Lesões ou feridas produzidas por projécteis de armas de fogo.
Os ferimentos por projécteis de arma de fogo dão motivo, com frequência, a perícias
médico-legais.
Além do projéctil ou projécteis da boca do cano escapam os gases da explosão super-
aquecidos, a chama, a fumaça, os grânulos de pólvora incombusta e a bucha.

102
Estes elementos e a própria arma são importantes para a distinção das lesões ou ferimentos
produzidos pelos projécteis de arma de fogo.
Dum modo geral, os ferimentos ou lesões dos projécteis de arma de fogo compreendem:
orifício de entrada do projéctil; o trajecto ou canal de penetração do projéctil e orifíficio de
saída do projéctil.

Lesões de Entrada ou de Orifício de Entrada do Projéctil:


Em função à distância que é efectuado o disparo de arma de fogo, os oríficios de entrada
apresentam diferentes características
 Orifícios de entrada disparado á boca tocante ou cano encostado ou ainda há
menos de 1cm: Segundo Balthazard quando o disparo é efectuado até 1cm de
distância ou a boca do cano encostado, em consequência da acção simultânea do
projéctil e dos gases de explosão, forma-se um ferimento largo, estrelado ou de
contornos irregulares e lacerados, chamado por orifício em boca de mina de Hofmann.
Assim se designa porque todos os elementos da carga penetram no orifício do
projéctil, este mostra-se enegrecido com aspecto de uma cratera de mina.,
mnemónicamente diz-se que se encontra tudo dentro nada fora.
Além destes elementos, á volta do orifício pode exister crepitação gasosa sub-cutânea
resultante da infiltração dos gases, na pele pode estar impresso a marca do cano, os
bordos do orifício evertidos devido ao levantamento dos tecidos pela explosão dos
gases. As vezes, quando os projécteis disparados à essa distância atingem ossos
planos ou chatos tipo o crânio, costelas e omoplata, o sinal acima referenciado –
enegrecimento ou halo fuliginoso fica impresso na tábua externa do osso, sinal de
Benassi. A nossa experiência, que julgamos que é a mesma de muitos autores e
peritos, revela que os elementos ou sinais frequentemente encontrados, que permite-
nos diagnosticar com certeza de que o disparo foi efectuado a boca tocante ou cano
encostado são: (1)-
orifício regular circular ou ovalar dependendo do grau de incidência do projéctil ao
atingir a pele, raramente irregular ou estrelado. (2)- os
bordos do orifício estão virados para dentro ou invertidos, raramente evertidos devido
a acção dos gases. (3)- no
orifício temos orla de contusão ou orla escoriativa resultante da penetração do
projéctil que actua como agente perfuro-contundente, é uma zona escura,
apergaminhada às vezes, que circunda o orifício.
(4)- halo de enxugo, é devido a passagem do projéctil nos tecidos, que limpa neles as
impurezas. (5)- o
orifício e seu interior encontra-se enegrecido, devido a penetração de todos os
elementos que escapam pela boca do cano, nomeadamente gases super-aquecidos, a
fumaça, a chama, os grânulos de pólvora incombusta – todos estes elementos recebem
a designação de tatuagem, portanto a tatuagem localiza-se no interior do orifício.
(6)- para a confirmação segura, se o Laboratório de Criminalistica área da balística
estiver a funcionar, solicita-se o exame para a pesquisa de carboxihemoglobina no
sangue do orificio, exame quimico para pesquisa de nitratos de pólvora, nitritos da sua
degradação e enxofre da combustão da pólvora na pele.

 Orifício de entrada disparado a curta distância ou disparado a uma distância


entre 1 á 75 cm: Considera-se que o tiro foi disparado a curta distância, quando além
103
da lesão de entrada produzida pelo impacto do projéctil –
efeito primário, encontra-se manifestações provocadas pela acção dos resíduos de
combustão ou semi-combustão da pólvora, da chama, da fumaça que é a tatuagem,
expelida pelo cano da arma –
efeito secundário que está a volta do oríficio. Neste orifício se além da zona de
tatuagem e de esfumaçamento, encontra-se queimadura da pele ou crestação dos pêlos
e cabelos provocados pela elevada temperatura dos gases, diz-se que o disparo à curta
distância foi feito a queima roupa. Os sinais que podemos encontrar no local de
entrada do projéctil dos tiros desfechados a distância inferior a 75 cm (média) e
superior a 1 cm (média) são:
(1)- orifício circular ou ovalar, de bordos mais ou menos regular.
(2)- os bordos do orifício estão virados para dentro ou invertidos.
(3)- orla de contusão ou orla escoriativa, é o ferimento derivado do arrancamento da
epiderme, uma zona escura devido a acção perfuro-contundente do projéctil.
(4)- halo de enxugo ou de limpeza, zona escura que se sobrepõe a orla de contusão.
(5)- tatuagem é formada por particulas de pólvora incombusta que se incrustam à
roda ou volta do orifício, associado ao depósito de fumo de pólvora queimada, fumaça
e chama. Se o projéctil atingir inicialmente a roupa a tatuagem estará incrustada no
vestuário à volta do orifício.
(6)- pode-se também efectuar o exame criminalistico para a pesquisa dos efeitos
secundários do tiro sobre o alvo, que é o residuograma, que é o estudo da origem e
dos efeitos das particulas metálicas e não metálicas expelidas juntamente com o
projéctil, além do estudo das caracteristicas físicas e quimicas destas particulas de
cada unidade de munição.

 Orifico de entrada a longa distância ou disparado a uma distância superior a 75


cm: Quando o orifício de entrada não apresenta sinais de boca tocante ou cano
encostado e de curta distância pelas caracteristicas mascrocópicas do orifício e o
exame de residuograma negativo na pele e vestuário, consideramos que o projéctil foi
disparado a longa distância ou a uma distância superior a 75 cm. Os elementos que
escapam pela boca do cano aquando do disparo, nomeadamente os gases super-
aquecidos, a pólvora incombusta, a chama, a fumaça e a bucha perdem-se ao longo do
trajecto antes de atingir o alvo, só o projéctil ao atingir o corpo ou o alvo é que deixa
sinais, estes sinais são designados de sinais comuns porque todos os orificios de
entrada apresentam independentemente da distância a que foi efectuado o tiro.
(1)- orifício circular, ovalar ou irregular dependendo do grau de incidência do projéctil
ao atingir o alvo. (2)-
orifício com bordos virados para dentro ou invertidos. (3)-
orla de contusão ou orla escoriativa. (4)-
halo de enxugo ou de limpeza.

 O diagnóstico diferencial médico-legal entre orificio de entrada e o orifício de


saida quando o projéctil atinge o plano ósseo, em particular os ossos planos ou chatos
como por exemplo os ossos do crânio é feito pelo sinal de funil de Bonnet.
A tábua ou lâmina externa do osso apresenta o ferimento de entrada arredondado,
regular e de menor diâmetro,e na tábua ou lâmina interna o ferimento é irregular,
maior do que na tâbua externa e com o bisel interno bem definido, assemelhando-se
a um funil, isto é de forma de tronco de cone.
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O ferimento de saida é o contrário, com o bisel externo na tábua externa e na tábua
interna o orifício é menor e regular.

Trajecto ou Canal de Penetração do Projéctil:


É o caminho percorrido pelo projéctil no interior do corpo. O trajecto é o mais variável,
depende de muitos factores desde a distância a que foi proferido o disparo, região do corpo
atingida. A luz do canal do trajecto apresenta um sinal de vitaliadade importante que é a
presença de sangue coagulado; o desvio do trajecto deve-se na maior parte dos casos a
obstáculo osseos.
Para a localização do projéctil no corpo deve-se recorrer ao uso de radiografias. No momento
da extração deste não se deve utilizar instrumentos metálicos, a fim de não causar alterações
que possa falsear o exame de balística, deve sim o perito usar as mãos.
Lesão de Saída ou Orifício de Saida do Projéctil:
Estes orifícios apresentam geralmente as seguintes caracteristicas:
 Forma irregular e na maior parte dos casos maior do que o de entrada. A forma
irregular do orifício deve-se ao facto de o projéctil ao entrar no corpo humano e
durante o seu trajecto deforma-se.
 Os bordos do orifício estão virados para fora ou evertidos pelo facto da acção do
projéctil ser de dentro para fora, isto é, em sentido contrário ao de entrada.
 Não apresenta halo de enxugo porque as impurezas do projéctil ficam retidas ao
longo do trajecto da bala; não apresenta orla de contusão pois a acção do projéctil
no complexo dermo-epidérmico é de dentro para fora, pode existir nos casos
excepcionais quando o corpo atingido pelo disparo está encostado num anteparo, e o
projéctil ao sair encontra resistência dos tegumentos.
 Porque o diâmetro do orifício de saida é maior pode haver maior sangramento atráves
deste, podemos encontrar esquírolas ósseas, fios de tecido ou vestuário, pêlos, etc.

D- Lesões Produzidas por Agentes Explosivos:


As explosões são devidas a produção brusca de grande quantidade de gases e a dilatação
súbita de gases ou de vapores fortemente comprimidos.
As explosões podem ser provocadas por gás de iluminação, éter, álcool, amoníaco, petróleo,
acetileno, gasolina, gases mefíticos (fossas, poços), máquinas a vapor e recipientes contendo
gases comprimidos, substâncias explosivas propiamente ditas (pólvoras, dinamite), etc.
As lesões produzidas por agentes explosivos são de diversa ordem, dependendo das causas e
as circunstâncias de local em que se encontram as vítimas, podem ser queimaduras de
diversos graus, lesões do tipo contundente desde escoriações, fracturas, feridas, lacerações
viscerais, arrancamento de membros, etc; podem ser directamente produzidas por acção dos
gases e da chama e do invólcuro da substância que explode ou indirectamente por efeito de
corpos deslocados ou projectados ou ainda em consequência da projeção da própria vítima de
encontro a superficies duras.
As vítimas das explosões podem ficar de tal modo mutilados e queimados dificultando deste
modo a sua identificação.

105
E- Lesões por Agentes Dilacerantes:
São instrumentos que laceram os tecidos de forma irregular

4- Lesões produzidas por energias de ordem física:


As Energias de Ordem Física produzem lesões capazes de modificar o estado físico dos
corpos que podem resultar em ofensas corporais, dano a saúde ou morte.
As energias de ordem física que produzem lesões traumáticas são: temperatura,
electricidade, pressão atmosférica, radioactividade, luz e som.
A- Temperatura:
As lesões produzidas por energia de ordem física – temperatura, são as resultantes do frio,
do calor e osclição de temperatura.
 Lesões produzidas por Frio: O frio pode actuar de maneira individual ou colectiva,
as lesões por este tipo de energia física pode ser de origem acidental e criminosa.
Como vivemos num país tropical as lesões produzidas por frio são raras no nosso
meio, achamos que as mais comuns poderão ser eventualmente o abandono de recem-
nascidos que pode levar a morte por hipotermia particularmente na época fria. Não
temos casos registados desse género de crime e de morte violenta no Serviço de
Medicina Legal de Maputo, contudo este facto não exclue a possibilidade de sua
existência. As lesões por frio são atipicas e as mais graves podem produzir
queimaduras até gangrena das extremidades.

 Lesões produzidas por Calor: O calor pode produzir lesões ao actuar de forma
difusa ou directa. (1)-
Calor Difuso: os efeitos de altas temperaturas actuando no organismo de forma difusa
provoca dois sindromes: -a
insolução é resultado do excesso de calor ambiental em locais abertos ou fechados,
associado a factres intrinsicos tais como patologias cardiorespiratórias pre-existente,
estado fisiológico,etc. -a
intermação resulta de excesso de calor ambiental em lugares mal-arejados ou pouco
abertos, e a influência de factores intrinsicos tais como idade, alcoolismo, adptação
ambiental podem ser determinantes. Estas duas formas geralmente ocorrem de forma
acidental, e o diagnóstico é-nos dado pelos comemorativos é fornecido pelo boletim
meteorológico. (2)- Calor
Directo: a actuação do calor de forma directa no organismo produz queimaduras. As
queimaduras podem ser produzidas por diferentes tipos de agente desde os raios
solares ou ultra-violeta, liquidos fervescente, sólidos quentes, gases super-aquecidos,
calor irradiante e chamas. As lesões por queimaduras produzem alterações locais e
gerais, a gravidade depende da sua extensão e profundidade. As queimaduras podem
ser classificadas clínicamente e médico-legalmente. A Classificação
Clínica baseia-se em extensão da área corporal atingida, calculada em percentagem,
dá-nos a ideia da gravidade das lesões, usa-se a Regra dos Noves de Pulaski e
Tennisson. (colocar o desenho de um adulto).
A classificação Médico-Legal toma em consideração a profundidade das lesões, desde
a epiderme até ao osso (colocar o desenho). Segundo Hoffmann as queimaduras

106
classificam-se em quatro graus.
– 1º grau: a queimadura afecta a camada epidermica, é chamada de Eritema – sinal de
Christinson. Ocorre por exemplo após exposição aos raios solares. A pele conserva-se
integra, não há cicatrização, ocorre simplesmente a sua dispigmentação. O eritema é
um sinal importante de vitalidade da lesão.
– 2º grau: além do eritema, na pele observa-se flictenas ou vesículas que contém no
seu interior liquido amarelo-claro, seroso, rico em albuminas e cloretos – sinal de
Chambert. Atinge a camada dermica, e são muito dolorosas. Podem ser produzidas
por exemplo por um pingo de óleo ou liquido fervescente. Quando a flictena se
rompe, a derme fica desnuda, de cor escura, e pela acção do ar disseca-se e fica uma
rede capilar fina de aspecto apergaminhado.
– 3º grau: são queimaduras mais profundas, afectando as camadas hipodermicas e
musculares, produzindo coagulação necrótica dos tecidos moles. São geralmente
produzidas por chamas ou sólidos super-aquecidos. Os tecidos necróticos são
posteriormente substituidos por outros de granulação formando cicatrizes de segunda
intenção, que podem ser rectráteis ou formar queloides, chamadas de Escaras.
- 4º grau: são queimaduras mais destruitivas, atingindo o plano ósseo e chama-se de
carbonização. Geralmente este tipo de queimaduras são produzidas por chamas.
Quando há carbonização generalizada ou 100% da área corporal há uma redução
significativa do volume e peso do corpo, este assume a posição de boxer com
fracturas ósseas e abertura das cavidades. Nestes casos é importante determinar se a
queimadura foi vital ou não, que é nos dada pela presença de óxido de carbono no
sangue e fuligem ou negro de fumo nas vias respiratórias – sinal de Montalti.
As queimaduras podem ser de origem acidental que é forma mais frequente. Nos
casos registados no Serviço de Medicina Legal principalmente em crianças quer por
liquidos fervescente ou por chamas devido ao uso de Xipefo (candeeiro tradicional)
ou velas; de origem criminosa - ofensas corporais nestes casos é fundamental na
avaliação médico-legal verificar se as lesões puseram ou não em perigo a vida da
vítima, devendo o perito basear o seu diagnóstico em critério clínico (extensão da área
corporal atingida) e critério médico-legal (profundidade da lesão); suicídio por
chamas antecidida de emulação, são muito mais raros os casos de homicídio.

 Lesões produzidas por temperaturas oscilantes: O seu estudo tem intersse


principalmente para o Direito Laboral, para a avaliação dos acidentes de trabalho e
das doenças profissionais. Acontece em trabalhadores que exercem as actividades
laborais, como por exemplo em contentores e câmaras frigorificos, que sem a devida
proteção, como capas, luvas e botas de borracha entram e saêm desses contentores,
expondo-se a altas temperaturas no exterior e baixas temperaturas no frigorifico. Este
tipo de acção expõe o organismo humano, debilitando-o, propiciando a exaltação de
germes virulentos devido a diminuição da resistência individual de patologias
respiratórias tais como pneumonias, broncopneumonias, tuberculose por causa das
oscilações bruscas das temperaturas. Nestes casos é fundamental o perito provar a
relação de nexo causalidade entre a doença e o trabalho que a vítima exerce.

B- Electricidade:
A electricidade natural ou cósmica e a electricidade artificial ou industrial podem causar
lesões traumáticas de interesse médico-legal.

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 Lesões produzidas por electricidade natural ou cósmica: As lesões traumáticas
produzidas por energia electrica natural ou cósmica denomina-se de Fulguração ou
Fulminação. O diagnóstico da fulgaração deve ser por exclusão, baseado nos
comemorativos do dia anterior de mau tempo com trovoadas e relâmpagos e o exame
das lesões. O
seu interesse médico-legal é no âmbito do Direito Laboral - Acidentes de Trabalho e
Doença Profissional para os trabalhadores agrícolas e rurais; para o Direito
Constitucional pois é obrigação/dever do Estado/Municipios criar condições de
habitabilidade e segurança dos seus cidadãos/municipes implantando para-raios, para
evitar os efeitos de electricidade natural.
Os efeitos da energia electrica são de diversa ordem, porque não é possivel determinar
a intensidade da corrente. Por acção directa do raio pode causar queimaduras de vária
ordem até carbonização total do corpo, fracturas e lacerações dos órgãos, dos grandes
vasos, etc; por acção indirecta por súbita deselectrização pode causar morte por
inibição nervosa periférica ou paragem cardíaca, a vítima pode ser arremessada à
distância assim como a roupa e outros objectos metálicos, e sofre efeitos secundários
resultantes de traumatismos contra obstáculos fixos e morte.
Nas vítimas pode surgir um desenho arboriforme , fenomeno vasomotor – sinal de
Lichtenberg.Os sobreviventes podem ter perturbações de vária ordem desde mentais,
visuais, auditivas ou motoras.

 Lesões produzidas por electricidade artificial ou industrial: As lesões produzidas


por este tipo de energia electrica designa-se de electrocussão ou electroplessão.
A lesão mais simples é a marca electrica de Jellinek, que tem forma circular, elíptica
ou estrelada, de consistência endurecida, bordas altas e leito deprimido, de cor branco-
amarelado, indolor e asséptica.
As vezes desenha a a forma do fio electrico, e representa a porta de entrada da
corrente, devemos no entanto procurar sempre a porta de saida geralmente nos pés.
Quando a electricidade é de alta tensão pode haver lesões mistas ou seja marca
electrica e queimaduras de diferentes graus dependendo do efeito e lei de Joule. Outro
efeito que vem descrito na literatura é metalização electrica que se destaca na pele,
impregnação de particulas metálicas.
A acção da corrente electrica pode ser directa sobre o organismo dependendo da
intensidade com queimaduras de diversos graus e lesão dos centros vitais nervosos,
respiratórios e cardiaco, ou indirectamente por deselectrização com o arremesso da
vítima a grandes distâncias e morte por traumatismo contra obstáculos fixos.
As causas de morte variam de acordo com a intensidade da corrente electrica:
- morte cerbral corrente de alta tensão acima de1200 volts.
- morte por asfixia (respiratório) corrente electrica entre 1200 à 120 volts.
- morte cardíaca a intensidade da corrente electrica é abaixo de 120 volts.
O interesse médico-legal é principalmente no âmbito de Direito Laboral por Acidentes
de Trabalho e Doenças Profissionais, são os casos mais frequentemente registados no
nosso Serviço de Medicina Legal; há casos isolados de danos corporais seguidos ou
não de morte das vítimas, na tentativa de furto de cabos electricos na via pública e
tentativa de furto e roubos nas residências. Por isso é fundamental que os governos
provinciais e municipais regulamentem a voltagem que devem ter as residências
electrificadas para se evitar acidentes mortais.

108
C- Pressão Atmosférica, Radioactividade, Luz e Som:
 Pressão Atmosférica: Tem interesse médico-legal no âmbito de Direito Laboral nos
casos de acidentes de trabalho e doenças profissionais. Achamos que estes casos
podem vir a ocorrer no nosso meio devido ao incremento do turismo, particularmente
os de aumento da pressão atmosférica nos mergulhadores. Este sindrome é chamado
o mal dos caixões ou barotraumas, caracterizado pela intoxicação por oxigénio,
nitrogénio e gás carbônico.
 Radioactividade: A energia causadora do dano provem do raios x, no rádio e
energia atómica. Tem interesse médico-legal no âmbito de Direito Laboral (técnicos
de radiologia e outros) e em casos de responsabilidade médica.

 Luz e Som: Essas formas de energia física pode comprometer os órgãos de sentido,
produzindo lesões e perturbações funcionais que implicam muitas das vezes perícias
médico-legais.
Luz- a acção intensiva dessa energia pode provocar alterações nos órgãos da visão,
formas ligeiras até as mais graves como cegueira. É uma das formas qualificativas de
prática de ofensas corporais seguidas de sevícias (tortura e maus tratos) praticado por
autoridades policiais ou de outro tipo de policia nos prisioneiros e detidos para obter
confissões, por perversidade, sadismo ou para satisfazer desejos incofessáveis,
projectando sobre os olhos das vítimas feixes luminosos de alta intensidade que
produz lesões irreversiveis no aparelho visual.
Som- tem relevância médico-legal no Direito Laboral nos casos de acidentes de
trabalho e doenças profissionais, em pessoas que permanecem sem devida proteção
em ambientes de grande poluição sonora devido a exposição única ou continua aos
ruidos, produzindo alterações no aparelho auditivo.

5- Energias de ordem quimica:


Cáusticos são substâncias que dependendo da natureza quimica produzem lesões
tegumentares. Elas são classificadas em função dos efeitos que produz em coagulantes e
liquefacientes.
 Cáusticos coagulantes são os que desidratam os tecidos, produzindo escaras
endurecidas, por exemplo o nitrato de prata, o acetato, etc.
 Cáuticos liquefacientes são os que produzem escaras húmidas, translúcidas e moles,
por exemplo a soda, potassa, etc.

A identificação das substâncias cáusticas é feita pelo aspecto das lesões e por exames
quimicos para determinar se é uma substância ácida ou álcalis.
Em geral, a natureza juridica dessas lesões no nosso meio é por suicidio, sendo raros os casos
de homicidio e acidental. Entretanto existe uma figura juridica na nossa legislação como
sendo um elemento qualificativo de ofensas corporais a vitriolagem, que é o arremesso de
vitriolo ou acido sulfurico para a face da vítima.

109
VI- GRANDES (POLI) TRAUMATISMOS - MORTE
VIOLENTA ACIDENTAL , QUEDAS E PRECIPITAÇÕES
Este capitulo trata das vítimas politraumatizadas por diversos tipos de acidentes de meio
de transporte, de quedas e precipitações.
1- Acidentes de Viacção:
A - Epidemiologia:
Os acidentes de viacção ocupam actulmente um lugar de destaque na Medicina Forense,
devido aos problemas médicos de diagnóstico e prognóstico, juridico e sócio-
económicos colocados que para a sua resolução se exige a intervenção médico-legal.
Em termos de Saúde Pública segundo dados fornecidos pela OrganizaçãoMundial da
Saúde os acidentes de viacção causam anualmente em todo o mundo um grande número
de vítimas mortais estimado entre 800.000 a 1.18 milhões de pessoas. Isto prêfaz que
exista uma média diária de 3.242 mortes, sendo os continentes africanos e asiáticos os
mais afectados. Em 2002 os traumatismos provocados pelos acidentes de viacção
constituíram a quarta causa de morte entre os adultos em idade economicamente activa,
as vítimas com ferimentos e os com invalidez ou handcap para toda a vida rondam entre
20 a 50 milhões de pessoas. O
dia 17 de Agosto de 1896 ficou registado na história da humanidade devido a um
trágico acontecimento, porque morreu nesse dia a primeira vítima de acidente de
viacção tipo atropelamento em Londres, a senhora Bridget Driscoll, por imprudência do
110
motorista que predentia atrair para si as atenções de uma moça.
Face a esta tragédia mundial a Organização Mundial da Saúde, que é uma Agência
especializada das Nações Unidas que trata dos problemas mundiais sobre a saúde,
decidiu que neste ano o 7 de Abril Dia Mundial da Saúde, o lema seria a Problemática
dos Acidentes de Viacção e a Saúde Pública. Na Africa, segundo dados disponíveis os
traumatismos resultantes dos acidentes de viacção são estimados em 28.3% por cada
cem mil habitantes, e as previsões para os próximos sete anos são preocupantes com o
aumento de 80%, enquanto que nos países desenvolvidos há previsão de uma redução
de 29%. Confrontado
com estes dados foi efectuado um apelo aos Estados Membros no sentido de
conceberem estratégias e planos de acção de segurança rodoviária para a diminuição da
taxa de sinistralidade nos países africanos, e em Moçambique o slogan escolhido pelo
grupo multisectorial foi “Pela Segurança Rodoviária: Evite o Acidente”.
No nosso país, segundo dados publicados sem descriminar a zona e região do país pelo
Instituto Nacional de Viacção (INAV) referente ao ano 2003 houve 5402 acidentes de
viacção e que estes causaram a morte de 1123 pessoas.
Estudo efectuado pelo autor, A. Zacarias et all em 2001, sobre “As causas de morte
registados no Serviço de Medicina Legal do Hospital Central de Maputo, no período
compreendido entre Janeiro de 1991 a Dezembro de 2000 do total de 15.101 autópsias
realizadas, 6.421 (42,5%) dos casos a causa básica de morte deveu-se aos acidentes de
viação, os grupo etários etários mais atingidos por um lado foram entre 21 a 45 anos de
idade totalizando 46%; e por outro crianças do grupo etário entre os 6 a 14 anos de
idade que prefazem 17%.

Dados publicados em 2002 pelo Programa Nacional de Ortopedia e Traumatologia


revelaram que do total de 8.564 doentes internados nos hospitais do país nas
enfermarias de Ortopedia e Traumatologia 5.995 (70%) eram devido ao trauma de
diversa causa, e que 2.339 equivalente a 39% por causa dos acidentes de viacção.
O Laudo Pericial tal como vem plasmado no artigo 590º do Código de Estrada nos
casos em que a morte é precidida de um acidente de viacção ou ocorrida na sua ocasião,
a necrópsia deve estabelecer a independência do acidente ou, pelo contrário, confirmar
a natureza acidental da morte.
Nos casos dos acidentes não mortais, a perícia médico-legal deve avaliar os danos
patrimoniais e danos não patrimoniais que a vítima e/ou outros ocupantes da viatura
sinistrada sofreram porque segundo a lei estes estão cobertos de um seguro que lhes
permite ressarcir os danos.
O desenvolvimento da circulação automóvel mundialmente, levou a uma progressão
alarmante de acidentes de viacção. Hoje está mais do que provado que o automóvel
constitui o meio de transporte mais perigoso e com altas taxas de mortalidade em
relação aos outros meios de transporte por mil-milhões de Km percorridos, segundo
O.M.S.
Caminhos de ferro----------- 0,95 mortos
Aviacção ------------ 6,8 mortos
Automóvel ------------ 42 mortos

111
Com objectivo de diminuir as altas taxas de morbi-mortalidade por acidentes de viacção,
muitos países utilizaram várias estratégias, desde o estudo das causas e organização dos
sistemas de saúde para dar respostas eficazes ao aumento da demanda.
Uma das medidas que provou ser eficaz foi a melhoria de organização dos primeiros
socorros às vítimas de acidente de viacção, tais como serviço de ambulância 24/24 horas
com o pessoal devidamente treinado e articulado com os serviços de urgência com equipes
preparadas para a receptação das vítimas, etc.. Estas medidas e outras levaram a uma
diminuição drástica da taxa de mortalidade por acidentes de viação nesses paises.
C- Causas:
Vários estudos permitiram determinar que a maior parte das lesões traumáticas que se
observa nas vítimas mortais e não mortais dos acidentes de viacção são produzidas por
agentes ou instrumentos contundentes ou actuando como tal.
Para que se delinea politicas para prevenção eficaz dos acidentes de viacção e
consequentemente uma diminuição drástica da taxa de morbi-mortalidade é fundamental
que as diferentes Instituções intervenientes tais como o Instituto Nacional de Viacção, a
Policia de Trânsito, Ministério da Saúde, Município, Escolas Autos de Aprendizagem,
Companhias de Seguro e Associação do Transportadores Semi-colectivo e de Taxi se
consciençalizem de que todos devem falar a mesma linguagem, porque as diferentes
causas técnicas e causas individuais são conhecidas, foram estudas e tomadas medidas de
modo a eliminar como desencadeadores dos acidentes de viação em muitos países de
mundo com sucesso.
É nossa convicção de que se a vontade politica existisse teríamos uma redução
significativa das taxas de morbi-mortalidade dos acidentes de viacção, para tal é
importante que se faça um estudo minucioso das causas e dos factores susceptiveis que
intervêm na sua determinação. Recordamos que existem vários despositivos legais
(decretos e diplomas ministeriais) que devidamente implementados iriam concorrer para
esse fim, diminuição das altas taxas de sinistralidade rodoviária no nosso país. Há a
destacar:
 Decreto Lei 5/93 que cria o Instituto Nacional de Viacção (I.N.A.V.), que é uma
instituição técnico-científica, subordinada ao Ministério dos Transportes e
Comunicações, que possui um Conselho Técnico Cientifico composto por
directores adjuntos do INAV, Chefes de Departamento e Representantes do
Ministério do Interior, Ministério das Obras Públicas e Habitação, Ministério da
Justiça, Ministério do Plano e Finanças, Ministério da Saúde, Ministério da
Educação, Ministério da Defesa Nacional e Ministério da Industria e Energia.
 Decreto Lei 6/96 que cria o Conselho Nacional der Viacção, orgão consultivo e de
coodernação de toda politica e sistema nacional de trânsito e viacção. Estabelece
como figura fundamental desse órgão o Ministro dos Transportes e Comunicações
que preside, tem como vice-presidente o Ministro do Interior e outros membros são
os Ministros das Obras Públicas e Habitação, da Justiça, do Plano e Finanças, da
Saúde, da Educação e da Defesa Nacional.
 Decreto Lei 17/93 que agrava as multas e torna obrigatório o uso de cinto de
segurança e dos capacetes de protecção.

112
 Decreto Lei 39/99 que uniformiza as regras de trânsito em uso no território
nacional com as regras em vigornos países membros da Comunidade da Africa
Austral (SADC).
 Diploma Ministerial 56/2003 que regulamenta as inspecções períodicas
obrigatórias nos veículos automóveis e reboques.
 Diploma Ministerial 112/2003 que regulamenta o uso de alcoolímetros para o
controlo do grau de alcoolémia nos condutores dos veículos automóveis.
1- Factores técnicos:
Numerosos artigos e dados estatisticos relativo as causas de acidentes de viacção dão grande
importância aos factores técnicos como sendo importante para a prevenção e diminuição das
taxas de incidência e de prevalência de morbi-mortalidade dos acidentes de viacção. Os
factores técnicos sobejamente estudados em vários países são Estado das Rodovias e Estado
dos Veículos.
a) Estado das Rodovias:
 Curvas/cruzamentos: vários estudos feitos em paises industrializados e do 2º mundo
na década 60 demonstraram que 25% de todos os acidentes ocorriam nas curvas e
cruzamentos, e que também 50% dos acidentes mortais nas cidades e 10 a 15% nas
zonas rurais. Estando
provado estatisticamente nestes estudos, achamos que tal como ocorreu nestes países é
importante e fundamental que as instituições de direito tais como o Instituto Nacional
de Viacção, Municipios devem colocar a devida sinalização nas rodovias a assinalar a
aproximidade das curvas e cruzamentos, colocação de semafóros para o controle do
tráfico nestes locais afim de prevenir e diminuir os altos índices de acidentes de
viacção. Este é
obviamente um factor técnico que contribui de forma significativa para altas taxas de
incidência dos acidentes de viação em Moçambique em geral e em particular ao nível
da cidade de Maputo por existirem poucos sinais para advertir os motoristas da
proximidade das curvas e cruzamentso, e dos e semafóros para o controle do tráfico.

 Inclinação ou declive das rodovias: este é um dos factores técnicos de grande valia,
que os administradores das auto/estradas municipais, regionais, provinciais e
nacionais devem ter em consideração, colocando sinais apropiadas para que os utentes
saibam qual é o nível de declive da rodovia a fim de diminuir a velocidade dos
veiculos, estabelecendo a velocidade máxima.

 Revestimento da via: achamos de que este factor técnico é um dos que influenciam
para o aumento alarmente da taxa de incidência e prevalência dos acidentes de
viacção no nosso país.
Vários estudos demonstraram que quanto maior for a qualidade das rodovias maior é a
segurança rodovária. Todos conhecemos a qualidade das estradas do nossos país e em
que estado elas se encontram, não cabendo ao autor tecer opinião técnica em relação a
esta questão por não ser perito e especialista da área, contudo não podemos deixar de
mencionar de que a maior parte da estradas urbanas, rurais, interurbanas, regionais e
nacionais encontram-se em péssimo estado de conservação, em particular as da cidade
de Maputo que praticamente muitas delas já não têm asfalto só buracos e crateras que
além de danificar os veículos, não oferecem nenhuma segurança, pois os motoristas
113
são forçados a fazer gincanas, violando muitas das vezes o código de estrada para
puderem continuar o percurso.

 Obscuridade: este factor técnico é também um dos que contribuem para os altos
índices de acidentes de viação no nosso país, tanto nas rodovias urbanas, interurbanas,
regionais e nacionais, porque associado ao mau estado de revestimento das vias, falta
de sinalização a obscuridade dificulta ainda mais a transibilidade e escoamento do
trafego, por isso muitos motoristas acendem as luzes no máximo e encandeiam os
outros motoristas.
Com esta abordagem dos factores técnicos – estado das rodovias podemos concluir de que se
o estado não assume o seu papel de regulador, investidor (promotor) e de inspecção para
estabelecer parametros em relação as qualidades das estradas, sinalização e regulamentação
sobre limites de velocidade a segurança nas vias rodoviárias está em causa.
b)- Estado dos Veículos:
É nestes factores técnicos que nós achamos de que a intervenção do estado (instituições que
existem para a inspecção e fscalização, tais como INAV, Policia de Trânsito) é fundamental
tanto na supervisão, regulamentação e fiscalização do estado dos veículos; além naturalmente
consciencialização – educação civica e da cidadania, dos proprietários dos veículos para que
façam a manutenção e revisão periodica dos mesmos.
Dentre estes factores destacamos os seguintes:
 Estado dos pnuemáticos: os pneumáticos devem estar em boas condições para uma
boa segurança rodoviária, pois estes bem conservados permitem que em situação de
emergência a travagem brusca ocorra com sucesso quer o pavimento esteja ou não
escorregadio. Se
os pneumáticos não estiverem em boas condições, associado ao mau estado das
rodovias a probalidade de a travagem sem sucesso é grande e de o veiculo por
rebentamento do pneu com despiste e capotamento ocorrer também é, com
subsequente acidente.

 Estado mecânico do veículo: para que a seguança rodovária esteja garantida é


fundamental que todos os veículos ou meios circulantes estejam em devidas condições
mecânicas. Aqui
é fundamental que o estado ,este caso o I.N.A.V. regulamente a obrigatoriedade da
vestoria periódica dos veículos em função da idade do mesmo, apesar da existência do
Diploma Ministerial 56/2003; que os órgãos que fazem a controlo do trânsito –
Policia de Trânsito exijam o certificado de vestoria e mandem tirar da circulação os
veículos que não estejam em devidas condições mecânicas e/ou não tenham o
cerificado de vestoria em dia; também é fundamental que os proprietários dos
veículos tenham a consciência de que devem fazer a manutenção/estação de serviço
periodica dos próprios carros, educação civica e de cidadania, pois se os meios
circulantes não estiverem em condições, devem ter a noção de que põem em perigo a
vida deles e a de outras pessoas na via pública.
Este factor técnico é um dos muitos que influenciam no nosso país para os altos
índices ou taxas de sinistralidade rodoviária, pois não é obrigatório a vestoria
mecânica periodica dos veiculos e dá impressão que muitos dos motoristas sabem de

114
antemão de que o estado dos seus veículo circulantes não oferecem a minima
segurança.

 Sobrecarga de passageiros e da mercadoria: este é um dos factores técnicos que


infelizmente têm causado acidentes de viacção com grande número de vítimas e
lesões de vária ordem desde vítimas mortais e não mortais, além de avultados danos
materiais.
Acidentes causados por transportadores semi-públicos lenciados e os piratas, os
camionistas de praça e os de longo curso que geralmente circulam com veiculos
superlotados de carga de passageiros e de mercadoria, não obedecendo o limite de
carga permitido pela lei, estas situações são mais evidentes e alarmantes
particularmente nos periodos de hora de ponta para os transportadores semi-
colectivos nas cidades em particular de Maputo e Matola e durante em datas festivas
para ambos tipos de transportadores.

2- Factores Individuais:
Este é o factor fundamental na génese dos acidentes de viacção, pois trata o factor
humano, individual ou pessoal e o colectivo para o tratamento e melhoria da segurança
rodoviária.
 Factores pessoais: este é factor determinante na génese dos acidentes de viação.
Devemos considerar vários aspectos ou factores das quais destacamos:
(1)- formação do motorista ou condutor: deve-se com base no que observamos nas
nossas estradas tirar as ilações pertinentes, pois podemos fazer uma lista interminável
dos erros praticados pelos condutores desde excesso de velocidade, não observância
das prioridades, falta de atenção, mudança de direcção sem precausão etc; que
demonstram que a formação da pessoa humana é importante sobretudo o papel das
instituições públicas (INAV) no controlo das escolas autos encarregues da formação,
o papel da policia de trânsito que fiscaliza a conduta dos infractores no sentido de
educá-los, puni-los devidamente e mandá-los para reciclagem se necessário.
(2)- vários estudos efectuados nos E.U.A., França e outros países ao tentar verificar a
génese em relação aos vários factores tais como idade, sexo e experiência do condutor
demonstraram que um dos factores de risco é a idade, independentemente do sexo e
hora da condução, revelando de novo a necessiade de os novatos ter que circular com
uma chapa para revelar que são novatos e que tem pouca prática.
 Dia Noite
SEXO MASCULINO FEMININO MASCULINO FEMININO
Menos de 25 anos 1,25 1,25 1,65 1,50
30-35 anos 0,90 1,05 0,95 0,90
60-65 anos 1,2 1,80 1,3 1,75
65-70 anos 1,4 2,10 1,5 -
Mais de 70 anos 1 2,40 2
França (1962)
(3)- educação de outros utentes das rodovias sobretudo os peões que devem ter noções de
onde e quando devem atravessar as estradas, os passageiros dos semi-colectivos que devem
obedecer os locais destinados a paragem dos mini-bus, a lotação dos mesmos, etc.

115
 Aptidão psicoténica: este factor individual é fundamental principalmente para fazer
cumprir o que está previsto na lei para os motoristas de cartas profissionais, os de
longo curso e os de transporte público e semi-colectivo que devem fazer os testes
psicoténicos, facto que nós constatamos que ao nivel das cidades, estradas nacionais e
regionais estes utentes não possuem esta genéro de carta de condução, aumentando o
risco para a insegurança rodoviária.

 Estado fisiológico: há muitos estados fisiológicos que podem contribuir para a


insegurança rodoviária, aumentando desde modo os altos índices das taxas de morbi-
mortalidade por acidentes de viacção, citando alguns como a fadiga, doenças, excesso
de calor, etc, em particular para os motoristas de longo curso, os de transporetes
públicos e semi-públicos, e os motoristas particulares. Por isso é fundamental que o
estado, os empregadores e sindicatos deste ramo estipulem o tempo máximo de
condução.

 Aptidão física: achamos que este factor deve ser periodicamente renovado em função
do perfil epidemiológico da população, implicando uma articulaçào institucional entre
o Ministério da Saúde e o INAV. Existe uma tabela que universal para uma serie de
patologias ou incapacidades físicas incompativeis para o obtenção ou renovação das
cartas de condução.

3- Factores Exógenos:
O factor exógeno na aumento do risco de insegurança rodoviária e não só, está mais do que
demonstrado em vários estudos, dos quais se destacam o uso e abuso do alcool e/ou associado
a outras drogas psiotrópicas.
Entretanto devemos realçar que no nosso país este factor é importante, por isso devemos
incentivar as autoridades públicas para a criação dos mecanismos de controlo das taxas de
alcoometria segundo o Diploma Ministerial 112/2003, e pesquisa de outras drogas
psicotrópicas às vítimas de acidentes de viacção (motoristas e passageiros) e nas outros tipos
de mortes violentas.
Existem diferentes tipos de acidentes de viacção: atropelamento, colisão entre duas viaturas –
frontal, lateral, por de trás, contra obstáculos fixos, etc, despiste com posterior capotamento,
etc.
B- Atropelamento:
Atroplelamento é definido como sendo um complexo de violência contusiva directa ou
indirectamente exercida por um veículo motos acima de 50cc sobre um peão ou um ciclista.
No atropelamento existem cinco fases: choque, projeção e queda, propulsão, esmagamento e
de arrastamento.
É fundamental que o perito saiba determinar na vítima quais são as diferentes lesões e em que
fases elas foram produzidas, para efectuar a reconstituição do facto ou do acidente a fim de se
apurar as responsabilidades.
Fases:
 1ª fase – Choque: ocorre quando o veículo motor entra em contacto com o corpo da
vítima. Nesta
fase as lesões típicas são as de estampa ou de marca (por exemplo do parachoque),
116
produzindo dependendo da altura do veículo e do peão, equimoses na região lombar
ou nas coxas com ou sem fractura óssea. Esta fase é
importante para estabelecer a posição inicial da vítima no momento do embate, na
reconstituição do acidente. Nos cadáveres
a pesquisa destas lesões deve ser feita por meio da disseção músculo-esquelética.
 2ª fase – Projecção e queda: após o choque o corpo é projectado para o ar ou para
diante com posterior queda sobre o veículo no capôo que é por exemplo típico nos
atropelamentos dos ciclistas, ao lado ou diante do veículo. As
lesões observadas são as de queda com fracturas ósseas como por exemplo resultante
do embate da cabeça contra o solo, embate nos membros superiores quando a vítima
tenta amortecer a queda extende os membros para diante com fracturas ao nivel da
cintura escapular, etc.
 3ª fase – Propulsão: o corpo é expelido para diante, acção de empurrão e de rolar
exercida pelo veículo sobre o corpo deitado no chão.
As lesões típicas são as escorições bipolares nas partes descobertas e eminências do
corpo de direcção contrária por exemplo nas regiões deltoideas, trocanterianas,
maleolares, etc.
 4ª fase – Esmagamento:o veículo ao prosseguir a sua marcha, passa com as rodas por
cima do corpo da vítima.
Nesta fase as lesões vão depender da velocidade, tonelagem do veículo, região do
corpo atingida, teremos aplastamento ou esmagamento crânio-facial, do tronco e
membros. É fundamental procurar marcas das rodas no vestuário e corpo da vítima.
 5ª fase – Arrastamento: ocorre quando o corpo fica aprisionado nas rodas ou noutras
partes do veículo e a vítima é arratada durante o prosseguimento da marcha da viatura.
As lesões são do tipo abrasivo ou escoritaivo em placa extensas podendo nos casos
mais graves por a descoberto os ossos.

Nem em todos os atropelamentos ocorrem as cinco fases, e a sequência pode não ser a
mesma.
Questões Médico-Legais:
 Geralmente como em todos os acidentes de viacção a etiologia médico legal nos
atropelamentos é acidental, podendo o condutor ser arrolado penalmente e civelmente.
 Existem casos raros de atropelamento em que a etiologia médico-legal é suicídio.
Estes factos ocorrem particularmente nas auto-estradas em que é exigido o limite
minimo de velocidade, a vítima aquando da aproximação do veículo lança-se na
estrada. Nestes casos geralmente não existe a 1ª fase de atropelamento que é a de
choque.
 Os casos de atropelamento em que a etiologia médico-legal é homicídio são ainda
mais raros, entretanto o perito não deve deixar de descatar esta hipotese.
 Outra questão médico-legal que pode ser colocado ao perito é a determinação das
lesões vitais, porque pode ocorrer que coloquem um corpo sem vida nas via pública
para simular um atropelamento
Nb- colocar o esquema de desenho, fotos.
C- Outras tipos de Acidentes de Viacção - Lesões do condutor e de passageiros do
automóvel:

117
Noutros tipos de acidente de viacção – colisão entre duas ou mais viaturas, colisão contra
obstáculos fixos ou infraestrturas, despiste com posterior capotamento, etc é fundamental
determinar a posição ou lugar que se encontrava os ocupantes dentro do veículo, identificar as
diferentes vítimas.
As lesões vão depender do tipo de acidente de viacção, posição da vítima dentro da viatura,
de complexos mecanismos de acelerção e desaceleração brusca, se a vítima estava ou não
com o cinto de segurança na altura do acidente, se a viatura têm os mecanismos actuais de
amortização do trauma durante o embate tipo air bag, etc.
Antes da obrigatoriedade do uso do cinto de segurança à nível mundial a maior parte das
lesões correspondiam: cabeça 50%, membros inferiores 17%, membros superiores 13%, torax
10% e pescoço 6%.
Com base nestes dados para diminuir as altas taxas de mortalidade e de lesões graves nas
vítimas por acidentes de viacção tornou-se obrigatório o uso do cinto de segurança, no nosso
país com o Decreto Lei 17/93, inicialmente para o condutor e o passageiro sentado ao lado do
motorista, depois extendeu-se para os passageiros sentados no banco traseiro e uma cadeira
obrigatória para crianças. Hoje também em muitos países é obrigatório o uso de cinto de
segurança pélvico para os passageiros de autocarros ou machibombos de médio a longo
curso, viagens regionais, nacionais e internacionais.
Outros estudos permiteram melhorias tecnológicas na feitura e comodidade nos automovéis,
quando se observou lesões mortais e graves sequelas nas vítimas sobreviventes dos acidentes
de viacção ao nível da região cervical, que nos Estados Unidos designaram de Whiplash
Injury ou seja lesões de golpe de chicote, descritos inicialmente em casos de choque contra a
traseira de um veículo precedente.
As lesões deviam-se ao choque imprevisto por detrás de uma viatura parada, a cabeça por
inércia era levada violentamente para trás e depois rapidamente para diante, produzindo
lesões ao nivel da coluna cervical desde simples contusões, fracturas até separação da cabeça
dependendo da velocidade do veículo.
Estas lesõs também foram descritas noutras circunstâncias, chamadas de lesões dos
semaforos devido as travagens bruscas, sendo o mesmo mecanismo, de aceleração e
desaceleração brusca.
Por essa razão todos os automoveís ligeiros, até pesados/autocarros têm hoje o assento ou
almofada cervical para amortizar os traumas cervicais e interromper a flexão e extensão
brusca e violenta da coluna cervical, tanto nos bancos anteriores como nos posteriores.
Para as Companhias de Seguros e as Autoridades Policiais e Judiciais é importante
determinar nas vítimas quem é o motorista, o passageiro sentado ao lado do motorista e os
passageiros sentados nos bancos de trás, porque as lesões podem ser diferentes dependendo
do tipo de acidente de viacção, se na altura do acidente a vítima estava ou não com o cinto de
segurança devidamente colocado, e finalmente o ressarcimento do dano na vítima vai
depender do tipo de apolice da viatura segurada.
1- Lesões do Motorista ou do Condutor:
 Sem o cinto de segurança: neste caso as lesões geralmente são mais graves,
localizam-se na porção superior ou cranial do corpo:
(1)- na cabeça, crânio e face resultante do embate contra o parabrisas e dependendo da
velocidade do veículo o corpo pode ser projectado com posterior queda para fora do

118
veículo e sofrer lesões contra outras estruturas e obstáculos.
(2)- fractura da mandibula e lesões da laringe resultante do embate contra a porção
superior do volante. (3)-
traumatismo toráco-abdominal fechado com lesões graves da parede e órgãos internos
toraxicos e abdominais resultantes do embate violento do tronco contra o volante e
quadro do controle.
 Com o cinto de segurança: neste caso as lesões geralmente são menos graves,
localizam-se na porção inferior ou distal do corpo, porque o cinto no momento do
choque impede que a porção superior ou cranial do corpo se embata contra o
parabrisas, quadro de controle e o volante, impede também que a vítima seja
projectada para fora do veículo. Nos
automoveis modernos as lesões são ainda menos graves devido ao air bag que é
accionado no momento do choque e o assento é arremessado para trás.
As lesões mais frequentes são as dos membros inferiores:
(1)- luxação com ou sem fractura da anca devido a extensão do membro inferior no
momento de choque. (2)-
fractura da rotula ao embater violentamente contra o volante. (3)-
luxação com ou sem fractura da articulação do tornozelo devido a pressão
violentamente exercida sobre o pedal de travão e da embriagem.

2- Lesões do passageiro sentado ao lado do condutor:


Este lugar do passageiro sentado ao lado do motorista é considerado como o sitio mais
perigoso, chamado por autores norte-americanos como o death seat, porque eventualmente
o condutor ao aperceber-se de um choque inevitável instintivamente vire a viatura para que
o embate seja mais violenta do lado oposto, e, muitas das vezes esse passageiro viaja mais
descontraido e relaxado sem se aperceber bem o que se passa à sua frente.
 Sem o cinto de segurança: nestes casos as lesões são ainda mais graves, porque o
passageiro ao lado do motorista não tem o volante que pode impedir o embate
imediato da cabeça (crânio e face) contra o parabrisas e a projecção com posterior
queda do corpo é muitas das vezes inevitável.
Também o traumatismo toraco-abdominal é forte com embate contra o quadro onde
está o porta luvas, com lesões da parede toráxica e dos orgãos toraco-abdominais
internos.
 Com o cinto de segurança: as lesões são menos graves e localizam-se na porção
distal do corpo, como geralmente é apanhado de supresa extende os membros
inferiores e como consequência pode ocorrer raramente fractura luxação
bilateralmente da anca, ao extender os membros superiores factura dos ossos da
cintura escapular, etc.
3- Lesões dos passageiros sentados no banco posterior:
Geralmente estes passageiros têm lesões menos graves, dependendo do tipo de acidente
porque os bancos ou assentos anteriores amortecem o embate.
 Quando estes passageiro estão com os cintos de segurança são menos graves as lesões
nos membros superiores e inferiores.
 Se o passageiro não tiver o cinto de segurança as lesões podem ser mais graves, desde
lesões na face, membros superiores e inferiores.
 Neste casos é fundamental educar os motoristas/pais quando viajam com as crianças a
obrigatoriedade desta viajarem em bancos próprios para os menores; impedi-los de
119
viajar sem o cinto e muitas das vezes em pé, que quando ocorre uma travajem brusca
ou acidente as lesões destas pequenas vítimas são graves devido ao efeito de elefante
que estas sofrem na altura da projecção do corpo.

2- Acidentes Ferroviários:
Os acidentes ferrovários são geralmente responsáveis por numerosas vítimas, dando origem a
mortes colectivas, como exemplo em Moçambique temos o Acidente de Tenga ocorrido em
2002.
A intervenção médico-legal nesses casos como em todas as mortes colectivas têm sido o da
identificação das vítimas, pois os corpos podem estar bastante mutilados ou
politraumatizados. Existe uma equipe especialista para efectuar a pericia a fim de estudar e
determinar as causas do acidente.
A pericia médico-legal é a identificação da tripulação – maquinistas, ajudantes e revisores
para posterior autópsia e exame toxicológico, e eventualmente de alguns passageiros para o
apuramento de responsabilidades.
Os acidentes ferroviáriosde interesse médico-legal são os individuais:
 Quedas acidentais: do comboio em marcha, no nosso meio é frequente na linha de
Ressano Garcia, porque geralmente os comboios vão sempre superlotados e os
passageiros viajam pendurados, também ocorre em assaltantes das carruagens durante
o acto roubo/furto. Na literatura estão descritos casos de quedas dos passageiros
durante o acto de subida e descida destes nos metros e estacções de caminho de ferro.
O tipo e gravidade da lesão dependerá da velocidade do comboio, do local onde se
produz o embate e o modo como a vítima cai no solo/via ferréa.
 Esmagamentos acidentais: as lesões geralmente são mais graves, tipo aplastamento
crâniofacial, amputações das diversas partes do corpo com abertura das cavidades
torxica e abdominal, etc. (1)-
constitue acidente de trabalho nos operário que fazem manutenção da via ferrea por
zorras ou mesmo comboios ao efectuar manobras. (2)-
há casos de esmagamentos acidentais registados no Serviço de Medicina Legal na
Cidade de Maputo onde vendedores ambulantes vendem os seus produtos ao longo da
linha ferrea na zona de Aeroporto, Bairro de Mavalane.
(3)- também pode ocorrer esmagamentos acidentais nos passageiros durante a entrada
e saida nos metropolitanos.
As lesões são geralmente graves tipo aplastamento crâniofacial, amputações das
diversas parte do corpo, etc.
 Suicídio: geralmente a vítima deita-se sobre a via ferrea ou atira-se aquando da
aproximação do comboio. É bastante raro no meio esta foram de suicídio.
 Homicídio: temos casos registados no nosso Serviço de Medicina Legal, geralmente
as vítimas inicialmente são agredidas e imobilizadas em ambos membros superiores e
inferiores (amarrados) e colocadas na via ferrea.
 Colocação de um cadáver na via ferrea: geralmente colocam um cadáver para
simular um suicídio ou acidente, nestes casos é fundamental que o perito verifique se
as lesões produzidas pela passagem do comboio sobre o corpo são ou não vitais e qual
é a lesão letal, tipo de instrumento ou meio empregue.

3- Acidentes Marítimos e Acidentes Naúticos:


120
Os acidentes marítimos geralmente são de causa acidental, acidentes de trabalho de
pescadores por naufrageo, e a causa básica de morte têm sido afogamento, os dados são
fornecidos pelos comemorativos que informam-nos de mau-tempo ocorrido na altura do
acidente.
Os acidentes naúticos e marítimos que ocorrem em piscinas e nas praias das estâncias
turisticas podem ser devidas ao afogamento ou traumatismo produzidos pelas embarcações
ou hélices, nos últimos anos temos vindo a registar o aumento desse genero de acidentes
produzidos por motos nauticos e pequenas embarcações que circulam nas estâncias
turisticas muito proximos da margem onde estão os banhista. Urge regulamentar estes
usuários para evitar acidentes do genero.
4- Acidentes de Aviacção:
Houve tempos que foi considerado o meio de transporte perigoso, depois da 2ª guerra
mundial e até os dias de hoje é considerado como o meio de transporte mais seguro e
menos perigoso em função de mil-milhões de Km percorridos.
Este tipo de acidentes geralmente é responsável por numerosas vítimas mortais, a
intervenção médico-legal é feita no sentido de identificar as vítimas, identificação e
autópsia da tripulação para posterior quimico-toxicológico.
Existe uma equipa técnica pericial super-especializada para analíse, estudo e determinar
ascausas do acidente com base nos registos da caixa negra.
Tipos de acidentes de aviacção:
 Aviacção militar:
 aviacção civil:
 Helicópteros:
 Acidentes dos aparelhos no solo sobre o pessoal:
 Saltos de paraquedas

Estudo de Maison de 233 casos de acidentes de aviação para determinar as causas de morte.
Causas de morte total
Desintegração 38
Politraumatizado 103
Lesões encefálocranianas 35
Queimaduras 19
Lesões cervicais 17
Hemorragia 7
Embolia gorda 1
Asfixia 4
Afogamento 6
Descompressão 2
Causa natural 1

5- Quedas e Precipitações:
 Queda é a caída de um corpo no seu próprio plano de sustentação, ou caída e
projecção de um corpo de uma altura não superior a cinco metros.

121
 Precipitação é a caída e projecção de um corpo de uma altura superior a cinco
metros, existindo desde o local da projecção até ao de embate um espaço de ar livre
onde o corpo fica abandonado a si próprio.
As quedas/precipitações caracterizam-se por apresentar no hábito externo escassez de lesões
traumáticas, é o sinal patognomônico. As lesões graves e importantes localizam-se no hábito
interno em todas as cavidades e diferentes tipos de fractura.
A violência contusiva é maior quanto maior for a altura, dependendo também da superficíe
contra a qual o corpo se embate.
Tipos de quedas/precipitações:
 Queda simples ou estática: quando a vítima cai no seu próprio plano de sustentação,
isto é, sofre os efeitos traumáticos do próprio plano onde se encontra.
Como exemplo tipico temos diversas situações: quando a vítima escorrega no chão
húmido (banheira) e cai; quando a vítima pisa uma casca de banana, escorrega e cai;
ou ainda quando a vítima durante uma crise hipotensiva (lipotomia) cai, etc.
Geralmente as lesões não são graves, desde simples escoriações até as mais graves
como lesões de órgãos internos, fracturas sobretudo do colo do fémur em indivduos
da terceira idade - idosos que complicam-se por estes permanecerem longos periodos
de tempo acamados, morrem devido as pneumonias hipóstatica, temos alguns casos
registados no Serviço de Medicina Legal.
 Queda complicada: ocorre quando a vítima ao cair e projectar-se, além de sofrer os
efeios primários contusivos da queda, sofre acção secundária de outros agentes ou
meio onde o corpo vai embater-se, como por exemplo fogo – queimaduras, liquido –
afogamento, etc.
As lesões mortais podem ser primárias ou secundárias.
 Queda fásica: ocorre quando a vítima cai por etapas ou fases sucessivas até que o
corpo pare, por exemplo ao cair e projectar-se das escadas tipo espiraladas, andaimes,
etc.
 Queda acelerada: é uma forma ou tipo de acidente de viacção, ocorre quando a
vítima cai de um veículo em marcha, este sofre efeitos da velocidade e os da força de
gravidade. No nosso meio é frequente nos cobradores dos ditos “chapa cem”, nos
ajudantes de camionistas que viajam encima da mercadoria, etc.
 Queda pós-mortem: precipitam ou lançam um cadáver para simular um acidente ou
suicidio. Nestes casos é fundamental provar a vitalidade das lesões letais, e determinar
o agente ou instrumento causador.

Nos casos de quedas/precipitação devemos fazer o diagnóstico diferencial médico-legal com


os acidentes de viação.
Causa Jurídica de Morte ou Etiologia Médico Legal: varia de acordo com os grupos ou
faixas etárias:
 Grupo etário de crianças ou menores 12 anos (0-12 anos): neste grupo etário
geralmente a causa jurídica de morte é acidental, ocorre quando as cranças estão a
brincar nas varandas dos prédios ou janelas e por curiosidade espreitam ou tentam
chamar atenção a alguém embaixo, caêm. Deve-
se exigir a responsabilidade criminal dos pais ou encarregados de educação que não
tomaram as devidas precauções para evitar este tipo de acidentes.

122
 Grupo etário de jovens adultos (18 – 45 anos): neste grupo etário temos dois grupos
distintos com base nos registos do Serviço de Medicina Legal:
(1)- suicídio predominantemente em jovens de sexo masculino residentes na zona
urbana da cidade de Maputo, segundo estudo efectuado pelo autor, A. Zacarias et all
no periodo compreendido entre Janeiro de1991 a Dezembro de 2000 dos casos de
morte registados no Serviço de Medicina Legal do Hospital Central de Maputo.
(2)- acidental geralmente resultante de acidentes de trabalho, em individuos do sexo
masculino, muito frequente em operários de construção civil.
(3) homicídio é uma forma rara, não devemos jamais descartar esta hipotese, temos
dois casos registados no nosso Serviço em que se tentou simualr suicídio, para tal é
importante exame no local de facto para o diagnóstico final.
 Grupo etário de idosos (mais de 50 anos): neste grupo etário geralmente têm sido
acidental, quedas simples ou estáticas, que resultam em fracturas do colo do fêmur.
As vítimas morrem devido as complicações por permanecerem longos periodos de
tempo acamados, contraíndo pneumonias hipostáticas segundo os casos registados no
Serviço de Medicina Legal.

VII – ASFIXIOLOGIA FORENSE


Inicialmente a expressão Asfixia foi utilizado para designar as mortes súbitas acompanhadas
de paragem cardíaca. Posteriormente com o desenvolvimento da ciência foram relacionadas
com as mortes em que havia uma dificuldade respiratória, tendo permanecido popularmente
como tal. Asfixia
literalmente significa “sem ou ausência do pulso”, visto que os primeiros anatomistas
pensavam que nas artérias circulava ar ou pneuma.
Do ponto de vista cientifico expressão correcta seria anoxemia (déficit total de oxigénio) ou
hipoxemia (déficit parcial de oxigénio).
Asfixia mecânica é definido médico-legalmente como um síndrome caracterizado pelos
efeitos de ausência do oxigênio no ar respirável de causa fortuita, violenta e externa.
Este impedimento mecânico pode ocorrer nas mais diversas circunstâncias.
1-Fisiologia da respiração:

123
Para que a respiração normalmente decorra é fundamental que:
 Ambiente externo contenha ar respirável, com 21% de oxigénio. Quando no ar
respirável a quantidade de oxigénio diminue até 7% começam a surgir distúrbios
respiratórios graves e a partir de 3% pode ocorrer a morte.
 Permeabilidade dos oríficos respiratórios, boca e nariz.
 Permeabilidade das vias respiratórias , laringe, traqueia e brônquios.
 Elasticidade do tronco, músculos auxiliares da respiração da parede toraxica e parede
abdominal se possam contríar e relaxar.
 Expansibilidade pulmonar. É importante que o tecido pulmonar esteja em boas
condições, sem patologias tipo fibrose por exemplo ou outras situações clínicas que
impeçam a expansibilidade pulmonar – hidrotorax, hemopneumotorax, etc.
 Circulação sanguínea normal, com volume circulatório em quantidade e qualidade
suficientes para transportar oxigénio aos tecidos.

2- Sinais gerais comuns nas asfixias mecânicas:


As asfixias em geral apresentam um conjunto de sinais que lhes são comuns, indicativos deste
síndrome. Geralmente são classificados em sinais externos e sinais internos, não são sinais
patognomônicos, mas alguns de grande valia diagnóstica que permitem orientar e ou
diagnosticar asfixia mecânica.
Sinais externos:
 Livor mortis ou manchas hipostáticas: aparecem precocemente, são abundantes e de
tonalidade escura. Quando se localizam na face dorsal e nos membros inferiores são
mais extensas.
 Cianose na face ou máscara equimótica: é um sinal que surge geralmente nas
sufucações, mas pode surgir nas outras formas de asfixia.
 Equimoses e ou petéquias na pele e mucosas: podem surgis em qualquer região do
corpo, surgem predominantemente na face, pescoço e torax. Não são sinais muito
frequente. Ao nível das mucosas são sinais mais constantes, predominantemente na
mucosa conjuntival palpebral e ocular, lábios, etc. (colocar foto).
 Fenómenos cadávericos: o esfriamento geralmente é mais lento; a rigidez cadavérica
também é lenta mas depois de instalada é muito intensa e prolongada; a putrefacção
geralmente é precoce e rápida.
 Cogumelo de espuma: é uma bola de finas bolinhas de secreção espumosa na boca e
narinas que se extende até as vias respiratórias inferiores. É um sinal frequente e
tipico nas vítimas por afogamento, pode aparecer noutras formas de asfixia em que é
precedido de edema pulmonar agudo e severo.
 Projecção da língua e Exoftalmia: mais frequente nas asfixias complexas e mistas.

Sinais Internos:
 Petéquias ou Equimoses viscerais: são designadas por manchas de Tardieu, descritas
por este autor em 1847 num caso de Infanticídio, tem forma de cabeça de alfinete.
Estão sempre presentes em todos os tipos de asfixia mecânicas e também nas asfixias
clínicas, predominantemente nos pulmões ao nível da pleura visceral, coração no
epicardio e ao nível do timo.
 Aspecto do sangue: geralmente há fluidez do sangue e é de cor escura.
124
 Congestão polivisceral: em todos os orgãos.
 Edema pulmonar: os pulmões estão distentidos, congestionados e edemaciados.

3- Mecanismo de morte:
Existem três mecanismos fisiopatológicos responsáveis, e permitem fundamentar a
classificação das asfixias.
 Mecanismo respiratório: em que a causa da morte é simplesmente derivada das
alterações ao nível da função respiratória, desde alterações na composição do ar
respirável; obstaculação dos orificios e vias respiratórias; impedimento a entrada do ar
devido a compressão ao nível da camada muscular do tronco; substituição do meio
gasoso nas vias respiratórias por meio liquido ou semiliquido, por meio sólido ou
pulverulento; ainda devido a constrição do pescoço por meio de um laço ou mãos.
 Mecanismo circulatório: quando a uma constrição ao nível da região cervical dos
vasos, artérias carótidas e veias jugulares. A constrição das carótidas interrompe a
irrigação cerebral provocando um quadro de anoxemia ou hipoxemia grave com
consequente morte encefálica.
 Mecanismo nervoso: ocorre quando há constrição do pescoço em que afecta o
paquete vasculo-nervoso nomeadamente o 10º par craneano o Pneumogástrio ou Vago
associado a irritação de outros ramos nervosos laringeos e do seio carotídeoque têm
fibras do sistema nervoso vegetativo, provocando a morte por inibição nervosa
periférica por excitação das fibras parasimpáticas que se repercutem a nível do
sistema cardiorespiratório.

4- Classificação das Asfixias:


A classificação de Afrânio Peixoto, que toma em consideração o mecanismo
fisiopatológico de morte é quanto a nós a mais realista e médico-legal.
Asfixias Puras: em que o mecanismo fisiopatológico de morte é básicamente respiratório,
com hipoxemia ou anoxemia e hipercapnéia.

A- Asfixia em ambientes por gases irrespiráveis:


 Confinamento.
 Asfixia por monóxido de carbono.
 Asfixia por outros vícios de ambiente.

B- Obstaculação à penetração do ar nas vias respiratórias:


 Sufocação directa (obstaculação ao nível dos orifício e vias respiratórias).
 Sufocação indirecta (compressão toraco-abdominal).

C- Transformação do meio gasoso em meio líquido ou semi-líquido:


 Afogamento.
D- Transformação do meio gasoso em meio sólido ou pulverulento:
 Soterramento.
125
Asfixias Complexas: em que o mecanismo fisiopatológico de morte resulta da constrição do
pescoço por meio de um laço, intervindo nestes casos mecanismos complexos como o
circulatório com interrupção da irrigação cerebral, nervoso por inibição periférica devido
compressão das fibras nervosas e o respiratório por constrição das vias respiratórias.
A- Constrição passiva do pescoço exercida pelo peso do corpo:
 Enforcamento.
B- Constrição activa do pescoço exercida pela força muscular:
 Estrangulamento.

Asfixias Mistas: nestes casos é dificil definir o mecanismo fisiopatológico exacto de morte,
sobrepondo-se os três mecanismo de forma e intensidade variável.
A- Constrição do pescoço por meio das mãos:
 Esganadura.

Caracterização Específica das Asfixias


 Asfixia por Confinamento:
É um tipo de asfixia mecânica pura, devido a permanência de um indivíduo num
ambiente restrito ou fechado, em que não há renovação do ar respirável, o oxigénio
remanescente é consumido todo e há acumulação de dióxido de carbono. O
diagnóstico é nos dado pelos antecedentes fornecidos pelas Autoridades Competentes
(P.I.C., Procuradoria) ou familiares, fazem referência de que a vítima foi achada num
local fechado sem possibilidade de renovação do ar, por exemplo malas, baús,
elevadores após avaria ou corte de energia por muito tempo, muita gente encarcerada
numa cela sem possibilidade de renovação de ar (caso efectuado pelo autor numa
cadeia em Montepuez), viajantes clandestinos em camiões ou noutros meios de
transporte (nestes casos para se determinar se há pessoas basta pesquisar a
percentagem de dióxido de carbono nas caixas dos camiões), etc.
A vítima além dos sinais gerais comuns de asfixia, pode apresentar lesões de defesa
ou de tentativa desesperada de sair do local como escorições dispersas na face, tronco
e membros.
A causa jurídica de morte ou etiologia médico-legal geralmente é acidental,
principalmente em crianças durante brincadeiras tipo esconde/esconde; algumas vezes
intencional, homicídio quando colocam muitos prisioneiros numa cela conhecendo de
antemão a sua capacidade, muito raramente suicídio.

 Asfixia por Monóxido de Carbono: É


também designado por muitos autores como sendo Intoxicação por Monóxido de
Caborno. A molécula de monóxido de carbono (CO) tem maior aptência a
hemoglobina dos glóbulos vermelhos deslocando a molecula de oxigénio. Ao fixar-se
a hemoglobina, forma-se a carboxihemoglobina que impede a hematose, produzindo
anoxia tissular. O
diagnóstico é feito: (1)-
caracteristicas típicas e peculiares que o cadáver apresenta no hábito externo como
126
rigidez cadavérica precoce e manchas hipostáticas de cor rósea; no exame do hábito
interno em que órgãos apresentam congestão polivisceral de cor carmim, sangue
fluido e de cor róseo. (2)- pelos
comemorativos fornecido pela P.I.C. e familiares das circunstâncias em que ocorreram
os facto. (3)- pesquisa
de carboxihemoglobina por técnicas quimicas especiais. No nosso meio
com base nos casos registados no Serviço de Medicina Legal do Hospital Central de
Maputo a causa jurídica de morte ou etiologia médico-legal mais frequente é
acidental. Este facto acontece em vítimas que residem nas dependências dos prédios
na época fria, pois a maior parte das dependência não têm janelas e/ou não foram
concebidas para residência mas para dispensários. As vítimas dormem com fogão
acesso para se aquecerem e esse lume vai liberando gradualmente monóxido de
carbono que acaba por intóxica-los.
Como suicídio que é a causa juirídica de morte mais frequente nos países ocidentais, é
bastante raro, temos descrito um só caso de um engenheiro que permaneceu dentro de
uma garagem fechada com motor do carro ligado durante toda noite.

 Asfixias por outros Vícios de Ambiente:


Estas formas geralmente são de causa acidental, ocorre quando os ambientes em que
as vítimas se encontram ficam saturadas por gases tais como de esgotos e fossas, gases
de pântanos, gases de iluminação, etc. O diagnóstico é nos dado pelos comemorativos.

 Sufocação: É
uma forma de asfixia mecânica em que a obstaculação ou impedimento a penetração
do ar respirável por meio directo quando a oclusão é a nível dos orifício e vias
respiratórias e indirecto por compressão da parede toraco-abdominal. (a)-
Sufocação Directa por Obstaculação ao nível da Boca e Fossas Nasais: (1)-
geralmente de carácter criminoso, quando há desproporção de força entre a vítima e o
criminoso frequente nos infanticídio e gerarcídio (idosos que estejam acamados ou
em cadeira de rodas) por meio de alomofadas, mãos e outros objectos ou ainda
quando as vítimas ficam amordaçadsdas e imobilizadas durante um bom período de
tempo, etc. Nestes
casos além dos sinais gerais comuns das asfixias podemos encontrar sinais locais tais
como estigmas ungueais na face ou em redor dos orificios nasais e boca, equimose na
mucosa labial, ou ausência de sinais locais quando se usa almofada por exemplo.
(2)- acidental frequente em crianças recém-nascidas quando dormem com as mães
cangurus no momento de amamentação ou durante o sono o seio pode obstruir os
orifícios respiratórios; também pode ocorrer em individuos com insuficiência
respiratória ao usarem caxicóis durante uma caminhada descrito na literatura. Nestes
casos o diagnóstico é feito pelos comemorativos e a vítima apresenta básicamente
sinais gerais de asfixia e praticamente ausência de sinais locais.

(b)- Sufocação Directa por Obstaculação ao nível das Vias Respiratórias:


(1)- geralmente de caracter acidental, em crianças que ao comerem frutas com
sementes, amendoim ou ao brincarem com moedas, berlindes e outros objectos, estes
corpos estranhos instalam-se e obstruem as vias respiratórias. Também há casos
registados no Serviço de Medicina Legal em individuos inconscientes por intoxicação
alcoólica ou de outras drogas por abolição do reflexo faríngeo ocorre a chamada
127
“submersão interna” para diferenciar da externa ou do afogamento, pois a vítima
afoga-se devido ao conteudo interno, o contéudo estomacal que regurgita-se e obstrue
as vias respiratórias. Pode constituir um problema médico-legal de responsabilidade
médica em pacientes inconscientes que regurgitam o conteudo estomacal.
(2)- Os casos de homicídio são raros, temos um caso registado em que num prisioneiro
foram introduzidos cabos electricos e outros objectos estranhos durante o acto de
tortura e interrogatório praticado pela policia. O diagnóstico medico-legal é feito pela
confirmação da presença de corpos estranhos ou contéudo alimentar nas vias
respiratórias associado aos sinais gerais comuns de asfixia.
(c)- Sufocação Indirecta por compressão toráco-abdominal ou Congestão Passiva
de Perthes: a compressão em grau suficiente da parede toráxica e abdominal pode
impedir os movimentos respiratórios, obstaculizando desde modo a penetração do ar.
(1)- geralmente a causa jurídica de morte é acidental, nos aglomerados populacinal em
pânico, tal como ocorreu no Jardim Zoológico em Maputo no dia da Cidade 10 de
Novembro de 2000 quando dezenas de crianças em pânico fugiam devido a um boato
posto a cicular por marginais que tinham a itenção de furtar pastas das crianças de que
os leões tinham sido soltos; há casos de acidentes de trabalho nas minas que podem
desabar com desmoronamento de terras tal como acontecia na Cidade de Maputo nos
“biscateiros” que pesquisavam pedras para construção civil; em mecânicos quando
estão por debaixo do carro e o macaco cede e a vítima fica comprimida pela viatura.
(2)- temos casos de origem criminosa, por negligência ocorrida em Montepeuz quando
as autoridades policiais encarceram muitos prisioneiros numa pequena cela quando
estes começaram a sentir-se asfixiados lutaram para estar mais próximo de única janela
existente a fim terem acesso ao ar respirável. O diagnóstico é nos dado pelos
comemorativos, os sinais gerais comuns da asfixia, podem existir sinais loacais em
particular a máscara equimótica da face conhecida por máscara de Morestin, outros
sinais como lesões traumáticas na parede toraco-abdominal, escoriaçoões na face e
membros superiores de defesa e de luta durante o pânico, etc.

 Afogamento: É
um tipo de asfixia mecânica produzida pela substituição do meio gasoso nas vias
respiratórias por um meio liquido ou semi-liquido, a pentração destas substâncias
impede a passagem do ar até aos pulmões, produzindo a asfixia. Para que ocorra
afogamento não é imprescindivel que a vítima fique completamente submersa, pois
observam-se casos de afogamentos em que apenas os orifícios respiratórios das
vítimas se achavam em contacto o liquido, e também há casos em que o corpo da
vítima entra em contacto com o meio liquido chamado de water shock, nestes as
vítimas não apresentam sinais tipicos de afogamento.
(1)- Fisiopatologia:a maior parte dos autores dividem o afogamento em três fases:
fase de defesa, fase de resistência e fase de exaustão.
Estudos experimentais referem que nos afogamentos verdadeiros em que há
penetração de liquido ou substâncias semi-liquidas existem duas formas
– a forma rápida em que a asfixia é rápida em cinco minutos;
- a forma lenta em que a vítima luta, emerge e submerge. Nos afogamentos em que
não há submersão completa da vítima, são os designados de Afogamentos Brancos de
Parrot, pode ocorrer nas seguintes circunstâncias:
(a)- em que só existe um contacto entre os orifícíos respiratórios da vítima com meio

128
liquido, a morte é por inbição nervosa periférica em individuos com presdisposição
constitucional, lesões cardiovasculares agravadas pela acção térmica ou estados
tímico-linfáticos. (b)-
em que existe um traumatismo tipo “chapa” no momento em que a vítima penetra na
água na parede abdominal ao nível epigastrio, este tem o estomago cheio e destendido
devido a abundância de conteudo alimentar, o embate da “chapa” estimula as
terminações nervosas do plexo solar e a morte é por inibição nervosa periférica, é o
designado Water Shock. Neste dois
casos a vítima não apresenta sinais tipicos de afogamento. O diagnóstico é sempre por
exclusão é deve ser baseado nos comemorativos e achados anatomo-patológicos.
(2)- Sinais Tipicos de Afogamento: os sinais cadavéricos de afogamento são divididos
em externos e internos.
SINAIS EXTERNOS: devem-se aos sinais vitais de permanência do corpo num meio
liquido e do tempo mais ou menos prolongado da vítima nesse meio.
a)- baixa tempertura da pele: a temperatura das vítimas de afogamento baixam
rapidamente porque o equilibrio térmico é mais fácil no meio liquido.
b)- pele anserina ou pele de galinha: deve-se a contração dos músculos erectores
dos pêlos, à sua contração os folículos pilosos tornam-se salientes, resultante da baixa
temperatura da pele. c)-
retração dos mamilos, escroto e penis: resultante da baixa temperatura da pele. d)-
maceração da pele: é mais evidente na região palmar e plantar, onde a espessura da
camada epidérmica é maior. Existe uma imbebição hidrófila dos tecidos devido a
permanêcia do corpo por longos periodos no meio liquido, levando ao destacamento
da camada epidérmica como se fosse verdadeiros dedos de luvas, daí também a
designação de mãos de lavandeira.
e)- livor mortis claros: esta tonalidade das manchas hipostáticas deve-se a
hemodiluição. f)-
cogumelo de espuma: é um dos sinais típicos de afogamento, não sendo porém sinal
patognomônico pois existem noutras situações de asfixias mecânicas e clínicas em
que a vítima têm um edema pulmonar severo. Forma-se devido a entrada de águas nas
vias respiratórias, do muco e do ar. O cogumelo de espuma observa-se na boca,
narinas e extendo-se para a traqueia e brônquios.
g)- erosão dos dedos e presença de corpos estranhos sob as unhas: estas lesões
podem estar presentes na face palmar das extremidades dos dedos com ou sem
presença de corpos estranhos sub-ungueais, resultam da resistência que a vítima faz ao
debatar-se no meio liquido.
h)- máscara equimotica e equimose conjuntival: estes surgem nas vítimas em que o
afogamento ocorre num meio semi-liquido ou pastoso tais como latrinas, pântanos,etc.
i)- mancha esverdeada da putrefação: nos afogados o inicio do processo
putrefactivo pode não começar da forma habitual na fossa iliaca direita. Este período
cromático inicia na região escapular ou ao nível do esterno.
j)- lesões póst-mortem: estas lesões são geralmente produzidas por animais que
habitam no meio liquido onde se encontra o cadáver, mordeduras ou amputações de
orgãos tais como cartilagem do nariz, pavilhões auriculares, etc.
SINAIS INTERNOS: são os sinais mais importantes poque permitem evidenciar de
forma inequivoca a presença do corpo no meio liquido.
a)- liquido nas vias respiratórias: a presença de liquido nas vias respiratórias é de
valor diagnóstico inquestionável, pois permite determinar o tipo de meio liquido onde
129
a vítima se afogou pela evidência de corpos estranhos, lama, fungos, material fecal,
etc. A presença de liquido nas vias respiratórias é sob forma de secreção espumosa
esbranquecida, rósea, sanguinolenta ou da cor do meio onde ocorreu o facto, sua
quantidade depende do tempo de agonia nesse meio liquido ou semi-liquido.
b)- corpos estranhos nas vias respiratórias: estes corpos estranhos estão no liquido
das vias respiratórias têm exatamente o mesmo valor referenciado anteriormente pois
permite determinar o meio, ocorre nos afogamentos em águas paradas tais como em
pântanos, lagoas, latrinas, etc ou também em águas correntes.
c)- lesões pulmonares: (1)- os pulmões podem estar aumentados de volume e
distendidos, sob pressão ficam impressos as marcas dos dedos, Godet positivo.
(2)- edema plumonar severo, devido ao encharcamento do tecido pulmonar designa-se
de enfisema aquoso, porque ao corte e espremendo sai grande quantidade de liquido
em cascata. (3)-
infiltrados hemorrágicos ou equimoses subpleurais, as mais frequentes não são as
manchas de Tardieu mas sim as manchas de Paltauf que são de dimensões maiores ,
de 2cm ou mais do que as de Tardieu, é um sinais fundamentais para demonstrar a
vitalidade do afogamento quando o cadáver estiver putrefacto.
(4)- demosntração da presença de geoplâncton, zooplâncton ou fitoplâncton no tecido
plumonar por meio de exames hispotapológico sinal inequivoco de vitalidade.
d)- hemodiluição: deve-se a entrada de água ou outro liquido no sistema circulatório
ao nível do tecido pulmonar, a coloração torna-se vermelho-claro e mais fluído.
e)- liquido no sistema digestivo: a presença de liquido é evidenciado no estômago e
porção superior do intestino delgado, por um liquido espumoso – plâncton, que
colocado num tubo de ensaio forma três camadas: superior – espumosa; intermediária
– aquosa; inferior – sólida. É o sinal de Wydller.
f)- congestão polivisceral: tal como nas asfixias em geral.
g)- liquido no ouvido médio com presença de corpos estranhos.
h)- lesões no crânio: podemos encontrar infiltrados hemorrágicos na base do crânio,
no rochedo do osso temporal e no etmoide.
EXAMES LABORATORIAIS: estes exames são imprescindíveis para o estudo do
afogado, tanto para a identificação dos cadáveres desconhecidos como para o estudo
específico de diagnosticar o afogamento, o tipo de liquido e por último o local onde
ocorreu o afogamento. A
causa juridíca de morte ou etiologia médico-legal geralmente é acidental que
ocorrem nas praias, piscinas, lagoas e rios na época quente ou verão; acidentes de
trabalho nos pescadores por naufrageo. Homicídio e suicídio é muito raro no nosso
meio, entretanto nos casos de homicídio é fundamental verificar se o corpo apresenta-
se amarrado nos membros e/ou com peso para que afunde rapidamente. Deve-se
também descartar a possibilidade de colocação de um cadáver num meio liquido para
simular uma morte acidental.

 Soterramento: É
uma forma de asfixia em que há substituição do meio gasoso nas vias respiratórias por
meio sólido ou pulverulento, a penetração destas substâncias impede a penetração do
ar produzindo a asfixia. A
causa jurídica de morte é geralmente acidental, por acidentes naturais como aluimento
de terras com ou sem desabamento de casas; acidentes de trabalho como resultado de
desabamento de minas, nos trabalhadores estivadores ou carregadores de sacos de
130
cimento, farinha de milho,etc quando estes se rompem e o seu conteúdo penetra nas
vias respiratórias; suicídio e homicídio é muito raro, temos um caso de homicídio
registado no Serviço de Medicina Legal por ajustes de conta ou obtenção de uma
confissão enterraram a vítima de pé só com a cabeça de fora e a medida que iam
atirando terra está penetrava nas vias respiratórias.
O diagnóstico é nos dado pelos comemorativos e pelos sinais locais achados na
autópsia como sendo a presença de particulas sólidos ou pulverulentas nas vias
respiratórias, além dos sinais gerais comuns dea asfixia.

 Enforcamento: É
uma forma de asfixia complexa em que há constrição passiva do pescoço por meio de
um laço fixo, agindo o peso do corpo da vítima como força activa.
O ponto fixo do laço pode estar preso em qualquer sitio desde ramos das arvores,
caibros dos telhados, etc. Os
laços podem ser de diversa natureza desde cordas, fios de arame, atacadores,
correntes, lenços de cabeça, capulanas, etc.
A consistência do sulco vai depender do tipo do objecto, sulcos moles produzidos
geralmente por objectos tipo lenços de cabeça, capulanas; sulcos duros por objectos
tipo arame, cintos, etc. O
enforcamento é típico ou completo quando o corpo fica totalmente suspenso sem tocar
em nenhum ponto de apoio. O
enforcamento é atípico ou incompleto quando o corpo fica parcialmente suspenso e
apoia-se pelos pés, joelhos ou qualquer outra parte do corpo.
A evolução da morte por enforcamento pode ser rápida ou tardia, depende do tipo de
laço utilizado, se a vítima esteve total ou parcialmente suspenso, factores
constitucionais ou pessoais e ciscunstâncias em que decorreu o facto.
A morte rápida ou imediata geralmente é por mecanismo nervoso inibitório podendo
demorarar cinco a dez minutos.
LESÕES ANÁTOMO-PATOLÓGICAS: nas vítimas por enforcamento é possivel
observar uma serie de sinais: a)-
aspecto do cadáver: geralmente a cabeça está voltada para o lado contrário do nó. A
face pode estar ou não cianosada com presença de espuma ou liquido sanguinolento
na boca e narinas. A
lingua geralmente cianosada projectada além das arcadas dentárias, exoftalmia ou com
olhos protusos. Nos
enforcamentos típicos os membros inferiores estão suspensos e os superiores colados
ao corpo e com as mãos fechadas; nos enforcamentos atípicos os membros têm
posição variada. As
manchas de hipostáse estão na porção inferior do corpo, são mais intensas nos
membros.
b)- sinais locais externos: a constrição do pescoço por meio de um laço produz um
sulco localizado no terço superior do pescoço ou acima da cartilagem tiroidea.
O sulco geralmente é unico, podendo excepcionalmente ser duplo, triplo ou múltiplo
dependendo do número de voltas quer der no pescoço.
O leito do sulco pode ser de cosistência mole ou duro e apergaminhado dependendo
do tipo de laço, geralmente incompleto ou interrompido ao nível do nó, de direcção
oblíquo ascendente não uniforme em toda a sua extensão ou de profundidade desigual.
c)- sinais locais internos: nos casos em que o laço produz um sulco duro e
131
apergaminhado na face interna do tecido celular subcutâneo observa-se a linha
argêntica de tonaliadade pardo-escura resulta da desidratação da pele escoriada;
infiltações hemorrágicas - equimoses nos músculos cervicais geralmente no lado
contrário ao nó e retrofaríngea; podemos encontrar fractura do osso hióide, fractura do
aparelho laríngeo, fractura das vertebras cervicais é muito raro observa-se mais nos
enforcamento por setença judicial; lesões nas árterias carótidas próximo da bifurcação
na túnica íntima – sinal de Amssat não é tão frequente no nosso meio como refere a
literatura e roturas das túnicas adventícias jugulares internas e externas.
Além desses sinais locais os cadáveres apresentam sinais tipicos comuns de asfixia.
A causa jurídica de morte geralmente é suicídio, no nosso meio constitue a primeira
causa básica de morte nos suicidas em ambos os sexos na população acima dos 35
anos de idade residentes nos periféricos ou suburbanos da Cidade de Maputo; o
homicídio constitue uma forma rara temos descritos três casos que ocorreram e
adolesctentes entre os 13 a 15 anos de idade, acidental é ainda mais rara segundo
dados disponíveis na literatura, ocorre nos casos de acidentes durante o acto de
masturbação.

 Estrangulamento:
É uma forma de asfixia mecânica complexa em que há constrição activa do pescoço
por meio de um laço exercida por uma força externa estranha. No estrangulamento o
corpo da vítima age passivamente.
A causa juridica de morte geralmente é homicidio, geralmente quando a vítima é pego
de supresa ou quando há desproporção de forças entre o agressor e a vítima, sendo
rarissimo os caso de acidente e quase que impossivel o suicidio.
a)- sinais locais externos: a vítima pode apresentar mascara equimótica com
equimoses subconjuntivais, a língua está projectada além das arcadas dentárias, o
sulco geralmente localiza-se no terço médio ou abaixo da cartilagem tiroidea, pode ser
único, duplo ou múltiplo, duro ou mole dependendo do laço que for usado, a direcção
é horizontal ou transversal, uniforme em toda sua extensão, geralmente é completo
entretanto temos casos descrito no Serviço de Medicina Legal de sulcos incompletos e
e direcção ascendente ou descendente quando o agressor puxa a vítima, também
podemos encontrar escoriações lineares no pescoço produzidas pela vítima ao tentar
aliviar-se ou soltar o laço e placas escoriativas no tronco e membros – lesões de
arraste. b)-
sinais locais internos: infiltrações hemorrágicas - equimoses no tecido celular sub-
cutâneo e nos músculos geralmente com distribuição uniforme e mesma altura porque
o laço imprime uma intensidade da força igual de sentido horizontal, podemos
encontrar fracturas do osso hióide e do aparelho laríngeo; lesões na íntima da túnica
da carotida, roturas transversais bilateralmente e da adventicia.
O diagnóstico histo-patológico é útil para comprovação das das lesões.
Os sinais gerais comuns de asfixia estão também presentes como em outras formas de
asfixias.

 Esganadura:
É uma forma de asfixia mecânica mista, em que há constrição do pescoço pelas mãos.
É sempre de caracter homicida, no nosso meio é frequente nos casos de infanticídio
de, femicídio, não sendo possivel a forma suicida ou acidental como causa juridica de
morte ou etiologia médico-legal.
132
A sintomatologia varia de acordo com a própria dinâmica do processo, podendo
mecanismo de morte ser o respiratório ou o nervoso devido a compressão das
estruturas nervosas, a obstrução vascular é insignificante.
a)- sinais externos a distância: podemos encontrar mascara equimótica na face, com
congestão e ou equimoses conjuntivais, geralmente vem associado a outras lesões tais
como escoriações em redor da boca, nas mãos e antebraços chamadas de lesões de
defesa.
b)- sinais externos locais: os mais importantes sãos os estigmas ou marcas ungueais
que são as escoriações de forma semi-lunar, em rastro ou lineares nas face antero-
lateral do pescoço com predominio do lado oposto a mão usada pelo agressor,
equimoses de forma arrendondada da polpa dos dedos; há casos em que o criminoso
usa objectos ou luvas as marcas ou estigmas ungueais podem não existir.
c)- sinais internos locais: as lesões de grande importância diagnóstica são sem
dúvidas as infiltrações hemorrágicas na tecido celular sub-cutâneo e muscular do
pescoço; pode existir dependendo da intensidade da violência constrictiva das mãos
lesões do aparelho larígeo com fractura das cartilagens e do osso hióide.
Os sinais gerais comuns da asfixia estão também presentes.

VIII- SEXOLOGIA OU AFRODISIOLOGIA FORENSE


É um dos capítulos mais mediatizados da Medicina Legal devido as repercusões morais e
juridico-legais que têm na vida das pessoas, bons costumes e honra dos cidadãos. Tem como
objectivo o estudo de: (1)- sexo dúbio ou anomalias de diferenciação sexual e o trans-
sexualismo; (2)- crimes sexuais ou crime contra a honestidade e (3)- distúrbios de instinto
sexual e as perversões sexuais com implicações médico-legais.
1- Estudo dos caracteres sexuais:
O sexo é um dos elementos constituitivos da personalidade biológica, jurídico-
constitucional de um individuo, ao sexo vem registado na Identificação Judicial
particularmente no Assinalamento Suncinto o nome, a filiação, o estado civil, a data de
nascimento, o local de nascimento, a nacionalidade, a raça, etc.
A identidade sexual de um individuo é influenciada por uma serie de factores inter-
relacionados, tais como factores genéticos, factores hormonais, factores psicológicos ou
comportamentais necessários para uma qualificação sexual harmoniosa.
O sexo é classificado em função desses factores que são designados de caracteres sexuais
assim teremos:

133
 Sexo genético ou cromossomico: é determinado pela presença de caracteres sexuais
cromossomicos, assim designaremos que um individuo é do sexo mascluino se tiver
os cromossomas sexuais xy ou o individuo é do sexo feminino se tiver os
cromossomas sexuais xx. Estes cromossomas sexuais são adquiridos pelo novo ser ou
ovulo no acto da fecundação, provenientes dos cromossomas sexuais de cada dos
progenitores.
 Sexo gonâdico: é defenido pela presença nas gônadas indeferenciadas de elementos
germinativos provenientes da informação genética que dará origem a celula sexual do
tipo maculino ou feminino, será masculino se o caracter sexual diferenciar em
testiculos e sexo feminino se o caracter sexual deferenciar em ovários, todos estes
produzirão hormonas esteroides.
 Sexo cromatínico: a presença de corpúsculos de Barr presentes nos núcleolos
determina que o individuo é do sexo feminino.
 Sexo genital interno: é nos dado pela presença de caracteres sexuais internos do tipo
maculino o que tiver o que tiver diferenciação dos canais de Wolff: epididimo, canal
deferente, canal ejaculador, vesicula seminal, prostata e glândula bulbo-uretral. Será
do sexo feminino o que tiver diferenciação dos canais de Muller: trompas, útero e
vagina.
 Sexo genital externo ou fenotipico: é defenido pela presença dos orgãos gentais
externos do tipo masculino se tiver pénis e escroto com testiculos dentro das bolsas,
do tipo feminino se tiver a vulva. É com base no sexo genital externo ou fenotipico
que se regista o sexo do individuo na altura do nascimento.
 Sexo de identificação psíquica: é defenido pela identificação sexual que o individuo
faz de si próprio, e que se reflecte no seu comportamento.
 Sexo de identificação social: é definido pela identificação sexual influenciada pela
educação recebida desde a infância, no ambiente familiar, escolar, laboral e social,
que prepara e condiciona o sujeito para seu futuro papel sexual.

Nb- Colocar o desenho do esquema do desenvolvimento dos orgãos sexuais Esquema de


Tuchamamm-Duplessis

2-Estados Inter-Sexuais ou Sexo Dúbio:


Os estados inter-sexuais ou sexo dúbio tem em vista o estudo do Hermafroditismo e estados
de Pseudo-Hermafroditismo para fazer a distinção ou diferenciação com o Trans-sexualismo.
 Hermafroditismo é uma expressão provêm da mitologia grega. Hermafrodita que era o
filho de Afrodita (Venus) e de Hermes (Mescúrio), foi unido por vontadade dos
Deuses fusão ocorrido no corpo de uma ninfa Salmacis, que resultou em um único ser
meio homem e meio mulher.
Esta condição pode-se encontrar em alguns animais inferiores que são dotados de
orgãos genitais de ambos sexos, funcionando regularmente, isto é, fecunda e é
fecundado.
O estado de bisexualismo não existe nos mamíferos, pode existir desvios do normal
desenvolvimento dos órgãos sexuais que evoluem com desordens nos caracteres
sexuais secundários e psicológicos, chamados de estados inter-sexuais.
Estes distúrbios podem ocorrer por:
(a)- anomalias na constituição cromossómica que se relaciona com a gametogénese ou
na primeira segmentação do zigoto que dão duas patologias:
134
- As disgenesias gonádicas ou cromossomopatias: citamos as mais frequentes:
sindrome de Turner chamados também de mulheres com sexo genético masculino
com cromossomas sexuais XO; sindrome de Klinefelter com formula cromossomica
XXY; sindrome de Morris, etc.
– O hermafroditismo verdadeir.
(b)- anomalias de excesso ou defeito que é raro na elaboração ou produção dos
androgénos na supra-renal.
As anomalias mais frequentes no sexo masculino é quando não há soldadura ou fusão
das bolsas escrotais e o tuberculo genital não se desenvolve bem, dando aparência de
ser um individuo do sexo feminino, coexistindo em muitos pacientes criptorquidea.
Inversamente é uma situação mais rara em que há um hiperdesenvolvimento do
tuberculo genital, dando aparência de um penis e existe uma fusão dos grandes lábios,
internamente ela tem ovários e parte dos órgão mulerianos. colocar o desenho.
Trans-sexual é um individuo de um determinado sexo bem definido biológicamente,
contudo convém-lhe pertencer como individuo doutro sexo e comporta-se e tomada a
atitude para tal.
Existem duas classificações dos estados inter-sexuais ou sexo dúbio:
CLASSIFICAÇÃO DE KLEBS
Esta classificação não toma em consideração os caracteres sexuais secundários, considera
básicamente a presença a presença do caracter sexual gonádico.
 Hermafroditismo verdadeiro: é um individuo que apresenta glândulas sexuais dos
dois sexos, testiculos e ovários, podem estar separados ou unidos numa única massa
chamada de ovotestis. Pode estar bilateralmente isto é testiculos e ovários em amobos
os lados; unilateralmente, testiculo e ovário num lado noutro testiculo ou ovário;
lateralmente, testiculo num lado e ovário noutro.

 Pseudohermafroditismo: quando a malformação afecta uma parte dos orgãos sexuais


internos ou externos. É considerado pseudohermafrodita masculino se o individuo
possue gonadas masculinas, isto é testiculos; pseudohermafrodita feminino se o
individuo possue gónadas femininas, isto é ovários.

CLASSIFICAÇÃO DE WILKINS É
uma classificação mais recente, além de considerar os caracteres sexuais gonádicos, toma em
consideração os caracteres sexuais secundários que se desenvolvem influenciados pelos
níveis hormonais.
 Hiperplasia congénita da supra-renal: é também chamado o hermafroditismo
feminino com sinais de masculinização devido a hiperplasia da supra-renal.
 Hermafroditismo verdadeiro:
 Pseudohermafroditismo masculino: existe duas situações:
(1)- é um individuo que apresenta hipospadia com escroto bipartido.
(2)- é um individuo com digenesia gonádica que tem cromatina masculina.
 Pseudohermafroditismo feminino:

Estas classificações só tem valor teórico. Muitas das vezes constitue um achado na sala de
operações ou de autópsias. Em casos de sexo duvidoso é importante para o diagnóstico

135
médico-legal efectuar o estudo do psicológico ou comportamental, estudo dos caracteres
anatómicos e funcionais, o estudo do sexo cromossómico e sexo cromatínico e estudo
hormonal quantitativo das eliminadas pelas três gónadas (testicular, ovários e suprarenais).
 Trans-sexualismo: é uma anomalia de orientação psico-social e do comportamento.
A primeira observação parece ter sido reportada por Marc em 1840, só um século
mais tarde foi descrito por Candlwell em 1949 que a designou de Psicopatia Trans-
sexual.
Benjamim em 1966 definiu e fez a classificação graus de evolução desta patologia , e
definiu como sendo “um estado em que um individuo de um determinado sexo,
pretende e convêm-lhe pertencer a um outro sexo, toma uma conduta nessa direcção
ou sentido. Para a realização desse desejo modifica a sua aparência física e sexual
por meio de medicamentos e actos cirúrgicos, também a rectificação do seu estado
civil”. Esta
patologia provavelmente exista há bastante tempo, contudo só depois de Hamburger,
Sturup e Dahh-Inversen em 1953 terem transformado um homem em mulher
cirúrgicamente, e de ter recticado o estado civil, está prática expandiu-se no mundo
ocidental. É mais
frequente nos homens 1/100.000 nas mulheres 1/400.000. É importante realçar que do
ponto de vista legal com base na nossa legislação tal acto seria punido como sendo o
crime de falsa identidade. Verificar os artigos na lei penal e civil.

3- Sexologia Criminal - Crime contra a honestidade:


Os artigos relacionados com a sexologia criminal vêm contemplados no Código Penal, Livro
Segundo- dos Crimes em Especial, Título IV: dos Crimes Contra as Pessoas – capítulo IV:
dos Crimes Contra a Honestidade:
 Secção I- Ultraje Público ao Pudor: artigo 390 ultraje público ao pudor.
 Secção II- Atentado ao Pudor, Estupro voluntário e Violação: artigo 391 atentado ao
pudor, artigo 392 estupro, artigo 393 violação e artigo 394 violação de menor de doze
anos, artigo 395 rapto violento ou fraudulento, artigo 396 rapto consentido, artigo 397
cárcere privado e ocultação de menores, artigo 398 agravação especial, artigo 399
denúncia prévia, artigo 400 dote da ofendida e efeitos do casamento.
 Secção III- Adultério: artigo 401 adultério, artigo 402 perdão do marido, artigo 403
efeitos de setença cível, artigo 404 adultério do marido. Estes artigos estão
revogados.
 Secção IV- Lenocínio: artigo 405 lenocínio, artigo 406 corrupção de menores.

A- Aspectos Jurídicos – Abordagem Médico-Legal:


Os crimes contra a honestidade que abordaremos são atentado ao pudor contemplado no
art. 391º do Código Penal; estupro contemplado no art. 392º do Código Penal; violação
contemplados nos art. 393º e 394º do Código Penal.
 Atentado ao Pudor: Segundo o art. 391º do Código Penal “ todo o atentado contra o
pudor de uma pessoa de um ou outro sexo, que for cometido com violência, quer seja
para satisfazer paixões lascivas, quer seja por outro motivo, será punido com prisão.”
& único. ‘’Se a pessoa ofendida for menor de 16 anos, a pena será em todo o caso a
mesma, posto que não se prove violência.”
Do ponto de vista médico-legal com base no que vem perceituado ou plasmado neste
136
artigo e seguintes do crime contra a honestidade constitue “atentado ao pudor
todos os actos impúdicos praticados em individuos de ambos os sexos, exceptuando o
estupro ou violação que são entidades jurídicas bem definidas, exercidos em
menores de dezasseis anos ou com violência depois daquela idade, com o fim de
satisfazer um prazer venéreo, lascívio, por curiosidade, vingança, deparvação ou
distúrbios de instinto sexual”.
Existem atentados ao pudor sem eventual relevância médico-legal segundo alguns
autores, porque não deixam sinais físicos, como por exemplo, o acto de levantar saias,
palpar áreas pudendas da vítima, etc.
Quanto a nós julgamos pelo que temos observado os atentados ao pudor com
importância médico-legal seriam todos os actos libidinosos, venéreos, lascívios, etc
que deixam sinais físicos, psicológicos e psiquicos ou com repercussões nestas áreas
na vítima. Estes actos podem ser todo o género ou tipo de manisfestação sexual, desde
a prática de coito ou sexo ectópico tais como o sexo por via oral, sexo por via anal,
sexo entre as coxas, sexo entre os seios, sexo manual auto ou hetero isto é
masturbação; toques e apalpadelas de mamas, vagina, pénis;etc; sexo por via vaginal,
sexo vulvar ou vestibular, etc.
Cópula é um tipo de manifestação sexual, uma expressão latina copula isto é “união”
– acto ou efeito de juntar ou ligar uma coisa a outra, acto ou união sexual; ligação
carnal. Quer dizer que a cópula por ser efectuada em qualquer região anatómica ou
orificio natural em que é possivel a consumação ou ligação carnal.
 Estupro: Segundo o art. 392º do Código Penal “aquele que, por meio de sedução,
estuprar mulher virgem, maior de doze e menor de dezoito anos, terá a pena de prisão
maior de dois a oito anos.” A
interpretação médico-legal deste crime de acordo com o que vem plasmado neste
artigo e outros do crime contra a honestidade é de que estupro “é a cópula vaginal,
por meio de sedução, com mulher virgem menor de dezoito e maior de doze anos”,é
de que o perito ao subentender que está perante esta figura jurídica deve demonstrar:
(1)- o estado de virgindade ou de desfloramento diagnosticando respectivamente a
integridade ou a laceração do hímen.
Virgindade é um conceito jurídico-social que não resulta da integridade física ou
anatômica da membrana hímenial, resulta antes de a mulher nunca ter exercido cópula
vaginal, mesmo incompleta, conservando a sua pureza sexual segundo acta do S.T.J.
de 11 de Março de 1964; B.M.J., 135, 261.
(2)- se a mulher for virgem terá que confirmar se está perante um caso de hímen
complacente, elástico ou tolerante, isto é, que se deixa distender sem lacerar-se
dentro de diâmetro igual ou superior ao do pénis erecto adulto.
(3)- confirmado o facto de que o hímen é complacente, deve demonstrar que a vítima
apresenta sinais de cópula vaginal recente, isto é, sinais de posse ou consumação
carnal por via vaginal.
(4)- se a mulher apresentar sinais de desfloramento, deve comprovar se os sinais que
apresenta são os de desfloramento recente.
(5)- se a mulher apresentar sinais de desfloramento não recente, deve-se demonstrar
que a desvirgindade foi produzida pelo presumível arguido e se há ou não sinais de
cópula vaginal recente.
(6)- se a mulher apresentar sinais de desfloramento não recente, e a vítima afirmar
voluntariamente de que este foi provocado por um outro individuo, automaticamente
este acto de cópula por via vaginal por meio de sedução não configura o crime de
137
estupro. (7)-
finalmente o perito deve entender ou deduzir que está perante uma sedução durante a
anamnese, porque segundo Pereira e Sousa “sedução é o engano artificioso que se
emprega para induzir alguém a consentir em algum acto contrário à honra ou aos seus
interesses”. Constitue sedução a promesa de casamento, de dádivas, de dote, de vida
em comum, etc.
 Violação: Segundo o art. 393º do Código Penal “ aquele que tiver cópula ilícita com
qualquer mulher, contra sua vontade , por meio de violência física, de veemente
intimidação, ou de qualquer fraude, que não constitua sedução, ou achando-se a
mulher privada do uso da razão, ou dos sentidos, comete o crime de violação, e terá a
pena de prisão maior de dois a oito anos” e art. 394º do Código Penal “aquele que
violar menor de doze anos, posto que não se prove nenhuma das circunstâncias
declaradas no artigo anterior, será condenado a prisão maior de oito a doze anos.”
A interpretação que temos deste crime com base no que vem plasmado nos artigos
393º e 394º e outros do crime contra a honestidade do Código Penal “violação é a
cópula vaginal com menor de doze anos ou qualquer mulher de idade superior a
doze anos, contra sua vontade”.
Os critérios médico-legais para o diagnóstico ou estabelecimento de violação são:
(1)- que haja uma cópula por via vaginal com uma mulher de idade igual ou inferior a
doze anos, independentemente do consentimento ou não da vítima.
(2)- que nas mulheres com idade igual ou inferior a doze anos não é imprescíndivel
que a cópula por via vaginal a penetração do pénis seja completa, basta que haja
sinais de cópula vestibular ou vulvar.
(3)- que nas mulheres com idade superior aos doze anos a cópula vaginal deve ser
contra a vontade da vítima, a verificação do elemento veemente intimidação,
constrangimento ou violência física é diagnosticada pelas repercussões nas áreas
psicológica, psiquica e física que a vítima apresenta, isto é, pelo quadro sindrómico de
stress pós traumático ou pós emocional com ou sem lesões extragenitais.
(4)- que a mulher esteja privada do uso da razão ou dos sentidos. A privação do uso
da razão ou sentidos pode ser total ou parcial que impossibilite a vítima de avaliar o
significado e as consequências do acto sexual. Os exemplos destes estados podem ser
traduzidos nos casos de transtorno mental transitório por intoxicação aguda etilíca ou
por outras drogas psico-trópicas; por transtornos mentais orgânicos tipo atraso mental
moderado a grave - oligofrénia grave, etc.

B- Perícia Médico Legal:


Estabelece o Regulamento que “nos casos de alegação ou suspeita de atentado ao pudor,
estupro, violação, gravidez, aborto provocado e parto, o exame de peritos deverá ser feito
diante de uma ou duas testemunhas e demanda em todo o caso o consentimento da parte; e
se for criança, o consentimento da mãe. Caso, porém, os peritos não consigam este, não
deverão fazer o exame a força, mas sim desistir dele e deixar que a justiça proceda depois
como julgar conveniente,
Ao proceder ao exame deverão os peritos pôr de parte a narração dos queixosos e pessoas
da família destes, principalmente as declarações de crianças, até que, terminado o exame,
possam apreciar convenientemente.
Tal exame deve ser completo e metódicamente feito; pois cumpre verificar o estado dos
órgãos genitais, tanto externa como internamente, inquirir se há sinais equívocos ou
138
indubitáveis de virgindade, se indícios de desfloração, se de cópula repetida; procurar se
aparece esperma nos órgãos genitais, ou em suas imediações, ou no vestuário em contacto,
ou nas roupas de limpeza, ou ainda no sobrado, descrevendo toda toda e qualquer nódoa
que apareça conforme o aspecto, forma, dimensões e cheiro se o denunciar; e finalmente,
indicar se existe ou não doença venérea ou siflítica e tudo o que tal respeito averiguarem de
interessante, ou dizer se para isso carecem de repetir o seu exame mais tarde; assim como
também declarar se encontraram ou não quaisquer sinais de violência.
Análogamente se deverá proceder quando haja possibilidade de examinar o presumido
autor de facto determinante do exame”.
Os crimes sexuais, estabelicidos no Código Penal como crimes contra a honestidade –
atentado ao pudor, estupro e violação, constituem urgência médico-legal. As vítimas
devem ser observadas o mais cedo possível, o ideal logo após o facto a fim de:
 Permitir um tratamento médico e psicológico, e eventual acolhimento em casas de
apoio tipos da Kulaya no Hospital Central de Maputo ou das que existem nos bairros.
 Colheita de todos os elementos ou indicios tipo manchas na vítima, no agressor, no
vestuário e sobrado para constituir elemento de prova material, antes que estes
despareçam ou sejam conspurcados.
 Permitir ou evidenciar os sinais de conjunção carnal e de outras diferentes formas ou
tipos de manifestação sexual.
As autoridades policiais e judiciais da Cidade de Maputo e da Cidade da Matola pelo que
temos constatado, eventualmente devido a falta de preparação científica para compreender a
necessidade e o valor da urgência deste exame médico-legal, habitualmente solicitam
tardiamente as perícias, apesar de muitas das vítima queixarem-se junto destas autoridades
logo após o facto, dificultando deste modo o diagnóstico médico-legal das lesões, a
tipificação do crime, o levantamento de provas materiais de facto, a identificação e a punição
do criminoso.
C- Exame das Vítimas:
O exame deve ser efectuado num gabinete ou consultório médico, em ambiente bem recatado
para perservar a privacidade da vítima, devidamente iluminado a luz natural ou artificial, com
uma marquesa normal e marquesa ginecológica, sempre na presença de familiares ou
representantes legais, o perito deve ser auxiliado por uma enfermeira ou outro técnico de
saúde.
O exame clínico deve ser completo, devendo o perito observar o estado geral; o estado de
consciência, orientação no tempo e espaço; estado psicológico.
A vitíma deve estar completamente despida, o perito descreverá se o individuo examinado é
ou não púbere, de consistência física regular de acordo com a idade, avaliando o
desenvolvimento físico.
Deve descrever se a vítima apresenta ou não as lesões traumáticas extra-genitais, dando
particular atenção ao tipo de lesões de ataque ao nível da face, do pescoço, dos seios, coxas,
nadégas, etc e as lesões de defesa nos membros superiores (antebraço e mãos) e de outras
regiões do corpo.
Deverá o perito precisar a ausência de lesões traumáticas extra-genitais.
O perito deverá examinar a roupa da vítima, da cama ou do local de facto.

139
Exame especial deverá o perito ter em relação as crianças devido ao aumento cada vez maior
de casos de abuso sexual ou pedófilia, para nós a maior percentagem de casos registados na
consulta têm sido de crianças, julgamos que esses dados estatisticos muito baixos
eventualmente por desconhecimento dos pais e encarregados de educação de que é crime:
mau encaminhamento por parte das autoridades policiais ou tentativa de resolução da questão
nas esquadras; ameaças por parte dos autores aos menores e familia ou ainda porque estes
factos ocorrem no próprio lar da criança.
Pedófilia e/ou abuso sexual de menores pode ser um distúrbio de instinto sexual, que consiste
em toda e qualquer exploração de menor pelo adulto que tem como finalidade directa oiu
indirecta a obtenção de um prazer lascívio, venéreo, etc. Estes abusos manifestam-se de
diversas formas desde carícias nos órgãos genitais dos menores, solicitação para que estes
façam aos adultos, sexo oral entre o menor e o adulto ou vice-versa, sexo por via vaginal,
sexo anal, sexo manual auto ou hetero, exibição de material pornográfico, etc.
Durante o exame clínico o perito deve averiguar junto da familia certas manifestações que a
criança pode ter como por exemplo mudança brusca de comportamento para com amigos,
familia, colegas na escola; medo ou temor de certas pessoas ou lugares; recusa imediata de ser
examinada, uso de expressões ligadas ao acto sexual ou de palavrões; etc.
EXAME DO AUTOR OU AGRESSOR: o exame clínico deve ser efectuado se possivel
urgentemente na mesma altura em que se examina a vítima, o ideal antes das vinte quatro
horas, o exame deve ser completo dando particular atenção a observação dos dedos e das
unhas, colheita de amostras para exame laboratorial de sangue, urina, saliva, nas bordas das
unhas, superficie do pénis, pêlos pubianos e manchas em todo o corpo, nas roupas.
 Exame em casos de sexo oral:
1)- Introdução do pénis na cavidade bucal: quando a prática de sexo oral é voluntária
e de mutúo consentimento, geralmente a introdução e saida do pénis pela cavidade
bucal faz-se por meio de sucção e a direcção é mais ou menos transversal e
ligeiramente obliqua para cima não chegando a traumatizar o palato; entretanto
quando este acto é contra a vontade da vítima a introdução e saida do pénis é feita
com a boca parcialmente cerrada, a direcção é oblíqua de baixo para cima, o agressor
força esse acto colocando uma das mãos na cabeça da vítima na região occipital
produzindo flexão e extensão do pescoço traumatizando desde modo a abóbada
palatina. As
lesões locais que podemos encontrar na vítima são equimoses na mucosa labial,
escoriações ou abrasões na mucosa labial, equimoses na abóbada palatina.
A pesquisa de semén por meio de uma zaragatoa deve ser feita na região
alveologengival levantando os lábios, na orofaringe muitas das vezes é infrutífera
porque a vítima terá cuspido ou deglutido o semen.
A pesquisa de semen na boca deve ser feita precocemente antes de se completar uma
hora após o acto libidinoso. No
agressor podemos encontrar marcas dos dentes e manchas de saliva no pénis da vítima
útil para identificação de quem foi o agressor e da vítima. 2)-
Introdução da língua na região vulvo-vaginal: é um tipo ou manifestação de acto
sexual libidinoso mais raro, mais frequente em adolescentes do sexo masculino,
aliciados ou seduzidos por mulheres adultas mais velhas, segundo os nossos registos
com empregadas domésticas ou vizinhas, aliciam os adolescentes a introduzir a lingua
na região vulvovaginal.
140
Geralmente os sinais locais aparecem tardiamente, quanto estes adolescentes contraem
doenças de transmissão sexual na orofaringe, temos um caso de um adolescente que
evoluia constantemente com amigdalites de repitição com falência terapêutica, feita a
cultura do exsudato comprovou-se presença de infecção gonocócica.

A prática destes actos libidinosos em menores de dezasseis anos de ambos os, quer a vítima
tenha ou não consentido configura o crime de atentado ao pudor, e em individuos maiores de
dezasseis anos só se for forçado a tal prática ou sem o seu consentimento com base no que
vem plasmado no art. 391º do Código Penal.
 Exame em casos de sexo por via anal: A introdução do pénis ou de um objecto
ponteagudo no anús de um individuo designa-se de sodomia passiva.
Antigamente considerava-se sodomia como sinónimo de pederastia pois estes actos
libidinosos eram práticados em menores do sexo masculino, actualmente julgamos
nós que a expressão correcta é pedófilo, isto é, individuo que tem atração sexual por
crianças de ambos os sexos, podendo o acto sexual ser anal, vaginal, oral, manual, etc.
O individuo que introduz o pênis ou objecto pratica o acto de sodomia activa.
O anús é uma estrutura anatómica que possue dois músculos importantes que devido a
introdução do pénis ou de um objecto ponteagudo pela primeira vez ficam lesionados,
é o múculo elevador do anús e o músculo esfincter do anús.
É importante frisar que a sodomia passiva quando praticada por individuos
experientes e o acto for precedida de correcta lubrificação ela é quase que indolorosa
do ponto de vista físico.
Nos casos em que a sodomia passiva é praticada sem o consentimento da vítima ou
mesmo com anuimento desta, este acto produz lesões ao nível dos músculos acima
referenciados, traduzem-se por rupturas das fibras musculares que passado algum
tempo cicatrizam.
O exame anorectal deve ser feito com a vítima na posição genopeitoral ou de “prece
maometana”. (1)-
Sinais de sodomia violenta recente: estes sinais devem-se as lesões agudas produzidas
por rupturas das fibras musculares, caracterizam-se por contractura dolorosa do
esfincter anal com hemorragias das paredes anorectais e eventualmente perineais,
feridas ou fissurite com congestão e equimose na mucosa. A
descrição das lesões deve se feita por quadrantes superior ou inferior, ou seguindo o
sentido horário do relógio. A
vítima geralmente queixa-se de tenesmo. (2)-
Sinais de sodomia passiva não recente: é também chamada de sodomia passiva
habitual por apresentar os mesmos sinais dos individuos que praticam frequentemente
este género de actividade sexual. Os
sinais devem-se a cicatrização da ruptura das fibras musculares, caracterizam-se por
relaxamento do esfincter anal, anús de forma infundibular, e porque a actividade
sexual é frequente ou habitual pode levar ao desaparecimento das pregas anorectais –
chamada Tríade de Tardieu. Além
destes sinais locais podemos encontrar equimoses, feridas ou fissurites na mucosa
anorectal resultantes da cópula anal recente. A
pesquisa de semén na vítima deve ser feita antes de ter decorrido vinte quatro horas,
questionar a vítima se defecou ou não. No

141
autor ou agressor deve-se pesquisar particulas de fezes no pénis, nos pêlos na região
púbica e peças de vestuário.
A prática deste género ou tipo de manifestação sexual em menores de dezasseis anos de
ambos os sexos, quer a vítima tenha ou não consentido configura um crime de atentado ao
pudor, e em individuos maiores de dezasseis anos só é crime se for contra a vontadade ou
sem o seu consentimento cm base no que vem plasmado no Código Penal.
 Exame em casos de sexo por via vaginal: o objecto de exame é o hímen e a região
vulvo-vaginal.
Hímen ou hímene é uma expressão proviniente do grego hymen, isto é, membrana.
É uma membrana fibro-elástica situada à entrada da vagina, mais ou menos alta, tem
consistência variável e apresenta formas tão variadas que pode afirmar-se não haver
duas mulheres que tenham hímen igual, apresenta dois bordos o livre e o aderente.
O bordo livre do hímen pode ser liso e regular ou apresentar-se irregular, com fendas
ou entalhes congénitos superficiais ou profundos, devemos sempre fazer diagnóstico
diferencial com lacreações traumáticas.
O bordo aderente do hímen é o que se fixa a parede vaginal, reforçado na maioria das
vezes por colunas ou pontes de tecido fibroso.
Os hímenes dividem-se em típicos que são os mais frequentes, e atípicos menos
frequentes. Esta classificação baseia-se na forma ou desenho do orifício himeneal.
Hímenes típicos:
(1)- hímen circular ou anular: é o que apresenta o bordo livre da membrana em
forma circular central ou levemente excêntrico de forma circular.
(2)- hímen semilunar:é o que apresenta o bordo livre da membrana em forma de meia
lua na maioria dos casos de concavidade voltada para cima.
(3)-hímen labiado ou bilabiado: é o que apresenta o bordo livre da membrana em
forma de fenda vertical, podendo ser obíqua ou transversal.
Hímens atípicos: existem uma variedade de hímenes atípicos cujos bordos livres da
membrana têm formas diferentes tais como biperfurado, cribriforme, helicoidal, etc., o
imperfurado que necessita ser cirúrgicamente perfurado.
Hímen virgem: o estado de virgindade de um hímen é diagnósticado pela integridade
da membrana, isto é, quando não existe nenhuma solução de continuidade entre o
bordo livre e o bordo aderente. O
hímen é reforçado por colunas de tecido da vagina que não tem a mesma consitência
em todos os pontos, lacera em regra naqueles que menor resistência oferecem à
introdução na vagina do corpo duro ou um objecto, tal como um pénis erecto de
adulto. A
cópula laceradora do hímen geralmente é dolorosa e com pequena hemorragia, produz
uma solução de continuidade traumática nos hímenes intolerantes, completa, isto é,
que se extende desde o bordo livre até ao bordo aderente da membrana, de situação
variável no quadrante superior ou inferior. Há casos
em que a laceração traumática não produz uma solução de continuidade completa,
visto que não atinge o bordo aderente do hímen. Estamos perante
um hímen com desfloramento recente quando este apresenta uma solução de
continuidade em que os bordos da laceração estão desiguais, avermelhados ou
equimóticos, edemaciados e ás vezes com supuração ou exsudato. Isto é, a laceração
apresenta sinais de uma ferida recente; além destes sinais apresenta equimoses nas
paredes da vagina. A cicatrização

142
da laceração hímeneal faz-se rápidamente, podendo afirmar-se que, em média, ao
cabo de cinco dias os caracteres de ferida viva desaparecem, pelo que podemos
afirmar que a laceração apresenta sinais de desfloramento não recente, não sendo
possivel determinar a data exacta em que ela ocorreu, isto é, se a laceração foi
provocada há cinco dias ou há mais tempo.
Deve-se fazer o diagnóstico diferencial médico-legal entre a laceração traumática e
entalhe congénito do hímen.
Laceração traumática do hímen geralmente é completa, vai desde o bordo livre até ao
bordo aderente da membrana, os bordos são desiguais, há justaposição perfeita e
completa dos bordos quando se tenta coaptá-los ou uni-los e no Entalhe congénito os
bordos estão talhados em bisel com extremidades livres arredondadas, a justaposição
dos bordos é difícil ou impossivel. É
importante recordar que há hímenes tolerantes designados de hímenes complacentes
ou elásticos, são os que permitem o coito sem se lacerar, cujas caracteristicas foram já
descritas. Nesta
circunstância em que a mulher tem um hímen complacente ou quando a mulher
apresenta sinais de desfloramento não recente, a vítima apresenta um conjunto de
sinais resultante do coito que é nada mais do que a entrada e saida vigorosa do pénis
erecto adulto no canal vaginal várias vezes, produzindo lesões traumáticas por
instrumento contundente ou actuando como tal, infiltrações hemorrágicas ou
equimoses nas paredes vaginais, de grande valor diagnóstico para coito recente e
vitalidade nos casos de homicídio precedido de violação.
A cópula em meninas menores de seis anos é anatómicamente inpossivel, visto que o
ângulo sub-púbico é ainda mais agudo, formando uma verdadeira óssea.
Em meninas entre os seis e once anos a cópula é possivel, mas devido as dimensões e
desenvolvimento dos orgãos genitais serem reducidas a pentração do pénis adulto
erecto provoca laceração do perineo ou do tabique recto-vaginal, lesões muito graves.
Em meninas depois dos doze anos ou púberes o coito só produz lesões no hímen e ou
ligeiras lesões genitais.

A pesquisa de semén no canal vaginal deve ser efectuada no fundo de saco de Douglas num
periodo que não exceda as quarenta oito horas, perguntar sempre a vítima se se lavou.
No autor ou agressor pode-se pesquisar manchas das secreções vaginais no pénis, pêlos
púbicos, roupa interior e sobrado.
A prática deste género de manifestação sexual, cópula por via vaginal pode constituir
julagamos nós com base no que vem plasmado nos art. 391, 392, 393 do Código Penal os
seguintes crimes: (1)-
violação se a cópula vaginal for com uma mulher de idade igual ou inferior aos doze anos.
(2)- violação se a mulher tiver idade superior a doze anos e a cópula vaginal for contra a
vontade da vítima ou se ela estiver privada do uso da razão ou dos sentidos.
(3)- estupro se a cópula vaginal for com uma mulher maior doze e menor de dezoito anos por
meio de sedução, e deve-se provar que o desfloramento da vítima foi provocado pelo autor ou
então na mulher com hímen complacente quando está têm sinais de cópula recente.

143
(4)- atentado ao pudor, se a cópula vaginal for com uma mulher menor de dezasseis anos
com o seu consentimento, que já tinha sinais de desfloramento não recente provocado por
outro individuo no momento do facto.
 Exame em casos de outros coitos ectópicos ou outros tipos de manifestações
sexuais ou actos libidinosos: os sinais que a vítima apresentar vai depender do tipo
de sexo ectópico ou acto libidinoso praticado, por exemplo sexo entre os seios
podemos encontrar manchas de semén na região peitoral; auto ou heteromasturbação
pode ou não deixar sinais, tais como vulvovaginites traumáticas; presença de corpos
ou objectos estranhos no anus, vagina e boca associado com lesões traumáticas nestas
regiões; manhas nas peças do vestuário, ect. etc.

4- Disturbios de Instinto Sexual ou Sexualidade Ânomala:


Existe no homem dois instintos básicos tal como em outros animais, o instinto de nutrição
que permite a conservação da especie e o instinto da perpetuação a que garante a
continuação da especie.
Distúrbio de instinto sexual ou sexualidade anômala é uma alteração quantitativa ou
qualitativa do instinto sexual, podendo evoluir como sintoma isolado ou de uma
perturbação psíquica e ser influenciado por factores glandulares ou ser uma questão de
preferência sexual.
Existem várias classificações para o estudo dos distúrbios de instinto sexual, a
classificação mais consentánia é da de Alexander Lacassagne e a classificação de Kraft-
Ebing. Utilizaremos ambas para descrever os dístúrbios que têm interesse médico-legal em
qualquer área de direito (penal, civil e outras).
Classificação de Alexander Lacassagne:
A- Formas patológicas relativas à quantidade:
 Aumento ou exaltação: 1)-
temperamento genital. 2)-
onanismo automático. 3)-
satiríase. 4)-
ninfomania. 5)-
crises genitais momentâneas. 6)-
exaltação por motivos de ceros actos fisiológicos.
 Diminuição:
1)- frigidez. 2)-
impotência. 3)-
ausência congênita do apetite sexual. 4)-
erotomania.

B- Formas patológicas relativas à qualidade:


 Inversão:
1)- uranismo.
2)- pederastia.
3)- tribadismo.

144
 Desvio do instinto:
1)- sadismo.
2)- necrofilia.
3)- vamperismo. 4)-
bestialidade. 5)-
fetichismo.

Classificação de Kraft-Ebing:
Classifica os distúrbios de instinto sexual em três grandes grupos:
 Paradoxia: quando a emoção sexual surge fora da época normal por alterações
anátomo-fisiológicas dos órgãos reprodutores.
 Anestesia: quando não excitação capaz activar a libido (abolição do instinto).
 Parestesia: quando a excitação sexual só é despertada por excitações inadequadas,
são chamados os desvios ou perversões propriamente ditos.

É evidente que não é possivel nesta modesta obra abordar todos os distúrbios de instinto
sexual, tentaremos focar os distúrbios de instinto sexual que julgamos serem relevantes para o
ordenamento juridico em vigor no nossos país de importância médico-legal.
 Anafrodisia: é um distúrbio do instinto sexual quantitativo nos individuos do sexo
masculino, caracterizada pela diminuição ou deteriorização progressiva com ausência
do desejo, apetite sexual ou da líbido, as causas podem ser diversas desde doenças
endócrinas e neuro-psiquícas.
Deve-se fazer o diagnóstico diferencial médico-legal com impotência sexual em que
paciente têm a líbido e é incapaz de manter a ereção até o fim do acto sexual ou tem
ejaculação precoce. A
importância médico-legal deste distúrbio é que pode constituir uma das razões para a
esposa solicitar anulação do casamento (em particular o relegioso) por defeito físico
irremediável, anterior e desconhecido na época do matrimónio.
O defeito físico irremediável no homem chama-se de impotência coeundi actulmente
designada por disfunção sexual que pode ser físico ou instrumental e funcional, está
última com interesse médico-legal para os casos de anafrodisia.
Nos individuos do sexo feminino a diminuição ou ausência do desejo sexual designa-
se de frigidez e sem interesse médico-legal.

 Satiríase: é distúrbio de instinto sexual quantitativo nos individuos do sexo


masculino, em que há aumento ou exaltação do desejo, apetite sexual ou da líbido,
caracterizado pela ereção do pénis e consumação do acto sexual com ejaculação, as
causas são patológicas endócrinas.
Deve-se fazer o diagnóstico diferencial médico-legal com priapismo em que a ereção
do pénis é contínua e dolorosa sem ejaculação e desejo sexual, de causa geralmente
psíquica. O
interesse médico-legal deste distúrbio: (1)-
pode constituir razão eventual para o divórcio se a esposa alegar não conseguir
satisfazer sexualmente o marido pelo facto deste pretender manter por dia várias vezes
a cópula, provocando-lhe um quadro de exaustão física, psicológica e psiquica.
(2)- pode levar o homem a prática de prostituição, uma das razões para divórcio

145
alegando infedelidade.
(3)- pode nos casos em que não encontra meios de satisfação sexual cometer crimes
contra a honestidade previstos no código penal nos artigos 391, 392, 393 e 394.

 Ninfomania ou Uteromania: é um distúrbio quantitativo nos individuos do sexo


feminino, em que há aumento ou exaltação do desejo, apetite ou da líbido sexual,
caracterizado por necessidade de satisfação do desejo ou apetite sexual insaciável a
qualquer preço. Segundo Kraft-Ebing a causa mais comum é a histeria.
Existem duas formas a aguda com prognóstico mais reservado e a crónica. O interesse
médico-legal é exatamente o mesmo mencionado na satiríase.

 Lubricidade senil: é um distúrbio de instinto sexual qualificativo, geralmente mais


frequente em individuos do sexo masculino, com atersoclerose avançada associado a
demência senil ou paralisia geral progressiva.
São individuos que devido ao estado avançado da doença sofrem de impotência
sexual, a maioria das vítimas são geralmente menores, nos casos registados no nosso
serviço são sobrinhas, netas, vizinhas.
Os actos libidinosos mais frequentes são apalpanços as partes sexuais, auto ou
heteromasturbação, sexo oral até pode ocorrer a coitos vestibulares, vaginais e anais.
A importância médico-legal de conhecer este distúrbio é o de determinar ou avaliar o
grau de imputabilidade ou inimputabilidade do autor que pode ter cometido os crimes
contra a honestidade descritos nos artigos 390, 391, 392, 393 e 394.

 Exibicionismo: é um distúrbio de instinto sexual qualificativo que se caracteriza pelo


prazer ou satisfação sexual impulsivo em exibir os órgãos genitais externos, segundo
Lasègue em público perante individuos do sexo oposto e ou crianças.
O diagnóstico diferencial médico-legal deve se efectuado em individuos do sexo
masculino que tem hiperplasia da próstata e por razão têm uma necessidade
imperiosa de urinar, facto que pode ocorrer na via pública.
A importância médico-legal é que os individuos que padecem deste distúrbio podem
cometer o crime de ultraje público ao pudor, plasmado no artigo 390 do código penal.

 Pedofilia: é uma perversão propiamente dita, em que há preferência sexual por


crianças do mesmo ou de sexo oposto.
São individuos que só têm prazer, satisfação sexual ou líbido quando mantem relaçõe
sexuais com menores.
A importância médico-legal é que os pedófilos podem cometer os crime contra a
honestidade, nomeadamente atentado ao pudor, estupro e violação; e outros crimes
previstos no código penal dependendo das factos e circunstâncias.

 Necrofilia: é um desvio de instinto mais torpes das perversões sexuais, associado


geralmente com quadro de degeneração psíquica nos casos extremos dos individuos
que tem prazer ou satisfação implusiva e obsessiva em manter relações sexuais com
cadáveres. Nestes
casos cometem o crime de violação ou profanção de túmulos e cadáveres. Existe
descrito na litertura os ditos pequenos necrófilos que só tem prazer ou satisfação
sexual se acto ocorrer em ambientes que simulam cerimónias fúnebres ou com música
fúnebre, podendo constituir motivação para solicitar divórcio por um dos conjuges.
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 Sadismo: é um desvio de instinto propiamente dito, em que o individuo só tem ou
atinge prazer, satisfação sexual ou líbido por meio de sofrimento do parceiro.
Às origens do sadismo deve-se procurar no sentimento ou prazer do poder e de
domínio exagerado ao passo que para os psiquiatrias seria a hipertrofia do orgulho do
individuo que para experimentar ou obter maior prazer da conquista necessita do
sofrimento alheio. Para a maior parte dos sádicos o coito ou conjunção carnal é
secundário e chega mesmo ser superfula.
Este sofrimento é exercido com crueldade e sua intensidade vai aumentando
gradualmente até causar a morte, e pode manisfestar-se de diferentes modos:
(1)- sofrimento moral por meio de insultos, chantagem, etc.
(2)- sofrimento físico por meio de danos ou lesões corporais.
(3)- sofrimento psicológico ao interromper o acto sexual afim de observar e esperar
que o parceiro lhe implore e sulpique a continuação para o terminus.
A importância médico-legal:
(a)- pode constituir uma das alegações para solicitação de divórcio alegando ofensas
corporais seguidas de sevícias. (b)-
pode cometer crime de ofensas corporais, homicidio e outros previsto na lei.

 Masoquismo de Kraft-Ebing: foi ele que descreveu este desvio em que o individuo
gosta de ser subjugado, humilhado e maltratado moralmente, psicologicamente e
fisicamente. O
seu nome deve-se a Leopold Sacher-Masoch, escritor polonês que sofreu dessa
patologia e a descreveu na sua obra.
É um desvio de instinto sexual em que o individuo só tem prazer, satisfação sexual ou
líbido por meio de sofrimento moral, psicológico e físico.
A importância médico-legal é o mesmo que no sadismo só que muitas das vezes o
masoquista tenta culpar o parceiro de ser o autor moral do crime.

As questões médico-legais que são colocados perante este mediatizado capitulo, a sua
abordagem deve colocar os aspectos éticos e morais em primeiro lugar porque trata de
assuntos que afectam o bom nome e a honra dos cidadãos, pode comprometer a segurança das
pessoas, e a questão de responsabilidade dos autores torna cada vez maior a tarefa e árdua a
função pericial dos peritos.

IX- OBSTETRÍCIA FORENSE.


É o capítulo da Medicina Legal que trata dos aspectos relacionados com a gravidez que
tenham implicações legais ou jurídicas, em diversas áreas do Direito, desde a fecundação e
concepção, modo ou forma como esta aconteceu, metódos utilizados, evolução, modo como
ela terminou e o destino dado ao recém-nascido.
1- Gravidez: É definido como sendo o estadio fisiológico durante a qual a mulher trás dentro
de si o produto da concepção.
Estabelece o Regulamento que
“Havendo motivo para suspeitar de gravidez, indicar se dela encontram sinais e quais eles
sejam, distinguir os que considerarem duvidosos dos que julgarem prováveis e dos que
tiverem por certos; dando aqui particular valor à investigação e reconhecimento do
147
aumento do volume regular e uniforme do útero e especialmente do seu corpo, aos
movimentos passivos e activos que possam observar-se e à percepção dos ruídos do
coração fetal, e bem assim indicar em que período se acha a gravidez.
Ainda na hipótese de suspeita de gravidez, sem que todavia dela se manifestem sinais, e
ficando os peritos en dúvida, será preferível reservar a sua opinião para depois de ulterior
exame que solicitem, a concluir precipitadamente, excluindo ou não por completo a
possibilidade de gravidez”.

A lei define como tempo de duração no seu artigo 1796 do Código Civil que a gestação dure
no minímo 180 dias e maximo 300 dias, e em média 280 dias. A pericia médico-legal para a
determinação da idade gestacional deve ter em consideração a data do último coito e data da
ultima menstruação.
 diagnóstico de Gravidez é efectuado com base em sintomas, sinais que a mulher
apresenta com apoio de meios auxiliares de diagnóstico.
Os sinais e sintomas de gravidez são divididos em:
a)- Sinais e sintomas de presunção:
 Pertubações digestivas: desejos, inversões do apetite, vómitos, náuseas, etc.
 Cloasma ou máscara grávidica.
 Hiperpigmentação da linha alba, hipertricose, lanugem e setrias abdominais.
b)- Sinais e sintomas de probabilidade:
 Interrupção do ciclo menstrual, amenorreia.
 Cianose vulvovaginal.
 Redução do colo do útero e do fundo de saco vaginal.
 Aumento de volume dos seios com hipertrofia dos tubérculos de Montegomery,
aumento de pigmentação das aréolas mamilares com saida de secreção.
 Aumento de volume do útero.
c)- Sinais e sintomas de certeza:
 Movimentos fetais positivos.
 Batimentos de coração fetal.
 Aumento do volume uterino com palpação dos segmentos fetais.

O diagnóstico precoce é nos dado pelos testes imunológicos de sangue dosagem beta-hCG
plasmática (RIA), e da urina da gonadotrofina coriônica; por meio de ultrasonografia, etc.

O diagnóstico médico-legal de gravidez pode ser eefctuado:


 No Vivo:
(1)- de uma gravidez presente, para determinar a idade gestacional, vitalidade fetal.
(2)- de uma gravidez precedente, para determinar o modo ou forma como esta
terminou se foi termo (parto? Que tipo de parto?) ou se foi interrompido antes do
termo (aborto? Tipo de aborto?).
 No cadáver:
(1)- determinar a idade gestacional ou do feto.
(2)- determinar se há uma relação de nexo causalidade entre a morte da vítima e o

148
terminus da gravidez, isto é, se a gravide/aborto foi a causa básica de morte e qual o
meio ou instrumento empregue para a concretização deste facto.

Do ponto de vista médico-legal é fundamental que o jurista saiba em que circunstâncias deve
pedir o diagnóstico de gravidez , mencionarei as que considero serem as mais importantes e
frequentes, nos casos de:
 Crime contra a honestidade, após comprovação de atentado ao pudor art. 391º ,
estupro art. 392º e violação art. 393º e 394º do Código Penal.
 Aborto provocado: aborto criminoso art. 358º do Código Penal, ofensas corporais
seguidas de aborto, mal praxis seguida de aborto – responsabilidade médica, traumas
não intencionais seguidas de aborto tais como após acidente de viação, acidente de
trabalho, etc.
 Infanticídio art. 356 do Código Penal em que se suspeita que a autora do crime seja a
eventual progenitóra da vítima.
 Legitimidade de nascimento, partos supostos art. 340º, 341º do Código Penal.
 Casamento no menor prazo internupcial art. 1605º do Código Civil.
 Execução de penas art. 113 do Código Penal.
 Fins administrativos e laborais.
 Em casos de viagem áerea rgional ou internacional de longo curso.
 Etc.

2- Parto: é um conjunto de fenómenos fisiológicos e mecânicos cuja finalidade é a expulsão


do feto viável e dos anexos.
O trabalho de parto do ponto de vista médico-legal começa com a ruptura da bolsa
amniótica, que difere do conceito puramente obstétrico em que o inicio de trabalho de
parto é feito com base nem conjunto de sintomas e sinais registado numa ficha –
partograma, em que se controla a evolução do apagamento e permeabilidade do colo
uterino e associado com a evolução das contrações uterinas.
Estabelece o Regulamento que
“Na suspeita de parto, descrevem-se quaisquer sinais que haja de gravidez, qualquer
indício
de aborto provocado por lesões do colo ou do útero, ou por qualquer outro meio; e veja-se
se aparecem manchas de sangue, ou de mecónio, ou de sebáceo, ou de liquido amniótico, e
se os seios fornecem verdadeiro colostro; e caso se julgue conviniente exame
microscópico,
acondicionar e acautelar os produtos a remeter para a circunscrição respectiva”.

O diagnóstico deve ser direccionado para a comprovação da existência ou não de sinais de


parto recente ou antigo, no vivo ou no cadáver:
 Sinais de parto recente:
(1)- Lacerações perineais, da fúrcula, dos pequenos lábios, da vagina, etc.
(2)- Lacerações do hímen que se apresenta em retalhos com o aspecto de cristas, de
linguetas ou de tubérculos carnosos designados de carúnculas mirtiformes.
(3)- Secreções vaginais, lóquios inicialmente francamente hemáticos.
(4)- Útero aumentado de tamanho, lesões no colo.

149
(5)- Exames laboratoriais podem ser indespensáveis: exame da mucosidade vaginal, do
liquido amniótico, exame micróscopio do útero e ovários. etc.
 Sinais de parto antigo: Nestes casos o diagnóstico é dificil e complexo, não existe
sinais especificos por si só concludente.
Tipos de patos: os partos podem ser por via vaginal e artificial:
 Parto vaginal eutócico: é o chamado também natural, a expulsão do feto deve-se as
contrações uterinas.
 Parto vaginal distócico: é o parto vaginal auxiliado por instrumentos, forceps para
expulsar o feto.
 Parto artificial ou por cesariana: é parto produzido por meio de uma intervenção
cirúrgica.
As ciscunstâncias em que se deve solicitar o diagnóstico médico-legal de parto são:
 Fins administrativo-laboral, direito a licença de parto.
 Legitimidade de nascimento, partos supostos 340º e 341º do Código Penal.
 Simulação, dissimulação, metassimulação da gravidez.
 Sonegação e substituição de recém-nascidos.
 Negação do crime do aborto (art. 358º) e de infanticídio (art. 356º )

3- Puerpério: é o período ou espaço de tempo que vai desde o desprendimento da placenta


até a involução total do organismo materno às condições anteriores ao processo
gestacional.
Tem a duração média entre as seis e oito semanas.
O diagnóstico desta condição fisiológica da mulher é feita provando a existência de sinais
de parto recente nos diferentes orgão genitais:
 Entre o 1º e 10º dias: o útero ainda está aumentado de volume e tamanho, acima
da cicatriz umbilical.
As dores abdominais ou cólicas devido a contração uterina são frequentes; o colo
está flácido, permável dois a três dedos e gradualmente vai-se tronando menos
permeável e duro. As
secreções vaginais, lóquios são francamente hemáticos (lochia rubra) nos primeiros
dias, mais pálidos (lochia serosa) no quinto dia e praticamente branco-amarelado
(lochia alba) por volta do sétimo dia.
 Entre 10º e 45º dias: nesse periodo o útero vai regredindo de tamanho mais
lentamente, nesse periodo geralmente não ocorre a ovulação, há reepitelização da
vagina e da cavidade uterina, e lóquio é praticamente seroso.
 Pós puerpério, além dos quarenta cinco dias: os sinais que a mulher apresenta
são geralmente derivados da ovulação.
Nas não lactantes ocorre em regra na décima segunda semana, e nas lactantes após
30 a 36 semanas.

A diagnóstico médico-legal do puerpério pode ser solicitado nas seguintes circunstâncias:


 Fins Administrativo-laborais, licença de parto.
 Nos casos de sonegação e abandono de recém-nascidos.
 Nos casos de infanticídio.
 Nos casos de partos supostos (simulação e dissimulação), subtração de recém-
nascidos (art 340 e 341) .
150
No caso da puerpéra cometer um dos crimes acima mencionado ou outro é fundamental que
se efectue o exame psiquiátrico forense afim de se determinar se ela no momento em que
cometeu o acto ilícito estava ou não com um quadro de transtorno mental transitório,
patologia atribuida ao estadio fisiológico puerperal, que constitue um elemento eximente de
responsabilidade penal, tornando a arguida ou autora inimputável, se se provar tal facto.
3- Aborto: é definido médico-legalmente como sendo a interrupção ad gravidez antes do
têrmo normal, produzindo a morte do produto da concepção.
A definição clínica ou obstetríca de aborto é a interrupção da gravidez antes do sétimo
mês, e a definição epidemiológica constitue aborto interrupção da gravidez de um feto
com peso inferior a 500 gramas, após essa data ou peso contitue parto prematuro.
A definição médico-legal de aborto tem em vista protelar o que o Direito ampara, que é
vida humana, no sentido mais lacto, considerando a vida desde o momento da concepção
até o seu exitus ou terminus de causa natural.
Por isso está estabelicido no nosso Código Penal, Livro II, dos crimes em especial,Título
IV dos crimes contra as pessoas, Capitulo III dos crimes contra a segurança das pessoas,
Secção III- aborto artigo 358.
Art. 358º “Aquele que, de propósito, fizer abortar uma mulher pejada, empregando para
este fim violências ou bebidas, ou medicamentos, ou qualquer outro meio, se o crime for
cometido sem consentimento da mulher, será condenado na pena de prisão maior celular
de dois a oito anos.
&1º - Se for cometido o crime com consentimento da mulher, será punido com a pena de
dois a oito anos de prisão maior.
&2º - Será punida com a mesma pena a mulher que consentir e fizer uso dos meios
subministrados, ou que voluntàriamente procurar o aborto a si mesma, seguindo-se
efectivamente o mesmo aborto.
&3º - Se porém, no caso do parágrafo antecedente, a mulher cometer o crime para ocultar
a sua desonra, a pena será de prisão.
&4º - O médico ou cirúrgião ou farmacêutico que, abusando da sua profissão, tiver
voluntàriamente concorrido para a execução deste crime indicando ou subministrando os
meios, incorrerá respectivamente nas mesmas penas, agravadas segundo as regras gerais*”.
 Estabelece o art. 10º do Decreto-Lei no 32171, de 29 de Julho de 1942, que “A
agravação da pena de aborto a que se refere o &4º do art.358º do Código Penal
abrange todos os individuos que exerçam profissões auxiliares da medicina”

Diz o Regulamento que


“ Nos casos de suspeita de aborto provocado, haverá que procurar se ainda existe o
embrião nos órgãos genitais, ou se já no sangue e coágulos evacuados, onde, em regra,
só será reconhecível desde que tenha três semanas.
Quando encontrado o ovo, verifique-se se ele está inteiro se dilacerado; e neste último
caso procure-se o embrião e fragmentos das membranas de invólcro, em que devem
reconhecer-se as vilosidades coriais, agitando todos os cóagulos dentro de um vaso com
água, terminando por descrever o embrião e indicar o seu peso e as suas dimensões
principais.
Do mesmo modo deve procurar-se a placenta aos dois e meio meses e dali em diante e,
151
achada ela , verificar o seu grau de desenvolvimento e qualquer indício que o órgão
revele.
Quanto às membranas de invólcro indague-se se apresentam ou não indício de haverem
sido picadas, ou sofrido qualquer outro traumatismo. Aparecendo feto, determinar se
ele
é ou não de termo, ou que idade inculca ter, registando-se o seu peso e comprimento,
bem como o do cordão e o peso da placenta; se ele nasceu ou não com vida; se
apresenta algum vício de conformação, lesão traumática feita em vida, ou manifestação
mórbida e quais; e se umas ou outras podem haver determinado o aborto.
E em relação a todos estes quesitos indicar os factos observados. A terem os peritos de
ficar em dúvidas sobre alguma das conclusões, deverão promover que o feto seja
conservado e guardado”.

O aborto criminoso com base no que vem plasmado na lei do ponto de vista médico-legal, é
a morte dolosa do produto da concepção, que é o ovo até o momento do parto ou até o termo
da gravidez.
O objecto do crime no aborto é o ovo ou o produto de concepção, que é a vida que se
encontra dentro do útero materno, que apesar ainda de não ter vida autonóma, mas é vida
humana em formação, vida biológica que precisa de ser amparada e protegida pela lei. Assim
sendo, a nossa legislação não faz distinção entre o ovo, embrião ou feto, nem da sua
viabilidade.
Como não constitue a mulher o objecto de crime de aborto, se durante o acto a integridade
física, psicológica ou psiquica da mulher pejada ou gestante for afectada agrava-se o crime e
pode constituir outras crimes ou figuras juridicas.
O aborto que tem interesse Médico-Legal julgamos nós, é o aborto provocado em diversas
circunstâncias tais como: os acidentais (pós quedas, acidentes de viacção, acidentes de
trabalho, etc), pós ofensas corporais, ocasionado durante o exercício da actividade médica
(casos de responsabilidade médica), criminosos, etc.
Os abortos expontâneos designados de ovulares não têm interesse médico-legal.
A abordagem médico-legal do ponto de vista filosófico-académico, de acordo com a
legislação em vigor e os principios ético-deontológicos universais que regem o exercio da
medicina, diversas são as situações que são colocados ao Médico/Jurista face a essa
problemática e a interpretação para que os abortos sejam pleitados como legais.

 Aborto Terapêutico: é o aborto realizado pelo médico quando este diagnostica que
com a continuação da gravidez surgirá a morte da gestante ou que devido ao seu
estado clínico grave resultante de uma patologia natural ou traumática a vida desta
corre serio perigo. Este
tipo de aborto encontra guarida no estado de necessidade, quando para se salvar a vida
da mãe, cuja personalidade juridica é uma realidade (segundo art. 66º do Código
Civil), protelada pela lei como sendo um bem juridico maior em sacrificio ou
detrimento de um bem menor que cuja existência juridica ou legal de vida autonoma
não tem, não é vita é species vitae.
Do ponto de vista ético-deontológico este tipo de aborto é um acto licito, devendo o
médico segundo as normas de Direito Médico informar a gestante ou seu
representante legal a gravidade da situação clínica, e para que o profssional de saúde
152
pratique este acto não necessita do consentimento da gestante ou de terceiros, pois
está prática esta circunstanciada a situação clínica da mãe que a lei ampara
plenamente e a Medicina conceitua como indespensável a sua intervenção.

 Aborto Eugênico: é aborto realizado pelo médico quando este diagnostica que o feto
é portador de uma gravíssima mal formação congénita incompativel com sua futura
vida autónoma e integração social tipo malformações do sistema nervoso por exemplo
anencefalia, fetos que sofreram acção de agentes físicos ou quimicos de comprovado
potencial teratogênico ou se mãe é portadora de uma grave doença infecto-contagiosa
que pode transmitir ao produto de concepção produzindo neste uma gravissima mal
formação incompátivel com sua futura viad autónoma, tipo rubéola, hiv-sida (?, hoje
comprovado que a transmissão vertical mãe-feto pode-se impedir, questão o acesso
aos antiretrovirais). A
abordagem ético-deontológica e a licitude deste tipo de aborto não é de aceitar os
argumentos da teoria conservadora que está pratica visa melhorar a raça e especie
humana, mas de evitar o nascimento de um feto cientificamente sem vida nos casos
de anencefalia aprovado em diversos países e autorizados pelos juizes; ou de fetos
com gravissimos problemas patológicos e de saúde incompativeis com a plenitude de
vida e integração social nos casos de malformações resultantes de rubéola ou de
agentes físicos e quimicos teratogênicos cientificamente comprovados os seus efeitos
maléficos; ou ainda de acordo com a nossa realidade socio-politico-economico de
inexistência de recursos finaceiros da parte do estado em garantir de acordo com a
Constituição de Moçambique cuidados de saúde equitativos para todos cidadãos
segundo ao art. , no caso em apreço para evitar a transmissão vertical do hiv-sida
materno-fetal a administração de anti-retrovirais as mães hiv-positivos seria a solução,
julgamos nós que do ponto de vista ético e moral, porque não legal este tipo de aborto
deve ser despenalizado quando práticado com consentimento expresso da mãe ou
representante legal de não querer trazer para o mundo um ser que padecerá de uma
doença incurável com sofrimento físico, psicológico e psiquico futuramente fazndo
um paralelismo com as situações mencionadas anteriormente, ou ser tratado como
uma Interrupção Voluntária da Gravidez que abordaremos mais adiante.
Independentemente das argumentações filosóficas académicas para a prática dos
abortos eugénicos o profissional de saúde do ponto de vista ético-deontológico de
acordo com as normas de Direito Médico deve informar a gestante ou a terceiros
(representante legal) a situação clínica, os riscos futuros que daí podem advir ao levar
termo a gravidez, e só com o consentimento informado e por escrito da mãe ou
representante legal é que pode fazer a interrupção, se a gestante recuar deve também o
profissional de saúde efectuar o registo por escrito desse com a assinatura da mãe afim
de evitar futuramente ter que responder em juízo por responsabildade médica.

 Aborto por Sentença Judicial: este tipo de aborto surgiu após a 1ª Guerra Mundial na
Europa e noutras guerras seguintes mundial, regionais e nacionais que tiveram muitas
mulheres violadas por soldados, provocou movimentos de solidariedade em todo
mundo, em relação a problemática de gravidezes indesejáveis, tendo muitos paises
despenalizado ou permitido a sua prática. daí o nome dado por vários autores de
aborto sentimental, aborto moral ou aborto piedoso.
O conceito deste tipo de aborto foi alargado para as vítimas de crimes sexuais cujos
autores são criminosos em tempos de paz movidos por diversas razões, na nossa
153
legislação tipificado como crime contra a honestidade, não temos casos de registo de
setença judicial proferida pelos tribunais, eventualmente por enificiência do sistema
judicial ou por morosidade do mesmo.

 Interrupção Voluntária de Gravidez: A discussão sobre a prática de aborto suscita


acessos debates em qualquer sociedade, em particular na nossa onde ela ainda
constitue tabú, é um tema para um grupo restrito e preveligiado de pessoas entre as
quais se destacam académicos, juristas, médicos, politicos, religiosos, etc, dado o
caracter complexo e delicado da questão.
É hábito a prática de aborto após manifestação formal por escrito da gestante e para
menores dos representantes legais nas unidades sanitárias oficiais públicas e privadas
no nosso país, há mais de quinze anos, sem que haja uma regulamentação ou
legislação espicifica para a sua depenalização.
Não têm existido quer oficialmente por parte das autoridades competentes que velam
pela justiça e legalidade ou da sociedade civil em geral manifesta repugnância por este
acto, sendo considerado portanto, como um acto costumeiro, isto é, constitue um
conjunto de normas não escritas, com base no costume local.
As motivações para justicar a interrupção da gravidez são várias deste sociais,
económicas, menor idade, etc e os critérios para a aceitação são clínicos estabelicidos
pelas autoridades sanitárias.
É importante frisar que estes actos não devem ser considerados como desrespeito à
legislação em vigor, subversão a ordem constituida e desobediência cívil das
autoridades sanitárias, pois estas ao tomarem e assumirem a necessidade de
disponibilizarem os cuidados médicos as mulheres que podem pagar, foi pela
necessidade de diminuírem o número de abortos clandestinos e as consequências
desses actos para a saúde da mulher e os custos para o estado devido a gravidade das
complicações póst aborto.
Julgamos nós que a par desta manifestação implicita da descriminalização do aborto
em unidades sanitárias oficiais por parte de profissionais competentes, é um
imperativo nacional democratizar as disponibilidades médicas para todas as mulheres
independentemente da sua condição social, económica, regional, etc para se cumprir o
que vem plasmado na Constituição da República no artigo.....

Meios abortivos: os meios abortivos são classificados em meio tóxicos e meios mecânicos:
 Meios tóxicos: As substâncias tóxicas podem ser de origem vegetal, mineral e
quimicos propiamente ditos ou medicamentosos. As substâncias tóxicas podem
provocar no organismo materno as seguintes situações:
(1)- intoxicação da gestante com sua morte sem produzir o aborto.
(2)- intoxicação da gestante com sua morte e aborto. (3)-
intoxicação sem aborto e cura da gestante. (4)-
intoxicação com aborto e cura da gestante. As
substâncias tóxicas mais empregues dos casos registados no nosso Serviço são de
origem medicamento, segundo dados obtidos nos diagnósticos socio-antropológicos
são as cloroquinas, geralmente intoxicação da gestante seguida de morte sem aborto.

154
 Meios mecânicos: estes meios podem actuar directamente ou indirectamento no
organismo materno. (1)-
Os meios mecânicos indirectos: são os que actuam ao nivel da parede abdominal por
meio de traumatismo, de causa intencional ou não intencional provocando o aborto
por descolamento permatura da placenta, ruptura uterina, etc.
(2)- meios mecânicos directos: são os que actuam directamente no útero; no colo ou
na cavidade. Os mais empregues são objectos perfurantes tais como agulhas de
croché, paus, histerometros, etc ou microcesariana (rara no nosso meio).

Complicações do aborto: estas são das mais variadas, desde as mais ligeiras às graves e
letais, as complicações podem ser imediatas, consecutivas e tardias dependendo do meio
empregue.
Se o meio utilizado por tóxico, o quadro clínico será de intoxicação da gestante, desde
simples efeitos aos mortíferos.
Nos casos de utilização de meios mecânicos, teremos complicações imediatas graves tais
como embolia gasosa por entrada de ar nas veias uterinas, morte por inibição nervosa, etc;
complicações consecutivas devido a perfuração uterina com anemia, peritonite, etc; ou
complicações tardias tais como gangrena uterina, salpingites, fistulas utero-vesicais, etc.
Pericia médico-legal: o diagnóstico de aborto provocado muitas das vezes é dificil e
complexo, vai depender do meio empregue.
Sina is de aborto no vivo: os sinais são os mesmos que de uma gravidez recente:
 Extragenitais: cloasma gravídico; aumento de volume dos seios com pigmentação
areolar, tuberculos de Montegomery, saida de secreção lactea; hiperpigmentação da
linha alba; hipertricose; etc.
 Genitais: edema dos grandes e pequenos lábios; lóquios sero-sanguinolentos ou
serosos; útero aumentado de tamanho com lesões no colo; etc.
 Exames laboratorias: testes imunológicos da urina ou sangue; exames
histopatológicos da das secreções vaginais.
A pericia médico-legal será orientado no sentido de provar se a mulher apresenta sinais de
gravidez recente, modo ou forma como ela terminou e se o meio empregue foi efectivamente
capaz de produzir o aborto, e outros quesitos colocados pelas autoridades competentes.
Sinais de aborto no cadáver: os sinais extragenitais externos são os mesmos descritos nos
paragrafos anteriores, o estudo deve ser orientado para o exame dos orgãos genitais e os
sinais gerais de outros órgãos.
Estabelece o Regulamento em caso de aborto:
“ Na suspeita de parto, aborto, gravidez nos casos de autópsia há que indicar a forma, volume,
dimensões, peso, estado do útero e seu colo, região em que se inceria a placenta, presença ou
ausência do produto de concepção, quaisquer alterações mórbidas ou lesões traumáticas e
particularmente orificios, goteiras, rasgaduras, etc., indicando a sede, extensão, dimensões e
grau de separação destas. Verifique-se se há indicios de deslocamentos de placenta por meio
de violência, com persistência de fragmentos cotiledonares; de superficie rugosa, e por vezes
com alterações anátomo-patológicas a descrever. Examine-se e descreva-se o estado da
superficie de inserção placentar, e indique-se se há ou não alguma porção de placenta retida,
descrevendo esta, e discrimine-se se ela tem ou não aderência patológica com o útero. Do

155
mesmo modo deverá descrever-se o estado dos ovários, sobretudo quanto ao seu volume e à
presença ou ausença neles de um corpo volumoso amarelo de fecundação, a par de outros
menores e recentes”.
 Exame dos outros órgãos para verificar quais os sinais anatomo-patológicos.

A pericia médico-legal será orientado no sentido comprovar a relação de nexo-causaliadade
entre o meio empregue e a causa de morte, e outros quesitos colocados pelas autoridades.
4- Infanticídio:
É um crime que só pode ser praticado dolosamente, e estabelece o art. 356 do Código
Penal:
“Aquele que cometer o crime de Infanticídio, matando voluntáriamente um infante no acto
do seu nascimento ou dentro em oito dias, depois do seu nascimento, será punido com a
pena de prisão maior de vinte a vinte quatro anos.
& único – No caso de infanticídio cometido pela mãe para ocultar a sua desonra, ou pelos
avós maternos para ocultar a desonra da mãe, a pena será a de prisão maior de dois a oito
anos.”
Este artigo protege a vida humana, o objecto do crime é o infante, no acto de nascimento
que é a partir do momento em que o parto vaginal ou artificial começou até o termo dos
oito dias seguintes.
Objectivos da Perícia Médico-Legal:
 Fixação do momento fisiológico do crime: esta fase visa com base no critério socio-
antropológico saber da gestante quando começou o trabalho de parto afim de se
avaliar o tipo de parto (eutócico ou distócico), o tempo que decorreu até ao
nascimento do infante (verificar se houve ou não asfixia perinatal).
Geralmente este quesito se coloca nos partos extra-hospitalares, se o parto ocorreu
numa unidade sanitária na informação hospitalar deve constar o partograma que nos
elucidará o inicio e evolução de trabalho de parto; nos partos extra-hospitalares do
ponto de vista médico-legal o inicio de trabalho de parto dá-se com a ruptura das
bolsas amnióticas.
É importante frisar que a nossa experiência no Serviço de Medicina Legal de Maputo,
as autoridades judiciais ou policiais sem a devida formação cientifica para
compreenderem a importância desta fase inquérito habitualmente não fornecem aos
peritos elementos de valor e não sujeitam as presumíveis autoras ao exame médico-
legal.
 Determinar se o feto ao ser submetido a violência infanticída estava ou não vivo:
Segundo alguns penalistas não têm cabimento as normas nos 1 e 2 do art. 66º do
Código Civil sobre o começo da personalidade, citam que não importa a autonomia do
feto em relação a mãe, que a morte pode ocorrer dentro do organismo materno, não
importa que o infante seja ou não viável. A
visão médico-legal é que o infanticídio é diferente do homicídio, no infanticídio é
necessário demonstrar a presença de vida ou sinais de vida autonóma na vítima para
consubstanciar ou configurar crime, porque se a violência for feita num infante
nascido sem vida não há crime de infanticídio mesmo que o autor (a) desconhecesse
tal facto, porque a personalidade juridica adquire-se com o nascimento completo e
com vida segundo o art. 66 do Código Civil. Diz
156
o Regulamento em casos de Autópsia de recém-nascido: “Na
autópsia de cadáver de recém-nascido deverá começar-se por determinar se ele é ou
não de termo; para o que haverá que medir os diâmetros da cabeça, o comprimento
total do corpo, tomar-lhe o peso, atender ao grau de desenvolvimento dos cabelos e
unhas, aos caracteres do tegumento e do cordão umbilical, ao grau de separação dos
alvéolos da maxila inferior, à existência do ponto de ossificação na cartilagem
epifisária da extremidade inferior do femur; nos fetos do sexo masculino, também as
particularidades do escroto e situação dos testiculos; nos de sexo feminino , também
as condições dos órgãos sexuais externos. Seguidamente trate-se de averiguar se a
criança nasceu ou não com vida. Para isto, abra-se primeiro a cavidade abdominal, e
examine-se a posição do diafragma em relação às costelas. Aplique-se depois uma
ligadura à traqueia, da parte de cima do esterno, e abra-se a cavidade torácica
conforme fica dito anteriormente; examine-se o volume dos pulmões e sua extensão
relativamente ao pericardio, assim como a sua cor e consistência. Abra-se o
pericardio, para examinar o seu estado e conteudo possível e do coração, e abrir cada
uma das cavidades deste e determinar o seu conteúdo, conforme já fica preceituado.
Fenda-se depois a laringe e a traqueia, na parte de cima da ligadura desta, examina-se
se há algum conteúdo e qual o estado da sua parede. Corte-se então a traqueia acima
da mesma ligadura e retire-se para fora aquela, juntamente com o timo, pulmões e
coração. Isolados os pulmões, e depois de verificar se neles existem equimoses
subpleurais ou parenquimatosas, lancem-se numa bacia com água em que possam
flutuar, e veja-se se sim ou não flutuam. Fazendo cortes nos pulmões,verifique-se se
houve crepitação, e indique-se se deles sai sangue em quantidade e com que
caracteres. Repetindo os golpes debaixo da água, veja-se se deles surgem bolhas de ar
que ascendam à tona de água. Finalmente, experimente-se ainda com cada lóbulo, e
depois com pedaços de lóbulos, e indique-se se todos ou apenas alguns deles flutuam.
Resta abrir e examinar a porção inferior da traqueia e seu conteúdo, assim como o
estado da faringe. Por último ainda, se houver indício de hepatização pulmonar, ou de
oclusão das vias aéreas, ou por mucosidades, ou por mecónio, deverá indicar-se a
conveniência do seu exame microscópico na sede da circunscrição, e preparar a
remessa. Em tudo o mais não especificado neste capitulo, devem os peritos proceder
segundo a tecnica geral de toda a autópsia.”
Caracteristicas do feto termo: tem o comprimento de 50 cm; pesa entre 2500 a 3250
gr; diâmetros da cabeça: occipito-mentoniano 120-130 mm, bitemporal 90mm, fronto-
occipital 105 a 110 mm; os cabelos tem 2 cm de comprimento;nb acabar a
descrição. A comprovação dos sinais de vida autónoma é feita
por meio de pericias, designadas por docimásias, expressão proviniente do grego
dokimo – eu provo; provas baseadas na possível respiração ou nos seus efeitos no
organismo do infante. (1)- Docimásia diafragmática de Ploquet:
aberta a cavidade abdominal observa-se se as hemicúpulas diafragmáticas tem a
convenxidade para baixo ou se estão horizontais. A convenxidade deve-se a pressão
exercida pelas víceras abdominais quando o infante respirou. Entretanto pode haver
falsos positivos devido aos gaseses de putrefação. (2)- Docimásia visual de Bouchut:
é inspecção visual dos pulmões in situ na cavidade pleural , se respirou verifica-se se
os pulmões ocupam o espaço na cavidade, e por meio de uma lupa ou a olho nú se
apresentam o desenho de mosaico alveolar e se são de cor róseo ou então se não
respirou os pulões têm aspecto compacto, atelectasico liso, uniforme e de cor
vermelho vivo, pulmões hepatizados. (3)- Docimásia táctil de
157
Nerio Rojas: a palpação sente-se a crepitação dos pulmões se respirou, se não a
consistência é carnosa. Pode haver falsos positivos devido aos gases pútredos.
(4)- Docimásia hidrostática pulmonar de Galeno: é das provas mais antigas e usadas
para a comprovação dos sinais de vida autónomo e fundamenta-se na densidade do
pulmão. O pulmão fetal é compacto e a sua densidade varia entre 1.040 a 1.092.
Com com a respiração e expansão alveolar, o peso do pulmão é o mesmo, há
aumento do volume, sua densidade diminue para 0,70 a 0,80 e o pulmão flutuará; se
não respirou a densidade do pulmão será maior que da água que é de 1,0 o pulmão
não flutuará.
A prova compõe-se de quatro fases, com a colocação dos pulmões num recipiente
largo e profundo com água comum até 2/3 da sua capacidade.
1ª fase- põe-se no recipiente com água o bloco do sistema respiratório (laringe,
traqueia e pulmões) mais a língua, timo e coração.
Se flutuar por inteiro ou à meia água, é positiva, o infante terá respirado.
Alguns autores acham que é suficiente, o autor não concorda pois acha que deve-se
efectuar as quatro fases devido aos falsos positivos resultante da putrefação que é
frequente em climas tropicais como o nosso.
2ª fase- mantem-se o bloco respiratório no fundo, separa-se os pulmões pelo hilo das
demais vísceras e verifica-se se estes flutuam. Se os pulmões flutuarem é positivo, o
infante terá respirado. 3ª
fase- com os pulmões no fundo do recipiente cortam-se pedaços dos lobos, e vericam-
se se estes pedaços flutuam. Se os pedaços flutuarem é positivo, o infante terá
respirado. 4ª
fase- cortam-se os pedaços dos pulmões em fragmentos e comprimi-se entre os dedos
e de encontro à parede do recipiente, para verificar-se se há despreendimento de
bolhas gasosas de putrefação ou bolhas finas gasosas misturadas com sangue.
Se os fragmentos flutuarem é positiva, o infante terá respirado.
Se os pulmões tiverem flutuados durante as quatro fases diz-se que a docimásia foi
positiva e o recém nascido terá respirado ou tem sinais de vida autónoma.
Entretanto segundo a experiência do autor deve-se sempre verificar se o corpo
apresenta ou não sinais de putrefação, e fazer a prova completa em quatro fases para
excluir os falsos positivos e também os falsos negativos que são mais raros devido a
condensação pulmonar.
(5)- Docimásia histológica de Balthazard: esta deve ser feita sempre, porque é que dá
sinal de vitalidade mesmo nos casos em que o cadáver estiver putrefacto.
Consiste no estudo histológico do pulmão, verifica-se se os alvéolos tem a dialatção
uniforme idêntico ao de um adulto, é positivo; entretanto se o infante não respirou os
alvéolos estão colapsados.
(6)- Docimásia auricular de Vreden, Wendte Gelé: é uma prova que permite
demonstrar a presença de ar no ouvido médio, o ar penetra na cavidade timpânica
através das trompas de Eutásquio aquando da degluitição nos primeiros movimentos
respiratórios. É
uma prova importante quando o cadáver estiver putrefacto ou em pedaços, faz-se uma
incisão na linha de implantação do pavilhão auricular expondo o meato acústico
externo, corta-se longitudinalmente a parede inferior do meato tirando as duas
metades e expõe-se a membrana timpânica.
Coloca-se a cabeça dentro de um recipiente com água, com o bisturi ou uma agulha
punciona-se o tímpano, se sair bolha de ar que se rompe na superficie do liquido é
158
positivo, o infante terá respirado.
(7)- Docimásia gastrointestinal de Breslau: é uma prova que permite demonstrar a
presença de ar no tubo digestivo, coloca-se o aparelho gastrointestinal desde o esôfago
até ao recto, com ligaduras na porção terminal piloro e do intestino delgado. Se o tubo
flutuar, é positiva e o infante terá respirado.
Provas ocasionais:são provas de grande valia que permitem provar inequivocamente
sinais de vida autónoma:
(a)- presença de corpos estranhos nas vias respiratórias:é um testemunho
inquestionável de que o recém-nascido respirou devido a presença de corpos estranhos
na traqueia e bronquios de diversa ordem que podem ser a causa básica de morte, tais
como substâncias pulverulentas, lama, etc.
(b)- presença de substâncias alimentares no tubo digestivo: presença de leite ou outra
substância no estomago.
(c)- sinais de lesões vitais: nas ferimentos descritos nas diferentes regiões do corpo
que podem ser ou não a causa ou lesão letal.

Nos casos em que o infante tiver sinais de tempo de sobrevida superior a vinte quatro
horas é necessário determinar quantos dias de vida teve, afim de se saber se configura ou
não o crime de infanticídio, visto que este vai até ao oitavo dia.
A fórmula que se usa para a determinação da idade é a Fórmula de Balthazard
Derrieux: idade em dias= comprimento do infante em cm x 5,6.
 Determinar a natureza ou tipo de instrumento ou meio empregue: a autópsia é
feita com o exame do hábito externo e o exame do hábito interno tal como uma
necrópsia comum, com base na nossa experiência as causas básicas de morte mais
frequentes nos infanticídios tem sido as asfixias mecânicas das quais se destacam a
sufocação directa por obstaculação dos orificios respiratórios, esganadura entre outras
causas.

 Exame da eventual mãe e/ou autora: nestes casos faz-se:
(1)- o exame da gestante para verificar se esta apresenta os sinais de gravidez recente
precedente. (2)-
exame da gestante para determinar se ela é ou não a mãe biológica do infante, por
meio da hemogenética, desde os exames mais simples dos grupos sanguineos aos mais
complexos testes de DNA.
(3)- a legislação vigente adoptou como atenuante no crime de infanticídio o conceito
biopsiquico de estado puerperal no artigo 356º &único “no caso de infanticídio
cometido pela mãe para ocultar a desonra, ou pelos avós maternos para ocultar a
desonra da mãe, a pena será a prisão maior de dois a oito anos”.
Este articulado justifica o infanticídio como sendo delictum exceptum e ou por
honoris causa quando praticado pela parturiente sob a influência do estado puerperal,
que é um conjunto de manifestações psíquicas que podem surgir durante, após e
algum tempo depois do parto.
O estado puerperal produz um quadro sindrómico de Transtorno Mental Transitório
sendo a mais frequente a psicose pós parto.
Estas alterações ou manifestações psíquicas devem ser comprovadas de que realmente
sobreveieram em consequência do estado puerperal capaz de diminuir a capacidade
de entendimento ou de autoinibição da parturiente, por meio de uma Pericia na
159
Comissão de Psiquiatria Forense para que o Transtorno Mental Transitório seja
considerado como um elemento eximente de responsabilidade penal.

X- TOXICOLOGIA FORENSE
1- Conceito e definição:
Toxicologia expressão que provem do grego, toxikon quer dizer arco, flecha, isto é,
veneno.
É a ciência que estuda os tóxicos ou venenos e as intoxicações.
Orfilia em 1828, foi quem criou a toxicologia como ciência, ao demonstrar a presença de
substâncias tóxicas ou venenos nas vísceras.
A toxicologia compreende o estudo do agente tóxico ou veneno; sua origem; suas
propriedades; mecanismo de acção; seus efeitos lesivos no organismo; seus métodos de
exame analítico, quantitativo e qualitativo; profilaxia ambiental, industrial e no local de
trabalho; formas de prevenção das intoxicações e tratamento clínico.
É uma ciência multidisciplinar independente da Medicina, mas ligada do ponto de vista
académico e histórico a Medicina Legal.
Neste capitulo abordaremos aspectos gerais da toxicologia forense, visto que não constitue
objectivo desta obra falar da toxicologia como ciência multidisciplinar.
A toxicologia moderna diferencia-se da tradicional, porque ampliou o seu campo de acção
160
e área de interesse. Podemos distinguir ou dividir a toxicologia em função do seu campo
ou
área de intervenção ou actuação: Toxicologia Forense, Toxicologia Industrial, Toxicologia
Ambiental, Toxicologia Alimentar e Toxicologia Clínica.

 Toxicologia Ambiental ou Profilática: é especialidade que estuda as diferentes


formas ou maneiras de previnir ou evitar a acção nociva de agentes poluidores do
meio ambiente.
Faz o diagnóstico da existência do tóxico ou veneno, sua origem e quantidade
existente no meio ambiente; toma medidas profiláticas ou higiénicas, por exemplo o
tratamento da água potável, do ar respirável, etc.

 Toxicologia Industrial: é a especialidade que se dedica ao estudo das substâncias


quimicas utilizadas na industria. Tem como objectivo a identificação; seu exame
analitico, qualitativo e quantitativo, seu mecanismo de acção; prevenção e tratamento
dos tóxicos. É
uma especialidade importante na Medicina de Trabalho, concretamente na área de
Higiene Industrial, em particular na área de prevenção.
A profilaxia das intoxicações industriais actuam em três níveis: no local de trabalho;
na Lei de Trabalho para os casos de Acidentes de Trabalho e Doenças Profissionais;
no campo de investigação.

 Toxicologia Alimentar: é uma das áreas que provocou tragédias em vários países do
mundo, citando alguns como Iraque, China, Espanha e Marrocos.
Não constitue só o estudo da adicção fraudulenta de um determinado agente nos
alimentos em quantidade capaz de produzir uma intoxicação aguda, mas também
abrange o estudo das substâncias aditivas que os alimentos contém produzindo
intoxicações.
Esta área no nosso pais é da competência dos Centros de Higiene Ambiental e
Exames Médicos.

 Toxicologia Clínica: este área dedica-se ao estudo das manifestações e das


pertubações causadas no homem pela acção dos venenos ou tóxicos, diagnósticando e
tratando as intoxicações agudas, subagudas e crónicas.

 Toxicologia Médico-Legal ou Forense: até tempos atrás o médico-legista era o


único toxicologo existente.
É um conjunto de procedimentos ou metodologias de estudo que abarca todas as
especialidades acima referenciadas com objectivo de orientar a Justiça nas questões
referentes as intoxicações/envenenamento e suas consequências de ordem juridica.

A expressão veneno do latim venenum - substância tóxica capaz de alterar ou destruir as


funções vitais de um organismo.
Do ponto de vista médico-legal é dificil definir o que é veneno, porque podem constituir
veneno ou tóxico alimentos, medicamentos e outras substâncias naturais ou sintéticas em

161
determinadas situações quando são prejudiciais a saúde ou à vida, dependendo de vários
factores tais como a dose, resistência individual, via de entrada e veiculo utilizado.
Interessa a Medicina Legal o conceito juridico, que considera veneno toda substância que
introduzida no organismo, é capaz de mediante acção quimica ou bioquimica, lesar a saúde
ou destruir a vida, sendo o seu emprego um elemento típico que vem estatuito no art.353º &
único do Código Penal.
Intoxicação ou Envenenamento é um conjunto de elementos caracterizadores de dano à
saúde ou de morte violenta produzidas pela acção de determinadas substâncias de forma
acidental, criminosa ou voluntária.
É designado de Intoxicação quando o quadro sindrómico é de origem acidental, não
intencional.
É designado de Envenenamento quando o quadro sindrómico é de origem intencional,
criminosa.
O & único do artigo 353º do Código Penal diz:
“É qualificado crime de envenenamento todo o atentando contra a vida de alguma pessoa por
efeito de substâncias, que podem dar a morte mais ou menos prontamente, de qualquer modo
que estas substâncias sejam empregadas ou administradas, e quaisquer que sejam as
consequências”.
O crime de envenenamento é um crime sui generis, em que a consumação se verifica logo
que são praticados actos de execução, quer dizer que, é um crime formal, de perigo para a
vida em que o resultado é secundário.
2- Classificação dos venenos ou tóxicos:
Os tóxicos ou venenos podem ser classificados de diferentes formas:
 Quanto ao estado físico: líquido, sólido e gasoso.
 Quanto à origem: vegetal, mineral e sintético.
 Quanto às funções quimicas: funções inorgânicas: óxidos, ácidos, bases e sais;
funções orgânicas: hidrocarbonetos, álcoois, acetonas e aldeídos, ácidos orgânicos,
ésteres, aminas, aminoácidos, carbhidratos e alcalóides.
 Quanto ao uso: doméstico, agricola, industrial, medicinal, cosmético e venenos
propriamente ditos.

3-Fisiopatologia: As substâncias tóxicas ou venenos têm um percurso no organismo, com as
seguintes fases: penetração, absorção, distribuição, fixação, transformação e eliminação.
Fases ou vias de pentração:
 Via digestiva: oral ou per os, gástrica e rectal.
 Via inalatória: penetra pelos orificios respiratórios, boca e narinas.
 Via cutânea: por meio da pele.
 Via parenteral: por meio da via intravenosa, via intra-arterial, via intramuscular, via
subcutânea, via intra-peritoneal e via intra-tectal.
Fases ou vias de absorção:

162
É a via pela qual o tóxico ou veneno chega nos tecidos. As mucosas são as que absorvem os
tóxicos, a mais comum é a mucosa gastro-intestinal, via pulmonar ou respiratória e a via
cutânea.
A velocidade da absorção depende da solubilidade, da concentração, da superficie de contacto
e da via de penetração do tóxico ou veneno.
Fase de distribuição e fixação:é a etapa em que a substância tóxica ou veneno por via do
sistema circulatório extende-se por todo o organismo e fixa-se em certos órgãos e tecidos
dependendo do seu tropismos ou afinidade.
Fase de transformação: é o processo de biodegradação da substância tóxica ou veneno, em
que estes são transformados em elementos menos nocivos ao organismo facilitando deste
modo a sua eliminação.
Fase ou vias de eliminação: é a fase em que a substância tóxica ou veneno é expelido do
organismo:
 Via digestiva: pela saliva; por meio de vómitos; por via hepática por meio da bilis;
via anorectal por meio das fezes.
 Via urinária: por meio da urina.
 Via respiratória: por meio do ar expirado.
 Via cutânea: por meio do suor ou transpiração.
 Outras vias: pela secreção lactea, pela placenta, cabelos e unhas.

4- Diagnóstico:
Existem vários critérios para se efectuar o diagnóstico médico-legal de Intoxicação ou de
Envenenamento:
 Critério Clínico: o seu diagnóstico é baseado no estudo dos sintomas e sinais de
intoxicação que a vítima apresenta. Estes podem escassos quando a morte é rápida ou
fulminante e exuberante, dependento do tipo de veneno ou tóxico.

 Critério Anátomo-Patológico: seu diagnóstico baseia-se nos sinais anátomo-
patológicos macroscópicos encontrados durante a necrópsia com ou sem posterior
estudo histo-patológico dos diferentes órgãos e tecidos.

 Critério Antropológico ou Circunstancial: também designado por alguns autores


de Critério Socio-Ambiental ou Socio-Antropológico ou ainda de Critério
Histórico-Policial: este critério é importante pois investiga as circunstâncias
relacionadas com o facto.
Baseia-se no estudo ao local de facto onde se pode encontrar o supusto veneno., cartas
ou bilhetes deixados pela vítima; entrevistas com testemunhas e declarantes que
podem-nos fornecer dados importantes relacionados com a vítima sobre profissão,
hábitos de vida, circunstâncias em que ocorreu o facto, e outros quesitos de interesse
judicial ou policial.

 Critério Físico-Quimico ou Toxicológico: seu diagnóstico baseia-se na
demonstração ou isolamento da substância tóxica ou veneno, sua identificação e
163
dosagem por métodos qualitativos e quantitativos especificos ou de outros métodos do
material examinado.

 Critério Biológico ou Experimental: é um método em que consiste na administração
da substância tóxica ou veneno extraida no organismo ou das secreções da vítima ou
ainda do material sequestrado no local de facto a um animal de laboratório.
Geralmente é usado como último recurso, quando falha o método toxicológico.

 Critério Médico-Legal: é o diagnóstico final, que tem como fundamentação a sintese
de todos os outros critérios acima referenciados, e o médico-legista ou perito faz as
conclusões finais.

5- Autópsia em caso de Intoxicação/Envenenamento. Instruções Regulamentares:


A- Substâncias sobre que pode recair a investigação toxicológica:
1º - Matérias vomitadas e dejecções, roupas ou panos sujos com essas matérias, ou ainda
aparas da madeira do soalho, terra, pedra, etc., em que possam estar dessecadas as substâncias
vomitadas ou dejecções.
2º - As diferentes vísceras, sangue, urina, músculos, ossos, cabelos, etc..
3º - Medicamentos que serviram à vítima, alimentos, bebidas, pós medicamentosos e outros.
4º- Vasos culinários, papeis pintados, cortinados, etc..
Nos casos de exumação, são também muitas vezes utilizadas para a análise: as roupas que
envolvem o cadáver; pequenos detritos ou mesmo o pó resultante da putrefacção do caixão,
sobretudo as porções deste mais manchadas pelo sangue; terra aderente à superficie do
cadáver e terra tirada a diferentes alturas da sepultura, abaixo, acima e dos dois lados do
cadáver; agentes de conservação metidos dentro do caixão; água que possa estar dentro deste;
etc..

B- Questionário relativo às observações que convém apurar no acto da autópsia, para


informação do analista:
Os peritos que assistem a uma autópsia em que se reconhece a necessidade de proceder a
analises toxicológicas, deverão responder no auto da autópsia ao seguinte questionário:
1º Observa-se no conteúdo do estômago cheiro que possa ser devido a alguma substância
tóxica?
2º Encontram-se no estômago ou nos intestinos corpos estranhos suspeitos?
3º As mucosas da língua, beiços, esófago e estômago apresentam alguma coloração especial,
relacionável com a possivel acção de substâncias irritantes, caústicas, etc.?
Todas estas observações devem ser feitas, sempre que seja possível, antes que a putrefação
tenha modificado profundamente o aspecto e cheiro dos órgãos referidos.

No caso de uma exumação, os peritos responderão mais aos seguintes quesitos:


1º Qual é o modo de sepultura?
2º Havendo caixão enterrado, qual é o seu estado de conservação?
3º Penetrou terra dentro do caixão?
4º Encontrou-se terra misturada com as vísceras?
5º Dentro do caixão foi encontrado água?

164
C- Instruções relativas à maneira de recolher vísceras, sangue e urina destinados à análise:
1ª Sangue:- para recolher o sangue coloca-se o cadáver sobre um plano de inclinado e
segundo a linha de maior declive. Aberto o abdomen e afastadas as visceras aí existentes,
introduz-se um trocarte na veia cava inferior, assim se pode colher muito sangue.
2ª Esofago e Estômago:- depois de aberto o torax e o abdomen e observados os diferentes
órgãos, faz-se uma dupla ligadura no piloro; tiram-se em seguida o esofago e o estômago, que
se introduzem dentro do frasco destinado a recebe-los. Abre-se então o estômago; deixando
escorrer o seu conteudo dentro do frasco; examinam-se depois as paredes daquele órgão que
em seguida se introduz novamente dentro do frasco.
3ª Intestino:- faz-se uma ligadura sobre o recto, destacam-se o intestino delgado e o intestino
grosso, que se de dentro do abdomen; introduz-se a parte superior do intestino delgado dentro
do frasco respectivo e abrem-se em seguida os intestinos, por forma que o seu conteúdo
escorra para dentro do frasco que também há-de receber aquelas vísceras, depois de
examinadas as suas paredes. Caso haja perfuração do estômago ou dos intestinos, devem
recolher-se as matérias extravasadas na cavidade abdominal.
4ª Encéfalo:- a operação da extração do encefalo e a sua introdução em frasco bem rolhado,
devem ser realizadas rápidamente, pois, nos casos de envenenamento pelas substâncias
alcoólicas ou pelos anestésicos, convém perder o menos possivel das subt6ancias voláteis.
5ª Urina:- além da urina expelida pela vítima, convém recolher cuidadosamente a urina, por
muita pouca que seja, contida na bexiga.
Faz-se uma ligadura no colo da víscera, que em seguida se introduz no frasco respectivo,
juntamente com os rins.
D- Acondicionamento e remessa das vísceras destinadas a exame Toxicológico:
No acondicionamento e remessa das vísceras destinada a exame Toxicológico, observar-se-ão
as seguintes instruções:
As visceras devem ser colocadas dentro de frascos de vidro, de boca larga, novos e sempre
bem limpos. Os frascos serão previamente lavados com um pouco de ácido clorídrico, e
depois, repetidas vezes, com água destilada ou fervida.
Cada frasco, depois de receber as visceras a que é destinado, deve ser rolhado com uma boa
rolha esmerilada, sobre a qual se aplica pergaminho (que previamente se tem metido em água
para amolecer). Passa-se sobre o pergaminho, em volta do gargalo, um forte barbante
dobrado, faz-se passar o duplo fio sobre a rolha, seguindo um diâmetro, depois do que se ata
o fio sobre a parte dele que está em volta do gargalo.
A extremidade livre do duplo barbante prende-se com lacre uma ficha de cartão. Com um
pouco de lacre fixa-se o barbante sobre o pergaminho, no centroda rolha e também sobre o
gargalo, no ponto em que se fez o nó. Sobre as três massas de lacre imprime-se o sinete do
juiz. Sobre a superficie do frasco prega-se com goma um rótulo.
Cada frasco é passado duas vezes: a primeira quando está vazio e a segunda depois de conter
as visceras; da diferença dos dois pesos conclui-se o peso do conteúdo. No rótulo, bem como
na ficha, escrevem-se: um número de ordem de frasco; designação dos órgãos nele contidos;
o peso do conteúdo; o nome da vítima; a data da autópsia e as assinaturas (bem legíveis) do
juiz e dos peritos. A capacidade de cada frasco não deve ser demasiada, em relação ao
volume das substâncias que deve conter; geralmente são convenientes frascos de capacidade
165
não inferior a dois litros. Sempre que seja possivel, as visceras serão separadas em frascos
distintos pelo modo seguinte: a)- Esófago, estômago e conteúdo deste; b)- Intestino delgado,
intestino grosso e conteúdo dos dois; c)- Fígado, bilís, pâncreas, baço; d)- Pulmões; e)-
Coração; f)- Rins, bexiga e urina; g)- Encéfalo e medula; h)- Músculos, de preferência da
coxa, peitorais e diafragma (cerca de 250 a 500 gramas); i)-Sangue.
Num caso de uma exumação, serão ainda enviados para analise em frascos distintos: j)- Terra
aderente à superficie do cadáver, pedaços de madeira ou matérias pulverulentas, tiradas das
partes do caixão, que estão mais manchadas de sangue; k)- Terra recolhida acima do cadáver;
l)- Terra recolhida abaixo do cadáver; n)- Terra recolhida em um ponto afastado de alguns
metros da sepultura, mas que pareça ser da mesma natureza da terra em que jazia o cadáver;
o)- Alguns ossos ou partes de ossos.
No caso de exumações de cadáveres há muito enterrados, podem aproveitar-se para a analise
os ossos e cabelo; neste caso recolhem-se: seis vertebras, uma tíbia, um fémur, um húmero e
os cabelos. Quando o caixão tenha no seu interior água represada, deve ser enviado ao
laboratório um frasco com ela e um outro com água tirada à mesma profundidade e no mesmo
solo, mas a uma certa distância da sepultura. Quando se envie para análise terra onde caíram
substâncias suspeitas (vómitos, dejeções ,etc.), é necessário remeter um outro frasco com
terra da mesma natureza, recolhida em um local próximo. Quando para analise são remetidas
aparas, raspas do soalho, das paredes, etc., sobre que caíram vómitos, dejeções, etc., é
necessário mandar um outro frasco com aparas ou raspas, recolhidas em lugares do soalho,
das paredes, etc., onde não chegaram as substâncias suspeitas. Nos casos raros em que a
autópsia for feita dentro do caixão, é necessário evitar que porções de tinta ou verniz das
paredes daquele se misturem com as visceras. Será em todo caso enviado para análise uma
porção dessa tinta ou verniz. Quando, pelo estado de putrefação ou por qualquer outra
circunstância, não seja possivel distinguir bem os órgãos que se introduzem nos frascos, em
vez de indicar, nos rótulos e fichas, o nome dos órgãos, indicar-se-ão a região de onde
provém. Sobre as rolhas dos frascos nunca se colocará lacre, massa vidraceiro ou qualquer
outra substância, com o fim de obter uma melhor vedação. Esta deve ser tão completa quanto
possivel, a fim de evitar que os liquidos possam ser entornados durante os transportes, mas
esta boa vedação deve ser obtida pela simples adptação de uma boa rolha.
Rotulados e competentemente rubricados todos os frascos, devem este ser encaixotados,
ficando separados uns dos outros por serraduras, aparas de madeira ou de papel ou por
algodão e sempre acondicionados de modo que durante os transportes, não possa qualquer
frasco ser partido. A tampa do caixote deve ser aparafusada. O caixote será envolvido com
oleado ou lona, que se lacra nas costuras, imprimindo sempre no lacre o selo do juiz. Sobre o
caixote põ-se um rótulo indincando claramente quem é encarrgado de o transportar, a quem é
dirigido, e qual a autoridade que o envia. De tudo se fará no auto especial e minuciosa
descrição.
E- Conservação das vísceras – Desinfecção do cadáver:
Logo depois da autópsia, as vísceras devem ser imediatamente remetidas ao Serviço Médico
Legal Regional. Devem ser conservados quanto possivel em lugares frescos. Em caso algum,
com o fim de conservar as visceras, se deitará nos frascos qualquer substância estranha, tal
como alcool, pois tal adição pode prejudicar extraordinariamente os trabalhos analiticos.
Não se deve procurar desinfectar o cadáver para fazer a autópsia, quer empregando a aspersão
com soluções desinfectantes, quer empregando corpos sólidos. Os liquidos com os órgãos ou
fragmentos de órgãos apenas devem sofrer o contacto com os instrumentos de aço,
166
empregados para a abertura do cadáver ou para a secção das visceras, tais como estômago,
figado, coração, intestinos, etc., que têm de ser examinados internamente.
F- Acondicionamento das matérias vomitadas, alimentos, bebidas, dejecções, medicamentos,
etc:
Todas as substâncias destinadas à analise serão acondicionadas, sempre que seja possivel em
frascos de vidro selados, nas condições indicadas para acondicionamentos das visceras. O
processo de remessa das matérias vomitadas e dejecções deve sempre mencionar o modo
como foram recolhidos.
6- Intoxicações Alimentares:
As intoxicações alimentares é uma área de competência dos Centros de Higiene Ambiental
e Exames Médicos, têm interesse medico-legal porque podem levantar suspeitas de
envenenamento doutra origem, incluindo o criminoso, quando atingem apenas poucas pessoas
ou uma só; quando afectam muitos individuos simultâneamente, não é muito dificil fazer o
diagnóstico, é facilitado pelos comemorativos.
Segundo Thoinot “não deve endenter-se por intoxicação alimentar a que é provocada por
agente químico bem definido, contido no alimento, nem a que deriva de doença nítidamente
caracterizada, transmitida por ele, como por exemplo tuberculose, carbúnculo, etc..
Há autores que não fazem esta restrição, consideram intoxicação alimentar a que é
produzida por ingestão de alimentos contendo tóxicos próprios ou apenas veículados.
As pricipais causas das intoxicações alimentares são a contaminação dos alimentos por
organismos patogénicos (salmoneloses de carnes, bacilo paratífico, etc) e a acção de
substâncias nocivas neles contidas (ptomaínas de carnes putrefactas ou alteradas, de
conservas, etc).
A pericia médico-legal nas suspeitas de intoxicação alimentar deve seguir a mesma
metodologia que nos casos de intoxicação ou envenenamento, com enfoque particular
segundo Simonin:
(1)- investigação clínica junto dos doentes.
(2)- pesquisa serológica e bacteriológica.
(3)- investigação epidemiológica e epizoótica.
(4)- investigação junto do inculpado, com exame dos locais.
(5)- pesquisa de portadores de germes doentes ou sãos.

167
XI- NOÇÕES GERAIS SOBRE PSICOPATOLOGIA OU
PSIQUIATRIA FORENSE
1- Introdução:
Criminologia: é uma ciência multudisciplinar que se dedica ao estudo do crime, do
deliquente, da vítima e controlo dos comportamentos anti-sociais.
É uma ciência heterogenea porque relaciona-se com :
 Medicina Legal é a ponte entre a Medicina em geral e em particular a Psiquiatria e a
Psicologia Médica ou Clínica, e o Direito, auxiliando a Administração da Justiça nas
pericias psiquiatrico forense.
 Direito na tipificação dos crimes e penas correspondentes, propondo modalidades de
aplicação.

168
 Psicologia e Psiquiatria áreas que estudam a conduta normal e patológica, estudanto
deste modo as condutas delitivas ou criminais como modo ou forma de
comportamentos anti-sociais.
 Sociologia é a área que estuda os fenómenos sociais na generalidade
independentemente do que acontece a nível individual, quer dizer, pessoal e em
particular o subjectivo.
2- Fundamentos juridicos e médico-legais de Imputabilidade:
A pericia psiquiatrico forense têm como objectivo no âmbito de Direito Penal estabelecer a
relação de causalidade psiquica entre o homem e as suas acções, quer dizer, estabelecer a
imputabilidade como um requisito prévio de responsabiliade e de culpabilidade nos casos de
acções criminais.
O crime é um fenómeno social, eminentemente humano, presente independentemente do
modelo politico-social das sociedades. A história do crime começa com a própria história do
homem. O homem é um ser dotado do poder de arbítrio, capacidade para determinar sobre a
vontade da sua própria natureza, influenciado por factores biológicos e sociológicos que
moldam a personalidade individual, levando deste modo a agir e ter uma contuda anti-social.
A imputabilidade é um conceito juridico de base psicológica; daí depende a
responsabilidade e a culpabilidade individual. Existem condições ou factores que estão
presentes ou ausentes, total ou parcialmente, surgindo deste modo cisrcunstâncias
modificadoras de responsabilidade em termos de Direito positivo.
Imputar um acto é atribui-lo a alguém, pô-lo em sua conta, isto quer dizer que, juridicamente
é equivalente a obrigação de sofrer as consequências penais pela realização dos factos
criminais, segundo o ordenamento juridico em vigor.
A lei reputa, para efeitos de responsabilidade penal e da capacidade civil, que o individuo
possua saúde mental e maturidade psiquica.
Segundo o o art. 26º do Código Penal relativo ao (sujeito activo da infracção criminal.
Imputabilidade): “sómente podem ser criminosos os individuos que têm a necesssária
inteligência e liberdade”.
A imputabilidade é a condição de quem é capaz de realizar um acto com pleno discernimento,
quer dizer que, o individuo ou autor deve ter a capacidade de compreensão e vontade de agir.
Com base no que vem preceituado nos artigos 26º (sujeito activo da infração criminal.
Imputabilidade); 39º (Circunstâncias atenuantes) número 21; 43º(inimputabilidade relativa);
e 50º (privação voluntária e acidental da inteligência) há um conjunto de circunstâncias ou
condições clínicas designadas por transtorno mental transitório que eximem de
responsabilidade penal o arguido ou autor de um facto criminal.
Transtorno Mental Transitório (T.M.T.) é um estado de perturbação das faculdades mentais
de curta duração, que evolue com cura definitiva e sem perigo de reaparecimento.
Os critérios clínicos médico-legais de acordo com a jurisprudência para o diagnóstico do
T.M.T. são:
 Que seja desencadeado por uma causa imediata e facilmente evidenciável.
 Que a sua aparição seja brusca ou rápida.

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 Que a duração da sintomatologia seja muito breve ou curta.
 Que a cura seja rápida, sem sequelas e sem probabilidades de reaparecimento.
 Que as manifestações tenham surgido sobre uma base patológica comprovada.
 Que a causa seja externa ou exógena.
 Que o Transtorno Mental Transitório provoque um estado ou quadro de alienação
completa do livre arbitrio e inconsciência.
Temos como exemplos do T.M.T. várias situações, para citar: psicoces puerperais,
embriaguês alcoolica aguda patológica, etc.
A imputabilidade é uma atribuição pericial atráves de diagnóstico ou prognóstico de uma
conclusão médico-legal
A responsabilidade penal que é uma consequência de quem tinha pleno entendimento e
deverá pagar por isso, é um facto de consequência judicial, que é avaliado com outros
elementos ou actos processuais.
Ao nível do Hospital Central de Maputo, no Serviço de Medicina Legal funciona uma
Comissão de Psiquiatria Forense que é formada por um Médico Legista, um Psiquiatra e um
Psicológo Clínico.
3- Exame em casos de alienação mental:
Alienado, de aliienus, alheio, de alius, outro, é o individuo alheio ao seu meio social, outro
que os individuos que o cercam.
Alienação mental é o conjunto de estados patológicos em que perturbações mentaes
apresentam um caracter antisocial, segundo Dupré.
Artigos do Código de Processo Penal
Art. 125º - Quando se levantem justificadas dúvidas sobre a integridade mental do arguido,
por forma a poder suspeitar-se da sua responsabilidade, deverá logo o juiz ordenar o exame
médico-forense.
&1º - O exame, a que este se refere, deverá fazer-se em qualquer altura do processo e até
mesmo depois de proferida sentença condenatória.
&2º - Quando o juiz não ordene oficiosamente o exame, deverá este fazer-se logo que o
promova o Ministério Público ou o requeiram o arguido, os seus ascendentes, descendentes
ou cônjuge que não esteja judicialmente separado de pessoas e bens, os quais, para este fim,
serão admitidos a intervir no incidente, se o juiz não endenter que é um simples expediente
dilatório.
&3º - Este incidente será processado por apenso.
Art. 126º - O exame médico-forense do arguido será ordenado, ainda que possa presumir-se
que a sua falta de integridade mental é posterior à prática da infração.
Estabelece o Regulamento que:
“ Nos casos de alienação mental deverão os peritos satisfazer ao questionário e preceitos
seguintes:
I- Introdução.
170
1- Menção da autoridade que ordenou o exame.
2- Repetição do quesito ou qusitos judiciais.
3- Menção do material em que se funda o relatório.
a)- Processo.
b)- Inquéritos especiais.
c)- Observações e exames directos.
II- História do caso:
Idade do arguido, nome, naturalidade, residência. Raça, religião.
1- Hereditariedade.
Há doenças nervosas ou mentais e alcoolismo no pai, mãe, avós e outros parentes? Há na
familia particularidades estranhas de caracter? Crimes de assassinatoe outros de suicídio? Os
pais e avós eram parentes consaguineos ou de idade desproporcionada? A mãe durante a
gravidez esteve exposta a traumatismos ou afectos dolorosos? O parto foi laborioso ou exigiu
operação?
2- Infância.
a)- Houve estados nevropáticos, convulsões, coréa, estados epileptoides?
b)- Como se desenvolveram a inteligência e o caracter? Houve alterações na evolução
normal? Actos estranhos denotando perversidade ou inconsciência moral? Mudança de
caracter ou de inteligência por traumatismo craniano, doença ou outra causa? Como aprendeu
o arguido a andar e a falar?
c)- Como se fez o desenvolvimento físico? A dentição? O desenvolvimento sexual?
d)- Doenças infantis.
e)- Conduta na escola. Educação em colégio, asilo, convento. Progressos. Onanismo precoce.
Poder reflexivo.
f)- Hábitos viciosos ou supostos tais (urinar na cama, etc.).
3- Puberdade.
Paragem de desenvolvimento psíquico. Alterações psiquicas passageiras. Convulsões.
Pimeira menstruação. Regularidade das regras no principio.
4- Vida ulterior.
a)- O arguido conseguiu estabelecer-se na vida por suas próprias forças ou sempre careceu de
amparo e proteção?
b)- É casado? Há filhos? São sadios? Morreram alguns?
c)- Relações com o cônjuge? O casamento é feliz?
e)- História obstétrica.
d)- Eram satisfatórias as condições de vida? Outras questões relavantes.
e)- O trabalho era excessivo? O arguido sofria de doença?

171
f)- História clínica pregressa do arguido.Traumatismos, quedas, traumas psiquicos, medos?
g)- Intoxicações e/ou enevenenamentos.
h)- Hábitos alcoólicos e de outras drogas psicotrópicas.
i)- Acusações e condenações anteriores? De que género?
j)- Anteriores doenças mentais? Quanto tempo esteve alienado? Qual a forma de alienação?
k)- Quando houve convulsões? Tipo? Com que intervalos?
l)- Como o arguido governava a sua vida?
m)- Sabe-se de excessos, perversões ou privações sexuais?
5- O acto imputado ao arguido.
a)- Descrição do acto criminoso.
b)- Segundo o processo.
c)- Segundo os dizeres do arguido e na extensão em que ele recorda.
d)- Conduta do arguido antes e depois do crime, segundo os dizeres do mesmo arguido.
III- Resultado do exame directo.
1- Atitude, apresentação, expressão do rosto, gestos, nas diferentes observações ou visitas.
2- Outras manifestações espontâneas, idem.
3- Resumo da observação hospitalar, se houve.
4- Exame físico completo.
5- Fala: voz baixa, forte. Fala tranquila, lenta, rápida, corrente, etc.. Mutismo. Repetição de
paradigmas. Concomitância de sobressaltos de contracção de músculos da face, dos lábios,
etc.
6- Interrogatório do arguido nas diferentes visitas. Menção palavra a palavra das frases que
mostram desarranjo psíquico. O interrogatório deve fazer menção do estado de consciência,
orientação no tempo e no espaço do arguido; humor, excitação ou depressão; compreensão;
conduta da inteligência; o queo arguido pensa da sua vida precedente, etc..
IV- Opinião.
1- Reunião de todos os factos e dados que indicam a doença.
2- Desenvolvimento, se estes factos bastam para afirmar um estado de alienação no momento
do exame e do crime; sendo possivel, depois da enumeração dos sintomas, caracterização
cientifica da forma mórbida.
3- Conclusão e resposta ao quesito ou quesitos.

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