Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Temas de Medicina Legal e Seguro
Temas de Medicina Legal e Seguro
MEDICINA LEGAL
E
SEGUROS
1
Dedicatória:
2
Nota do Autor
Ao escrever está obra, após quinze anos de actividade na área Médico Forense, como
profissional no Serviço de Medicina Legal do Hospital Central de Maputo, docente de
Medicina Legal na Faculdade de Medicina e de Direito da Universidade Eduardo Mondlane,
nos cursos de Direito e de Medicina Dentária no ISCTEM, no curso de Ciências Júridicas no
ISPU, reflecti muito; pois há no mercado bastantes obras e tratados, verdadeiras
enciclopédias de Medicina Legal, assim estava com um dilema de repetir o que os outros já
disseram, ou de transmitir a modesta experiência que o Serviço de Medicina Legal possui
apesar de ainda se mostrar precário à investigação pericial.
Eis que movido pelo peso de consciência de que não existe à disposição dos estudantes de
Medicina e de Direito; dos Médicos de Clínica Geral e Médicos Especialistas; dos Juristas;
Magistrados Judiciais e do Ministério Público; dos Agentes e Inspectores da Polícia de
Investigação Criminal; resolvi dar lume a presente obra genuinamente moçambicana.
No tocante aos aspectos relacionados com a Ciência Forense e a Técnica Pericial Forense,
quase não há nada de novo; é simplesmente uma selecção criteriosa dos diversos autores e
escolas Médico Legais que tive contacto durante a minha formação como Especialista e
como profissional no Serviço de Medicina de Maputo.
Quanto à Doutrina, cingi-me ao que penso e sinto, ao que deve ser a nova visão Médico Legal
de que ela como Ciência deve ter um espírito próprio, uma filosofia genuínamente
moçambicana e conduta independente.
Esta obra representa um conjunto de Temas de Medicina Legal e Seguros que são leccionados
nos Cursos de Medicina, de Direito, de Ciências Jurídicas e de Medicina Dentária, representa
uma forma de estar em Medicina Legal como Ciência Forense eminentemente moçambicano,
pois trata de aspectos só existentes na Legislação moçambicana.
3
ÍNDICE CLASSIFICADO:
I- Intróito.
II- Proposta de Organização de Medicina Legal em Moçambique.
III – Disposições Legais que o Perito deve conhecer.
IV- Introdução ao estudo da Medicina Legal e Seguros.
V- Tanatologia.
VI- Traumatologia Forense.
VII- Morte Violenta Acidental. Quedas e Precipitações.
XI - Toxicologia Forense.
XI- Psiquiatria Forense.
XII- Referências Bibliográficas.
4
I - INTRÓITO:
“A mission du médecin légist est souvent Difficile, parfois Ingrate, mais elle est Noble et
elle est Grande puisqu’elle s’entend sur deux domaines qui occupent une place
considérable dans la vie des hommes: la Médecine et la Justice.”
C. Simonin
“ O perito deve ser surdo e insensível aos pedidos dos seus amigos, às solicitações dos
poderosos e de todos aqueles a quem deva os benefícios mais insignes.”
Devaux
“A primeira virtude dum médico legista é conhecer as lacunas da sua cultura especial e
ousar confessá-las.”
Brouardel
“Dizer não sei quando não se pode saber é acto louvável de consciência.”
Afrânio Peixoto
5
II- PROPOSTA DE ORGANIZAÇÃO DE MEDICINA LEGAL EM
MOÇAMBIQUE
I- PREÂMULO:
Perspectivar o desenvolvimento da actividade Médico Forense no país, pressupõe encarar
com pragmatismo de que o país não vive numa ilha isolada do mundo virtual, intelectual e
físico, de que o índice de criminalidade tende a crescer e organizar-se cada vez mais; e de que
a intervenção da Medicina Legal na resolução dos quesitos solicitados pela Justiça constitui
um dos elementos fundamentais no estudo para determinação das taxas de prevalência da
morbi-mortalidade resultantes de acções criminosas, para combate e prevenção de crime.
A Medicina Legal nasceu da necessidade de solucionar os problemas colocados pelo Direito,
teve de se ir adaptando em cada época aos quesitos cientificos dos respectivos momentos
históricos, bem como às necessidades socio-antropológicas e ao ordenamento jurídico
vigente.
A Medicina Legal é definida como sendo a aplicação dos conhecimentos médicos e de outras
ciências auxiliares na Investigação, Interpretação e Desenvolvimento da Justiça Social.
O diversificado leque de actividades que envolve esta especialidade desde a Tanotologia
Forense, Clínica Médico-Legal, Psiquiatria Forense, Toxicologia Forense, etc., permite
evidenciar que a Medicina Legal não é uma especialidade exclusivamente dedicada ao estudo
do cadáver, mas sim uma disciplina bem viva e dinâmica, que existe em função dos vivos,
para os vivos e onde estes representam actulmente a maior parcela do âmbito e objecto, e não
tem como fim a cura dos doentes/vítimas.
Deste modo, dada a natureza dos assuntos de que se ocupa, contribui de forma fundamental
para um mais correto funcionamento da Administração da Justiça, sendo hoje uma Ciência
Auxiliar insubstituível para o Direito/Justiça.
III- ORGANIZAÇÃO:
A actividade Médico Legal traduz-se na realização de perícias, formação e de investigação
científica. Até ao momento actual a estrutura e modelo organizativo dos Serviços Médico-
Legais no país estão assentes na independência técnico-pericial nos Serviços Autónomos dos
Hospitais Centrais de Maputo, Beira e de Nampula.
Pretentendo-se salvaguardar a independência técnico-científica própria de cada perito na
apreciação de processo, de instruír metodologias periciais uniformes em todo o País
sugerimos a criação:
Instituto de Medicina Legal.
Serviço de Medicina Legal nos Hospitais Centrais.
Gabinetes Médico-Legais ou Médicos Judiciários nos Hospitais Provinciais, Gerais e
Rurais.
1-Instituto de Medicina-Legal
De modo a possibilitar uma maior operacionalidade e flexibilidade dos serviços médico-
legais e o seu desenvolvimento extensivo, por forma que se possa alcançar em todo o
território nacional, o indispensável rigor técnico científico que a actividade pericial deve
revestir e adoptar um conjunto de medidas necessárias para o reforço na qualidade de
formação, cria-se o Instituto de Medicina Legal.
O Instituto de Medicina Legal é uma instituição pública, dotado de personalidade jurídica, de
autonomia administrativa e financeira, sujeito à superitendência e tutela do Ministério da
Justiça, e, é considerado Instituto Nacional de referência.
7
dos médicos e outros técnicos de saúde contratados para o exercício de funções
periciais.
Promover o ensino, formação e a investigação no âmbito da medicina legal e de outras
ciências forenses.
Prestar serviços a Entidades Públicas e Privadas, bem como aos particulares, em
domínios que envolvam a aplicação de conhecimentos médico-legais e de outras
ciências forenses.
Assegurar a articulação com Entidades similares estrangeiras e Organizações
Internacionais.
B- Competências do Instituto de Medicina Legal:
O Instituto é constituído pelos seguintes Serviços:
Serviço de Tanatologia Forense, Serviço de Clínica Médico Legal, Serviço de Psiquiatria
Forense, Serviço de Biologia e Toxicologia Forense, Serviço de Administração Geral e
Serviço de Investigação e Formação Profissional.
Serviço de Tanatologia:
Compete ao Serviço de Tanatologia Forense a realização das autópsias médico-legais,
e de outros actos neste domínio designadamente a identificação de cadáveres , de
restos humanos, estudo de peças anatómicas, etc..
Serviço de Clínica Médico Legal:
Compete a este Serviço de Clínica Médico Legal a realização de exames e perícias em
pessoas para descrição e avaliação dos danos provocados no corpo e/ou na saúde. No
âmbito do direito penal, civil, do trabalho, penitenciário, etc.
Serviço de Psiquiatria Forense:
Compete a este Serviço de Psiqiatria Forense ou a Comissão de Psiquitria Forense
realização de exames psiquiátricos em qualquer área do direito.
Serviço de Biologia e Toxicologia Forense:
Compete a este Serviço realização de perícias e exames laboratoriais de hematologia
forense e dos demais vestígios orgânicos, realização de perícias e exames laboratoriais
químicos e toxicológicos.
Serviço de Investigação e Formação Profissional:
Compete:
- Promover e coordenar planos de investigação no domínio da medicina legal.
- Elaborar, executar e coordenar planos de formação científica nos diversos domínios
da medicina legal e de outras ciências forenses.
- Coordenar e organizar cursos e estágios, ensino pré-graduado e pós- graduado na
área da medicina legal e outras ciências forenses, colaborar com outros organismos
em acções de investigação e formação profissional.
- Coordenar a realização do internato complementar de Medicina Legal, emitir
recomendações relativas ao ensino da medicina legal e de outras ciências forenses,
harmonizar o conteúdo programático dos cursos desenvolvidos no Instituto de
Medicina Legal e nos Serviços de Medicina Legal.
Serviço de Administração geral:
É um Serviço de apoio técnico-administrativo, que têm as seguintes competências:
8
- Assegurar a execução de todo o expediente do Instituto de Medicina Legal.
- Realizar as demais tarefas que lhe sejam atribuídas.
2- Serviços de Medicina Legal
São criados os Serviços de Medicina Legal nos Hospitais Centrais da Beira e de Nampula,
com as mesmas competências que o Instituto de Medicina Legal, para a região centro e norte
do País, cabendo ao Instituto de Medicina Legal a área jurisdicional da região sul.
Os Serviços de Medicina Legal deve contratar especialistas em Medicina Legal para assegurar
o seu funcionamento.
3- Gabinetes Médico Legais
São criados os Gabinetes de Medicina Legal que funcionariam nos Hospitais Provinciais,
Hospitais Gerais e Hospitais Rurais na dependência directa do Instituto de Medicina Legal
para a região sul e dos Serviços de Medicina Legal nas regiões centro e norte
respectivamente.
Aos Gabinetes Médicos Legais compete a realização das autópsias médico-legais,
identificação de cadáveres, exemes em pessoas para a descrição e avaliação dos danos
provocados na integridade psico-físico no âmbito do direito penal, civil e do trabalho nas
comarcas integradas na sua área de actuação.
Os Gabinetes Médico Legais devem contratar médicos e outros técnicos de saúde com
formação prévia que estejam a exercer a sua actividade nestes hospitais para efectuarem as
pericias.
IV- COLABORAÇÃO COM OUTRAS ENTIDADES:
O Instituto de Medicina Legal integra-se no Ministério da Justiça, pode solicitar aos diversos
Serviços e Organismos Públicos, a Entidades Privadas as informações e elementos
necessários ao desempenho das suas funções, no âmbito dos processos judiciais em curso.
1- Ministério da Saúde: O
Instituto de Medicina Legal deve celebrar com o Ministério da Saúde protocolos de
cooperação tendo em vista:
Cedência e utilização de instalações dos hospitais e dos seus equipamentos para a
prestação de serviços aos cidadaõs que por terem sido vítimas de acidentes ou crimes
são simultâneamente utentes dos serviços de saúde e dos serviços de justiça,
nomeadamente as de âmbito tanatológico, de clínica médico-legal, laboratoriais e
desenvolvimento de projectos de investigação.
Formação técnico científica dos médicos e técnicos de saúde que exercem ou venham
a exercer actividade médico legal, bem como a realização conjunta de projectos de
investigação científica.
A colaboração de pessoal destas instituições do Ministério da Saúde no âmbito dos
exames e perícias Médico-Legais.
2- Ministério do Interior:
O Instituto deve celebrar com o Ministério do Interior acordos/memorandos de cooperação
tendo em vista:
Celebração de protocolos de cooperação e de conduta ética.
9
Celebrção de protocolos de cooperação sobre qual das corporações policiais que deve
solicitar um exame e perícia médico-legal.
Celebração de protocolo de cooperação com Policia de Investigação Criminal relativo
a participação do médico legista no levantamento cadavérico, quer dizer o exame no
local do facto e na reconstrução do crime.
3- Tribunais/Procuradoria:
O Instituto deve celebrar acordos e/ou protocolos com estas Instituições tendo em vista:
Reativar a presença dos peritos junto dos tribunais.
Coordenação para a efetivação de exames e perícias médico legais solicitados por esta
Instituições como por exemplo exames psiquiátrico forense, etc.
4- Estabelecimentos de Ensino e Instituições de Investigação:
O Instituto prossegue as suas atribuições e exerce as suas competências em colaboração com
as Universidades, Institutos Superiores e outras Instituições de Investigação, mediante a
celebração de protocolos nas áreas de ensino, da formação e investigação científica.
10
III- Disposições legais de ordem geral que aos peritos interessa
conhecer:
11
4º - Quando contra ele tiver sido admitida acção por perdas e danos ou acusação em acção
penal por factos cometidos no exercicio das suas funções ou por causa delas e seja
participante, parte acusadora, co-réu ou autor na acção o arguido, o ofendido, a parte
acusadora no processo penal, o cônjuge de qualquer deles ou algum ascendente, descendente,
irmão ou afim nos mesmos graus;
5º - Quando houver deposto ou tiver de depor como testemunha.
§ 1º - Nenhum juiz pode intervir na decisão de recurso interposto de acórdão, sentença ou
despacho proferido por ele ou por algum seu parente de linha recta, no segundo grau da
linha colateral, ou afim nos mesmos graus.
§ 2º - Os impedimentos devem ser declarados oficiosamente pelo juiz e, quando o não sejam,
deve o Ministério Público promover a sua declaração, podendo também requerê-la não só
a parte acusadora, mas também o arguido, logo que seja admitido a intervir no processo.
Art.106º - Aos escrivães é aplicavel o disposto nos n.º 1º , 2º e 4º do art.104º , quando tenha
havido condenação ou pronúncia nas acções a que este último número se refere, e aos
peritos e intérpretes o disposto nesses números e ainda no n.º 3º do mesmo artigo. Não
poderão também ser nomeados peritos nem intérpretes o Chefe do Estado, os Ministros e
os menbros do Congresso, com ofensa das suas imunidades, e não poderá ser nomeado
intérprete o escrivão do processo.
§ 1º - A procedência dos motivos de impedimento, ou seja declarada pelo impedido ou seja
requerida a sua declaração pelo Ministério Público, parte acusadora ou arguido, será
sempre apreciada pelo juiz, que deverá também, oficiosamente, julgar procedente o
impedimento, se dele tiver noticia.
§ 2º - Declarado o impedimento por despacho, servirá como escrivão do processo aquele que
deva substituir o impedido e, como perito ou intérprete, outro nomeado pelo juiz.
Art.178º - Ninguém pode eximir-se a sofrer qualquer exame ou a falcutar quaisquer cousas
que devam ser examinadas, quando isso for necessário para a instrução de qualquer
processo, podendo o juiz tornar efectivas as suas ordens, até com o auxilio da força, sem
prejuizo do disposto nos arts. 209º e 210º .
§ único. – Os exames que possam ofender o pudor das pessoas examinadas só deverão
realizar-se quando forem indispensáveis para a instrução. Ao exame assistirão sómente o
juiz e os peritos, podendo o examinado fazer-se acompanhar de uma ou duas pessoas de
sua comfiança, devendo ser prevenido de que tem esta faculdade.
Art.179º - Os exames serão feitos por dois peritos nomeados pelo juiz, devendo perante
prestar compromisso de honra.
§ 1º - Nos casos de extrema urgência ou quando pela grande simplicidade das investigações
ou pequena gravidade da infracção o juiz julgue bastante a intervenção de um só perito,
com ele se fará o exame.
§ 2º - O exame será feito na presença do juiz e com a assistência do Ministério Público,
podendo assistir os ofendidos, a parte acusadora e também os arguidos, depois de
admitidos a intervir no processo, salvo o caso previsto no § único do art. 178º .
§ 3º - O agente do Ministério Público, bem como o ofendido, a parte acusadora e o arguido
poderão requerer no acto do exame, e sem prejuizo do bom andamento da diligência, o que
convier para a descoberta da verdade, devendo o juiz indeferir tudo quanto for inútil para a
causa. Se forem precisos quaisquer esclarecimentos, nos exames a que se refere o § único
do art.178º serão pedidos e dados depois das respostas aos quesitos.
Art.180º - Quando os exames dependerem do conhecimento particular de qualquer ciência ou
arte, serão nomeadas as pessoas com as habilitações necessárias para os efectuar.
12
§ 1º - Se no lugar em que tenha de se fazer o exame ou nos 5 quilómetros em redor não
houver snão um perito, assim se declarará no auto e o exame será válido apenas com a sua
intervenção.
§ 2º - Se no lugar onde deva fazer-se o exame e nos 15 quilómetros em redor não houver
perito algum e o houver na sede da comarca, o juiz poderá ordenar que o objecto que deva
ser submetido ao exame seja transportado para ali, se o transporte puder efectuar-se sem
prejuizo da averiguação da verdade ou da saúde pública, podendo para este efeito
requisitar as diligências necessárias á autoridade administrativa ou policial, que a elas
procederá imediatamente e com as cautelas devidas.
§ 3º - No caso do parágrafo anterior, se o transporte não puder ter lugar e o juiz entender que
é indispensável a intervenção de peritos especializados, poderá nomeá-los, se os houver na
própria comarca, ou, se os não houver, requisitá-los a uma das comarcas mais próximas.
Art.181º - Os exames médico-forenses, nas comarcas de Lisboa, Porto e Coimbra, serão feitos
pelos institutos de medicina legal, onde se farão também os exames de reconhecimento de
letra ou de documentos que se digam falsificados e quaisquer outros que esses institutos
estejam especialmente habilitados a realizar.
§ 1º - Os serviços periciais de medicina forense que exijam conhecimentos particulares de
alguma especialidade médica serão, nestas comarcas, feitos no respectivo instituto ou
clinica universitária dessa especialidade pelos professores e assistentes respectivos e, na
falta desses institutos ou clínica, nos hospitais consagrados a essa especialidade, pelo
pessoal médico a eles pertencente.
Art.182º - O juiz poderá ordenar que os exames se façam em laboratórios ou
estabelecimentos cientificos apropriados, quando a natureza das investigações assim o
exija, devendo tomar as precauções indispensáveis para assegurar o bom êxito da
diligência.
Art.183º - Não poderão ser nomeados peritos os impedidos nos termos do código.
§ 1º - Os peritos nomeados podem alegar como escusa a falta de conhecimentos especiais ou
de material próprio para exame que os exija e podem com o mesmo fundamento ser
recusados pelo Ministério Público, parte acusadora e arguido, se tiver intervenção no
processo. A escusa com este fundamento só poderá ser alegada no prazo de quarenta e oito
horas, a contar do dia em que o perito for notificado da nomeação, e a recusa só poderá ser
deduzida no mesmo prazo, a contar do momento em que aquele que a opuser tenha
conhecimento da nomeação.
§ 2º - Alegada a escusa ou posta a recusa, o juiz decidi-la-á imediatamente, sem recurso,
ouvido o perito, se assim o entender, tudo sem prejuizo da realização da diligência, se for
urgente.
Art.184º Se o juiz julgar procedente a escusa ou recusa, ou se o perito falecer, estiver
impossibilitado de comparecer ou for negligente, nomeará outro em substituição ou
procederá nos termos do art.182º , se for caso disso.
Art.185º - Todo o perito que for convenientemente notificado para qualquer exame deverá
comparecer no dia, hora e local designados, sob pena de incorrer na sanção do art.91º .
Art.186º - O juiz deverá formular quesitos, sempre que os peritos lho requeiram ou a natureza
do exame o exija.
§ único.- O Ministério Público, a parte acusadora e o arguido, depois de admitido a intervir
no processo, poderão formular quesitos, mas o juiz não os admitirá, quando os julgue
desnecessário para a descoberta da verdade.
13
Art.187º - Se os peritos carecerem de quaisquer diligências ou esclarecimentos para
responderem convenientemente, poderão requerê-los ao juiz, que ordenará que essas
diligências se pratiquem ou esses esclarecimentos lhes sejam fornecidos, se o julgar
necessário.
§ único.- Poderão também ser mostrados aos peritos quaisquer actos do processo ou
documentos juntos, se o juiz o julgar conveniente.
Art.189º - Os peritos no exame descreverão com a minúcia necessária o estado do que
examinaram, expondo em seguida as suas conclusões devidamente fundamentadas,
podendo o juiz , o Ministério Público, a parte acusadora ou o arguido que tenha sido
admitido a intervir no processo, pedir quaisquer esclarecimentos.
Art.190º - Feito o exame, se os peritos declararem que podem dar logo as suas respostas,
escrever-se-ão no respectivo auto, que será rubricado pelos peritos e por eles assinado logo
em seguida às suas respostas ou declarações ou aos esclarecimentos que lhes sejam
pedidos.
§ 1º - Se os peritos declararem que não podem respoder desde logo, ser-lhes-á marcado um
prazo dentro do qual apresentarão na secretaria do tribunal o seu relatório escrito, por eles
rubricado e assinado, e que será também rubricado pelo escrivão e junto aos autos,
lavrando-se termo de apresentação e juntada.
§ 2º - Havendo discordância entre os peritos, cada um deles apresentará o seu relatório
fundamentado.
Art.191º - A autópsia será sempre precedida do reconhecimento do cadáver e, se este não for
logo reconhecido, não se procederá ao exame senão passadas 24 horas, durante as quais,
sendo possivel, o cadáver estará exposto em estabelecimento apropriado ou em lugar
público, a fim de ser reconhecido, salvo se houver perigo para a saúde ou ordem pública
ou se houver urgência imediata no exame.
§ único.- Se o cadáver não for reconhecido, descrever-se-ão no auto as particularidades que o
possam identificar e só depois se procederá à autópsia.
Art.192º - Nos crimes de ofensas corporais, se os peritos declararem no exame que o ofendido
se encontra ainda doente ou impossibilitado de trabalhar por certo espaço de tempo,
proceder-se-á,findo este prazo, a novo exame.
§ único.- O segundo exame deverá ser realizado imediatamente depois de terminado o tempo
previsto pelos peritos para a doença ou impossibilidade de trabalho e, se o ofendido então
não estiver curado, será de novo examinado, quando terminar o prazo que lhe for assinado
nesse exame. O mesmo se observará, se houver necessidade de novos exames, até que o
examinado esteja curado ou apto para o trabalho.
Art.196º - Os peritos poderão ser convocados pelo juiz em qualquer altura da instrução, para
prestarem esclarecimento no processo.
Art.197º - O Ministério Público, a parte acusadora ou o arguido, quando intervenha no
processo, poderão requerer, e o juiz oficiosamente ordenar, novos exames sobre o mesmo
ou diversos objectos, mas, se o objecto for o mesmo, os novos exames serão feitos por três
peritos nomeados pelo juiz, nenhum dos quais tenha intervindo nos anteriores.
§ único. – Se o juiz entender que estas diligências, quando requeridas, não têm interesse para
a descoberta da verdade, indeferirá o pedido.
Art.200º - Serão revistos pelo Conselho Médico-Legal todos os relatórios de exames
microscópicos, químicos, bacteriológicos e mentas, e ainda todos os outros exames
médicos-forenses relativos a processos por infracções a que corresponda pena maior,
efectuados nas comarcas da respectiva circunscrição.
14
§ 1º - Para este fim será remetida pelo juiz ao respectivo Conselho Médico-Legal cópia dos
relatórios, no prazo de cinco dias, a contar da sua junção aos autos.
§ 2º - Se os exames sujeitos a revisão forem feitos pelos institutos de medicina legal, serão
directamente remetidos pelo seu director ao Conselho Médico-Legal.
§ 3º - O parecer do Conselho Médico-Legal será remetido ao respectivo juiz no prazo de vinte
dias, a contar da data em que for recebido o relatório a rever.
§ 4º - Se o Conselho Médico-Legal tiver justificáveis razões para não se pronunciar em
determinada revisão, recurso ou consulta, assim o declarará, comunicando a sua
deliberação ao Ministério da Justiça e dos Cultos, que, se julgar procedentes as razões
aduzidas, designará alternadamente, entre os dois outros conselhos, aquele a que será
devolvida a competência.
§ 5º - Se a devolução da competência a que se refere o artigo for autorizada, o processo de
revisão, recurso ou consulta será remetido directamente pelo primeiro conselho médico-
legal ao segundo, e por este, depois de dado o parecer, ao juiz do processo.
Art.201º - Haverá recurso para o Conselho Médico-Legal dos relatórios dos exames médico-
forenses, quando não estejam sujeitos a revisão obrigatória, nos termos do artigo anterior.
§ 1º- Não haverá lugar ao recurso a que este artigo se refere, quando o processo for de polícia
correccional, sumário ou de transgressões.
§ 9º- Independentemente do recurso, pode o juiz ou o Ministério Público fazer directamente
ao Conselho Médico-Legal da respectiva circunscrição as consultas que julgarem
necessárias.
Art.209º - Nas apeensões a realizar em repartições ou estabelecimentos públicos de qualquer
natureza, etc.
Art.431º .
§ 2º - O juiz poderá ordenar que os peritos compareçam na audiência para prestarem
declarações.
15
Art.11º - Há tentativa quando se verificam cumulativamente os seguintes requisitos:
1º - Intenção do agente;
2º - Execução começada e incompleta dos actos que deviam produzir o crime consumado;
3º - Ter sido suspensa a execução por circunstâncias independentes da vontade do agente,
excepto nos casos previstos no art. 13º ;
4º - Ser punido o crime consumado com pena maior, salvo os casos especiais em que, sendo
aplicável pena correccional ao crime consumado, a lei expressamente declarar punível a
tentativa desse crime.
Art.13º - Nos casos especiais, em que a lei qualifica como crime consumado a tentativa de um
crime, a suspensão da execução deste crime pela vontade do criminoso não é causa
justificativa.
Art.18º - Não é admissivel a analogia ou indução por paridade ou maioria de razão, para
qualificar qualquer facto como crime, sendo sempre necessário que se verifiquem os
elementos essencialmente constitutivos do facto criminoso, que a lei expressamente
declarar.
Art.19º - Os agentes dos crimes são autores, cúmplices, ou encobridores.
Art.20º - São autores:
1º - Os que executam o crime, ou tomam parte directa na sua execução;
2º - Os que por violência fisica, ameaça, abuso de autoridade ou de poder constrangeram
outro a cometer o crime, seja ou não vencível o constrangimento;
3º - Os que por ajuste, dádiva, promessa, ordem, pedido, ou por qualquer meio fraudulento e
directo determinam outro a cometer o crime;
4º - Os que aconselham ou instigaram outro a cometer o crime nos casos em que sem esse
conselho ou instigação não tivesse sido cometido;
5º - Os que concorreram directamente para facilitar ou preparar a execução nos casos em que,
sem esse concurso, não tivesse sido cometido crime.
§ único.- A revogação do mandato deverá ser considerada como circunstância atenuante
especial, não havendo começo de execução do crime, e como simples circunstância
atenuante, quando já tiver havido começo de execução.
Art.21º - O autor, mandante, ou instigador, é também considerado autor:
1º - Dos actos necessários para a perpetração do crime, ainda que não constituam actos de
execução;
2º - Do excesso do executor na perpetração do crime nos casos em que devesse tê-lo previsto
como consequência provável do mandato ou instigação.
Art.22º - São cúmplices:
1º - Os que directamente aconselharam ou instigaram outro a ser agente do crime, não estando
compreendidos no artigo 20º .
2º - Os que concorreram directamente para facilitar ou preparar a execução nos casos que,
sem esse concurso, pudesse ter sido cometido o crime;
16
1º - Os que alteram ou desfazem os vestígios do crime com o propósito de impedir ou
prejudicar a formação do corpo de delito;
2º - Os que ocultam ou inutilizam as provas, os instrumentos ou os objectos do crime com o
intuito de concorrer para a impunidade;
3º - Os que, sendo obrigados em razão da sua profissão, emprego, arte ou ofício, a fazer
qualquer exame a respeito de algum crime, alteram ou ocultam nesse exame a verdade do
facto com o propósito de favorecer algum criminoso;
4º - Os que, por compra, penhor, dádiva ou qualquer outro meio, se aproveitam ou auxiliam o
criminoso para que se aproveite dos produtos do crime, tendo conhecimento no acto da
aquisição da sua criminosa proveniência;
5º - Os que dão coito ao criminoso ou lhe facilitam a fuga, com o propósito de o subtraírem à
acção da justiça.
§ único. – Não são considerados encobridores o cônjuge, ascendentes, descendentes e os
colaterais ou afins do criminoso até ao terceiro grau por direito civil, que praticarem qualquer
dos factos designados nos números 1º , 2º e 5º deste artigo.
Art.26º - Sòmente podem ser criminosos os indivíduos que têm a necessária inteligência e
liberdade.
Art.181º - Aquele que ofender directamente com palavras, ameaças ou por actos ofensivos da
consideração devida à autoridade, algum ministro ou conselheiro de Estado, membro das
câmaras legislativas ou deputações das mesmas câmaras, magistrado judicial, administrativo
ou do ministério público, propfessor ou examinador público, jurado ou comandante da força
pública, na presença e no exercício das funções do ofendido, posto que a ofensa se não refira
a estas, ou fora das mesmas funções, mas por causa delas, será condenado a prisão até um
ano. Se neste crime não houver publicidade, a prisão não excederá a seis meses.
Art.182º - O crime declarado no artigo precedente, cometido contra algum agente da
autoridade ou força pública, perito ou testemunha no exercício das respectivas funções, será
punido com prisão até trê meses.
Art.184º - Se as ofensas corporais de que trata o artigo antecedente, forem praticadas contra
as pessoas designadas no art.182º , serão punidas com as penas estabelecidas para as ofensas
corporais nos arts. 359º e seguintes, mas sempre agravadas.
Art.188º - Aquele que se recusar a prestar ou deixar de prestar qualquer serviço de interesse
público, para que tiver sido competentemente nomeado ou intimado, ou que faltar à
obediência devida às ordens ou mandados legitimos da autoridade pública ou agentes dela,
será condenado a prisão até três meses, se por lei ou disposição de igual força não estiver
estabelecida pena diversa.
2º - A pena estabelecida neste artigo será agravada com a de multa por seis meses, se a
desobediência for qualificada.
Art.189º - É considerada desobediência qualificada, a que for feita na qualidade de jurado,
testemunha, perito, intérprete, tutor ou vogal do conselho de família.
Art.241º As penas declaradas nos artigos antecedentes são aplicáveis aos peritos que fizerem,
com juramento, declarações falsas em juízo.
17
Art.250º - O facultativo que em caso urgente recusar o auxílio da sua profissão, e bem assim
aquele que competentemente convocado ou intimado para exercer acto da sua profissão,
necessário, segundo a lei, para o desempenho das funções da autoridade pública, recusar
exercê-lo, será condenado a prisão de dois meses a um ano, e multa correspondente.
§ único.- O não comparecimento sem legítima escusa, no lugar e hora para que for convocado
ou intimado, será considerado como recusa para todos os efeitos do que dispõe este artigo.
3 –Artigos do Código de Processo Civil:
18
2 Se invocar a escusa da idade, o requerente juntará certidão do registo de nascimento ou
exibirá o seu bilhete de identidade; se não puder logo juntar ou ixibir o documento,
pode fazê-lo dentro de três dias.
3 Nos casos das alineas a) e b) do artigo anterior, o requerente não é obrigado a produzir
a prova do fundamento alegado; o juiz, se tiver duvidas, ouvirá as partes ou solicitará
as informações necessárias.
Art.584º - Os peritos podem ser recusados com os mesmos fundamentos por que podem ser
recusados os juízes, e ainda com os fundamentos constantes das alineas b) e d) do n.º 1 do art.
122º , na parte em que estes não constituem causa de impedimento, nos termos da alinea i)
do n.º do art.580º.
4 – Artigos da Carta de lei de17 de Agosto de1899
Art.7º - Nos exames que não forem feitos pelos conselhos médico-legais deverão os
peritos observar o questionário e as instruções especiais que um regulamento
determinará.
§ único. – Destes exames poderá interpor-se recurso para o conselho médico-legal da
respectiva circunscrição.
Art.9º - Haverá em cada comarca, e a cargo do juízo de direito, uma caixa com
instrumentos de autópsia e outros aprestos indispensáveis para o uso dos peritos.
5 – Artigos de Decreto n.º 5023, de 29 de Novembro de 1918
Art.1º - Os serviços de medicina forense das comarcas juricias do continente e das ilhas
adjacentes do território da República Portuguesa serão desempenhados por médicos
legistas, e nas comarcas de Lisboa, Porto e Coimbra, pelos institutos de medicina legal.
Art.2º - O continente da República Portuguesa será dividido em três circunscrições
médico-legais, com sede em Lisboa, Porto e Coimbra, cujas áreas serão
respectivamente as destes distritos judiciais, e em cada uma funcionará um conselho
médico-legal.
§ único.- As comarcas das ilhas adjacentes e ultramarinas pertencerão à circunscrição
médico-legal de Lisboa.
Art.9º - Todas as vezes que os peritos reconhecerem que o exame que lhes foi determinado
exige observação em alguma clínica de especialidade médica ou cirúrgica, assim o
declararão para o efeito de ser o observando internado nessa clínica, por determinação do
juiz passando-se, sendo necessário, a competente precatória e procedendo-se nos termos
estabelecidos no art. 11º .
Art.10º - Todas as vezes que pelo exame pericial se verificar a necessidade ou
conveniência de se proceder a exames especiais de laboratórios químicos, bacteriológicos
ou outros, ao juiz compete ordenar a remoção com a expedição, quando necessária, da
respectiva precatória com todas as formalidades legais, dos objectos a analisar para o
Instituto de Medicina Legal da respectiva circunscrição, sendo este serviço efectuado sob a
direcção do médico-legista.
19
Art.11º - Os serviços periciais de medicina forense que exijam conhecimentos particulares
dalguma especialidade médica serão feitos em Lisboa, Porto ou Coimbra, conforme a
circunscrição a que respeitem, no Instituto Universitário ou clínica dessa especialidade
pelos professores e assistentes respectivos; e, caso não estejam criada ainda qualquer das
especialidades inumeradas no § 1º deste artigo, nos hospitais consagrados a essa
especialidade, pelo pessoal médico a eles pertencente, e sempre sob a presidência do Juiz
de direito do processo ou do Juiz deprecado.
§ 1º- Compreendem-se neste artigo os exames periciais de doenças mentais, nervosas, dos
olhos, da garganta, nariz e ouvidos, do aparelho génito-urinário, do puerpério, da gravidez,
de moléstias cutâneas e os de radiologia.
§ 2º - Os peritos que intervierem nos exames a que se referem neste artigo, vencerão, por
este serviço, os salários que lhes competem pela tabela em vigor e que lhes serão pagos
pelo cofre de juízo a que pertencer o processo, sendo aplicável a este pagamento, quanto
ao mais, o disposto no art.8º e seus parágrafos.
§ 3º - Todos os outros exames serão efectuados pelos Institutos de Medicina Legal.
6- Artigos do Decreto-Lei n.º 35042, de 20 de Outubro de 1945
20
3º - A de prisao maior de doze a dezasseis anos;
4º - A de prisao amior de oito a doze anos;
5º - A de prisao maior de doze a oito anos;
21
9- Artigos do Decreto-Lei n.º 42216, de 15 de Abril de1959.
Art.1º - 1 Os peritos para a pratica dos exames medico-forence, nas comarcas e julgados
municipais do continente e Ilhas adjacentes, serao em cada ano os constantes da lista a
publicar pelo ministerio da justica ate 15 de Dezembro do ano anterior.
2- O numero dos peritos de comarca, modificavel por simples portaria do ministerio da
justica, sera constante do quadro anexo.
Art.2º - 1 Ate 15 de Outubro de cada ano, deverao os m’dicos interessados requerer a sua
inclusao na lista a direccao geral da justica, que enviara os requerimentos dos candidatos
nao excluidos a comarca respectiva, para efeitos de informacao.
2- As informacoes sobre os requerentes serao prestadas, dentro do prazo de oito dias, pelo
juiz de direito, e pelo agente do ministerio publico, aos quais incumbe ainda propor os
peritos a nomiar , sempre que nao haja requerentes idoneos em numero suficiente.
3- Recolhidas as informacoes sobre a idoneidade moral e profissional dos requerentes ou
propostos e juntos os documentos que forem considerados necessarios, sera lista
submetida a aprovacao do ministerio da justica e publicada no diario do governo.
Art.3º - Constitui motivo de preferencia, para o efeito de inclusao na lista, a habilitacao
do requerente com o curso superior de medicina legal.
Art. 5º - 1 Os exames medico-Forense, nas comarcas de Lisboa, Porto e Coimbra, serao
feitos pelos respectivos Institutos de Medicina Legal ou, se for caso disso, pelo
laboratório de policia cientifica, neles se efectuando tambem os exames de
reconhecimento de letra ou de documentos que se digam falsificados e quaisquer outros
que esses servicos estejam especialmente habilitados a realizar.
2- Os servicos pericias de medicina forence que exijam conhecimentos particulares de
alguma especialidade medica serao, nas comarcas a que se refere o n.º1, feitos no
respectivo instituto ou clinica universitaria dessa especialidade, pelos professores e
assistentes resprctivos, e, na falta desses institutos ou clinicas, nos hospitais
consagrados a essa especialidade, pelo pessoal medico a eles pertencente.
Art.6º - 1 Nas restantes comarcas e julgados municipais do continente, os exames
cadavericos serao feitos, quando haja suspeitas de que a morte resultou da pratica do
crime doloso, por um perito do respectivo instituto de medicina legal, a designar em
cada caso pelo director, e por um dos peritos medicos da comarca ou julgado, e por dois
destes peritos nos casos de suspeita de crime culposo ou tratando-se de morte resultante
de acidente no trabalho por conta de outrem; nas comarcas e julgados das Ilhas
adjacentes esrao os exames cadavericos feitos sempre por dois peritos.
2- Nos demais casos de morte violenta ou de causa ignorada despensar-se-a a autopsia
deste que no processo estuarado nos termos do art.226º do codigo de Registo Civil nao
se levante a hipotese de existencia de crime.
3- Se a autopsia for realizada sem intervencao do perito do instituto de medicina legal, por
nao haver suspeita de crime doloso que sao mais tarde venham a levantar-se, poderao as
autoridades judiciais ordenar a realizacao segunda autopsia, com intervencao daquele
perito, se a julgarem necessaria ao esclarecimento da verdade.
22
4- Os exames de alienacao mental serao feitos por um psiquiatra da respectiva zona,
sempre que possivel, e, nao sendo, por dois peritos medicos da comarca ou julgado,
sem prejuizo da possibilidade da sua realizacao pelos anexos psiquiatricos, nos termos
da legislacao vigente.
5- Todos os outros exames serao feitos por um so dos peritos da comarca ou julgado, com
a excepcao dos que envolvam conhecimentos esoeciais que todos os peritos declarem
nao possuir, devendo conseder-se, quando assim seja, em conformidade com o disposto
no art.184º do Codigo de Processo Penal.
Art.8º - 1 Os emolumentos devido aos peritos medicos, em processo penal, sao 25$ por
cada exame que nao seja de especialidade, de 50$ por cada exame de especialidade e de
150$ por cada autopsia.
Art. 11º - Sao excluidos da revisao obrigatoria a que se refere o art. 200º do Codigo de
Processo Penal os relatorios dos exames efectuados pelos institutos de medicina legal
ou pelo laboratorio de policia cientifica.
Art.12º - 1 Sao aditados ao quadro de pesssoal de cada um dos institutos de medicina
legal de Lisboa, Porto e Coimbra dois lugres de assistente, especialmente destinados aos
exames externos de tanatologia.
10- Artigos do Decreto-Lei n.º 45108, de 3 de Julho de 1963.
Art.1º - 1 Os processos por crime de ofencas corporais cuja a instrucao tenha ja excedido o
prazo legal em consequencia da realizacao de sucessivos exames directos devem passar a
fase acusatoria, se for caso disso, logo que os peritos medicos possam determinar os
efeitos provaveis das lesoes examinadas, embora estas nao estejam ainda clinicamente
curadas, se a qualifecacao juridica do facto criminoso se mantiver inalteravel.
2- O encerramento da instrucao preparatoria nao impede no caso previsto, a realizacao de
ulteriores exames para exacta determinacao dos efeitos das lesoes, em ordem ao
apuramento da gravidade objectiva do crime e a fixacao da indemnizacao devida.
3- Se a data do despacho que designar o dia para o julgamento, o processo nao fornecer
ainda os elementos necessarios a exacta determinacao dos efeitos das lesoes, o juiz
mandara, nesse despacho, notificar os titulares do direito a eventual indemnizacao de
que, no caso de condenacao do reu, a fixacao do montante daquele podera, desde que
assim o requeiram ate ao comeco do julgamento, ser relegada para execucao da
sentenca.
4- O disposto neste artigo nao obsta a aplicacao do preceituado no § unico do art.338º do
Codigo do Processo Penal.
Art.2º - 1 E criado, junto da subdirectoria da policia judiciaria no porto, o lugar de perito
medico, para colaborar com o laboratorio de policia cientifica na area dessa sbdirectoria.
2- O lugar e provido por meio de contrato constituindo a remuneracao do perito encargo
do Cofre Geral dos Tribunais.
3- O perito medico tem competencia legal para proceder a axames directos nas pessoas,
nos mesmos termos em que a tem o adjunto medico legista do laboratorio da policia
cientifica.
23
Art.3º - E aplicavel aos realtorios das autopsia efectuadas com intervencao do perito dos
institutos de medicina legal, nos termos do n.º 1 do art.6º do Decreto-Lei n.º42216, de 15 de
Abril de 1959, o disposto no art.11º do mesmo diploma.
11- Artigos do Decreto-Lei n.º45683, de 25 de Abril de 1964
Art.1º - E permitida nos termos do presente decreto-lei a colheita no corpo de pessoa falecida
de tecidos ou orgaos qualquer natureza, nomeadamente ossos, cartilagens,vasos,pele, globos
oculares e sangue, quando eles forem necessarios para fins terapeuticos ou cientificos e essa
intervecao, para ser util, nao possa aguardar o decurso do prazo legal de prevencao contra a
morte aparente.
§ 1º - Ainda que autorizadas pelo falecido, as colheitas nao podem efectuar-se ao abrigo deste
artigo quando forem contrarias a moral ou aos bons costumes ou quando se verifique o caso
de morte sem assistencia medica, de morte violente ou qualquer outro em que por lei deva
proceder-se a autopsia forense.
§ 2º Se a mote violenta tiver sido causada por acidente, a colheita podera realizar-se quando
nao seja de prever que possa vir a prejudicar os resultados da autopsia.
Art.9º - As colheitas, qualquer que seja o lugar do obito, so podem efectuar-se em instalacoes
aprooriadas dos servicos mencionados no corpo do art.3º deste diploma.
§ unico. Os directores dos centros de colheita podem, todavia, em harmonia com as
instrucoes aprovadas por portaria do Ministro da Saude e Assistencia, permitir, a titulo
generico ou em casos singulares, que as colheitas efectuadas pelos respectivos servicos se
facam em lugar diverso do perscrito neste artigo, desde que se certifiquem, etc.
Art.10º - Nenhuma colheita de tecidos ou orgaos se pode efectuar nos termos deste decreto-lei
sem que o obito seja verificado pelo menos por dois medicos, segundo as regras da simiologia
medico-legal que, ouvidos os departamentos oficiais competentes e a Ordem dos Medicos,
forem definidas por portaria conjunta dos Ministros da Justica e da Saude e Assistencia.
24
III- INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA MEDICINA LEGAL E
SEGUROS
I- CONCEITO E DEFINIÇÃO:
A Medicina Legal e Seguros nasceu da necessidade de solucionar as questões judiciárias por
meio dos conhecimentos médico-biológicos, teve de se ir adptando em cada época aos
requisitos técnico-científicos de cada momento histórico, bem como a evolução socio-
antropólogica, politica das sociedades e aos ordenamentos jurídicos vigentes, possui desde o
princípio e conserva ainda hoje um caracter aplicativo com objectivo eminentemente prático.
25
meio de transporte; invalidez; doença de causa traumática e não traumática, seguro médico,
etc.
26
estavam descreminados certas doenças dos Escravos que invalidavam os contratos de
compra e venda.
Nas Leis de Hititas havia referência em relação as formas ou procedimentos que os
médicos deveriam ter na redacção ou elaboração dos laudos periciais.
Procedimentos análogos vinham referenciadas nas Legislações Hebraica, Egípcia, Chinesa,
Grega, Latina, etc.
Naqueles tempos, a noção cientifica era rudimentar em todos os campos e constituíam um
património comum de Personalidades Cultas, assim que o Magistrado estava em grau de
decidir de decidir sozinho em cada questão.
Foi com o desenvolvimento dos conhecimentos técnicos que tornou insuficiente a Cultura
dos Juizes, que provocou a intervenção de um expert ou perito, fazendo surgir o “Instituto
das Perícias”, iniciando deste modo as bases de desenvolvimento de uma nova disciplina,
que se preocupava ou se dedicava ao estudo dos problemas que o Magistrado colocava ao
Perito.
Contemporaneamente do século IX ao seculo XIV as primeiras escolas médicas viram de
forma implicita a necessidade da intervenção dos médicos nos processos judiciais em
particular no Decreto Innocenzo III (1209) e Decreto Greorio IX (1234).
A Medicina Legal, tal como é concebida actualmente, aparece no Século XVI, quando se
requer nos Códigos de maneira explícita a intervenção pericial do médico nos processos
jurídicos ou judiciais.
Citando Ambroise Paré “Os Juízes julgam pelo que se lhes diz”.
5- Categoria Cientifica:
A Medicina Legal e Seguros utiliza as técnicas e procedimentos científicos mais
actualizados para a resolução dos quesitos que são colocados pela Justiça.
Técnicas e métodos de outras Ciências tais como: Química, Física, Anatomia, Histologia,
Fisiologia, Clínica e outras Ciências a fins, que desenvolveram elas próprias metodologias
e procedimentos especiais que são utilizadas de forma rigorosa, selectiva pela Medicina
Legal e Seguros de modo a responder a qualquer género de solicitude, conferindo deste
modo à Medicina Legal e Seguros uma fisionomia própria e especial.
6- Repercussão económica:
É evidente a transcendência económica da Medicina Legal e Seguros, pelas repercussões
que têm os Laudos Periciais em qualquer Ramo de Direito.
Esta repercussão económica é manifesta nas Perícias Médico Legais na área Penal
(valorização do dano ou lesão corporal resultante de um crime de ofensas corporais,
homicídio, de um acidente de viação ou de outro meio de transporte, etc); na área Cível
(acidentes de viação ou de outro meio de transporte, testamento, anulação de contratos por
incapacidade, etc); na área Laboral (valorização dos danos ou lesões resultantes de um
acidente de trabalho, doença profissional, etc).
Citando Furtado Galvão “O Perito não deve ser nem pelo Auctor, nem pelo Reo; deve
collocar-se entre a accusação e a defeza: applica a Sciencia, cujo misnistro é; e diz a
verdade toda, com lisura e imparcialidade. ”
III- HISTÓRIA DA MEDICINA LEGAL (E SEGUROS):
27
A Medicina Legal teve ao longo da história várias interpretações e modificações quer do
ponto de vista concepcional e do ponto de vista filosófico e académico.
Evidentemente na prática, a Medicina Legal e Seguros é uma especialidade com conteúdo
amplamente evolutivo e revolucionário, segundo as necessidades e as diferentes evoluções
socioculturais, antropológicas e científicas que em cada época foram colocados as
Ordenações Jurídico-Sociais em relação à Medicina.
A Medicina Legal como Ciência só atinge uma certa maturidade na época do
Renascimento, apesar disso é possível distinguir vários períodos da sua evolução.
2- CULTURA CLÁSSICA:
28
Da Cultura Grega destacam-se os aspectos Deontológicos e Éticos no exercício da
actividade médica, que ainda se mantêm até os dias de hoje, tal como o Juramento de
Hipocrates.
Há também referências da toxicologia - dos venenos, escrita por Nicandro de Colofón no
século II A. C.; descrição dos primeiros sinais de morte feitos por Hipócrates.
Da Civilização Romana, no período compreendido entre os séculos IX ao século XIV,
várias escolas médicas, viram a necessidade da intervenção do médico nos processos
judiciais, em particular os Decretos de Inocenzo III (decreto canónico de1209) inicia a
actividade pericial dos profissionais de medicina que eram convidados a visitar os feridos
que estavam à disposição dos tribunais; e o do Gregorio IX (1234) em Decretales, sob o
título Peritorium indicio medicorum, em que era indispensável a opinião do médico em
casos de morte violenta; e sob o título De probatione que criava condições para a nulidade
de casamento se se provasse a não consumação da conjunção carnal na mulher; e várias
outras legislações referentes a reparação dos danos tais como: Lex Cornelia de injuris; Lex
Aquilia; e a que restringia o uso de venenos Lex Cornelia de sicariis et veneficiis.
3- ÉPOCA MEDIAVAL:
Na Idade Média surgem as primeiras intervenções médicas na Administração da Justiça,
e a influência dos conhecimentos médicos na redacção das Leis, que é manifesta por
exemplo no Código de Justiniano; El Digesto e Os Capitulares, que ditavam normas
positivas para determinação da vitalidade fetal exigindo a presença de três matronas que
comprovavam a gravidez; se ordenava a descrição dos ferimentos nos cadáveres.
Contudo a perícia médico legal de um modo geral não estava previsto taxativamente.
Este período é caracterizado por interesses e/ou repercussões legais da Medicina,
particularmente na área do Direito. Destacam-se vários textos legais em diversos países da
Europa tais como Itália, França, Espanha, Inglaterra, Alemanha, etc; em que os temas
referenciados abordavam :
- Estudo das lesões, sobretudo as penas a serem aplicadas e respectivo ressarcimento;
mecanismos de produção de certas lesões traumáticas como forma de punição por
exemplo açoites e amputações; nalgumas havia referência das taxas especificando todo o
género de lesões.
- Aspectos da Sexologia/Obstetríca Forense, particularmente as Violações e Aborto; penas
ou castigos nos casos de alterações da conduta sexual.
- Psiquiatria Forense, princípios de Imputabilidade.
- Critérios médicos em questões processuais: veracidade de uma confissão “Juízo dos
Deuses, Juízo da água quente”.
Foi no final desta época em que se autorizou o estudo do cadáver, que tinha na altura um
interesse anatómico, e, não o estudo minucioso das causas de morte.
4-ÉPOCA DO RENASCIMENTO:
A Época do Renascimento que corresponde para as Ciências e Medicina o século XVI,
encontramos nos Livros de Medicina uma intenção clara e inequívoca da especialidade
Médico Legal, sobretudo nas obras de Cirurgia, quando faziam distinção das lesões mortais e
não mortais nos casos de morte violenta; sendo na altura o cirurgião chamado pelo Juiz para
aclarar este tipo de lesões.
Neste período entre 1453 à 1600, houve o primeiro contacto real entre a Medicina e as
disposições legais, surgindo deste modo a função Médico Forense, cujo primeiro
29
Regulamento data de 1507 com a promulgação do Código de Bamberg (obrigatoriedade da
opinião médica nos casos de homicídio; responsabilidade profissional; infanticídio e exames
médico-legais dos cadáveres nos casos de suspeita de morte violenta.
Contudo a máxima transcedência corresponde ao Constitutio Criminalis de Carolina -
primeiro marco histórico de Medicina Legal - votada em 1532 por Dieta de Ratisbone ao Rei
Carlos V de Alemanha e I de Espanha que passou a vigorar em quase toda Europa.
Neste texto se fixava os elementos essenciais da comprovação do delito, estabelecendo
taxativamente a intervenção dos médicos, cirurgiões e matronas dependendo dos casos nos
processos por lesões corporais, homicídios, suicídios, doenças mentais, partos provocados ou
clandestinos, abortos, infanticídio, envenenamento, erros profissionais dos médicos, etc.
Nesta época se destacam Ambrósio Paré, que foi o impulsionador da cirurgia europeia, as
suas obras abordavam aspectos da Traumatologia, Sexologia Médico Legal e da área de
Tanatologia - Des rapports et des moyans d’embaumer les corps morts, Paris 1575; e Juan
Fragoso (espanhol), autor de um dos primeiros textos médico-legais - Tratado das declarações
que os cirurgiões devem fazer em relação as diversas enfermidades e formas de morte
violenta, 1581.
Existindo já a função pericial, começaram a surgir e a se desenvolver textos da área Médico
Legal, iniciando-se deste modo nesta época a notabilização dos médico-legistas que com as
suas obras davam corpo a está ciência.
Destacam-se Paolo Zacchia (1584-1659), que é autor do Texto mais famoso da história da
especialidade “Quaestiones medico-legales, in quibus omnes eae materiae medicae, quae ad
legales facultates videntur pertinere, proponuntur, pertractantur, resolvontur. Opus ipsis
jurisperitis apprime necessarium, medicis perutile, caeteris non injucudum - Roma 1621-
1635. P. Zacchia não representou um facto isolado na evolução da Medicina Legal, outros
autores tais como Rodrigo de Castro; Gaspar Bauhim; J.G. Zuller, Gottfried Welsch, etc.
5- RECONHECIMENTO DA ESPECIALIDADE:
Nos finais do século XVIII os temas da área médico forense era ensinado tanto aos médicos
como aos cirurgiões, que na altura eram duas profissões separadas, e um tanto a quanto
polémicas, surgindo desta forma a Medicina Legal e a Cirurgia Forense; que tiveram
evoluções diferentes, e se constituíram com temas concretos de ensino em função das escolas.
A primeira Cátreda Oficial segundo dados históricos ocorreu em Nápoles na Itália em 1789,
sob responsabilidade de Ronchi.
Em França - Paris é estabelecido o primeiro Curso de Medicina Legal em 1794.
Nesta época se destacaram François Fodré, Mahon e Royer Collard, mais tarde Mateo Orfila
(1787-1853) grande impulsionador da Toxicologia Forense, foi o decano da Faculdade de
Paris durante 17 anos.
Outros autores tais como Pinel e Esquirol (estudaram as doenças mentais); na Grã Bretanha
destacou-se Robert Chrisison e James Marsh (1836) na área de Toxicologia Forense; na
Alemanha as obras de Mende, Göttingen, etc.
Nesta época surgiram as primeiras Revistas de Medicina Legal, na Alemanha em 1821
editada por Henke e Professor Erlanen; a Revista Annales d’Hygiéne Publique et Médecine
Légale em 1829 promovida por Orfila e Tardieu, etc.
A influência de Orfila (decano da Faculdade de Paris) foi de relevante importância para a
afirmação da Medicina em geral e da Medicina Legal em particular, pelo impacto social e
cientifico que naquela época em Paris, pois era um dos Peritos mais solicitados.
Além dele, surgiram em Paris professores e autores de primeira linha, tais como Alphonse
30
Devergie, Ambroise Tardieu, Paul Brouardel; na Escola de Lyon - Alexandre Lacassagne
(1834-1924); no inicio deste século Vibert, Thoinot e Balthazard.
Noutros países destacaram-se vários Professores e autores, da Escola Alemã Maschka
(Professor em Praga) e outros; da Escola Inglesa Alfred S. Taylor; nos Estados Unidos Stille e
Wharton; Escola Italiana Giorgio Canuto, Sérgio Tuvo, Cesare Lombroso, etc.
Na época actual distinguimos dentro da Medicina Legal e Seguros duas partes bem distintas:
Medicina Forense que utiliza os conhecimentos da Ciência Médica e de outras Ciências
Auxiliares para o Exame ou Estudo das questões/quesitos de base médico-biológico que são
colocadas pelas Autoridades Competentes, isto é, a actividade pericial diária e a respectiva
técnica.
Medicina Judiciária ou Conselho Superior de Medicina Legal, é constituido por
Professores das diferentes especialidades médicas, estudam os problemas gerais do
ponto de vista Ético e Deontológico relacionado com a prática de medicina, elaboram
o material médico-biológico dos últimos avanços cientificos, estudam e comparam
com as leis em vigor,e através de pareceres técnico-cientifico, criticam e aconselham
as Autoridades ou Instituições Competentes o aperfeiçoamento e criação de novas
leis.
Perícia Médico Legal também chamada de Acto Pericial Médico são todas aquelas
actuações periciais médicas mediante a qual se assesoria a Administração da Justiça em
relação a um determinado quesito de natureza médico-biológico.
Isto é, Perícia Médico Legal é um conjunto de procedimentos médicos e paramédicos que
tem como finalidade o esclarecimento de um facto de interesse da Justiça; pode ser efectuada
em qualquer ramo de Direito (Penal, Cível, Laboral, etc), no ser vivo, no cadáver, em
objectos e em animais.
As perícias médico-legais estão disciplinadas na legislação em vigor, vêm dispersos em
diferentes leis, normas e regulamentos.
As perícias médico-legais são realizadas nas Instituições Médico Legais, nas Instituições de
Saúde por Peritos e Técnicos de Saúde.
A finalidade da perícia médico legal é produzir a prova, e a prova não é outra coisa senão
um
elemento demonstrativo de um facto.
6- DOCUMENTOS MÉDICO-LEGAIS:
Documento é uma declaração escrita, oficialmente reconhecida, que serve de prova de
um estado, facto ou acontecimento, isto é, todo o instrumento que tem a faculdade de
reproduzir e representar uma manifestação de pensamento.
Do ponto de vista médico-legal representam manifestações públicas ou privadas, que tem um
31
caracter representativo de um facto a ser avaliado em juízo.
Os documentos de interesse da Justiça são: notificações, os atestados, os relatórios e os
pareceres.
Além desses, os esclarecimentos não escritos durante uma audiência nos tribunais –
depoimentos ou declarações orais.
32
III- TANATOLOGIA MÉDICO LEGAL
1- INTRODUÇÃO:
Tanatologia provem da expressão grega thanatos, que significa morte.
Tanatologia Médico Legal é o capitulo da Medicina Legal que estuda todos os aspectos
biológicos relacionados com a morte e as suas repercussões na esfera do Direito.
As questões referentes a Tanatologia têm interesse Médico Legal, porque com a morte, cessa
o trabalho médico a não ser a confirmação anatomopatológica do diagnóstico clínico e
cumprimento das normas higiénico-sanitárias preventivas.
A morte do homem como destino final, transcende a um mero processo biológico, visto que
ela têm repercussões antropológicas, morais, filosóficas, sociais, jurídicas e politicas, que
torna quase que impossível que nos sintamos numa situação de neutralidade ou indiferença
perante ela.
Citando António Machado “ a morte é uma situação em que se sente mais do que se pensa”.
Não existe cultura ou sociedade, que esteja insenta de enfrentar este fenómeno - a morte,
visto que ela está rodeada e integrada num sistema de crenças e de outras manifestações
socioculturais, antropológicas, religiosas, politicas e juridico-legais que tem como objectivo
ou finalidade de ajudar o homem e a sociedade a enfrentar o seu destino final.
A resposta social, moral, religiosa e politico-economica perante a morte varia segundo a
cultura, sociedade, momento histórico, existindo diferenças numa mesma cultura e sociedade,
e, coexistem no mesmo espaço de tempo e contexto socio-cultural e socio-politco várias
modalidades de resposta.
A morte é considerada sob um perfil legal, porque com ela termina a existência jurídica da
pessoa, segundo o artigo 68º do Código Civil -Termo da Personalidade, e ocorrem mudanças
relativas aos bens, propriedades, obrigações, comprimissos de responsabilidade penal ou
civil, etc.
É por isso fundamental certificar na realidade o exitus ou a morte, a fim de se fixar com maior
precisão possível o tempo/data em que ela ocorreu.
Seguem-se depois outros problemas Médico Legais de grande importância, como determinar
o tipo de morte, a causa básica de morte, a causa jurídica de morte, em que circunstâncias
ocorreu a morte, agente ou instrumento ou ainda o meio empregue, identificação do cadáver,
data da morte, outras de maior ou menor significado dependendo dos quesitos colocados
pelas autoridades judiciais ou policiais, como por exemplo estabelecer se a morte foi rápida
ou lenta; se o indivíduo morreu no local em que foi encontrado o cadáver ou se o corpo foi
antes removido ou transportado; enfim se há alterações que eventualmente mostram que elas
foram a causa das lesões ou processos mórbidos ocorridos em vida; ou se elas foram
produzidas sobre o cadáver; diagnóstico dos fenómenos tanatológicos, etc.
33
2- EUTANÁSIA E DISTANÁSIA:
Eutanásia:
Entimológicamente, a palavra eutanásia deriva da expressão grega “eu = bom; thanatos =
morte”, literalmente significa boa morte.
Com base no esquema de Santidrián, ao longo da história está expressão teve várias
interpretações e conceitos.
Na época Grego-Romana a eutanásia significava ou era interpretada como sendo o facto de
morrer bem ou morrer sem dor, praticava-se todo tipo e género de cerimónias culturais e
rezas a fim de aliviar a agonia e sofrimento do paciente,não havendo referência de qualquer
tipo de ajuda ou acto para acelerar a morte.
Na época Medieval e inicio do Renascimento, por influência da doutrina Cristã, a expressão
eutanásia era interpretada e empregue como um acto cerimonioso ascético-religioso.
Durante o período do Renascimento surge o conceito propriamente dito ou médico da
expressão eutanásia, e muitos textos fazem referência que foi Francês Bacon o autor da obra
Novum Organum (1620) que criou este conceito.
Entretanto esta expressão e conceito de eutanásia é melhor retractada nas obras de Tomás
Moro in Utopia e Diálogo del Consuelo, em que o autor centra o debate da problemática da
eutanásia em questões ligados com a Medicina e Moral.
Nos séculos XIX e XX a expressão Eutanásia foi usada de forma bastante diversificada, e, é-
lhe acoplado conteúdos e conceitos Médicos, Jurídicos, Morais, Éticos e Sociais.
Desde então, até os dias de hoje, têm-se utilizado esta expressão “eutanásia” de forma
bastante ambígua como se fosse sinónimo de eutanásia activa; há contudo a salientar que à
nível mundial se assiste um debate bastante acesso em relação a prática ou não da Eutanásia,
sendo ainda esta prática tabu na grande maioria dos países, apesar de alguns, nomeadamente
a Suécia, Dinamarca e outros países nórdicos, Colómbia, China, admitirem implicitamente a
sua prática.
A Austrália foi o primeiro país do mundo a legalizar a prática no Estado do Norte em 1996,
entretanto essa lei foi revogada a nível federal e, na Holanda há perspectivas da legalização
efectiva com inclusão no Código Penal, apesar desta prática estar discriminalizada desde
1994.
Classicamente distingue-se duas formas- Eutanásia Passiva e a Eutanásia Activa; e, é fácil
fazermos a delimitação conceitual entre ambas formas do ponto de vista académico e
filosófico, todavia esta delimitação na prática real e clínica pode ser difícil de se efectuar em
alguns casos.
Eutanásia que significa literalmente “boa morte”, e muitas das vezes chamada de “direito a
morrer com dignidade” ou termos equivalentes, expressão coloquial e académica não exclue
em absoluto nenhuma actuação médica directa sobre a vida do paciente, sendo por isso
34
fundamental definir com maior precisão possível o seu conceito e conteúdo na altura em que
se utiliza ou se prática tal acto.
Eutanásia Passiva e/ou chamada também de Eutanásia por Omissão: nesta forma ou tipo
de Eutanásia não há uma actuação ou intervenção directa do médico ou técnico de saúde para
acelerar a morte ou encutar a vida do paciente.
Eutanásia Passiva é uma forma em que se deixa o processo mórbido evoluir
naturalmente, isto é, o médico ou técnico de saúde não aplica ou utiliza medidas
terapêuticas com vista a acelerar o exitus ou a morte do paciente, prescreve ou
administra um tratamento paliativo com vista a aliviar o sofrimento do paciente, as
infecções intercorrentes, etc.
Muitas das vezes dependendo da condição clínica do paciente é-lhe recomendado que
o tratamento seja domiciliário.
Esta forma de Eutanásia é aceite pela maioria dos Códigos de Ética e Deontologia
Médica, isto é, um acto lícito eticamente quando as circunstâncias o permitem, sendo
importante na maioria dos casos necessário o consentimento informado e a permissão
do paciente ou familiares, de acordo com Direito Médico moderno, e não viola a Carta
Universal dos Direitos Humanos.
Eutanásia (passiva) por Omissão – Omissão é uma expressão que provem do latim
õnis, isto é, acção ou resultado de omitir, facto de não fazer.
Do ponto de vista jurídico-legal sub-entende-se como sendo por imperícia ou acto
culposo ou ainda por negligência.
Consideramos que do ponto de vista médico-legal estamos perante esta forma de
Eutanásia quando o médico ou técnico de saúde na maioria dos países
subdesenvolvidos, devido a escassez de meios opta por direccionar o tratamento ou
actuação terapêutica para um paciente em detrimento do outro na mesma condição
clínica, tendo como base de opção principalmente critérios clínicos e eventualmente
outros tais como a “idade?”, etc, por exemplo para a opção de quem deve ficar com
aparelho de respiração assistida. O
médico ou técnico de saúde deixa o processo mórbido evoluir ou seguir o seu curso
naturalmente, fazendo o tratamento paleativo ao paciente a quem lhe foi obstado a
medida ou meio terapeútico.
Este tipo de Eutanásia é um acto éticamente lícito em termos de Direito Médico
moderno, não ferindo deste modo a Carta Universal dos Dieritos Humanos do ponto
de vista moral e ético, sendo portanto, um acto aceite de acordo com as normas de
conduta ética e moral que nortea o exercício da actividade médica.
Eutanásia Activa Directa por Compaixão estamos perante esta forma quando o
médico ou técnico de saúde decide unilateralmente e intencionalmente por termo a
vida paciente, sem o seu consentimento.
A motivação ou argumentação do médico ou técnico de saúde para a prática desta
forma de eutanásia,isto é, a aceleração do existus ou da morte do seu paciente é de
piedade ou compaixão que ele sente devido ao sofrimento insuportável resultante de
uma doença incurável.
Esta forma de Eutanásia não é e não deve ser permitido por nenhum Código de Ética
e de Deontológia Médica, constitue uma violação gravissima da Carta Universal dos
Direitos Humanos, e com base na legislação em vigor o médico ou técnico de saúde
pode ser punido por um crime de homicídio qualificado segundo art. 349 e seguintes
do Código Penal além de outras implicações juridico-legais e administrativas.
Eutanásia Activa Indirecta – estamos perante esta forma de eutanásia quando não
existe uma acção deliberada ou intencional do médico ou técnico de saúde de acelerar
o exitus ou a morte, isto é, de por termo a vida do paciente.
O médico ou técnico de saúde predente aliviar o sofrimento, tratar a patologia de que
o paciente padece, indicando uma conduta terapêutica e/ou prescrevendo a
medicação correcta e adequada, contudo, devido os riscos da conduta terapêutica e/ou
efeitos secundários conhecidos da droga prescrita, esta pode levar a aceleração do
exitus produzindo a morte deste. As
considerações médicio-legais que deveremos efectuar nestes casos de
responsabilidade médica, de acordo com o Direito Médico moderno, é que o médico
ou técnico de saúde deve informar o paciente do seu estado – diagnóstico da doença,
36
que contuda terapêutica ou prescrição medicamentosa se propõe a indicar-lhe,
devendo informa-lhe os riscos e/ou efeitos secundários que tal conduta ou medicação
acarreta, e quais são as outras possiveis opções.
O paciente ou seu representante legal deve afirmar e firmar conscientemente de que
percebeu ou entendeu qual é patologia que padece, que percebeu e aceita
voluntariamente a prescrição ou conduta terapêutica indicada, que percebeu quais são
os riscos que incorre decorrente da administração da droga, isto é, quais são os efeitos
secundários da droga ou riscos da conduta terapêutica indicada.
Nestes casos estamos perante uma situação de duplo efeito, que é justificável
éticamente e é um acto lícito, não viola a Carta Universal dos Direitos Humanos nem
os Códigos de Ética e Deontologia Médica, devendo para tal ser compridos os
preceitos acima referenciados, e avaliação deve ser caso por caso.
37
Na prática é necessário a cessação de três funções para o diagnóstico de morte: função
nervosa; função cardiocirculatória e função respiratória – é chamada a Tríade de Bichat.
A causa de morte é um dos factores fundamentais muitas das vezes para o diagnóstico da
morte.
O diagnótico de morte de um individúo, teve desde que o homem têm vida social organizada
implicações e impacto socio-antropológico, cultural, moral, ético, religioso, económico,
médico e jurídico, criando desde sempre não só nos profissionais de saúde, como também na
sociedade em geral o temor e fantasia de possivel erro de diagnóstico de morte, que levaria
eventualmente a iumações prematuras de corpos.
Estes factos tiveram maior transcendência durante as grandes epidemias ocorridas nos séculos
passados, em que havia um grande número de pacientes provocando deste modo prováveis
erros de diagnótico de morte, levando a enterros colectivos sem que se esperasse o
surgimento dos sinais cadavéricos bem estabelecidos, por imperativos de saúde pública.
A pressão social de prováveis erros de diagnóstico de morte, associado as fantasias de
inumações pré-maturas, exigiram na altura respostas fiáveis e correctas para o diagnóstico da
morte, estimulando e premiando trabalhos de investigação cientifica para o estudo dos sinais
de morte. O
primeiro trabalho sobre inumações pré-maturas foi de Bruhier (1742) “Les incertitudes des
singes de la mort et l’abus des enterrements et des embaumement précités - recolha de 189
casos”.
Surgiram também em vários países medidas tendentes a solucionar este problema de
inumações pré-maturas, eis que na Alemanha e Itália foram criadas as primeiras câmaras ou
casas mortuárias em 1793, onde os corpos dos presumíveis mortos permaneciam atados a
uma corda na mão conectado a uma campainha, até que surgissem os primeiros sinais de
putrefacção, que são sinais inequívocos de morte.
A Académia de França decidiu em 1837 premiar trabalhos consagrados a Tanatologia, tendo
Bouchut com a sua obra “Traité des signes de la mort et des moyens de prevenir les
enterrement prématures” ganho o prémio em 1849.
Actualmente, os prazos exigidos na maioria das legislações é de 24 horas no mínimo para se
efectuar a inumação ou outro destino do cadáver por exemplo a cremação após declaração de
óbito, salvo raras excepções claramente evocadas.
Referem-se a este período de espera e às excepções os artigos 255º e 256º do Código do
Registo Civil, de 5 de Maio de 1967 (Decreto-Lei n.o 47678) e o &1º do artigo 15º do
Regulamento dos Serviços Médico-Legais.
Também o n.o 5º do artigo 4º do Decreto-Lei n.o 32171, de 29 de Julho de 1942, prevê “ a
necessidade de enterramento urgente e antes do prazo legal em caso de epidemia ou moléstia
contagiosa que assim o exija ou de outra qualquer circunstância que interessa à saúde
pública.”
Terminologia Tanatológica ou diferentes Tipos de Morte:
É uma abordagem filosófica e académica dos diferentes tipos de morte do ponto de vista
38
médico-legal em termos de conceito e definição, não correspondendo nalguns casos com os
conceitos clínicos de morte.
Morte Real: ocorre quando há uma cessação definitiva das funções vitais do paciente ou da
vítima, isto é, cessação da função nervosa, função cardiaca e da função respiratória.
Morte aparente: ocorre quando o paciente ou vítima encontra-se num grave estado de
choque, tipo hipovolémico por exemplo ou de outro género, as funções vitais estão presentes
só que bastante diminuídas e de difícil percepção, devido ao quadro sindrómico.
O paciente ou vítima aparenta estar morto.
Morte Clínica: ocorre quando o paciente ou vítima tem a cessação de uma das funções vitais,
por exemplo a cardiaca - paragem cardiaca, mas que devido as manobras terapêuticas de
ressuscitação ela volta a funcionar.
Neste tipo ou género a morte é reverssível.
Morte Biológica: ocorre quando o paciente ou vítima tem a cessação de uma das funções
vitais associado a extensas e graves lesões do órgão em causa, por exemplo, a cardiaca -
paragem cardiaca com extensa área de infarto do miocardio, ferida corto-perfurante do
miocardio com tamponamento cardiaco, etc.
Nestes casos devido a gravidade da lesão a morte é irreversível, o paciente ou vítima pode
manter-se vivo graças ao meios tecnológicos como por exemplo aparelho de circulação extra-
corporea, entretanto só sobreviverá se for feito o transplante do coração.
Morte Lenta ou Agónica: ocorre quando a morte ou a cessação definitiva das funções vitais é
precedida por um periodo mais ou menos longo de agonia.
Importância Médico Legal:
Quando o paciente ou vítima decidir fazer valer os seus direitos tais como - alterar
testamento, reconhecer filhos, doar bens, etc. durante o periodo de agonia.
Neste caso o problema médico-legal surge quando um familiar contestar a
alteração/doação de bens, etc., alegando que o paciente ou a vítima no momento em
que fez valer os seus direitos não estava em plena posse das suas faculdades mentais,
estava privado do uso da razão ou dos sentidos, com uma pertubação mental aguda,
isto é, com transtorno mental transitório, devido a doença em estadio terminal ou
agónico. A
discussão médico-legal deve ser direccionada no sentido de se provar que o paciente
ou vítima ao fazer valer o seu direito estava consciente, em plena posse das suas
faculdades mentais, sem nenhuma perturbação ou transtorno mental agudo ou
transitório, e a prova deste facto, é a Notificação ou Atestado de um ou mais médicos
ou técnicos de saúde que assistiram o paciente/vítima e acompanharam o evoluir da
doença, até o existus ou a morte.
Na Notificação e/ou Atestado consta que o paciente/vítima estava consciente, em
plena posse das suas faculdades mentais sem nenhuma perturbação ou transtorno
mental agudo ou transitório no momento em que assinou com seu próprio punho as
alterações do testamento, doação de bens, etc.
Nos casos em que quando um dos quesitos colocados pelas Autoridades Judiciais ou
Policiais ao Perito Médico Legista for o de determinar o tempo de sobrevida da vítima
após o trauma/lesão, nas mais diversas situações como por exemplo após um acidente
39
de viação, para se determinar se o condutor omitiu ou não o socorro imediato da
vítima transportando-o logo para o hospital.
Os sinais anatomo-patológicos achados na autópsia determinarão quanto tempo de
sobrevida teve a vítima.
Morte Rápida ou Imediata: ocorre quando a morte ou a cessação das funções vitais não é
precidita por um periodo de agonia.
Esta situação acontece quando há lesão grave de uma função vital, por exemplo infarto
fulminante do coração, lesão dos centros nervosos superiores póst trauma, etc.
Morte Natural: é a morte ou cessação das funções vitais provocada por uma doença ou
enfermidade, ou ainda devido a idade avançada.
Morte Violenta: é a morte ou cessação das funções vitais provocada por causas externas.
Compreende os feticídios (abortos provocados), infanticídios, homicídios, suicídios e
acidentes.
Morte Súbita: é morte ou a cessação das funções vitais que ocorre num indivíduo
aparentemente são num curto período ou espaço de tempo.
Frequentemente nestes casos a causa básica de morte é natural e variam segundo a idade,
sexo e raça. As
causas básicas de morte mais frequentes registados no Serviço de Medicina Legal de Maputo
são: nos homens adultos infarto do miocardio, ruptura do aneurisma dissecante da aorta intra-
pericardica, etc. ; nas mulheres adultas ruptura de gravidez ectópica.
Importância Médico Legal:
Neste tipo de morte geralmente suspeita-se de um crime, a autópsia demonstra por
meio dos sinais anátomo-patológicos que a causa básica de morte é natural.
40
Sinais negativos ou abióticos imediatos: que são a perda da consciência, perda da
sensibilidade voluntária, perda da motilidade voluntária, cessação da respiração e
cessação da circulação.
Sinais negativos ou abióticos consecutivos:que são a perda da excitabilidade neuro-
muscular, evaporação dos tecidos, esfriamento, acidificação dos tecidos e líquidos,
livor e rigidez cadavérica.
Sinais Positivos ou Transformativos: são processos novos que ocorrem no cadáver, a
autólise dos tecidos e o processo putrefactivo, isto é, um complexo de actividade bioquímica
e biológica que leva a divisão da matéria orgânica em compostos moleculares cada vez
menos complexos.
45
Geralmente a excitabilidade dos músculos estriados diminui 5 horas após a morte,
desaparece entre 8 e10 horas.
A excitabilidade dos músculos lisos diminui gradualmente e só desaparece 2 a 3 dias
após a morte.
B- Sinais Positivos ou Transformativos:
Autolise:
É um conjunto de processos de decomposição ou fermentação anaeróbica que ocorre
no interior da célula produzidas por enzimas celulares.
É o mais precoce dos processos transformativos cadavéricos.
Do ponto de vista estrutural a autolise é uma necrose celular, semelhante a que ocorre
num vivo, quando um órgão sofre alterações isquémicas ou anóxicas.
As enzimas responsáveis pela autolise provêm dos lisossomas, com a morte a
permeabilidade da membrana destas organelas sofre um processo de deterioração,
permitindo a passagem das enzimas para o citoplasma, ocorrendo deste modo a
digestão ou destruição da própria célula.
Do ponto de vista bioquímico, a autolise é um processo de destruição molecular dos
elementos orgânicos existentes na célula devido a acção das enzimas celulares.
Borri, dividiu as enzimas que intervêm nestes fenómenos em dois grupos:
(1)- Hidrases, que são enzimas de hidratação-desidratação.
(2)- Óxido-reductases, que são enzimas de oxidação-redução.
Com o evoluir do processo as próprias enzimas auto destroem-se, terminando deste
modo o processo para ser substituído pela putrefação.
Putrefacção:
É um processo de decomposição ou fermentação pútrida de origem bacteriana, os
germes responsáveis desenvolvem-se na matéria orgânica e produzem enzimas que
actuam selectivamente sobre os princípios orgânicos - proteínas, lípidos e
carbohidratos, que conduzem a destruição do cadáver.
A intervenção de microorganismos no surgimento dos fenómenos pútridos, foram
evidenciados por Pauster, mas não se pode deixar de mencionar os estudos anteriores
feitos por Redi no século XVII, Spallanzani no século XVIII.
Numerosos são os gremes que intervêm neste processo, das quais se destacam a
Escherichia Coli; Bac. flurescens, B. cadaveris mesentericus, Cl. sporogenes, Cl.
putrificum, Cl. perfringens, etc.
Os germes responsáveis pela putrefacção podem vir directamente do exterior atráves
da boca, narinas e vias respiratórias, contudo o papel principal neste fenómeno é
desempenhado pelos germes saprófitas existentes no tracto intestinal, cuja flora é
relativamente fixa.
Estes germes não actuam ao mesmo tempo, existe uma sequência cronológica antes da
intervenção da “fauna cadavérica”, pequenos animais que ajudam a obra destes
microorganismos.
O processo de decomposição começa quando há ainda nos tecidos vida residual com
escasso oxigénio (O2), permitindo a acção de bactérias aeróbias (Bacilos subtilis, B.
fluorescens, Proteus vulgaris. B. coli), que consomem o O2 rapidamente, criando
condições para o desenvolvimento de germes aeróbios facultativos (B. putrificus coli,
B. liquefaciens magnus, Vibrio septicus), que acabam com todo o O2, permitindo a
intervenção dos anaeróbios que têm máxima acção desintegrativa (B. perfringes, B.
46
putridus gracilis, B. magnus anaeróbius, Clostridum sporogenes, etc).
O local onde há maior concentração de germes no tracto digestivo é o Cego localizado
na Fossa Ilíaca Direita, e segundo Romanese o Cl. Perfringes é o primeiro germe a se
desenvolver. Os
germes propagam-se através do tracto digestivo, penetram facilmente nos vasos
sanguíneos (artérias, veias e vasos linfáticos) do abdómen onde encontram ambiente
propicio para seu desenvolvimento, produzindo grandes quantidades de gases que
aumentam a pressão intra-abdominal dando lugar a uma circulação póst mortem de
Brouardel, os vasos sanguíneos disseminam os germes para todo o organismo -
período cromático.
A acção dos microorganismos consiste em degradar:
(1)- As substâncias proteicas em compostos mais simples - aminas até sua
constituição final em líquidos e gases - sulfureto de hidrogénio, amoníaco, etc.
(2)- Os carbohidratos são degradados até a produção de H2O (água) e anidrido
carbono. (3)-
Os lípidos são degradatos até sua formação em ácidos gordos inferiores e substâncias
voláteis. O cheiro
nauseabundo do cadáver deve-se a decomposição destes elementos orgânicos (aminas,
sulfureto de hidrogénio, amoníaco e dos ácidos gordos inferiores). Quando
ocorre a ruptura das bolhas enfisematosas e maceração da pele com posterior
descamação do extracto da epiderme, intrometem-se os germes aeróbios que provêm
do meio ambiente exterior, degradando o cadáver da superfície para a profundidade,
dando inicio a coliquação cadavérica que termina com a esqueletização.
47
parenquimatosos tornam-se esponjosos.
A face fica edemaciada com exoftalmia ou protusão dos globos oculares, edema dos
lábios e protusão da língua; os genitais masculinos ficam volumosos com inchaço do
escroto e erecção do pénis; o tórax e abdómen ficam distentidos com som timpânico a
percussão. O
cadáver fica com um aspecto gigantesco em posição de boxer com a circulação póst
mortem Brouardel ; a pressão dos gases nas ansas intestinais provoca na mulher
prolapso uterino, e se estiver grávida pode produzir um parto, chamado por muitos
autores como parto no caixão.
A epiderme espolia-se, nas mãos e pés pode ocorrer a sua separação total
assemelhando-se às luvas.
O periodo gasoso têm a duração de vários dias a um par de semanas, nos países
tropicais tem duração de um par de dias.
48
Factores que influenciam a evolução da putrefacção:
Este processo pode ser modificada ou influênciado por diversos factores individuais e do
meio ambiente.
Factores individuais: (1)-
Constituição física: nos individuos obesos o processo de decomposição é mais celere
que nos indivíduos magros. (2)-
Idade: a putrefacção é mais rápida em crianças e lenta nos idosos. (3)-
Causa de morte: a putrefacção é mais rápida e intensa nos casos de feridas graves ou
com extensas área de contusão, em doenças sépticas e mortes lentas agónicas, etc. É
mais lenta nas casos em que há grandes hemorragias, desidratação severa, após
tratamento prolongado com antibióticos, etc.
Factores ambientais:húmidade, calor, frio e arejamento.
Depende também se cadáver estiver exposto ao ar livre, enterrado no solo ou num
outro meio.
Citando Casper “ 1 semana de putrefacção ao ar livre equivale a 2 semanas na água
ou em terra”.
49
4º grupo: é atraída pela fermentação caseica ou albuminóide, é composta por moscas
Anthomia e Pyophila Casei, Coleópteros (Corynetes).
5º grupo: é atraida pela fermentação ou degradação amoniacal. Surgem os Dípteros do
género Tyreophora, Lonchea, Ophyra e Phora, os Coleópteros da familia Silfidos e do
género Uropoda, Trachimotus, etc.
6º grupo: absorve restos de liquidos deixados pelos grupos anteriores, dissecam até a
mumificação dos orgãos. São os Acarianos do género Uropoda, Trachimotus, etc.
7º grupo: aparecem só quando restam tecidos mumificados. São os
Coleópteros(Dermestes, Attagenus, Anthrenes) e os Leptopteros (Anglossa e Tineola).
8º grupo: é composto por duas especíes de insectos, Tenebrio e Ptirus, que consomem os
restos dos tecidos deixados por outras especíes.
Importância Médico Legal:
Permite o estudo da cronotanatodiagnóstico, ao estudar os insectos e larvas presentes
no cadáver que são levados para o Laboratório de Entomologia.
Com outros elementos recolhidos durante a investigação policial ou judicial,
associado aos sinais de morte que o cadáver apresenta permite a Identificação do
corpo e a determinação da data de morte.
Também pode ser estudado os fungos ou bolor que se encontra na superficie cutânea e nas
visceras do cadáver.
2- Mumificação:
É a dissecção do cadáver resultante da evaporação da água nos seus tecidos, levando a
que estes sofram transformações graças a qual permite a persistência do aspecto
exterior do corpo por um período mais ou menos prolongado.
O facto mais destacável é que este processo produz uma rápida dissecção do corpo, que
ao priva-lo de água impede o desenvolvimento dos germes, interrompendo deste modo
50
a evolução do processo putrefactivo.
A mumificação pode ser natural ou artificial, a que tem importância médico-legal é a
natural. A
Mumificação Natural inicia-se nas partes descobertas do corpo, tais como a face, mãos
e pés, extendo-se posteriormente para as restantes partes do cadáver incluindo os órgãos
internos. O corpo
inteiro diminui de volume, perde peso e pode ficar tenso e quebradiço. Se o
cadáver mumificado não estiver protegido pode ficar completamente reduzido a pó
devido a influência ambiental, mas se estiver protegido pode ficar preservado durante
muitos anos.
O processo de mumificação completo, leva 1 à 12 meses dependendo das condições
ambientais e do volume corporal.
51
Contudo é fácil diferenciar:
(1)- Múmias Recentes ou Pesadas correspondem aos cadáveres que tem períodos de
evolução ou de tempo de sua formação de meses, ou excepcionalmente de algumas
semanas, mas nunca a um período superior a 1 ano. Caracterizam-se por conservar
ainda o seu peso, apesar de ser inferior a de um cadáver fresco, persistência de tecidos
não dissecados por completo de consistência mais ou menos branda que foi chamado
por Derobert e Dervieux por mumificação incompleta.
(2)- Múmias não Recentes ou Ligeiras correspondem aos cadáveres que tem periodos
de evolução de vários anos ou decadas. (3)
Múmias Antigas ou Ligeirissímas correspondem aos cadáveres que tem periodos de
evolução de vários séculos.
Diagnóstico da causa da morte: este processo tem grande importância médico legal,
pois nos cadáveres mumificados pode-se reconhecer a causa da morte, em particular
nas mortes violentas, apesar de ter passado um algum período de tempo.
O cadáver mumificado pode conservar na pele e tecidos moles dissecados as
características das feridas, dos orifícios dos projecteis de arma de fogo, sulcos, etc.
As lesões viscerais traumáticas o seu diagnóstico anatomopatológico muitas das vezes
é dificil.
Identificação do cadáver: é possível visto que este fenómeno conserva as feições e
outros elementos de identificação.
3- Saponificação ou Adipocera:
É um processo transformativo do cadáver que conduz a formação de uma “carcaça de
gordura” untosa e viscosa em estado húmido, que depois seca quando exposto ao ar livre, e
adquire uma consistência dura, granulosa, de cor cinzento-esbranquiçado.
Este processo decorre do exterior para o interior do cadáver, pode ser parcial ou total,
sendo a saponificação total ou generalizada a que têm maior importância Médico Legal.
A saponificação foi descrita pela primeira vez por Fourcroy, nalguns cadáveres exumados
no Cemitério Inocentes de Paris.
A- Evolução:
Este processo inicia-se nas regiões do corpo onde há maior quantidade de tecido
adiposo, em particular nas nádegas e bochechas, e paulitanamente extende-se para o
tecido adiposo das restantes regiões do corpo até atingir todo tecido celular
subcutâneo.
Em relação aos órgãos internos, estes sofrem estas alterações, contudo inicialmente
têm uma evolução normal dos fenómenos putrfactivos.
Segundo Kratter, a saponificação só começa seis semanas após a morte, apesar existir
relatos descritos por vários autores de terem observado este fenómeno antes deste
período, facto por nós constatado em mais de dez exumações.
O inicio deste processo é sempre precedido de fenómenos macerativos e putrefactivos
de variável intensidade. A
Adipocera é uma substância de cor esbranquiçada, se tiver sido formada na água ou de
cor amarelada se tiver sido formada em terra húmida ou pantanos. Com
o decorrer do tempo é possível diferenciar a adipocera recente ou jovem da adipocera
velha ou não recente. A transformação de uma variedade para outra é muita lenta e
gradual, e, não é possível fixar um limite cronológico exacto. (1)-
52
Adipocera Recente ou Jovem: é untosa ou viscosa ao tacto, deixa-se modelar com os
dedos, ao corte se assemelha à um queijo amolecido. Tem pouco homogeneidade das
estruturas, permitindo deste modo distinguir ao corte ou microscopicamente, porções
de tecidos estranhos tais como músculos, tendões, etc bem reconhecíveis. (2)-
Adipocera não recente ou Velha: é dura, seca e parcialmente quebradiça ao se fazer
uma incisão,ao partir com as mãos desfaz-se como um queijo velho.
Microscopicamente apresenta uma estrutura homogénea assemelhando-se como um
retículo fibroso no seio de uma substância branca de aspecto gorduroso.
C- Mecanismo de formação:
A opinião generalizada de vários autores é de que a Adipocera forma-se após a
divisão das gorduras neutras do tecido adiposo em glicerina e ácidos livres. A
glicerina e os ácidos gordos líquidos dissolvem-se na água, e os ácidos gordos
superiores na ausência do oxigénio reagem com os iões de cácio, magnésio, sódio,
potássio e amónio presentes no meio liquido ou argiloso, difundindo-se depois para os
tegumentos. Não se exclue a intervenção de microorganismos presentes no meio onde
o cadáver se encontra.
4- Corificação:
É um processo conservador descrita pela primeira vez por Dalla Volta ao observar
cadáveres que tinham permanecido durante um período de tempo em caixões de cinzo.
53
É chamado de corificação devido as características que a pele destes cadáveres
apresentam, é uniforme em toda sua extensão, assemelhando-se a couro curtido
recentemente. Ao
exame o cadáver apresenta os tegumentos de cor cinzento amarelecido, consistente e
resistente ao corte, a pele está aderida ao esqueleto, o tecido celular subcutâneo, a
musculatura e vísceras estão reduzidas de volume, as articulações apresentam certa
mobilidade.
Este processo leva em média um ano para que esteja generalizado e no segundo ano a pele
adquire um aspecto metalizado com dissecção profunda de todos os tecidos.
A corificação permite a identificação do cadáver e o diagnóstico da causa de morte pelo
reconhecimento das lesões anátomo-patológicas.
7- DATA DA MORTE:
A data preside todas as actuações Médico Legais, pois em todos os actos Periciais é sempre
uma questão a resolver, visto ser importante fundamentar a data da fecundação, o tempo de
uma gestação, parto, tempo de sobrevida de um recém nascido, idade de um indivíduo vivo,
cronologia das lesões, etc; até aos problemas cronológicos que surgem após a morte.
Metodologia da Crono-Tanato-Diagnóstico:
Para se efectuar este género de estudo, é importante que classifiquemos os sinais segundo a
sua cronologia de aparecimento, dividindo assim em dois grandes grupos: data de morte em
cadáveres recentes (aqueles em que ainda não apareceram os fenómenos putrefactivos) e
data de morte em cadáveres antigos (aqueles em que o processo putrefactivo iniciou até a
fase de esqueletização).
I- Diagnóstico da data de morte em cadáveres recentes:
Pode-se fazer o diagnóstico baseando-se essencialmente em quatro tipos de sinais:
a)- Sinais paramédicos:
Na altura do levantamento cadavérico o perito pode demonstrar a sua capacidade de
bom observador e génio, ao basear-se numa serie de elementos que irá recolher para
melhor determinar a data da morte que qualquer técnica laboratorial - por exemplo
observando o estado em que se encontra o solo onde repousa o cadáver, se está seco e
o corpo húmido levará a concluir que o cadáver estava aí quando choveu, etc.
55
hemoglobina (Hb) no epitélio.
+ de 14 horas - não há palidez a pressão (fixação da mancha hipostática).
Esfriamento:
O esfriamento dos pés, mãos e face é perceptível 2 horas após a morte ao tacto; e nas
partes cobertas do corpo é perceptível ao tacto depois de 4 a 5 horas.
Por meio do termómetro pode-se estudar a curva do esfriamento, mediante a formula
de Glaister e Rentoul: Tempo póst morte = 36, 9 - temperatura rectal./0,8.
Actualmente existem fórmulas mais complexas das quais se destacam a de Marshall e
Hoare.
Rigidez cadavérica:
É um processo de contracção muscular por anaerobiose, governado por alterações
bioquímicas que afectam a ATP-ATPase, Ca/Mg, glucogénio, fosfo-creatina.
O estudo da evolução da rigidez cadavérica por meio da analise dos componentes
bioquímicos não fornecem elementos de avaliação para estimar a data da morte.
As etapas da rigidez cadavérica que fornecem elementos para estimar a data da morte
são: fase de inicio, generalização, restauração e lise.
Com base no esquema de Niderkorn a rigidez cadavérica:
Começa entre 2 a 4 horas após a morte. Está completa entre 6 a 8 horas após a morte.
Atinge sua máxima expressão 13 horas após a morte. Começa desaparecer à partir das
36 horas após a morte. A
rigidez cadavérica é um fenómeno bioquímico influenciado por factores endógenos e
exógenos segundo a Lei de Nysten.
Manifestações bioquímicas:
Também de grande importância Académica, foram estudados vários componentes
bioquímicos no cadáver tais como fósforo, potássio, etc.
Autópsia Virtual:
É feita com objectivo de estudar a causa de morte por meio de imageologia, usando
meios tecnológicos da última geração tais como a Ressonância Magnética Nuclerar ou
Tomografia Axial Computarizada.
57
Autópsia Clínica ou AnátomoPatológica:
É o estudo minucioso de um cadáver com o objectivo de:
(1)- Determinar ou confirmar a causa de morte de um processo mórbido já
diagnósticado, sua confirmação clínica.
(2)- Estudar as alterações anátomo-patológicas e histo-patológicas nos diversos orgãos
e tecidos provocados por um processo mórbido ou por sintomas funcionais.
Nas mortes naturais não há nenhuma regulamentação que dá permissão ou amparo
legal ao médico para a prática deste tipo de autópsia.
Em termos de Direito Médico é prática comum os hospitais exigerem aos familiares
ou representantes legais um termo de permissão, para que nos casos de morte dos
pacientes se possa realizar a autópsia clínica.
Se o médico proceder o exame sem permissão, pensamos que não há fundamentação
legal para imputar-lhe um crime, a não ser eventualmente a responsabilidade civil que
pode ser arguida. Por
imperativos da Ciência, há situações em que o médico tem dúvidas quanto ao
diagnóstico de morte, assiste-se nesta situação a necessidade do direito de necropsiar,
mesmo sem o consentimento da familia tendo em vista o interesse indiscutível da
ciência em contribuir para o bem estar colectivo.
Convém resalvar entretanto que este tipo de autópsia com fim diferente do
mencionado no paragrafo anterior, útil para estudo dos médicos e para ensino dos
estudantes de Medicina (no Departamento de Anatomia Humana da Faculdade de
Medicina), só podem ser efectuadas nas condições indicadas no parecer da
Procuradoria-Geral da República, publicada no Diário do Governo n.o 119, II série, de
19 de Maio de 1961 – que diz:
(1)- na falta de disposição deixada em vida pelo próprio, a autópsia para fins de
ensino ou de pesquisa cientifica nos hospitais universitários só é permitida, em face da
legislação vigente, nos cadáveres dos falecidos nos hospistais, asilos e casas de
assistência pública, que, dentro do prazo de doze horas, decorridas depois do
falecimento, não sejam reclamados pelas famílias para procederem ao seu
enterramento.
(2)- para o efeito, devem esses estabelecimementos dar conhecimento imediato do
falecimento às familias; etc..
59
Ferimento causa ocasional da morte- citando ainda o Prof. Azevedo Neves no livro guia
das autópsias, Lisboa 1930 “a afirmação de que um ferimento foi apenas causa occassional
demanda que se prove que elle não era sufficiente para, só por si, produzir a morte, e por
outro lado que havia circumstancias particulares no offendido e victima que fizeram com que
a offensa, que n’outros seria benigna, para elle se tornasse mortal”.
Achamos que é fundamental que o Perito tenha a capacidade de determinar se efectivamente
a lesão ou ferimento primário ou causa básica de morte provocou ou produziu enfermidade
mortal, e se houve ainda qualquer circunstância ocasional ou acidental idependente da
vontade do criminoso que foi a causa da morte, pois segundo as Instruções das autópsias os
Peritos são chamados a considerar e distinguir as concausas preexistentes das concausas
supervinientes.
Porque segundo o artigo 362º do Código Penal diz ”Se o ferimento ou espancamento ou
ofensa não mortal, nem agravou ou produziu enfermidade mortal, e se provar que alguma
circunstância acidental, indenpendente da vontande do criminoso, e que não era consequência
do seu facto, foi a causa da morte, não será pela circunstância da morte agravada a pena do
crime” e o artigo 350º do C.P. “ Será punido como tentativa de homicídio ou como delito
frustrado, segundo as circunstâncias, todo o ferimento, espancamento ou ofensa corporal,
feita com intenção de matar, nos casos em que a morte se não seguiu, ou se seguiu por efeito
de causa acidental, e que não era consequência do facto criminoso.”
Intenção de matar- animus necandi descrevemos mais adiante os elementos médico-legais
que caracterizam na avaliação qualitativa do crime de ofensas corporais, está transcrita no
artigo 350º do C.P., vem explicita nos artigos 349º e 355º do Código Penal que determina:
artigo 349º “Qualquer pessoa, que voluntáriamente matar outra, será punida com prisão maior
de dezasseis a vinte anos”, e o artigo 355º “Aquele que matar voluntáriamente seu pai ou
mãe, legítimos ou naturais, ou qualquer dos seus ascendentes legítimos, será punido, como
parricida, com pena de prisão maior de vinte a vinte e quatro anos”.
&1º - Se não houve premeditação, poderá ser atenuada a pena, provando-se a provocação, na
forma que se declara no artigo 375º.
&2º - Se houve premeditação, nenhuma circunstância poderá ser considerada para a
atenuação da pena do parricidio.
&3º - A tentativa do parricídio premeditado será punida com a pena de prisão maior de doze a
dezasseis anos”.
62
reconstituí-los, descrevendo o modo, o tempo e as causas por que se deu essa
alteração ou desaparecimento”.
Exame do Vestuário:
Estabelece
o Regulamento que os peritos podem requerer para examinar o fato ou roupa que
trazia vestido o individuo cujo cadáver vão autopsiar.
Se os peritos dirigirem ou presenciarem o levantamento cadavérico, devem começar
por atender ao estado de compustura ou desalinho da roupa, à relação entre a posição
do corpo e a situação de manchas (sangue ou de outro tipo ou género) ou de dobras do
vestuário; nos casos de morte por armas brancas ou de fogo, se os ferimentos
estiveram localizados em regiões habitualmente cobertas pela roupa, é necssário se
esta foi ou não interessada e, no caso negativo, procurar ver se teria sido
proposidatamente afastada ou se foi poupada por mera disposição casual, etc.
O exame do vestuário pode ser útil para a identificação de individuos desconhecidos.
Para facilitar a descrição de soluções de continuidade, manchas ou queimaduras nas
peças de vestuário, tipo, etc. a fotografia, filmagem é muito útil e deve ser realizada.
Muitas das vezes acontece que os cadáveres aparecem no Serviço de Medicina Legal
de Maputo sem a roupa ou peças de vestuário, que é recolhida pela familia ou pelas
autoridades policiais ou judiciais.
Sempre que o julgem conveniente, devem, pois os peritos requisitar ao juiz ou
autoridades competentes a roupa que o individuo trazia vestida na ocasião da morte,
indicando com precisão, a natureza do exame que se pretende.
No caso em apreço aquando da requisição da roupa pelos peritos na maioria dos casos
não é-lhes entregue ou se for vem já lavada, engomada ou remendada.
Nestas circunstâncias os peritos devem assinalar estes factos no relatório e pedir que
também fique exarado no auto.
Autópsia ou Necrópsia:
O estudo minucioso do cadáver com vista a determinar as causas de morte e as
circunstâncias em que ela ocorreu.
É uma operação de imediato interesse social, compreende a descrição dos sinais
relativos a identificação, sinais de morte ou dos fenómenos cadavéricos, peças de
vestuário que acompanham o corpo, exame do hábito externo em que se deve
descrever a constituição esquelética e estado nutricional, as lesões traumáticas ou
patológicas em cada região do corpo; exame do hábito interno com a descrição das
lesões traumáticas ou anátomo-patológicos encontradas em todas as regiões, visceras
e tecidos.
O tempo que se demora a efectuar uma autópsia médico-legal depende essencialmente
da causa básica da morte, da prática e destreza dos peritos e particularmente do
volume ou número de cadáveres ou casos por autopsiar, e no nosso Serviço de
Medicina Legal de Maputo devido ao número reduzido de peritos e volume de
trabalho não é possivel que se gaste em média duas horas por cada caso, tal como vem
referenciado na literatura.
Principais técnicas de autópsias:
Instrumental: para que uma necrópsia forense seja realizada, o perito deverá dispor
do seguinte material: (1)-
roupa completa da sala operatória: pijamas, batas, barretes, máscaras, óculos plásticos,
63
aventais plásticos, luvas cirúrgicas e luvas de borracha e botas de borracha.
(2)- material médico-cirúrgico com: cabos de bisturis, lâminas de bisturis, tesouras
longas de extremidades em ponta, tesouras longas de extremidades rombas, tesouras
curtas de extremidades em ponta, costótomos, pinças de dissecção, pinças de “dentes
de rato”, facas de vísceras, bisturi abotado, ruginas, serra electrica ou serra de lâminas
manuais, martelo, escopo, estiletes e tentacânulas, raquiótomo de Amussat.
(3)- balanças para órgãos, provetas, cálices e vidros de boca esmerilhada, réguas
métricas metálicas, paquimetro, aspirador, agulhas de sutura e linha crua, cepa de
madeira e mesinhas para corte e estudo das vísceras.
Técnica de autópsia: é um conjunto de procedimentos operatórios que tem como
objectivo facilitar a exteriorização e exame dos ógãos e tecidos que integram o corpo
humano ou organismo animal.
O Regulamento, que contém numerosos preceitos de técnica mas que é
manifestamente deficiente em muitos pontos, determina que “nos casos omissos
devem os peritos guiar-se pelos preceitos geralmente exarados nos livros autorizados
sobre a especialidade médico-legal”.
Ao longo da história, evolucionaram diferentes técnicas e métodos de autópsia, das
quais se destacam:
(1)- Método de Morgagni:é um procedimento clássico ou primitivo, descrito pelo
autor em 1761. (2)-
Método de Rokitansky (1842): da Escola Veneza de Anatomia Patológica, é o
primeiro método ordenado e completo de autópsia, que se fundamenta no exame e
dissecção in situ das vísceras.
(3)- Método de Gohn (1890): modificou a técnica de Rokitansky, introduzindo a
extração dos órgãos em bloco. (4)-
Método de Letulle (1900): introduziu a técnica de abertura das faces anteriores do
torax e do abdomen por meio de uma grande incisão oval, para conseguir uma visão
mais ampla do conjunto das vísceras. A extração das vísceras era em massa e seu
exame fora do cadáver. O
Professor Thoinot aperfeiçou este método. (5)-
Método de Virchow (1893): é a aplicação especifica dos métodos anteriores a prática
forense. Caracteriza-se pelo reconhecimento global das vísceras in situ e seu estudo
separado, uma vez extraídas do cadáver, descrevendo minuciosamente a técnica de
exame de cada uma das vísceras. Éo
método mais universalmente conhecido.
Exame do hábito externo: Se
nas autópsias anátomo-patológicas é importante o exame do hábito externo, muito
mais será nas autópsias médico-legais, onde esse exame assume um valor de mais alta
significação. Este
exame compreende a inspecção ou exame do conjunto e exame dos grandes
segmentos.
Exame do conjunto:
(1)-descreve-se os caracteres humanos somatoscópicos e somatométricos para a
identificação do cadáver tais como: sexo, idade aparente, grupo étnico-rácico, côr dos
cabelos, côr da íris, fómula dentária, anomalias, cicatrizes, tatuagens, sinais
profissionais, peso, altura ou estatura, impressões digitais, o biótipo ou constituição
esquelética e estado nutricional.
(2)- descreve-se os sinais de morte ou fenómenos cadavéricos.
64
(3)- descreve-se o vestuário e peças que aacompanham o cadáver.
Exame dos grandes segmentos:em seguida passa-se à descrição dos diversos
segmentos do corpo, na seguinte ordem: cabeça, pescoço, torax, abdomen, anus e
órgãos genitais, membros superiores e membros inferiores.
Cabeça: (1)-
descrevem-se as deformidades, ferimentos e o aspecto do couro cabeludo, precisando
o tipo de lesões traumátticas e as regiões anatômicas atingidas, e outras eventuais
alterações. (2)- na face
descreve-se todas as alterações nela encontradas e as respectivas regiões anatômicas.
Nos orificios naturais deve-es observar se delas fluem liquidos (qual a consistência e
tonalidade), se há objectos ou corpos estranhos a obstaculiza-los.
Pescoço: observa-se a sua mobilidade a fim de se evidenciar fracturas da coluna
cervical, examina-se toda a superficie do pescoço em busca de ferimentos, sulcos ou
quaisquer outros sinais de violência.
Torax: descreve-se devidamente a sua configuração, as lesões encontradas,
localizando-as nas diversas regiões e tomando pontos espeficos (mamilos e outros)
como de referência.
Abdomen: observa-se o seu grau de distensão ou depressão, as alterações e lesões
traumáticas, localizando-as nas diversas regiões anatómicas.
Anus e órgãos genitais:deve-se dar particular atenção nos casos de homicídios e
suicídios, examina-se o períneo em busca das alterações e lesões traumáticas; os
orgãos genitais externos maculinos o pénis e escroto a procura de lesões traumáticas
ou alterações patológicas; a vulva, vagina e hímen em busca de lesões traumáticas e
alterações patológicas; o anús a procura de lesões traumáticas e alterações patológicas;
caso seja necessário deve-se fazer a colheita de material ou secreções para exame
biológico forense.
Membros superiores e inferiores:descreve-se o tipo de lesões traumáticas,
deformidades ou mobilidade a fim de se evidenciar fracturas e outras alterações,
localizando-as nas diversas regiões anatômicas.
Exame do hábito interno:
Coloca-se o cadáver em decúbito dorsal com um cepo de madeira sob a nuca, a
cabeça numa das extremidades da mesa e os pés noutra.
Exame da cavidade craniana: faz-se uma incisão bimastoidea vertical, rebate-se para
trás e para dianteos retalhos do couro cabeludo, anotando as alterações da face interna
do couro cabeludo e dos muscúlos temporais ( por exemplo infiltrações
hemorrágicas). De seguida retira-se o periósteo
da calvária, rebatendo os musculos temporais e descreve-se as alterações da face
externa do crânio (fracturas, disjunções das suturas, etc.), serra-se a calvária em
sentido horizontal. Retirada a
calvária, descreve-se a tonalidade e consistência da dura-mater e, quando presentes as
coleções hemorrágicas (hematomas); corta-se a dura-mater rente ao corte da serra na
calvária, afastam-se para trás os polos frontais, seccionam-se a foice do cerebro, os
nervos e vasos da base do cerebro, a tenda do cerebelo e dentro do canal vertebral
corta-se a medula, retirando todo o bloco encefálico, a fim de ser examinado na mesa.
Descreve-se as alterações do espaço sub-dural, a transparência da pia-mater e da
aracnoide, os vasos do circulo arterial do cerebro.
Descola-se então a dura-mater da base do crânio, a fim de examinar detalhadamente
as estruturas ósseas, descrevendo as alterações da base do crânio (fracturas e outras
65
lesões).
Separa-se o cerebro dos outros elementos do encéfalo; abre-se os ventriculos laterais,
descrevendo a tonalidade do líquor e examina-se os núcleos de base. De seguida
usando a técnica de Virchow, faz-se vários cortes longitudinais nos hemisférios
cerebrais, anotando todas as lesões, a consistência, o aspecto e a tonalidade da massa
cerebral. Corta-
se o cerebro em duas metades na direcção dos pendúculos cerebelares e descreve-se as
alterações encontradas. E, finalmente faz-se vários cortes na ponte e bulbo,
procurando localizar infiltrados hemorrágicos.
Exame do pescoço e das cavidades toráxica e abdominal: com o cadáver colocado
em decúbito dorsal e as espáduas calçadas por um cepo de madeira de modo que a
cabeça fique pendende e o pescoço distendido, faz-se uma incisão mediana mento-
pubiana. Exame do pescoço: rebate-se a pele
e o tecido celular subcutâneo para um lado e para outro lado, examinando atentamente
as alterações (infiltrações hemorrágicas do tecido celular subcutâneo e da
musculatura, as rupturas musculares, etc.).
Secciona-se os músculos supra-hiódeos e disseca-se a lingua com o bloco visceral
constituido pela laringe, traqueia, glândula tireóide e esofago, pondo a descobertoas
arterias carótidas comuns, veias jugulares internas e os nervos vagos; e anota-se as
alterações que eventualmente existam no paquete vasculo-nervoso (sufusões
hemorrágicas na túnica externa da carótida, secção da túnica interna da carótida, etc.),
as lesões retrofaringeas (equimoses e outras).
Tomando o bloco, faz-se o exame externo da língua, abre-se em toda a extensão a
faringe e o esofago, descrevendo as alterações. O
exame do osso hióide têm importância nas mortes suspeitas de traumatismo cervical
ou asfixias mecânicas, disseca-se os tecidos moles até por a descoberto o osso.
A laringe deve ser aberta na linha mediana, expondo as cordas vocais, amplia-se a
incisão até a traqueia a fim de se descrever as alterações (fracturas, corpos estranhos,
liquidos, etc.).
Exame do torax e abdomen:a incisão mento-pubiana deve atingir o plano
aponeurótico do pescoço e torax alcançado a cavidade peritoneal.
Após a abertura da cavidade peritoneal, rebate-se todo o plano de estruturas moles do
torax para os lados, pondo a descoberto as cartilagens costais, desarticula-se as
claviculas com bisturi abotoado e retira-se o plastrão condro-esternal, deixando à
mostra os órgãos toraxicos.
Abertas as cavidades toraxicas e abdominal, aprecia-se as vísceras do abdomen, do
conteúdo peritoneal, o aspecto e consistência do peritoneu. Depois descreve-se as
condições do plastrão condro-esternal e das costelas, as cavidades pleuro-pulmonares
e seu conteúdo.
Descreve-se os pulmões nas cavidades, e retirando-os, examina-se a forma,
consistência, volume, aspecto e as lesões que proventura existam, e posteriormente
fazem-se incisões observando a tonaliadade de sua superficie de corte, e pela
expressão do órgão inteirar-se da existência de edema, sua natureza, seu aspecto e sua
consistência. Em
seguida abre-se os brônquios, observando o seu calibre e conteúdo, os vasos
pulmonares anotando se existem ou não coágulos no lúmen arterial.
O exame do coração, faz-se abrindo de inicio o pericardio analisando sua consistência
e contéudo; cortam-se os vasos da base do coração e examina-se o sangue do seu
66
interior; depois a grosso modo examina-se o volume, forma e consistência do coração,
abre-se o coração por meio de técnicas próprias (incisões auriculo-ventriculares) a fim
de se examinar o interior (a túnica íntima da aorta, os óstios das arterias coronárias, os
septos auriculo-ventriculares e suas valvulas, etc.), a espessura do miocardio e
eventuais alterações.
Na cavidade abdominal, antes de se reirar orgão por orgão, faz-se o exame do
conjunto. Geralmente o primeiro órgão a ser estudado é o figado, segue-se o
estômago, pâncreas, baço, jejuno-ileo e intestino, rins, bexiga, útero e ovários ou
prostáta. Também
pode-se fazer o exame dos orgãos, pela evisceração em bloco do complexo das
vísceras oro-cervico-toráco-abdomino-pélvicas seguindo o método de Rokitansky,
com algumas modificações; e sobre o complexo, efectua-se o estudo de cada estrutura,
usando a técnica apropriada a cada uma, extraem-se as medidas necessárias de cada e
das coleções existentes nas cavidades naturais.
Exame da cavidade vertebral: com o cadáver em decúbito ventral, sob dois cepos de
madeira, faz-se uma longa incisão mediana sobre os processos espinhosos, desde a
protuberância occipital até ao coccix.
Após a exposição do plano ósseo, rebatem-se para um e para outro lado a pele e tecido
celular subcutânea, retirando a massa muscular até pôr à descoberto as goteiras e
lâminas vertebrais.
Por meio de uma serra dupla de Luer ou raquítomo de Amussat ou de Brunetti,
secciona-se as l6aminas vertebrais de cada lado, expondo a superficie externa da dura-
mater, observa-se nessa altura todo o esqueleto ósseo vertebral e anota-se as alterações
(fracturas por exemplo). De
seguida abre-se a dura-mater, observa-se o líquor, seu aspecto, e palpa-se a medula em
toda a sua extensão, para sentir a consistência, e finalmente retira-se para seu estudo
na mesa, por meio de vários cortes transversais de bisturi em toda sua extensão,
descreve-se as alterações (hemato-mielia-traumática).
Exame das cavidades acessórias da cabeça: são sa cavidades orbitárias, as fossas
nasais, os ouvidos, os seios frontais, seios maxilares e seios esfenoidais.
O seu estudo é excepcional e usa-se as técincas e métodos de abordagem apropriadas
para tal. Importa
salientar que a autópsia médico-legal pode ser terminada pela abordagem músculo
esquelética no tronco e membros superiores e inferiores; excepcionalmente na face,
para pesquisa de lesões que externamente não são visiveis no hábito externo
(equimoses, rupturas musculares, fracturas, etc.).
Reconhecimento cadavérico :
É quando o perito decide não efectuar o exame do hábito interno porque o corpo
apresenta lesões traumáticas vitais no hábito externo que justificam a morte. Este
preceito vem estabelecido no n.o 2 do Artigo 6º do Decreto-Lei n.o 42 216, de 15 de
Abril de 1959, que “nos demais casos de morte violenta ou de causa ignorada
dispensar-se-á a autópsia desde que no processo instaurado nos termos do artigo 226º
do Código de Registo Civil não se levante a hipótese da existência de crime.”
Exumação:
É o desenterramento dum cadáver com a finalidade de atender as solicitações das
autoridades policiais ou judiciais para averiguar uma causa exacta da morte,
67
esclarecimento ou confirmação de um detalhe, identificação do corpo ou ainda
dependendo dos quesitos como por exemplo numa grave contradição das informações
constantes nos autos ou ainda a confirmação de um diagnóstico.
Também pode ser efectuado para atender às necessidades sanitárias ou familiares para
a transladação do corpo.
Procedimentos: (1)-
certificar junto da administração do cemitério a hora e data da realização do exame.
(2)- Convidar as autoridades policiais, familiares do decujo e testemunhas constantes
nos autos para efectuarem a identificação da sepultura.
(3)- Comfirmado a sepultara os peritos devem na presença das autoridades policiais e
judiciais começar o ditame para o escrivão com auxilio de fotográfias e filmagem.
(4)- O exame cadavérico é efectuado com a mesma técnica das necrópsias , descrever
com detalhes a sepultura, o caixão, o vestuário, aspecto do cadáver e evolução da
putrefação. Deve-se recolher um pouco da terra que se encontra sobre o caixão ou
sobre o cadáver, fragmentos do caixão e retalhos do vestuário para posterior exame,
em particular nos casos em que há suspeita de envenenamento.
69
IV- ANTROPOLOGIA FORENSE OU IDENTIFICAÇÃO
ANTROPOLÓGICA
1- Noções gerais:
O homem como ser social tem a capacidade de se adptar ao meio físico e ambiente
cultural onde se instala, estabelecendo padrões de comportamento social de reciprocidade,
aceitando ou rejeitando certos valores.
Etimológicamente Antropologia provem da expressão grega anthropos,logos, ia que
significa Ciência do homem.
Antropologia é a ciência que estuda o homem, a sua origem e evolução, os seus caracteres
físicos ou pisiquicos, as suas tendências sociais, as suas relações com o meio ambiente e se
preocupa igualmente das sociedades humanas e das práticas socialmente adquiridas e
transmitidas.
Antropologia é a ciência que estuda a evolução do homem sob aspecto físico e cultural,
preocupa-se com a sua origem, sua posição na escala zoológica e a compreensão acerca
dos diferentes grupos étnicos e sociedades.
Aristótles que viveu entre 383 a 322 A.C. designava de Antropólogos os filósofos que se
preocupavam com o estudo dos factos sociais e com a história natural, a expressão ou
vocábulo antropologia surgiu sómente no principio do sec. XVI em 1501 quando Magnus
Hundt publicou um livro com esse titulo.
Entretanto no sec. II, Galeno nascido em 129 d.C. realizou vários estudos sobre o homem
valendo-se dos símios, porque o cadáver humano era intocável. Mais tarde Vesalius no
sec. XVI criticou os trabalhos de Galeno, afirmando que o estudo comparativo era válido,
mas não se podia afirmar como análogo ao de ser humano, seus seguidores Sylvius,
Estáquio, Bertolin entre outros vieram confirmar estes factos.
A ciência antropológica pode ser dividida em Antropologia Cultural que se preocupa com
o estudo das sociedades e Antropologia Física que se preocupa com o estudo das
variações qualitativas e quantitativas dos caracteres humanos somatoscópicos (estuda as
variáveis qualitativas - cor da pele, cor dos olhos, etc); somatométricos (estuda variáveis
quantitativas – altura, medidas do cranio, etc ) e a hemogenética (grupos sanguineos,
DNA).
2- História da Identificação:
70
É muita antiga , no Código de Hamurabi, dos caldeus e babilônios havia referência na
forma de identificação dos criminosos com amputações de órgãos tais como orelhas, nariz,
dedos até vazamento dos olhos dependendo da infracção.
Em França antes da revolução era praxe ferrar os ladrões e vagabundos com uma flor-de-
lis no rosto e região escapular. Os criminosos primários eram marcados V e os reincidentes
com GAL (gallerien).
Com a humanização dos costumes, estas formas arbirárias e desumanas foram
desaparecendo. A ciência evolui e surgiram meios e recursos para uma estruturação
cientifica da identificação.
É inquestionável nos dias de hoje o valor e a importância da Identificação, maiores são as
exigências no que diz respeito a Identidade individual nas relações sociais, interesses
civis, administrativo, comercial e penal.
Acrescenta-se os imperativos de identificar cadáveres decompostos, restos cadavéricos,
esqueletos até mesmo peças osseas desarticuladas.
3- Conceitos:
Identidade:
É um conjunto de caracteres que individualiza uma pessoa ou coisa fazendo-a distinta das
demais.
Identidade Pessoal Absoluta – é a determinação integral da individualidade de uma
pessoa, isto é, são os elementos que o caracterizam.
Identidade Pessoal Relativa – é quando se estabelece únicamente algum caracter, alguma
condição ou peculiaridade que se relaciona com a pessoa.
Identidade Objectiva – é a que nos permite afirmar tecnicamente que determinada pessoa
ou coisa é ela mesma por apresentar um elenco de elementos positivos e perenes que a
distinguem das demais.
Identidade Subjectiva – é a sensação que cada individuo tem de que foi e será ele mesmo
ou seja, a consciência da sua própria identidade ou do seu “eu”.
Identificação:
É o processo pelo qual se determina a identidade de uma pessoa ou coisa, ou seja, é uma
diligência cuja finalidade é levantar a identidade.
É um conjunto de meios ou técnicas empregadas para que se obtenha uma identidade.
Identificação Médico Legal – é feita por médicos legistas ou biológos forenses. Exige-se
conhecimentos médicos, biológos e de outras ciências auxiliares empregando técnicas
médico-legais.
Identificação Policial ou Judicial – é feita por leigos em medicina, peritos em
identificação. A sua fundamentação reside no uso de elementos antropométricos e
antropológicos para a identidade civil e caracterização dos criminosos primários ou
reincidentes.
71
familiar ou pessoa que reconhece uma pessoa ou coisa nas Instituições Médico Legais deve
assinar um Têrmo de Reconhecimento.
Espécie: é fácil muitas das vezes fazer a identificação de um animal vivo ou morto
com configuração normal. Entretanto quando estamos perante fragmentos ou partes
do corpo de um animal, é necessário distinguir com restos humanos.
Este estudo deve considerar os seguintes elementos:
(1)- Ossos:a distinção entre os ossos de animais e do homem pode por:
- Estudo da Anatomia Comparada, descrição das caracteristicas morfologicas em
relação as dimensões e outros caracteres que os distingue.
– Estudo microscópico pela observação dos canais de Havers que são em menor
número e mais largos no homem, mais estreitos, redondos e mais numerosos nos
animais. –
Estudo Imunológico, por meio das reacções biológicas, usando as provas de
anafilaxia, fixação do complemento e soro-precipitação.
(2)- Sangue: quando estamos perante uma mancha é imprescindível determinar que
tipo de mancha se trata (sangue?, outra secreção orgânica? Ou produto quimico?).
Para determinar se se trata de uma mancha de sangue, recorre-se a um teste simples
para a pesquisa de Cristais de Teichmann .
Sendo positivo deve-se determinar a espécie por meio de: - Exame microscópico das
hemacias que tem forma e dimensão diferentes e a presença ou não de núcleos.
- Também pode-se efectuar exames biológicos, método mais seguro, provas de
anafilaxia, fixação de complemento e soro-precipitação.
Raça:
(1)- Tipos Étnico-Rácicos Fundamentais:Este estudo visa a descrição dos caracteres
biológicos qualitativos somatoscópicos dos diferentes grupos étnicos-racicos.
É importante realçar que não existe raça superior ou raça inferior, e que vários seculos
da história da humanidade e a globalização permitiram a miscisnagem e intercâmbio
cultural entre povos e grupos étnico-racicos.
De modo que muitos autores são unanimes em afirmar que não existe hoje raças
72
puras, mas grupos étnicos-rácicos que aparentam exteriormente caracteres biológicos
somatoscópicos que recordam os nossos ancestrais originários dos cinco continentes.
Segundo Ottolenghi existem cinco tipos étnico-rácicos fundamentais: Tipo Negróide
(pele negra), Tipo Caucasóide (pele branca), Tipo Mongolóide (pele amarela), Tipo
Indio ou Indiano (pele amarelo-trigueira) e Tipo Australóide ( pele trigueira).
A expressão “óide”provem do grego que significa “forma”, exprime a noção de
aspecto, forma.
(2)- Elementos de Caracterização Racial:Este estudo visa a descrição dos caracteres
biológicos qualitativos, sobretudos os caracteres biológicos somatométricos:
– Forma do crânio: descreve-se a semelhança geométrica que tem as formas dos
crânios vistas de cima para baixo, de diante para trás e lateralmente.
– Indice cefálico:descreve-se os caracteres somatométricos, com base na Fórmula de
Retzius: largura x 100/comprimento.
Obtem-se os seguintes tipos:
- Dolicocéfalos: índice igual ou inferior a 75.
- Mesaticéfalos: índice de 75 a 80.
- Braquicéfalos:índice superior a 80.
– Indice Tíbio-femoral: comprimento da tíbia x 100/comprimento do fémur.
– Índice Rádio-Humeral: comprimento do rádio x 100/comprimento do húmero.
– Ângulo Facial: o objectivo é determinar-se o prognatismo. Segundo Jacquart, o
ângulo de 76,5 é tipico dos caucasoides, ângulo de 72 tipico dos mongoloides e
ângulo de 70,3 tipico dos negróides.
Sexo:
O sexo é um dos elementos constituitivos da personalidade de um individuo, a ele
vem acoplado outros elementos de Identificação Judicial ou Policial.
A sua determinação não se baseia somente no sexo somático, tem em consideração os
caracteres genéticos, morfológicos ou anatómicos, hormonais ou glandulares,
psicológicos ou comportamentais e jurídico-legais.
(1)- Sexo Cromossómico ou Genético: é definido pela avaliação dos cromossomas
sexuais e pelo corpúsculo florescente. É do sexo masculino o que tiver 46XY e
corpos florescente, do sexo feminino o que tiver 46XX e não conter corpos
florescentes. (2)-
Sexo Gonádico: é definido como sendo do sexo masculino o portador de gónadas
masculino – os testículos, e do sexo feminino a portadora de gónadas femininas – os
ovários. (3)-
Sexo Cromatínico: é definido pela presença de corpúsculos de Barr presentes nos
nucléolos de celulas femininas. É do sexo feminino se for cromatínico positivo, e do
sexo masculino se for cromatínico negativo.
(4)- Sexo Genital Interno: é definido como sendo do sexo masculino se houver
desenvolvimento dos ductos de Wollf, e do sexo feminino se houver desenvolvimento
dos ductos de Múller.
(5)- Sexo Genital Externo ou Fenotípico: é definido como sendo do sexo masculino o
que tiver pênis e escroto com os testiculos presentes, e do sexo feminino o que tiver
vulva, vagina e desenvolvimento dos seios. É com este tipo de sexo que os recém-
nascidos são registados nas maternidades.
(6)- Sexo Jurídico: é o sexo com que se é registado no Registo Civil. Também é assim
designado quando as Autoridades Legais mandam que se registe um individuo num ou
73
noutro sexo, após suas convicções médico-legais, morais ou doutrinais.
(7)- Sexo de Identificação Psíquico ou de Identificação Comportamental ou Sexo
Moral:é definida pela identificação sexual que o individuo faz de si próprio e que se
reflecte no seu comportamento.
(8)- Sexo Médico Legal: é determinado após uma perícia médica nos portadores de
genitália dúbia ou estados inter-sexuais, quando solicitado pelas Autoridades Policiais
ou Judiciais por diversas razões.
A complexidade na determinação do sexo depende das circunstâncias.
Num ser normal, vivo ou morto recentemente a determinação do sexo é muitas vezes simples
pela descrição morfológica e anatómica do individuo.
Nos casos de sexo dúbio ou estados inter-sexuais a sua determinação implica o uso de meios
técnicos mais complexos como por exemplo a pesquisa de cromatina sexual,
cromossomas sexuais, etc.
Nos casos em que o cadáver apresenta-se em estado avançado de putrefação ou cadáver
mutilado deve-se abrir a cavidade abdominal verificar se este apresenta o útero ou próstata
para a determinação de sexo.
No esqueleto ou nos casos de peças ósseas a determinação do sexo faz-se principalmente
por estudo dos caracteres somatoscópicos e somatométricos dos ossos do crânio, do
torax e da pelve. Geralmente o esqueleto humano no seu conjunto num individuo do sexo
masculino é maior, mais resistente e com extremidades articulares maiores.
– Crânio: no homem o crânio tem maior capacidade que na mulher; as apófises
mastóideas são rugosas e mais proeminentes, na mulher pouco proeminentes; os
arcos superciliares são salientes, na mulher são suaves; os côndilos occipitais são
longos e delgados, na mulher são curtos e largos; a mandibula do homem pesa mais
que na mulher.
– Torax:no homem assemelha-se a um cone invertido, na mulher parece ser ovóide;
no homem há predominância da cintura escapular, na mulher predomina a cintura
pélvica.
–Pelve: é a estrutura óssea em que há maior diferenciação dos caracteres. No homem a
consistência ossea é mais forte, rugosa, há predominio das dimensões verticais em relação
as horizontais; na mulher o dimensões horizontais ou transversais predominam em
relação as verticais , e o ângulo sacro-vertebral é mais fechado e saliente.
Tabela de Ramírez
caracteres masculino Feminino
Em geral Rugosa, com inserções Lisa, com inserções
musculares marcadas pouco proeminentes
De coração Circular ou eliptico, mais
Forma (estreito superior) amplo
Íleon Alto Baixo
Articulação sacro-ilíaca Grande Pequena e mais oblíqua
Acetábulo Grande e dirigido para o Pequeno e dirigido
lado antero-lateralmente
Buraco obturador Grande e oval Pequeno e triangular
Corpo do púbis Triangular Quadrangular
Sínfise do púbis Alta Mais baixa
Ângulo subpubiano Estreito e em forma de V Ampla e em forma de U
74
Sacro Longo, estreito e pouco Curto, largo e
curvo, podendo ter mais marcadamente curvo em
de 5 segmentos S-1-2 e S-3-5, sempre
com 5 segmentos
Escavação pélvica É relativamente mais Mais obliqua e curta,
pequena mais espaçosa; mais
limitada entre as
tuberosidades isquiáticas
Idade:
Para a determinação da idade, deve-se considerar os seguintes métodos ou elementos:
(1)- Aparência: É fácil geralmente distinguir um recém-nascido de um jovem ou de
idoso. A maior dificuldade está em estabelecer diferenças por este método nas faixas
etárias transitórias, e a medida que a idade vai avançado mais dificil se torna. O valor
deste método somatoscópico ou elemento na determinação da idade é bastante
subjectivo. (2)-
Pele: Este método somatoscópico avalia o surgimento das rugas. Começam
geralmente entre os 25 e 30 anos de idade, nas imediações das comissuras externas
das pálbebras, depois surgem nas comissuras nasolabiais, pescoço e região frontal.
É importante realçar que há muitos factores que intervêm na sua génese, desde os
factores socio-economicos, doenças, tratamento da pele com cremes, cirúrgias
plásticas, etc., que tornam este método de insignificante importância para a
determinação da idade.
(3)- Pêlos:este método somatoscópico avalia o surgimento dos pêlos póst-puberdade.
No sexo feminino os pêlos pêlos púbicos surgem geralmente entre os 12 e 13 anos, os
axilares dois anos mais tarde. No individuos do sexo masculino os pelos pubianos e
axilares surgem entre 13 e 15 anos.
(4)- Globo Ocular: este método somatoscópico avalia o surgimento do arco senil que
é uma faixa acizentada na córnea, composto por colesterol, triglicéridos e fosfolípides.
Está presente em 20% dos individuos acima dos 40 anos de idade e em 100% dos
octagenários. (5)-
Marcha de Ossificação por meio radiológicos: este método somastoscópico avalia
desde o estado embrionário até aos trinta anos, em que começa a fase regressiva. Esta
evolução começa com a aparição dos núcleos de ossificação no feto, a transformação
do esqueleto cartilaginoso em ósseo, encerramento das fontanelas e o surgimento dos
núcleos de ossificação nas epifises. Depois na vida extra-uterina o crescimento
longitudinal dos ossos leva a soldadura das eifises com as diafises que ocorre aos
vinte e dois anos de idade, e até aos trinta ainda não há sinostosis das suturas craniais.
A partir dessa idade começa a fase regressiva com modificações nos ossos e
ossificação dos cartílagos. (a)-
encerramento das fontanelas: as laterais entre os três a quatro meses de vida; as
fontanela anterior fecha-se até ao décimo quinto mês.
(b)- núcleos de ossificação: tem grande valor no estudo da idade de seres vivos ou
cadáveres recentes, desde o nascimento até aos dezoito anos.
(c)- soldadura das epifises: este periodo vai dos dezasseis anos até aos vinte e dois. -
-- 17 anos soldam-se o olecraneo. Extremidade inferior do húmero, as três peças da
coxa na cavidade cotoloidea e extremidade superor do fémur.
-18 anos extremidade superior do rádio, cabeça do humero e extremidade inferior da
75
tibia. –
19 anos soldam-se cabeça do húmero, cabeça do fémur, extremidade inferior do
femur, extremidade superior e inferior da tibia.
– entre 19 a 22 anos é fundamental pesquisar a soldadura da cabeça do húmero que
está presente até aos vinte e dois anos.
(d)- apagamento das suturas cranianas: as sinostoses ou apagamento das suturas
cranianas na face interna e externa para a determinação da idade, sendo de maior
significância o apagamento na face externa que começam depois dos vinte e dois
anos. (6)-
Dentes: este método somatoscópico avalia o surgimento dos dentes, que tem uma
época própria para brotarem dependendo do tipo de dentição (primeira ou segunda).
Na prática a fórmula dentária de 16/16 presume-se que seja de um individuo superior
a 18 anos, a fórmula de 14/14 de um individuo maior de 14 e menor de 18 anos e a
fórmula de 12/12 de um individuo menor de 14 anos.
A determinação da idade também pode ser feita a partir do crescimento de cada dente,
desde a vida intra-uterina até aos 25 anos de idade através da cronologia da erupção
dentária decídua ou permanente.
– Primeira Dentição:
Dente Mínimo Máximo Médio
Incisivos centrais inferiores. 5 meses 12 meses 7 meses
Incisivos centrais superiores 6 meses 14 meses 9 meses
Incisivos laterais superiores 7 meses 18 meses 11 meses
Incisivos laterais inferiores 8 meses 19 meses 13 meses
Primeiros molares superiores 12 meses 26 meses 15 meses
Primeiros molares inferiores 12 meses 25 meses 17 meses
Caninos 16 meses 30 meses 22 meses
Segundos molares 18 meses 36 meses 26 meses
- Segunda dentição:
Dente Mínimo (anos) Máximo (anos) Médio (anos)
Primeiros grandes molares 5 8 5 e meio a 6
Incisivos centrais 6 10 6 e meio a 10
Incisivos laterais 7 12 8 a 8 e meio
Primeiros pré-molares 8 14 9 a 9 e meio
Segundos pré-molares 10 15 10 e meio a 11
Caninos 9 15 11
Segundos grandes molares 10 15 12
Terceiros grandes molares 15 28 18
Estatura:
Este método somatométrico é avaliado no vivo com o individuo em pé, na posição
vertical. No
cadáver obtem-se por meio de uma régua especial de madeira cujas hastes tocam no
ponto mais alto da cabeça e na face inferior do calcanhar.
Quando temos somente restos cadavéricos, a avaliação faz-se por meio dos ossos
76
longos dos membros em particular dos membros inferiores, utilizando a tábua
osteométrica de Broca, ou as tabelas de Etienne-Rollet, etc.
Malformações: É
um método de identificação somatoscópico, as malformações podem ser congénitas
ou adquiridas, tais como lábio leporino, consolidação viciosa de uma fractura, etc.
Sinais profissionais: É
um método de identificação somatoscópico, são estigmas ou marcas que ficam no
corpo ou regiões devido ao exercicio de uma actividade profissional rotineira que
perdura ao longo do tempo ou anos, como por exemplo calos nos dedos dos
sapateiros.
Biótipo: É
um método de identificação somatométrico, tem grande relevância para a psiquiatria.
Avalia as crianças em eutróficas ou distróficas, os adultos conforme o seu biótipo em
normolíneo, longíleno e brevíleneo, podendo ainda existir extremos como atlético e o
picnico.
Tatuagem: É
um método de identificação somatoscópico, a expressão provem do polinésio tão-tão
que significa tatuagem. Éa
inoculação intradermica de substâncias corantes ou escarificações na derme que é
tipico das tatuagens tradicionais.
As motivações da escolha do desenho e tipo pode ser das mais variadas, Ipso facto,
classificam-se em: tradicionais para amor, proteção, profissionais, afectivas,
patrióticas, etc.
Cicatrizes:
É um método de identificação somatoscópico, também serve para referir factos ou
estados patológicos anteriores.
As cicatrizes classificam-se em:
(1)- cicatrizes cirúrgicas: são produzidas por um tratamento médico-cirúrgico, por
exemplo após uma laparatomia.
(2)- cicatrizes patológicas:são produzidas após uma vacina tipo tuberculina ou devido
a uma doença por exemplo pós escabiose.
(3)- cicatrizes traumáticas:são produzidas por acção de um agente mecânico, físico,
após um trauma intencional ou não intencional, por agressão ou acidente de viação
por exemplo.
Odontologia Legal:
Os dentes constitue um elemento fundamental de identificação médico-legal, tem
grande valor devido a extraordinária capacidade de resistência que tem aos agentes
que acasionam destruição dos tecidos moles tais como: a putrefação, agentes
77
traumáticos, agentes físicos, agentes quimicos, etc.
Também pode-se afirmar que não há duas pessoas com a mesma dentadura, dada
grande variedade de caracteristicas pessoais ou individualizadoras que são
proporcionadas pelas peças dentárias.
Este método é de grande valia nos casos de catástrofes ou desastres naturais ou
provocados que causam a morte colectiva de muita gente com destruição dos
cadáveres, infelizmente frequente no nosso meio, tais como acidente ferroviário de
Tenga em 2002, acidente de viação envolvento os transportadores semicolectivos, etc;
em que os métodos habituais e simples não tem sucesso tais como impressões digitais,
traços fisionómicos, objectos pessoais, etc.
É um método de identificação somatoscópico, estuda as arcadas dentárias de um
individuo e compara com uma ficha dentária anterior fornecida pelo dentista ou
familia.
Importância Médico-Legal:
(1)- A ficha dentária é importante para a identificação dos cadáveres desconhecidos
isolados ou em vítimas de catástrofes ou acidentes de qualquer genero ou tipo.
(2)- O estudo das arcadas dentárias permite a determinação da especie, raça, sexo,
idade, altura do individuo.
a)- especie: estes diagnóstico diferencial surge quando aparecem dentes isolados,
geralmente é feito pelo estudo da anatomia comparada, descrição morfológica.
Os dentes humanos a coroa e a raiz estão no mesmo plano dando um aspecto
longitudinal recto ao contrário os dentes dos animais tem a raiz muito curva
produzindo assim uma angulação.
b)- raça: os dentes que apresentam maior diferenciação étnico-rácico sãos os molares,
existem três grupos descretivos: prognatas para o grupo de origem negroide;
ortognata para o grupo de origem caucasoide e primitivo para o grupo de origem
australoide. c)-
sexo: os dentes que permitem fazer essa diferenciação são os incisivos centrais
superiores, que são mais volumosos no homem.
d)- altura: existem formulas para o estudo da altura, idealizadas por Prof. Carrea,
outra de Bloise. É importante nos casos em que o cadáver está esquartejado e só
dispomos de dentes. A
determinação da idade foi referenciado na alínea para a identificação médico-legal da
idade.
(3)- O estudo das arcadas dentárias superiores e inferiores permite a identificação das
vítimas e dos autores nas lesões produzidas por mordeduras humanas.
A Federação Dentária Internacional sistematizou a numeração dos dentes
nb colocar os esquemas de classificação dos dentes.
Queiloscopia: É
um método de identificação somatoscópico, estuda os sulcos da estrutura anatômica
dos lábios. As impressões são feitas com a pintura dos lábios ou com batom comum
78
sobre um papel branco.
Foi descrito pela primeira vez por Lemoyne Snyder norte-americano e aperfeiçoado
pelo brasileiro Martin Santos. Não
é um método prático e comum para a identificação médico-legal, pela dificuldade em
classificar e modificações que as impressões labiais sofrem ao longo do tempo com o
decorrer da idade das pessoas. O
uso deste método é muito mais útil na investigação criminal, quando se confronta as
impressões lábiais recentes encontradas em objectos tais como copos, beatas de
cigarros, etc., ou em objectos empregues nos casos de sufocação directa tais como
almofadas, lenços, etc.
Processos Antigos:
(1)- O ferrete foi o primeiro processo a ser usado pelo homem. Consistia em marcar
as pessoas com um ferro em braça, em diversas regiões do corpo, tais como região
frontal, escapular, coxas, etc. Servia para identificar escravos na antiga babilônia e
punir os criminosos, e por cada infracção ferravam uma determinada letra.
(2)- Mutilações um processo que se baseava em amputar certas partes do corpo, tais
80
como orelhas, nariz, dedos e mãos, língua, castração, etc. Servia para identificar e
punir os criminosos, as regiões do corpo amputadas tinham a ver com o tipo de
infração.
Assinalamento Sucinto:
É o método de uso mais corrente actualmente. É o que se usa hoje nos Bilhetes de
Identidade, Passaportes, etc.
Consiste em anotar nesses documentos dados referentes ao nome, filiação, local de
nascimento, nacionalidade, estatura, raça, idade, cor dos olhos e cabelos, impressão
digital, etc.
Retrato Falado: É
um processo em que se usa a capacidade de memória das testemunhas ou vítimas, que
devem descrever minuciosamente as feições do individuo em causa.
Dantes utilizavam os préstimos de um desenhador, actualmente existem programas e
fichas no computador com vários modelos que tornam mais fácil e rápido a
caracterização fisionómica do criminoso.
7- Criminalistica:
É a ciência que estuda os indicios ou vestigios deixados no local do crime ou no de facto.
Graças a esses indicios é possivel estabelecer a identidade do criminoso e as circunstâncias
que concorreram para o facto delitivo.
O tipo ou a natureza desses indicios é variável, quando se faz a deslocação para o local de
facto é fundamental que a equipe seja multidisciplinar ou multisectorial, formado por médico
legistas, policias e peritos da criminalistica tais como dactiloscópistas, biológos, quimicos,
etc.
A Investigação Pericial de um indicio têm três fases:
(1)- busca na cena do crime; (2)-
recolha e envio para o laboratório. (3)-
exames analiticos e interpretação.
81
Regra de ouro na Investigação Criminal é a fotografia e os esquemas que devem preceder
qualquer avaliação.
Mancha: é toda a modificação da cor, todo género de sujidade ou ainda toda a adicção de
uma matéria estranha, visivel ou invisivel a olho nú.
Pode estar depositada na superficie do corpo humano, sobre instrumentos ou ainda sobre
objectos.
A origem ou provinência das manchas é variável, pode ser de um produto liquido, pastoso ou
mole e as vezez sólido.
O estudo das manchas permite estabelecer uma relação de intervenção ou participação de um
individuo ou coisa num facto criminoso ou dilectivo.
Metodologia do estudo das Manchas: para o estudo das manchas independentemente da sua
origem e tipo existe uma metodologia ou uma serie de provas:
(1)- Prova de Orientação:é feita no local de facto, o perito leva consigo um Kit para efectuar
provas que lhe permite diante de uma mancha com determinadas caracteriticas, orienta-lo
para saber se uma mancha é por exemplo de sangue ou mancha de produto quimico
(tinta),etc..
(2)- Prova de Certeza: pode ser feita também no local de facto ou no laboratório, para se ter
efectivamente a certeza que a suposta mancha é efectivamente mancha de sangue, pesquisa-se
os Cristais de Teichann ou semén por meio luz ultra violeta ou de Wood.
(3)- Prova de Especie: é feita no laboratório, com vista a determinar se a mancha é da especie
humana ou de outra especie usando as provas imunológicas ou microscópicas.
(4)- Prova de Individualidade:é feita no laboratório, onde se predente individualizar ou
identificar a quem pertence a mancha em apreço pela determinaçào dos grupos sanguineos,
HLA e DNA.
83
V- TRAUMATOLOGIA FORENSE OU MÉDICO-LEGAL
Traumatologia é o capitulo que estuda as lesões e estados patológicos, imediatos ou tardios,
produzidos por violência sobre o corpo humano.
Estuda o diagnóstico, prognóstico e as suas implicações legais e socio-económicas.
É um dos capitulos mais significativos da Medicina Legal, constituindo nos nossos Serviços
mais de dois terços das pericias.
Este capítulo também estuda as diversas modalidades de energias causadoras dos danos, que
são de diversa ordem alguns de influência ambiental. Temos energias de ordem mecânica,
energias de ordem física e energias de ordem quimica.
84
Incapacidade Fisiológica Permanente ou handcap pessoal: é definido como sendo o
atentado a uma ou várias funções orgânicas intelectuais ou físicas, provocando a diminuição
parcial ou total da performance do individuo na esfera física, intelectual ou mental como de
(compreender, pensar, julgar, convencer, agir, comunicar-se, deslocar-se, fazer uso das mãos,
etc.). Esta
definição exclui às repercusões profissionais que esse atentado pode eventualmente causar,
que é analisado em segundo tempo quando se faz a avaliação dos Danos não Patrimoniais.
Temos como alguns exemplos ilustrativos de incapacidade fisiológica:
(1)- amputação de vários dedos da mão: atentado a função de preensão.
(2)- problemas da memória (amnésia) e da atenção: atentado a função intelectual.
(3)- problemas de pensamento, de julgamento, do comportamento: atentado a função
psiquica. A
avaliação é feita de forma qualitativa (descrição da lesão) e de forma quantitativa por meio da
Tabela Internacional de Invalidez. A
incapacidade fisiológica permanente é expressa em percentagem, a regra de calculo foi
estabelecido recentemente a partir trabalhos orientados por Prof. Louis Melennec em Djerba
1978 e mais tarde em 1983 em Masson (Tabela Internacional de Invalidez pós Traumática).
As Regras ou Leis tem certos principios.
- 1ª Lei ou Principio: mesmo nos casos de enfermidades gravíssimas não existe em Direito
Comum a taxa de incapacidade fisiológica de 100%, que representaria a taxa máxima, a de
um individuo morto. O calculo deve ser feito seguindo a escala do Handcap, desde a
enfermidade mais benigna de 1% a mais grave de 99%.
Exempleficando se se atribuir a um paciente a taxa de 97%, isto quer dizer que a vítima
perdeu 97% da sua capacidade como pessoa, consequentemente sobra-lhe 3% da sua
capacidade fisiológica.
Taxa de Capacidade
Enfermidades ou Sequelas Incapacidade fisiológica
fisiológica restante
86
1º grupo – enfermidades ou sequelas ligeiras- critérios:
- os sinais funcionais se existem são pouco incomodativos,
intermitentes, não invalidam, é um simples desconforto, não
é um Handcap.
- o exame clínico geralmente é normal, se há alterações elas
são mínimas, pouco significativas funcionalmente (cicatrizes,
deformidades, etc.)
- o estado geral é normal.
- a capacidade geral de esforço é normal.
- a autonomia (física, intelectual e de se deslocar) é total.
- a vida privada, social e profissional é normal. 0 à 5% 95 à 100%
Exemplos:
- sistema nervoso central:sintomas banais tais como
cefaleias, ansiedade, insónias, etc.
- sistema nervoso periférico:dores intermitentes ligeiras,
localizadas, parestesias, etc.
- oftalmológico: alterações mínimas da acuidade visual, etc.
- otorrinolaringológia: anosmia parcial ou total, ligeira
diminuição da acuidade auditiva, etc.
- sistema cardiorespiratório: sintomas banais que invalidam,
tipo dores toraxicas, palpitações, hipertensão arterial ligeira,
etc.
- rins e baço:nefrectomia unilateral e esplenectomia total
sem sequelas, com excepção das cicatrizes.
- membros superiores e inferiores :atentados minimos da
função com sequelas de fracturas, entorses, luxações ou ainda
amputações distais não invalidantes como de das falanges
distais dos dedos das mãos ou amputações dos dedos dos pés.
- coluna vertebral:dores intermitentes da coluna nas
diferentes regiões.
87
2º grupo – enfermidades ou sequelas moderadas -
critérios:
- os sinais funcionais são mais incomodativos que os do
grupo anterior, e podem ser considerado uma invalidez ou
handcap.
- o exame pode ser normal, mas existem anomalias.
- o estado geral é normal. 5 à 15% 85 à 95%
- a capacidade de esforço é normal ou mais do que suficiente,
está apto para grandes esforços (longas marchas, subir
escadas, desportos, etc.).
- a autonomia é total.
- pode existir incomodos na vida privada e social, mas é
capaz de exercer a maioria das profissões.
Exemplos:
- sistema nervoso central:neuroses comuns pouco invalidante
que permite uma vida afectiva, inserção social e profissional
satisfactória.
- sistema nervoso periférico:dores intermitentes, paralisias
periféricas localizadas pouco invalidantes (levantar o pé,
etc.).
- oftalmologia:alteração da acuidade visual de 5 a 6/10 para
longe.
- otorrinolaringologia:anosmia total, diminuição da acuidade
auditivia que permite conversação a média voz, etc.
- sistema cardiorespiratório:dispneia para grandes esforços,
etc.
- membros superiores e inferiores:alterações que podem
levar a diminuição de ¼ da função resultantes das sequelas
das fracturas, luxações, entorses, amputações dos dedos da
mão, sequelas que permitem a marcha de alguns kilometros,
etc.
- coluna vertebral: dores na coluna com irradiações para os
membros.
-rins: insuficiência renal ligeira.
88
3º grupo enfermidades ou sequelas moderadas a grave -
critérios:
- o desconforto provocado pelos sintomas é nitido, e é
invalidante ou handcapante.
- o exame clínico revela uma anomalia patente.
- o estado geral geralmente é normal, pode exister certas
alterações como fadiga, emagrecimento, etc.
- a autonomia é total. 15 à 30% 70 à 80%
- a capacidade de esforço global pode ser normal ou com
alterações.
- a invalidez ou a sequela pode interditar para o exercicio de
certas profissiões.
Exemplos:
- sistema nervoso central:neuroses com sintomas e
sofrimento evidentes que permite uma inserção social e
profissional.
- sistema nervoso periférico:paralisias distais como por
exemplo do nervo ciatioco popliteo interno.
- oftalmologia:perda de um olho é 25%, redução significativa
da acuidade visual em ambos olhos, etc.
- otorrinolaringologia:diminuição da acuidade autidiva que
permite conversação em voz alta.
- sistema cardiorespiratório:doenças crónicas invalidantes,
com dispneia para pequenos a médios esforços, etc..
- membros superiores e inferiores:sequelas levam a redução
de um ¼ a 1/3 da função, exemplo amputações do polegar,
amputação de um pé, etc.
- coluna vertebral: dores crónica com irradiações
significativas.
89
4º grupo de enfermidades ou sequelas graves - critérios:
- os sintomas funcionais são invalidantes, é um handcap
evidente.
- o exame clínico demonstra grandes anomalias ou alterações.
- o estado geral pode estar normal (alteração da visão ou
audição) ou está alterado significativamente (fadiga,
emagrecimento, etc.).
- a capacidade global está alterada geralmente, está apto para 30 à 60 % 40 à 70%
médios esforços.
Exemplos:
- sistema nervoso central: neuroses com sintomas e
sofrimento maiores permitindo ao paciente ainda ter uma
vida profissional; psicoses bem equilibradas com o
tratamento, etc.
- sistema nervoso periférico: paralisias de um membro
superior ou inferior.
- oftalomologia:alterações da visão que ainda permite
deslocar-se sózinho (visão 2/10 num e noutro 1/20).
- otorrinolaringologia: surdez de um lado tem uma taxa 50%
por exemplo.
- sistema cardiorespiratório:dispneia para médios esforços,
etc.
- membros superiores e inferiores: por exemplo perda do
membro superior não dominante 50%, incapacidade de se
deslocar permite a marcha num perimetro entre 1Km e 100
metros.
90
5º grupo de enfermidades ou sequelas muito graves –
critérios:
- a vítima tem uma grande invalidez com sintomas muito
marcados.
- o exame clínico é anormal com invalidez bem evidentes.
- a capacidade de esforço está bem diminuida, podendo
necessitar de ajuda de terceiros para os actos essenciais da
vida corrente.
- o exercicio de uma profissão pode ser impossivel com - mais de Menos de
excepções para a cegueira bilateral ou paraplegia, etc. 60% 40%
- o estado geral pode estar conservado (insuficiência
coronária) ou alterado na maior parte dos casos (fadiga física,
intelectual, perda de apetite, etc.)
Exemplos:
- sistema nervoso central:psicoses crónicas alucinatórias,
esquizofrenias graves, etc..
- sistema nervoso periférico: paraplegias, etc..
- oftalmologia: cegueira total bilateral.
- sistema cardiorespiratório:doenças crónicas com dispneia
para pequenos esforços.
- membros superiores e inferiores:alterações funcionais
bilateralmente com a preensão dificil; paraplegias,
amputações de ambos membros, etc.
I- Danos Patrimoniais:
Uma parte dos danos patrimoniais não é calculada ou feita pelo perito, corresponde ao custo
de todo o tratamento médico-cirúrgico, psicológico, fisioterapêutico, de transporte, etc. que a
vítima se sujeita devido ao dano. Geralmente este cálculo é feito pela unidade sanitária.
Tempo de cura das lesões: avaliado em número de dias.
Incapacidade total para o trabalho: avaliado em número de dias.
Incapacidade parcial para o trabalho: avaliado em percentagem do tempo diário de
trabalho que a vítima deve dispender até completar o tempo de cura atribuido pelo
perito.
Incapacidade fisiológica: avaliada em percentagem acima descrita.
91
Prejuizo profissional: quando o dano ou sequela resulte em prejuizo
(impossibilitando ou incapacitando total ou parcialmente) às actividades habituais ou
profissionais da vítima.
Prejuizo de idade: este é avaliado para as idades extremas, à primeira e a terceira
idade, quando o dano ou sequela resulte em prejuízo (impossibilidade ou
incapacidade) da criança brincar (por exemplo correr, jogar, etc) como outras da
mesma idade.
Prejuizo de lazer: quando o dano ou sequela resulte em prejuízo para as actividades
não renumeráveis ou ao hobby à vítima.
Prejuizo obstétrico: quando o dano ou sequela resulte em prejuízo que impossibilite a
vítima de engravidar ou manter uma gravidez, por exemplo devido as lesões da parede
abdominal.
Prejuizo de vida de relação: quando o dano ou sequela resulte em lesão gravissimo
aos órgãos ou aparelhos de vida de relação.
Elementos Médico Legais Quantitativos: Com base nos artigos 359 e seguintes do
Código Penal os elementos quantitativos médico-legais que agravam o crime de
ofensas coporais, fazem parte dos Danos Patrimoniais da avaliação do Dano em
Direito Comum, e são: (1)-
Tempo de cura das lesões: segundo Luís Osório “ o réu só tem responsabilidade
criminal pelos resultados necessários da ofensa corporal.” É fácil definir o que é saúde
– segundo Organização Mundial da Saúde (O.M.S.) “saúde não significa só ausência
de doença, mas sim é um bem estar físico, social e económico”.
Do ponto de vista juridico Doença “é qualquer lesão no organismo que precisa de
cura”, entretanto Santana Rodrigues teceu a seguinte opinião em função do que vem
mencionado no art.360º do Códiogo Penal “Doença é o estado anátomo-fisiológico
anormal caracterizado pou um conjunto de sinais objectivos físicos ou psiquicos,
localizados ou generalizados.”
O perito deve ter a capacidade de avaliar a lesão e fazer o prognóstico a fim de
determinar em termos de dias quanto tempo demanda uma lesão para curar, que em
principio não deve coincider com o tempo de incapacidade total para o trabalho.
(2)- Incapacidade ou Impossibilidade Total para o Trabalho:segundo Dias Ferreira
“da-se a impossibildade de trabalhar desde que algum ou alguns dos órgãos do corpo
estão inabilitados para exercer o género de trabalho para que a sua respectiva
constituição os tornava próprios e com a perfeição compátivel com sua organização
natural e cultivada”. Esta
impossibilidade total para o trabalho é avaliada médico-legalmente em dias, e deve
ser uma Incapacidade real e efectiva para uma ou para toda a espécie de trabalho. D.
Leote considera que “ não é necessário que a impossibilidade legal de trabalhar uma
absoluta impossibilidade, mas basta que seja uma impossibilidade meramente
clínica”. E António Gil famoso penalista refere “se os peritos calculam a
impossibilidade de trabalho em 10 dias e que são precisos 20 de cura, é pela
impossibilidade de trabalho que se deve regular a pena, pois na cura de qualquer
enfermidade entra o tempo de convalescença que se não deve contar como
enfermidade senão produzir impossibilidade de trabalhar.”
(3)- Deformidade:segundo António Gil “alteração de forma que afeie e deturpe o
indivíduo no complexo do seu organismo.
Com base na Lei a deformidade classifica-se em deformidade pouco notável quando é
pouco aparente, e deformidade notável quando se nota à primeira vista.
A deformidade deve ser considerada em relação ùnicamente ao prejuízo estético e
portanto considerar a vítima nua, independentemente da região córporea atingida, da
idade, raça, sexo, profissão e condição social.
(4)- Cortamento:segundo Asdrúbal de Aguiar “é ablação parcial ou total dum órgão
95
ou membro por instrumento agressivo de gume. Sempre que o instrumento agressivo
não seja de gume não haverá cortamento”. Actualmente o conceito de ablação pode
perfeitamente ser substituido pelo de privação, visto que o fundamental não é o
instrumento com gume, mas o efeito ou consequência da lesão.
(5)- Privação: segundo o critério do Conselho Médico-Legal do Porto, privação “é a
ablação parcial ou total de membro ou órgão”.
A. de Aguiar definiu que a privação “é constituida por ablação parcial ou total dum
membro ou órgão por meio de qualquer instrumento agressivo”. A avalição médico-
legal deste elemento quantitativo do crime de ofensas corporais é de que a ablação
parcial ou total dum órgão ou membro não deve evoluir com a alteração funcional ou
potencial desse um órgão ou membro.
(6)- Aleijão: segundo o legista A. de Aguiar “é o defeito físico de um membro ou
órgão consistindo em alteração da sua forma normal ou da sua posição com
diminuição da sua potência funcional”.
Isto é, aleijão é ablação ou alteração parcial ou total de um órgão ou com membro
com prejuízo estético e funcional.
(6)- Inabilitação: é a alteração funcional, mais ou menos acentuada, do membro ou
órgão, sem modificação morfológica, isto é, alterção de um membro ou órgão de que
resulta prejuízo funcional sem prejuízo estético, por exemplo paralisias de membro.
Achamos que este elemento que vem comtemplado na Lei ser perfeitamente encoberto
ou implicito no elemento Aleijão, porque a paralisia de um membro altera
posteriormento a morfologia deste devido a atrofia ou desuso do membro.
(7)- Privação da razão:devido ao trauma há uma lesão cerebral e/ou encefálica com
uma psicoce traumática. Nós achamos que o diagnóstico desta sequela permanente
deve ser diagnosticada pelo psiquiatra e confirmada ou homologada posteriormente
pela comissão de psiquiatria forense.
(8)- Incapacidade ou Impossibilidade por toda a vida de trabalhar: a avaliação desta
sequela permanente deve considerada em relação ao trabalho em geral, pois a
avaliação do dano em direito comum. Segundo A. de Aguiar “o perito deve indicar a
impossibilidade perpétua de trabalhar relativamente ao trabalho e geral. O art. 361º do
Código Penal não alude às variedades de trabalho profissional e qualquer outro.”
100
gumes ou lâminas (punhal) e três gumes ou triangulares (lima).
As feridas corto-perfurantes tem as caracteristicas de uma ferida cortante na
superficie da pele com bordos rectilíneos e regulares, outra ferida perfurante
desenhando a forma e o tipo de instrumento utilizado.
101
- Armas de fogo semi-portácteis. (3)-
Armas de fogo não portácteis, as verdadeiras armas de guerra.
Modo de carregar: (1)- Antecarga, quando a munição é colocada no cano ou na
boca, parte anterior do cano. (2)-
Retrocarga, quando a munição é colocada no pente, no tambor ou na parte posterior
do cano.
Modo de percussão: (1)- o gatilho é percutido pela pederneia.
(2)- o gatilho é percutido por meio da espoleta que existe no ouvido.
(3)- o gatilho é percutido por meio da espoleta existente no estojo.
Quanto ao calibre: este tipo de classificação tem maior importância médico-legal.
Podem ser classificadas pelo peso e pela medida da extensão. A extensão ou
diâmetro dentro da boca do cano é usada para as armas raiadas, o calibre é dado em
milímetros classificação francesa, em centésimos de polegadas classificação
americana e milésimos de polegadas a inglesa.
2- A Munição:
A munição é composto por cinco partes.
Estojo ou Capsúla é um receptáculo de latão ou papelão prensado, cilindrico e
contem todos os elementos da munição.
Espoleta é a parte do cartucho que se destina a inflamar a carga. É constituida por
estifinato de chumbo, tetrazeno, nitrato de bário, trissulfeto de antimônio e alumínio.
Bucha é um disco de feltro, cartão, couro, borracha, cortiça ou metal dependendo do
fabricante, separa a pólvora do projectil.
Pólvora é a substância que explode pela combustão. Há pólvora negra, antiga e que
produz fumaça; e pólvora branca sem fumaça. Ambas produzem 800 a 900 cm
cúbicos de gases/grama. Geralmente à pólvora vem misturado carvão pulverizado,
enxofre e salitre.
Projéctil é um instrumento que actua como perfuro-contundente quando penetra no
organismo, de forma cilindrico-ogival, feito de chumbo ou revestido de níquel ou de
outra liga metálica. Os projecteis antigos tinham forma esférica, daí a designação de
bala.
3- Balística Forense.
Segundo Domingos Tochetto Balística Forense “é uma disciplina integrante da
Criminalística, estuda as armas de fogo, suas munições e efeitos dos tiros por elas
produzidos, quando o disparo for relacionado directa ou indirectamente as infrações
penais.”
A Balistica era anteriormente tratada na Medicina Legal, hoje constitue um capitulo
independente pertencendo a Criminalistica, como ciência autónoma e peritos
especializados nesta área devem falar dos seus efeitos explosivos, das armas de alta
energia, raios do cano,etc.
4- Lesões ou feridas produzidas por projécteis de armas de fogo.
Os ferimentos por projécteis de arma de fogo dão motivo, com frequência, a perícias
médico-legais.
Além do projéctil ou projécteis da boca do cano escapam os gases da explosão super-
aquecidos, a chama, a fumaça, os grânulos de pólvora incombusta e a bucha.
102
Estes elementos e a própria arma são importantes para a distinção das lesões ou ferimentos
produzidos pelos projécteis de arma de fogo.
Dum modo geral, os ferimentos ou lesões dos projécteis de arma de fogo compreendem:
orifício de entrada do projéctil; o trajecto ou canal de penetração do projéctil e orifíficio de
saída do projéctil.
105
E- Lesões por Agentes Dilacerantes:
São instrumentos que laceram os tecidos de forma irregular
Lesões produzidas por Calor: O calor pode produzir lesões ao actuar de forma
difusa ou directa. (1)-
Calor Difuso: os efeitos de altas temperaturas actuando no organismo de forma difusa
provoca dois sindromes: -a
insolução é resultado do excesso de calor ambiental em locais abertos ou fechados,
associado a factres intrinsicos tais como patologias cardiorespiratórias pre-existente,
estado fisiológico,etc. -a
intermação resulta de excesso de calor ambiental em lugares mal-arejados ou pouco
abertos, e a influência de factores intrinsicos tais como idade, alcoolismo, adptação
ambiental podem ser determinantes. Estas duas formas geralmente ocorrem de forma
acidental, e o diagnóstico é-nos dado pelos comemorativos é fornecido pelo boletim
meteorológico. (2)- Calor
Directo: a actuação do calor de forma directa no organismo produz queimaduras. As
queimaduras podem ser produzidas por diferentes tipos de agente desde os raios
solares ou ultra-violeta, liquidos fervescente, sólidos quentes, gases super-aquecidos,
calor irradiante e chamas. As lesões por queimaduras produzem alterações locais e
gerais, a gravidade depende da sua extensão e profundidade. As queimaduras podem
ser classificadas clínicamente e médico-legalmente. A Classificação
Clínica baseia-se em extensão da área corporal atingida, calculada em percentagem,
dá-nos a ideia da gravidade das lesões, usa-se a Regra dos Noves de Pulaski e
Tennisson. (colocar o desenho de um adulto).
A classificação Médico-Legal toma em consideração a profundidade das lesões, desde
a epiderme até ao osso (colocar o desenho). Segundo Hoffmann as queimaduras
106
classificam-se em quatro graus.
– 1º grau: a queimadura afecta a camada epidermica, é chamada de Eritema – sinal de
Christinson. Ocorre por exemplo após exposição aos raios solares. A pele conserva-se
integra, não há cicatrização, ocorre simplesmente a sua dispigmentação. O eritema é
um sinal importante de vitalidade da lesão.
– 2º grau: além do eritema, na pele observa-se flictenas ou vesículas que contém no
seu interior liquido amarelo-claro, seroso, rico em albuminas e cloretos – sinal de
Chambert. Atinge a camada dermica, e são muito dolorosas. Podem ser produzidas
por exemplo por um pingo de óleo ou liquido fervescente. Quando a flictena se
rompe, a derme fica desnuda, de cor escura, e pela acção do ar disseca-se e fica uma
rede capilar fina de aspecto apergaminhado.
– 3º grau: são queimaduras mais profundas, afectando as camadas hipodermicas e
musculares, produzindo coagulação necrótica dos tecidos moles. São geralmente
produzidas por chamas ou sólidos super-aquecidos. Os tecidos necróticos são
posteriormente substituidos por outros de granulação formando cicatrizes de segunda
intenção, que podem ser rectráteis ou formar queloides, chamadas de Escaras.
- 4º grau: são queimaduras mais destruitivas, atingindo o plano ósseo e chama-se de
carbonização. Geralmente este tipo de queimaduras são produzidas por chamas.
Quando há carbonização generalizada ou 100% da área corporal há uma redução
significativa do volume e peso do corpo, este assume a posição de boxer com
fracturas ósseas e abertura das cavidades. Nestes casos é importante determinar se a
queimadura foi vital ou não, que é nos dada pela presença de óxido de carbono no
sangue e fuligem ou negro de fumo nas vias respiratórias – sinal de Montalti.
As queimaduras podem ser de origem acidental que é forma mais frequente. Nos
casos registados no Serviço de Medicina Legal principalmente em crianças quer por
liquidos fervescente ou por chamas devido ao uso de Xipefo (candeeiro tradicional)
ou velas; de origem criminosa - ofensas corporais nestes casos é fundamental na
avaliação médico-legal verificar se as lesões puseram ou não em perigo a vida da
vítima, devendo o perito basear o seu diagnóstico em critério clínico (extensão da área
corporal atingida) e critério médico-legal (profundidade da lesão); suicídio por
chamas antecidida de emulação, são muito mais raros os casos de homicídio.
B- Electricidade:
A electricidade natural ou cósmica e a electricidade artificial ou industrial podem causar
lesões traumáticas de interesse médico-legal.
107
Lesões produzidas por electricidade natural ou cósmica: As lesões traumáticas
produzidas por energia electrica natural ou cósmica denomina-se de Fulguração ou
Fulminação. O diagnóstico da fulgaração deve ser por exclusão, baseado nos
comemorativos do dia anterior de mau tempo com trovoadas e relâmpagos e o exame
das lesões. O
seu interesse médico-legal é no âmbito do Direito Laboral - Acidentes de Trabalho e
Doença Profissional para os trabalhadores agrícolas e rurais; para o Direito
Constitucional pois é obrigação/dever do Estado/Municipios criar condições de
habitabilidade e segurança dos seus cidadãos/municipes implantando para-raios, para
evitar os efeitos de electricidade natural.
Os efeitos da energia electrica são de diversa ordem, porque não é possivel determinar
a intensidade da corrente. Por acção directa do raio pode causar queimaduras de vária
ordem até carbonização total do corpo, fracturas e lacerações dos órgãos, dos grandes
vasos, etc; por acção indirecta por súbita deselectrização pode causar morte por
inibição nervosa periférica ou paragem cardíaca, a vítima pode ser arremessada à
distância assim como a roupa e outros objectos metálicos, e sofre efeitos secundários
resultantes de traumatismos contra obstáculos fixos e morte.
Nas vítimas pode surgir um desenho arboriforme , fenomeno vasomotor – sinal de
Lichtenberg.Os sobreviventes podem ter perturbações de vária ordem desde mentais,
visuais, auditivas ou motoras.
108
C- Pressão Atmosférica, Radioactividade, Luz e Som:
Pressão Atmosférica: Tem interesse médico-legal no âmbito de Direito Laboral nos
casos de acidentes de trabalho e doenças profissionais. Achamos que estes casos
podem vir a ocorrer no nosso meio devido ao incremento do turismo, particularmente
os de aumento da pressão atmosférica nos mergulhadores. Este sindrome é chamado
o mal dos caixões ou barotraumas, caracterizado pela intoxicação por oxigénio,
nitrogénio e gás carbônico.
Radioactividade: A energia causadora do dano provem do raios x, no rádio e
energia atómica. Tem interesse médico-legal no âmbito de Direito Laboral (técnicos
de radiologia e outros) e em casos de responsabilidade médica.
Luz e Som: Essas formas de energia física pode comprometer os órgãos de sentido,
produzindo lesões e perturbações funcionais que implicam muitas das vezes perícias
médico-legais.
Luz- a acção intensiva dessa energia pode provocar alterações nos órgãos da visão,
formas ligeiras até as mais graves como cegueira. É uma das formas qualificativas de
prática de ofensas corporais seguidas de sevícias (tortura e maus tratos) praticado por
autoridades policiais ou de outro tipo de policia nos prisioneiros e detidos para obter
confissões, por perversidade, sadismo ou para satisfazer desejos incofessáveis,
projectando sobre os olhos das vítimas feixes luminosos de alta intensidade que
produz lesões irreversiveis no aparelho visual.
Som- tem relevância médico-legal no Direito Laboral nos casos de acidentes de
trabalho e doenças profissionais, em pessoas que permanecem sem devida proteção
em ambientes de grande poluição sonora devido a exposição única ou continua aos
ruidos, produzindo alterações no aparelho auditivo.
A identificação das substâncias cáusticas é feita pelo aspecto das lesões e por exames
quimicos para determinar se é uma substância ácida ou álcalis.
Em geral, a natureza juridica dessas lesões no nosso meio é por suicidio, sendo raros os casos
de homicidio e acidental. Entretanto existe uma figura juridica na nossa legislação como
sendo um elemento qualificativo de ofensas corporais a vitriolagem, que é o arremesso de
vitriolo ou acido sulfurico para a face da vítima.
109
VI- GRANDES (POLI) TRAUMATISMOS - MORTE
VIOLENTA ACIDENTAL , QUEDAS E PRECIPITAÇÕES
Este capitulo trata das vítimas politraumatizadas por diversos tipos de acidentes de meio
de transporte, de quedas e precipitações.
1- Acidentes de Viacção:
A - Epidemiologia:
Os acidentes de viacção ocupam actulmente um lugar de destaque na Medicina Forense,
devido aos problemas médicos de diagnóstico e prognóstico, juridico e sócio-
económicos colocados que para a sua resolução se exige a intervenção médico-legal.
Em termos de Saúde Pública segundo dados fornecidos pela OrganizaçãoMundial da
Saúde os acidentes de viacção causam anualmente em todo o mundo um grande número
de vítimas mortais estimado entre 800.000 a 1.18 milhões de pessoas. Isto prêfaz que
exista uma média diária de 3.242 mortes, sendo os continentes africanos e asiáticos os
mais afectados. Em 2002 os traumatismos provocados pelos acidentes de viacção
constituíram a quarta causa de morte entre os adultos em idade economicamente activa,
as vítimas com ferimentos e os com invalidez ou handcap para toda a vida rondam entre
20 a 50 milhões de pessoas. O
dia 17 de Agosto de 1896 ficou registado na história da humanidade devido a um
trágico acontecimento, porque morreu nesse dia a primeira vítima de acidente de
viacção tipo atropelamento em Londres, a senhora Bridget Driscoll, por imprudência do
110
motorista que predentia atrair para si as atenções de uma moça.
Face a esta tragédia mundial a Organização Mundial da Saúde, que é uma Agência
especializada das Nações Unidas que trata dos problemas mundiais sobre a saúde,
decidiu que neste ano o 7 de Abril Dia Mundial da Saúde, o lema seria a Problemática
dos Acidentes de Viacção e a Saúde Pública. Na Africa, segundo dados disponíveis os
traumatismos resultantes dos acidentes de viacção são estimados em 28.3% por cada
cem mil habitantes, e as previsões para os próximos sete anos são preocupantes com o
aumento de 80%, enquanto que nos países desenvolvidos há previsão de uma redução
de 29%. Confrontado
com estes dados foi efectuado um apelo aos Estados Membros no sentido de
conceberem estratégias e planos de acção de segurança rodoviária para a diminuição da
taxa de sinistralidade nos países africanos, e em Moçambique o slogan escolhido pelo
grupo multisectorial foi “Pela Segurança Rodoviária: Evite o Acidente”.
No nosso país, segundo dados publicados sem descriminar a zona e região do país pelo
Instituto Nacional de Viacção (INAV) referente ao ano 2003 houve 5402 acidentes de
viacção e que estes causaram a morte de 1123 pessoas.
Estudo efectuado pelo autor, A. Zacarias et all em 2001, sobre “As causas de morte
registados no Serviço de Medicina Legal do Hospital Central de Maputo, no período
compreendido entre Janeiro de 1991 a Dezembro de 2000 do total de 15.101 autópsias
realizadas, 6.421 (42,5%) dos casos a causa básica de morte deveu-se aos acidentes de
viação, os grupo etários etários mais atingidos por um lado foram entre 21 a 45 anos de
idade totalizando 46%; e por outro crianças do grupo etário entre os 6 a 14 anos de
idade que prefazem 17%.
111
Com objectivo de diminuir as altas taxas de morbi-mortalidade por acidentes de viacção,
muitos países utilizaram várias estratégias, desde o estudo das causas e organização dos
sistemas de saúde para dar respostas eficazes ao aumento da demanda.
Uma das medidas que provou ser eficaz foi a melhoria de organização dos primeiros
socorros às vítimas de acidente de viacção, tais como serviço de ambulância 24/24 horas
com o pessoal devidamente treinado e articulado com os serviços de urgência com equipes
preparadas para a receptação das vítimas, etc.. Estas medidas e outras levaram a uma
diminuição drástica da taxa de mortalidade por acidentes de viação nesses paises.
C- Causas:
Vários estudos permitiram determinar que a maior parte das lesões traumáticas que se
observa nas vítimas mortais e não mortais dos acidentes de viacção são produzidas por
agentes ou instrumentos contundentes ou actuando como tal.
Para que se delinea politicas para prevenção eficaz dos acidentes de viacção e
consequentemente uma diminuição drástica da taxa de morbi-mortalidade é fundamental
que as diferentes Instituções intervenientes tais como o Instituto Nacional de Viacção, a
Policia de Trânsito, Ministério da Saúde, Município, Escolas Autos de Aprendizagem,
Companhias de Seguro e Associação do Transportadores Semi-colectivo e de Taxi se
consciençalizem de que todos devem falar a mesma linguagem, porque as diferentes
causas técnicas e causas individuais são conhecidas, foram estudas e tomadas medidas de
modo a eliminar como desencadeadores dos acidentes de viação em muitos países de
mundo com sucesso.
É nossa convicção de que se a vontade politica existisse teríamos uma redução
significativa das taxas de morbi-mortalidade dos acidentes de viacção, para tal é
importante que se faça um estudo minucioso das causas e dos factores susceptiveis que
intervêm na sua determinação. Recordamos que existem vários despositivos legais
(decretos e diplomas ministeriais) que devidamente implementados iriam concorrer para
esse fim, diminuição das altas taxas de sinistralidade rodoviária no nosso país. Há a
destacar:
Decreto Lei 5/93 que cria o Instituto Nacional de Viacção (I.N.A.V.), que é uma
instituição técnico-científica, subordinada ao Ministério dos Transportes e
Comunicações, que possui um Conselho Técnico Cientifico composto por
directores adjuntos do INAV, Chefes de Departamento e Representantes do
Ministério do Interior, Ministério das Obras Públicas e Habitação, Ministério da
Justiça, Ministério do Plano e Finanças, Ministério da Saúde, Ministério da
Educação, Ministério da Defesa Nacional e Ministério da Industria e Energia.
Decreto Lei 6/96 que cria o Conselho Nacional der Viacção, orgão consultivo e de
coodernação de toda politica e sistema nacional de trânsito e viacção. Estabelece
como figura fundamental desse órgão o Ministro dos Transportes e Comunicações
que preside, tem como vice-presidente o Ministro do Interior e outros membros são
os Ministros das Obras Públicas e Habitação, da Justiça, do Plano e Finanças, da
Saúde, da Educação e da Defesa Nacional.
Decreto Lei 17/93 que agrava as multas e torna obrigatório o uso de cinto de
segurança e dos capacetes de protecção.
112
Decreto Lei 39/99 que uniformiza as regras de trânsito em uso no território
nacional com as regras em vigornos países membros da Comunidade da Africa
Austral (SADC).
Diploma Ministerial 56/2003 que regulamenta as inspecções períodicas
obrigatórias nos veículos automóveis e reboques.
Diploma Ministerial 112/2003 que regulamenta o uso de alcoolímetros para o
controlo do grau de alcoolémia nos condutores dos veículos automóveis.
1- Factores técnicos:
Numerosos artigos e dados estatisticos relativo as causas de acidentes de viacção dão grande
importância aos factores técnicos como sendo importante para a prevenção e diminuição das
taxas de incidência e de prevalência de morbi-mortalidade dos acidentes de viacção. Os
factores técnicos sobejamente estudados em vários países são Estado das Rodovias e Estado
dos Veículos.
a) Estado das Rodovias:
Curvas/cruzamentos: vários estudos feitos em paises industrializados e do 2º mundo
na década 60 demonstraram que 25% de todos os acidentes ocorriam nas curvas e
cruzamentos, e que também 50% dos acidentes mortais nas cidades e 10 a 15% nas
zonas rurais. Estando
provado estatisticamente nestes estudos, achamos que tal como ocorreu nestes países é
importante e fundamental que as instituições de direito tais como o Instituto Nacional
de Viacção, Municipios devem colocar a devida sinalização nas rodovias a assinalar a
aproximidade das curvas e cruzamentos, colocação de semafóros para o controle do
tráfico nestes locais afim de prevenir e diminuir os altos índices de acidentes de
viacção. Este é
obviamente um factor técnico que contribui de forma significativa para altas taxas de
incidência dos acidentes de viação em Moçambique em geral e em particular ao nível
da cidade de Maputo por existirem poucos sinais para advertir os motoristas da
proximidade das curvas e cruzamentso, e dos e semafóros para o controle do tráfico.
Inclinação ou declive das rodovias: este é um dos factores técnicos de grande valia,
que os administradores das auto/estradas municipais, regionais, provinciais e
nacionais devem ter em consideração, colocando sinais apropiadas para que os utentes
saibam qual é o nível de declive da rodovia a fim de diminuir a velocidade dos
veiculos, estabelecendo a velocidade máxima.
Revestimento da via: achamos de que este factor técnico é um dos que influenciam
para o aumento alarmente da taxa de incidência e prevalência dos acidentes de
viacção no nosso país.
Vários estudos demonstraram que quanto maior for a qualidade das rodovias maior é a
segurança rodovária. Todos conhecemos a qualidade das estradas do nossos país e em
que estado elas se encontram, não cabendo ao autor tecer opinião técnica em relação a
esta questão por não ser perito e especialista da área, contudo não podemos deixar de
mencionar de que a maior parte da estradas urbanas, rurais, interurbanas, regionais e
nacionais encontram-se em péssimo estado de conservação, em particular as da cidade
de Maputo que praticamente muitas delas já não têm asfalto só buracos e crateras que
além de danificar os veículos, não oferecem nenhuma segurança, pois os motoristas
113
são forçados a fazer gincanas, violando muitas das vezes o código de estrada para
puderem continuar o percurso.
Obscuridade: este factor técnico é também um dos que contribuem para os altos
índices de acidentes de viação no nosso país, tanto nas rodovias urbanas, interurbanas,
regionais e nacionais, porque associado ao mau estado de revestimento das vias, falta
de sinalização a obscuridade dificulta ainda mais a transibilidade e escoamento do
trafego, por isso muitos motoristas acendem as luzes no máximo e encandeiam os
outros motoristas.
Com esta abordagem dos factores técnicos – estado das rodovias podemos concluir de que se
o estado não assume o seu papel de regulador, investidor (promotor) e de inspecção para
estabelecer parametros em relação as qualidades das estradas, sinalização e regulamentação
sobre limites de velocidade a segurança nas vias rodoviárias está em causa.
b)- Estado dos Veículos:
É nestes factores técnicos que nós achamos de que a intervenção do estado (instituições que
existem para a inspecção e fscalização, tais como INAV, Policia de Trânsito) é fundamental
tanto na supervisão, regulamentação e fiscalização do estado dos veículos; além naturalmente
consciencialização – educação civica e da cidadania, dos proprietários dos veículos para que
façam a manutenção e revisão periodica dos mesmos.
Dentre estes factores destacamos os seguintes:
Estado dos pnuemáticos: os pneumáticos devem estar em boas condições para uma
boa segurança rodoviária, pois estes bem conservados permitem que em situação de
emergência a travagem brusca ocorra com sucesso quer o pavimento esteja ou não
escorregadio. Se
os pneumáticos não estiverem em boas condições, associado ao mau estado das
rodovias a probalidade de a travagem sem sucesso é grande e de o veiculo por
rebentamento do pneu com despiste e capotamento ocorrer também é, com
subsequente acidente.
114
antemão de que o estado dos seus veículo circulantes não oferecem a minima
segurança.
2- Factores Individuais:
Este é o factor fundamental na génese dos acidentes de viacção, pois trata o factor
humano, individual ou pessoal e o colectivo para o tratamento e melhoria da segurança
rodoviária.
Factores pessoais: este é factor determinante na génese dos acidentes de viação.
Devemos considerar vários aspectos ou factores das quais destacamos:
(1)- formação do motorista ou condutor: deve-se com base no que observamos nas
nossas estradas tirar as ilações pertinentes, pois podemos fazer uma lista interminável
dos erros praticados pelos condutores desde excesso de velocidade, não observância
das prioridades, falta de atenção, mudança de direcção sem precausão etc; que
demonstram que a formação da pessoa humana é importante sobretudo o papel das
instituições públicas (INAV) no controlo das escolas autos encarregues da formação,
o papel da policia de trânsito que fiscaliza a conduta dos infractores no sentido de
educá-los, puni-los devidamente e mandá-los para reciclagem se necessário.
(2)- vários estudos efectuados nos E.U.A., França e outros países ao tentar verificar a
génese em relação aos vários factores tais como idade, sexo e experiência do condutor
demonstraram que um dos factores de risco é a idade, independentemente do sexo e
hora da condução, revelando de novo a necessiade de os novatos ter que circular com
uma chapa para revelar que são novatos e que tem pouca prática.
Dia Noite
SEXO MASCULINO FEMININO MASCULINO FEMININO
Menos de 25 anos 1,25 1,25 1,65 1,50
30-35 anos 0,90 1,05 0,95 0,90
60-65 anos 1,2 1,80 1,3 1,75
65-70 anos 1,4 2,10 1,5 -
Mais de 70 anos 1 2,40 2
França (1962)
(3)- educação de outros utentes das rodovias sobretudo os peões que devem ter noções de
onde e quando devem atravessar as estradas, os passageiros dos semi-colectivos que devem
obedecer os locais destinados a paragem dos mini-bus, a lotação dos mesmos, etc.
115
Aptidão psicoténica: este factor individual é fundamental principalmente para fazer
cumprir o que está previsto na lei para os motoristas de cartas profissionais, os de
longo curso e os de transporte público e semi-colectivo que devem fazer os testes
psicoténicos, facto que nós constatamos que ao nivel das cidades, estradas nacionais e
regionais estes utentes não possuem esta genéro de carta de condução, aumentando o
risco para a insegurança rodoviária.
Aptidão física: achamos que este factor deve ser periodicamente renovado em função
do perfil epidemiológico da população, implicando uma articulaçào institucional entre
o Ministério da Saúde e o INAV. Existe uma tabela que universal para uma serie de
patologias ou incapacidades físicas incompativeis para o obtenção ou renovação das
cartas de condução.
3- Factores Exógenos:
O factor exógeno na aumento do risco de insegurança rodoviária e não só, está mais do que
demonstrado em vários estudos, dos quais se destacam o uso e abuso do alcool e/ou associado
a outras drogas psiotrópicas.
Entretanto devemos realçar que no nosso país este factor é importante, por isso devemos
incentivar as autoridades públicas para a criação dos mecanismos de controlo das taxas de
alcoometria segundo o Diploma Ministerial 112/2003, e pesquisa de outras drogas
psicotrópicas às vítimas de acidentes de viacção (motoristas e passageiros) e nas outros tipos
de mortes violentas.
Existem diferentes tipos de acidentes de viacção: atropelamento, colisão entre duas viaturas –
frontal, lateral, por de trás, contra obstáculos fixos, etc, despiste com posterior capotamento,
etc.
B- Atropelamento:
Atroplelamento é definido como sendo um complexo de violência contusiva directa ou
indirectamente exercida por um veículo motos acima de 50cc sobre um peão ou um ciclista.
No atropelamento existem cinco fases: choque, projeção e queda, propulsão, esmagamento e
de arrastamento.
É fundamental que o perito saiba determinar na vítima quais são as diferentes lesões e em que
fases elas foram produzidas, para efectuar a reconstituição do facto ou do acidente a fim de se
apurar as responsabilidades.
Fases:
1ª fase – Choque: ocorre quando o veículo motor entra em contacto com o corpo da
vítima. Nesta
fase as lesões típicas são as de estampa ou de marca (por exemplo do parachoque),
116
produzindo dependendo da altura do veículo e do peão, equimoses na região lombar
ou nas coxas com ou sem fractura óssea. Esta fase é
importante para estabelecer a posição inicial da vítima no momento do embate, na
reconstituição do acidente. Nos cadáveres
a pesquisa destas lesões deve ser feita por meio da disseção músculo-esquelética.
2ª fase – Projecção e queda: após o choque o corpo é projectado para o ar ou para
diante com posterior queda sobre o veículo no capôo que é por exemplo típico nos
atropelamentos dos ciclistas, ao lado ou diante do veículo. As
lesões observadas são as de queda com fracturas ósseas como por exemplo resultante
do embate da cabeça contra o solo, embate nos membros superiores quando a vítima
tenta amortecer a queda extende os membros para diante com fracturas ao nivel da
cintura escapular, etc.
3ª fase – Propulsão: o corpo é expelido para diante, acção de empurrão e de rolar
exercida pelo veículo sobre o corpo deitado no chão.
As lesões típicas são as escorições bipolares nas partes descobertas e eminências do
corpo de direcção contrária por exemplo nas regiões deltoideas, trocanterianas,
maleolares, etc.
4ª fase – Esmagamento:o veículo ao prosseguir a sua marcha, passa com as rodas por
cima do corpo da vítima.
Nesta fase as lesões vão depender da velocidade, tonelagem do veículo, região do
corpo atingida, teremos aplastamento ou esmagamento crânio-facial, do tronco e
membros. É fundamental procurar marcas das rodas no vestuário e corpo da vítima.
5ª fase – Arrastamento: ocorre quando o corpo fica aprisionado nas rodas ou noutras
partes do veículo e a vítima é arratada durante o prosseguimento da marcha da viatura.
As lesões são do tipo abrasivo ou escoritaivo em placa extensas podendo nos casos
mais graves por a descoberto os ossos.
Nem em todos os atropelamentos ocorrem as cinco fases, e a sequência pode não ser a
mesma.
Questões Médico-Legais:
Geralmente como em todos os acidentes de viacção a etiologia médico legal nos
atropelamentos é acidental, podendo o condutor ser arrolado penalmente e civelmente.
Existem casos raros de atropelamento em que a etiologia médico-legal é suicídio.
Estes factos ocorrem particularmente nas auto-estradas em que é exigido o limite
minimo de velocidade, a vítima aquando da aproximação do veículo lança-se na
estrada. Nestes casos geralmente não existe a 1ª fase de atropelamento que é a de
choque.
Os casos de atropelamento em que a etiologia médico-legal é homicídio são ainda
mais raros, entretanto o perito não deve deixar de descatar esta hipotese.
Outra questão médico-legal que pode ser colocado ao perito é a determinação das
lesões vitais, porque pode ocorrer que coloquem um corpo sem vida nas via pública
para simular um atropelamento
Nb- colocar o esquema de desenho, fotos.
C- Outras tipos de Acidentes de Viacção - Lesões do condutor e de passageiros do
automóvel:
117
Noutros tipos de acidente de viacção – colisão entre duas ou mais viaturas, colisão contra
obstáculos fixos ou infraestrturas, despiste com posterior capotamento, etc é fundamental
determinar a posição ou lugar que se encontrava os ocupantes dentro do veículo, identificar as
diferentes vítimas.
As lesões vão depender do tipo de acidente de viacção, posição da vítima dentro da viatura,
de complexos mecanismos de acelerção e desaceleração brusca, se a vítima estava ou não
com o cinto de segurança na altura do acidente, se a viatura têm os mecanismos actuais de
amortização do trauma durante o embate tipo air bag, etc.
Antes da obrigatoriedade do uso do cinto de segurança à nível mundial a maior parte das
lesões correspondiam: cabeça 50%, membros inferiores 17%, membros superiores 13%, torax
10% e pescoço 6%.
Com base nestes dados para diminuir as altas taxas de mortalidade e de lesões graves nas
vítimas por acidentes de viacção tornou-se obrigatório o uso do cinto de segurança, no nosso
país com o Decreto Lei 17/93, inicialmente para o condutor e o passageiro sentado ao lado do
motorista, depois extendeu-se para os passageiros sentados no banco traseiro e uma cadeira
obrigatória para crianças. Hoje também em muitos países é obrigatório o uso de cinto de
segurança pélvico para os passageiros de autocarros ou machibombos de médio a longo
curso, viagens regionais, nacionais e internacionais.
Outros estudos permiteram melhorias tecnológicas na feitura e comodidade nos automovéis,
quando se observou lesões mortais e graves sequelas nas vítimas sobreviventes dos acidentes
de viacção ao nível da região cervical, que nos Estados Unidos designaram de Whiplash
Injury ou seja lesões de golpe de chicote, descritos inicialmente em casos de choque contra a
traseira de um veículo precedente.
As lesões deviam-se ao choque imprevisto por detrás de uma viatura parada, a cabeça por
inércia era levada violentamente para trás e depois rapidamente para diante, produzindo
lesões ao nivel da coluna cervical desde simples contusões, fracturas até separação da cabeça
dependendo da velocidade do veículo.
Estas lesõs também foram descritas noutras circunstâncias, chamadas de lesões dos
semaforos devido as travagens bruscas, sendo o mesmo mecanismo, de aceleração e
desaceleração brusca.
Por essa razão todos os automoveís ligeiros, até pesados/autocarros têm hoje o assento ou
almofada cervical para amortizar os traumas cervicais e interromper a flexão e extensão
brusca e violenta da coluna cervical, tanto nos bancos anteriores como nos posteriores.
Para as Companhias de Seguros e as Autoridades Policiais e Judiciais é importante
determinar nas vítimas quem é o motorista, o passageiro sentado ao lado do motorista e os
passageiros sentados nos bancos de trás, porque as lesões podem ser diferentes dependendo
do tipo de acidente de viacção, se na altura do acidente a vítima estava ou não com o cinto de
segurança devidamente colocado, e finalmente o ressarcimento do dano na vítima vai
depender do tipo de apolice da viatura segurada.
1- Lesões do Motorista ou do Condutor:
Sem o cinto de segurança: neste caso as lesões geralmente são mais graves,
localizam-se na porção superior ou cranial do corpo:
(1)- na cabeça, crânio e face resultante do embate contra o parabrisas e dependendo da
velocidade do veículo o corpo pode ser projectado com posterior queda para fora do
118
veículo e sofrer lesões contra outras estruturas e obstáculos.
(2)- fractura da mandibula e lesões da laringe resultante do embate contra a porção
superior do volante. (3)-
traumatismo toráco-abdominal fechado com lesões graves da parede e órgãos internos
toraxicos e abdominais resultantes do embate violento do tronco contra o volante e
quadro do controle.
Com o cinto de segurança: neste caso as lesões geralmente são menos graves,
localizam-se na porção inferior ou distal do corpo, porque o cinto no momento do
choque impede que a porção superior ou cranial do corpo se embata contra o
parabrisas, quadro de controle e o volante, impede também que a vítima seja
projectada para fora do veículo. Nos
automoveis modernos as lesões são ainda menos graves devido ao air bag que é
accionado no momento do choque e o assento é arremessado para trás.
As lesões mais frequentes são as dos membros inferiores:
(1)- luxação com ou sem fractura da anca devido a extensão do membro inferior no
momento de choque. (2)-
fractura da rotula ao embater violentamente contra o volante. (3)-
luxação com ou sem fractura da articulação do tornozelo devido a pressão
violentamente exercida sobre o pedal de travão e da embriagem.
2- Acidentes Ferroviários:
Os acidentes ferrovários são geralmente responsáveis por numerosas vítimas, dando origem a
mortes colectivas, como exemplo em Moçambique temos o Acidente de Tenga ocorrido em
2002.
A intervenção médico-legal nesses casos como em todas as mortes colectivas têm sido o da
identificação das vítimas, pois os corpos podem estar bastante mutilados ou
politraumatizados. Existe uma equipe especialista para efectuar a pericia a fim de estudar e
determinar as causas do acidente.
A pericia médico-legal é a identificação da tripulação – maquinistas, ajudantes e revisores
para posterior autópsia e exame toxicológico, e eventualmente de alguns passageiros para o
apuramento de responsabilidades.
Os acidentes ferroviáriosde interesse médico-legal são os individuais:
Quedas acidentais: do comboio em marcha, no nosso meio é frequente na linha de
Ressano Garcia, porque geralmente os comboios vão sempre superlotados e os
passageiros viajam pendurados, também ocorre em assaltantes das carruagens durante
o acto roubo/furto. Na literatura estão descritos casos de quedas dos passageiros
durante o acto de subida e descida destes nos metros e estacções de caminho de ferro.
O tipo e gravidade da lesão dependerá da velocidade do comboio, do local onde se
produz o embate e o modo como a vítima cai no solo/via ferréa.
Esmagamentos acidentais: as lesões geralmente são mais graves, tipo aplastamento
crâniofacial, amputações das diversas partes do corpo com abertura das cavidades
torxica e abdominal, etc. (1)-
constitue acidente de trabalho nos operário que fazem manutenção da via ferrea por
zorras ou mesmo comboios ao efectuar manobras. (2)-
há casos de esmagamentos acidentais registados no Serviço de Medicina Legal na
Cidade de Maputo onde vendedores ambulantes vendem os seus produtos ao longo da
linha ferrea na zona de Aeroporto, Bairro de Mavalane.
(3)- também pode ocorrer esmagamentos acidentais nos passageiros durante a entrada
e saida nos metropolitanos.
As lesões são geralmente graves tipo aplastamento crâniofacial, amputações das
diversas parte do corpo, etc.
Suicídio: geralmente a vítima deita-se sobre a via ferrea ou atira-se aquando da
aproximação do comboio. É bastante raro no meio esta foram de suicídio.
Homicídio: temos casos registados no nosso Serviço de Medicina Legal, geralmente
as vítimas inicialmente são agredidas e imobilizadas em ambos membros superiores e
inferiores (amarrados) e colocadas na via ferrea.
Colocação de um cadáver na via ferrea: geralmente colocam um cadáver para
simular um suicídio ou acidente, nestes casos é fundamental que o perito verifique se
as lesões produzidas pela passagem do comboio sobre o corpo são ou não vitais e qual
é a lesão letal, tipo de instrumento ou meio empregue.
Estudo de Maison de 233 casos de acidentes de aviação para determinar as causas de morte.
Causas de morte total
Desintegração 38
Politraumatizado 103
Lesões encefálocranianas 35
Queimaduras 19
Lesões cervicais 17
Hemorragia 7
Embolia gorda 1
Asfixia 4
Afogamento 6
Descompressão 2
Causa natural 1
5- Quedas e Precipitações:
Queda é a caída de um corpo no seu próprio plano de sustentação, ou caída e
projecção de um corpo de uma altura não superior a cinco metros.
121
Precipitação é a caída e projecção de um corpo de uma altura superior a cinco
metros, existindo desde o local da projecção até ao de embate um espaço de ar livre
onde o corpo fica abandonado a si próprio.
As quedas/precipitações caracterizam-se por apresentar no hábito externo escassez de lesões
traumáticas, é o sinal patognomônico. As lesões graves e importantes localizam-se no hábito
interno em todas as cavidades e diferentes tipos de fractura.
A violência contusiva é maior quanto maior for a altura, dependendo também da superficíe
contra a qual o corpo se embate.
Tipos de quedas/precipitações:
Queda simples ou estática: quando a vítima cai no seu próprio plano de sustentação,
isto é, sofre os efeitos traumáticos do próprio plano onde se encontra.
Como exemplo tipico temos diversas situações: quando a vítima escorrega no chão
húmido (banheira) e cai; quando a vítima pisa uma casca de banana, escorrega e cai;
ou ainda quando a vítima durante uma crise hipotensiva (lipotomia) cai, etc.
Geralmente as lesões não são graves, desde simples escoriações até as mais graves
como lesões de órgãos internos, fracturas sobretudo do colo do fémur em indivduos
da terceira idade - idosos que complicam-se por estes permanecerem longos periodos
de tempo acamados, morrem devido as pneumonias hipóstatica, temos alguns casos
registados no Serviço de Medicina Legal.
Queda complicada: ocorre quando a vítima ao cair e projectar-se, além de sofrer os
efeios primários contusivos da queda, sofre acção secundária de outros agentes ou
meio onde o corpo vai embater-se, como por exemplo fogo – queimaduras, liquido –
afogamento, etc.
As lesões mortais podem ser primárias ou secundárias.
Queda fásica: ocorre quando a vítima cai por etapas ou fases sucessivas até que o
corpo pare, por exemplo ao cair e projectar-se das escadas tipo espiraladas, andaimes,
etc.
Queda acelerada: é uma forma ou tipo de acidente de viacção, ocorre quando a
vítima cai de um veículo em marcha, este sofre efeitos da velocidade e os da força de
gravidade. No nosso meio é frequente nos cobradores dos ditos “chapa cem”, nos
ajudantes de camionistas que viajam encima da mercadoria, etc.
Queda pós-mortem: precipitam ou lançam um cadáver para simular um acidente ou
suicidio. Nestes casos é fundamental provar a vitalidade das lesões letais, e determinar
o agente ou instrumento causador.
122
Grupo etário de jovens adultos (18 – 45 anos): neste grupo etário temos dois grupos
distintos com base nos registos do Serviço de Medicina Legal:
(1)- suicídio predominantemente em jovens de sexo masculino residentes na zona
urbana da cidade de Maputo, segundo estudo efectuado pelo autor, A. Zacarias et all
no periodo compreendido entre Janeiro de1991 a Dezembro de 2000 dos casos de
morte registados no Serviço de Medicina Legal do Hospital Central de Maputo.
(2)- acidental geralmente resultante de acidentes de trabalho, em individuos do sexo
masculino, muito frequente em operários de construção civil.
(3) homicídio é uma forma rara, não devemos jamais descartar esta hipotese, temos
dois casos registados no nosso Serviço em que se tentou simualr suicídio, para tal é
importante exame no local de facto para o diagnóstico final.
Grupo etário de idosos (mais de 50 anos): neste grupo etário geralmente têm sido
acidental, quedas simples ou estáticas, que resultam em fracturas do colo do fêmur.
As vítimas morrem devido as complicações por permanecerem longos periodos de
tempo acamados, contraíndo pneumonias hipostáticas segundo os casos registados no
Serviço de Medicina Legal.
123
Para que a respiração normalmente decorra é fundamental que:
Ambiente externo contenha ar respirável, com 21% de oxigénio. Quando no ar
respirável a quantidade de oxigénio diminue até 7% começam a surgir distúrbios
respiratórios graves e a partir de 3% pode ocorrer a morte.
Permeabilidade dos oríficos respiratórios, boca e nariz.
Permeabilidade das vias respiratórias , laringe, traqueia e brônquios.
Elasticidade do tronco, músculos auxiliares da respiração da parede toraxica e parede
abdominal se possam contríar e relaxar.
Expansibilidade pulmonar. É importante que o tecido pulmonar esteja em boas
condições, sem patologias tipo fibrose por exemplo ou outras situações clínicas que
impeçam a expansibilidade pulmonar – hidrotorax, hemopneumotorax, etc.
Circulação sanguínea normal, com volume circulatório em quantidade e qualidade
suficientes para transportar oxigénio aos tecidos.
Sinais Internos:
Petéquias ou Equimoses viscerais: são designadas por manchas de Tardieu, descritas
por este autor em 1847 num caso de Infanticídio, tem forma de cabeça de alfinete.
Estão sempre presentes em todos os tipos de asfixia mecânicas e também nas asfixias
clínicas, predominantemente nos pulmões ao nível da pleura visceral, coração no
epicardio e ao nível do timo.
Aspecto do sangue: geralmente há fluidez do sangue e é de cor escura.
124
Congestão polivisceral: em todos os orgãos.
Edema pulmonar: os pulmões estão distentidos, congestionados e edemaciados.
3- Mecanismo de morte:
Existem três mecanismos fisiopatológicos responsáveis, e permitem fundamentar a
classificação das asfixias.
Mecanismo respiratório: em que a causa da morte é simplesmente derivada das
alterações ao nível da função respiratória, desde alterações na composição do ar
respirável; obstaculação dos orificios e vias respiratórias; impedimento a entrada do ar
devido a compressão ao nível da camada muscular do tronco; substituição do meio
gasoso nas vias respiratórias por meio liquido ou semiliquido, por meio sólido ou
pulverulento; ainda devido a constrição do pescoço por meio de um laço ou mãos.
Mecanismo circulatório: quando a uma constrição ao nível da região cervical dos
vasos, artérias carótidas e veias jugulares. A constrição das carótidas interrompe a
irrigação cerebral provocando um quadro de anoxemia ou hipoxemia grave com
consequente morte encefálica.
Mecanismo nervoso: ocorre quando há constrição do pescoço em que afecta o
paquete vasculo-nervoso nomeadamente o 10º par craneano o Pneumogástrio ou Vago
associado a irritação de outros ramos nervosos laringeos e do seio carotídeoque têm
fibras do sistema nervoso vegetativo, provocando a morte por inibição nervosa
periférica por excitação das fibras parasimpáticas que se repercutem a nível do
sistema cardiorespiratório.
Asfixias Mistas: nestes casos é dificil definir o mecanismo fisiopatológico exacto de morte,
sobrepondo-se os três mecanismo de forma e intensidade variável.
A- Constrição do pescoço por meio das mãos:
Esganadura.
Sufocação: É
uma forma de asfixia mecânica em que a obstaculação ou impedimento a penetração
do ar respirável por meio directo quando a oclusão é a nível dos orifício e vias
respiratórias e indirecto por compressão da parede toraco-abdominal. (a)-
Sufocação Directa por Obstaculação ao nível da Boca e Fossas Nasais: (1)-
geralmente de carácter criminoso, quando há desproporção de força entre a vítima e o
criminoso frequente nos infanticídio e gerarcídio (idosos que estejam acamados ou
em cadeira de rodas) por meio de alomofadas, mãos e outros objectos ou ainda
quando as vítimas ficam amordaçadsdas e imobilizadas durante um bom período de
tempo, etc. Nestes
casos além dos sinais gerais comuns das asfixias podemos encontrar sinais locais tais
como estigmas ungueais na face ou em redor dos orificios nasais e boca, equimose na
mucosa labial, ou ausência de sinais locais quando se usa almofada por exemplo.
(2)- acidental frequente em crianças recém-nascidas quando dormem com as mães
cangurus no momento de amamentação ou durante o sono o seio pode obstruir os
orifícios respiratórios; também pode ocorrer em individuos com insuficiência
respiratória ao usarem caxicóis durante uma caminhada descrito na literatura. Nestes
casos o diagnóstico é feito pelos comemorativos e a vítima apresenta básicamente
sinais gerais de asfixia e praticamente ausência de sinais locais.
Afogamento: É
um tipo de asfixia mecânica produzida pela substituição do meio gasoso nas vias
respiratórias por um meio liquido ou semi-liquido, a pentração destas substâncias
impede a passagem do ar até aos pulmões, produzindo a asfixia. Para que ocorra
afogamento não é imprescindivel que a vítima fique completamente submersa, pois
observam-se casos de afogamentos em que apenas os orifícios respiratórios das
vítimas se achavam em contacto o liquido, e também há casos em que o corpo da
vítima entra em contacto com o meio liquido chamado de water shock, nestes as
vítimas não apresentam sinais tipicos de afogamento.
(1)- Fisiopatologia:a maior parte dos autores dividem o afogamento em três fases:
fase de defesa, fase de resistência e fase de exaustão.
Estudos experimentais referem que nos afogamentos verdadeiros em que há
penetração de liquido ou substâncias semi-liquidas existem duas formas
– a forma rápida em que a asfixia é rápida em cinco minutos;
- a forma lenta em que a vítima luta, emerge e submerge. Nos afogamentos em que
não há submersão completa da vítima, são os designados de Afogamentos Brancos de
Parrot, pode ocorrer nas seguintes circunstâncias:
(a)- em que só existe um contacto entre os orifícíos respiratórios da vítima com meio
128
liquido, a morte é por inbição nervosa periférica em individuos com presdisposição
constitucional, lesões cardiovasculares agravadas pela acção térmica ou estados
tímico-linfáticos. (b)-
em que existe um traumatismo tipo “chapa” no momento em que a vítima penetra na
água na parede abdominal ao nível epigastrio, este tem o estomago cheio e destendido
devido a abundância de conteudo alimentar, o embate da “chapa” estimula as
terminações nervosas do plexo solar e a morte é por inibição nervosa periférica, é o
designado Water Shock. Neste dois
casos a vítima não apresenta sinais tipicos de afogamento. O diagnóstico é sempre por
exclusão é deve ser baseado nos comemorativos e achados anatomo-patológicos.
(2)- Sinais Tipicos de Afogamento: os sinais cadavéricos de afogamento são divididos
em externos e internos.
SINAIS EXTERNOS: devem-se aos sinais vitais de permanência do corpo num meio
liquido e do tempo mais ou menos prolongado da vítima nesse meio.
a)- baixa tempertura da pele: a temperatura das vítimas de afogamento baixam
rapidamente porque o equilibrio térmico é mais fácil no meio liquido.
b)- pele anserina ou pele de galinha: deve-se a contração dos músculos erectores
dos pêlos, à sua contração os folículos pilosos tornam-se salientes, resultante da baixa
temperatura da pele. c)-
retração dos mamilos, escroto e penis: resultante da baixa temperatura da pele. d)-
maceração da pele: é mais evidente na região palmar e plantar, onde a espessura da
camada epidérmica é maior. Existe uma imbebição hidrófila dos tecidos devido a
permanêcia do corpo por longos periodos no meio liquido, levando ao destacamento
da camada epidérmica como se fosse verdadeiros dedos de luvas, daí também a
designação de mãos de lavandeira.
e)- livor mortis claros: esta tonalidade das manchas hipostáticas deve-se a
hemodiluição. f)-
cogumelo de espuma: é um dos sinais típicos de afogamento, não sendo porém sinal
patognomônico pois existem noutras situações de asfixias mecânicas e clínicas em
que a vítima têm um edema pulmonar severo. Forma-se devido a entrada de águas nas
vias respiratórias, do muco e do ar. O cogumelo de espuma observa-se na boca,
narinas e extendo-se para a traqueia e brônquios.
g)- erosão dos dedos e presença de corpos estranhos sob as unhas: estas lesões
podem estar presentes na face palmar das extremidades dos dedos com ou sem
presença de corpos estranhos sub-ungueais, resultam da resistência que a vítima faz ao
debatar-se no meio liquido.
h)- máscara equimotica e equimose conjuntival: estes surgem nas vítimas em que o
afogamento ocorre num meio semi-liquido ou pastoso tais como latrinas, pântanos,etc.
i)- mancha esverdeada da putrefação: nos afogados o inicio do processo
putrefactivo pode não começar da forma habitual na fossa iliaca direita. Este período
cromático inicia na região escapular ou ao nível do esterno.
j)- lesões póst-mortem: estas lesões são geralmente produzidas por animais que
habitam no meio liquido onde se encontra o cadáver, mordeduras ou amputações de
orgãos tais como cartilagem do nariz, pavilhões auriculares, etc.
SINAIS INTERNOS: são os sinais mais importantes poque permitem evidenciar de
forma inequivoca a presença do corpo no meio liquido.
a)- liquido nas vias respiratórias: a presença de liquido nas vias respiratórias é de
valor diagnóstico inquestionável, pois permite determinar o tipo de meio liquido onde
129
a vítima se afogou pela evidência de corpos estranhos, lama, fungos, material fecal,
etc. A presença de liquido nas vias respiratórias é sob forma de secreção espumosa
esbranquecida, rósea, sanguinolenta ou da cor do meio onde ocorreu o facto, sua
quantidade depende do tempo de agonia nesse meio liquido ou semi-liquido.
b)- corpos estranhos nas vias respiratórias: estes corpos estranhos estão no liquido
das vias respiratórias têm exatamente o mesmo valor referenciado anteriormente pois
permite determinar o meio, ocorre nos afogamentos em águas paradas tais como em
pântanos, lagoas, latrinas, etc ou também em águas correntes.
c)- lesões pulmonares: (1)- os pulmões podem estar aumentados de volume e
distendidos, sob pressão ficam impressos as marcas dos dedos, Godet positivo.
(2)- edema plumonar severo, devido ao encharcamento do tecido pulmonar designa-se
de enfisema aquoso, porque ao corte e espremendo sai grande quantidade de liquido
em cascata. (3)-
infiltrados hemorrágicos ou equimoses subpleurais, as mais frequentes não são as
manchas de Tardieu mas sim as manchas de Paltauf que são de dimensões maiores ,
de 2cm ou mais do que as de Tardieu, é um sinais fundamentais para demonstrar a
vitalidade do afogamento quando o cadáver estiver putrefacto.
(4)- demosntração da presença de geoplâncton, zooplâncton ou fitoplâncton no tecido
plumonar por meio de exames hispotapológico sinal inequivoco de vitalidade.
d)- hemodiluição: deve-se a entrada de água ou outro liquido no sistema circulatório
ao nível do tecido pulmonar, a coloração torna-se vermelho-claro e mais fluído.
e)- liquido no sistema digestivo: a presença de liquido é evidenciado no estômago e
porção superior do intestino delgado, por um liquido espumoso – plâncton, que
colocado num tubo de ensaio forma três camadas: superior – espumosa; intermediária
– aquosa; inferior – sólida. É o sinal de Wydller.
f)- congestão polivisceral: tal como nas asfixias em geral.
g)- liquido no ouvido médio com presença de corpos estranhos.
h)- lesões no crânio: podemos encontrar infiltrados hemorrágicos na base do crânio,
no rochedo do osso temporal e no etmoide.
EXAMES LABORATORIAIS: estes exames são imprescindíveis para o estudo do
afogado, tanto para a identificação dos cadáveres desconhecidos como para o estudo
específico de diagnosticar o afogamento, o tipo de liquido e por último o local onde
ocorreu o afogamento. A
causa juridíca de morte ou etiologia médico-legal geralmente é acidental que
ocorrem nas praias, piscinas, lagoas e rios na época quente ou verão; acidentes de
trabalho nos pescadores por naufrageo. Homicídio e suicídio é muito raro no nosso
meio, entretanto nos casos de homicídio é fundamental verificar se o corpo apresenta-
se amarrado nos membros e/ou com peso para que afunde rapidamente. Deve-se
também descartar a possibilidade de colocação de um cadáver num meio liquido para
simular uma morte acidental.
Soterramento: É
uma forma de asfixia em que há substituição do meio gasoso nas vias respiratórias por
meio sólido ou pulverulento, a penetração destas substâncias impede a penetração do
ar produzindo a asfixia. A
causa jurídica de morte é geralmente acidental, por acidentes naturais como aluimento
de terras com ou sem desabamento de casas; acidentes de trabalho como resultado de
desabamento de minas, nos trabalhadores estivadores ou carregadores de sacos de
130
cimento, farinha de milho,etc quando estes se rompem e o seu conteúdo penetra nas
vias respiratórias; suicídio e homicídio é muito raro, temos um caso de homicídio
registado no Serviço de Medicina Legal por ajustes de conta ou obtenção de uma
confissão enterraram a vítima de pé só com a cabeça de fora e a medida que iam
atirando terra está penetrava nas vias respiratórias.
O diagnóstico é nos dado pelos comemorativos e pelos sinais locais achados na
autópsia como sendo a presença de particulas sólidos ou pulverulentas nas vias
respiratórias, além dos sinais gerais comuns dea asfixia.
Enforcamento: É
uma forma de asfixia complexa em que há constrição passiva do pescoço por meio de
um laço fixo, agindo o peso do corpo da vítima como força activa.
O ponto fixo do laço pode estar preso em qualquer sitio desde ramos das arvores,
caibros dos telhados, etc. Os
laços podem ser de diversa natureza desde cordas, fios de arame, atacadores,
correntes, lenços de cabeça, capulanas, etc.
A consistência do sulco vai depender do tipo do objecto, sulcos moles produzidos
geralmente por objectos tipo lenços de cabeça, capulanas; sulcos duros por objectos
tipo arame, cintos, etc. O
enforcamento é típico ou completo quando o corpo fica totalmente suspenso sem tocar
em nenhum ponto de apoio. O
enforcamento é atípico ou incompleto quando o corpo fica parcialmente suspenso e
apoia-se pelos pés, joelhos ou qualquer outra parte do corpo.
A evolução da morte por enforcamento pode ser rápida ou tardia, depende do tipo de
laço utilizado, se a vítima esteve total ou parcialmente suspenso, factores
constitucionais ou pessoais e ciscunstâncias em que decorreu o facto.
A morte rápida ou imediata geralmente é por mecanismo nervoso inibitório podendo
demorarar cinco a dez minutos.
LESÕES ANÁTOMO-PATOLÓGICAS: nas vítimas por enforcamento é possivel
observar uma serie de sinais: a)-
aspecto do cadáver: geralmente a cabeça está voltada para o lado contrário do nó. A
face pode estar ou não cianosada com presença de espuma ou liquido sanguinolento
na boca e narinas. A
lingua geralmente cianosada projectada além das arcadas dentárias, exoftalmia ou com
olhos protusos. Nos
enforcamentos típicos os membros inferiores estão suspensos e os superiores colados
ao corpo e com as mãos fechadas; nos enforcamentos atípicos os membros têm
posição variada. As
manchas de hipostáse estão na porção inferior do corpo, são mais intensas nos
membros.
b)- sinais locais externos: a constrição do pescoço por meio de um laço produz um
sulco localizado no terço superior do pescoço ou acima da cartilagem tiroidea.
O sulco geralmente é unico, podendo excepcionalmente ser duplo, triplo ou múltiplo
dependendo do número de voltas quer der no pescoço.
O leito do sulco pode ser de cosistência mole ou duro e apergaminhado dependendo
do tipo de laço, geralmente incompleto ou interrompido ao nível do nó, de direcção
oblíquo ascendente não uniforme em toda a sua extensão ou de profundidade desigual.
c)- sinais locais internos: nos casos em que o laço produz um sulco duro e
131
apergaminhado na face interna do tecido celular subcutâneo observa-se a linha
argêntica de tonaliadade pardo-escura resulta da desidratação da pele escoriada;
infiltações hemorrágicas - equimoses nos músculos cervicais geralmente no lado
contrário ao nó e retrofaríngea; podemos encontrar fractura do osso hióide, fractura do
aparelho laríngeo, fractura das vertebras cervicais é muito raro observa-se mais nos
enforcamento por setença judicial; lesões nas árterias carótidas próximo da bifurcação
na túnica íntima – sinal de Amssat não é tão frequente no nosso meio como refere a
literatura e roturas das túnicas adventícias jugulares internas e externas.
Além desses sinais locais os cadáveres apresentam sinais tipicos comuns de asfixia.
A causa jurídica de morte geralmente é suicídio, no nosso meio constitue a primeira
causa básica de morte nos suicidas em ambos os sexos na população acima dos 35
anos de idade residentes nos periféricos ou suburbanos da Cidade de Maputo; o
homicídio constitue uma forma rara temos descritos três casos que ocorreram e
adolesctentes entre os 13 a 15 anos de idade, acidental é ainda mais rara segundo
dados disponíveis na literatura, ocorre nos casos de acidentes durante o acto de
masturbação.
Estrangulamento:
É uma forma de asfixia mecânica complexa em que há constrição activa do pescoço
por meio de um laço exercida por uma força externa estranha. No estrangulamento o
corpo da vítima age passivamente.
A causa juridica de morte geralmente é homicidio, geralmente quando a vítima é pego
de supresa ou quando há desproporção de forças entre o agressor e a vítima, sendo
rarissimo os caso de acidente e quase que impossivel o suicidio.
a)- sinais locais externos: a vítima pode apresentar mascara equimótica com
equimoses subconjuntivais, a língua está projectada além das arcadas dentárias, o
sulco geralmente localiza-se no terço médio ou abaixo da cartilagem tiroidea, pode ser
único, duplo ou múltiplo, duro ou mole dependendo do laço que for usado, a direcção
é horizontal ou transversal, uniforme em toda sua extensão, geralmente é completo
entretanto temos casos descrito no Serviço de Medicina Legal de sulcos incompletos e
e direcção ascendente ou descendente quando o agressor puxa a vítima, também
podemos encontrar escoriações lineares no pescoço produzidas pela vítima ao tentar
aliviar-se ou soltar o laço e placas escoriativas no tronco e membros – lesões de
arraste. b)-
sinais locais internos: infiltrações hemorrágicas - equimoses no tecido celular sub-
cutâneo e nos músculos geralmente com distribuição uniforme e mesma altura porque
o laço imprime uma intensidade da força igual de sentido horizontal, podemos
encontrar fracturas do osso hióide e do aparelho laríngeo; lesões na íntima da túnica
da carotida, roturas transversais bilateralmente e da adventicia.
O diagnóstico histo-patológico é útil para comprovação das das lesões.
Os sinais gerais comuns de asfixia estão também presentes como em outras formas de
asfixias.
Esganadura:
É uma forma de asfixia mecânica mista, em que há constrição do pescoço pelas mãos.
É sempre de caracter homicida, no nosso meio é frequente nos casos de infanticídio
de, femicídio, não sendo possivel a forma suicida ou acidental como causa juridica de
morte ou etiologia médico-legal.
132
A sintomatologia varia de acordo com a própria dinâmica do processo, podendo
mecanismo de morte ser o respiratório ou o nervoso devido a compressão das
estruturas nervosas, a obstrução vascular é insignificante.
a)- sinais externos a distância: podemos encontrar mascara equimótica na face, com
congestão e ou equimoses conjuntivais, geralmente vem associado a outras lesões tais
como escoriações em redor da boca, nas mãos e antebraços chamadas de lesões de
defesa.
b)- sinais externos locais: os mais importantes sãos os estigmas ou marcas ungueais
que são as escoriações de forma semi-lunar, em rastro ou lineares nas face antero-
lateral do pescoço com predominio do lado oposto a mão usada pelo agressor,
equimoses de forma arrendondada da polpa dos dedos; há casos em que o criminoso
usa objectos ou luvas as marcas ou estigmas ungueais podem não existir.
c)- sinais internos locais: as lesões de grande importância diagnóstica são sem
dúvidas as infiltrações hemorrágicas na tecido celular sub-cutâneo e muscular do
pescoço; pode existir dependendo da intensidade da violência constrictiva das mãos
lesões do aparelho larígeo com fractura das cartilagens e do osso hióide.
Os sinais gerais comuns da asfixia estão também presentes.
133
Sexo genético ou cromossomico: é determinado pela presença de caracteres sexuais
cromossomicos, assim designaremos que um individuo é do sexo mascluino se tiver
os cromossomas sexuais xy ou o individuo é do sexo feminino se tiver os
cromossomas sexuais xx. Estes cromossomas sexuais são adquiridos pelo novo ser ou
ovulo no acto da fecundação, provenientes dos cromossomas sexuais de cada dos
progenitores.
Sexo gonâdico: é defenido pela presença nas gônadas indeferenciadas de elementos
germinativos provenientes da informação genética que dará origem a celula sexual do
tipo maculino ou feminino, será masculino se o caracter sexual diferenciar em
testiculos e sexo feminino se o caracter sexual deferenciar em ovários, todos estes
produzirão hormonas esteroides.
Sexo cromatínico: a presença de corpúsculos de Barr presentes nos núcleolos
determina que o individuo é do sexo feminino.
Sexo genital interno: é nos dado pela presença de caracteres sexuais internos do tipo
maculino o que tiver o que tiver diferenciação dos canais de Wolff: epididimo, canal
deferente, canal ejaculador, vesicula seminal, prostata e glândula bulbo-uretral. Será
do sexo feminino o que tiver diferenciação dos canais de Muller: trompas, útero e
vagina.
Sexo genital externo ou fenotipico: é defenido pela presença dos orgãos gentais
externos do tipo masculino se tiver pénis e escroto com testiculos dentro das bolsas,
do tipo feminino se tiver a vulva. É com base no sexo genital externo ou fenotipico
que se regista o sexo do individuo na altura do nascimento.
Sexo de identificação psíquica: é defenido pela identificação sexual que o individuo
faz de si próprio, e que se reflecte no seu comportamento.
Sexo de identificação social: é definido pela identificação sexual influenciada pela
educação recebida desde a infância, no ambiente familiar, escolar, laboral e social,
que prepara e condiciona o sujeito para seu futuro papel sexual.
CLASSIFICAÇÃO DE WILKINS É
uma classificação mais recente, além de considerar os caracteres sexuais gonádicos, toma em
consideração os caracteres sexuais secundários que se desenvolvem influenciados pelos
níveis hormonais.
Hiperplasia congénita da supra-renal: é também chamado o hermafroditismo
feminino com sinais de masculinização devido a hiperplasia da supra-renal.
Hermafroditismo verdadeiro:
Pseudohermafroditismo masculino: existe duas situações:
(1)- é um individuo que apresenta hipospadia com escroto bipartido.
(2)- é um individuo com digenesia gonádica que tem cromatina masculina.
Pseudohermafroditismo feminino:
Estas classificações só tem valor teórico. Muitas das vezes constitue um achado na sala de
operações ou de autópsias. Em casos de sexo duvidoso é importante para o diagnóstico
135
médico-legal efectuar o estudo do psicológico ou comportamental, estudo dos caracteres
anatómicos e funcionais, o estudo do sexo cromossómico e sexo cromatínico e estudo
hormonal quantitativo das eliminadas pelas três gónadas (testicular, ovários e suprarenais).
Trans-sexualismo: é uma anomalia de orientação psico-social e do comportamento.
A primeira observação parece ter sido reportada por Marc em 1840, só um século
mais tarde foi descrito por Candlwell em 1949 que a designou de Psicopatia Trans-
sexual.
Benjamim em 1966 definiu e fez a classificação graus de evolução desta patologia , e
definiu como sendo “um estado em que um individuo de um determinado sexo,
pretende e convêm-lhe pertencer a um outro sexo, toma uma conduta nessa direcção
ou sentido. Para a realização desse desejo modifica a sua aparência física e sexual
por meio de medicamentos e actos cirúrgicos, também a rectificação do seu estado
civil”. Esta
patologia provavelmente exista há bastante tempo, contudo só depois de Hamburger,
Sturup e Dahh-Inversen em 1953 terem transformado um homem em mulher
cirúrgicamente, e de ter recticado o estado civil, está prática expandiu-se no mundo
ocidental. É mais
frequente nos homens 1/100.000 nas mulheres 1/400.000. É importante realçar que do
ponto de vista legal com base na nossa legislação tal acto seria punido como sendo o
crime de falsa identidade. Verificar os artigos na lei penal e civil.
139
Exame especial deverá o perito ter em relação as crianças devido ao aumento cada vez maior
de casos de abuso sexual ou pedófilia, para nós a maior percentagem de casos registados na
consulta têm sido de crianças, julgamos que esses dados estatisticos muito baixos
eventualmente por desconhecimento dos pais e encarregados de educação de que é crime:
mau encaminhamento por parte das autoridades policiais ou tentativa de resolução da questão
nas esquadras; ameaças por parte dos autores aos menores e familia ou ainda porque estes
factos ocorrem no próprio lar da criança.
Pedófilia e/ou abuso sexual de menores pode ser um distúrbio de instinto sexual, que consiste
em toda e qualquer exploração de menor pelo adulto que tem como finalidade directa oiu
indirecta a obtenção de um prazer lascívio, venéreo, etc. Estes abusos manifestam-se de
diversas formas desde carícias nos órgãos genitais dos menores, solicitação para que estes
façam aos adultos, sexo oral entre o menor e o adulto ou vice-versa, sexo por via vaginal,
sexo anal, sexo manual auto ou hetero, exibição de material pornográfico, etc.
Durante o exame clínico o perito deve averiguar junto da familia certas manifestações que a
criança pode ter como por exemplo mudança brusca de comportamento para com amigos,
familia, colegas na escola; medo ou temor de certas pessoas ou lugares; recusa imediata de ser
examinada, uso de expressões ligadas ao acto sexual ou de palavrões; etc.
EXAME DO AUTOR OU AGRESSOR: o exame clínico deve ser efectuado se possivel
urgentemente na mesma altura em que se examina a vítima, o ideal antes das vinte quatro
horas, o exame deve ser completo dando particular atenção a observação dos dedos e das
unhas, colheita de amostras para exame laboratorial de sangue, urina, saliva, nas bordas das
unhas, superficie do pénis, pêlos pubianos e manchas em todo o corpo, nas roupas.
Exame em casos de sexo oral:
1)- Introdução do pénis na cavidade bucal: quando a prática de sexo oral é voluntária
e de mutúo consentimento, geralmente a introdução e saida do pénis pela cavidade
bucal faz-se por meio de sucção e a direcção é mais ou menos transversal e
ligeiramente obliqua para cima não chegando a traumatizar o palato; entretanto
quando este acto é contra a vontade da vítima a introdução e saida do pénis é feita
com a boca parcialmente cerrada, a direcção é oblíqua de baixo para cima, o agressor
força esse acto colocando uma das mãos na cabeça da vítima na região occipital
produzindo flexão e extensão do pescoço traumatizando desde modo a abóbada
palatina. As
lesões locais que podemos encontrar na vítima são equimoses na mucosa labial,
escoriações ou abrasões na mucosa labial, equimoses na abóbada palatina.
A pesquisa de semén por meio de uma zaragatoa deve ser feita na região
alveologengival levantando os lábios, na orofaringe muitas das vezes é infrutífera
porque a vítima terá cuspido ou deglutido o semen.
A pesquisa de semen na boca deve ser feita precocemente antes de se completar uma
hora após o acto libidinoso. No
agressor podemos encontrar marcas dos dentes e manchas de saliva no pénis da vítima
útil para identificação de quem foi o agressor e da vítima. 2)-
Introdução da língua na região vulvo-vaginal: é um tipo ou manifestação de acto
sexual libidinoso mais raro, mais frequente em adolescentes do sexo masculino,
aliciados ou seduzidos por mulheres adultas mais velhas, segundo os nossos registos
com empregadas domésticas ou vizinhas, aliciam os adolescentes a introduzir a lingua
na região vulvovaginal.
140
Geralmente os sinais locais aparecem tardiamente, quanto estes adolescentes contraem
doenças de transmissão sexual na orofaringe, temos um caso de um adolescente que
evoluia constantemente com amigdalites de repitição com falência terapêutica, feita a
cultura do exsudato comprovou-se presença de infecção gonocócica.
A prática destes actos libidinosos em menores de dezasseis anos de ambos os, quer a vítima
tenha ou não consentido configura o crime de atentado ao pudor, e em individuos maiores de
dezasseis anos só se for forçado a tal prática ou sem o seu consentimento com base no que
vem plasmado no art. 391º do Código Penal.
Exame em casos de sexo por via anal: A introdução do pénis ou de um objecto
ponteagudo no anús de um individuo designa-se de sodomia passiva.
Antigamente considerava-se sodomia como sinónimo de pederastia pois estes actos
libidinosos eram práticados em menores do sexo masculino, actualmente julgamos
nós que a expressão correcta é pedófilo, isto é, individuo que tem atração sexual por
crianças de ambos os sexos, podendo o acto sexual ser anal, vaginal, oral, manual, etc.
O individuo que introduz o pênis ou objecto pratica o acto de sodomia activa.
O anús é uma estrutura anatómica que possue dois músculos importantes que devido a
introdução do pénis ou de um objecto ponteagudo pela primeira vez ficam lesionados,
é o múculo elevador do anús e o músculo esfincter do anús.
É importante frisar que a sodomia passiva quando praticada por individuos
experientes e o acto for precedida de correcta lubrificação ela é quase que indolorosa
do ponto de vista físico.
Nos casos em que a sodomia passiva é praticada sem o consentimento da vítima ou
mesmo com anuimento desta, este acto produz lesões ao nível dos músculos acima
referenciados, traduzem-se por rupturas das fibras musculares que passado algum
tempo cicatrizam.
O exame anorectal deve ser feito com a vítima na posição genopeitoral ou de “prece
maometana”. (1)-
Sinais de sodomia violenta recente: estes sinais devem-se as lesões agudas produzidas
por rupturas das fibras musculares, caracterizam-se por contractura dolorosa do
esfincter anal com hemorragias das paredes anorectais e eventualmente perineais,
feridas ou fissurite com congestão e equimose na mucosa. A
descrição das lesões deve se feita por quadrantes superior ou inferior, ou seguindo o
sentido horário do relógio. A
vítima geralmente queixa-se de tenesmo. (2)-
Sinais de sodomia passiva não recente: é também chamada de sodomia passiva
habitual por apresentar os mesmos sinais dos individuos que praticam frequentemente
este género de actividade sexual. Os
sinais devem-se a cicatrização da ruptura das fibras musculares, caracterizam-se por
relaxamento do esfincter anal, anús de forma infundibular, e porque a actividade
sexual é frequente ou habitual pode levar ao desaparecimento das pregas anorectais –
chamada Tríade de Tardieu. Além
destes sinais locais podemos encontrar equimoses, feridas ou fissurites na mucosa
anorectal resultantes da cópula anal recente. A
pesquisa de semén na vítima deve ser feita antes de ter decorrido vinte quatro horas,
questionar a vítima se defecou ou não. No
141
autor ou agressor deve-se pesquisar particulas de fezes no pénis, nos pêlos na região
púbica e peças de vestuário.
A prática deste género ou tipo de manifestação sexual em menores de dezasseis anos de
ambos os sexos, quer a vítima tenha ou não consentido configura um crime de atentado ao
pudor, e em individuos maiores de dezasseis anos só é crime se for contra a vontadade ou
sem o seu consentimento cm base no que vem plasmado no Código Penal.
Exame em casos de sexo por via vaginal: o objecto de exame é o hímen e a região
vulvo-vaginal.
Hímen ou hímene é uma expressão proviniente do grego hymen, isto é, membrana.
É uma membrana fibro-elástica situada à entrada da vagina, mais ou menos alta, tem
consistência variável e apresenta formas tão variadas que pode afirmar-se não haver
duas mulheres que tenham hímen igual, apresenta dois bordos o livre e o aderente.
O bordo livre do hímen pode ser liso e regular ou apresentar-se irregular, com fendas
ou entalhes congénitos superficiais ou profundos, devemos sempre fazer diagnóstico
diferencial com lacreações traumáticas.
O bordo aderente do hímen é o que se fixa a parede vaginal, reforçado na maioria das
vezes por colunas ou pontes de tecido fibroso.
Os hímenes dividem-se em típicos que são os mais frequentes, e atípicos menos
frequentes. Esta classificação baseia-se na forma ou desenho do orifício himeneal.
Hímenes típicos:
(1)- hímen circular ou anular: é o que apresenta o bordo livre da membrana em
forma circular central ou levemente excêntrico de forma circular.
(2)- hímen semilunar:é o que apresenta o bordo livre da membrana em forma de meia
lua na maioria dos casos de concavidade voltada para cima.
(3)-hímen labiado ou bilabiado: é o que apresenta o bordo livre da membrana em
forma de fenda vertical, podendo ser obíqua ou transversal.
Hímens atípicos: existem uma variedade de hímenes atípicos cujos bordos livres da
membrana têm formas diferentes tais como biperfurado, cribriforme, helicoidal, etc., o
imperfurado que necessita ser cirúrgicamente perfurado.
Hímen virgem: o estado de virgindade de um hímen é diagnósticado pela integridade
da membrana, isto é, quando não existe nenhuma solução de continuidade entre o
bordo livre e o bordo aderente. O
hímen é reforçado por colunas de tecido da vagina que não tem a mesma consitência
em todos os pontos, lacera em regra naqueles que menor resistência oferecem à
introdução na vagina do corpo duro ou um objecto, tal como um pénis erecto de
adulto. A
cópula laceradora do hímen geralmente é dolorosa e com pequena hemorragia, produz
uma solução de continuidade traumática nos hímenes intolerantes, completa, isto é,
que se extende desde o bordo livre até ao bordo aderente da membrana, de situação
variável no quadrante superior ou inferior. Há casos
em que a laceração traumática não produz uma solução de continuidade completa,
visto que não atinge o bordo aderente do hímen. Estamos perante
um hímen com desfloramento recente quando este apresenta uma solução de
continuidade em que os bordos da laceração estão desiguais, avermelhados ou
equimóticos, edemaciados e ás vezes com supuração ou exsudato. Isto é, a laceração
apresenta sinais de uma ferida recente; além destes sinais apresenta equimoses nas
paredes da vagina. A cicatrização
142
da laceração hímeneal faz-se rápidamente, podendo afirmar-se que, em média, ao
cabo de cinco dias os caracteres de ferida viva desaparecem, pelo que podemos
afirmar que a laceração apresenta sinais de desfloramento não recente, não sendo
possivel determinar a data exacta em que ela ocorreu, isto é, se a laceração foi
provocada há cinco dias ou há mais tempo.
Deve-se fazer o diagnóstico diferencial médico-legal entre a laceração traumática e
entalhe congénito do hímen.
Laceração traumática do hímen geralmente é completa, vai desde o bordo livre até ao
bordo aderente da membrana, os bordos são desiguais, há justaposição perfeita e
completa dos bordos quando se tenta coaptá-los ou uni-los e no Entalhe congénito os
bordos estão talhados em bisel com extremidades livres arredondadas, a justaposição
dos bordos é difícil ou impossivel. É
importante recordar que há hímenes tolerantes designados de hímenes complacentes
ou elásticos, são os que permitem o coito sem se lacerar, cujas caracteristicas foram já
descritas. Nesta
circunstância em que a mulher tem um hímen complacente ou quando a mulher
apresenta sinais de desfloramento não recente, a vítima apresenta um conjunto de
sinais resultante do coito que é nada mais do que a entrada e saida vigorosa do pénis
erecto adulto no canal vaginal várias vezes, produzindo lesões traumáticas por
instrumento contundente ou actuando como tal, infiltrações hemorrágicas ou
equimoses nas paredes vaginais, de grande valor diagnóstico para coito recente e
vitalidade nos casos de homicídio precedido de violação.
A cópula em meninas menores de seis anos é anatómicamente inpossivel, visto que o
ângulo sub-púbico é ainda mais agudo, formando uma verdadeira óssea.
Em meninas entre os seis e once anos a cópula é possivel, mas devido as dimensões e
desenvolvimento dos orgãos genitais serem reducidas a pentração do pénis adulto
erecto provoca laceração do perineo ou do tabique recto-vaginal, lesões muito graves.
Em meninas depois dos doze anos ou púberes o coito só produz lesões no hímen e ou
ligeiras lesões genitais.
A pesquisa de semén no canal vaginal deve ser efectuada no fundo de saco de Douglas num
periodo que não exceda as quarenta oito horas, perguntar sempre a vítima se se lavou.
No autor ou agressor pode-se pesquisar manchas das secreções vaginais no pénis, pêlos
púbicos, roupa interior e sobrado.
A prática deste género de manifestação sexual, cópula por via vaginal pode constituir
julagamos nós com base no que vem plasmado nos art. 391, 392, 393 do Código Penal os
seguintes crimes: (1)-
violação se a cópula vaginal for com uma mulher de idade igual ou inferior aos doze anos.
(2)- violação se a mulher tiver idade superior a doze anos e a cópula vaginal for contra a
vontade da vítima ou se ela estiver privada do uso da razão ou dos sentidos.
(3)- estupro se a cópula vaginal for com uma mulher maior doze e menor de dezoito anos por
meio de sedução, e deve-se provar que o desfloramento da vítima foi provocado pelo autor ou
então na mulher com hímen complacente quando está têm sinais de cópula recente.
143
(4)- atentado ao pudor, se a cópula vaginal for com uma mulher menor de dezasseis anos
com o seu consentimento, que já tinha sinais de desfloramento não recente provocado por
outro individuo no momento do facto.
Exame em casos de outros coitos ectópicos ou outros tipos de manifestações
sexuais ou actos libidinosos: os sinais que a vítima apresentar vai depender do tipo
de sexo ectópico ou acto libidinoso praticado, por exemplo sexo entre os seios
podemos encontrar manchas de semén na região peitoral; auto ou heteromasturbação
pode ou não deixar sinais, tais como vulvovaginites traumáticas; presença de corpos
ou objectos estranhos no anus, vagina e boca associado com lesões traumáticas nestas
regiões; manhas nas peças do vestuário, ect. etc.
144
Desvio do instinto:
1)- sadismo.
2)- necrofilia.
3)- vamperismo. 4)-
bestialidade. 5)-
fetichismo.
Classificação de Kraft-Ebing:
Classifica os distúrbios de instinto sexual em três grandes grupos:
Paradoxia: quando a emoção sexual surge fora da época normal por alterações
anátomo-fisiológicas dos órgãos reprodutores.
Anestesia: quando não excitação capaz activar a libido (abolição do instinto).
Parestesia: quando a excitação sexual só é despertada por excitações inadequadas,
são chamados os desvios ou perversões propriamente ditos.
É evidente que não é possivel nesta modesta obra abordar todos os distúrbios de instinto
sexual, tentaremos focar os distúrbios de instinto sexual que julgamos serem relevantes para o
ordenamento juridico em vigor no nossos país de importância médico-legal.
Anafrodisia: é um distúrbio do instinto sexual quantitativo nos individuos do sexo
masculino, caracterizada pela diminuição ou deteriorização progressiva com ausência
do desejo, apetite sexual ou da líbido, as causas podem ser diversas desde doenças
endócrinas e neuro-psiquícas.
Deve-se fazer o diagnóstico diferencial médico-legal com impotência sexual em que
paciente têm a líbido e é incapaz de manter a ereção até o fim do acto sexual ou tem
ejaculação precoce. A
importância médico-legal deste distúrbio é que pode constituir uma das razões para a
esposa solicitar anulação do casamento (em particular o relegioso) por defeito físico
irremediável, anterior e desconhecido na época do matrimónio.
O defeito físico irremediável no homem chama-se de impotência coeundi actulmente
designada por disfunção sexual que pode ser físico ou instrumental e funcional, está
última com interesse médico-legal para os casos de anafrodisia.
Nos individuos do sexo feminino a diminuição ou ausência do desejo sexual designa-
se de frigidez e sem interesse médico-legal.
145
alegando infedelidade.
(3)- pode nos casos em que não encontra meios de satisfação sexual cometer crimes
contra a honestidade previstos no código penal nos artigos 391, 392, 393 e 394.
Masoquismo de Kraft-Ebing: foi ele que descreveu este desvio em que o individuo
gosta de ser subjugado, humilhado e maltratado moralmente, psicologicamente e
fisicamente. O
seu nome deve-se a Leopold Sacher-Masoch, escritor polonês que sofreu dessa
patologia e a descreveu na sua obra.
É um desvio de instinto sexual em que o individuo só tem prazer, satisfação sexual ou
líbido por meio de sofrimento moral, psicológico e físico.
A importância médico-legal é o mesmo que no sadismo só que muitas das vezes o
masoquista tenta culpar o parceiro de ser o autor moral do crime.
As questões médico-legais que são colocados perante este mediatizado capitulo, a sua
abordagem deve colocar os aspectos éticos e morais em primeiro lugar porque trata de
assuntos que afectam o bom nome e a honra dos cidadãos, pode comprometer a segurança das
pessoas, e a questão de responsabilidade dos autores torna cada vez maior a tarefa e árdua a
função pericial dos peritos.
A lei define como tempo de duração no seu artigo 1796 do Código Civil que a gestação dure
no minímo 180 dias e maximo 300 dias, e em média 280 dias. A pericia médico-legal para a
determinação da idade gestacional deve ter em consideração a data do último coito e data da
ultima menstruação.
diagnóstico de Gravidez é efectuado com base em sintomas, sinais que a mulher
apresenta com apoio de meios auxiliares de diagnóstico.
Os sinais e sintomas de gravidez são divididos em:
a)- Sinais e sintomas de presunção:
Pertubações digestivas: desejos, inversões do apetite, vómitos, náuseas, etc.
Cloasma ou máscara grávidica.
Hiperpigmentação da linha alba, hipertricose, lanugem e setrias abdominais.
b)- Sinais e sintomas de probabilidade:
Interrupção do ciclo menstrual, amenorreia.
Cianose vulvovaginal.
Redução do colo do útero e do fundo de saco vaginal.
Aumento de volume dos seios com hipertrofia dos tubérculos de Montegomery,
aumento de pigmentação das aréolas mamilares com saida de secreção.
Aumento de volume do útero.
c)- Sinais e sintomas de certeza:
Movimentos fetais positivos.
Batimentos de coração fetal.
Aumento do volume uterino com palpação dos segmentos fetais.
O diagnóstico precoce é nos dado pelos testes imunológicos de sangue dosagem beta-hCG
plasmática (RIA), e da urina da gonadotrofina coriônica; por meio de ultrasonografia, etc.
148
terminus da gravidez, isto é, se a gravide/aborto foi a causa básica de morte e qual o
meio ou instrumento empregue para a concretização deste facto.
Do ponto de vista médico-legal é fundamental que o jurista saiba em que circunstâncias deve
pedir o diagnóstico de gravidez , mencionarei as que considero serem as mais importantes e
frequentes, nos casos de:
Crime contra a honestidade, após comprovação de atentado ao pudor art. 391º ,
estupro art. 392º e violação art. 393º e 394º do Código Penal.
Aborto provocado: aborto criminoso art. 358º do Código Penal, ofensas corporais
seguidas de aborto, mal praxis seguida de aborto – responsabilidade médica, traumas
não intencionais seguidas de aborto tais como após acidente de viação, acidente de
trabalho, etc.
Infanticídio art. 356 do Código Penal em que se suspeita que a autora do crime seja a
eventual progenitóra da vítima.
Legitimidade de nascimento, partos supostos art. 340º, 341º do Código Penal.
Casamento no menor prazo internupcial art. 1605º do Código Civil.
Execução de penas art. 113 do Código Penal.
Fins administrativos e laborais.
Em casos de viagem áerea rgional ou internacional de longo curso.
Etc.
149
(5)- Exames laboratoriais podem ser indespensáveis: exame da mucosidade vaginal, do
liquido amniótico, exame micróscopio do útero e ovários. etc.
Sinais de parto antigo: Nestes casos o diagnóstico é dificil e complexo, não existe
sinais especificos por si só concludente.
Tipos de patos: os partos podem ser por via vaginal e artificial:
Parto vaginal eutócico: é o chamado também natural, a expulsão do feto deve-se as
contrações uterinas.
Parto vaginal distócico: é o parto vaginal auxiliado por instrumentos, forceps para
expulsar o feto.
Parto artificial ou por cesariana: é parto produzido por meio de uma intervenção
cirúrgica.
As ciscunstâncias em que se deve solicitar o diagnóstico médico-legal de parto são:
Fins administrativo-laboral, direito a licença de parto.
Legitimidade de nascimento, partos supostos 340º e 341º do Código Penal.
Simulação, dissimulação, metassimulação da gravidez.
Sonegação e substituição de recém-nascidos.
Negação do crime do aborto (art. 358º) e de infanticídio (art. 356º )
O aborto criminoso com base no que vem plasmado na lei do ponto de vista médico-legal, é
a morte dolosa do produto da concepção, que é o ovo até o momento do parto ou até o termo
da gravidez.
O objecto do crime no aborto é o ovo ou o produto de concepção, que é a vida que se
encontra dentro do útero materno, que apesar ainda de não ter vida autonóma, mas é vida
humana em formação, vida biológica que precisa de ser amparada e protegida pela lei. Assim
sendo, a nossa legislação não faz distinção entre o ovo, embrião ou feto, nem da sua
viabilidade.
Como não constitue a mulher o objecto de crime de aborto, se durante o acto a integridade
física, psicológica ou psiquica da mulher pejada ou gestante for afectada agrava-se o crime e
pode constituir outras crimes ou figuras juridicas.
O aborto que tem interesse Médico-Legal julgamos nós, é o aborto provocado em diversas
circunstâncias tais como: os acidentais (pós quedas, acidentes de viacção, acidentes de
trabalho, etc), pós ofensas corporais, ocasionado durante o exercício da actividade médica
(casos de responsabilidade médica), criminosos, etc.
Os abortos expontâneos designados de ovulares não têm interesse médico-legal.
A abordagem médico-legal do ponto de vista filosófico-académico, de acordo com a
legislação em vigor e os principios ético-deontológicos universais que regem o exercio da
medicina, diversas são as situações que são colocados ao Médico/Jurista face a essa
problemática e a interpretação para que os abortos sejam pleitados como legais.
Aborto Terapêutico: é o aborto realizado pelo médico quando este diagnostica que
com a continuação da gravidez surgirá a morte da gestante ou que devido ao seu
estado clínico grave resultante de uma patologia natural ou traumática a vida desta
corre serio perigo. Este
tipo de aborto encontra guarida no estado de necessidade, quando para se salvar a vida
da mãe, cuja personalidade juridica é uma realidade (segundo art. 66º do Código
Civil), protelada pela lei como sendo um bem juridico maior em sacrificio ou
detrimento de um bem menor que cuja existência juridica ou legal de vida autonoma
não tem, não é vita é species vitae.
Do ponto de vista ético-deontológico este tipo de aborto é um acto licito, devendo o
médico segundo as normas de Direito Médico informar a gestante ou seu
representante legal a gravidade da situação clínica, e para que o profssional de saúde
152
pratique este acto não necessita do consentimento da gestante ou de terceiros, pois
está prática esta circunstanciada a situação clínica da mãe que a lei ampara
plenamente e a Medicina conceitua como indespensável a sua intervenção.
Aborto Eugênico: é aborto realizado pelo médico quando este diagnostica que o feto
é portador de uma gravíssima mal formação congénita incompativel com sua futura
vida autónoma e integração social tipo malformações do sistema nervoso por exemplo
anencefalia, fetos que sofreram acção de agentes físicos ou quimicos de comprovado
potencial teratogênico ou se mãe é portadora de uma grave doença infecto-contagiosa
que pode transmitir ao produto de concepção produzindo neste uma gravissima mal
formação incompátivel com sua futura viad autónoma, tipo rubéola, hiv-sida (?, hoje
comprovado que a transmissão vertical mãe-feto pode-se impedir, questão o acesso
aos antiretrovirais). A
abordagem ético-deontológica e a licitude deste tipo de aborto não é de aceitar os
argumentos da teoria conservadora que está pratica visa melhorar a raça e especie
humana, mas de evitar o nascimento de um feto cientificamente sem vida nos casos
de anencefalia aprovado em diversos países e autorizados pelos juizes; ou de fetos
com gravissimos problemas patológicos e de saúde incompativeis com a plenitude de
vida e integração social nos casos de malformações resultantes de rubéola ou de
agentes físicos e quimicos teratogênicos cientificamente comprovados os seus efeitos
maléficos; ou ainda de acordo com a nossa realidade socio-politico-economico de
inexistência de recursos finaceiros da parte do estado em garantir de acordo com a
Constituição de Moçambique cuidados de saúde equitativos para todos cidadãos
segundo ao art. , no caso em apreço para evitar a transmissão vertical do hiv-sida
materno-fetal a administração de anti-retrovirais as mães hiv-positivos seria a solução,
julgamos nós que do ponto de vista ético e moral, porque não legal este tipo de aborto
deve ser despenalizado quando práticado com consentimento expresso da mãe ou
representante legal de não querer trazer para o mundo um ser que padecerá de uma
doença incurável com sofrimento físico, psicológico e psiquico futuramente fazndo
um paralelismo com as situações mencionadas anteriormente, ou ser tratado como
uma Interrupção Voluntária da Gravidez que abordaremos mais adiante.
Independentemente das argumentações filosóficas académicas para a prática dos
abortos eugénicos o profissional de saúde do ponto de vista ético-deontológico de
acordo com as normas de Direito Médico deve informar a gestante ou a terceiros
(representante legal) a situação clínica, os riscos futuros que daí podem advir ao levar
termo a gravidez, e só com o consentimento informado e por escrito da mãe ou
representante legal é que pode fazer a interrupção, se a gestante recuar deve também o
profissional de saúde efectuar o registo por escrito desse com a assinatura da mãe afim
de evitar futuramente ter que responder em juízo por responsabildade médica.
Aborto por Sentença Judicial: este tipo de aborto surgiu após a 1ª Guerra Mundial na
Europa e noutras guerras seguintes mundial, regionais e nacionais que tiveram muitas
mulheres violadas por soldados, provocou movimentos de solidariedade em todo
mundo, em relação a problemática de gravidezes indesejáveis, tendo muitos paises
despenalizado ou permitido a sua prática. daí o nome dado por vários autores de
aborto sentimental, aborto moral ou aborto piedoso.
O conceito deste tipo de aborto foi alargado para as vítimas de crimes sexuais cujos
autores são criminosos em tempos de paz movidos por diversas razões, na nossa
153
legislação tipificado como crime contra a honestidade, não temos casos de registo de
setença judicial proferida pelos tribunais, eventualmente por enificiência do sistema
judicial ou por morosidade do mesmo.
Meios abortivos: os meios abortivos são classificados em meio tóxicos e meios mecânicos:
Meios tóxicos: As substâncias tóxicas podem ser de origem vegetal, mineral e
quimicos propiamente ditos ou medicamentosos. As substâncias tóxicas podem
provocar no organismo materno as seguintes situações:
(1)- intoxicação da gestante com sua morte sem produzir o aborto.
(2)- intoxicação da gestante com sua morte e aborto. (3)-
intoxicação sem aborto e cura da gestante. (4)-
intoxicação com aborto e cura da gestante. As
substâncias tóxicas mais empregues dos casos registados no nosso Serviço são de
origem medicamento, segundo dados obtidos nos diagnósticos socio-antropológicos
são as cloroquinas, geralmente intoxicação da gestante seguida de morte sem aborto.
154
Meios mecânicos: estes meios podem actuar directamente ou indirectamento no
organismo materno. (1)-
Os meios mecânicos indirectos: são os que actuam ao nivel da parede abdominal por
meio de traumatismo, de causa intencional ou não intencional provocando o aborto
por descolamento permatura da placenta, ruptura uterina, etc.
(2)- meios mecânicos directos: são os que actuam directamente no útero; no colo ou
na cavidade. Os mais empregues são objectos perfurantes tais como agulhas de
croché, paus, histerometros, etc ou microcesariana (rara no nosso meio).
Complicações do aborto: estas são das mais variadas, desde as mais ligeiras às graves e
letais, as complicações podem ser imediatas, consecutivas e tardias dependendo do meio
empregue.
Se o meio utilizado por tóxico, o quadro clínico será de intoxicação da gestante, desde
simples efeitos aos mortíferos.
Nos casos de utilização de meios mecânicos, teremos complicações imediatas graves tais
como embolia gasosa por entrada de ar nas veias uterinas, morte por inibição nervosa, etc;
complicações consecutivas devido a perfuração uterina com anemia, peritonite, etc; ou
complicações tardias tais como gangrena uterina, salpingites, fistulas utero-vesicais, etc.
Pericia médico-legal: o diagnóstico de aborto provocado muitas das vezes é dificil e
complexo, vai depender do meio empregue.
Sina is de aborto no vivo: os sinais são os mesmos que de uma gravidez recente:
Extragenitais: cloasma gravídico; aumento de volume dos seios com pigmentação
areolar, tuberculos de Montegomery, saida de secreção lactea; hiperpigmentação da
linha alba; hipertricose; etc.
Genitais: edema dos grandes e pequenos lábios; lóquios sero-sanguinolentos ou
serosos; útero aumentado de tamanho com lesões no colo; etc.
Exames laboratorias: testes imunológicos da urina ou sangue; exames
histopatológicos da das secreções vaginais.
A pericia médico-legal será orientado no sentido de provar se a mulher apresenta sinais de
gravidez recente, modo ou forma como ela terminou e se o meio empregue foi efectivamente
capaz de produzir o aborto, e outros quesitos colocados pelas autoridades competentes.
Sinais de aborto no cadáver: os sinais extragenitais externos são os mesmos descritos nos
paragrafos anteriores, o estudo deve ser orientado para o exame dos orgãos genitais e os
sinais gerais de outros órgãos.
Estabelece o Regulamento em caso de aborto:
“ Na suspeita de parto, aborto, gravidez nos casos de autópsia há que indicar a forma, volume,
dimensões, peso, estado do útero e seu colo, região em que se inceria a placenta, presença ou
ausência do produto de concepção, quaisquer alterações mórbidas ou lesões traumáticas e
particularmente orificios, goteiras, rasgaduras, etc., indicando a sede, extensão, dimensões e
grau de separação destas. Verifique-se se há indicios de deslocamentos de placenta por meio
de violência, com persistência de fragmentos cotiledonares; de superficie rugosa, e por vezes
com alterações anátomo-patológicas a descrever. Examine-se e descreva-se o estado da
superficie de inserção placentar, e indique-se se há ou não alguma porção de placenta retida,
descrevendo esta, e discrimine-se se ela tem ou não aderência patológica com o útero. Do
155
mesmo modo deverá descrever-se o estado dos ovários, sobretudo quanto ao seu volume e à
presença ou ausença neles de um corpo volumoso amarelo de fecundação, a par de outros
menores e recentes”.
Exame dos outros órgãos para verificar quais os sinais anatomo-patológicos.
A pericia médico-legal será orientado no sentido comprovar a relação de nexo-causaliadade
entre o meio empregue e a causa de morte, e outros quesitos colocados pelas autoridades.
4- Infanticídio:
É um crime que só pode ser praticado dolosamente, e estabelece o art. 356 do Código
Penal:
“Aquele que cometer o crime de Infanticídio, matando voluntáriamente um infante no acto
do seu nascimento ou dentro em oito dias, depois do seu nascimento, será punido com a
pena de prisão maior de vinte a vinte quatro anos.
& único – No caso de infanticídio cometido pela mãe para ocultar a sua desonra, ou pelos
avós maternos para ocultar a desonra da mãe, a pena será a de prisão maior de dois a oito
anos.”
Este artigo protege a vida humana, o objecto do crime é o infante, no acto de nascimento
que é a partir do momento em que o parto vaginal ou artificial começou até o termo dos
oito dias seguintes.
Objectivos da Perícia Médico-Legal:
Fixação do momento fisiológico do crime: esta fase visa com base no critério socio-
antropológico saber da gestante quando começou o trabalho de parto afim de se
avaliar o tipo de parto (eutócico ou distócico), o tempo que decorreu até ao
nascimento do infante (verificar se houve ou não asfixia perinatal).
Geralmente este quesito se coloca nos partos extra-hospitalares, se o parto ocorreu
numa unidade sanitária na informação hospitalar deve constar o partograma que nos
elucidará o inicio e evolução de trabalho de parto; nos partos extra-hospitalares do
ponto de vista médico-legal o inicio de trabalho de parto dá-se com a ruptura das
bolsas amnióticas.
É importante frisar que a nossa experiência no Serviço de Medicina Legal de Maputo,
as autoridades judiciais ou policiais sem a devida formação cientifica para
compreenderem a importância desta fase inquérito habitualmente não fornecem aos
peritos elementos de valor e não sujeitam as presumíveis autoras ao exame médico-
legal.
Determinar se o feto ao ser submetido a violência infanticída estava ou não vivo:
Segundo alguns penalistas não têm cabimento as normas nos 1 e 2 do art. 66º do
Código Civil sobre o começo da personalidade, citam que não importa a autonomia do
feto em relação a mãe, que a morte pode ocorrer dentro do organismo materno, não
importa que o infante seja ou não viável. A
visão médico-legal é que o infanticídio é diferente do homicídio, no infanticídio é
necessário demonstrar a presença de vida ou sinais de vida autonóma na vítima para
consubstanciar ou configurar crime, porque se a violência for feita num infante
nascido sem vida não há crime de infanticídio mesmo que o autor (a) desconhecesse
tal facto, porque a personalidade juridica adquire-se com o nascimento completo e
com vida segundo o art. 66 do Código Civil. Diz
156
o Regulamento em casos de Autópsia de recém-nascido: “Na
autópsia de cadáver de recém-nascido deverá começar-se por determinar se ele é ou
não de termo; para o que haverá que medir os diâmetros da cabeça, o comprimento
total do corpo, tomar-lhe o peso, atender ao grau de desenvolvimento dos cabelos e
unhas, aos caracteres do tegumento e do cordão umbilical, ao grau de separação dos
alvéolos da maxila inferior, à existência do ponto de ossificação na cartilagem
epifisária da extremidade inferior do femur; nos fetos do sexo masculino, também as
particularidades do escroto e situação dos testiculos; nos de sexo feminino , também
as condições dos órgãos sexuais externos. Seguidamente trate-se de averiguar se a
criança nasceu ou não com vida. Para isto, abra-se primeiro a cavidade abdominal, e
examine-se a posição do diafragma em relação às costelas. Aplique-se depois uma
ligadura à traqueia, da parte de cima do esterno, e abra-se a cavidade torácica
conforme fica dito anteriormente; examine-se o volume dos pulmões e sua extensão
relativamente ao pericardio, assim como a sua cor e consistência. Abra-se o
pericardio, para examinar o seu estado e conteudo possível e do coração, e abrir cada
uma das cavidades deste e determinar o seu conteúdo, conforme já fica preceituado.
Fenda-se depois a laringe e a traqueia, na parte de cima da ligadura desta, examina-se
se há algum conteúdo e qual o estado da sua parede. Corte-se então a traqueia acima
da mesma ligadura e retire-se para fora aquela, juntamente com o timo, pulmões e
coração. Isolados os pulmões, e depois de verificar se neles existem equimoses
subpleurais ou parenquimatosas, lancem-se numa bacia com água em que possam
flutuar, e veja-se se sim ou não flutuam. Fazendo cortes nos pulmões,verifique-se se
houve crepitação, e indique-se se deles sai sangue em quantidade e com que
caracteres. Repetindo os golpes debaixo da água, veja-se se deles surgem bolhas de ar
que ascendam à tona de água. Finalmente, experimente-se ainda com cada lóbulo, e
depois com pedaços de lóbulos, e indique-se se todos ou apenas alguns deles flutuam.
Resta abrir e examinar a porção inferior da traqueia e seu conteúdo, assim como o
estado da faringe. Por último ainda, se houver indício de hepatização pulmonar, ou de
oclusão das vias aéreas, ou por mucosidades, ou por mecónio, deverá indicar-se a
conveniência do seu exame microscópico na sede da circunscrição, e preparar a
remessa. Em tudo o mais não especificado neste capitulo, devem os peritos proceder
segundo a tecnica geral de toda a autópsia.”
Caracteristicas do feto termo: tem o comprimento de 50 cm; pesa entre 2500 a 3250
gr; diâmetros da cabeça: occipito-mentoniano 120-130 mm, bitemporal 90mm, fronto-
occipital 105 a 110 mm; os cabelos tem 2 cm de comprimento;nb acabar a
descrição. A comprovação dos sinais de vida autónoma é feita
por meio de pericias, designadas por docimásias, expressão proviniente do grego
dokimo – eu provo; provas baseadas na possível respiração ou nos seus efeitos no
organismo do infante. (1)- Docimásia diafragmática de Ploquet:
aberta a cavidade abdominal observa-se se as hemicúpulas diafragmáticas tem a
convenxidade para baixo ou se estão horizontais. A convenxidade deve-se a pressão
exercida pelas víceras abdominais quando o infante respirou. Entretanto pode haver
falsos positivos devido aos gaseses de putrefação. (2)- Docimásia visual de Bouchut:
é inspecção visual dos pulmões in situ na cavidade pleural , se respirou verifica-se se
os pulmões ocupam o espaço na cavidade, e por meio de uma lupa ou a olho nú se
apresentam o desenho de mosaico alveolar e se são de cor róseo ou então se não
respirou os pulões têm aspecto compacto, atelectasico liso, uniforme e de cor
vermelho vivo, pulmões hepatizados. (3)- Docimásia táctil de
157
Nerio Rojas: a palpação sente-se a crepitação dos pulmões se respirou, se não a
consistência é carnosa. Pode haver falsos positivos devido aos gases pútredos.
(4)- Docimásia hidrostática pulmonar de Galeno: é das provas mais antigas e usadas
para a comprovação dos sinais de vida autónomo e fundamenta-se na densidade do
pulmão. O pulmão fetal é compacto e a sua densidade varia entre 1.040 a 1.092.
Com com a respiração e expansão alveolar, o peso do pulmão é o mesmo, há
aumento do volume, sua densidade diminue para 0,70 a 0,80 e o pulmão flutuará; se
não respirou a densidade do pulmão será maior que da água que é de 1,0 o pulmão
não flutuará.
A prova compõe-se de quatro fases, com a colocação dos pulmões num recipiente
largo e profundo com água comum até 2/3 da sua capacidade.
1ª fase- põe-se no recipiente com água o bloco do sistema respiratório (laringe,
traqueia e pulmões) mais a língua, timo e coração.
Se flutuar por inteiro ou à meia água, é positiva, o infante terá respirado.
Alguns autores acham que é suficiente, o autor não concorda pois acha que deve-se
efectuar as quatro fases devido aos falsos positivos resultante da putrefação que é
frequente em climas tropicais como o nosso.
2ª fase- mantem-se o bloco respiratório no fundo, separa-se os pulmões pelo hilo das
demais vísceras e verifica-se se estes flutuam. Se os pulmões flutuarem é positivo, o
infante terá respirado. 3ª
fase- com os pulmões no fundo do recipiente cortam-se pedaços dos lobos, e vericam-
se se estes pedaços flutuam. Se os pedaços flutuarem é positivo, o infante terá
respirado. 4ª
fase- cortam-se os pedaços dos pulmões em fragmentos e comprimi-se entre os dedos
e de encontro à parede do recipiente, para verificar-se se há despreendimento de
bolhas gasosas de putrefação ou bolhas finas gasosas misturadas com sangue.
Se os fragmentos flutuarem é positiva, o infante terá respirado.
Se os pulmões tiverem flutuados durante as quatro fases diz-se que a docimásia foi
positiva e o recém nascido terá respirado ou tem sinais de vida autónoma.
Entretanto segundo a experiência do autor deve-se sempre verificar se o corpo
apresenta ou não sinais de putrefação, e fazer a prova completa em quatro fases para
excluir os falsos positivos e também os falsos negativos que são mais raros devido a
condensação pulmonar.
(5)- Docimásia histológica de Balthazard: esta deve ser feita sempre, porque é que dá
sinal de vitalidade mesmo nos casos em que o cadáver estiver putrefacto.
Consiste no estudo histológico do pulmão, verifica-se se os alvéolos tem a dialatção
uniforme idêntico ao de um adulto, é positivo; entretanto se o infante não respirou os
alvéolos estão colapsados.
(6)- Docimásia auricular de Vreden, Wendte Gelé: é uma prova que permite
demonstrar a presença de ar no ouvido médio, o ar penetra na cavidade timpânica
através das trompas de Eutásquio aquando da degluitição nos primeiros movimentos
respiratórios. É
uma prova importante quando o cadáver estiver putrefacto ou em pedaços, faz-se uma
incisão na linha de implantação do pavilhão auricular expondo o meato acústico
externo, corta-se longitudinalmente a parede inferior do meato tirando as duas
metades e expõe-se a membrana timpânica.
Coloca-se a cabeça dentro de um recipiente com água, com o bisturi ou uma agulha
punciona-se o tímpano, se sair bolha de ar que se rompe na superficie do liquido é
158
positivo, o infante terá respirado.
(7)- Docimásia gastrointestinal de Breslau: é uma prova que permite demonstrar a
presença de ar no tubo digestivo, coloca-se o aparelho gastrointestinal desde o esôfago
até ao recto, com ligaduras na porção terminal piloro e do intestino delgado. Se o tubo
flutuar, é positiva e o infante terá respirado.
Provas ocasionais:são provas de grande valia que permitem provar inequivocamente
sinais de vida autónoma:
(a)- presença de corpos estranhos nas vias respiratórias:é um testemunho
inquestionável de que o recém-nascido respirou devido a presença de corpos estranhos
na traqueia e bronquios de diversa ordem que podem ser a causa básica de morte, tais
como substâncias pulverulentas, lama, etc.
(b)- presença de substâncias alimentares no tubo digestivo: presença de leite ou outra
substância no estomago.
(c)- sinais de lesões vitais: nas ferimentos descritos nas diferentes regiões do corpo
que podem ser ou não a causa ou lesão letal.
Nos casos em que o infante tiver sinais de tempo de sobrevida superior a vinte quatro
horas é necessário determinar quantos dias de vida teve, afim de se saber se configura ou
não o crime de infanticídio, visto que este vai até ao oitavo dia.
A fórmula que se usa para a determinação da idade é a Fórmula de Balthazard
Derrieux: idade em dias= comprimento do infante em cm x 5,6.
Determinar a natureza ou tipo de instrumento ou meio empregue: a autópsia é
feita com o exame do hábito externo e o exame do hábito interno tal como uma
necrópsia comum, com base na nossa experiência as causas básicas de morte mais
frequentes nos infanticídios tem sido as asfixias mecânicas das quais se destacam a
sufocação directa por obstaculação dos orificios respiratórios, esganadura entre outras
causas.
Exame da eventual mãe e/ou autora: nestes casos faz-se:
(1)- o exame da gestante para verificar se esta apresenta os sinais de gravidez recente
precedente. (2)-
exame da gestante para determinar se ela é ou não a mãe biológica do infante, por
meio da hemogenética, desde os exames mais simples dos grupos sanguineos aos mais
complexos testes de DNA.
(3)- a legislação vigente adoptou como atenuante no crime de infanticídio o conceito
biopsiquico de estado puerperal no artigo 356º &único “no caso de infanticídio
cometido pela mãe para ocultar a desonra, ou pelos avós maternos para ocultar a
desonra da mãe, a pena será a prisão maior de dois a oito anos”.
Este articulado justifica o infanticídio como sendo delictum exceptum e ou por
honoris causa quando praticado pela parturiente sob a influência do estado puerperal,
que é um conjunto de manifestações psíquicas que podem surgir durante, após e
algum tempo depois do parto.
O estado puerperal produz um quadro sindrómico de Transtorno Mental Transitório
sendo a mais frequente a psicose pós parto.
Estas alterações ou manifestações psíquicas devem ser comprovadas de que realmente
sobreveieram em consequência do estado puerperal capaz de diminuir a capacidade
de entendimento ou de autoinibição da parturiente, por meio de uma Pericia na
159
Comissão de Psiquiatria Forense para que o Transtorno Mental Transitório seja
considerado como um elemento eximente de responsabilidade penal.
X- TOXICOLOGIA FORENSE
1- Conceito e definição:
Toxicologia expressão que provem do grego, toxikon quer dizer arco, flecha, isto é,
veneno.
É a ciência que estuda os tóxicos ou venenos e as intoxicações.
Orfilia em 1828, foi quem criou a toxicologia como ciência, ao demonstrar a presença de
substâncias tóxicas ou venenos nas vísceras.
A toxicologia compreende o estudo do agente tóxico ou veneno; sua origem; suas
propriedades; mecanismo de acção; seus efeitos lesivos no organismo; seus métodos de
exame analítico, quantitativo e qualitativo; profilaxia ambiental, industrial e no local de
trabalho; formas de prevenção das intoxicações e tratamento clínico.
É uma ciência multidisciplinar independente da Medicina, mas ligada do ponto de vista
académico e histórico a Medicina Legal.
Neste capitulo abordaremos aspectos gerais da toxicologia forense, visto que não constitue
objectivo desta obra falar da toxicologia como ciência multidisciplinar.
A toxicologia moderna diferencia-se da tradicional, porque ampliou o seu campo de acção
160
e área de interesse. Podemos distinguir ou dividir a toxicologia em função do seu campo
ou
área de intervenção ou actuação: Toxicologia Forense, Toxicologia Industrial, Toxicologia
Ambiental, Toxicologia Alimentar e Toxicologia Clínica.
Toxicologia Alimentar: é uma das áreas que provocou tragédias em vários países do
mundo, citando alguns como Iraque, China, Espanha e Marrocos.
Não constitue só o estudo da adicção fraudulenta de um determinado agente nos
alimentos em quantidade capaz de produzir uma intoxicação aguda, mas também
abrange o estudo das substâncias aditivas que os alimentos contém produzindo
intoxicações.
Esta área no nosso pais é da competência dos Centros de Higiene Ambiental e
Exames Médicos.
161
determinadas situações quando são prejudiciais a saúde ou à vida, dependendo de vários
factores tais como a dose, resistência individual, via de entrada e veiculo utilizado.
Interessa a Medicina Legal o conceito juridico, que considera veneno toda substância que
introduzida no organismo, é capaz de mediante acção quimica ou bioquimica, lesar a saúde
ou destruir a vida, sendo o seu emprego um elemento típico que vem estatuito no art.353º &
único do Código Penal.
Intoxicação ou Envenenamento é um conjunto de elementos caracterizadores de dano à
saúde ou de morte violenta produzidas pela acção de determinadas substâncias de forma
acidental, criminosa ou voluntária.
É designado de Intoxicação quando o quadro sindrómico é de origem acidental, não
intencional.
É designado de Envenenamento quando o quadro sindrómico é de origem intencional,
criminosa.
O & único do artigo 353º do Código Penal diz:
“É qualificado crime de envenenamento todo o atentando contra a vida de alguma pessoa por
efeito de substâncias, que podem dar a morte mais ou menos prontamente, de qualquer modo
que estas substâncias sejam empregadas ou administradas, e quaisquer que sejam as
consequências”.
O crime de envenenamento é um crime sui generis, em que a consumação se verifica logo
que são praticados actos de execução, quer dizer que, é um crime formal, de perigo para a
vida em que o resultado é secundário.
2- Classificação dos venenos ou tóxicos:
Os tóxicos ou venenos podem ser classificados de diferentes formas:
Quanto ao estado físico: líquido, sólido e gasoso.
Quanto à origem: vegetal, mineral e sintético.
Quanto às funções quimicas: funções inorgânicas: óxidos, ácidos, bases e sais;
funções orgânicas: hidrocarbonetos, álcoois, acetonas e aldeídos, ácidos orgânicos,
ésteres, aminas, aminoácidos, carbhidratos e alcalóides.
Quanto ao uso: doméstico, agricola, industrial, medicinal, cosmético e venenos
propriamente ditos.
3-Fisiopatologia: As substâncias tóxicas ou venenos têm um percurso no organismo, com as
seguintes fases: penetração, absorção, distribuição, fixação, transformação e eliminação.
Fases ou vias de pentração:
Via digestiva: oral ou per os, gástrica e rectal.
Via inalatória: penetra pelos orificios respiratórios, boca e narinas.
Via cutânea: por meio da pele.
Via parenteral: por meio da via intravenosa, via intra-arterial, via intramuscular, via
subcutânea, via intra-peritoneal e via intra-tectal.
Fases ou vias de absorção:
162
É a via pela qual o tóxico ou veneno chega nos tecidos. As mucosas são as que absorvem os
tóxicos, a mais comum é a mucosa gastro-intestinal, via pulmonar ou respiratória e a via
cutânea.
A velocidade da absorção depende da solubilidade, da concentração, da superficie de contacto
e da via de penetração do tóxico ou veneno.
Fase de distribuição e fixação:é a etapa em que a substância tóxica ou veneno por via do
sistema circulatório extende-se por todo o organismo e fixa-se em certos órgãos e tecidos
dependendo do seu tropismos ou afinidade.
Fase de transformação: é o processo de biodegradação da substância tóxica ou veneno, em
que estes são transformados em elementos menos nocivos ao organismo facilitando deste
modo a sua eliminação.
Fase ou vias de eliminação: é a fase em que a substância tóxica ou veneno é expelido do
organismo:
Via digestiva: pela saliva; por meio de vómitos; por via hepática por meio da bilis;
via anorectal por meio das fezes.
Via urinária: por meio da urina.
Via respiratória: por meio do ar expirado.
Via cutânea: por meio do suor ou transpiração.
Outras vias: pela secreção lactea, pela placenta, cabelos e unhas.
4- Diagnóstico:
Existem vários critérios para se efectuar o diagnóstico médico-legal de Intoxicação ou de
Envenenamento:
Critério Clínico: o seu diagnóstico é baseado no estudo dos sintomas e sinais de
intoxicação que a vítima apresenta. Estes podem escassos quando a morte é rápida ou
fulminante e exuberante, dependento do tipo de veneno ou tóxico.
Critério Anátomo-Patológico: seu diagnóstico baseia-se nos sinais anátomo-
patológicos macroscópicos encontrados durante a necrópsia com ou sem posterior
estudo histo-patológico dos diferentes órgãos e tecidos.
164
C- Instruções relativas à maneira de recolher vísceras, sangue e urina destinados à análise:
1ª Sangue:- para recolher o sangue coloca-se o cadáver sobre um plano de inclinado e
segundo a linha de maior declive. Aberto o abdomen e afastadas as visceras aí existentes,
introduz-se um trocarte na veia cava inferior, assim se pode colher muito sangue.
2ª Esofago e Estômago:- depois de aberto o torax e o abdomen e observados os diferentes
órgãos, faz-se uma dupla ligadura no piloro; tiram-se em seguida o esofago e o estômago, que
se introduzem dentro do frasco destinado a recebe-los. Abre-se então o estômago; deixando
escorrer o seu conteudo dentro do frasco; examinam-se depois as paredes daquele órgão que
em seguida se introduz novamente dentro do frasco.
3ª Intestino:- faz-se uma ligadura sobre o recto, destacam-se o intestino delgado e o intestino
grosso, que se de dentro do abdomen; introduz-se a parte superior do intestino delgado dentro
do frasco respectivo e abrem-se em seguida os intestinos, por forma que o seu conteúdo
escorra para dentro do frasco que também há-de receber aquelas vísceras, depois de
examinadas as suas paredes. Caso haja perfuração do estômago ou dos intestinos, devem
recolher-se as matérias extravasadas na cavidade abdominal.
4ª Encéfalo:- a operação da extração do encefalo e a sua introdução em frasco bem rolhado,
devem ser realizadas rápidamente, pois, nos casos de envenenamento pelas substâncias
alcoólicas ou pelos anestésicos, convém perder o menos possivel das subt6ancias voláteis.
5ª Urina:- além da urina expelida pela vítima, convém recolher cuidadosamente a urina, por
muita pouca que seja, contida na bexiga.
Faz-se uma ligadura no colo da víscera, que em seguida se introduz no frasco respectivo,
juntamente com os rins.
D- Acondicionamento e remessa das vísceras destinadas a exame Toxicológico:
No acondicionamento e remessa das vísceras destinada a exame Toxicológico, observar-se-ão
as seguintes instruções:
As visceras devem ser colocadas dentro de frascos de vidro, de boca larga, novos e sempre
bem limpos. Os frascos serão previamente lavados com um pouco de ácido clorídrico, e
depois, repetidas vezes, com água destilada ou fervida.
Cada frasco, depois de receber as visceras a que é destinado, deve ser rolhado com uma boa
rolha esmerilada, sobre a qual se aplica pergaminho (que previamente se tem metido em água
para amolecer). Passa-se sobre o pergaminho, em volta do gargalo, um forte barbante
dobrado, faz-se passar o duplo fio sobre a rolha, seguindo um diâmetro, depois do que se ata
o fio sobre a parte dele que está em volta do gargalo.
A extremidade livre do duplo barbante prende-se com lacre uma ficha de cartão. Com um
pouco de lacre fixa-se o barbante sobre o pergaminho, no centroda rolha e também sobre o
gargalo, no ponto em que se fez o nó. Sobre as três massas de lacre imprime-se o sinete do
juiz. Sobre a superficie do frasco prega-se com goma um rótulo.
Cada frasco é passado duas vezes: a primeira quando está vazio e a segunda depois de conter
as visceras; da diferença dos dois pesos conclui-se o peso do conteúdo. No rótulo, bem como
na ficha, escrevem-se: um número de ordem de frasco; designação dos órgãos nele contidos;
o peso do conteúdo; o nome da vítima; a data da autópsia e as assinaturas (bem legíveis) do
juiz e dos peritos. A capacidade de cada frasco não deve ser demasiada, em relação ao
volume das substâncias que deve conter; geralmente são convenientes frascos de capacidade
165
não inferior a dois litros. Sempre que seja possivel, as visceras serão separadas em frascos
distintos pelo modo seguinte: a)- Esófago, estômago e conteúdo deste; b)- Intestino delgado,
intestino grosso e conteúdo dos dois; c)- Fígado, bilís, pâncreas, baço; d)- Pulmões; e)-
Coração; f)- Rins, bexiga e urina; g)- Encéfalo e medula; h)- Músculos, de preferência da
coxa, peitorais e diafragma (cerca de 250 a 500 gramas); i)-Sangue.
Num caso de uma exumação, serão ainda enviados para analise em frascos distintos: j)- Terra
aderente à superficie do cadáver, pedaços de madeira ou matérias pulverulentas, tiradas das
partes do caixão, que estão mais manchadas de sangue; k)- Terra recolhida acima do cadáver;
l)- Terra recolhida abaixo do cadáver; n)- Terra recolhida em um ponto afastado de alguns
metros da sepultura, mas que pareça ser da mesma natureza da terra em que jazia o cadáver;
o)- Alguns ossos ou partes de ossos.
No caso de exumações de cadáveres há muito enterrados, podem aproveitar-se para a analise
os ossos e cabelo; neste caso recolhem-se: seis vertebras, uma tíbia, um fémur, um húmero e
os cabelos. Quando o caixão tenha no seu interior água represada, deve ser enviado ao
laboratório um frasco com ela e um outro com água tirada à mesma profundidade e no mesmo
solo, mas a uma certa distância da sepultura. Quando se envie para análise terra onde caíram
substâncias suspeitas (vómitos, dejeções ,etc.), é necessário remeter um outro frasco com
terra da mesma natureza, recolhida em um local próximo. Quando para analise são remetidas
aparas, raspas do soalho, das paredes, etc., sobre que caíram vómitos, dejeções, etc., é
necessário mandar um outro frasco com aparas ou raspas, recolhidas em lugares do soalho,
das paredes, etc., onde não chegaram as substâncias suspeitas. Nos casos raros em que a
autópsia for feita dentro do caixão, é necessário evitar que porções de tinta ou verniz das
paredes daquele se misturem com as visceras. Será em todo caso enviado para análise uma
porção dessa tinta ou verniz. Quando, pelo estado de putrefação ou por qualquer outra
circunstância, não seja possivel distinguir bem os órgãos que se introduzem nos frascos, em
vez de indicar, nos rótulos e fichas, o nome dos órgãos, indicar-se-ão a região de onde
provém. Sobre as rolhas dos frascos nunca se colocará lacre, massa vidraceiro ou qualquer
outra substância, com o fim de obter uma melhor vedação. Esta deve ser tão completa quanto
possivel, a fim de evitar que os liquidos possam ser entornados durante os transportes, mas
esta boa vedação deve ser obtida pela simples adptação de uma boa rolha.
Rotulados e competentemente rubricados todos os frascos, devem este ser encaixotados,
ficando separados uns dos outros por serraduras, aparas de madeira ou de papel ou por
algodão e sempre acondicionados de modo que durante os transportes, não possa qualquer
frasco ser partido. A tampa do caixote deve ser aparafusada. O caixote será envolvido com
oleado ou lona, que se lacra nas costuras, imprimindo sempre no lacre o selo do juiz. Sobre o
caixote põ-se um rótulo indincando claramente quem é encarrgado de o transportar, a quem é
dirigido, e qual a autoridade que o envia. De tudo se fará no auto especial e minuciosa
descrição.
E- Conservação das vísceras – Desinfecção do cadáver:
Logo depois da autópsia, as vísceras devem ser imediatamente remetidas ao Serviço Médico
Legal Regional. Devem ser conservados quanto possivel em lugares frescos. Em caso algum,
com o fim de conservar as visceras, se deitará nos frascos qualquer substância estranha, tal
como alcool, pois tal adição pode prejudicar extraordinariamente os trabalhos analiticos.
Não se deve procurar desinfectar o cadáver para fazer a autópsia, quer empregando a aspersão
com soluções desinfectantes, quer empregando corpos sólidos. Os liquidos com os órgãos ou
fragmentos de órgãos apenas devem sofrer o contacto com os instrumentos de aço,
166
empregados para a abertura do cadáver ou para a secção das visceras, tais como estômago,
figado, coração, intestinos, etc., que têm de ser examinados internamente.
F- Acondicionamento das matérias vomitadas, alimentos, bebidas, dejecções, medicamentos,
etc:
Todas as substâncias destinadas à analise serão acondicionadas, sempre que seja possivel em
frascos de vidro selados, nas condições indicadas para acondicionamentos das visceras. O
processo de remessa das matérias vomitadas e dejecções deve sempre mencionar o modo
como foram recolhidos.
6- Intoxicações Alimentares:
As intoxicações alimentares é uma área de competência dos Centros de Higiene Ambiental
e Exames Médicos, têm interesse medico-legal porque podem levantar suspeitas de
envenenamento doutra origem, incluindo o criminoso, quando atingem apenas poucas pessoas
ou uma só; quando afectam muitos individuos simultâneamente, não é muito dificil fazer o
diagnóstico, é facilitado pelos comemorativos.
Segundo Thoinot “não deve endenter-se por intoxicação alimentar a que é provocada por
agente químico bem definido, contido no alimento, nem a que deriva de doença nítidamente
caracterizada, transmitida por ele, como por exemplo tuberculose, carbúnculo, etc..
Há autores que não fazem esta restrição, consideram intoxicação alimentar a que é
produzida por ingestão de alimentos contendo tóxicos próprios ou apenas veículados.
As pricipais causas das intoxicações alimentares são a contaminação dos alimentos por
organismos patogénicos (salmoneloses de carnes, bacilo paratífico, etc) e a acção de
substâncias nocivas neles contidas (ptomaínas de carnes putrefactas ou alteradas, de
conservas, etc).
A pericia médico-legal nas suspeitas de intoxicação alimentar deve seguir a mesma
metodologia que nos casos de intoxicação ou envenenamento, com enfoque particular
segundo Simonin:
(1)- investigação clínica junto dos doentes.
(2)- pesquisa serológica e bacteriológica.
(3)- investigação epidemiológica e epizoótica.
(4)- investigação junto do inculpado, com exame dos locais.
(5)- pesquisa de portadores de germes doentes ou sãos.
167
XI- NOÇÕES GERAIS SOBRE PSICOPATOLOGIA OU
PSIQUIATRIA FORENSE
1- Introdução:
Criminologia: é uma ciência multudisciplinar que se dedica ao estudo do crime, do
deliquente, da vítima e controlo dos comportamentos anti-sociais.
É uma ciência heterogenea porque relaciona-se com :
Medicina Legal é a ponte entre a Medicina em geral e em particular a Psiquiatria e a
Psicologia Médica ou Clínica, e o Direito, auxiliando a Administração da Justiça nas
pericias psiquiatrico forense.
Direito na tipificação dos crimes e penas correspondentes, propondo modalidades de
aplicação.
168
Psicologia e Psiquiatria áreas que estudam a conduta normal e patológica, estudanto
deste modo as condutas delitivas ou criminais como modo ou forma de
comportamentos anti-sociais.
Sociologia é a área que estuda os fenómenos sociais na generalidade
independentemente do que acontece a nível individual, quer dizer, pessoal e em
particular o subjectivo.
2- Fundamentos juridicos e médico-legais de Imputabilidade:
A pericia psiquiatrico forense têm como objectivo no âmbito de Direito Penal estabelecer a
relação de causalidade psiquica entre o homem e as suas acções, quer dizer, estabelecer a
imputabilidade como um requisito prévio de responsabiliade e de culpabilidade nos casos de
acções criminais.
O crime é um fenómeno social, eminentemente humano, presente independentemente do
modelo politico-social das sociedades. A história do crime começa com a própria história do
homem. O homem é um ser dotado do poder de arbítrio, capacidade para determinar sobre a
vontade da sua própria natureza, influenciado por factores biológicos e sociológicos que
moldam a personalidade individual, levando deste modo a agir e ter uma contuda anti-social.
A imputabilidade é um conceito juridico de base psicológica; daí depende a
responsabilidade e a culpabilidade individual. Existem condições ou factores que estão
presentes ou ausentes, total ou parcialmente, surgindo deste modo cisrcunstâncias
modificadoras de responsabilidade em termos de Direito positivo.
Imputar um acto é atribui-lo a alguém, pô-lo em sua conta, isto quer dizer que, juridicamente
é equivalente a obrigação de sofrer as consequências penais pela realização dos factos
criminais, segundo o ordenamento juridico em vigor.
A lei reputa, para efeitos de responsabilidade penal e da capacidade civil, que o individuo
possua saúde mental e maturidade psiquica.
Segundo o o art. 26º do Código Penal relativo ao (sujeito activo da infracção criminal.
Imputabilidade): “sómente podem ser criminosos os individuos que têm a necesssária
inteligência e liberdade”.
A imputabilidade é a condição de quem é capaz de realizar um acto com pleno discernimento,
quer dizer que, o individuo ou autor deve ter a capacidade de compreensão e vontade de agir.
Com base no que vem preceituado nos artigos 26º (sujeito activo da infração criminal.
Imputabilidade); 39º (Circunstâncias atenuantes) número 21; 43º(inimputabilidade relativa);
e 50º (privação voluntária e acidental da inteligência) há um conjunto de circunstâncias ou
condições clínicas designadas por transtorno mental transitório que eximem de
responsabilidade penal o arguido ou autor de um facto criminal.
Transtorno Mental Transitório (T.M.T.) é um estado de perturbação das faculdades mentais
de curta duração, que evolue com cura definitiva e sem perigo de reaparecimento.
Os critérios clínicos médico-legais de acordo com a jurisprudência para o diagnóstico do
T.M.T. são:
Que seja desencadeado por uma causa imediata e facilmente evidenciável.
Que a sua aparição seja brusca ou rápida.
169
Que a duração da sintomatologia seja muito breve ou curta.
Que a cura seja rápida, sem sequelas e sem probabilidades de reaparecimento.
Que as manifestações tenham surgido sobre uma base patológica comprovada.
Que a causa seja externa ou exógena.
Que o Transtorno Mental Transitório provoque um estado ou quadro de alienação
completa do livre arbitrio e inconsciência.
Temos como exemplos do T.M.T. várias situações, para citar: psicoces puerperais,
embriaguês alcoolica aguda patológica, etc.
A imputabilidade é uma atribuição pericial atráves de diagnóstico ou prognóstico de uma
conclusão médico-legal
A responsabilidade penal que é uma consequência de quem tinha pleno entendimento e
deverá pagar por isso, é um facto de consequência judicial, que é avaliado com outros
elementos ou actos processuais.
Ao nível do Hospital Central de Maputo, no Serviço de Medicina Legal funciona uma
Comissão de Psiquiatria Forense que é formada por um Médico Legista, um Psiquiatra e um
Psicológo Clínico.
3- Exame em casos de alienação mental:
Alienado, de aliienus, alheio, de alius, outro, é o individuo alheio ao seu meio social, outro
que os individuos que o cercam.
Alienação mental é o conjunto de estados patológicos em que perturbações mentaes
apresentam um caracter antisocial, segundo Dupré.
Artigos do Código de Processo Penal
Art. 125º - Quando se levantem justificadas dúvidas sobre a integridade mental do arguido,
por forma a poder suspeitar-se da sua responsabilidade, deverá logo o juiz ordenar o exame
médico-forense.
&1º - O exame, a que este se refere, deverá fazer-se em qualquer altura do processo e até
mesmo depois de proferida sentença condenatória.
&2º - Quando o juiz não ordene oficiosamente o exame, deverá este fazer-se logo que o
promova o Ministério Público ou o requeiram o arguido, os seus ascendentes, descendentes
ou cônjuge que não esteja judicialmente separado de pessoas e bens, os quais, para este fim,
serão admitidos a intervir no incidente, se o juiz não endenter que é um simples expediente
dilatório.
&3º - Este incidente será processado por apenso.
Art. 126º - O exame médico-forense do arguido será ordenado, ainda que possa presumir-se
que a sua falta de integridade mental é posterior à prática da infração.
Estabelece o Regulamento que:
“ Nos casos de alienação mental deverão os peritos satisfazer ao questionário e preceitos
seguintes:
I- Introdução.
170
1- Menção da autoridade que ordenou o exame.
2- Repetição do quesito ou qusitos judiciais.
3- Menção do material em que se funda o relatório.
a)- Processo.
b)- Inquéritos especiais.
c)- Observações e exames directos.
II- História do caso:
Idade do arguido, nome, naturalidade, residência. Raça, religião.
1- Hereditariedade.
Há doenças nervosas ou mentais e alcoolismo no pai, mãe, avós e outros parentes? Há na
familia particularidades estranhas de caracter? Crimes de assassinatoe outros de suicídio? Os
pais e avós eram parentes consaguineos ou de idade desproporcionada? A mãe durante a
gravidez esteve exposta a traumatismos ou afectos dolorosos? O parto foi laborioso ou exigiu
operação?
2- Infância.
a)- Houve estados nevropáticos, convulsões, coréa, estados epileptoides?
b)- Como se desenvolveram a inteligência e o caracter? Houve alterações na evolução
normal? Actos estranhos denotando perversidade ou inconsciência moral? Mudança de
caracter ou de inteligência por traumatismo craniano, doença ou outra causa? Como aprendeu
o arguido a andar e a falar?
c)- Como se fez o desenvolvimento físico? A dentição? O desenvolvimento sexual?
d)- Doenças infantis.
e)- Conduta na escola. Educação em colégio, asilo, convento. Progressos. Onanismo precoce.
Poder reflexivo.
f)- Hábitos viciosos ou supostos tais (urinar na cama, etc.).
3- Puberdade.
Paragem de desenvolvimento psíquico. Alterações psiquicas passageiras. Convulsões.
Pimeira menstruação. Regularidade das regras no principio.
4- Vida ulterior.
a)- O arguido conseguiu estabelecer-se na vida por suas próprias forças ou sempre careceu de
amparo e proteção?
b)- É casado? Há filhos? São sadios? Morreram alguns?
c)- Relações com o cônjuge? O casamento é feliz?
e)- História obstétrica.
d)- Eram satisfatórias as condições de vida? Outras questões relavantes.
e)- O trabalho era excessivo? O arguido sofria de doença?
171
f)- História clínica pregressa do arguido.Traumatismos, quedas, traumas psiquicos, medos?
g)- Intoxicações e/ou enevenenamentos.
h)- Hábitos alcoólicos e de outras drogas psicotrópicas.
i)- Acusações e condenações anteriores? De que género?
j)- Anteriores doenças mentais? Quanto tempo esteve alienado? Qual a forma de alienação?
k)- Quando houve convulsões? Tipo? Com que intervalos?
l)- Como o arguido governava a sua vida?
m)- Sabe-se de excessos, perversões ou privações sexuais?
5- O acto imputado ao arguido.
a)- Descrição do acto criminoso.
b)- Segundo o processo.
c)- Segundo os dizeres do arguido e na extensão em que ele recorda.
d)- Conduta do arguido antes e depois do crime, segundo os dizeres do mesmo arguido.
III- Resultado do exame directo.
1- Atitude, apresentação, expressão do rosto, gestos, nas diferentes observações ou visitas.
2- Outras manifestações espontâneas, idem.
3- Resumo da observação hospitalar, se houve.
4- Exame físico completo.
5- Fala: voz baixa, forte. Fala tranquila, lenta, rápida, corrente, etc.. Mutismo. Repetição de
paradigmas. Concomitância de sobressaltos de contracção de músculos da face, dos lábios,
etc.
6- Interrogatório do arguido nas diferentes visitas. Menção palavra a palavra das frases que
mostram desarranjo psíquico. O interrogatório deve fazer menção do estado de consciência,
orientação no tempo e no espaço do arguido; humor, excitação ou depressão; compreensão;
conduta da inteligência; o queo arguido pensa da sua vida precedente, etc..
IV- Opinião.
1- Reunião de todos os factos e dados que indicam a doença.
2- Desenvolvimento, se estes factos bastam para afirmar um estado de alienação no momento
do exame e do crime; sendo possivel, depois da enumeração dos sintomas, caracterização
cientifica da forma mórbida.
3- Conclusão e resposta ao quesito ou quesitos.
172
173