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Fichas Psicologia

Filipa Sousa Alves, Psicóloga Criminal


Rita Antunes, Psicóloga Clínica
CeFIPsi: Centro de Formação e Investigação em Psicologia
www.cefipsi.com info@cefipsi.com

Bullying: como intervir?


O bullying é um fenómeno tão antigo quanto a própria escola. Apareceu como resposta
a uma necessidade de caracterizar um tipo particular de violência ou de agressão na escola,
que ocorre entre pares.

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D
an Olweus (1991) definiu este visando à discriminação, causando um nos outros, falta de autoestima e au-
tipo específico de violência profundo sofrimento no agredido, sen- toconceito negativo e depreciativo;
afirmando que “Um aluno está do este ultrapassado, por vezes, ape- • F alta de concentração;
a ser vítima de bullying quando está nas ao fim de alguns anos. • A bsentismo ou abandono escolar;
exposto, repetidamente e ao longo do Em 2008 decorreu uma investigação •M  orte (muitas vezes suicídio ou víti-
tempo, a ações negativas da parte de em Portugal avaliando a existência de ma de homicídio);
uma ou mais pessoas.” Essas ações situações de bullying nas escolas por- •D ificuldades de ajustamento na ado-
negativas são intencionais e sistemáti- tuguesas, onde participaram cerca de lescência e vida adulta, nomeadamen-
cas, num contexto muito específico: a 6.200 alunos, tendo 20% dos alunos te problemas nas relações íntimas.
escola. afirmado terem sido vítimas, enquanto
É importante salientar que os casos cerca de 15% revelaram ser agresso- Características que
de bullying não podem ser confundi- res (Pereira, 2008). Estes resultados influenciam a criança/
dos com maus tratos ocasionais e não demonstram que o bullying existe e é, adolescente a ser vítima
graves, pois os comportamentos que o sem dúvida, um problema substancial de bullying:
caracterizam são repetitivos e prolon- nas escolas portuguesas. •C
 aracterísticas de personalidade
gados, sempre contra uma mesma ví- (sinceridade, timidez, introversão,
tima que não se defende por sentir-se Que consequências para calma, etc.);
inferiorizada perante o agressor. as vítimas? • S
 er novo na turma ou na escola;
Esses comportamentos agressivos dão- • V idas infelizes, destruídas, sempre • T
 er poucos amigos; ser superprotegi-
-se de forma direta, que inclui agressão sob a forma do medo; do pelos pais;
"

física, e indireta, que é a forma verbal, • P


 erda de autoconfiança e confiança • P
 ossuir necessidades educativas es-

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peciais, ter interesses diferentes da diferenciem da maioria (obesidade, Segundo os vários estudos efetuados
maioria; magreza, coxear, gaguejar, usar ócu- na área, tornou-se de conhecimento
• P
 ertencer a grupos diferentes da los e/ou aparelho dos dentes, possuir geral que a grande percentagem de
maioria (religiosos, étnicos, etc.); piercings, cor da pele). situações de bullying ocorre nos re-
• T
 er problemas de saúde (asma, bron- creios, pelo que o aumento da super-
quite, alergias, diabetes, problemas Como evitar o bullying? visão dos mesmos tem sido apontado
de pele, etc.); A maioria das situações de bullying como a estratégia mais eficaz no com-
• T
 irar muito boas notas ou muito más; ocorre longe do olhar dos adultos, pelo bate a este tipo de violência.
• P
 ossuir características físicas que o que se torna difícil a sua prevenção. No entanto, existem estratégias que
podem ser adotadas pela escola, bem
como pelos pais para diminuir a proba-
bilidade dessas ocorrências. Cabe às
instituições adotar medidas pedagó-
gicas e envolver os pais no processo,
para evitar possíveis atos e minimizar
os danos que já foram causados.
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Neste contexto, deve privilegiar-se


o trabalho com pais e professores/
/educadores para uma melhor prepa-
ração e atenção a possíveis sinais de
bullying. Os pais assumem, desde ten-
ra idade, um papel central na vida das
crianças. n

Tabela 2
- Estratégias a adotar
por professores/
/educadores

• P romover a coesão do grupo/


/turma, supervisionando a(s) sua(s)
interação(ões);
• P rivilegiar as dinâmicas de grupo
Tabela 1 - Estratégias a serem aplicadas pelos pais dentro das turmas;
• A tribuir papéis/tarefas de
• S upervisionar o comportamento da criança sem comprometer a sua autonomia; referência, antecipando que a
• P rivilegiar sempre o diálogo e perguntas “Como correu o dia na escola?; O que criança/jovem conseguirá alcançar
mais gostaste?; O que menos gostaste?”, deverão ser diárias; os resultados/comportamentos
• E stimular a reflexão, colocando questões como “O que farias se visses um desejados;
colega a ser humilhado por outro?”;
• Investir em atividades de ocupação
• P romover o diálogo sobre a importância da(s) situação(ões) de intimidação não de tempos livres em que possam
ser(em) mantida(s) em segredo, transmitindo-lhe que vai ajudá-la a resolver o(s)
obter sucesso e criar novas
problema(s);
relações positivas (teatro, dança,
• E xplicar como a criança deve reagir, sem chorar nem mostrar transtorno, mas
simplesmente ignorando o/a agressor/a / intimidador/a; pintura, etc.);

• R efletir como poderá reduzir as oportunidades de intimidação, como, por • N a sala de aula: uso de vídeo,
exemplo, não levar objetos de valor para a escola, andar sempre em grupo, evitar informar sobre comportamentos
ficar sozinho nos corredores ou balneários; típicos de bullying, análise de
• E ncorajar a criança a desenvolver atividades nas quais é mais habilidosa, já que histórias/estudo de casos (cartões
essa é uma forma de reforçar a sua autoestima, bem como de conhecer outras com histórias), dramatizações/
pessoas, aumentado a sua rede social; roleplay (de situações de bullying),
• F alar com o/a professor/a e partilhe as suas preocupações. Pergunte-lhe, brainstorming (estratégias
também, como é que a criança está inserida na turma e com o resto dos colegas
para prevenir e lidar com a
ou se têm notado algum sinal que seja importante realçar;
agressividade – vítimas
• N os casos mais graves, procurar a ajuda de um profissional com especialização e agressores), jogos pedagógicos.
na área, um psicólogo.

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