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primeiros anos de vida, os seus pais separaram-se e juntaram-se várias vezes. È descrito
como instável no contexto intra-familiar, com uma agressividade especialmente dirigida
à mãe. Há igualmente referência a comportamentos e linguagem sexualizados. Do ponto
de vista académico, as queixas centram-se à volta de dificuldades na realização das
tarefas escolares devido às dificuldades de atenção e concentração que apresenta.
O Pedro é um rapaz com um contacto excessivamente próximo, ansioso e não tem
amigos especiais. É verborreico e com uma linguagem ideo-fugidia.
Desde que frequenta a nossa unidade, tem 26 sessões de psicoterapia individual e 8 de
pedopsiquiatria e intervenção familiar, tendo iniciado farmacologia em Janeiro de 2008.
O segundo caso é o do Daniel que tem 7 anos e vem à consulta pela primeira vez em
Agosto de 2007 por motivos de instabilidade motora e dificuldades de concentração.
Frequentava à data da primeira consulta o ensino pré-escolar com grande intolerância á
frustração, e agressividade na relação com os pares à mínima contrariedade.
O Daniel é o único filho do casal e vive com os pais, a mãe tem 30 anos e está grávida
de um segundo rapaz, o pai tem 35 anos e é operário especializado em climatização.
O Daniel é descrito como uma criança agitada desde que nasceu, entre os dois meses e
os dois anos de idade foi entregue aos cuidados de uma ama pois a sua mãe trabalhava,
sendo de seguida integrado numa creche da zona com boa adaptação. A instabilidade
motora torna-se mais evidente no ensino pré-escolar devido às exigências da escola.
Em Abril de 2008, o Daniel queixa-se de uma dor no testículo e é operado de urgência
por lhe ter sido detectado um tumor no testículo. A partir dessa data, o
acompanhamento na nossa equipa é interrompido devido ao internamento no IPO e à
quimioterapia. O Daniel perde o cabelo mas o tratamento, com duração de seis meses, é
bem sucedido e ele fica fora de perigo. Em Setembro de 2008 regressa à escola e integra
o 1º ano de escolaridade.
Desde o início do acompanhamento na nossa Unidade, o Daniel teve 32 sessões de
psicoterapia individual, 13 sessões de pedopsiquiatria com intervenção familiar e a
introdução de psicofarmacologia desde Dezembro de 2008.
suportar a ausência da mãe tanto do ponto de vista psicológico como físico. Com efeito,
a mãe está mais centrada no seu próprio narcisismo em detrimento da construção da
identidade da criança. A instabilidade seria portanto uma resposta a uma angústia
permanente como um equivalente de uma defesa maníaca face a angústias depressivas.
Parece existir uma falha ao nível da simbolização, visível no TRI extratensivo que dá
conta de carências no plano interno. O aparecimento de um cancro num testículo em
plena fase edipiana reactiva os fantasmas de morte já existentes na ambivalência da mãe
em relação ao Daniel. Segundo Flavigny (1988), a dimensão da solicitação incestuosa
da mãe mascara uma rejeção da criança que se manifesta pelos fantasmas de morte.
Durante o tratamento no IPO, a mãe pára de trabalhar e transfere a sua agressividade e
angústia para o pai, distanciando-o da criança. Bleichmar (1999) refere que os pais
destas crianças revelam uma grande fragilidade no exercício da sua função separadora,
sendo frequentemente desvalorizados pela mãe. Assim, a rejeição inicial da mãe face
aos comportamentos agidos da criança, seguida do sentimento de castração imposto
pelo Édipo e agravado pelo aparecimento d o acontecimento traumático (cancro),
impedem o acesso ao narcisismo secundário no Daniel. A gravidez da mãe surge no fim
do tratamento e reactiva a angústia de rejeição do Daniel exacerbando a instabilidade
motora que se torna exuberante. No entanto, o acompanhamento em psicoterapia e o
deslocamento do investimento materno para o bebé em evolução, acaba por funcionar
paradoxalmente como elemento separador de forma a permitir que o Daniel se aproxime
do pai e aceda à posição depressiva.