Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1-INTRODUÇÃO
A vida mental tem sido definida no contexto das abordagens psicanalíticas como
um conjunto dinâmico de representações afectivas (Greenberg & Mitchell, 2003), sendo
que as centrais e estruturantes do psiquismo e da personalidade do indivíduo dizem
respeito à representação da relação entre Self e Objecto. A complexidade da integração e
diferenciação das representações do Self e do Objecto têm sido enfatizadas como
critérios de diagnóstico psicodinâmico pela Psychodynamic Diagnostic Manual-task
force (2006) e têm sido alvo inúmeros estudos empíricos (ex. Kernberg, 1996, Blatt et
al, 1997, Diguer et al, 2004, entre outros).
As relações entre um Eu e um Outro Significativo (relação precoce, relação
amorosa, relação terapêutica, etc.) que acontecem ao longo do ciclo de vida, num palco
interpessoal e sistémico, são possibilitadas, mediadas e grandemente articuladas com
uma matrix dinâmica de representações internas, intersubjectivas e fantasmáticas entre
um Self e de um Objecto em diálogo e co-construção. É pela noção de objecto interno,
ou seja, pela ligação de afecto e significado de um Outro em relação com um Eu, que o
mundo psíquico de um indivíduo adquire qualidade representacional. O objecto pré-
existe ao sujeito, estabelece com ele uma ligação da qual virá a depender a
3-RESULTADOS
PROQ3- Na amostra de estudantes considerada, os resultados médios foram:
Total=113.4 (SD=14.2), SN=12.9 (SD=3.1) SP=16.2 (SD=2.7), NP=13.7 (SD=5.0),
IP=14.2 (SD=4.0), IN=15.4 (SD=2.5), ID=15.3 (SD=2.4), ND=14.2 (SD=3.3), SD=12.1
(SD=3.1). A pontuação total média dos estudantes do sexo feminino foi de 112.5
(SD=15.2) e do sexo masculino de 114.5 (SD=13.3).
A precisão foi estudada calculando o Alpha de Cronbach, sendo o seu valor em
escala total de .80. Os valores relativos a cada octante encontram-se indicados a
vermelho na diagonal da tabela. Da tabela constam os valores das correlações de
Pearson (teste bilateral) entre os vários octantes.
SN SP NP IP IN ID ND SD
SN .75 .56** .05 .43** .11 .19 .35** .43**
SP .63 .29* .50** .26* .37** -.05 .31**
NP .37 .23 .34** .24* -.25 -.09
IP .90 .21 .44** .34** .10
IN .72 .30* .13 -.19
ID .61 .11 -.14
ND .75 .22
SD .70
Uma análise factorial (PCA rotação Varimax) com uma solução de 8 factores
explica 62.3% da variância de resultados. (Factor 1 eigenvalue=7.7, 19.2% variância,
itens correspondem ao octante IP; Factor 2 eigenvalue=4.7, 11.8% variância, itens dos
octantes IN e IP; Factor 3 eigenvalue=3.1, 7.7% variância, itens ND; Factor 4
eigenvalue=2.6, 6.4% variância, itens IP; Factor 5 eigenvalue=2.0, 5.0% variância,
itens NP e IN; Factor 6 eigenvalue=1.9, 4.6% variância, itens ID; Factor 7
eigenvalue=1.6, 3.9% variância, itens IN; Factor 8 eigenvalue=1.5, 3.7% variância,
itens SD).
SOS- Na amostra de estudantes considerada, o resultado médio na sub-escala
Self Inseguro=20.5 (SD=4.7) e na sub-escala Self Engolfado=18.44 (SD=4.9).
Uma análise factorial exploratória aponta 5 factores com eigenvalues superiores
a 1 (3.30, 2.25, 1.24, 1.14 e 1.07) que explicam 23.56, 16.10, 8.83, 8.15 e 7.67% da
variância total. Uma vez que os dois primeiros factores explicam 39,66% da variância e
expressam de um modo mais coerente a estrutura teórica que subjaz à construção das
sub-escalas, foi estudada uma solução de dois factores (PCA-rotação Varimax). Sendo
que o primeiro factor (eigenvalue=3.3 explica 23.56% variância) dá conta de itens que
expressam intrusão (Self Engolfado) e o segundo factor (eigenvalue=2.25 explica
16.10% da variância) comporta itens que expressam abandono (Self Inseguro).
Os níveis de precisão (Alpha de Cronbach) e a correlação item-total estão
descritos na seguinte tabela:
Tabela 2- SOS Correlações Item-Escala (* p< .05; **p<.001) e Alpha de Cronbach (a vermelho
linhas inferiores)
5-CONCLUSÃO
Fica a necessidade de continuar a estudar estes dois instrumentos na sua versão
portuguesa, mas também a ideia de que se podem tornar promissoras ferramentas de
investigação empírica e clínica, como aliás os autores britânicos têm vindo a afirmar (o
PROQ3 mostrou-se sensível a mudanças dos pacientes em psicoterapia, a SOS foi
utilizada para estudar dois tipos de paranóia).
AGRADECIMENTOS
Agradecemos a John Birtchnell e Dave Dagnan pelas autorizações do uso dos seus
questionários.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Birtchnell, J. (1994). The interpersonal octagon: an alternative to interpersonal circle.
Human Relations, 47, 511-529.
Birtchnell, J. (2002). Psychotherapy and the interpersonal octagon. Psychology &
Psychotherapy: Theory, Research and Practice, 75, 433-448.
Birtchnell, J., & Evans, C. (2004). The Person’s Relating to Others Questionnaire
(PROQ2). Personality and Individual Differences, 36, 125-140.
Blatt, S., Auerbach, J., & Levy, K. (1997) Mental representations in personality
development, psychopathology, and the therapeutic process. Review of General
Psychology, 1, 351-374.
Bouchard, M-A, Target, M., Lecours, S., Fonagy, P., Tremblay, L-M, Schachter, A.,&
Stein, H. (2008). Mentalizations in adult attachment narratives: Reflective
functioning, mental states and affect elaboration compared. Psychoanalytic
Psychology, 25(1),47-66.
Brusset, B. (2005). Métapsychologie du lien et “troisième topique”?, Rapport présenté
au 66éme CPLF, Buletin de la SPP- Psychanalyse en Europe, 23-88.
Calabrese, M. L., Farber, B. A., & Westen, D. (2005). The relationship of adult
attachment constructs to object relational patterns of representing self and others.
Journal of the American Academy of Psychoanalysis & Dynamic Psychiatry, 33,
513-530
Dagnan, D., Trower, P., & Gilbert, P.(2002). Measuring vulnerability to threats to self-
construction: The Self and Other Scale. Psychology and Psychotherapy: Theory,
Research and Practice, 75, 279-293.
Diguer, L., Pelletier, S., Hébert, E., Descôteaux, J., Rousseau, J., & Daoust, J. (2004).
Personality organizations, psychiatric severity, and self and object representations.
Psychoanalytic Psychology, 21 (2), 259-275.
Dexter-Smith, S., Trower, P., & Dagnan, D. (2003). Psychometric evaluation and
standardization of the Self and Other Scale. Jpurnal of Rational-Emotive &
Cognitiva-Behavior Therapy, 21, 89- 104.
Greenberg, J., & Mitchell, S. (2003). Relações de objecto na teoria psicanalítica. (trad.
port). Lisboa: Climepsi.
Kernberg, O. F. (1996). A psychoanalytic theory of personality disorders. In J.F.
Clarkin & M. F. Lenzenweger (Eds.). Major theories of personality disorder
(pp.106-140). NY: Guilford Press.
Lambert, M. J., & Barley, D. E. (2001). Research summary on the therapeutic
relationship and psychotherapy outcome. Psychotherapy: Theory, Research,
Training, 38(4), 357-361.
Medina, A. (2005). Responsividade do terapeuta e mudança de padrões interpessoais
disfuncionais do paciente ao longo do processo psicoterapêutico. (Tese de
Mestrado- Área de Especialização: Mudança e Desenvolvimento em Psicoterapia).
FPCE-UL.