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Psicologia da
Educação
É com satisfação que a Unisa Digital oferece a você, aluno(a), esta apostila de Psicologia da Edu-
cação, parte integrante de um conjunto de materiais de pesquisa voltado ao aprendizado dinâmico
e autônomo que a educação a distância exige. O principal objetivo desta apostila é propiciar aos(às)
alunos(as) uma apresentação do conteúdo básico da disciplina.
A Unisa Digital oferece outras formas de solidificar seu aprendizado, por meio de recursos multidis-
ciplinares, como chats, fóruns, aulas web, material de apoio e e-mail.
Para enriquecer o seu aprendizado, você ainda pode contar com a Biblioteca Virtual: www.unisa.br,
a Biblioteca Central da Unisa, juntamente às bibliotecas setoriais, que fornecem acervo digital e impresso,
bem como acesso a redes de informação e documentação.
Nesse contexto, os recursos disponíveis e necessários para apoiá-lo(a) no seu estudo são o suple-
mento que a Unisa Digital oferece, tornando seu aprendizado eficiente e prazeroso, concorrendo para
uma formação completa, na qual o conteúdo aprendido influencia sua vida profissional e pessoal.
A Unisa Digital é assim para você: Universidade a qualquer hora e em qualquer lugar!
Unisa Digital
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO................................................................................................................................................ 5
1 RAÍZES HISTÓRICAS DA PSICOLOGIA..................................................................................... 7
1.1 Antecedentes.....................................................................................................................................................................8
1.2 Resumo do Capítulo.....................................................................................................................................................15
1.3 Atividades Propostas....................................................................................................................................................15
8 EDUCAÇÃO/APRENDIZAGEM..................................................................................................... 39
8.1 Resumo do Capítulo.....................................................................................................................................................40
8.2 Atividades Propostas....................................................................................................................................................40
9 TIPOS DE APRENDIZAGEM............................................................................................................ 41
9.1 Características Psicológicas Gerais da Aprendizagem....................................................................................41
9.2 Resumo do Capítulo.....................................................................................................................................................47
9.3 Atividades Propostas....................................................................................................................................................48
10 TEORIAS DE APRENDIZAGEM: ASSOCIACIONISTAS, S-R OU
COMPORTAMENTAIS......................................................................................................................49
10.1 O Conexionismo de Thorndike..............................................................................................................................49
10.2 O Condicionamento Operante de Skinner........................................................................................................50
10.3 Resumo do Capítulo..................................................................................................................................................51
10.4 Atividades Propostas.................................................................................................................................................51
14 A PSICOLOGIA E A ADOLESCÊNCIA..................................................................................... 95
14.1 Definição de Adolescência......................................................................................................................................95
14.2 Desenvolvimento Sexual.........................................................................................................................................96
14.3 Mudanças Cognitivas ...............................................................................................................................................96
14.4 Resumo do Capítulo .................................................................................................................................................96
14.5 Atividades Propostas.................................................................................................................................................97
15 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................................. 99
RESPOSTAS COMENTADAS DAS ATIVIDADES PROPOSTAS....................................101
REFERÊNCIAS............................................................................................................................................109
INTRODUÇÃO
Caro(a) aluno(a),
Buscando organizar esta disciplina, de forma a melhor favorecer a sua compreensão, apresentare-
mos os conteúdos da seguinte maneira:
Nesses capítulos, você encontrará, intencionalmente, palavras em destaque. Note que todas elas
são de uso frequente na Educação ou na Psicologia, mas atente para o período em que estão sendo usa-
das.
Atenção
A Psicologia é o estudo científico do comportamento e dos processos mentais. No final do século XX, a Psicologia
cresceu imensamente; surgiram novas tecnologias de pesquisa, novos campos de investigação e novas abordagens
para o estudo do comportamento e dos processos mentais. Esses avanços levaram a uma especialização maior dentro
da Psicologia, tornando sua contribuição ainda maior para o entendimento do ser humano e de sua existência.
Nesse sentido, um dos interesses da Psicologia era investigar como se processava a relação do de-
senvolvimento com a aprendizagem do homem em sua primeira idade: a criança. Partindo desse pressu-
posto, nasceu uma pergunta: onde se pode observar a criança em seu momento de maior disponibilida-
de ao desenvolvimento e à aprendizagem? A resposta para tal pergunta é: em um espaço que foi criado
e institucionalizado para ela aprender: a Escola.
Logo se percebeu que, para tentar responder às perguntas nascidas de observações feitas no espa-
ço escolar, necessitava-se de estudo específico que, embora pertencesse à ciência Psicologia, devesse ter
interesses particulares que se amarrassem aos interesses gerais dessa ciência: tem-se aí uma área deno-
minada Psicologia da Educação.
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Bem, agora é hora de conhecer os autores, suas teorias e suas sugestões de observação e análise
para o entendimento dos processos mentais e do comportamento.
Atenção
Caro(a) aluno(a), buscando organizar o curso de forma a melhor atender à sua compreensão, dividiu-se o conteúdo
da seguinte maneira:
• apresentaremos a história da Psicologia e como essa ciência desenvolveu-se ao longo da história da humanidade,
tópico no qual estudaremos as Ideias Psicológicas e seus principais pensadores;
• estabeleceremos uma linearidade temporal, partindo da Grécia Antiga até o final do século XIX, apresentando a
ciência psicológica e sua preocupação com o indivíduo;
• discutiremos as questões relativas ao desenvolvimento emocional e afetivo na construção da personalidade, a
partir do pensamento Psicodinâmico de Sigmund Freud e do pensamento humanista de Carl Roger;
• apresentaremos a natureza da aprendizagem e do ensino;
• estudaremos as Teorias de Aprendizagem e sua preocupação com indivíduo.
Os temas apresentados serão tratados à luz das teorias de Sigmund Freud, Carl Rogers, Jean Piaget,
Lev Vygotsky, Henri Wallon, Thorndike e Skinner.
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1 RAÍZES HISTÓRICAS DA PSICOLOGIA
Saiba mais
Wilhelm Maximilian Wundt (Neckarau, 16 de agosto de 1832 – Großbothen, 31 de agosto de 1920) foi
um médico, filósofo e psicólogo alemão. É considerado um dos fundadores da moderna psicologia
experimental, junto a Ernst Heinrich Weber (1795-1878) e Gustav Theodor Fechner (1801-1889).
Entre as contribuições que o fazem merecedor desse reconhecimento histórico, estão a criação do
primeiro laboratório de psicologia no Instituto Experimental de Psicologia da Universidade de Leipzig
(Lipsia), na Alemanha, em 1879, e a publicação de Principles of physiological psychology (Princípios de
psicologia fisiológica), em 1873, no qual afirmava textualmente que seu propósito, com o livro, era de-
marcar um novo domínio da ciência (WIKIPÉDIA, 2012).
• Ideias Psicológicas são as contribuições elaboradas pelos estudiosos a partir de suas investigações, considerando a varie-
dade de formas e condições de aprendizagem, tendo em vista os processos mentais observados por meio do comporta-
mento e desenvolvimento do indivíduo.
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1.1 Antecedentes
Saiba mais
Sócrates (em grego antigo: Σωκράτης, transl. Sōkrátēs; Atenas, 469 a.C. – Atenas, 399 a.C.) foi um filósofo ateniense e um dos
mais importantes ícones da tradição filosófica ocidental. É considerado por muitos filósofos o modelo de filósofo. Não à toa, foi
o professor de Platão, um dos mais influentes filósofos da atualidade. Pouco se sabe ao certo sobre sua vida. As fontes mais im-
portantes de informações sobre Sócrates são fornecidas por Platão (alguns historiadores afirmam só se poder falar de Sócrates
como um personagem de Platão, por ele nunca ter deixado nada escrito de sua própria autoria) e Xenofonte, que o exaltam, e
por Aristófanes, que o combate e satiriza. Os diálogos de Platão retratam Sócrates como mestre que se recusa a ter discípulos
e um homem piedoso que foi executado por impiedade. Sócrates não valorizava os prazeres dos sentidos; todavia, escalava-se
o belo entre as maiores virtudes, junto ao bom e ao justo. Dedicava-se ao parto das ideias (Maiêutica) dos cidadãos de Atenas,
mas era indiferente em relação a seus próprios filhos (WIKIPÉDIA, 2012).
Saiba mais
A respeito da Maiêutica...
Sócrates comparava sua função com a profissão de sua mãe: parteira – aquela que não dá à luz a criança, apenas auxilia a
parturiente. “O parto das ideias” – expresso pela palavra ‘maiêutica’ – caracteriza o momento de busca da verdade, no qual o ser
humano busca o aprimoramento de suas ideias pela reflexão e pelo diálogo, numa construção compartilhada, por aproxima-
ções sucessivas, ampliando seu autoconhecimento e o seu conhecimento sobre o mundo.
É em sua busca pela verdade que se per- gens psicológicas racionalistas, que estão na base
cebem ideias psicológicas, pois para o filósofo a do cognitivismo – um exemplo é a teoria piage-
verdade está em cada indivíduo; este, portanto, tiana.
deverá realizar um exercício de análise interior
para descobrir a verdade. A tal processo pode-se
associar a subjetividade tão utilizada nas aborda-
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Psicologia da Educação
Curiosidade
“Para Sócrates o homem ao voltar-se para si mesmo chegaria à sabedoria, alcançando a auto-realização.
Sócrates concebia o homem por meio de dois princípios: alma (espírito) e corpo. Defensor do diálogo como método
de educação, considerava muito importante o contato direto com os interlocutores – o que é uma das possíveis ra-
zões para o fato de não ter deixado nenhum texto escrito. Suas idéias forma recolhidas principalmente por Platão, que
as sistematizou, e por outros filósofos que conviveram com ele. Sócrates se fazia acompanhar frequentemente por
jovens, alguns pertencentes as mais ilustres e ricas famílias de Atenas.
Para Sócrates, ninguém adquire a capacidade de conduzir-se, e muito menos de conduzir-se os demais, se não possuir
a capacidade de autodomínio. Depois dele, a noção de controle pessoal se transformou em um tema central da ética
e da filosofia moral. Também se formou aí o conceito de liberdade interior: livre é o homem que não se deixa escravizar
pelos próprios apetites e segue os princípios que, por intermédio da educação afloram de seu interior.” (REVISTA NOVA
ESCOLA, 2008).
Saiba mais
Platão (em grego: Πλάτων, transl. Plátōn, “amplo”; Atenas, 428/427 a.C. – Atenas, 348/347 a.C.) foi um filósofo e matemático
do período clássico da Grécia Antiga, autor de diversos diálogos filosóficos e fundador da Academia em Atenas, a primeira
instituição de educação superior do mundo ocidental. Juntamente a seu mentor, Sócrates, e seu pupilo, Aristóteles, Platão
ajudou a construir os alicerces da filosofia natural, da ciência e da filosofia ocidental. Acredita-se que seu nome verdadeiro
tenha sido Arístocles; Platão era um apelido que, provavelmente, fazia referência à sua característica física, tal como o porte
atlético ou os ombros largos, ou, ainda, à sua ampla capacidade intelectual de tratar de diferentes temas, entre eles, a ética, a
política, a metafísica e a teoria do conhecimento. A sofisticação de Platão como escritor é especialmente evidente em seus diá-
logos socráticos; trinta e cinco diálogos e treze cartas são creditados tradicionalmente a ele, embora os estudiosos modernos
tenham colocado em dúvida a autenticidade de, pelo menos, algumas dessas obras. Essas obras também foram publicadas
em diversas épocas e das mais variadas maneiras, o que levou a diferentes convenções no que diz respeito à nomenclatura e
referenciação dos textos. Embora não exista qualquer dúvida de que Platão lecionou na Academia fundada por ele, a função
pedagógica de seus diálogos – se é que alguma existia – não é conhecida com certeza. Os diálogos, desde a época do próprio
Platão, eram usados como ferramentas de ensino nos tópicos mais variados, como filosofia, lógica, retórica, matemática, entre
outros (WIKIPÉDIA, 2012).
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Curiosidade
“Para o grego Platão (427-347 a.C.) o objetivo final da educação era a formação do homem moral, vivendo em um
Estado justo.
Platão foi o segundo da tríade dos grandes filósofos clássicos, sucedendo Sócrates (469-399 a.C.) e precedendo Aris-
tóteles, seu discípulo. Como Sócrates, Platão rejeitava a educação elitista que se praticava na Grécia em sua época.
A busca da virtude deve prosseguir pela vida inteira. Educar é imprescindível para uma ordem política baseada na
justiça, devendo ser a tarefa de toda a sociedade.
Platão defendia que os alunos buscassem as respostas, procurando pensar sobre as respostas a partir de perguntas
mobilizadoras.
A pedagogia de Platão se aproxima de sua filosofia, em que a busca da verdade é mais importante do que dogmas
incontestáveis. O processo dialético platônico, isto é, processo no qual ao longo do debate de idéias, depuram-se o
pensamento e os dilemas morais, também se relaciona com a procura de respostas durante o aprendizado.” (REVISTA
NOVA ESCOLA, 2008).
Saiba mais
Aristóteles (em grego: Aριστοτέλης, transl. Aristotélēs; Estagira, 384 a.C. – Atenas, 322 a.C.) foi um filósofo grego, aluno de Pla-
tão e professor de Alexandre, o Grande. Seus escritos abrangem diversos assuntos, como a física, a metafísica, as leis da poesia
e do drama, a música, a lógica, a retórica, o governo, a ética, a biologia e a zoologia. Juntamente a Platão e Sócrates (professor
de Platão), Aristóteles é visto como um dos fundadores da filosofia ocidental. Em 343 a.C., tornou-se tutor de Alexandre da
Macedônia, na época com 13 anos de idade, que seria o mais célebre conquistador do mundo antigo. Em 335 a.C., Alexandre
assumiu o trono e Aristóteles voltou para Atenas, onde fundou o Liceu (lyceum).
Aluno de Platão, Aristóteles discordava de uma parte fundamental da sua filosofia. Platão concebia dois mundos existentes:
aquele que é apreendido por nossos sentidos – o mundo concreto –, em constante mutação, e outro mundo – abstrato –, o
das ideias, acessível somente pelo intelecto, imutável e independente do tempo e do espaço material. Aristóteles, ao contrário,
defendia a existência de um único mundo: este em que vivemos. O que está além de nossa experiência sensível não pode ser
nada para nós (WIKIPÉDIA, 2012).
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Psicologia da Educação
Curiosidade
O pensamento romano floresceu num ambiente de ócio (a vida sem trabalho proporcionada pela riqueza do Império
e pelo emprego da mão de obra escrava). Na Filosofia, os romanos elaboraram um pensamento eclético, uma mistura
de várias correntes de pensamento. Marco Túlio Cícero (106-43 a.C.) sustentava que deveria existir alguma forma de
conhecimento para assegurar o consenso, que fosse além de mecanismos de aprendizagem mecânicos e superficiais;
o que lhe importava não era o conhecimento das coisas por meio da razão, mas o que era razoável e conveniente para
os homens, a partir da reflexão e da observação, nas quais as aptidões naturais são consideradas.
• Entre os antigos romanos, educare significava criar ou nutrir crianças e estava ligado a outro verbo: edu-
cere – fazer sair, lançar, criar, amamentar.
Cícero opõe-se aos professores que, em na cultura geral, uma vez que criticava o ensino
seu tempo, eram preocupados apenas com a mecânico e superficial. Acreditava que o homem
transmissão de regras ou receitas. Era preocupa- deveria ser livre em seu aprendizado, consciente
do com a necessidade de observação e reflexão e de sua autonomia e responsável por seu conhe-
a importância de uma base educacional pautada cimento.
Saiba mais
Marco Túlio Cícero, em latim Marcus Tullius Cicero (Arpino, 3 de janeiro de 106 a.C. – Formia, 7 de dezem-
bro de 43 a.C.), foi um filósofo, orador, escritor, advogado e político romano. Cícero é normalmente visto
como uma das mentes mais versáteis da Roma Antiga. Foi ele quem apresentou aos romanos as escolas
da filosofia grega e criou um vocabulário filosófico em latim, distinguindo-se como um linguista, tradutor e
filósofo. Um orador impressionante e um advogado de sucesso, Cícero provavelmente pensava que a sua
carreira política era a sua maior façanha. Hoje em dia, ele é apreciado principalmente pelo seu humanismo
e trabalhos filosóficos e políticos (WIKIPÉDIA, 2012).
Saiba mais
Marcus Fabius Quintilianus nasceu em Caagurris (Calahorra, atual Espanha) e viveu de 30 a 95. Escritor e retórico latino, es-
tudou em Roma, onde primeiro foi advogado. Tornou-se conhecido por ter sido professor de retórica. Um de seus alunos foi
o orador romano Plinio, o Jovem. Depois de ser, por vinte anos, advogado e professor, retirou-se para escrever. Ficou famoso
pelo Institutio oratoria (c. 95), grande obra redigida em 12 volumes. Nos dois primeiros livros, Quintiliano trata da educação
fundamental e como se organizava a vida na Roma de seu tempo; recomenda que se ensinem, simultaneamente, os nomes
das letras e as suas formas, é contrário aos castigos físicos; recomenda a emulação como incentivo para o estudo; e sugere que
o tempo escolar seja periodicamente interrompido por recreios, já que o descanso é, na sua opinião, favorável à aprendizagem.
O Livro X é o mais conhecido; nele, Quintiliano aconselha a leitura como elemento fundamental na formação de um orador,
bem como apresenta uma pesquisa sobre as pessoas que escreveram em grego e latim. No último livro, apresenta o conjunto
de qualidades que deve reunir quem se dedicar à Oratória, tanto no que se refere à conduta quanto ao caráter. Sua obra exer-
ceu grande influência sobre a teoria pedagógica que sustenta o humanismo e o renascimento.
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É imensa sua contribuição para a compreen- foi da própria Igreja que foram recuperados os
são do ser humano em sua constituição, mesmo pensadores cujas ideias influenciaram o pensar
que durante muito tempo essas informações psicológico no que diz respeito à aprendizagem
tenham ficado em segredo por parte da maior e ao ensino, mesmo que suas ideias visassem es-
instituição daquela época: a Igreja. Desse modo, sencialmente à formação do cristão.
Saiba mais
Aurélio Agostinho (em latim, Aurelius Augustinus), dito de Hipona e conhecido como Santo Agostinho (Tagaste, 13 de
novembro de 354 – Hipona, 28 de agosto de 430), foi um bispo, escritor, teólogo, filósofo, padre latino e doutor da Igreja Ca-
tólica. Agostinho foi uma das figuras mais importantes no desenvolvimento do cristianismo no Ocidente. Seu pensamento
influenciou profundamente a visão do homem medieval. A Igreja identificou-se com o conceito de “Cidade de Deus” de Agos-
tinho, como também a comunidade que era devota de Deus. Na Igreja Católica e na Igreja Anglicana, é considerado um santo,
um importante Doutor da Igreja e o patrono da ordem religiosa agostinha. Muitos protestantes, especialmente calvinistas,
consideram-no um dos pais teólogos da Reforma Protestante, ensinando a salvação e a graça divina (WIKIPÉDIA, 2012).
Santo Agostinho acreditava na iluminação São Tomás de Aquino surgiu oito séculos
interior como condição básica para a aprendiza- depois do colega padre Santo Agostinho, e acre-
gem. A seu ver, só aprendemos de fato quando ditava que adquirimos conhecimento por duas
somos espiritualmente iluminados, não cabe aos vias: interior, no caso de quem procura apren-
professores ensinar nada, mas apontar os ensina- der por meio de sua própria busca, e exterior, no
mentos por meio da provocação e do estímulo. caso de quem busca o aprendizado por meio da
Agostinho propunha que os professores ensinas- instrução de alguém. Acreditava que toda apren-
sem com calma e satisfação, sem aulas enfado- dizagem precede do conhecimento anterior,
nhas e chatas. portanto para se aprender deve-se respeitar a ca-
pacidade de aprender de cada um. Segundo esse
Padre, o conhecimento é obtido por meio do en-
sino e também da descoberta.
Curiosidade
“Tomás de Aquino é uma figura simbólica de seu tempo na medida em que representou como ninguém a tensão
entre a tradição cristã medieval e a cultura que se formava no interior de uma nova sociedade. Sua obra mais impor-
tante, apesar de não concluída, é a Suma Teológica, na qual revê a teologia cristã sob a nova ótica, seguindo o princípio
aristotélico de que cabe à razão ordenar e classificar o mundo para entendê-lo. Eis o princípio do tomismo, como é
chamada a filosofia inaugurada por Tomás de Aquino.
A relação entre razão e fé está no centro dos interesses do filósofo. Para ele, embora esteja subordinada à fé, a razão
funciona por si mesma, segundo as próprias leis. Ou seja, o conhecimento não depende da fé nem da presença de
uma verdade divina no interior do indivíduo, mas é um instrumento de se aproximar de Deus.” (REVISTA NOVA ESCOLA,
2008).
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Psicologia da Educação
João Amós Comênio é conhecido como sensoriais e a fala, e finalmente para os jovens
o pai da Didática, pois foi o precursor do ensino de 18 a 25 anos, estudos mais aprofundados e
audiovisual e da pedagogia moderna; acreditava específicos. Para Comênio, o ensino deve partir
que o sistema escolar deveria ser aberto a todas de fatos práticos e claros que levem o aprendiz
as crianças dos 6 aos 12 anos; e dava importância a dedicar-se a uma atividade autônoma e autor-
à inteligência, à imaginação e à memória. Para os reguladora. Tudo deve ser apresentado ao aluno
jovens dos 12 aos 18 anos, deveria existir a esco- por meio de seus sentidos. Vê-se a importância
la secundária, que se preocuparia com os órgãos da experiência e a associação das ideias.
Saiba mais
“O nome Comênio é o aportuguesamento da assinatura latina de Jan Amos Comenius, nascido em 1592 na Moravia, Repú-
blica Tcheca.
Comênio é conhecido como o pai da Didática Moderna. O filósofo tcheco defendeu o ensino de ‘tudo para todos’ e foi o pri-
meiro teórico a respeitar a inteligência e os sentimentos da criança.
A obra mais importante de Comênio, ‘Didactica Magna’, marca o início da sistematização da pedagogia e da didática no Oci-
dente.
No livro, o pensador realiza uma racionalização de todas as ações educativas, indo da teoria didática até as questões do coti-
diano da sala de aula.
A prática escolar, para ele, deveria imitar os processos da natureza. Nas relações entre professor e aluno, seriam consideradas
as possibilidades e os interesses da criança. O professor passaria a ser visto como um profissional, não como um missionário.
A organização do tempo e do currículo levaria e conta os limites do corpo e a necessidade, tanto dos alunos quanto dos pro-
fessores.” (REVISTA NOVA ESCOLA, 2008).
Saiba mais
Empiristas são os adeptos do empirismo. Na filosofia, Empirismo é um movimento que acredita nas experiências como
únicas (ou principais) formadoras das ideias, discordando, portanto, da noção de ideias inatas.
O empirismo é descrito/caracterizado pelo conhecimento científico e a sabedoria é adquirida por percepções; pela origem
das ideias, por onde se percebe as coisas, independentemente de seus objetivos e significados; pela relação de causa-efeito,
por onde fixamos na mente o que é percebido, atribuindo à percepção causas e efeitos; pela autonomia do sujeito, que afirma
a variação da consciência de acordo com cada momento; pela concepção da razão, que não vê diferença entre o espírito e
extensão, como propõe o Racionalismo; e, ainda, pela matemática, como linguagem que afirma a inexistência de hipóteses.
Na ciência, o empirismo é normalmente utilizado quando falamos no método científico tradicional (que é originário do em-
pirismo filosófico), o qual defende que as teorias científicas devem ser baseadas na observação do mundo, em vez de na
intuição ou na fé, como lhe foi passado.
O termo tem uma etimologia dupla. A palavra latina ‘experientia’, da qual deriva a palavra ‘experiência’, é originária da expressão
grega εμπειρισμός. Por outro lado, deriva-se também de um uso mais específico da palavra ‘empírico’, relativo aos médicos,
cuja habilidade deriva da experiência prática e não da instrução, da teoria (WIKIPÉDIA, 2012).
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John Locke acreditava que a mente de uma -las, enquanto viver [...]. A escuridão para
criança recém-nascida era uma tábula rasa, uma sempre trará consigo essas idéias ame-
drontadoras, e ficarão tão unidas que não
lousa limpa. Para ele, todo o conhecimento era
se poderá suportar nem uma, nem a ou-
adquirido por meio de experiências sensoriais. tra. (LOCKE, 1700 apud HERRNSTEIN; BO-
Para esse filósofo, a aprendizagem e a memória RING, 1971, p. 410-411).
dependem da associação de ideias, já que estas
se sucedem no pensamento em virtude de liga-
É claro que as contribuições para as ideias
ções naturais ou racionais. O próprio Locke dá um
psicológicas não se resumiram apenas a esses
exemplo:
grandes pensadores, entretanto, aqui, o objetivo
é mostrar em linhas gerais que a Psicologia pode
[...] as idéias de duendes e fantasmas, na
ser apresentada da seguinte forma: antes do fim
realidade, não têm mais a ver com a es-
curidão do que com a luz; no entanto, se do século XIX, em que o que foi produzido e se
uma pajem tola inculca freqüentemente relacionava com a Psicologia era conhecido por
essas idéias na mente de uma criança e Ideias Psicológicas, e a partir de 1879, com as des-
faz com que se desenvolvam juntas, tal- cobertas de Wundt, quando a Psicologia passa a
vez a criança nunca seja capaz de separá-
ser considerada uma ciência.
Saiba mais
“No século 19, destaca-se o papel da ciência e seu avanço torna-se necessário. O crescimento da nova ordem econômica – o
capitalismo – traz consigo o processo de industrialização, para o qual a ciência deveria dar respostas e soluções práticas no
campo da técnica. Há, então, um impulso muito grande para o desenvolvimento da ciência, como um sustentáculo da nova
ordem econômica e social, e dos problemas colocados por ela.” (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2001, p. 36).
Saiba mais
“John Locke (1632-1704) foi um pensador inglês que concebia que a criança teria sua mente como uma tela em branco, que
o professor deveria preencher, fornecendo informações e vivências. Influenciou a política ao introduzir o liberalismo. Foi o
autor de dois tratados de governo que sustentaram a implantação da monarquia parlamentarista na Inglaterra, inspiraram a
Constituição dos Estados Unidos e anteciparam as idéias dos iluministas franceses. Na filosofia, construiu uma teoria do conhe-
cimento inovadora, que investigou o modo como a mente capta e traduz o mundo exterior. Na educação, compilou uma série
de preceitos sobre aprendizado e desenvolvimento, com base em sua experiência de médico e preceptor, que teve grande
repercussão nas classes emergentes de seu tempo.
Para Locke o aprendizado depende primordialmente das informações e vivências às quais a criança é submetida e que ela
absorve de modo relativamente previsível e passivo. É, portanto, um aprendizado de fora para dentro. O conhecimento seria
atingido somente pela razão. Os princípios morais derivariam de considerações a respeito do que é vantajoso para o indivíduo
e para a coletividade.
A educação teria um papel imprescindível para a formação da criança, que sozinha não teria condições de aprender.” (REVISTA
NOVA ESCOLA, 2008).
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Psicologia da Educação
Caro(a) aluno(a),
A Psicologia da Educação é uma disciplina que pode auxiliar o trabalho educacional, à medida que
apresenta abordagens de estudo do comportamento humano, especialmente, na forma como a apren-
dizagem ocorre, considerando a singularidade humana.
Como pedagogos, não realizaremos uma análise clínica dos comportamentos de nossos alunos,
mas faz-se necessário observarmos, atenta e sensivelmente, suas atitudes, comportamentos, aprendi-
zagens e interações. Nosso objetivo é favorecer o processo de desenvolvimento integral das crianças e
jovens com quem trabalhamos, tendo como apoio as investigações sobre as aprendizagens.
A aprendizagem constitui um dos principais objetos de preocupação dos cientistas que, nos labo-
ratórios de Psicologia das universidades, pesquisaram a vida mental e o comportamento. A maior parte
dos comportamentos e conhecimentos exibidos pelos indivíduos é aprendida. Ao longo do processo
de desenvolvimento, cada ser humano adquire, gradualmente, uma infinidade de competências, regras,
informações e maneiras de lidar com as pessoas, coisas e situações, que resultam tanto de aprendizagem
orientada de modo intencional, planejado, sistemático e controlado, quanto de processos espontâneos
e até acidentais.
O ensino em escolas de todos os níveis e modalidades, o treinamento e o desenvolvimento são
metas que só podem ser alcançadas se ocorrer a aprendizagem em cada pessoa envolvida.
Conhecer os aspectos históricos que permearam a produção científica e filosófica amplia e apro-
funda nossa compreensão sobre a investigação psicológica.
Em nossa retrospectiva histórica e filosófica, acompanhamos, até a Modernidade, as diferentes
concepções que influenciaram as raízes históricas da Psicologia, de maneira geral.
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DESENVOLVIMENTO EMOCIONAL
2 E AFETIVO NA CONSTRUÇÃO DA
PERSONALIDADE
Caro(a) aluno(a),
Atenção
Neste capítulo, trataremos do estudo da
personalidade, considerando as contribuições da Muitos psicólogos definem a personalidade
Teoria Psicodinâmica. como um padrão singular de pensamentos, sen-
timentos e comportamentos de um indivíduo,
Nós falamos de personalidade todo o que persiste através do tempo e das situações.
tempo. Descrevemos nosso melhor amigo como
divertido e tranquilo ou do tipo esportista e muito
meigo. Perdemos a Copa do Mundo em 2006 e Os psicólogos abordam o estudo da perso-
foi comum ouvir: O Parreira não teve personali- nalidade de várias maneiras. Alguns tentam iden-
dade para montar um time bom ou O Ronaldinho tificar as características mais importantes. Outros
Gaúcho só joga com personalidade no Barcelona. procuram entender por que existem diferenças
Descrevemos as pessoas que não conhecemos de personalidade. Dentro desse segundo grupo,
tão bem de modo generalizado: Ele é esnobe alguns psicólogos identificam a família como o
e arrogante ou Ela tem o rei na barriga. Em rela- fator mais importante no desenvolvimento da
ção às crianças, procedemos de maneira seme- personalidade de um indivíduo, e outros enfati-
lhante: Esse aluno é inibido e introspectivo ou As zam as influências ambientais externas à família,
alunas dessa sala são assanhadas demais; e em e ainda tem aqueles que consideram a personali-
alguns casos determinamos: Esse é burro ou Não dade o resultado da maneira como aprendemos
terá condições de aprender nunca. Entretanto, não a pensar a respeito de nós mesmos e de nossas
serão essas breves caracterizações que determi- experiências.
narão a personalidade do educando, pois a per- Neste módulo, trataremos de duas das prin-
sonalidade é composta por um conjunto de ca- cipais teorias da personalidade: a Teoria Psicodi-
racterísticas. nâmica, à luz do pensamento de Sigmund Freud,
Muitos psicólogos definem a personalida- e a Teoria Humanista, à luz da obra de Carl Rogers.
de como um padrão singular de pensamentos,
sentimentos e comportamentos de um indiví-
duo, que persiste através do tempo e das situa-
ções. É preciso atentar-se para dois pontos nessa
definição. Por um lado, a personalidade refere-se
a diferenças singulares – aqueles aspectos que
distinguem uma pessoa de todas as outras. Por
outro lado, a definição afirma que a personali-
dade é relativamente estável e duradoura, pois
essas diferenças individuais dificilmente mudam.
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Saiba mais
“Em 1900, no livro ‘A Interpretação dos Sonhos’, Freud apresenta a primeira concepção sobre a cultura e o funcionamento
psíquicos. Essa teoria refere-se à existência de três sistemas ou instâncias psíquicas: inconsciente, pré-consciente e consciente.
• O inconsciente exprime o ‘conjunto dos conteúdos não presentes no campo atual da consciência’ (LAPLANCHE, J. e PON-
TALIS, J.). É constituído por conteúdos reprimidos, que não têm acesso aos sistemas pré-consciente/consciente, pela ação
de censuras internas. Esses conteúdos podem ter sido conscientes em algum momento, e terem sido reprimidos, isto é,
foram para o inconsciente, ou podem ser genuinamente inconscientes. O inconsciente é um sistema do aparelho psíqui-
co regido por leis próprias de funcionamento. Por exemplo, é atemporal, não existem as noções de passado e presente.
• O pré-consciente refere-se ao sistema em que permanecem os conteúdos acessíveis à consciência. É aquilo que não está
na consciência nesse momento, mas no momento seguinte pode estar.
• O consciente é o sistema do aparelho psíquico que recebe ao mesmo tempo as informações do mundo exterior e as do
mundo interior. Na consciência, destaca-se o fenômeno da percepção, principalmente a percepção do mundo exterior, a
atenção e o raciocínio.” (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2001, p. 73).
Freud acreditava que os seres humanos -arbítrio não opera, assim o indivíduo já não mais
não eram tão racionais quanto seus antecessores comanda de forma racional seu comportamento,
pensavam e que o livre-arbítrio era uma grande são seus instintos e impulsos que falam mais alto.
ilusão. Em vez disso, o indivíduo era motivado por
instintos e impulsos inconscientes, que não esta-
vam disponíveis na parte racional e consciente da Dicionário
sua mente. Freud destaca dois momentos distin-
Livre-arbítrio: é a possibilidade de exercer um po-
tos no modo como a mente funciona: o conscien- der sem outro motivo que não a existência mesma
te, em que o livre-arbítrio impera, o que significa desse poder; é a liberdade de escolha e tomada de
dizer que o indivíduo tem clareza e decide sobre decisão do sujeito (FERREIRA).
o que vai fazer; e o inconsciente, no qual o livre-
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Psicologia da Educação
Atenção Atenção
Psicanálise é um termo criado por Freud, que se Outro elemento importante na psicanálise é o in-
refere tanto à teoria quanto ao método investiga- sight – tornar consciente o que antes não estava
tivo e terapêutico criados por ele para o tratamen- em sua consciência.
to de pessoas. Enquanto teoria, caracteriza-se por
um conjunto de conhecimentos sistematizados
sobre o funcionamento da vida psíquica.
Estruturas da Personalidade
Para o estudo dessa nova teoria acerca do A Personalidade é formada a partir de três
comportamento humano, Freud criou a Psicaná- estruturas: o Id, o Ego e o Superego. O Id, a úni-
lise. Termo que se refere tanto à teoria quanto ao ca estrutura presente no nascimento, é comple-
método investigativo e terapêutico criado por ele tamente inconsciente. Na visão do teórico, o id
para o tratamento das pessoas. Segundo Freud, o consiste de desejos e impulsos que buscam ex-
comportamento humano baseia-se nos impulsos pressar-se permanentemente. Ele age de acordo
ou instintos inconscientes, sendo que alguns são com o princípio do prazer, isto é, procura obter
destrutivos e outros, tais como a fome, sede, au- prazer imediato e evitar a dor. Assim que surge
topreservação e o sexo, são necessários à sobrevi- o instinto, o id tenta satisfazê-lo. Contudo, como
vência do indivíduo e da espécie. Embora muitas o id não está no mundo real, ele se gratifica por
vezes interpretado de forma superficial, Freud meio de ações reflexas (aquelas que estão condi-
utilizava o termo ‘instintos sexuais’ para se referir cionadas a se fazer sem pensar), como, por exem-
não somente à sexualidade erótica, mas também plo, tossir, aliviando uma sensação desagradável,
ao desejo de obter praticamente qualquer forma ou por meio de uma fantasia, ou seja, aquilo que
de prazer. Portanto, para Freud, o instinto sexual Freud chama de realização do desejo.
é o fator mais crítico no desenvolvimento da per-
sonalidade. Na psicanálise freudiana, o cliente é
instruído a falar sobre o que vem à mente, com
Dicionário
o mínimo de preparação possível e sem inibir ou
controlar os pensamentos e as fantasias. Esse pro- Ego: palavra latina para eu. Em psicanálise, é o ele-
cesso é denominado Livre Associação. À medida mento da psique que proporciona a integração da
personalidade, mediando entre o id e o supere-
que as pessoas vão expondo seus sentimentos go, bem como intermediando os vínculos com o
em relação a suas fantasias e desejos para o tera- mundo externo (GLASSMAN; HADAD, 2008).
peuta, inicia-se o processo de transferência, pois Id: na teoria de Freud, é o elemento da psique que
o paciente transfere para o terapeuta seus senti- é a fonte de todas as pulsões básicas (GLASSMAN;
HADAD, 2008).
mentos em relação a figuras de autoridades de
Superego: na teoria de Freud, é aquela porção da
sua infância. Esse processo de transferência pode psique que representa as exigências morais da fa-
ser positivo ou negativo. Outro elemento impor- mília e da sociedade e, por isso, é governado pelas
restrições morais (GLASSMAN; HADAD, 2008).
tante na psicanálise é o insight – tornar conscien-
te o que antes não estava em sua consciência.
Dicionário
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Saiba mais
“A realização dos desejos, na teoria de Freud, é a expressão simbólica das pulsões sob a forma de fantasia, como nos sonhos.
O princípio do prazer é a descrição que Freud dá à base da motivação humana, na qual o ser humano é direcionado para a
busca do prazer.
De todas as forças biológicas básicas, Freud acreditava que a sexualidade era a mais poderosa, sendo a força central no com-
portamento, a fonte de energia das pulsões, a libido.” (GLASSMAN; HADAD, 2008).
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Psicologia da Educação
Freud considerava o instinto sexual de ma- A maneira como o adulto trata a criança
neira ampla, como um forte desejo de obter to- em relação a uma determinada área de prazer do
dos os tipos de prazer sensual. Ele denominava a corpo (privação do prazer ou muita gratificação)
energia gerada pelo instinto sexual de libido. pode gerar uma fixação. Freud identificou fases
À medida que os bebês crescem, a sua libi- psicossexuais que relacionou com o desenvolvi-
do concentra-se em diferentes regiões sensíveis mento da personalidade.
do corpo. Durante os primeiros 18 meses, a fonte
dominante de prazer sensual é a boca; após 18 Dicionário
meses, a sexualidade move-se para o ânus; e, por
Fixação: é a liberação incompleta da energia pul-
volta dos 3 anos, move-se para os genitais. Para
sional associada a uma fase particular do desen-
Freud, as experiências das crianças em cada uma volvimento, resultando em uma preferência por
dessas fases marcam sua personalidade com ten- esse modo de gratificação (GLASSMAN; HADAD,
2008).
dências que permanecem até sua fase adulta.
Saiba mais
“Para entender o modelo do desenvolvimento de Freud, deve-se ter em mente a importância que ele atribuía às pulsões
biológicas. Durante toda a vida, nosso comportamento é motivado pela necessidade de satisfazer nossas pulsões básicas; no
entanto, Freud acreditava que a expressão destas pulsões muda no decorrer de nossas vidas. Os objetos que são o foco de
gratificação mudam, como também o modo de gratificação – isto é, a área do corpo que é o centro da gratificação. Para en-
tender isso, é importante observar que a sexualidade não é simplesmente a estimulação genital. É também expressada através
de muitas partes do corpo, chamadas zonas erógenas. Mesmo como adultos podemos extrair prazer de nossa pele – um pano
frio aplicado ao pescoço em um dia quente, um toque leve no braço para nos tranqüilizar e muitas outras experiências. Mas,
em determinados pontos durante o desenvolvimento, a energia da pulsão estará concentrada particularmente em regiões es-
pecíficas do corpo (zonas erógenas). Freud afirmou que são as mudanças no modo de gratificação, associadas com as diferen-
tes zonas erógenas, que definem as fases de desenvolvimento. Como estas fases refletem diferenças na expressão da energia
da pulsão (sexual), associadas com mudanças no funcionamento da mente (psique), elas são chamadas de fases psicossexuais
do desenvolvimento.” (GLASSMAN; HADAD, 2008).
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Fase Fálica – após os 3 anos Complexo de Electra, que envolve o amor pos-
As crianças descobrem seus genitais e de- sessivo pelo pai e o ciúme da mãe.
senvolvem uma forte ligação com o genitor do Freud acreditava que, no final da fase fálica,
sexo oposto, ao mesmo tempo que sentem ciú- as crianças perdem o interesse pelo comporta-
me do genitor do mesmo sexo. No caso dos me- mento sexual e entram em um período de Latên-
ninos, Freud chamou esse conflito de Complexo cia. Durante esse período, que começa por volta
de Édipo, em homenagem ao personagem da dos 5 ou 6 anos e termina aos 12 ou 13 anos, os
mitologia grega que matou o pai e casou-se com meninos brincam com meninas sem nenhum in-
a mãe. As meninas passam pelo equivalente, o teresse pelo outro.
Saiba mais
“Fase Fálica é a terceira fase do desenvolvimento, estendendo-se mais ou menos dos três aos cinco anos, período em que a
gratificação está concentrada nos genitais, embora não na forma da sexualidade do adulto.
Complexo de Édipo, na teoria do desenvolvimento de Freud, é o principal conflito associado com a fase fálica que desafia o
ego em desenvolvimento; é assim chamado devido à história grega de Édipo, que sem saber, matou seu pai e se casou com
a mãe. O foco central do complexo de Édipo é a ligação com os pais, que como, cuidadores, tornaram-se o foco da energia
pulsional (e, por isso, da atração).
Complexo de Electra, embora a dinâmica do conflito seja um pouco diferente para os meninos e meninas, Freud usou o ter-
mo complexo de Édipo para se referir aos dois sexos. Logo em seguida, alguns analistas propuseram chamar a variante femini-
na de complexo de Electra, devido ao outro mito grego, mas o próprio Freud não usou o termo (ver Freud, 1924). Dependendo
das circunstâncias familiares, a mãe é tipicamente a principal cuidadora e, por isso, torna-se uma forte fonte de gratificação
tanto para os meninos quanto para as meninas. Entretanto, à medida que a criança cresce, a consciência das diferenças sexuais
aumenta e, com ela, aumenta também a percepção da identidade sexual. É esta diferença que começa alterar a dinâmica para
os meninos e para as meninas.” (GLASSMAN; HADAD, 2008).
Curiosidade
A Latência
“Seja ou não resolvido com sucesso o complexo de Édipo, os imperativos do desenvolvimento impulsionam a crian-
ça da fase fálica para a fase da latência em torno dos cinco anos. Na fase da latência, que se estende até a puberda-
de, as pulsões parecem estar relativamente inativas – daí serem vistas como latentes ou ocultas.
Em parte, a mudança se deve ao uso da repressão na resolução no complexo de Édipo. Devido a esses resultados no
bloqueio do acesso consciente ao id, a gratificação, daí em diante, está relacionada aos processos secundários e, por
isso, nunca é tão direta ou tão imediata quanto as gratificações da primeira infância.
Na latência, as pulsões reprimidas são redirecionadas para novas atividades, com novos objetos de gratificação. As-
sim, os esportes, os passatempos, a escola e as amizades vão todos proporcionar oportunidades para a satisfação das
pulsões. Os problemas que ocorrem na latência, como a agressão excessiva, podem estar relacionados à repressão
inadequada e/ou ao fato de o ego ser incapaz de redirecionar a energia da pulsão para saídas socialmente aprovadas.”
(GLASSMAN; HADAD, 2008).
Dicionário
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Psicologia da Educação
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Carl Rogers (1902-1987) defendia que os vidas. Rogers denominou esse esforço de Ten-
homens e as mulheres desenvolvem suas per- dência Autorrealizadora. Se você se vê como
sonalidades a serviço de objetivos positivos. De uma pessoa “inteligente” e “atlética”, por exemplo,
acordo com ele, cada organismo nasce com de- procurará viver de maneira consistente com essas
terminadas aptidões, capacidades e potencialida- autoimagens.
des natas – “um tipo de projeto genético ao qual Quando nosso autoconceito está intima-
se acrescenta substância no decorrer da vida.” mente relacionado às capacidades inatas, temos
(MADDI, 1989, p. 102). mais probabilidades de nos tornar o que Rogers
Rogers acreditava que o objetivo da vida chamou de pessoas em pleno funcionamento.
era realizar esse projeto genético, para que nos Tais pessoas são autodirecionadas, ou seja, deci-
tornássemos o melhor que cada um de nós tem dem por si mesmo o que querem fazer e tornar-
a capacidade inerente de ser. Ele denominou esse -se, mesmo que essas escolhas não sejam sempre
impulso psicológico de Tendência Realizadora. as mais acertadas. Elas não são levadas pelas ex-
Embora sustentasse que a tendência realizadora pectativas que os outros têm a respeito delas. As
era uma característica de todos os organismos – pessoas em pleno funcionamento também estão
plantas, animais e humanos –, ele observou que abertas a experiências – aos seus próprios senti-
os seres humanos formam, também, imagens de mentos, assim como ao mundo e às outras pes-
si próprios, ou autoconceitos. soas à sua volta – e, portanto, “desejam ser, cada
Assim como tentamos realizar nosso poten- vez com mais exatidão e em maior profundidade,
cial biológico inato, tentamos, também, realizar o self que (elas) mais verdadeiramente são.” (RO-
nosso autoconceito, nosso senso consciente do GERS, 1961, p. 175-176).
que somos e do que queremos fazer com nossas
Saiba mais
“Pessoa com funcionamento pleno é aquela descrita por Rogers como o ideal do crescimento, intimamente relacionada
com a congruência; o crescimento saudável é caracterizado pela abertura, por um grau elevado de espontaneidade, de soli-
dariedade e de autocontrole.
Self, para Rogers, é uma estrutura perceptual fluída baseada em nossas experiências de nosso próprio ser. Reflete nossa visão
de ‘quem nós somos’ em um determinado momento e é influenciado por todos aqueles fatores que moldam a percepção em
geral, incluindo as experiências passadas, a situação presente e nossas experiências para o futuro.
Tendência para a realização, na teoria de Rogers, é um impulso inato que reflete o desejo de crescer, de se desenvolver e de
melhorar as próprias competências. É a tendência para a realização que estimula a criatividade, que nos leva a buscar novos
desafios e habilidades, e que motiva o crescimento saudável em todos os múltiplos aspectos de nossas vidas.” (GLASSMAN;
HADAD, 2008).
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Psicologia da Educação
Saiba mais
“Necessidade de Aceitação é uma necessidade de contatos sociais positivos, como o amor, que Rogers considerava univer-
sais.
Aceitação incondicional ou consideração positiva incondicional é a aceitação e a consideração dadas a uma pessoa
como ser humano, sem impor condições sobre o modo como a pessoa se comporta.
Aceitação Condicional ou consideração positiva condicional é a aceitação e a consideração dadas a uma pessoa apenas,
se ela satisfaz determinados padrões de comportamento.” (GLASSMAN; HADAD, 2008).
Porém, os pais e outros adultos frequente- ces de sentirem-se satisfeitas. Em algum momen-
mente tratam as crianças da maneira que Rogers to, podem perceber que não sabem realmente
denomina de consideração positiva condicio- quem são ou o que querem.
nal, ou seja, valorizam e aceitam somente alguns O princípio central da maioria das teorias
aspectos da criança. Nesse modelo, a aceitação, o humanistas da personalidade – de que o pro-
afeto e o amor que a criança recebe dos outros pósito maior da condição humana é realizar seu
também dependem da maneira como ela se com- potencial – é difícil, se não impossível, de ser ve-
porta e da satisfação de determinadas condições. rificado cientificamente. A falta de evidências e,
Desse jeito, o autoconceito torna-se cada vez me- consequentemente, de rigor científico é uma das
nos parecido com a capacidade inata e a vida da maiores críticas a essas teorias. Além disso, alguns
criança se desvia de seu projeto. alegam que as teorias humanistas apresentam
Quando as pessoas perdem de vista seu uma visão excessivamente otimista do ser huma-
potencial inerente, tornam-se retraídas, rígidas no e não levam em conta a sua maldade inata.
e defensivas. Sentem-se ameaçadas e ansiosas; Outros argumentam que a visão humanista pro-
sofrem desconforto e inquietação consideráveis. move o egocentrismo e o narcisismo, além de re-
Pelo fato de ter sua vida direcionada ao que os fletir valores ocidentais de conquistas individuais,
outros querem e valorizam, elas têm menos chan- em vez do potencial humano universal.
Caro(a) aluno(a),
A abordagem psicodinâmica objetiva entender o comportamento em termos de funcionamento
da mente, com ênfase na motivação e no papel da experiência passada. A abordagem teve como pio-
neiro Sigmund Freud, que desenvolveu a teoria psicanalítica, a qual considera o comportamento em
termos dos relacionamentos dinâmicos do id, do ego e do superego.
Freud descreveu o desenvolvimento em termos de cinco fases psicossexuais, caracterizadas por
mudanças no modo de gratificação básico: oral, anal, fálica, de latência e genital. Cada fase é marcada por
desafios e conflitos específicos.
A abordagem humanista é caracterizada por duas suposições básicas, que distinguem sua me-
todologia e suas teorias das outras abordagens: o enfoque na experiência subjetiva e uma rejeição do
determinismo em favor da escolha individual.
Rogers desenvolveu um modelo que se encontra na relação entre o que ele considera que somos
(o self) e o que considera que devemos ser (self ideal). Quando os dois são experimentados como sendo
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3 EXERCÍCIO PARA REFLEXÃO
Francisca, de 35 anos, é uma advogada seus filhos, mas tendia a brigar mais com Francis-
competente, que faz tratamento com um psicó- ca; no entanto, as brigas começaram a diminuir
logo em razão das dificuldades que encontra em quando a menina tinha seis ou sete anos. Atual-
alguns aspectos de sua vida. Seus amigos descre- mente, elas têm um relacionamento cordial, mas
vem-na de modo muito positivo – altamente mo- sem a proximidade que existe entre Francisca e
tivada, inteligente, atraente e encantadora –, mas seu pai. As interações entre o pai e a mãe eram,
Francisca sente-se terrivelmente insegura e ansio- às vezes, conturbadas, com brigas explosivas por
sa. Quando um psicólogo pediu-lhe para escolher motivos triviais. Esses episódios eram seguidos
alguns adjetivos que melhor descrevessem-na, por um silêncio mútuo, que durava vários dias.
ela escolheu introvertida, tímida, incapaz e infeliz. Francisca tinha ciúme de seu primeiro ir-
Francisca é a primogênita em uma família mão, nascido quando ela tinha dois anos de
com dois meninos e uma menina. Seu pai, um idade. Seus pais lembram-se de que, às vezes, a
pesquisador e advogado, é uma pessoa calma e menina tinha acessos de raiva quando seu irmão,
amável. Seu trabalho sempre lhe permitiu estu- ainda bebê, demandava atenção de seus pais e
dar em casa, o que fez com que ele tivesse muito a recebia, especialmente da mãe. Os acessos de
contato com seus filhos quando jovens. Ele ama- raiva intensificaram-se quando o segundo irmão
va todos os seus filhos, mas tinha preferência por nasceu, um ano mais tarde. Com o passar do tem-
Francisca. Suas ambições e objetivos para a filha po, os irmãos uniram-se para tentar enfraquecer
eram muito grandes e, durante o crescimento da a posição superior que Francisca gozava junto ao
garota, ele sempre atendeu prontamente – e com pai. Ela, no entanto, aproximou-se cada vez mais
total devoção – a todas as necessidades e desejos do pai e seu relacionamento com os irmãos tor-
dela. nou-se marcado por ciúme e rivalidade acima do
A mãe de Francisca trabalhava o dia intei- normal.
ro como professora, consequentemente, via seus Durante os anos escolares, Francisca foi
filhos somente à noite ou, às vezes, nos fins de muito popular e saiu-se muito bem academica-
semana livres. Quando voltava para casa, a mãe mente. Ainda cedo, decidiu-se pela carreira em
estava cansada e tinha pouca energia para qual- advocacia. Mesmo assim, dos oito aos dezessete
quer interação que não fosse essencial com seus anos, sentia-se, às vezes, extremamente só, depri-
filhos. Ela sempre se dedicou à carreira e sentia mida, insegura e confusa – sentimentos que lhe
um grande conflito e frustração ao tentar conci- provocavam muita angústia e, embora sejam co-
liar seus papéis de mãe, dona de casa e provedora muns em sua idade, manifestavam-se de maneira
da família. Costumava ser amável com todos os mais intensa nela que na maioria dos jovens.
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O tempo que Francisca passou na faculda- não vou passar nos exames”; ”Quem sou eu e o
de foi um período de grande crescimento pes- que eu realmente quero da vida?”.
soal, mas os vários envolvimentos românticos Como podemos descrever e compreender a
mal sucedidos deixaram-na muito triste. Sua ina- personalidade de Francisca? Como ela se tornou
bilidade em manter um relacionamento estável e a pessoa que é? Por que ela se sente insegura e
duradouro persistiu mesmo após essa fase, o que incerta apesar de seu evidente sucesso? Por que
a preocupava muito. Mesmo sendo uma pessoa seus amigos a veem como uma pessoa atraente e
equilibrada na maioria das situações, Francisca encantadora, apesar de ela descrever-se introver-
costumava ter acessos de raiva, que terminavam tida e incapaz? Essas são perguntas que podem
todos seus relacionamentos amorosos. “O que há ser explicadas por meio das teorias que estudam
de errado comigo?”, perguntava-se. a personalidade, como foi o caso apresentado nos
Na faculdade de Direito, seus conflitos co- capítulos anteriores de Freud e a Teoria Psicodi-
meçaram a se infiltrar periodicamente em sua nâmica e Rogers e a Teoria Humanista.
consciência: “Eu não mereço ser advogada”; ”Eu
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Psicologia da Educação
Caro(a) aluno(a),
Rogers é otimista em relação ao crescimento humano ao descrever as características de um sujeito
em pleno funcionamento. Já Freud enfatiza a importância do determinismo psíquico e das pulsões ina-
tas, o papel da mente inconsciente e a continuidade dos comportamentos normal e anormal.
O caso de Francisca, à luz das teorias estudadas, convida-nos a pensar sobre a responsabilidade do
educador, em relação a oferecer condições nas quais as crianças sejam aceitas em suas potencialidades
e características pessoais. Também nos indica a importância de trabalhar respeitosamente com as dife-
renças pessoais, no sentido de instrumentalizar nossos alunos para realizar suas escolhas e construir sua
autonomia de maneira gradual e saudável.
O método psicanalítico usado para desvendar o real e compreender o sintoma individual ou so-
cial e suas determinações é o interpretativo. No caso da análise individual, os materiais de trabalho do
analista são os sonhos, as associações livres e os atos falhos (os esquecimentos, substituições de palavras
etc.). Em cada um desses caminhos de acesso ao inconsciente, o que vale é a história pessoal. Cada pa-
lavra, cada símbolo tem um significado particular para cada indivíduo, o qual só pode ser apreendido a
partir de sua história, que é absolutamente única e singular.
2. A que explicações podemos chegar sobre o caso de Francisca à luz das teorias psicanalítica e
humanista?
3. Você concorda com a realização de exercícios reflexivos semelhantes a este? Por quê?
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NATUREZA DA APRENDIZAGEM E DO
4 ENSINO
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Caro(a) aluno(a),
A aprendizagem constitui um dos principais objetos de preocupação dos cientistas que, nos labo-
ratórios de Psicologia das universidades, pesquisaram a vida mental e o comportamento. A maior parte
dos comportamentos e conhecimentos exibidos pelos indivíduos é aprendida.
Ao longo do processo de desenvolvimento, cada ser humano adquire, gradualmente, uma infini-
dade de competências, regras, informações e maneiras de lidar com as pessoas, coisas e situações, que
resultam tanto de aprendizagem orientada de modo intencional, planejado, sistemático e controlado,
quanto de processos espontâneos e até acidentais.
O ensino em escolas de todos os níveis e de qualquer modalidade, o treinamento e o desenvolvi-
mento são metas que só podem ser alcançadas se ocorrer aprendizagem em cada pessoa envolvida.
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A APRENDIZAGEM E O CENÁRIO
5 ESCOLAR
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A APRENDIZAGEM AO LONGO DA VIDA
6 HUMANA
Multimídia
Sociedade dos Poetas Mortos (Estados Unidos). Direção de Peter Weir. Buena Vista Pictures, 1989, 129 minutos.
Excelente filme sobre o processo educacional nos anos 1990, em uma escola conservadora dos Estados Unidos, em
que um professor rompe com a visão tradicional. É possível refletir sobre as diferentes formas de aprendizagem
e as concepções de ensino que as fundamentam.
Atenção
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Saiba mais
Caro(a) aluno(a),
Aprendizagem é uma mudança que ocorre com o aprendiz, durante muitos tipos de atividades, ao
longo de toda a sua vida. É um processo interno e pessoal, mas que é percebido pelas ações manifestadas
pelo comportamento do aprendiz: o que faz, diz e produz (aprendizagens conceituais, procedimentais e
atitudinais).
Tradicionalmente, a Psicologia trabalhou com duas grandes correntes nesse campo da aprendiza-
gem: as teorias do condicionamento e as teorias cognitivistas.
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A APRENDIZAGEM NA PSICOLOGIA
7 CONTEMPORÂNEA
Saiba mais
Como dissemos, tradicionalmente, a Psicologia trabalhou com duas grandes correntes nesse campo da aprendizagem: as
teorias do condicionamento e as teorias cognitivistas.
No primeiro grupo – teorias do condicionamento – estão as contribuições que definem a aprendizagem por suas consequên-
cias comportamentais e enfatizam as condições ambientais como força propulsora da aprendizagem. A aprendizagem aqui é
conexão entre um estímulo e uma resposta. Completada a aprendizagem, estímulo e resposta estão de tal forma associados
que o aparecimento do estímulo evoca a resposta.
Para os teóricos do condicionamento, a transferência da aprendizagem, que permite solucionar novas situações, é realizada
quando evocamos hábitos passados apropriados para o novo problema (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2001).
Saiba mais
Teorias Cognitivistas
As teorias que compõem esse conjunto definem a aprendizagem como um processo de relação do sujeito com o mundo
externo, com consequências no plano da organização interna do conhecimento (organização cognitiva).
Para os cognitivistas, aprendemos a relação entre ideias (conceitos) e aprendemos abstraindo de nossa experiência.
Os comportamentos ou conceitos aprendidos são mantidos por processos cerebrais, como a atenção e a memória, que são
integradores dos comportamentos e dos pensamentos. (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2001).
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Caro(a) aluno(a),
A Educação é um conjunto de experiências pessoais ativas, dinâmicas e mutáveis, por meio das
quais o indivíduo seleciona, absorve e incorpora informações, relacionando-as, reorganizando-as e ex-
pressando-as, para criar novas informações e orientar suas ações, agindo junto a outras pessoas e modi-
ficando o ambiente.
A Educação compreende tudo quanto contribui para o desenvolvimento da pessoa, sob os aspec-
tos: físico, motor, intelectual, emocional, social, profissional, estético, ético e religioso, não devendo ser
compreendida como determinismo genético.
Dessa forma, faz-se necessário o estudo de como a aprendizagem processa-se ao longo do desen-
volvimento humano, tendo, para isso, a contribuição da Psicologia Contemporânea.
Como vimos, a aprendizagem é um tema nuclear na Psicologia Contemporânea. Alguns dos mais
notáveis progressos recentes em psicologia da personalidade, psicoterapia e terapia comportamental
originaram-se de estudos experimentais da aprendizagem.
O foco deste material incide nos conhecimentos capazes de contribuir, direta e efetivamente, para
o trabalho do professor, em relação ao ensino e à aprendizagem das matérias dos currículos de cada grau
e série escolar.
Há, também, grandes contribuições das teorias cognitivistas, considerando o processo de com-
preensão, transformação, armazenamento e utilização das informações no plano da cognição.
Dicionário
Cognição é o processo através do qual o mundo de significados tem origem. À medida que o ser se situa no mundo,
estabelece relações de significação, isto é, atribui significados à realidade em que se encontra. Esses significados não
são entidades estáticas, mas pontos de partida para a atribuição de outros significados. Tem origem, então, a estrutura
cognitiva (os primeiros significados), constituindo-se nos pontos básicos de ancoragem dos quais derivam os outros
significados. (MOREIRA; MASINI, 2001).
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8 EDUCAÇÃO/APRENDIZAGEM
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Caro(a) aluno(a),
As definições convencionais de Educação limitam-se à espécie humana e a caracterizam como pro-
cesso total por meio do qual o indivíduo, em interação com a cultura em que vive, desenvolve sua com-
preensão da realidade e assimila conhecimentos, técnicas, crenças, atitudes e valores.
Educação originou-se do latim educatio, educationis. Entre os antigos romanos, educare significava
criar ou nutrir crianças e estava ligado a outro verbo: educere – fazer sair, lançar, criar, amamentar.
Os fins da educação, nessa perspectiva, referem-se à promoção de uma pessoa bem integrada,
capaz de assumir um papel responsável e ativo na sociedade. Compreendem: o desenvolvimento de
capacidades intelectuais e discernimentos sociais (cognição), a aprendizagem de habilidades ativas prá-
ticas (aprendizagem psicomotora) e o desenvolvimento de emoções, atitudes e valores (aprendizagem
afetiva).
Recentemente, relaciona-se a educação às noções emergentes de informação e processamento de
informações no sistema nervoso humano.
2. Qual é o novo sentido atribuído à palavra ‘informação’? Qual é a sua importância para a Educa-
ção?
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9 TIPOS DE APRENDIZAGEM
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Psicologia da Educação
cação se acha no livro Pedagogia Científica, obra Ernest R. Hilgard: uma Proposta Eclética
verdadeiramente exemplar, que, traduzida para o
nosso idioma pelo professor J. B. Damasco Pen- O psicólogo Ernest R. Hilgard (ATKINSON;
na, orientou a formação de milhares de professo- ATKINSON, 1975) propõe quatro categorias es-
res brasileiros, nas décadas passadas. Segundo a senciais:
classificação sugerida por Aguayo, distinguimos
diferentes tipos de aprendizagem em função dos
1. aprendizagem por condicionamento
seguintes critérios:
clássico;
2. aprendizagem por condicionamento
1. Conforme a finalidade que o apren-
operante;
diz tem em vista: (a) destreza ou habi-
lidade, como guiar um carro ou apren- 3. aprendizagem de resposta múltipla;
der datilografia; (b) conhecimento 4. aprendizagem cognitiva.
– saber, por exemplo, as causas da 2ª
Guerra Mundial ou as leis de Mendel;
Essa última enfatiza os papéis da percepção
(c) apreciação de valores – morais, ar-
e do conhecimento, enquanto as duas primeiras
tísticos, cívicos e outros;
referem-se à aprendizagem de associações do
2. Conforme a categoria ou nível de tipo S-R, isto é, associação entre estímulo e res-
quem aprende: (a) aprendizagem ou posta (as letras S e R correspondem às palavras
adestramento do animal; (b) aprendiza- latinas stimulus e responsio). Estímulo e resposta
gem da criança e do adolescente, sub- são técnicos. O primeiro designa uma parte do
dividida em aprendizagem de pessoas ambiente ou uma modificação em uma parte do
normais, de deficientes e de supernor- ambiente. Resposta significa o comportamento
mais; (c) aprendizagem do adulto. do organismo ou modificação em uma parte do
3. Segundo as diferentes modalida- comportamento.
des de aprendizagem empregadas:
(a) aprendizagem sensório-motriz;
Aprendizagem por Condicionamento Clássico
(b) aprendizagem por observação; (c)
aprendizagem associativa, mediante a
memória, a imaginação e a reflexão; (d) A aprendizagem por Condicionamento
aprendizagem apreciativa; (e) aprendi- Clássico (ou Condicionamento Pavloviano ou,
zagem especial. ainda, Condicionamento Respondente) segue
um procedimento básico, descrito pelo fisiologis-
4. Segundo o método específico em-
ta russo Ivan Pavlov, em fins do século XIX. Pavlov
pregado pelo aprendiz: (a) ensaio
condicionou a salivação no cão em resposta a es-
e erro ou êxito e fracasso, isto é, o
tímulos inicialmente neutros, auditivos ou visuais.
aprendiz executa reiteradamente uma
A aprendizagem por condicionamento clássico
determinação da ação, diminuindo
depende de algum reflexo fisiológico preexisten-
gradualmente os erros que comete e
te no organismo, controlado pelo sistema nervo-
ganhando rapidez e precisão à medi-
so autônomo, como a salivação, a contração pupi-
da que a aprendizagem prossegue; (b)
lar à luz, a piscada quando um sopro de ar atinge
imitação da ação de um modelo; (c) re-
o olho, o reflexo patelar e outros, sob a forma de
flexão.
conexão entre estímulo e resposta. O estímulo do
cheiro do alimento, por exemplo, produz a res-
posta de salivação. Para fins de pesquisa, dá-se
preferência a reflexos fisiológicos como este, que
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Psicologia da Educação
Atenção
A aprendizagem por Condicionamento Clássico (ou Condicionamento Pavloviano ou, ainda, Condicionamento
Respondente) segue um procedimento básico, descrito pelo fisiologista russo Ivan Pavlov, em fins do século XIX.
Pavlov condicionou a salivação no cão em resposta a estímulos inicialmente neutros, auditivos ou visuais. A aprendi-
zagem por condicionamento clássico depende de algum reflexo fisiológico preexistente no organismo, controlado
pelo sistema nervoso autônomo, como a salivação, a contração pupilar à luz, a piscada quando um sopro de ar
atinge o olho, o reflexo patelar e outros, sob a forma de conexão entre estímulo e resposta.
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Psicologia da Educação
Caro(a) aluno(a),
A aprendizagem abrange comportamentos tanto dos organismos humanos quanto dos animais.
Refere-se, igualmente, ao comportamento de adaptação de sistemas conceituais inanimados, como má-
quinas, robôs, computadores etc. Aplica-se não só ao comportamento do organismo intacto ou total,
mas também à atividade de um sistema isolado de resposta.
A aprendizagem envolve eventos muito diversificados, como a ocorrência de uma contração mus-
cular, a aquisição de um conceito abstrato, simbólico – muitas vezes, impossível de ser verbalizado – ou
de uma regra gramatical, a aquisição de um sintoma neurótico e assim por diante.
A aprendizagem não se limita às respostas externas do organismo, que operam num ambiente par-
ticular, mas se relaciona, além disso, com grande número de distintas respostas internas do organismo e
com reações estritamente fisiológicas. Relaciona-se, ainda, com operações e fenômenos diversos, como
a motivação, a percepção, o desenvolvimento psicológico do organismo, a estrutura da personalidade,
fatores sociais e culturais e muitos outros.
A aprendizagem por Condicionamento Clássico (ou Condicionamento Pavloviano ou, ainda, Con-
dicionamento Respondente) segue um procedimento básico, descrito pelo fisiologista russo Ivan Pa-
vlov, em fins do século XIX. Pavlov condicionou a salivação no cão em resposta a estímulos inicialmente
neutros, auditivos ou visuais. A aprendizagem por condicionamento clássico depende de algum reflexo
fisiológico preexistente no organismo, controlado pelo sistema nervoso autônomo, como a salivação, a
contração pupilar à luz, a piscada quando um sopro de ar atinge o olho, o reflexo patelar e outros, sob a
forma de conexão entre estímulo e resposta. O estímulo do cheiro do alimento, por exemplo, produz a
resposta de salivação. Para fins de pesquisa, dá-se preferência a reflexos fisiológicos como este, que po-
dem ser facilmente provocados e medidos.
O segundo tipo de aprendizagem associativa a que se refere Hilgard é conhecido como condiciona-
mento operante. Tem por fundamento os procedimentos, conceitos e princípios desenvolvidos nos EUA,
desde fins da década de 1930, por B. F. Skinner. A palavra ‘operante’ significa que o comportamento atua,
age ou opera no ambiente, a fim de produzir algum efeito.
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TEORIAS DE APRENDIZAGEM:
10 ASSOCIACIONISTAS, S-R OU
COMPORTAMENTAIS
Caro(a) aluno(a),
Neste capítulo, trataremos das teorias de
aprendizagem, a partir da abordagem comporta-
mentalista.
Atenção
• a lei de prontidão diz que uma impressão sensorial associa-se a um impulso para agir e, quando existe uma tendên-
cia para a ação, executar essa ação causa satisfação, mas não fazê-lo é aborrecido;
• segundo a lei do exercício, as associações entre estímulo e resposta são fortalecidas com a prática ou repetição
dessas associações ou, conforme as palavras de Thorndike, “exercitar uma conexão entre estímulo e uma resposta
fortalece-a; não exercitar tal conexão durante um certo período a enfraquece”;
• a lei do efeito afirma que uma associação é fortalecida ou enfraquecida em virtude de suas consequências (recom-
pensa e punição). A lei do efeito de Thorndike antecipou o papel decisivo que os chamados estímulos reforçadores
(alimento, água, elogios e outros) assumiram em explicações posteriores da aprendizagem, como, por exemplo, em
Skinner.
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Atenção
Skinner
Interessado por diferenças entre o comportamento operante e o comportamento respondente, Skinner
concluiu que o primeiro é emitido pelo organismo e opera (ou tem um efeito) no ambiente, enquanto
o comportamento respondente é eliciado por mudanças de estimulação no ambiente.
A dilatação e a contratação das pupilas em resposta a mudanças de iluminação e a salivação diante de
um prato saboroso são exemplos de comportamentos respondentes. Discar um número de telefone,
resolver um problema de palavras cruzadas, dirigir um carro e escrever uma poesia são comportamen-
tos operantes.
Os respondentes são, no começo, evocados por estímulos específicos identificáveis, mas os operantes
não têm estímulos identificáveis para evocá-los inicialmente. Convencido de que a maioria dos com-
portamentos humanos é operante, Skinner dedicou-se à pesquisa do condicionamento operante ao
longo de sua vida. Ele definiu reforço como o que quer que seja que aumente a probabilidade de nova
ocorrência de uma dada resposta.
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Psicologia da Educação
Caro(a) aluno(a),
O Conexionismo de Thorndike é um modelo associacionista de estímulo-resposta. Um hábito é
algo adquirido por ensaio e erro. A resposta apropriada torna-se associada a um estímulo particular.
A abordagem behaviorista enfatiza o papel dos estímulos ambientais na determinação do nosso
modo de agir. Como exemplo, além de Thorndike, destaca-se a contribuição de Skinner, baseada na as-
sociação entre uma resposta desejada e um estímulo reforçador que se segue.
A aprendizagem no Behaviorismo é entendida como uma mudança no comportamento, que ocor-
re como resultado da experiência.
O Behaviorismo, ou Comportamentalismo, é um termo criado por John Broadus Watson para de-
signar uma corrente de pensamento psicológico. Para os behavioristas, o comportamento é o objeto de
estudo.
Atenção
Caro(a) aluno(a)!
Nos próximos capítulos, estudaremos os
pressupostos de Jean Piaget, Lev Vygotsky
e Henri Wallon, que investigaram o desen-
volvimento humano, trazendo contribui-
ções para a atuação do educador.
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PRESSUPOSTOS TEÓRICOS DE JEAN
11 PIAGET
Caro(a) aluno(a),
Atenção
Curiosidade
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Saiba mais
Caro(a) aluno(a), observe atentamente a importância que Piaget teve para a investigação dos
processos cognitivos.
Piaget procurou identificar as estruturas de pensamento, mostrando a capacidade humana de
criar conhecimentos cada vez mais sofisticados, decorrentes da ação dos sujeitos humanos em
interação com o mundo. Foi fundador da Epistemologia Genética, isto é, elaborou uma teoria
do conhecimento com base no estudo da gênese psicológica do pensamento humano numa
abordagem interdisciplinar, partindo de uma explicação biológica do conhecimento.
A tese piagetiana sustenta que o pensamento se origina da interiorização da ação, na qual se dá
a ligação entre o funcionamento biológico adaptativo e as operações intelectuais.
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Psicologia da Educação
Atenção
Em um famoso estudo, as mães faziam uma marquinha de tinta vermelha no nariz dos filhos,
enquanto fingiam estar limpando o rosto deles. Depois, cada criança era colocada em frente ao
espelho. Os bebês com menos de um ano de idade olhavam fascinados para o bebê de nariz
vermelho que aparecia no espelho; alguns deles até mesmo esticavam os braços na tentativa
de tocar o reflexo do nariz. Mas os bebês que tinham entre 21 e 24 meses levantavam os braços
e tocavam seus próprios narizes vermelhos, mostrando, dessa maneira, que eles sabiam que o
bebê de nariz vermelho do espelho era “eu” (BROOKS-GUNN; LEWIS, 1984).
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Curiosidade
Outro resultado importante do estágio Quando têm entre 18 e 24 meses, conseguem até
sensório-motor é o desenvolvimento da perma- mesmo imaginar o movimento de um objeto que,
nência do objeto, isto é, a consciência de que os na verdade, elas não veem se mexer. A essa ha-
objetos continuam a existir mesmo que estejam bilidade chamamos de representações mentais,
fora do nosso campo de visão. Para um recém- sendo que a manipulação dessas representações
-nascido, os objetos que desaparecem simples- em sua cabeça é a conquista mais importante do
mente deixam de existir. Mas, à medida que as final do estágio sensório-motor. Também é esse o
crianças adquirem experiência no mundo, desen- momento em que as crianças desenvolvem a ca-
volvem a percepção da permanência dos objetos. pacidade de autorreconhecimento.
Curiosidade
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Psicologia da Educação
Saiba mais
“No momento do nascimento, a criança dispõe de uma série de condutas reflexas como sugar,
chorar, espirrar, agarrar [...]. A partir deste momento irão se produzindo, por diferenciação, outras
condutas mais complexas que são chamadas de esquemas, que seriam unidades básicas da
atividade mental. Este processo de diferenciação é o resultado da adaptação do organismo ao
meio, adaptação que lhe permite sobreviver quando há mudanças nas condições ambientais.”
(PIAGET, 1985a, p. 46).
Curiosidade
Caro(a) aluno(a),
Observe atentamente a importância de um trabalho pedagógico na Educação Infantil que con-
sidere as contribuições dos pressupostos de Piaget, pois para ele:
A capacidade de enumerar ou contar objetos nasce das atividades de classificação e seriação,
amplamente exercitadas no brinquedo.
Ao brincar a criança explora seu mundo exterior, assimilando novas formas de se comunicar
com ele, constituindo sua linguagem, sua subjetividade.
Para conhecer-se um objeto, faz-se necessário agir sobre ele, modificá-lo, transformá-lo e com-
preender o processo dessa transformação, compreendendo o modo como o objeto foi cons-
truído.
Decorre que conceitos não se transmitem, mas constroem-se.
Ao aprender pela própria atividade, o sujeito alcançará um surpreendente resultado: aumentará
ainda mais a sua capacidade de aprender. Sua autonomia.
Quando o sujeito consegue realizar um equilíbrio entre assimilação e acomodação, alcança a
capacidade de refletir sobre sua experiência, num processo construtivo e permanente de adap-
tação a novos desafios cognitivos.
Quando as crianças entram no estágio pré- elas. O pensamento representativo também es-
-operacional do desenvolvimento cognitivo, seu tabelece os fundamentos de outros dois marcos
pensamento ainda está muito limitado às suas ex- típicos desse estágio – a participação em jogos
periências físicas e perceptivas. Mas sua crescente de fantasia (uma caixa de papelão vira um caste-
capacidade de usar representações mentais lança lo) e o uso de gestos simbólicos (cortar o ar com
as bases para o desenvolvimento da linguagem uma espada imaginária para matar um dragão de
– uso de palavras como símbolos que represen- mentira).
tam acontecimentos, além de descrever e recor- Embora o indivíduo desse estágio tenha fei-
dar experiências e permitir que se raciocine sobre to progressos em relação ao primeiro estágio, ain-
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da pensa de forma egocêntrica – tem dificuldade pela aparência (FLAVELL, 1986). Ele tende a con-
de ver as coisas do ponto de vista de outra pessoa centrar sua atenção no aspecto mais saliente de
ou de se colocar no lugar dos outros. Outra carac- uma exibição ou um acontecimento, ignorando
terística dessa fase é que o indivíduo é enganado todo o resto.
Saiba mais
Atenção
“Na experiência da criança as situações com as quais se defronta são geradas por seu meio
social e as coisas aparecem em contextos que lhes outorgam significações especiais. Portanto,
se assimilam situações nas quais os objetos desempenham certos papéis e não outros.” (PIAGET;
GARCIA, 1987).
Saiba mais
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Psicologia da Educação
Saiba mais
“Se se deseja, como necessariamente se faz cada vez mais sentir, formar indivíduos capazes de
criar e de trazer progresso à sociedade de amanhã, é claro que uma educação ativa e verdadeira
é superior a uma educação consistente apenas em moldar os assuntos do querer pelo já esta-
belecido e os do saber pelas verdades simplesmente aceitas.” (PIAGET, 1985b).
“Conquistar por si mesmo um certo saber; com a realização de pesquisas livres, e por meio de
um esforço espontâneo, levará a retê-lo muito mais; isso possibilitará sobretudo ao aluno a
aquisição de um método que lhe será útil por toda vida e aumentará permanentemente a sua
curiosidade, sem risco de estancá-la.” (PIAGET, 1998).
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Essa sua minimização da interação com o relacionamentos. Esse estágio é caracterizado por
social gerou uma crítica de outro grande teórico uma lógica interna consistente e pela habilidade
da psicologia: Lev Vygotsky. de solucionar problemas concretos.
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Psicologia da Educação
no atua ativamente sobre seu processo de aprendizagem, considerando seus avanços motores na busca
pelo autocontrole para além do funcionamento de ações puramente reflexas.
Assim, para Piaget, a atividade intelectual não pode ser separada do funcionamento “total” do or-
ganismo, pois, do ponto de vista biológico, a organização é inseparável da adaptação: eles são dois pro-
cessos complementares de um único mecanismo, sendo que o primeiro é o aspecto interno do ciclo do
qual a adaptação constitui o aspecto externo.
Desse modo, na busca pela adaptação, as novas estruturas cognitivas são integradas às anteriores
pelos processos de assimilação e acomodação.
A assimilação consiste na tentativa do indivíduo em solucionar uma determinada situação a partir
da estrutura cognitiva que ele possui naquele momento específico da sua existência. Representa um pro-
cesso contínuo na medida em que o indivíduo está em constante atividade de interpretação da realidade
que o rodeia e, consequentemente, tendo que se adaptar a ela.
A acomodação consiste na capacidade de modificação da estrutura mental antiga para dar conta
de dominar um novo objeto do conhecimento. Quer dizer, a acomodação representa “o momento da
ação do objeto sobre o sujeito”, emergindo, portanto, como o elemento complementar das interações
sujeito-objeto.
Em seu trabalho, Piaget identifica quatro estágios da evolução mental de uma criança. Cada estágio
é um período onde o pensamento e o comportamento infantil são caracterizados por uma forma especí-
fica de conhecimento e raciocínio. Esses quatro estágios são: sensório-motor, pré-operacional, operacio-
nal concreto e operacional formal.
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PRESSUPOSTOS TEÓRICOS DE
12 VYGOTSKY
Caro(a) aluno(a), neste capítulo estudare- gia acadêmica começou a se delinear a partir do
mos os pressupostos de Vygotsky. contato com os problemas de crianças com defei-
Lev Semenovitch Vygotsky nasceu em 17 de tos congênitos, tais como cegueira, retardo men-
novembro de 1896. Faleceu em 11 de junho de tal severo, afasia etc. Tal experiência o estimulou a
1934. Lev Vygotsky (1896-1934) estudou Direito e encontrar alternativas que pudessem ajudar o de-
Literatura na Universidade de Moscou. Começou senvolvimento dessas crianças. Esse estudo não
sua carreira aos 21 anos, em Gomel, no período tinha como pretensão contribuir para a reabilita-
de 1917 a 1923. Lecionou Literatura, Ciências e ção das crianças somente, significava uma opor-
Psicologia em várias instituições. Já nessa época, tunidade de compreensão dos processos mentais
preocupava-se também com questões ligadas à humanos.
Pedagogia. O interesse de Vygotsky pela Psicolo-
Atenção
O foco das interações com outros indivíduos levou o autor a reconhecer que a apropriação da
linguagem de seu grupo social em decorrência dessas interações constitui o processo mais importante
no desenvolvimento humano. A emergência da linguagem verbal, de um agir comunicacional, vai
regular a atividade em geral da criança, pelo estabelecimento de um acordo sobre os objetivos e as
formas de ação mais complexas, que podem ser planejadas e avaliadas.
Os adultos interagem com as crianças estimulando-as a incorporar, desde o nascimento, os
significados e modos de operar com a informação que foram sendo historicamente construídos em
uma determinada cultura.
O desenvolvimento humano é nessa concepção uma tarefa conjunta e recíproca (OLIVEIRA; REGO,
2010).
Vygotsky dedicou-se ao estudo das cha- portanto, dos processos psicológicos elementa-
madas funções psicológicas superiores, que con- res (presentes na criança pequena e nos animais),
sistem no modo de funcionamento psicológico tais como reações automáticas, ações reflexas e
humano. São processos não inatos, que se desen- associações simples, que são de origem biológica.
volvem ao longo do processo de internalização O projeto principal de seu trabalho consistia na
de formas culturais de comportamento. Diferem, tentativa de estudar os processos de transforma-
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Curiosidade
Vygotsky foi um pensador importante em sua área, foi pioneiro na noção de que o desenvolvi-
mento intelectual das crianças ocorre em função das interações sociais e condições de vida. Veio
a ser descoberto pelos meios acadêmicos ocidentais muitos anos após a sua morte, que ocorreu
em 1934, por tuberculose aos 37 anos.
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Psicologia da Educação
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Atenção
A obra de Vygotsky pode significar uma Guardadas as devidas limitações, suas pro-
grande contribuição para a área da educação, na duções possibilitam a análise psicológica de algu-
medida em que traz importantes reflexões so- mas questões relacionadas ao ensino e sugerem
bre o processo de formação das características uma reavaliação de aspectos já consagrados no
psicológicas tipicamente humanas e, como con- campo educacional.
sequência, suscita questionamentos, aponta di- Ao desenvolver o conceito de zona de de-
retrizes e instiga a formulação de alternativas no senvolvimento proximal e outras teses, Vygotsky
plano pedagógico. oferece elementos importantes para a compreen-
No entanto, vale ressaltar que não é pos- são de como se dá a integração entre ensino,
sível encontrar nas suas teses (como em outras aprendizagem e desenvolvimento.
propostas teóricas) soluções práticas ou instru- Faremos, a seguir, uma reflexão, sobre algu-
mentos metodológicos de imediata aplicação na mas implicações de suas ideias.
prática educativa cotidiana. Esse impedimento
deve-se não somente às peculiaridades de sua
obra, como também à própria problemática en-
volvida no complexo estabelecimento de diálogo
entre as teorias e a prática pedagógica.
Atenção
“Educar sempre significa mudar. Se não houvesse nada para mudar não haveria nada para edu-
car.” (VYGOTSKY, 2004).
Valorização do Papel da Escola com esse tema é coerente com a perspectiva his-
tórica, que considera fundamental a análise das
A leitura da obra de Vygotsky permite iden- condições concretas para o desenvolvimento de
tificar, em várias passagens, a atenção especial um determinado tipo de cognição.
que dedica à educação escolar. Sua preocupação
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Saiba mais
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Psicologia da Educação
nômenos, suas “teorias” acerca do que observa no de desenvolver nos alunos capacidades intelec-
mundo), for capaz de ampliar e desafiar a cons- tuais que lhes permitam assimilar plenamente os
trução de novos conhecimentos – na linguagem conhecimentos acumulados. Isso quer dizer que
vygotskyana, incidir na zona de desenvolvimento ela não deve se restringir à transmissão de con-
potencial dos educandos. Dessa forma, poderá teúdos, mas, principalmente, ensinar o aluno a
estimular processos internos que acabarão por se pensar, ensinar formas de acesso e apropriação
efetivar, passando a constituir a base que possibi- do conhecimento elaborado, de modo que ele
litará novas aprendizagens. possa praticá-las autonomamente ao longo de
São bastante oportunas as colocações, ba- sua vida, além de sua permanência na escola. Essa
seadas nos pressupostos de Vygotsky, feitas pelo é, segundo Davidov, a tarefa principal da escola
russo Davidov, sobre o tipo de ensino que de fato contemporânea frente às exigências das socieda-
impulsiona o desenvolvimento das capacidades des modernas.
dos alunos. Afirma que a escola deve ser capaz
Saiba mais
A escola desempenhará bem seu papel quando, partindo daquilo que a criança já sabe (o co-
nhecimento que ela traz de seu cotidiano, suas ideias a respeito dos objetos, fatos e fenômenos,
suas “teorias” acerca do que observa no mundo), for capaz de ampliar e desafiar a construção
de novos conhecimentos – na linguagem vygotskyana, incidir na zona de desenvolvimento
potencial dos educandos. Dessa forma, poderá estimular processos internos que acabarão por
se efetivar, passando a constituir a base que possibilitará novas aprendizagens.
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ação partilhada, já que é através dos outros que O Papel da Imitação no Aprendizado
as relações entre sujeito e objeto de conhecimen-
to são estabelecidas. Vygotsky dá uma nova dimensão também
O paradigma esboçado sugere, assim, um ao papel da imitação no aprendizado. Geralmen-
redimensionamento do valor das interações te associa-se a atividade imitativa a um processo
sociais (entre os alunos e o professor e entre as puramente mecânico, de cópia e repetição. En-
crianças) no contexto escolar. Essas passam a ser tretanto, como vimos, para Vygotsky, a imitação
entendidas como condição necessária para a pro- oferece a oportunidade de reconstrução (interna)
dução de conhecimento por parte dos alunos, daquilo que o indivíduo observa externamente. A
particularmente aquelas que permitam o diálogo, imitação pode ser entendida como um dos possí-
a cooperação e a troca de informações mútuas, o veis caminhos para o aprendizado, um instrumen-
confronto de pontos de vista divergentes e que to de compreensão do sujeito.
implicam a divisão de tarefas onde cada um tem Através da imitação, as crianças são capa-
uma responsabilidade que, somadas, resultarão zes de realizar ações que ultrapassam o limite de
no alcance de um objetivo comum. Cabe, portan- suas capacidades, como, por exemplo, uma crian-
to, ao professor não somente permitir que elas ça pequena, ainda não alfabetizada, pode imitar
ocorram, como também promovê-las no cotidia- seu irmão e “escrever” uma lista com os nomes dos
no das salas de aula. jogadores de seu time preferido. Desse modo, ela
Dessa maneira, a heterogeneidade, carac- estará internalizando os usos e funções da escri-
terística presente em qualquer grupo humano, ta e promovendo o desenvolvimento de funções
passa a ser vista como fator imprescindível para psicológicas que permitirão o domínio da escrita.
as interações na sala de aula. Os diferentes rit- É nesse sentido que Vygotsky afirma que a imita-
mos, comportamentos, experiências, trajetórias ção é uma das formas das crianças internalizarem
pessoais, contextos familiares, valores e níveis de o conhecimento externo.
conhecimento de cada criança (e do professor) Vista por esse ângulo, a imitação de mode-
imprimem ao cotidiano escolar a possibilidade de los fornecidos pelos sujeitos assume um papel
troca de repertórios, de visão de mundo, confron- estruturante, pois amplia a capacidade cognitiva
to, ajuda mútua e consequente ampliação das ca- individual. Todavia, ressalta que o indivíduo só
pacidades individuais. consegue imitar aquilo que está no seu nível de
Em síntese, uma prática escolar baseada desenvolvimento.
nesses princípios deverá necessariamente consi- Por exemplo:
derar o sujeito ativo (e interativo) no seu proces-
so de conhecimento, já que ele não é visto como
Se uma criança tem dificuldade com um
aquele que recebe passivamente as informações problema de aritmética e o professor o
do exterior. Todavia, a atividade espontânea e in- resolve no quadro negro, a criança pode
dividual da criança, apesar de importante, não é captar a solução num instante. Se, no
suficiente para a apropriação dos conhecimentos entanto, o professor solucionasse o pro-
acumulados pela humanidade. Deverá, portanto, blema usando a matemática superior, a
criança seria incapaz de compreender a
considerar também a importância da intervenção solução, não importando quantas vezes a
do professor (entendido como alguém mais ex- copiasse. (VYGOTSKY, 1984, p. 99).
periente da cultura) e, finalmente, as trocas efeti-
vadas entre as crianças (que também contribuem
para os desenvolvimentos individuais). Esses postulados trazem uma importante
implicação à educação escolar, já que, através da
imitação (instrumento de reconstrução no senti-
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Psicologia da Educação
Saiba mais
Caro(a) aluno(a), reflita sobre estas palavras de Vygotsky em relação à importância da imitação
para a educação:
“O mérito essencial da imitação na criança consiste em que ela pode imitar ações que vão
muito além dos limites das suas próprias capacidades, mas estas, não obstante, não são de
grandeza infinita. Através da imitação na atividade coletiva, orientada pelos adultos a criança
está em condição de fazer bem mais, e fazer compreendendo com autonomia. A divergência
entre os níveis de solução de tarefas – acessíveis sob orientação – com o auxílio de adultos e na
atividade independente determina a zona de desenvolvimento imediato da criança (ou zona
de desenvolvimento proximal). O que hoje a criança faz com o auxílio do adulto fará amanhã
por conta própria. A zona do desenvolvimento imediato pode determinar para nós o amanhã
da criança, o estado dinâmico do seu desenvolvimento que leva em conta não só o já atingido
mas também o que se encontra em processo de amadurecimento.” (VYGOTSKY, 2004, p. 480).
A Brincadeira no Processo de Aprendizagem Ela também é responsável por criar “uma zona
de desenvolvimento proximal”, justamente por-
A discussão de Vygotsky sobre o papel da que, através da imitação realizada na brincadeira,
imitação nos remete à questão da brincadeira e a criança internaliza regras de conduta, valores,
de sua importância no contexto escolar. Confor- modos de agir e pensar de seu grupo social, que
me exposto, a brincadeira tem uma função signi- passam a orientar o seu próprio comportamento
ficativa no processo de desenvolvimento infantil. e desenvolvimento cognitivo.
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Assim, o brinquedo não só possibilita o de- alunos, uma vez que as interações estabelecidas
senvolvimento de processos psíquicos por parte entre as crianças também têm um papel funda-
da criança, como também serve de instrumento mental na promoção de avanços no desenvolvi-
para conhecer o mundo físico e seus fenômenos; mento individual.
os objetos (e seus usos sociais); e, finalmente, en- Isso não significa, no entanto, que seu pa-
tender os diferentes modos de comportamento pel seja dispensável ou menos importante. Muito
humano (os papéis que desempenham, como se pelo contrário, a função que ele desempenha no
relacionam e os hábitos culturais). Portanto, no contexto escolar é de extrema relevância, já que é
contexto escolar (principalmente no período pré- o elemento mediador (e possibilitador) das intera-
-escolar), a brincadeira não deveria ser entendi- ções entre os alunos e das crianças com os objetos
da como uma atividade secundária ou como um de conhecimento.
“mero passatempo” das crianças, ao contrário, de- No cotidiano escolar, a intervenção “nas
veria ser valorizada e estimulada, já que tem uma zonas de desenvolvimento proximal” dos alunos
importante função pedagógica. é de responsabilidade (ainda que não exclusiva)
Para que as brincadeiras infantis tenham lu- do professor; visto como parceiro privilegiado,
gar garantido no cotidiano das instituições edu- justamente porque tem maior experiência, infor-
cativas, é fundamental a atuação do educador. É mações e a incumbência, entre outras funções,
importante que as crianças tenham espaço para de tornar acessível ao aluno o patrimônio cultural
brincar, assim como opções de mexer no mobiliá- já formulado pelos homens e, portanto, desafiar
rio, que possam, por exemplo, montar casinhas, através do ensino os processos de aprendizagem
cabanas, tendas de circo etc. e desenvolvimento infantil.
O tempo que as crianças têm à disposição Nessa perspectiva, as demonstrações, expli-
para brincar também deve ser considerado. É im- cações, justificativas, abstrações e questionamen-
portante dar tempo suficiente para que as brin- tos do professor são fundamentais no processo
cadeiras surjam, se desenvolvam e se encerrem. educativo. Isto não quer dizer que ele deva “dar
O educador pode, assim, auxiliar não somente sempre a resposta pronta”. Tão importante quanto
na organização do espaço e tempo para as brin- o fornecimento de informações e pistas, é a pro-
cadeiras, como também auxiliar na escolha de moção de situações que incentivem a curiosidade
utensílios para o incremento do jogo. Como, por das crianças, que possibilitem a troca de informa-
exemplo, oferecer sucatas (que são materiais ex- ções entre os alunos e que permitam o aprendiza-
tremamente ricos, pois apresentam uma enorme do das fontes de acesso ao conhecimento. Nesse
variedade de cores, formas, texturas e tamanhos) caso, é oportuno que se planejem atividades que
que possibilitem que as crianças montem, des- envolvam observação (por exemplo, de fenôme-
montem e construam (castelos, comidinhas para nos da natureza), pesquisa sobre determinado
doente, um navio etc.) inúmeras situações imagi- tema (em casa, na biblioteca, com os parentes
nárias. etc.), resolução de questões específicas (que po-
dem tentar ser respondidas individualmente, em
O Professor como Mediador das Interações duplas ou grupos maiores) ou mesmo proposta
de estudos e preparação de seminários, palestras
ou outras apresentações.
A partir do exame das teses expressas por
Vygotsky, é importante que façamos algumas Mas para que ele possa intervir e planejar es-
considerações acerca do papel do professor. O re- tratégias que permitam avanços, reestruturação e
ferencial analisado sugere a necessidade de rede- ampliação do conhecimento já estabelecido pelo
finição de sua função. Podemos dizer que, nessa grupo de alunos, é necessário que conheça o ní-
abordagem, o professor deixa de ser visto como vel efetivo das crianças, ou melhor, as suas desco-
agente exclusivo de informação e formação dos bertas, hipóteses, informações, crenças, opiniões,
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enfim, suas “teorias” acerca do mundo circundan- como brincam etc.) podem ser fontes preciosas
te. Este deve ser considerado como “ponto de para o planejamento de atividades significativas
partida”. Para tanto, é preciso que, no cotidiano, e eficientes em termos dos objetivos que se quer
o professor estabeleça uma relação de diálogo alcançar.
com as crianças e que crie situações em que elas Para que o professor possa desempenhar
possam expressar aquilo que já sabem. Enfim, é com competência sua função, é preciso que, além
necessário que o professor se disponha a ouvir e de melhores condições salariais e de trabalho, ele
notar as manifestações infantis. Nesse sentido, a também seja escutado. Os professores têm ideias,
observação e o registro (como, por exemplo, atra- hipótese, princípios explicativos e conhecimen-
vés de diários, relatórios etc.) das características tos (baseados na sua experiência de vida e na sua
do grupo de crianças (como produzem, de que trajetória como aluno e profissional) que, quando
modo interagem, como se relacionam com os di- revelados, podem oferecer importantes pistas e
versos objetos de conhecimento, suas descober- subsídios na busca de novos modos de ação jun-
tas, principais dúvidas e dificuldades, interesses, to a eles.
Curiosidade
“As palavras desempenham um papel central não apenas no desenvolvimento mental, mas tam-
bém no crescimento histórico da consciência como um todo. Palavras são microcosmos de cons-
ciência humana.”
“O pensamento não apenas se expressa em palavras; ele adquire existência através delas.”
“As estruturas da língua assimiladas pela criança transformam-se nos alicerces de seu pensamento.”
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Atenção
Para que as brincadeiras infantis tenham lugar garantido no cotidiano das instituições educati-
vas, é fundamental a atuação do educador. É importante que as crianças tenham espaço para
brincar, assim como opções de mexer no mobiliário; que possam, por exemplo, montar casinhas,
cabanas, tendas de circo etc.
No cotidiano escolar, a intervenção “nas zonas de desenvolvimento proximal” dos alunos é de
responsabilidade (ainda que não exclusiva) do professor.
Vygotsky contribuiu para o alcance de uma nova teoria psicológica, diferente da psicologia experi-
mental e da psicologia cognitiva. Ele desenvolveu algo novo que não era a simples soma, mas a interação
entre esses elementos.
A nova psicologia integra numa mesma perspectiva, o homem enquanto corpo e mente; ser bioló-
gico e ser social, enquanto membro da espécie humana e participante do processo histórico.
Vygotsky interessou-se em compreender os mecanismos psicológicos mais sofisticados que são
típicos do ser humano, tais como: a capacidade do pensamento humano de pensar em objetos ausen-
tes, imaginar eventos nunca vividos, planejar ações a serem realizadas em momentos posteriores. Dessa
forma, o cérebro não é um mero suporte das funções psicológicas superiores, mas parte de sua consti-
tuição. O surgimento das funções superiores não elimina as elementares; o que ocorre é a superação das
elementares, sobressaindo as superiores, mas nunca deixando de existir as elementares.
Vygotsky dedicou-se ao estudo das chamadas funções psicológicas superiores, que consistem no
modo de funcionamento psicológico humano. São processos não inatos, que se desenvolvem ao longo
do processo de internalização de formas culturais de comportamento. Diferem, portanto, dos processos
psicológicos elementares (presentes na criança pequena e nos animais), tais como reações automáticas,
ações reflexas e associações simples, que são de origem biológica. São:
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A obra de Vygotsky pode significar uma grande contribuição para a área da educação, na medida
em que traz importantes reflexões sobre o processo de formação das características psicológicas tipica-
mente humanas e, como consequência, suscita questionamentos, aponta diretrizes e instiga a formula-
ção de alternativas no plano pedagógico.
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13 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS DE WALLON
Curiosidade
A gênese da inteligência para Wallon é genética e organicamente social, ou seja, “o ser humano
é organicamente social e sua estrutura orgânica supõe a intervenção da cultura para se atualizar.”
(DANTAS, 1983).
Nesse sentido, a teoria do desenvolvimento cognitivo de Wallon é centrada na psicogênese da
pessoa completa.
Atenção
A psicogenética walloniana coloca a dimensão afetiva no lugar central, tanto ao que se refere
à construção da pessoa quanto ao conhecimento. Ambas iniciam o período impulsivo – emo-
cional se estendendo no primeiro ano de vida e tendo continuidade nos demais estágios do
desenvolvimento.
Para Wallon, a emoção é a primeira linguagem da criança, sendo a sua primeira forma de sociabi-
lidade. A emoção como função humana tem uma natureza biopsiquicossocial.
O professor precisa ser um mediador, procurando resgatar e garantir um espaço de convivência
para o ensinar e o aprender. Esse processo pode ser garantido se a educação da emoção for
incluída entre os propósitos da ação pedagógica, o que supõe o conhecimento íntimo do seu
modo de funcionamento (WALLON apud LA TAILLE, 1992).
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Saiba mais
A compreensão dos pressupostos que embasam a teoria dos estágios de desenvolvimento hu-
mano e dos processos de análise utilizados por Wallon é instrumento importante para a análise
e compreensão dos fenômenos pedagógicos e psicológicos que ocorrem em sala de aula. As-
sim, os estudos do autor permitem inferências significativas para o trabalho pedagógico, assim
como diretrizes preciosas para a formação de professores. Professor e aluno são pessoas com-
pletas, com afeto, cognição e movimento e, portanto, se relacionam – completos e dinâmicos,
sendo de responsabilidade do professor a organização do meio pedagógico de modo propício
ao desenvolvimento do aluno.
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damento da compreensão das ideias de Wallon humano e dos processos de análise utilizados por
e para estabelecer os vínculos das contribuições Wallon é instrumento importante para a análise
do autor com questões da escola, dos alunos, dos e compreensão dos fenômenos pedagógicos e
professores e da formação destes, possibilitando psicológicos que ocorrem em sala de aula. Assim,
diretrizes para desenvolver, nos professores, ati- os estudos do autor permitem inferências signifi-
tudes para um desempenho mais abrangente, cativas para o trabalho pedagógico, assim como
sensível e respeitoso em relação a todas as di- diretrizes preciosas para a formação de profes-
mensões que constituem a pessoa do aluno. Os sores. Professor e aluno são pessoas completas,
grupos de estudos têm se voltado para aprofun- com afeto, cognição e movimento e, portanto, se
dar e desenvolver pesquisas sobre fundamentos relacionam – completos e dinâmicos, sendo de
e aplicações das ideias de Henri Wallon, por meio responsabilidade do professor a organização do
de teses de doutorado, dissertações de mestrado meio pedagógico de modo propício ao desenvol-
e artigos. vimento do aluno.
A compreensão dos pressupostos que em-
basam a teoria dos estágios de desenvolvimento
Henri Wallon nasceu e viveu na França en- Wallon dedicou-se primeiro à Psicologia.
tre 1879 e 1962. Durante esse período, o mundo Em 1914, registrou 214 minuciosas observações
foi abalado por duas guerras, que envolveram a de crianças de 2 a 15 anos, internadas em servi-
maioria dos países existente na época. ços psiquiátricos com profundas perturbações
Wallon participou da primeira (1914-1918) de comportamento: instabilidade, delinquência,
como médico, o que lhe proporcionou a oportu- perversidade etc. Esse estudo deu origem à sua
nidade de, ao tratar dos feridos, observar lesões tese de doutoramento, depois transformada em
orgânicas e seus reflexos sobre os processos psí- livro, L’Enfant Turbulent (1925). O resultado de tal
quicos. Na segunda (1939-1945), participou do estudo foi posteriormente revisto e comparado
movimento da Resistência contra os invasores a outras observações de soldados feridos na Pri-
nazistas, o que reforçou ainda mais sua crença na meira Grande Guerra, que também indicavam a
necessidade de a escola assumir valores de soli- possibilidade de relações entre lesões neurológi-
dariedade, justiça social, antirracismo como con- cas e efeitos no psiquismo.
dição para a reconstrução de uma sociedade justa
e democrática.
Sua trajetória acadêmica revelou sólida for-
mação em Filosofia, Medicina, Psiquiatria, áreas
que configuraram seu interesse em Psicologia.
Suas obras de atividade também se voltaram para
a Educação e culminaram no Projeto Langevin-
-Wallon2, proposta construída com o físico Lan-
gevin, para a reforma completa do sistema edu-
cacional francês após a Segunda Grande Guerra
(1947).
2
O Projeto Langevin-Wallon encontra-se no livro Psicologia y pedagogia: las ideas pedagógicas de Henri Wallon (MERANI, 1969).
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Caro(a) aluno(a),
Observe atentamente neste tópico como a teoria de Wallon faz a leitura do desenvolvimento,
considerando suas consequências para a aprendizagem.
A teoria aponta para duas ordens de fatores que irão constituir as condições em que emergem
as atividades de cada estágio: fatores orgânicos e fatores sociais.
Reflita sobre a interação desses fatores para o desenvolvimento da aprendizagem e de suas
implicações para a educação.
Dicionário
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Mas como a teoria de Wallon faz a leitura de As idades indicadas foram propostas por
desenvolvimento? Como explica esse processo? Wallon para as crianças de sua época e de sua
O que ela nos aponta? Para acompanhar a leitura cultura. Precisam ser revistas para a nossa cultura
feita por Wallon, é preciso um esforço para esca- nos dias de hoje. Entretanto, mais que os limites
par de um raciocínio dicotômico, que fragmenta etários, é preciso observar quais interesses e ativi-
a pessoa (ou motor ou afetivo; ou afetivo ou cog- dades predominam em cada período. Os estágios
nitivo), na direção de um raciocínio que apreenda só adquirem sentido dentro dessa sucessão tem-
a pessoa como se constituindo dessas dimensões poral, uma vez que cada um deles é gestado, pre-
em conjunto. Essas dimensões estão vinculadas parado pelas atividades do estágio anterior e de-
entre si e suas interações em constante movimen- senvolve atividades que prepararão a emergência
to; a cada configuração resultante, temos uma do próximo. Então, será possível perceber quais
totalidade responsável pelos comportamentos os comportamentos predominantes em cada um
daquela pessoa, naquele momento, naquelas cir- deles. As situações às quais a criança reage são as
cunstâncias. Cada configuração cria novas possi- que correspondem aos recursos de que dispõem.
bilidades, novos recursos motores, afetivos e cog-
nitivos que se revelam em atividades e, ao mesmo Estágio impulsivo emocional
tempo em que convivem com as atividades ad-
quiridas anteriormente, preparam a mudança Na primeira fase, Impulsiva (0 a 3 meses),
para o estágio seguinte. predominam atividades que visam à exploração
A teoria aponta para duas ordens de fatores do próprio corpo, às suas sensibilidades internas
que irão constituir as condições em que emer- e externas. É uma atividade global ainda não es-
gem as atividades de cada estágio: fatores orgâ- truturada, com movimentos bruscos, desordena-
nicos e fatores sociais. Será no mergulho do orga- dos de enrijecimento e relaxamento da tensão
nismo em dada cultura, em determinada época, muscular. Desses movimentos, são selecionados
que se desenvolverão as características de cada os que garantem a aproximação do outro para
estágio. A interação entre esses fatores define as cuidar da satisfação de necessidades e que pas-
possibilidades e os limites dessas características. sam a funcionar como instrumentos expressivos
A existência individual como estrutura orgânica de estados de bem-estar e mal-estar.
e fisiológica está enquadrada na existência social Na segunda fase, Emocional (3 a 12 meses),
de sua época. já é possível reconhecer padrões emocionais di-
ferenciados para medo, alegria, raiva etc. Inicia-se
Estágios do Desenvolvimento assim o processo de discriminação de formas de
se comunicar pelo corpo.
A sequência de estágios proposta por Wal-
lon é a seguinte: Estágios sensório-motor e projetivo
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sagem para uma nova qualidade da interação do mover condições que respeitem as leis que regu-
indivíduo com as exigências do meio social, por- lam o processo de desenvolvimento, levando em
tanto, para um novo estágio. consideração as possibilidades orgânicas e neu-
Se tornarmos a teoria de Wallon como ins- rológicas do momento e as condições de existên-
trumento para pensar as atividades em sala de cia do aluno. A essência de educar é, pois, respei-
aula, poderemos afirmar que educar significa pro- tar essa integração no seu movimento constante.
Atenção
Professor e aluno são pessoas completas, com afeto, cognição e movimento e, portanto, se re-
lacionam – completos e dinâmicos, sendo de responsabilidade do professor a organização do
meio pedagógico de modo propício ao desenvolvimento do aluno.
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pela abrangência de sua compreensão do signifi- assim obtida é um produto difícil, dependente da
cado psicológico do movimento. maturação dos centros corticais de inibição, assim
Fiel à sua disposição infraestrutural, Wallon como das estruturas responsáveis pelo controle
busca os órgãos do movimento: automático do tônus (em particular, o cerebelo).
Ela corresponde à redução da atividade muscular,
Musculatura; à sua função tônico-postural. Embora imobiliza-
da no esforço mental, a musculatura permanece
Estruturas Cerebrais, responsáveis pela
envolvida em atividade tônica, que pode ser in-
sua organização.
tensa; pensa-se com o corpo em sentido duplo
– com o cérebro e com os músculos. Esse fato
Na atividade muscular, identificam-se duas foi intuitivamente compreendido por Rodin: sua
funções: representação plástica do “Pensador” apresenta
um homem intensamente contraído, com a mus-
culatura retesada pelo esforço. Assim é que, para
I- Função Cinética ou Clônica: responde
Wallon, o ato mental – que se desenvolve a partir
pelo movimento visível, pela mudança
do ato motor – passa em seguida a inibi-lo, sem
de posição do corpo ou de seguimen-
deixar de ser atividade corpórea.
tos do corpo no espaço; é a atividade do
músculo em movimento; Do relevo dado à função tônica, resulta a
percepção da importância de um tipo de movi-
II- Função Postural ou Tônica: responde
mento associado a ela, e que é normalmente ig-
pela manutenção da posição assumida
norado, obscurecido pelo movimento práxico. É a
(atitude) e pela mímica; é a atividade do
motricidade expressiva da mímica, inteiramente
músculo parado.
ineficaz do ponto de vista instrumental: não tem
efeitos transformadores sobre o ambiente físico.
Esse relevo dado à função tônica, identifica- Mas o mesmo não acontece em relação ao am-
da como o substrato da função cinética, de cuja biente social: pela expressividade, o indivíduo hu-
higidez depende a sua realização adequada, é mano atua sobre o outro e é isso que lhe permite
caracteristicamente walloniana. Wallon encontra sobreviver durante o seu prolongado período de
nela a mais arcaica atividade muscular, presen- dependência. A motricidade humana, descobre
te antes de a motricidade adquirir sua eficácia, Wallon em sua análise genética, começa pela
atuando durante a imobilidade, que é vista não atuação sobre o meio social, antes de poder mo-
como negatividade, mas como sede de uma ati- dificar o meio físico. O contato com este, a espécie
vidade tônica, que pode ser intensa; presente na humana, nunca é direto, é sempre intermediado
emoção, cujas flutuações acompanham e modu- pelo social, tanto em sua dimensão interpessoal
lam, e residual, quando a função simbólica vem a quanto cultural. Antagonismo e descontinuidade
internalizar o ato motor. entre ato motor e ato mental, e anterioridade da
No antagonismo entre motor e mental, ao modificação do meio social em relação ao meio
longo do processo de fortalecimento deste últi- físico são elementos essenciais à compreensão da
mo, por ocasião da aquisição crescente do domí- concepção walloniana. A sua tipologia do movi-
nio dos signos culturais, a motricidade de sua di- mento, baseada nas sedes de controle, é pratica-
mensão cinética tende a se reduzir, a se virtualizar mente consensual.
em ato mental. A sensório-motricidade inconti-
nente do segundo ano de vida tende – lentamen- Tipos de Movimento
te – a diminuir, dando lugar a períodos cada vez
Movimentos reflexos: controlados
maiores de imobilidade possível; esse enfraqueci-
no nível da medula;
mento da função cinética é proporcional ao forta-
lecimento do processo ideativo. Mas a quietação
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dos nove meses. É interessante notar que a preen- simbólica e semiótica. Ao lado dos movimentos
são voluntária antecede a abertura voluntária da instrumentais, assiste-se à entrada em cena de
mão no ato de soltar o objeto. É possível assistir movimentos de natureza diversa, veiculadores
ao dilema de uma criança com duas mãos ocupa- de imagens: são os movimentos simbólicos ou
das, diante de um terceiro objeto interessante: a ideomovimentos, expressão peculiar a Wallon,
dificuldade para “largar” parece ser consideravel- que tratam de movimentos que contêm ideias,
mente maior do que a de “pegar”. A competência assim como a dependência inicial destas em re-
no uso das mãos só está completa quando, por lação àqueles. O processo ideativo é inicialmente
volta do final do primeiro ano, se forma a bilatera- projetivo (e pode permanecer assim em certos
lidade e as duas mãos deixam de atuar diferencia- quadros patológicos, como a epilepsia), isto é,
damente para adotarem uma ação complemen- exterioriza-se, projeta-se em atos, sejam eles mí-
tar, em que cabe à dominante a iniciativa e à não micos, na fala, ou mesmo nos gestos da escrita.
dominante uma atividade auxiliar. Imobiliza-se uma criança de 2 anos que fala e
É igualmente lento o despertar da compe- gesticula e atrofia-se o seu fluxo mental. Inversa-
tência visual: depois dos reflexos pupilares com mente, é experiência trivial no adulto o poder da
os quais se nasce, nota-se o aparecimento da ca- palavra, oral ou escrita, de adiantar-se, quase con-
pacidade de fixar e acompanhar voluntariamente duzir o pensamento por vezes, ilustrando a per-
um móvel. A princípio, apenas as trajetórias mais sistência dessa ideomotricidade. O movimento, a
simples, horizontais; alguns meses depois, as ver- princípio, desencadeia e conduz o pensamento.
ticais, e, próximo do final do primeiro ano, as cir- O gesto gráfico, inicialmente condutor da ideia só
culares. depois é conduzido por ela. “Como posso saber o
Essas são apenas as praxes básicas; as espe- que estou desenhado se ainda não terminei?” –
ciais, próprias de cada cultura, como segurar ade- dirá uma criança de 3 ou 4 anos. O controle do
quadamente um lápis ou um pincel para escrever, gesto pela ideia inverte-se ao longo do desen-
percorrer uma página a partir do alto, à esquerda, volvimento. Essa transição do ato motor para o
ou de baixo, à direita, ou ainda segurar um garfo mental, ruptura e descontinuidade que assinalam
ou manusear pauzinhos para comer, não podem a entrada em cena de um novo sistema, o cortical,
obviamente ser consideradas produto do amadu- pode ser acompanhada na evolução das condu-
recimento cortical. Ajuriaguerra, beneficiando-se tas imitativas. Longe de ampliar essa noção para
da contribuição teórica walloniana, realizou com abarcar a chamada imitação sensório-motora ou
um grupo de colaboradores uma minuciosa in- pré-simbólica, Wallon restringe o termo às suas
vestigação sobre a praxe da escrita, pondo a nu a formas superiores, corticais, porque supõe nas
complexidade tônico-postural de uma atividade outras a ação de mecanismos mais primitivos.
que requer a imobilização e a movimentação rá- Distingue assim os “contágios” motores, ecocine-
pida de diferentes segmentos corporais simulta- sias, ecolalias, ecopraxias, simples mimetismo, da
neamente. chamada imitação diferida, onde a ausência do
modelo torna inquestionável a sua natureza sim-
Mas as competências básicas – de pegar e
bólica. “Imitação Diferida” e “Imitação Simbólica”
olhar – não bastariam ainda para a exploração au-
constituem redundâncias na sua linguagem. Mas
tônoma da realidade, desacompanhadas da pos-
a imitação realiza a passagem do sensório-motor
sibilidade de andar; por isso, Wallon realiza aí o
ao mental. A reprodução dos gestos do modelo
corte que dá entrada ao período sensório-motor,
acaba por se reduzir a uma impregnação postu-
e – com ele – à etapa dominantemente práxica da
ral, o ato se torna simples atitudes. Esse congela-
motricidade.
mento corporal da ação constituiria o seu resíduo
Quase ao mesmo tempo, porém, a in- último antes de se virtualizar em imagem mental.
fluência ambiental, aliada ao amadurecimento À sequência bem conhecida que leva do sinal ao
da região temporal do córtex, dará lugar à fase símbolo e deste ao signo, Wallon acrescenta o “si-
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mulacro”, representação do objeto sem nenhum veis em diálogos sustentados, Wallon obteve a
objeto substitutivo, pura mímica na qual o signifi- partir de 5 anos, revestidas de características que
cante é o próprio gesto. sintetizou com a denominação de sincretismo.
Assim, a imitação dá lugar à representação O pensamento discursivo é, pois, sincrético
que lhe fará antagonismo: enquanto ato motor em sua origem; sua forma mais elementar, ao con-
ela tenderá a ser reduzida e desorganizada pela trário do que julgaram os associacionistas, é uma
interferência do ato mental. molécula, o par. Este parece ser mais um exemplo
de como a análise genética e a análise estrutural
As Fases da Inteligência podem levar a resultados diversos.
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ção dialética da natureza, tudo está ligado a tudo, ligência e afetividade. Wallon recusa persisten-
além de estar em permanente devir. temente dar o passo que transforma sincretismo
Essas opções determinam o tipo de interro- em egocentração; às explicações autocentradas,
gatório a que submete as crianças: contrapõe outras de tendência inversa, encontra-
do na extrema instabilidade, e não em um eixo
O que é...? Para definição; firmemente autocentrado, a característica maior
da ideação infantil.
Por quê? Como? Quando? Onde? etc.
Para a explicação. As relações que mantém com a linguagem
são recíprocas e extremamente sutis. No início,
longe de conduzir a escolha da palavra, o pen-
Os temas são os da experiência vivida e os samento é, pelo contrário, conduzido por ela em
da percepção direta: seus níveis mais primitivos: a musicalidade das
assonâncias e rimas, os automatismos da língua.
O sol, o céu, a noite, a lua, o vento, o frio, A palavra carrega a ideia como o gesto carrega a
as árvores, a neve, o rio. intenção. A reconquista da dimensão melódica
da linguagem, como a emancipação do gesto ao
controle da vontade, constitui objetivos de certas
Mediante esse tipo de diálogo em entrevis-
modalidades artísticas. Sua existência demonstra
tas, cujo conteúdo foi inteiramente aproveitado
que o desenvolvimento representa também per-
sem nenhum tipo de seleção do material, Wal-
da ou atrofia de possibilidades, que precisam ser
lon constatou, entre os 5 e 9 anos de idade, uma
recuperadas e resgatadas. Essa noção, compatível
tendência à redução do sincretismo, permitindo
apenas com concepções paradoxais, não lineares,
o aparecimento de uma forma mais diferenciada
de desenvolvimento, está implícita no alerta feito
de pensamento a que chamou de “categorial”.
por Wallon em relação ao sincretismo: é preciso
Próxima da noção de “conceitual”, ela con- ser capaz de preservá-lo, tanto quanto discipliná-
tém aquilo que, para Wallon, é a sua condição: a -lo, uma vez que dele depende a possibilidade de
qualidade diferenciada da coisa em que se apre- combinações inteiramente novas e originais de
senta, tornada “categoria” abstrata, exigência sine ideias. Nele está a raiz do pensamento criador. A
qua non para a definição, e, por conseguinte, para linguagem, capaz de conduzir o pensamento, é
elaboração do conceito. também capaz de nutri-lo e alimentá-lo; estrutu-
De todas as diferenciações que se proces- ram-se reciprocamente: produto da razão huma-
sam, esta é a mais fundamental, só ela permitirá a na, ela acaba, no curso da história por se tornar
atribuição das qualidades específicas de um obje- sua fabricante. Razão constituinte é razão cons-
to, tornando-o assim distinto de outros, sem car- tituída, conclusão inevitável que resulta de vê-la
regar consigo os demais atributos do objeto com em perspectiva histórica.
que parece. Enquanto o “pesado” do barco estiver
confundido com as suas outras características,
como “grande”, será impossível chegar à solução
do problema do afundamento da faca. Enquan-
to ela não se processar, o pensamento binário
permanecerá ao sabor das contradições, corolá-
rio inevitável do sincretismo (o estudo minucio-
so das suas formas foi realizado em As origens do
pensamento na criança.). Esse sincretismo come-
ça por ser o do sujeito com o objeto do discurso:
mistura afetiva, pessoal, que refaz, no plano do
pensamento, a indiferenciação inicial entre inte-
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Wallon considerava o comportamento patológico como laboratório natural para os estudos da Psi-
cologia, pois nessas circunstâncias é possível observar os fenômenos se transformando mais lentamente
e, assim, permitindo observações mais precisas.
Para Wallon, comparar não é assimilar, ver apenas as semelhanças. A comparação visa tanto às se-
melhanças quanto às diferenças, cujas condições é preciso identificar cuidadosamente. O conhecimento
busca simultaneamente o mesmo e o diferente. A diferença entre a criança normal e a patológica é pro-
funda e não consiste apenas no contraste entre progressão gradual e contínua e um atraso e fixação de
certos comportamentos.
Depois da Psicopatologia, Wallon dedicou-se ao desenvolvimento da criança, considerando que a
questão fundamental dessa área é o estudo da consciência e que o melhor caminho para entendê-la é
buscar sua gênese, sua origem. Concentrou-se no processo de desenvolvimento para explorar as origens
biológicas da consciência. Da análise de suas observações, comparando semelhanças e diferenças entre
o desenvolvimento de crianças normais e patológicas, entre crianças e adultos, foi extraindo os princípios
reguladores desse processo e identificando seus vários estágios, criando uma teoria de desenvolvimento.
A sequência de estágios proposta por Wallon é a seguinte:
As idades foram propostas por Wallon para as crianças de sua época e de sua cultura. Precisam ser
revistas para a nossa cultura nos dias de hoje. Entretanto, mais que os limites etários, é preciso observar
quais interesses e atividades predominam em cada período. Os estágios só adquirem sentido dentro
dessa sucessão temporal, uma vez que cada um deles é preparado pelas atividades do estágio anterior
e desenvolve atividades necessárias ao desenvolvimento dos próximos. As situações às quais a criança
reage são as que correspondem aos recursos de que dispõem.
Segundo Wallon, há três leis reguladoras do desenvolvimento:
Essas leis descrevem tanto o movimento do processo de desenvolvimento no seu todo quanto nas
fases menores dentro de cada estágio.
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Psicologia da Educação
Os aspectos: motor, afetivo e o cognitivo estão tão integrados que cada um é parte construtiva dos
outros. Qualquer atividade humana sempre interfere em todos eles.
Para a construção de seu método de análise, Wallon assumiu a perspectiva da Psicologia Genética.
Elaborou seu método próprio: a análise genética comparativa multidimensional, que consiste em fazer
comparações para esclarecer cada vez mais o processo de desenvolvimento.
O que define a pessoa é essa individualidade, consequência das relações internas, próprias de cada
sujeito e das situações objetivas que ele encontra ao longo de seu desenvolvimento.
A existência social e a existência individual estão em um vir a ser contínuo, isto é, em um processo
de transformações constantes, marcadas pela situação histórica concreta em que acontecem.
Construindo-se mutuamente sujeito e objeto, afetividade e inteligência, alternam-se na prepon-
derância do consumo de energia psicogenética. Na primeira etapa, correspondente ao primeiro ano de
vida, dominam as relações emocionais com o ambiente e o acabamento da embriogênese, trata-se ni-
tidamente de uma fase de construção do sujeito, na qual o trabalho cognitivo está latente e ainda in-
diferenciado na atividade afetiva. Ela (inteligência prática) consiste essencialmente na preparação das
condições sensório-motoras que permitirão, ao longo do segundo ano de vida, a exploração intensa e
sistemática do ambiente. No final do segundo ano, com a função simbólica e a linguagem, inaugurar-se-
-á o pensamento discursivo (inteligência projetiva).
O pensamento discursivo é, pois, sincrético. De acordo com Wallon, o pensamento sincrético é o
da criança no estágio denominado por ele de personalista, momento do desenvolvimento infantil que
apresenta uma orientação centrípeta, subjetiva e uma preponderância das atividades pessoais de cons-
trução do eu. Nessa fase, a criança ainda não pode delimitar suficientemente a sua própria personalida-
de, nem apropriar-se das categorias usuais através das quais distribuímos os dados e os vários aspectos
da experiência; em função disso, seu pensamento é regido mais pelas leis afetivas do que pelas leis da
lógica. O sincretismo é um estágio necessário para se chegar à análise e à síntese, que são duas operações
complementares.
O sincretismo é anterior ao pensamento categorial que irá advir da evolução da maturação, das
interações sociais principalmente mediadas pela linguagem, da experiência pessoal da criança e da cul-
tura do meio em que vive, uma vez que esta é fonte de conhecimento e de representações. A definição
categorial é que vai conferir ao pensamento o seu caráter normativo e a sua dedutividade, pois ela é a
capacidade de variar as classificações segundo as qualidades das coisas e descriminar as suas diferentes
propriedades (TRAN-THONG, 1987).
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14 A PSICOLOGIA E A ADOLESCÊNCIA
Atenção
A adolescência é o período da vida que se inicia por volta dos 10 anos e termina aos 20 anos de
idade, quando a pessoa passa de criança à adulta. Esse período abrange não apenas alterações
físicas de um corpo em amadurecimento, como também muitas mudanças cognitivas e socio-
emocionais.
Saiba mais
Caro(a) aluno(a), como aprofundamento de sua aprendizagem, retome as contribuições de cada autor
apresentado nesta apostila para a redefinição do período de adolescência.
Grife, nos capítulos anteriores, qual a definição desse período de desenvolvimento para cada um deles.
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Assim como os corpos amadurecem duran- David Elkind (1969) utilizou a ideia de Piaget
te a adolescência, o mesmo ocorre com os pa- descrita acima para explicar duas considerações
drões de pensamento. Piaget (1969) via os pro- sobre o comportamento adolescente. A primeira
gressos cognitivos da adolescência como uma delas é a audiência imaginária, tendência que os
capacidade maior de pensar de maneira abstrata, adolescentes têm de achar que estão sendo cons-
denominada pensamento operacional-formal. tantemente observados e que as pessoas sempre
Os adolescentes são capazes de compreender os julgam por sua aparência ou comportamento.
e lidar com conceitos abstratos, especular a res- A outra consideração versa sobre a fábula pessoal,
peito de possibilidades alternativas e raciocinar a sensação irreal que os adolescentes têm de sua
em termos hipotéticos. Contudo, essa é a fase em própria singularidade – acreditam que são dife-
que demonstram um “egocentrismo das opera- rentes de outras pessoas, que não serão afetados
ções formais” (PIAGET, 1967), pois suas represen- por coisas negativas que acontecem aos outros.
tações do real são mais importantes do que a dos
adultos.
A adolescência é o período da vida que se inicia por volta dos 10 anos e termina aos 20 anos de
idade, quando a pessoa passa de criança à adulta. Esse período abrange não apenas alterações físicas de
um corpo em amadurecimento, como também muitas mudanças cognitivas e socioemocionais.
Assim como os corpos amadurecem durante a adolescência, o mesmo ocorre com os padrões de
pensamento.
Os adolescentes são capazes de compreender e lidar com conceitos abstratos, especular a respeito
de possibilidades alternativas e raciocinar em termos hipotéticos.
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Psicologia da Educação
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15 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Concluindo este módulo, gostaríamos de considerar os seguintes aspectos: iniciamos nosso tra-
balho ressaltando a necessidade de conhecermos as ideias psicológicas e sua contribuição para o nasci-
mento da ciência Psicologia. Depois verificamos os elementos constitutivos das teorias sobre a constru-
ção da personalidade, bem como das teorias de aprendizagem tão necessárias para a instrumentalização
do profissional de educação nos dias de hoje. Por fim apresentamos os pressupostos teóricos de Piaget,
Vygotsky e Wallon e suas implicações nas relações de aprendizagem e ensino. Nosso caminho está longe
de chegar ao fim, eu diria está apenas iniciando, contudo acreditamos torná-lo menos árduo e possível
de ser trilhado.
Embora estejamos terminando neste módulo nossa contribuição na construção do seu curso de
Pedagogia, gostaríamos de considerar os seguintes aspectos: a Psicologia da Educação é uma disciplina
essencial para o profissional em educação por se tratar de uma área de estudos que se preocupa com
a construção do indivíduo em sua relação com o ensino-aprendizagem. Nesse sentido, elaboramos um
curso que se preocupou em demonstrar e explicar as teorias de aprendizagem tão necessárias para a
instrumentalização do profissional de educação nos dias de hoje.
Esperamos ter contribuído para seu crescimento profissional e colocamo-nos sempre à disposição
dos alunos, na esperança de um diálogo.
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RESPOSTAS COMENTADAS DAS
ATIVIDADES PROPOSTAS
Capítulo 1
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Capítulo 2
Capítulo 3
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Psicologia da Educação
Capítulo 4
Capítulo 5
Ao longo do desenvolvimento humano, isto é, desde a nossa infância até o último instante de
nossa vida, podemos aprender. Portanto, aprendemos de forma intencional todas as vezes que
nos matriculamos num curso ou procuramos deliberadamente uma instituição que possua
reconhecidamente um conhecimento que temos interesse em aprender, de maneira formal,
sistemática e planejada. Mas, ao nos dirigirmos para essa aula, aprendemos novos itinerários,
conhecemos outras pessoas, que nos ensinam de forma acidental e assistemática muitos co-
nhecimentos.
Por isso, aprendizagem e ensino não pertencem exclusivamente a um cenário escolar.
Capítulo 6
Usamos o termo ‘aprender’ sem dificuldades, pois sabemos que, se somos capazes de fazer
algo que antes não fazíamos, é porque aprendemos. A aprendizagem é um processo perma-
nente em nossas vidas.
A aprendizagem é um processo tão frequente, tão constante em nossas vidas, que praticamen-
te nos acompanha do berço ao túmulo.
Há provas experimentais da ocorrência, em fetos humanos, de um tipo particular de aprendi-
zagem, denominado condicionamento, a partir dos seis ou sete meses de vida intrauterina. Da
mesma forma, vários pesquisadores demonstraram que é possível a formação de reflexos con-
dicionados em crianças nascidas prematuramente, durante o período que vai desse nascimen-
to prematuro até a data correspondente ao término normal de uma gestação. Esses estudos
são apontados por Carmichael (1976) como demonstrações de que “o mecanismo neural de
fetos em estado adiantado de gestação já se encontra de tal forma amadurecido que é possível
ocorrer aprendizagem determinada pelo ambiente.” Por outro lado, pessoas idosas são igual-
mente capazes de aprender.
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Capítulo 7
Capítulo 8
Os fins últimos da educação referem-se, essencialmente, à promoção de uma pessoa bem inte-
grada, capaz de assumir um papel responsável e ativo na sociedade, e compreendem o desen-
volvimento de capacidades intelectuais e discernimentos sociais (cognição), a aprendizagem
de habilidades ativas práticas (aprendizagem psicomotora) e o desenvolvimento de emoções,
atitudes e valores (aprendizagem afetiva).
O novo sentido atribuído à palavra ‘informação’, nesse contexto, tem suficiente abrangência
para incluir tanto os produtos – ideias, fatos, planos, textos, sons, imagens, representações tri-
dimensionais etc. deliberadamente criados por nós ou naturalmente disponíveis no ambiente
– quanto os processos, isto é, habilidades, regras, estratégias, procedimentos e outros, graças
aos quais as informações são captadas, criadas ou aplicadas.
Capítulo 9
Hilgard assinala que uma teoria da aprendizagem preenche três funções essenciais:
1. constitui uma forma de abordar essa área do conhecimento, um modo de analisar, expor e
orientar pesquisas sobre aprendizagem;
2. representa um esforço para integrar, numa formulação relativamente breve, uma grande
quantidade de conhecimentos sobre os princípios ou leis da aprendizagem;
3. é uma tentativa criadora de explicar o “porquê” da aprendizagem, de compreender por que
ela funciona de um determinado modo.
A aprendizagem cognitiva designa formas de aprendizagem mais complexas, nas quais a per-
cepção, a compreensão de relações significativas e o conhecimento são críticos, muito mais do
que o estabelecimento de associações entre estímulo e resposta.
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Psicologia da Educação
Capítulo 10
Devemos ao psicólogo Edward L. Thorndike uma das mais influentes e populares teorias da
aprendizagem, segundo o modelo associacionista de estímulo-resposta. Conhecida como co-
nexionismo, afirma que um hábito é adquirido por ensaio e erro, de modo que uma resposta
apropriada torna-se gradualmente associada a um estímulo particular.
A contribuição de Burrhus Frederic Skinner à compreensão da aprendizagem estriba-se na as-
sociação entre uma resposta desejada e um estímulo reforçador que a segue. Filia-se, portanto,
ao mesmo grupo de teorias S-R nas quais o reforçamento desempenha um papel fundamental,
como a de Thorndike. Além disso, Skinner realça os papéis dos estímulos discriminativos – estí-
mulos frente aos quais o organismo aprende a responder de modo diferente em relação a cada
um deles – e da diferenciação da resposta.
Capítulo 11
Capítulo 12
1. Vygotsky dedicou-se ao estudo das chamadas funções psicológicas superiores, que consistem
no modo de funcionamento psicológico humano. São processos não inatos, que se desenvol-
vem ao longo do processo de internalização de formas culturais de comportamento. Diferem,
portanto, dos processos psicológicos elementares (presentes na criança pequena e nos ani-
mais), tais como reações automáticas, ações reflexas e associações simples, que são de origem
biológica. O projeto principal de seu trabalho consistia na tentativa de estudar os processos de
transformação do desenvolvimento humano na sua dimensão filogenética, histórico-social e
ontogenética. Deteve-se ao estudo dos mecanismos psicológicos mais sofisticados (as chama-
das funções psicológicas superiores), típicos da espécie humana:
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Memória Ativa;
Pensamento Abstrato;
Raciocínio Dedutivo;
Capacidade de planejamento.
O Nível de Desenvolvimento Real (NDR) pode ser entendido com referência àquelas conquistas
que já estão consolidadas na criança, aquelas funções ou capacidades que ela já aprendeu e
domina, pois já consegue utilizar sozinha, sem assistência de alguém mais experiente da cul-
tura (pai, mãe, professor, criança mais velha etc.). Por exemplo: andar de bicicleta, soltar pipa,
cortar com tesoura.
Estamos tratando de um nível de desenvolvimento já estabelecido, o indivíduo já aprendeu,
isto é, estamos olhando para o desenvolvimento retrospectivamente.
O Nível de Desenvolvimento Potencial (NDP) pode ser entendido como aquilo que o indivíduo
é capaz de fazer, só que mediante a ajuda de outra pessoa (adultos ou crianças mais expe-
rientes). Nesse caso, a criança realizará tarefas e solucionará problemas através do diálogo, da
colaboração, da imitação, da experiência compartilhada e das pistas que lhe são fornecidas. Por
exemplo: uma criança de 5 anos pode não conseguir montar um quebra cabeça logo de início,
mas com a ajuda de seu irmão ou pessoa mais velha, pode realizar a tarefa.
3. A distância entre aquilo que o indivíduo é capaz de fazer de forma autônoma (NDR) e aquilo
que ele realiza em colaboração com os outros elementos de seu grupo social (NDP) caracteriza
aquilo que Vygotsky chamou de Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP), sendo, portanto,
aquelas funções que o indivíduo ainda não amadureceu.
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Psicologia da Educação
Capítulo 13
As idades indicadas foram propostas por Wallon para as crianças de sua época e de sua cultura.
Precisam ser revistas para a nossa cultura nos dias de hoje. Entretanto, mais que os limites etá-
rios, é preciso observar quais interesses e atividades predominam em cada período. Os estágios
só adquirem sentido dentro dessa sucessão temporal, uma vez que cada um deles é gestado,
preparado pelas atividades do estágio anterior e desenvolve atividades que prepararão a emer-
gência do próximo. Então, será possível perceber quais os comportamentos predominantes
em cada um deles. As situações às quais a criança reage são as que correspondem aos recursos
de que dispõem.
Capítulo 14
1. A adolescência é o período da vida que se inicia por volta dos 10 anos e termina aos 20 anos
de idade, quando a pessoa passa de criança à adulta. Esse período abrange não apenas altera-
ções físicas de um corpo em amadurecimento, como também muitas mudanças cognitivas e
socioemocionais.
Uma série de características físicas essenciais indica a fase da adolescência. A mais óbvia é o Es-
tirão de Crescimento, isto é, o rápido aumento na altura e no peso que tem início, em média,
aos 10 anos e meio para as meninas e aos 12 anos e meio para os meninos e chega ao auge aos
12 anos para elas e aos 14 para eles. O adolescente típico atinge sua altura máxima cerca de 6
anos após o início do estirão de crescimento.
Esse estirão se inicia com o alongamento das mãos, dos pés, dos braços e das pernas, o que gera
o aspecto desajeitado e grandalhão dos adolescentes mais jovens. Esse estágio é seguido pelo
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crescimento do torso, o que traz o corpo de volta à proporcionalidade. Nos meninos, o estágio
final resulta no alargamento do peito e dos ombros e no desenvolvimento de músculos mais
fortes. Para as meninas, as mudanças no corpo ocorrem à medida que os quadris se alargam e
a gordura se deposita nos seios, na cintura, nas nádegas e nas coxas. Todas essas mudanças se
originam de um aumento dos hormônios. Em ambos os sexos, o rosto também passa por alte-
rações. O queixo e o nariz se tornam mais proeminentes, e os lábios mais carnudos.
2. Assim como os corpos amadurecem durante a adolescência, o mesmo ocorre com os padrões
de pensamento. Piaget (1969) via os progressos cognitivos da adolescência como uma capaci-
dade maior de pensar de maneira abstrata, denominada pensamento operacional-formal. Os
adolescentes são capazes de compreender e lidar com conceitos abstratos, especular a respei-
to de possibilidades alternativas e raciocinar em termos hipotéticos. Contudo, essa é a fase em
que demonstram um “egocentrismo das operações formais” (PIAGET, 1967), pois suas represen-
tações do real são mais importantes do que a dos adultos.
David ElKind (1968-1969) utilizou a ideia de Piaget descrita acima para explicar duas considera-
ções sobre o comportamento adolescente. A primeira delas é a audiência imaginária, tendên-
cia que os adolescentes têm de achar que estão sendo constantemente observados e que as
pessoas sempre os julgam por sua aparência ou comportamento. A outra consideração versa
sobre a fábula pessoal, a sensação irreal que os adolescentes têm de sua própria singularidade
– acreditam que são diferentes de outras pessoas, que não serão afetados por coisas negativas
que acontecem aos outros.
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REFERÊNCIAS
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