Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Paul Celan, que, segundo George Steiner (2005, p. 205), teria sido “o maior poeta
europeu do período posterior a 1945”, é daqueles autores difíceis de traduzir e
mais ainda de interpretar, como se pode constatar nas duas versõ es ao
português do poema em epígrafe, abaixo transcritas, de autoria,
sequencialmente, de Claudia Cavalcanti e Modesto Carone.
J.A.R. – H.C.
Ele grita cavem mais até o fundo da terra vocês ai vocês ali cantem e
toquem
ele pega o ferro na cintura balança-o seus olhos sã o azuis
cavem mais fundo as pá s vocês aí vocês ali continuem tocando para
dançarmos
FUGA DA MORTE
(Paul Celan)
Leite negro da aurora bebemos-te à tarde
bebemos-te cedo e no dia bebemos-te à noite
e bebemos bebemos
cavamos um tú mulo no ar onde nã o se há de estar apertado
Mora um homem na casa que lida com cobras que escreve
quando descem as sombras escreve à Alemanha teu á ureo cabelo Margarete
ele escreve e se afasta da casa e cintilam estrelas assovia chamando os mastins
e assovia judeus seus judeus cavem fundo uma cova na terra
agora nos manda tocar para a dança
Grita cavem mais fundo essa terra vocês acolá vocês cantem e toquem
pega o ferro do cinto balança-o seus olhos azuis
cavem fundo essas pá s vocês estes aqueles nã o parem a mú sica a dança
Grita toquem a morte mais doce é a morte um dos mestres senhor da Alemanha
grita toquem mais sombra os violinos depois subam como fumaça
e hã o de ter uma cova nas nuvens que lá nã o se fica apertado