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ÁREA TEMÁTICA

Gestão de Pessoas
Avaliando Sistemas de Remuneração e do Capital
Intelectual
Baseados em Habilidades e Competências:
a Visão dos Profissionais de Gestão de Pessoas
Luiz Roberto Cardoso
Mestre em Administração pela FEA-USP [lrobertocardoso@terra.com.br]

Recebido em 22 / Março / 2006


Aprovado em 31 / Julho / 2006

RESUMO kind of pay systems, characterizing a study methodology


based on multiple cases. Results not only confirm major
O objetivo do presente artigo é aprofundar o conhe-
theoretical recommendations and key aspects to be
cimento sobre sistemas de remuneração baseados em
observed during the creation and implementation of skills
habilidades e competências implantados em empresas
and competence based pay systems but also provided
brasileiras, confrontando-os com os fundamentos apre-
information on what direction improvement and broadening
sentados na literatura pertinente e investigando-se a efetivi-
efforts should be made whether one’s seek for increasing
dade dos seus resultados. Para tanto, foi realizada uma
the effectiveness of this approach for determining the
pesquisa junto a sete empresas (São Paulo, Rio de Janeiro
compensation of knowledge workers in organizations.
e Paraná), entrevistando-se os gerentes de Remuneração
ou de Gestão de Pessoas sobre suas opiniões a respeito
das principais dificuldades, objetivos iniciais, deficiências KEY WORDS
e fatores restritivos à adoção de sistemas de remuneração
Strategic compensation; Competences; HRM.
dessa natureza, configurando-se uma metodologia de casos
múltiplos. Os resultados não só confirmam as principais
recomendações teóricas e cuidados a serem observados
na concepção e implantação desses sistemas, mas também 1. INTRODUÇÃO
apontaram para qual sentido os esforços de melhoria, aper-
feiçoamento e ampliação devem se voltar, caso se deseje A passagem da economia industrial para a eco-
aumentar a eficácia dessa abordagem para a determinação nomia do conhecimento, a crescente automação do
da remuneração de profissionais detentores de conheci- trabalho, o crescimento generalizado do setor de ser-
mento nas organizações. viços, a redução de tamanho das grandes empresas,
a maior participação feminina na força de trabalho,
PALAVRAS-CHAVE
as transformações no perfil demográfico, o desloca-
Remuneração estratégica; Competências; Gestão de mento do “centro geográfico da economia”, que passa
pessoas. de matéria-prima e bens de capital para informações
e conhecimento, e também o aumento da velocidade
ABSTRACT
com que as mudanças ocorrem caracterizam o ambien-
This article is aimed at deepening the knowledge te em que atuam as empresas, em especial na última
about skill and competence pay systems implemented by década (CRAWFORD, 1994). Essas constantes e varia-
Brazilian organizations, comparing them to assumptions das mudanças demandam respostas, que se materia-
underlying current literature and looking for research lizam nas estruturas organizacionais, nas tecnologias
findings about their effectiveness. A field research was
empregadas e nos comportamentos requeridos dos
conducted in seven major organizations (located at the
states of São Paulo, Rio de Janeiro and Paraná) in which
seus integrantes. Uma das respostas para atender a esse
Compensation or Human Resources managers were contexto de intensa e acelerada mutabilidade foi o
interviewed on their perceptions and opinions about the aparecimento de novas abordagens em gestão de
main difficulties, intended purposes, problems during pessoas, sendo uma delas a implantação de sistemas
implementation as well as barriers for the adoption of this de Remuneração por Habilidades e Competências.
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Brisolla (1994) já se referia à necessidade de apro- (PICARELLI FILHO; WOOD JR, 1996), por várias
fundar estudos sobre os planos de skill-based pay por razões, tornou-se, no contexto do novo cenário empre-
representarem inovação na forma de remuneração. sarial, alvo de muitas críticas, uma vez que acaba por
Por outro lado, no final da década de 90 e início da promover um estilo burocrático de gestão, reduzir a
nova, importante parcela de grandes empresas, no amplitude de ação de indivíduos e grupos, inibir a
Brasil e no exterior, lançaram mão dessa filosofia de criatividade e o espírito empreendedor, colocar o
remuneração na busca de aperfeiçoamento em seus foco mais nos clientes internos do que nos externos,
modelos de gestão. Comprovam essas adoções estu- nos procedimentos e não nos resultados, não apre-
dos como os de Lawler III, Mohrman e Ledford, apud sentar orientação estratégica e, principalmente, não
Picarelli Filho e Wood (1997) e Jenkins Jr et al. (1992), encorajar a aquisição e o desenvolvimento de novas
como também estudos de Coda (1999), Fischer (1998) habilidades e conhecimentos.
e de empresas de consultoria de atuação nacional Lawler III (1990) também apresenta outras críticas
e internacional como WMMercer (2000) e Andersen à remuneração de base funcional, a saber: desper-
Consulting (2001). sonaliza a orientação de valor – como tais sistemas
Dessa forma, o objetivo deste artigo é aprofundar atribuem valor ao que a pessoa faz, tomando como
o conhecimento sobre sistemas de remuneração basea- base o seu cargo, a consideração das habilidades e
dos em habilidades e competências implantados em conhecimentos do indivíduo fica em plano secun-
empresas brasileiras, confrontando-os com os fun- dário -; desencoraja a mudança organizacional; au-
damentos apresentados na literatura pertinente e menta os custos com a administração salarial – os
investigando-se a efetividade dos seus resultados. sistemas de avaliação de cargos, para manterem sua
atualidade em tempos de intensa e acelerada mu-
dança exigem revisões cada vez mais freqüentes das
2. TEORIA E QUESTÕES DE PESQUISA descrições de cargos, o que é custoso.

2.1. Remunerando o Cargo – A Remuneração Fun-


2.2. Remunerando o Ocupante do Cargo
cional
A prática de tomar o cargo como base para a fixa-
2.2.1. A Remuneração por Habilidades
ção do salário do trabalhador, bem como dos seus
demais rendimentos decorrentes do trabalho, deno- Os sistemas de remuneração focados no indivíduo
mina-se Remuneração Funcional. apresentam-se como alternativa aos sistemas baseados
Os sistemas de remuneração tradicionalmente utili- no cargo, visando a superação das suas principais des-
zados nas empresas tomam como referência, para a vantagens, enfraquecendo ou quebrando o paradigma
determinação do salário, usualmente, a contribuição do cargo e mudando o foco para o indivíduo.
esperada do cargo. A contribuição pessoal não é refe- Este artigo considera como habilidade a “capaci-
rência para efeito de determinação do salário. Dessa dade de realizar uma tarefa ou um conjunto de tare-
forma, como regra geral, paga-se o mesmo salário para fas em conformidade com determinados padrões
diferentes profissionais que desempenham o mes- exigidos pela organização” (PICARELLI FILHO;
mo cargo, admitindo-se diferenciais por mérito ou WOOD JR, 1997). Esse tipo de remuneração objeti-
antigüidade. va determinar a compensação com base nas caracte-
Segundo Lawler III (1999), essa abordagem baseia- rísticas pessoais dos profissionais envolvidos e incen-
se na discutível suposição de que o valor de um car- tivar o desenvolvimento profissional individual, uma
go pode ser determinado, tomando-se como base os vez que vincula as promoções e progressões salariais à
valores pagos pelo mercado para cargos com descri- comprovação da aquisição de habilidades ou conhe-
ções semelhantes, e de que o valor da pessoa execu- cimentos.
tando o trabalho é o valor do próprio cargo. Os com- Flannery (1997) aponta como uma característica
ponentes principais de um sistema desse tipo são a da Remuneração por Habilidades a agregação de flexi-
descrição de cargos, a avaliação de cargos, os fatores bilidade à atuação do trabalhador. Jennkins et al.
de avaliação e sua respectiva ponderação, as faixas (1992.) apontam aspectos do sistema de Remunera-
salariais e a pesquisa salarial. Essa forma, apesar de ção por Habilidades que o tornam muito diferente da
continuar a ser amplamente adotada pelas empresas Remuneração Funcional, sendo eles: a base da remu-
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AVALIANDO SISTEMAS DE REMUNERAÇÃO BASEADOS EM HABILIDADES E COMPETÊNCIAS: A VISÃO DOS PROFISSIONAIS DE GESTÃO DE PESSOAS

neração são as habilidades certificadas, a senioridade habilidades dos profissionais com os conseqüentes
tem papel secundário e o esforço de desenvolvimento reflexos salariais e a demanda também crescente por
individual tem como contrapartida a evolução salarial. treinamento que sempre significa maiores investi-
A certificação é a forma de qualificar o profissional mentos na gestão de pessoas. A Remuneração por
quanto ao domínio das habilidades adquiridas. Habilidades parece não ser também indicada para
Ghorpade e Edge (1997) relacionam os três elemen- todas as empresas, mas principalmente para empre-
tos necessários à elaboração de um plano de sas que trabalham com poucos níveis hierárquicos
certificação: ou que se utilizam de equipes autogerenciadas, ba-
seadas na gestão participativa. (PICARELLI FILHO;
· certificadores: podem ser profissionais da em-
presa ou externos a ela;
WOOD JR, 1996). Jenkins Jr. (1992), Ledford (1995),
Gupta et. al. (1992), ao pesquisarem as razões pelas
· níveis exigidos de proficiência das habilidades; quais empresas americanas acabaram por abandonar
· demonstraratravés
métodos dos quais os empregados podem
a proficiência das habilidades; usual-
sistemas de Remuneração por Habilidades, relatam
como dificuldades responsáveis pelo insucesso a falta
mente o treinamento on-the-job permite aos de comprometimento dos dirigentes com o geren-
supervisores e pares a observação do domínio ciamento do sistema; a falta de empenho na solução
da habilidade pelo treinando e é um bom ins- de problemas surgidos quando da implantação; defi-
trumento para apoiar a certificação. São tam- ciências nos projetos dos sistemas, com impacto no
bém utilizados testes, embora se ressalte que aumento dos custos salariais e sem a contrapartida de
são mais caros para ser desenvolvidos e exigem benefícios para a empresa; oferta insuficiente de treina-
cuidados específicos para sua aplicação. mento; falta de controle nas concessões de aumentos
salariais, sem a prévia avaliação ou certificação dos
O problema da valorização das habilidades é um profissionais; e, finalmente, treinamento insuficiente
ponto crítico, uma vez que, não havendo possibili- para os supervisores, no que se refere aos fundamentos
dade de comparar os valores pagos diretamente com e à utilização do sistema.
o mercado, já que as habilidades são pagas em formas
e combinações diferentes pelas empresas, torna-se
2.2.2.A Remuneração por Competências
necessário estabelecer procedimentos que permitam
sua avaliação. Os sistemas de remuneração que tomam como
Um outro aspecto a ressaltar é a obtenção e a manu- base um conjunto de competências de domínio do
tenção do equilíbrio externo, o que usualmente é indivíduo e de como ele as aplica na realização de
apoiado na realização de pesquisas salariais. Diferente- suas tarefas são denominados sistemas de Remune-
mente dos modelos funcionais, em que a pontuação ração por Competências. O conceito de competên-
dos cargos é feita a partir das atividades desenvolvi- cias é ainda objeto de divergências quanto à sua de-
das, da responsabilidade, da amplitude de comando finição, podendo ser caracterizado ainda como um
e da formação exigida, a comparação com o merca- conceito em desenvolvimento. Este artigo utiliza
do exige considerar que os salários são o resultado como definição operacional aquela proposta por
de uma combinação de habilidades dos profissionais. Fleury e Fleury (2000): “..um saber agir responsável
Assim, segundo Picarelli Filho e Wood Jr. (1996), é e reconhecido, que implica mobilizar, integrar, trans-
necessário agrupar habilidades para que se possa ferir conhecimentos, recursos, habilidades, que agre-
realizar uma comparação com cargos que constem da guem valor econômico à organização e valor social
pesquisa de mercado. A Remuneração por Habilida- ao indivíduo”. Tem por objetivo expandir as vanta-
des apresenta como sua principal vantagem favore- gens de remunerar o indivíduo para aquelas situa-
cer o aprendizado de habilidades importantes diante ções em que a Remuneração por Habilidades apre-
de avanços tecnológicos rápidos e que em grande senta limitações, como as atividades pouco padroni-
parte dos casos envolvem um aumento da complexi- zadas e com maior grau de abstração, como as
dade da própria função exercida na empresa pelo gerenciais, técnicas de nível superior ou administra-
ocupante do cargo (SCHUSTER; ZINGHEIN, 1996). tivas. São diversas as formas pelas quais os sistemas
Em termos de críticas, a literatura aponta o constan- de Remuneração por Competências podem ser
te aumento dos gastos com a folha de pagamento, estruturados, sendo seus principais componentes
uma vez que a tendência é o aumento progressivo das identificados e comentados a seguir.
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· Definição de processos ou carreiras – As organi-


zações apresentam uma variedade de processos
generalidade; (c) a quantidade de competências não
deve ser grande, para que o acompanhamento possa
de trabalho, ligados às suas operações, produtos ser realizado; (c) as competências devem ser gradua-
e áreas funcionais. A natureza e a forma pela das em termos da complexidade da entrega. Entende-
qual as competências dos profissionais apóiam se por “entrega” a forma pela qual as pessoas desem-
as competências da organização dependem em penham as suas atividades usuais e a forma pela qual
grande parte, dos processos e carreiras em que respondem às demandas do trabalho. Dutra (2001)
esses profissionais atuam, assumindo feições define entrega como “saber agir de maneira respon-
características e fazendo, por exemplo, com sável e ser reconhecido por isso”.
que uma mesma competência apresente para
um processo um valor diferente do que apre-
senta para outro.
· Processo de Avaliação de Competências – identi-
ficação das ferramentas, escalas e responsáveis
· Identificação das competências que comporão
o sistema – Os autores que iniciaram o trata-
pela realização da avaliação das competências,
bem como a periodicidade dentro da qual o pro-
mento do tema, como McClelland e Boyatzis, cesso será levado a efeito. Wilson (1994) ressalta
procuraram derivar as competências essenciais que é crítica a necessidade de que os avaliado-
para as organizações, do comportamento obser- res sejam detentores de conhecimento e obje-
vado de profissionais de desempenho diferen- tividade para que suas avaliações resultem boas
ciado. Wilson (1994) ressalta que quanto mais e sejam aceitas como válidas.
específicas e relevantes essas descrições sejam
para o ambiente de trabalho, tanto maior credi-
· Atribuição de Valor às Competências – pesquisa
de mercado para a obtenção de dados e defi-
bilidade e utilidade terão. Resulta a necessida- nição de valores para os níveis de proficiência
de de que as definições sejam compreendidas estabelecidos. Aqui deverá ser feita a decisão
pelos seus usuários, como critério de aceitação de como o ganho de competências disparará
do próprio sistema. Boyatzis (1982) e Spencer um reajuste salarial, sob quais condições se
e Spencer (1993) classificam dois grupos de com- dará a progressão salarial, se serão remunera-
petências, denominando-as básicas: aquelas das competências isoladas ou blocos, como
necessárias para o desempenho das atividades, serão valorizados os blocos de competências e
mas que não permitem distinguir o desempenho se o domínio de blocos será pré-requisito para
excepcional do desempenho médio e diferen- acesso a outros blocos, com competências de
ciadoras e aquelas competências que permitem maior complexidade.
diferenciar o desempenho superior do desem-
penho médio. Outra maneira de se classificar
· Administração do Plano de Desenvolvimento de
Competências – A organização deverá prover
competências seria denominá-las de competên- os necessários treinamentos e oportunidades de
cias organizacionais ou de negócios, caracte- trabalho que propiciem o ganho e a aplicação
rizadas a partir da explicitação dos aspectos de competências. Deverá ainda ser mantido um
diferenciais da organização ou do negócio; sistema de registro de avaliações e ganhos de
competências críticas para as atividades, a par- competências, o que possibilitará a continui-
tir da determinação dos processos críticos para dade da operação do sistema.
o negócio; competências ligadas a grupos pro-
fissionais ou carreiras profissionais, que seriam Picarelli Filho e Wood Jr. (1997) e Hipólito (2001)
essenciais para a aplicação às carreiras existentes referem-se às vantagens proporcionadas pelos sistemas
na organização, bem como essenciais também de remuneração por competências. A primeira vanta-
para a operação da empresa. gem dos sistemas de remuneração por competências
é o alinhamento do desenvolvimento das competências
Dutra (2002) recomenda alguns pontos importan- individuais às competências organizacionais. Uma
tes, para que a gestão das competências seja eficaz, segunda vantagem é o incentivo ao desenvolvimento
tais como: (a) as competências devem ser observáveis das competências, no âmbito individual, pelos pro-
para que possam ser acompanhadas; (b) as descri- fissionais da organização, o estímulo à capacitação.
ções devem ser objetivas, retratando a entrega espe- Assim como na Remuneração por Habilidades, as
rada e eliminando-se ao máximo a ambigüidade e a empresas buscam na remuneração por competências
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a flexibilidade na atuação dos profissionais. Segundo os instrumentos de medição sejam devidamente tes-
Wilson (1994), as empresas recorrem a esse tipo de tados quanto à sua validade.
remuneração quando o conjunto de competências
de seus profissionais não atende às demandas emer-
gentes e ameaça sua competitividade. É esperada 3. METODOLOGIA DA PESQUISA
também, como resultado do aumento da flexibilida-
de do efetivo, uma redução de custos com pessoal. A pesquisa que fundamenta este artigo tem carac-
Hipólito (2001) aponta ainda diversas vantagens dos terísticas descritivas e explicativas. A caracterização da
sistemas de Remuneração por Competências, obser- pesquisa como fundamentalmente descritiva encon-
vadas em algumas organizações, sendo as principais, tra abrigo nas definições proporcionadas por Martins
a clareza quanto aos diversos níveis de trabalho exis- (1994), que define a pesquisa descritiva como a que
tentes na organização e no que é esperado dos pro- tem como objetivo a descrição das características de
fissionais; o respeito às particularidades, necessida- determinado fenômeno, bem como o estabelecimen-
des, à cultura e aos valores da empresa; a integração to de relações entre variáveis e fatos. Essas questões
das ações relativas à gestão de pessoas; a avaliação indicam a utilização do método de estudo de caso, o
do valor agregado pelos profissionais; o aumento da qual, conforme lembra Yin (2001), apresenta uma van-
capacidade da empresa de reter competências estra- tagem distinta quando “faz-se uma questão do tipo
tégicas; a descentralização da gestão salarial, sem que ‘como’ ou ‘por que’ sobre um conjunto contemporâ-
se perca a coerência da gestão de salários em seu neo de acontecimentos sobre o qual o pesquisador
todo; e, finalmente, o compromisso da organização tem pouco ou nenhum controle”.
com o sistema, fruto do envolvimento do corpo Neste estudo, foi feita uma opção por casos múl-
gerencial em sua construção. tiplos, justificada por haver na literatura pertinente
Quanto às críticas em relação a esses sistemas, menções a diferentes formas de aplicação dos con-
Wilson (1994) entende que, em geral, as desvantagens ceitos de habilidade e competências aos sistemas de
verificadas são derivadas da forma pela qual o siste- remuneração, o que potencialmente encerrava a
ma é projetado. Uma das desvantagens associada ao possibilidade de encontrar-se diferentes sistemas em
projeto é a frustração das expectativas de redução utilização. Note-se que a opção por casos múltiplos,
de custos decorrentes do aumento da flexibilidade seguindo a lógica da replicação proposta por Yin,
do efetivo, o que ocorre quando os ganhos de produ- proporciona a tipificação de diferentes práticas, a
tividade se verificam em tempo mais prolongado do partir da definição de um caso inicial.
que o aumento do custo com os salários, que passa a Foram então escolhidas as sete empresas compo-
ocorrer quase que imediatamente à implantação do nentes do grupo, segundo critério de conveniência,
novo sistema. Uma segunda desvantagem é que esses a partir do conhecimento prévio de empresas de
sistemas requerem aumento dos investimentos em notória reputação e que empregam sistemas de remu-
treinamento e a criação de oportunidades para empre- neração de interesse para o tema da pesquisa, bem
go das competências adquiridas. Outra forte crítica à como foram utilizadas indicações de professores da
utilização de competências como base para sistemas FEA/USP ou profissionais da área de consultoria em
de remuneração foi feita por Lawler III (1999). Segun- Recursos Humanos.
do ele, muitos dos sistemas de remuneração por com- A pesquisa foi realizada em sete empresas, durante
petências falham porque não conseguem converter os anos de 2003 e 2004, e os dados foram coletados
as competências em características mensuráveis, que através de entrevistas. As entrevistas foram de natu-
permitam a determinação de valores salariais válidos e reza semi-estruturada, tendo sido elaborado um
confiáveis. Esse autor critica a adoção de competên- Roteiro de Entrevista, que foi utilizado para manter
cias genéricas, como as apresentadas por Spencer e uma linha de investigação.
Spencer (1993), em razão de não permitirem o gan- A aplicação do Roteiro de Entrevistas procurou,
ho de vantagem competitiva, já que o emprego de todavia, preservar a liberdade dos entrevistados
competências genéricas nivelaria seus usuários, reti- de discorrerem sobre os temas em questão, sem res-
rando do instrumento o poder de diferenciação. trições, o que permitiu a exploração de aspectos
Defende, portanto, a utilização de competências para não considerados no formato inicial. Complemen-
planejamento da mobilidade do efetivo, seleção de tarmente, foram coletadas informações através de
pessoal e treinamento e ressalta a necessidade de que diferentes fontes mantidas pelas empresas, como
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manuais de orientação aos gestores funcionais e as similaridades e as diferenças observadas dentro


profissionais, jornais internos, apresentações sobre do grupo de casos estudados.
os sistemas realizadas em seminários e congressos, Um conjunto inicial de proposições, retirado da
páginas da Internet, contatos telefônicos e, em alguns literatura sobre o tema, foi examinado, servindo
casos, com questões dirigidas a outros gestores fun- então como referencial para a tipificação dos siste-
cionais das empresas, externos à área de Recursos mas de remuneração estudados e permitindo o con-
Humanos. fronto sistemático com as bases teóricas.
A análise dos dados foi realizada utilizando-se um
modelo, baseado no proposto por Yin que enfatiza
o emprego de casos múltiplos dentro de uma lógica 4. RESULTADOS
de replicação e não de amostragem. O modelo de
análise de dados utilizado não recorre aos múltiplos Os responsáveis pelas áreas de remuneração foram
casos como uma fonte de representatividade dos questionados quanto às vantagens obtidas com a
dados colhidos, mas como um critério para classificar implantação dos sistemas estudados. No quadro abaixo,

Quadro 1 – Vantagens da Utilização dos Sistemas de Remuneração por Habilidades e Competências


– Citações Espontâneas dos Entrevistados (6 empresas).

9$17$*(16?(035(6$6 $ % ' ( ) *
Es tímulo ao des envolvimento de habilidades e competências
individuais ***** ***** ***** ***** ***** *****
M elhoria na qualificação do efetivo ***** ***** ***** *****
M elhoria na qualidade do trabalho produzido ***** ***** ***** *****
M aior interação dos s ub-s is temas de RH ***** ***** ***** *****
A umento da flexibilidade de atuação dos profis sionais ***** ***** ***** *****
A umento da autonomia operacional dos funcionários ***** ***** *****
Facilidade de preenchimento de novas pos ições com profis sionais
do efetivo exis tente ***** ***** *****
Definição clara e racional dos critérios de fixação de s alários e
reajustes ***** ***** *****
A umento na produtividade do efetivo ***** *****
Incentivo ao aprendizado organizacional ***** *****
Redução do número de funções específicas / fus ão de funções ***** *****
M aior envolvimento dos profis s ionais com os objetivos da
Organização ***** *****
Redução do turn-over (espontâneo) ***** *****
Ganho de vis ão s is têmica pelos profis sionais ***** *****
Incentivo ao auto-des envolvimento, com participação dos
funcionários em atividades de des envolvimento por s ua própria ***** *****
iniciativa
Retenção dos profis s ionais ess enciais para a Organização ***** *****
M aior flexibilidade para ajus tar os s alários ao mercado, inclus ive
nas admis s ões ***** *****
Clara definição das pos s ibilidades de carreira para os profis s ionais
***** *****
M aior adaptabilidade do efetivo às mudanças organizacionais *****
Redução de "gargalos " na produção / execução de s erviços *****
M elhoria do desempenho individual *****
Des vinculação entre s alário e s enioridade ou tempo de casa *****
Conhecimento claro, pela empresa, das habilidades e
competências do efetivo *****
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no qual não constam dados da Empresa C, que ainda vações de Jenkins Jr et al. (1992) e proporcionou,
não reconhece resultados, demonstramos as catego- no grupo de empresas analisadas, a classificação das
rias que foram objeto de citações espontâneas quando dificuldades encontradas em duas categorias, sendo
das respostas. a primeira relativa a fatores culturais e a segunda, a
A pesquisa das dificuldades para a definição, implan- deficiências ou falhas na própria concepção dos sis-
tação e operação dos sistemas confirmou as obser- temas, conforme demonstram os quadros a seguir.

Quadro 2 – Fatores Culturais Impeditivos para a Utilização de Sistemas de Remuneração


por Habilidades e Competências

)$725(6
Falta de comprometimento de gestores, alheamento em relação ao sistema, alegação de falta de tempo para dedicar-se à
implantação do sistema ou não utilização do mesmo.
Apego ao referencial de cargos e à titulação e não à apresentação de resultados.

Ceticismo em relação às inovações de propostas pela área de RH, em razão de experiências anteriores mal sucedidas.

Rejeição à participação na elaboração do sistema, declarando-o a uma responsabilidade da área de RH.

Tentativa de valorizar desproporcionalmente algumas habilidades, como forma de fazer prevalecer o interesse de um grupo
específico.

Quadro 3 – Deficiências na Concepção ou no Planejamento de Sistemas de Remuneração


por Habilidades e Competências

'(),&,Ç1&,$6

Falta de suporte de treinamento para apoiar o desenvolvimento das habilidades e competências.

Insuficiência de recursos para a administração do mapeamento das competências individuais e avaliações, como sistemas
informatizados específicos.
Ausência de previsão de tratamento de casos específicos, como a valorização excepcional de alguns cargos pelo mercado.

Formação de famílias de cargos englobando número excessivo de cargos, não reconhecendo a existência de carreiras
diferentes.
Divulgação preciptada ou incorreta de informações sobre o sistema em sua fase de concepção, gerando-se expectativas não
atendidas posteriormente.
Adoção de competências definidas de modo vago ou sem um instrumento que permita a aferição dos níveis de
complexidade correspondentes.
Insuficiência de treinamento aos gestores e profissionais na fase de impantação do sistema.

A maioria das empresas declara que os objetivos afirmar que os objetivos traçados foram alcançados
que traçaram quando da implantação dos seus siste- ou estão próximos de serem alcançados, uma vez que
mas foram totalmente atingidos. Um grupo menor são conhecidas as deficiências e suas soluções.
reconhece que os objetivos foram parcialmente atin- O quadro a seguir demonstra os principais objeti-
gidos, restando ainda implementar ações ou redefinir vos buscados pelas empresas estudadas com a implan-
alguns pontos importantes para que os sistemas possam tação de seus sistemas de remuneração por Habili-
atingir os seus objetivos. De um modo geral, pode-se dades ou Competências.
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Quadro 4 – Elenco de Objetivos Pretendidos com a Implantação de Sistemas de Remuneração


por Habilidades e Competências.

2%-(7,92'(&/$5$'2
Alinhamento do sistema de remuneração aos objetivos estratégicos da empresa.
Incentivo ao desenvolvimento das competências individuais alinhadas à estratégia da empresa.
Definir perspectivas de carreira e critérios de recompensa para os profissionais da empresa.
Criação de uma estrutura salarial eficiente, com critérios claros e conhecidos pelos profissionais.
Acrescentar flexibilidade à atuação dos profissionais.
Desvincular o progresso na carreira da senioridade e do tempo de empresa.
Remuneração adequada e retenção de profissionais importantes para a empresa
Melhorar a capacidade de adaptação às mudanças organizacionais.
Melhorar o ambiente interno da empresa.
Obter melhores referenciais de comparação com o mercado (volatilidade dos cargos).

O estudo procurou também avaliar as perspecti- nuar com a sua utilização, não apenas nas unidades
vas de continuidade dos sistemas implantados e os nas quais estavam sendo utilizados, mas também rela-
aperfeiçoamentos julgados necessários para que essa taram o propósito de ampliar a sua utilização, adotan-
continuidade fosse realizada com sucesso. Em geral, do-os em outras unidades. O quadro a seguir revela as
as empresas declararam satisfação com o desempe- necessidades de aperfeiçoamento identificadas pelos
nho dos sistemas e informaram a pretensão de conti- entrevistados das diferentes empresas consultadas.

Quadro 5 – Elenco de Necessidades de Melhoria dos Sistemas de Remuneração


por Habilidades e Competências.

0(/+25,$6$3217$'$6
Melhorar o sistema de treinamento e desenvolvimento através de cursos de auto-desenvolvimento
Retreinamento dos gestores funcionais na operação do sistema e reforçar o entendimento dos seus papéis
Proporcionar aos profissionais o acesso informatizado ao sistema
Regularizar a periodicidade das avaliações
Intensificar a comunicação e divulgação do sistema para os profissionais

No grupo analisado, há empresas utilizando-se simultaneamente, embora adotem a denominação


tanto de habilidades como de competências exclusi- de competências.
vamente, bem como de combinações dos dois con- Cabe ainda observar que os sistemas que utili-
ceitos para o embasamento do sistema de remune- zam ambos os critérios ainda reservam papéis im-
ração. Entretanto, o que de fato mostrou-se caracte- portantes aos cargos. Assim, estruturam-se segundo
rístico do emprego de cada conceito, foi o público- o conceito de cargos amplos, cujos parâmetros sala-
alvo dos salários que estão sendo administrados. riais de mercado são obtidos através de uma pesqui-
Assim, os dois sistemas com predominância da sa salarial convencional, baseada no conceito de car-
utilização de habilidades voltam-se mais especifica- go, conforme mostra Hofrichter (1993).
mente para os salários de profissionais com ativida- Os sistemas totalmente referenciados em com-
des de natureza operacional e os dois sistemas que petências utilizam uma pesquisa salarial especialmen-
se utilizam exclusivamente do conceito de compe- te desenvolvida, que procura trazer salários de mer-
tências voltam-se para profissionais cujo trabalho en- cado para profissionais cujas atividades, ainda que
volve maior nível de abstração e complexidade. Os desenvolvidas dentro de estruturas geridas pelo cri-
demais sistemas utilizam-se de ambos os conceitos tério funcional, são compatíveis com níveis de com-
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AVALIANDO SISTEMAS DE REMUNERAÇÃO BASEADOS EM HABILIDADES E COMPETÊNCIAS: A VISÃO DOS PROFISSIONAIS DE GESTÃO DE PESSOAS

plexidade correspondentes aos níveis de complexi- aos entrevistados sempre enfatizou o aspecto da apli-
dade definidos para as suas estruturas baseadas em cabilidade de tais descrições por parte dos usuários,
competências. Essa forma de pesquisar, ainda que profissionais não especialistas em conceitos mais ela-
influenciada pela realidade das empresas informantes, borados de RH.
direciona a coleta dos dados segundo o referencial
de complexidade.
O que se evidencia é que não há, no grupo pesqui- 5. DISCUSSÃO
sado, um modelo único ao qual se possa denominar
de sistema de remuneração por competências, dado Os casos analisados permitiram conhecer alterna-
que o ponto que mostram em comum é a utilização, tivas utilizadas para a concepção dos SRHC’s, partin-
de modo variado, do conceito de competências. do-se da decisão singular de remunerar o indivíduo
Ficaram caracterizadas três formas pelas quais o e não o cargo.
grupo analisado organizou os seus sistemas de remu- Tais sistemas de remuneração apresentam-se como
neração: alternativas compatíveis com empresas ágeis, de admi-
nistração participativa, voltadas para alinhar os sis-
· Gestão salarial por competências, tomando
como base da remuneração os níveis de com-
temas de RH com os seus objetivos estratégicos. Os
modelos deverão ainda evoluir à medida que novas
plexidade e o desenvolvimento dos profissio- empresas os adotem. Entretanto, apesar das limita-
nais, conforme o modelo de terceira geração ções inerentes ao método de pesquisa que foi utili-
apresentado por Dutra (2001); zado, os dados obtidos e as experiências do processo
· Gestão através da utilização híbrida do conceito
de cargos e competências ou habilidades, na
de pesquisa junto às empresas permitem a reflexão
sobre alguns temas cuja investigação poderia ser
forma de cargos amplos, famílias de cargos ou aprofundada em futuras pesquisas. Assim sendo, são
broadbands, caracterizando os modelos de segun- aqui apresentadas algumas sugestões. Em primeiro
da geração propostos por Dutra (2001); lugar, recomenda-se o aprofundamento de investi-
· Gestão baseada no cargo, porém incorporando
habilidades ou competências entre os fatores
gações sobre a disponibilidade de métodos de pes-
quisa salarial apropriados para embasar os SRHC’s.
de pontuação. Dentre as empresas analisadas, apenas duas utilizam-
se de pesquisas salariais especificamente desenvolvi-
Com relação ao processo de seleção das habili- das a partir do conceito de competências. Em ambos
dades e competências que serão remuneradas pelos os casos as empresas não relataram o domínio da
Sistemas de Remuneração por Habilidades e Compe- tecnologia da pesquisa em questão, e as demais empre-
tências (SRHC´s), a literatura recomenda a maior sas utilizam-se de pesquisas tradicionais, adotando o
participação possível por parte dos funcionários, o conceito tradicional de cargo-chave. Uma segunda
que aumentaria o envolvimento e a aceitação do siste- possibilidade é realizar um estudo profundo sobre a
ma (DUTRA, 2001; LEDFORD JR., 1995; SCHUSTER; adequação dos SRHC’s à realidade da legislação tra-
ZINGHEIN, 1996). O que foi verificado na prática é balhista brasileira, já que todas as empresas que par-
que poucas vezes essa recomendação foi seguida, já ticiparam da pesquisa admitem alguma forma de
que foram constatados casos em que as competências conflito potencial entre o método que adotaram e o
foram selecionadas por especialistas e apresentadas princípio da isonomia salarial.
aos funcionários depois de validadas por um grupo A construção de indicadores que permitam medir
de gerentes. o desempenho dos SRHC´s é também um ponto não
Com relação à objetividade do uso das competên- resolvido. Uma sugestão para futuras pesquisas é a
cias, foi verificado que a maior parte das empresas determinação de indicadores e o desenvolvimento
optou por descrições diretamente relacionadas ao con- de métodos para tal finalidade. Cabe lembrar que a
ceito de “entrega”, vinculando-as aos procedimentos ausência de tais indicadores dificulta sobremaneira
e comportamentos esperados e procurando eliminar a avaliação quantitativa dos resultados dos sistemas
a menção a aspectos passíveis de interpretações diver- implantados.
gentes. Em síntese, as descrições, que propiciam a Uma sugestão final é a realização de pesquisa ampla
utilização nas avaliações, foram construídas muito mais visando a quantificação do número de empresas que
voltadas para o conceito de “entrega” do que para o adotam SRHC’s no Brasil e a taxa de crescimento de
conceito de “estoque”. A explicação encontrada junto tal adoção. Hipólito (2001) sugere hipóteses para o
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LUIZ ROBERTO CARDOSO

que entende como um crescimento lento dessa taxa. O foco da utilização dos SRHC´s estudados é o
A sugestão de pesquisa que aqui se delineia é a confir- salário básico. Os sistemas foram concebidos como
mação das hipóteses formuladas por Hipólito, acres- instrumentos de incentivo à aquisição e desenvolvi-
centando-se outras, tais como a dificuldade de con- mento de competências, o que ocorre de modo pro-
versão de estruturas concebidas segundo avaliações gressivo, ao longo da vida profissional, sendo o in-
de cargos em estruturas com foco nas competências cremento salarial compatível com a velocidade de
individuais (número de cargos, senioridade, deno- ganho e o próprio desenvolvimento dessas compe-
minações, etc) ou ainda a hipótese de que as empre- tências. Com relação à utilização de habilidades e
sas têm dirigido sua atenção mais para os resultados competências especificamente para o salário base,
de curto prazo, privilegiando, assim, no composto Hipólito (2001) fundamenta a prática na coerência
de remuneração, a remuneração variável e não a em relação à agregação de habilidades e competên-
determinação e o desenvolvimento do salário-base. cias que ocorre ao longo do tempo e é acumulativa,
sem reversão a estágios anteriores. A mesma lógica
sugere a utilização da remuneração variável para
6. CONCLUSÃO recompensar o desempenho, medido contra metas
e realizações, que podem ser atingidas ou não, con-
O objetivo principal da pesquisa foi investigar a figurando resultados diferentes no tempo.
presença, nos sistemas estudados, das vantagens do Da mesma forma, constatou-se a importância
emprego de sistemas de Remuneração por Habilida- extrema de um intenso trabalho de treinamento dos
des e competências previstas na literatura específica. participantes, como recomendam Schuster e
As vantagens reconhecidas pelas empresas con- Zinghein (1996) e Picarelli Filho e Wood Jr. (1997),
firmam as previsões da literatura, já relacionadas e de comunicação permanente quanto aos fundamen-
formuladas por Schuster e Zinghein (1996), Lawler III tos e procedimentos associados aos SRHC´s e da
(1990), Ledford Jr. (1995), Picarelli Filho e Wood Jr. participação ampla dos profissionais das diferentes
(1997) e Hipólito (2001). Ressalte-se que as constata- áreas funcionais na concepção e implantação dos
ções aqui realizadas não têm caráter de universali- sistemas. Em especial, a participação na determina-
dade, não podendo ser generalizadas. Ainda com ção das competências que constituirão base para os
relação às vantagens verificadas, pode-se constatar pagamentos e para os programas de desenvolvimen-
que aquelas mais claramente reconhecidas foram o to figura como um elemento de validação do siste-
alinhamento dos sistemas às estratégias organizacionais, ma e de envolvimento principalmente do corpo
o incentivo à qualificação e ao desenvolvimento das gerencial. Assim, a implantação dos SRHC deve con-
competências individuais, o aumento da autonomia siderar aspectos culturais das empresas, que devem
da atuação dos profissionais, como fruto de sua me- ser previamente avaliados e determinados, evitando-
lhor qualificação, e a maior visibilidade e integração se, por exemplo, a indicação de um modelo aberto
da área de RH com os demais setores da empresa. e participativo em uma empresa cuja cultura privile-
O exame dos dados obtidos nos casos analisados gie a centralização e a hierarquia rígida. Note-se que
propicia ainda outras constatações tais como o fato em várias das empresas analisadas, a adoção do SRHC
de que em geral as empresas que adotaram um SRHC deu-se precisamente com o propósito de estimular a
o fizeram como forma de apoiar transformações mudança.
organizacionais importantes, modernização de sis- Face aos resultados relatados pelas empresas e
temas de gestão ou mudanças no sentido de obter seu confronto com as características previstas na lite-
aumento de competitividade em ambientes intensa- ratura, é possível concluir que, uma vez consideradas
mente utilizadores de tecnologia e conhecimento. as características culturais das empresas e observados
Dessa forma, um Sistema de Remuneração por os cuidados recomendados pela literatura tanto na
Habilidades e Competências é entendido como ins- fase de concepção quanto nas fases de implantação
trumento de suporte e estímulo a estas transforma- e operação, os sistemas de remuneração baseados
ções e exerce um papel importante na consolidação em habilidades e competências apresentam-se como
de uma cultura participativa, o que foi também res- alternativa de valor aos sistemas funcionais tanto pelo
saltado nos trabalhos de Lawler III (1990), Ghorpade enfoque estratégico quanto pelo reconhecimento do
e Edge (1997), Picarelli Filho e Wood Jr. (1997) e esforço individual e incentivo ao crescimento das
Hipólito (2001). competências e habilidades dos profissionais.
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