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Gestão de Pessoas
Avaliando Sistemas de Remuneração e do Capital
Intelectual
Baseados em Habilidades e Competências:
a Visão dos Profissionais de Gestão de Pessoas
Luiz Roberto Cardoso
Mestre em Administração pela FEA-USP [lrobertocardoso@terra.com.br]
Brisolla (1994) já se referia à necessidade de apro- (PICARELLI FILHO; WOOD JR, 1996), por várias
fundar estudos sobre os planos de skill-based pay por razões, tornou-se, no contexto do novo cenário empre-
representarem inovação na forma de remuneração. sarial, alvo de muitas críticas, uma vez que acaba por
Por outro lado, no final da década de 90 e início da promover um estilo burocrático de gestão, reduzir a
nova, importante parcela de grandes empresas, no amplitude de ação de indivíduos e grupos, inibir a
Brasil e no exterior, lançaram mão dessa filosofia de criatividade e o espírito empreendedor, colocar o
remuneração na busca de aperfeiçoamento em seus foco mais nos clientes internos do que nos externos,
modelos de gestão. Comprovam essas adoções estu- nos procedimentos e não nos resultados, não apre-
dos como os de Lawler III, Mohrman e Ledford, apud sentar orientação estratégica e, principalmente, não
Picarelli Filho e Wood (1997) e Jenkins Jr et al. (1992), encorajar a aquisição e o desenvolvimento de novas
como também estudos de Coda (1999), Fischer (1998) habilidades e conhecimentos.
e de empresas de consultoria de atuação nacional Lawler III (1990) também apresenta outras críticas
e internacional como WMMercer (2000) e Andersen à remuneração de base funcional, a saber: desper-
Consulting (2001). sonaliza a orientação de valor como tais sistemas
Dessa forma, o objetivo deste artigo é aprofundar atribuem valor ao que a pessoa faz, tomando como
o conhecimento sobre sistemas de remuneração basea- base o seu cargo, a consideração das habilidades e
dos em habilidades e competências implantados em conhecimentos do indivíduo fica em plano secun-
empresas brasileiras, confrontando-os com os fun- dário -; desencoraja a mudança organizacional; au-
damentos apresentados na literatura pertinente e menta os custos com a administração salarial os
investigando-se a efetividade dos seus resultados. sistemas de avaliação de cargos, para manterem sua
atualidade em tempos de intensa e acelerada mu-
dança exigem revisões cada vez mais freqüentes das
2. TEORIA E QUESTÕES DE PESQUISA descrições de cargos, o que é custoso.
neração são as habilidades certificadas, a senioridade habilidades dos profissionais com os conseqüentes
tem papel secundário e o esforço de desenvolvimento reflexos salariais e a demanda também crescente por
individual tem como contrapartida a evolução salarial. treinamento que sempre significa maiores investi-
A certificação é a forma de qualificar o profissional mentos na gestão de pessoas. A Remuneração por
quanto ao domínio das habilidades adquiridas. Habilidades parece não ser também indicada para
Ghorpade e Edge (1997) relacionam os três elemen- todas as empresas, mas principalmente para empre-
tos necessários à elaboração de um plano de sas que trabalham com poucos níveis hierárquicos
certificação: ou que se utilizam de equipes autogerenciadas, ba-
seadas na gestão participativa. (PICARELLI FILHO;
· certificadores: podem ser profissionais da em-
presa ou externos a ela;
WOOD JR, 1996). Jenkins Jr. (1992), Ledford (1995),
Gupta et. al. (1992), ao pesquisarem as razões pelas
· níveis exigidos de proficiência das habilidades; quais empresas americanas acabaram por abandonar
· demonstraratravés
métodos dos quais os empregados podem
a proficiência das habilidades; usual-
sistemas de Remuneração por Habilidades, relatam
como dificuldades responsáveis pelo insucesso a falta
mente o treinamento on-the-job permite aos de comprometimento dos dirigentes com o geren-
supervisores e pares a observação do domínio ciamento do sistema; a falta de empenho na solução
da habilidade pelo treinando e é um bom ins- de problemas surgidos quando da implantação; defi-
trumento para apoiar a certificação. São tam- ciências nos projetos dos sistemas, com impacto no
bém utilizados testes, embora se ressalte que aumento dos custos salariais e sem a contrapartida de
são mais caros para ser desenvolvidos e exigem benefícios para a empresa; oferta insuficiente de treina-
cuidados específicos para sua aplicação. mento; falta de controle nas concessões de aumentos
salariais, sem a prévia avaliação ou certificação dos
O problema da valorização das habilidades é um profissionais; e, finalmente, treinamento insuficiente
ponto crítico, uma vez que, não havendo possibili- para os supervisores, no que se refere aos fundamentos
dade de comparar os valores pagos diretamente com e à utilização do sistema.
o mercado, já que as habilidades são pagas em formas
e combinações diferentes pelas empresas, torna-se
2.2.2.A Remuneração por Competências
necessário estabelecer procedimentos que permitam
sua avaliação. Os sistemas de remuneração que tomam como
Um outro aspecto a ressaltar é a obtenção e a manu- base um conjunto de competências de domínio do
tenção do equilíbrio externo, o que usualmente é indivíduo e de como ele as aplica na realização de
apoiado na realização de pesquisas salariais. Diferente- suas tarefas são denominados sistemas de Remune-
mente dos modelos funcionais, em que a pontuação ração por Competências. O conceito de competên-
dos cargos é feita a partir das atividades desenvolvi- cias é ainda objeto de divergências quanto à sua de-
das, da responsabilidade, da amplitude de comando finição, podendo ser caracterizado ainda como um
e da formação exigida, a comparação com o merca- conceito em desenvolvimento. Este artigo utiliza
do exige considerar que os salários são o resultado como definição operacional aquela proposta por
de uma combinação de habilidades dos profissionais. Fleury e Fleury (2000): ..um saber agir responsável
Assim, segundo Picarelli Filho e Wood Jr. (1996), é e reconhecido, que implica mobilizar, integrar, trans-
necessário agrupar habilidades para que se possa ferir conhecimentos, recursos, habilidades, que agre-
realizar uma comparação com cargos que constem da guem valor econômico à organização e valor social
pesquisa de mercado. A Remuneração por Habilida- ao indivíduo. Tem por objetivo expandir as vanta-
des apresenta como sua principal vantagem favore- gens de remunerar o indivíduo para aquelas situa-
cer o aprendizado de habilidades importantes diante ções em que a Remuneração por Habilidades apre-
de avanços tecnológicos rápidos e que em grande senta limitações, como as atividades pouco padroni-
parte dos casos envolvem um aumento da complexi- zadas e com maior grau de abstração, como as
dade da própria função exercida na empresa pelo gerenciais, técnicas de nível superior ou administra-
ocupante do cargo (SCHUSTER; ZINGHEIN, 1996). tivas. São diversas as formas pelas quais os sistemas
Em termos de críticas, a literatura aponta o constan- de Remuneração por Competências podem ser
te aumento dos gastos com a folha de pagamento, estruturados, sendo seus principais componentes
uma vez que a tendência é o aumento progressivo das identificados e comentados a seguir.
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a flexibilidade na atuação dos profissionais. Segundo os instrumentos de medição sejam devidamente tes-
Wilson (1994), as empresas recorrem a esse tipo de tados quanto à sua validade.
remuneração quando o conjunto de competências
de seus profissionais não atende às demandas emer-
gentes e ameaça sua competitividade. É esperada 3. METODOLOGIA DA PESQUISA
também, como resultado do aumento da flexibilida-
de do efetivo, uma redução de custos com pessoal. A pesquisa que fundamenta este artigo tem carac-
Hipólito (2001) aponta ainda diversas vantagens dos terísticas descritivas e explicativas. A caracterização da
sistemas de Remuneração por Competências, obser- pesquisa como fundamentalmente descritiva encon-
vadas em algumas organizações, sendo as principais, tra abrigo nas definições proporcionadas por Martins
a clareza quanto aos diversos níveis de trabalho exis- (1994), que define a pesquisa descritiva como a que
tentes na organização e no que é esperado dos pro- tem como objetivo a descrição das características de
fissionais; o respeito às particularidades, necessida- determinado fenômeno, bem como o estabelecimen-
des, à cultura e aos valores da empresa; a integração to de relações entre variáveis e fatos. Essas questões
das ações relativas à gestão de pessoas; a avaliação indicam a utilização do método de estudo de caso, o
do valor agregado pelos profissionais; o aumento da qual, conforme lembra Yin (2001), apresenta uma van-
capacidade da empresa de reter competências estra- tagem distinta quando faz-se uma questão do tipo
tégicas; a descentralização da gestão salarial, sem que como ou por que sobre um conjunto contemporâ-
se perca a coerência da gestão de salários em seu neo de acontecimentos sobre o qual o pesquisador
todo; e, finalmente, o compromisso da organização tem pouco ou nenhum controle.
com o sistema, fruto do envolvimento do corpo Neste estudo, foi feita uma opção por casos múl-
gerencial em sua construção. tiplos, justificada por haver na literatura pertinente
Quanto às críticas em relação a esses sistemas, menções a diferentes formas de aplicação dos con-
Wilson (1994) entende que, em geral, as desvantagens ceitos de habilidade e competências aos sistemas de
verificadas são derivadas da forma pela qual o siste- remuneração, o que potencialmente encerrava a
ma é projetado. Uma das desvantagens associada ao possibilidade de encontrar-se diferentes sistemas em
projeto é a frustração das expectativas de redução utilização. Note-se que a opção por casos múltiplos,
de custos decorrentes do aumento da flexibilidade seguindo a lógica da replicação proposta por Yin,
do efetivo, o que ocorre quando os ganhos de produ- proporciona a tipificação de diferentes práticas, a
tividade se verificam em tempo mais prolongado do partir da definição de um caso inicial.
que o aumento do custo com os salários, que passa a Foram então escolhidas as sete empresas compo-
ocorrer quase que imediatamente à implantação do nentes do grupo, segundo critério de conveniência,
novo sistema. Uma segunda desvantagem é que esses a partir do conhecimento prévio de empresas de
sistemas requerem aumento dos investimentos em notória reputação e que empregam sistemas de remu-
treinamento e a criação de oportunidades para empre- neração de interesse para o tema da pesquisa, bem
go das competências adquiridas. Outra forte crítica à como foram utilizadas indicações de professores da
utilização de competências como base para sistemas FEA/USP ou profissionais da área de consultoria em
de remuneração foi feita por Lawler III (1999). Segun- Recursos Humanos.
do ele, muitos dos sistemas de remuneração por com- A pesquisa foi realizada em sete empresas, durante
petências falham porque não conseguem converter os anos de 2003 e 2004, e os dados foram coletados
as competências em características mensuráveis, que através de entrevistas. As entrevistas foram de natu-
permitam a determinação de valores salariais válidos e reza semi-estruturada, tendo sido elaborado um
confiáveis. Esse autor critica a adoção de competên- Roteiro de Entrevista, que foi utilizado para manter
cias genéricas, como as apresentadas por Spencer e uma linha de investigação.
Spencer (1993), em razão de não permitirem o gan- A aplicação do Roteiro de Entrevistas procurou,
ho de vantagem competitiva, já que o emprego de todavia, preservar a liberdade dos entrevistados
competências genéricas nivelaria seus usuários, reti- de discorrerem sobre os temas em questão, sem res-
rando do instrumento o poder de diferenciação. trições, o que permitiu a exploração de aspectos
Defende, portanto, a utilização de competências para não considerados no formato inicial. Complemen-
planejamento da mobilidade do efetivo, seleção de tarmente, foram coletadas informações através de
pessoal e treinamento e ressalta a necessidade de que diferentes fontes mantidas pelas empresas, como
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9$17$*(16?(035(6$6 $ % ' ( ) *
Es tímulo ao des envolvimento de habilidades e competências
individuais ***** ***** ***** ***** ***** *****
M elhoria na qualificação do efetivo ***** ***** ***** *****
M elhoria na qualidade do trabalho produzido ***** ***** ***** *****
M aior interação dos s ub-s is temas de RH ***** ***** ***** *****
A umento da flexibilidade de atuação dos profis sionais ***** ***** ***** *****
A umento da autonomia operacional dos funcionários ***** ***** *****
Facilidade de preenchimento de novas pos ições com profis sionais
do efetivo exis tente ***** ***** *****
Definição clara e racional dos critérios de fixação de s alários e
reajustes ***** ***** *****
A umento na produtividade do efetivo ***** *****
Incentivo ao aprendizado organizacional ***** *****
Redução do número de funções específicas / fus ão de funções ***** *****
M aior envolvimento dos profis s ionais com os objetivos da
Organização ***** *****
Redução do turn-over (espontâneo) ***** *****
Ganho de vis ão s is têmica pelos profis sionais ***** *****
Incentivo ao auto-des envolvimento, com participação dos
funcionários em atividades de des envolvimento por s ua própria ***** *****
iniciativa
Retenção dos profis s ionais ess enciais para a Organização ***** *****
M aior flexibilidade para ajus tar os s alários ao mercado, inclus ive
nas admis s ões ***** *****
Clara definição das pos s ibilidades de carreira para os profis s ionais
***** *****
M aior adaptabilidade do efetivo às mudanças organizacionais *****
Redução de "gargalos " na produção / execução de s erviços *****
M elhoria do desempenho individual *****
Des vinculação entre s alário e s enioridade ou tempo de casa *****
Conhecimento claro, pela empresa, das habilidades e
competências do efetivo *****
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AVALIANDO SISTEMAS DE REMUNERAÇÃO BASEADOS EM HABILIDADES E COMPETÊNCIAS: A VISÃO DOS PROFISSIONAIS DE GESTÃO DE PESSOAS
no qual não constam dados da Empresa C, que ainda vações de Jenkins Jr et al. (1992) e proporcionou,
não reconhece resultados, demonstramos as catego- no grupo de empresas analisadas, a classificação das
rias que foram objeto de citações espontâneas quando dificuldades encontradas em duas categorias, sendo
das respostas. a primeira relativa a fatores culturais e a segunda, a
A pesquisa das dificuldades para a definição, implan- deficiências ou falhas na própria concepção dos sis-
tação e operação dos sistemas confirmou as obser- temas, conforme demonstram os quadros a seguir.
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Falta de comprometimento de gestores, alheamento em relação ao sistema, alegação de falta de tempo para dedicar-se à
implantação do sistema ou não utilização do mesmo.
Apego ao referencial de cargos e à titulação e não à apresentação de resultados.
Ceticismo em relação às inovações de propostas pela área de RH, em razão de experiências anteriores mal sucedidas.
Tentativa de valorizar desproporcionalmente algumas habilidades, como forma de fazer prevalecer o interesse de um grupo
específico.
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Insuficiência de recursos para a administração do mapeamento das competências individuais e avaliações, como sistemas
informatizados específicos.
Ausência de previsão de tratamento de casos específicos, como a valorização excepcional de alguns cargos pelo mercado.
Formação de famílias de cargos englobando número excessivo de cargos, não reconhecendo a existência de carreiras
diferentes.
Divulgação preciptada ou incorreta de informações sobre o sistema em sua fase de concepção, gerando-se expectativas não
atendidas posteriormente.
Adoção de competências definidas de modo vago ou sem um instrumento que permita a aferição dos níveis de
complexidade correspondentes.
Insuficiência de treinamento aos gestores e profissionais na fase de impantação do sistema.
A maioria das empresas declara que os objetivos afirmar que os objetivos traçados foram alcançados
que traçaram quando da implantação dos seus siste- ou estão próximos de serem alcançados, uma vez que
mas foram totalmente atingidos. Um grupo menor são conhecidas as deficiências e suas soluções.
reconhece que os objetivos foram parcialmente atin- O quadro a seguir demonstra os principais objeti-
gidos, restando ainda implementar ações ou redefinir vos buscados pelas empresas estudadas com a implan-
alguns pontos importantes para que os sistemas possam tação de seus sistemas de remuneração por Habili-
atingir os seus objetivos. De um modo geral, pode-se dades ou Competências.
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Alinhamento do sistema de remuneração aos objetivos estratégicos da empresa.
Incentivo ao desenvolvimento das competências individuais alinhadas à estratégia da empresa.
Definir perspectivas de carreira e critérios de recompensa para os profissionais da empresa.
Criação de uma estrutura salarial eficiente, com critérios claros e conhecidos pelos profissionais.
Acrescentar flexibilidade à atuação dos profissionais.
Desvincular o progresso na carreira da senioridade e do tempo de empresa.
Remuneração adequada e retenção de profissionais importantes para a empresa
Melhorar a capacidade de adaptação às mudanças organizacionais.
Melhorar o ambiente interno da empresa.
Obter melhores referenciais de comparação com o mercado (volatilidade dos cargos).
O estudo procurou também avaliar as perspecti- nuar com a sua utilização, não apenas nas unidades
vas de continuidade dos sistemas implantados e os nas quais estavam sendo utilizados, mas também rela-
aperfeiçoamentos julgados necessários para que essa taram o propósito de ampliar a sua utilização, adotan-
continuidade fosse realizada com sucesso. Em geral, do-os em outras unidades. O quadro a seguir revela as
as empresas declararam satisfação com o desempe- necessidades de aperfeiçoamento identificadas pelos
nho dos sistemas e informaram a pretensão de conti- entrevistados das diferentes empresas consultadas.
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Melhorar o sistema de treinamento e desenvolvimento através de cursos de auto-desenvolvimento
Retreinamento dos gestores funcionais na operação do sistema e reforçar o entendimento dos seus papéis
Proporcionar aos profissionais o acesso informatizado ao sistema
Regularizar a periodicidade das avaliações
Intensificar a comunicação e divulgação do sistema para os profissionais
plexidade correspondentes aos níveis de complexi- aos entrevistados sempre enfatizou o aspecto da apli-
dade definidos para as suas estruturas baseadas em cabilidade de tais descrições por parte dos usuários,
competências. Essa forma de pesquisar, ainda que profissionais não especialistas em conceitos mais ela-
influenciada pela realidade das empresas informantes, borados de RH.
direciona a coleta dos dados segundo o referencial
de complexidade.
O que se evidencia é que não há, no grupo pesqui- 5. DISCUSSÃO
sado, um modelo único ao qual se possa denominar
de sistema de remuneração por competências, dado Os casos analisados permitiram conhecer alterna-
que o ponto que mostram em comum é a utilização, tivas utilizadas para a concepção dos SRHCs, partin-
de modo variado, do conceito de competências. do-se da decisão singular de remunerar o indivíduo
Ficaram caracterizadas três formas pelas quais o e não o cargo.
grupo analisado organizou os seus sistemas de remu- Tais sistemas de remuneração apresentam-se como
neração: alternativas compatíveis com empresas ágeis, de admi-
nistração participativa, voltadas para alinhar os sis-
· Gestão salarial por competências, tomando
como base da remuneração os níveis de com-
temas de RH com os seus objetivos estratégicos. Os
modelos deverão ainda evoluir à medida que novas
plexidade e o desenvolvimento dos profissio- empresas os adotem. Entretanto, apesar das limita-
nais, conforme o modelo de terceira geração ções inerentes ao método de pesquisa que foi utili-
apresentado por Dutra (2001); zado, os dados obtidos e as experiências do processo
· Gestão através da utilização híbrida do conceito
de cargos e competências ou habilidades, na
de pesquisa junto às empresas permitem a reflexão
sobre alguns temas cuja investigação poderia ser
forma de cargos amplos, famílias de cargos ou aprofundada em futuras pesquisas. Assim sendo, são
broadbands, caracterizando os modelos de segun- aqui apresentadas algumas sugestões. Em primeiro
da geração propostos por Dutra (2001); lugar, recomenda-se o aprofundamento de investi-
· Gestão baseada no cargo, porém incorporando
habilidades ou competências entre os fatores
gações sobre a disponibilidade de métodos de pes-
quisa salarial apropriados para embasar os SRHCs.
de pontuação. Dentre as empresas analisadas, apenas duas utilizam-
se de pesquisas salariais especificamente desenvolvi-
Com relação ao processo de seleção das habili- das a partir do conceito de competências. Em ambos
dades e competências que serão remuneradas pelos os casos as empresas não relataram o domínio da
Sistemas de Remuneração por Habilidades e Compe- tecnologia da pesquisa em questão, e as demais empre-
tências (SRHC´s), a literatura recomenda a maior sas utilizam-se de pesquisas tradicionais, adotando o
participação possível por parte dos funcionários, o conceito tradicional de cargo-chave. Uma segunda
que aumentaria o envolvimento e a aceitação do siste- possibilidade é realizar um estudo profundo sobre a
ma (DUTRA, 2001; LEDFORD JR., 1995; SCHUSTER; adequação dos SRHCs à realidade da legislação tra-
ZINGHEIN, 1996). O que foi verificado na prática é balhista brasileira, já que todas as empresas que par-
que poucas vezes essa recomendação foi seguida, já ticiparam da pesquisa admitem alguma forma de
que foram constatados casos em que as competências conflito potencial entre o método que adotaram e o
foram selecionadas por especialistas e apresentadas princípio da isonomia salarial.
aos funcionários depois de validadas por um grupo A construção de indicadores que permitam medir
de gerentes. o desempenho dos SRHC´s é também um ponto não
Com relação à objetividade do uso das competên- resolvido. Uma sugestão para futuras pesquisas é a
cias, foi verificado que a maior parte das empresas determinação de indicadores e o desenvolvimento
optou por descrições diretamente relacionadas ao con- de métodos para tal finalidade. Cabe lembrar que a
ceito de entrega, vinculando-as aos procedimentos ausência de tais indicadores dificulta sobremaneira
e comportamentos esperados e procurando eliminar a avaliação quantitativa dos resultados dos sistemas
a menção a aspectos passíveis de interpretações diver- implantados.
gentes. Em síntese, as descrições, que propiciam a Uma sugestão final é a realização de pesquisa ampla
utilização nas avaliações, foram construídas muito mais visando a quantificação do número de empresas que
voltadas para o conceito de entrega do que para o adotam SRHCs no Brasil e a taxa de crescimento de
conceito de estoque. A explicação encontrada junto tal adoção. Hipólito (2001) sugere hipóteses para o
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que entende como um crescimento lento dessa taxa. O foco da utilização dos SRHC´s estudados é o
A sugestão de pesquisa que aqui se delineia é a confir- salário básico. Os sistemas foram concebidos como
mação das hipóteses formuladas por Hipólito, acres- instrumentos de incentivo à aquisição e desenvolvi-
centando-se outras, tais como a dificuldade de con- mento de competências, o que ocorre de modo pro-
versão de estruturas concebidas segundo avaliações gressivo, ao longo da vida profissional, sendo o in-
de cargos em estruturas com foco nas competências cremento salarial compatível com a velocidade de
individuais (número de cargos, senioridade, deno- ganho e o próprio desenvolvimento dessas compe-
minações, etc) ou ainda a hipótese de que as empre- tências. Com relação à utilização de habilidades e
sas têm dirigido sua atenção mais para os resultados competências especificamente para o salário base,
de curto prazo, privilegiando, assim, no composto Hipólito (2001) fundamenta a prática na coerência
de remuneração, a remuneração variável e não a em relação à agregação de habilidades e competên-
determinação e o desenvolvimento do salário-base. cias que ocorre ao longo do tempo e é acumulativa,
sem reversão a estágios anteriores. A mesma lógica
sugere a utilização da remuneração variável para
6. CONCLUSÃO recompensar o desempenho, medido contra metas
e realizações, que podem ser atingidas ou não, con-
O objetivo principal da pesquisa foi investigar a figurando resultados diferentes no tempo.
presença, nos sistemas estudados, das vantagens do Da mesma forma, constatou-se a importância
emprego de sistemas de Remuneração por Habilida- extrema de um intenso trabalho de treinamento dos
des e competências previstas na literatura específica. participantes, como recomendam Schuster e
As vantagens reconhecidas pelas empresas con- Zinghein (1996) e Picarelli Filho e Wood Jr. (1997),
firmam as previsões da literatura, já relacionadas e de comunicação permanente quanto aos fundamen-
formuladas por Schuster e Zinghein (1996), Lawler III tos e procedimentos associados aos SRHC´s e da
(1990), Ledford Jr. (1995), Picarelli Filho e Wood Jr. participação ampla dos profissionais das diferentes
(1997) e Hipólito (2001). Ressalte-se que as constata- áreas funcionais na concepção e implantação dos
ções aqui realizadas não têm caráter de universali- sistemas. Em especial, a participação na determina-
dade, não podendo ser generalizadas. Ainda com ção das competências que constituirão base para os
relação às vantagens verificadas, pode-se constatar pagamentos e para os programas de desenvolvimen-
que aquelas mais claramente reconhecidas foram o to figura como um elemento de validação do siste-
alinhamento dos sistemas às estratégias organizacionais, ma e de envolvimento principalmente do corpo
o incentivo à qualificação e ao desenvolvimento das gerencial. Assim, a implantação dos SRHC deve con-
competências individuais, o aumento da autonomia siderar aspectos culturais das empresas, que devem
da atuação dos profissionais, como fruto de sua me- ser previamente avaliados e determinados, evitando-
lhor qualificação, e a maior visibilidade e integração se, por exemplo, a indicação de um modelo aberto
da área de RH com os demais setores da empresa. e participativo em uma empresa cuja cultura privile-
O exame dos dados obtidos nos casos analisados gie a centralização e a hierarquia rígida. Note-se que
propicia ainda outras constatações tais como o fato em várias das empresas analisadas, a adoção do SRHC
de que em geral as empresas que adotaram um SRHC deu-se precisamente com o propósito de estimular a
o fizeram como forma de apoiar transformações mudança.
organizacionais importantes, modernização de sis- Face aos resultados relatados pelas empresas e
temas de gestão ou mudanças no sentido de obter seu confronto com as características previstas na lite-
aumento de competitividade em ambientes intensa- ratura, é possível concluir que, uma vez consideradas
mente utilizadores de tecnologia e conhecimento. as características culturais das empresas e observados
Dessa forma, um Sistema de Remuneração por os cuidados recomendados pela literatura tanto na
Habilidades e Competências é entendido como ins- fase de concepção quanto nas fases de implantação
trumento de suporte e estímulo a estas transforma- e operação, os sistemas de remuneração baseados
ções e exerce um papel importante na consolidação em habilidades e competências apresentam-se como
de uma cultura participativa, o que foi também res- alternativa de valor aos sistemas funcionais tanto pelo
saltado nos trabalhos de Lawler III (1990), Ghorpade enfoque estratégico quanto pelo reconhecimento do
e Edge (1997), Picarelli Filho e Wood Jr. (1997) e esforço individual e incentivo ao crescimento das
Hipólito (2001). competências e habilidades dos profissionais.
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AVALIANDO SISTEMAS DE REMUNERAÇÃO BASEADOS EM HABILIDADES E COMPETÊNCIAS: A VISÃO DOS PROFISSIONAIS DE GESTÃO DE PESSOAS
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