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Note-se ainda que nenhuma das línguas autóctones com as quais o português competia podia
reivindicar uma esmagadora maioria de falantes proporcionalmente distribuídos por todo o
território nacional, pelo que a selecção de uma delas poderia minar o projecto da unidade nacional.
Com efeito, a oficialização do português está ligada ao desenvolvimento de um quadro ideológico
que associava o português à promoção da unidade nacional e à criação de uma consciência
nacional. As primeiras indicações do desenvolvimento de um tal quadro ideológico foram dadas
durante a luta armada anticolonial para a libertação de Moçambique, quando o movimento
nacionalista FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique) decidiu adoptar a língua
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portuguesa com a finalidade de preservar a unidade entre os moçambicanos de diferentes origens
envolvidos na sublevação. Esta decisão politicamente estratégica assinalou a primeira apropriação
do português e a consequente expurgação das suas conotações coloniais, pois esta língua, que era
antes vista pelos moçambicanos como língua colonial, estava agora a servir propósitos
anticoloniais. Assim, para compreender a escolha do português em Moçambique é importante
perceber que, ao mesmo tempo que o português era ideologicamente um instrumento colonial,
surgia, no seio do movimento nacionalista, uma ideologia linguística oposta que conferia à mesma
língua um novo significado simbólico. Por outras palavras, o português estava, de facto, a ser
concebido como um instrumento da luta anticolonial.
Texto adaptado de: FIRMINO, Gregório. (2005). A “questão linguística” na África pós-
colonial: o caso do Português e das línguas autóctones em Moçambique. Maputo: Texto
Editores. pp. 8-9