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RECURSOS EM ESPÉCIE

NO CÓDIGO DE
PROCESSO CIVIL
ESTUDOS AVANÇADOS SOBRE O
SISTEMA RECURSAL CIVIL BRASILEIRO
BRUNO AUGUSTO SAMPAIO FUGA
Advogado e Professor. Doutorando em Processo Civil pela PUC/SP. Mestre em Direito
pela UEL (na linha de Processo Civil). Pós-Graduado em Processo Civil (IDCC). Pós-
Graduado em Filosofia Política e Jurídica (UEL). Membro da academia londrinense
de letras. Membro ABDPro, IBDP e IDPA. Foi presidente fundador da Comissão de
Processo Civil da OAB de Londrina (atualmente é membro). Conselheiro OAB Londrina.
E-mail: brunofuga@brunofuga.adv.br

THIAGO CAVERSAN ANTUNES


Doutorando em Direito pela Universidade de Marília (UNIMAR). Mestre em Direito
Negocial pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). Especialista em Direito Civil
e Processo Civil (UEL). Professor dos cursos de graduação em Direito da Universidade
Norte do Paraná (UNOPAR) e da Universidade Positivo (UP Londrina), e de diversos
cursos de pós-graduação lato sensu. Membro da Associação Brasileira de Direito
Processual (ABDPro) e da Associação Brasileira de Direito e Economia (ABDE). Autor
de livros e artigos científicos. Atua como advogado. E-mail: thiago@caversan.adv.br

RECURSOS EM ESPÉCIE NO
CÓDIGO DE PROCESSO
CIVIL
ESTUDOS AVANÇADOS SOBRE O
SISTEMA RECURSAL CIVIL BRASILEIRO

2ª Edição
Londrina/PR
2019
© Direitos de Publicação Editora Thoth. Londrina/PR.
www.editorathoth.com.br
contato@editorathoth.com.br
Diagramação e Capa: Editora Thoth e Nabil Slaibi
Revisão: os autores. Editor chefe: Bruno Fuga
Coordenador de Produção Editorial: Thiago Caversan Antunes

Conselho Editorial
Prof. Me. Bruno Augusto Sampaio Fuga Prof. Dr. Flávio Tartuce
Prof. Me. Thiago Caversan Antunes Prof. Dr. Zulmar Fachin
Prof. Dr. Clodomiro José Bannwart Junior Prof. Dr. Celso Leopoldo Pagnan
Prof. Me. Thiago Moreira de Souza Sabião Prof. Dr. Fábio Fernandes Neves Benfatti
Prof. Me. Tiago Brene Oliveira Prof. Dr. Elve Miguel Cenci
Prof. Dr. Zulmar Fachin Prof. Dr. Bianco Zalmora Garcia
Prof. Me. Anderson de Azevedo Esp. Rafaela Ghacham Desiderato
Prof. Me. Ivan Martins Tristão Profª. Dr. Rita de Cássia R. Tarifa Espolador
Prof. Dr. Osmar Vieira da Silva Prof. Me. Daniel Colnago Rodrigues
Profª. Dr. Deise Marcelino da Silva Prof. Dr. Fábio Ricardo R. Brasilino
Prof. Me. Erli Henrique Garcia Me. Aniele Pissinati
Prof. Me. Smith Robert Barreni Prof. Dr. Gonçalo De Mello Bandeira (Port.)
Profª. Dra. Marcia Cristina Xavier de Souza Prof. Me. Arhtur Bezerra de Souza Junior
Prof. Dr. Thiago Ribeiro de Carvalho Prof. Me. Henrico Cesar Tamiozzo
Prof. Dr. Carlos Alexandre Moraes

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

F957r Fuga, Bruno Augusto Sampaio


Recursos em espécie no Código de Processo Civil: estudos avançados sobre o sistema recursal
civil brasileiro/ Bruno Augusto Sampaio Fuga, Thiago Caversan Antunes. 2.ª edição, revisada,
ampliada, – Londrina, PR: Thoth, 2019.
164 p.
[fechamento edição nov. 2018]
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-94116-42-0
1. Processo civil – Brasil . 2. Prova (Direito). I. Antunes, Thiago Caversan. II. Título.
CDD 347.06
CDU 347.9(81)
Ficha Catalográfica elaborada pela bibliotecária Rafaela Ghacham Desiderato
CRB 14/1437
Índices para catálogo sistemático
1. Processo Civil : Direito probatório : 347.06

Proibida a reprodução parcial ou total desta obra sem autorização.


Todos os direitos desta edição reservardos pela Editora Thoth. A Editora Thoth não se
responsabiliza pelas opiniões emitidas nesta obra por seu autor.
Justamente quando desejo
apaixonadamente esclarecer e
dominar tanto quanto possível
um mistério que me seduziu é
que posso, com satisfação, passar
meses fazendo o trabalho árido e
minucioso para começar a conhecer
melhor ou conseguir fazer algo de
que eu era até então incapaz

Luc Ferry
Ao João Caverzan, com admiração e carinho sinceros, não
apenas por ter se notabilizado no exercício da função de
legislador municipal, com dedicação e seriedade, tendo,
assim, contribuído também para o desenvolvimento das
instituições jurídicas de seu povo; ou por ter sido um
agricultor apaixonado pela terra e pelos frutos com que
ela corresponde ao trabalho do homem; mas também
e principalmente por ser o avô atencioso e afável que
proporcionou algumas das melhores memórias que carrego
de minha infância. Thiago Caversan Antunes.

Aos peixes, por terem me proporcionado bons momentos


na dedicação de tentar pescá-los; e, quando digo aos
peixes, agradeço por terem me proporcionado, na
verdade, momentos com Hamilton Oliveira e Fernando
Fuga, respectivamente meu padrinho e meu avô que já
se foram. Se não fossem os peixes, por certo eu também
teria boas memórias deles, por terem sido grandes pessoas,
principalmente comigo. Mas como essas memórias boas
são mais frequentes quando os homens da minha família
se reuniam para pescar, então dedico aos peixes e ao meu
pai, muito presente, e sempre meu chamou para juntos
estarmos. Bruno Fuga
PREFÁCIO

O novo Código de Processo Civil sob a égide da democracia

Prefaciar a obra Recursos em Espécie no Código de Processo Civil: Estudos


avançados sobre o sistema recursal civil brasileiro, de Bruno Augusto Sampaio Fuga
e Thiago Caversan Antunes, constitui motivo de alegria e, igualmente, de
grande satisfação. Não há como se furtar, contudo, da responsabilidade que o
convite, por mais amigável que seja, impõe a quem recebe o desafio de tecer
considerações a respeito da obra, que o leitor e a leitora, na sequência, serão
agraciados tanto pelo conteúdo quanto pelo estilo da escrita.
Na obra Conceito e Validade do Direito, Robert Alexy chama atenção para
o fato de que os casos incomuns costumam levantar uma carga conceitual,
muitas vezes adormecida e camuflada atrás de toda prática jurídica. São
nessas situações que vêm à luz os problemas prementes que demandam uma
reflexão mais detida e apurada acerca da base teórica que o direito opera.
O novo Código de Processo Civil – NCPC (Lei 13.105/15), além de
figurar como importante tema do debate jurídico atual, impõe o desafio de
refletir os pressupostos teóricos que alinhavam a sua forma sistemática aliada
à correlata aplicabilidade ao contexto empírico.
O tema dos Recursos, objeto específico do presente livro, possui
singular relevância ao transcender a área de Processo Civil, uma vez que os seus
princípios balizares – ampla defesa, contraditório e duplo grau de jurisdição
– se fixam com força constitucional e refletem a dinâmica democrática
do Estado de Direito. O NCPC carrega uma feitura mais condizente aos
pressupostos democráticos, considerando que os dois anteriores Códigos de
Processo Civil brasileiro foram redigidos em contextos políticos autoritários,
respectivamente, no Estado Novo, em 1939; e no Regime Militar, em 1973. As
normas fundamentais do NCPC traduzem o caráter democrático que enseja a
dinâmica dos ritos processuais, prestigiando os princípios da publicidade, da
cooperação, da participação, da razoabilidade, e, sobretudo, de uma possível
solução consensual dos conflitos.
Em outra obra de Robert Alexy, Conceito e Natureza do Direito, ele diz
que “a vida cotidiana do direito é cheia de casos difíceis que não podem ser
decididos simplesmente com base no que foi autoritariamente expedido”.
É a demonstração de que as normas são insuficientes para abarcarem a
completude dos casos concretos, gerando situações em que sempre haverá
de-cisões (ações cindidas) passíveis de reexame, as quais exigirão do julgador
razões quanto ao seu fundamento.
No Brasil, vem de longe a descrença no legislador e o receio cultuado
em relação ao aplicador da lei. Rui Barbosa, em Oração aos Moços, em 1920,
já propalava esse ceticismo, quase que em tom profético, que a história
infelizmente confirmaria. “É verdade – dizia ele – que a execução corrige
ou atenua, muitas vezes, a legislação de má nota. Mas, no Brasil, a lei se
deslegitima, anula e torna inexistente não só pela bastardia da origem, senão
ainda pelos horrores da aplicação.”
É de grande alento que o novo Código de Processo Civil, no contexto
atual da democracia brasileira, traga como marca a sensibilidade da efetiva
realização de direitos harmonizados com as garantias constitucionais. Na
nossa época, em que as instituições firmam os pressupostos da democracia,
não cabem mais argumentos de autoridade ou justificações suportadas em
motivações subjetivas, muitas vezes desalojadas da realidade e carentes
de fundamentação. É necessário e essencial a utilização, sem exceção, de
argumentos portadores de força racional. E os argumentos serão sempre
construídos e reconstruídos em um processo de interação comunicativa, na
qual a força do melhor argumento, via de regra, em que pese o bom senso,
deve prevalecer sobre qualquer outra forma de coerção, seja ela originária da
força, da autoridade ou da exclusiva subjetividade de quem decide.
A racionalidade proveniente do lastro comunicativo constitui, pelo viés
pragmático das condições de possibilidade do entendimento, um importante
procedimento que transcende as limitações concretas e empíricas dos
problemas e conflitos originários na sociedade. O reconhecimento empírico
e transcendental da linguagem caracteriza-se por ser a pronúncia do ato de
fala algo localizado e realizado empiricamente pelo falante, enquanto que as
condições de possibilidade do entendimento, presentes no ato de fala, situam-
se num plano transcendental. Significa que a pretensão de validade inerente
ao ato de fala é transcendental e está além dos limites do contexto local,
porém, o exercício tanto de emitir quanto de reconhecer atos de fala será
sempre empírico e contextualizado, inclusive no procedimento argumentativo
a implicar as partes e o juízo no processo. Assim, o potencial crítico presente
nos pressupostos da linguagem não é identificado em mundos da vida
específicos, mas em “uma estrutura interna de fala, que é universal”, única a
fornecer fundamento normativo capaz de realizar “justiça” à uma sociedade
complexa e plural, como é a nossa.
O NCPC ao exigir das partes e do próprio juízo uma atitude de
participantes (Art. 5º), está a evocar a necessidade de que todos os envolvidos
no processo orientem-se em vista do entendimento, o que significa, em
termos, que cooperem entre si (Art. 6º). Tal postura requer que as partes
disponham em seus discursos de três pretensões de validade, a saber: a
pretensão de que o enunciado proferido é verdadeiro; a pretensão de que a
ação pretendida é correta; e a pretensão de que a intenção manifesta é veraz.
Nesse sentido, todos aqueles que se orientam pelo entendimento poderão
fazer uso dos modos cognitivo, interativo e expressivo do uso linguístico.
Estes três modos correspondem aos atos de fala constatativos, regulativos e
representativos, que, por conseguinte, remetem respectivamente às questões
de verdade no mundo objetivo dos fatos: às questões de justiça no mundo
social; e às questões de expressões pessoais no mundo subjetivo. Em face
de cada fragmento de mundo, seja o mundo objetivo da natureza externa, o
mundo normativo da sociedade ou o subjetivo da natureza humana, as partes
assumem três atitudes diferentes correspondentes à atitude objetivante,
atitude conforme à normas e atitude expressiva. A orientação de ação em
vista à participação e à cooperação, ainda que em fragmentos diferentes de
mundo, só é possível mediante o pressuposto de que a linguagem constitui-
se como condição de possibilidade do entendimento. A solução da lide é o
telos do processo, da mesma forma que o entendimento é telos da linguagem.
Desses dois pressupostos é possível esperar que o entendimento gere, ao final,
consenso ou acordo entre as partes. Aliás, este é um dos pontos inovadores
no NCPC ao enfatizar, amiúde, a possibilidade de as partes colocarem fim ao
conflito por meio da mediação ou da conciliação.
Ainda assim, os recursos são partes indispensáveis de um processo
argumentativo que evolui do juízo monocrático para instâncias colegiadas,
cujo olhar plural pode, com mais precisão, verter a força do melhor argumento
empregado pelas partes. Interpor recursos nas suas distintas modalidades e
espécies não se limita a somente ver assegurada a pretensão subjetiva das partes,
mas preconiza, acima de tudo, um peculiar caráter do exercício democrático,
cuja contribuição argumentativa das partes faz firmar argumentos sólidos que
ajudam uniformizar e estabilizar a jurisprudência nos Tribunais.
O livro que o leitor e a leitora, ora dispõe, é um alento teórico no
âmbito das discussões do novo Código de Processo Civil. A densidade da
reflexão e o cuidado técnico ao explorar os recursos em espécie demonstram
que Bruno Augusto Sampaio Fuga e Thiago Caversan Antunes souberam
qualificar, a contento, o sentido pleno da pesquisa jurídica aliada à prática
profissional.
Espero ter reunido nestas poucas páginas que me couberam redigir a
título de “prefácio”, o destaque merecido da obra, construída com inovadora
abordagem prática e sólida fundamentação teórica, e que certamente
encontrará boa acolhida de estudantes, pesquisadores e o público em geral
interessado na temática.

Londrina, 04 de agosto de 2017.


Clodomiro José Bannwart Júnior
Professor dos Programas de Mestrado em Direito Negocial e Mestrado em
Filosofia na Universidade Estadual de Londrina.
Professor convidado do Saraiva Aprova, da Editora Saraiva. Membro da Academia
de Letras, Ciências e Artes de Londrina.
APRESENTAÇÃO

Por vezes o ato de interpretar pode estar viciado por uma série de
motivos. Por exemplo, interpretar uma obra sem conhecer pessoalmente
o autor (ou os autores) pode gerar uma interpretação bem mais autêntica
do que o (os) conhecendo. A questão está, obviamente, ligada ao fato de
que ao conhecer mais profundamente alguém, tende-se não só a realizar a
hermenêutica do objeto em análise, mas colocar nesse processo interpretativo
vivências com seu (s) autor (es). Eliminá-las é possível? Essa é uma grande
questão que está na pauta no dia a dia de todos aqueles que se preocupam
com a criação e a aplicação do Direito.
Qual o motivo dessa explicação inicial? Na verdade ela é muito simples:
a obra que tenho a alegria de apresentar nesse momento, dos professores
Bruno Augusto Sampaio Fuga e Thiago Caversan Antunes, intitulada
Recursos em Espécie no Código de Processo Civil: estudos avançados sobre
o sistema recursal civil brasileiro, agora em sua 2ª edição, publicada pela
Editora THOTH, é texto no qual é lido e apresentado pelo olhar de quem,
infelizmente, ainda não teve a oportunidade de conhecer, pessoalmente
os autores. Poderia, ao primeiro olhar do desatento leitor, parecer uma
contradição, servindo o parágrafo inicial, exatamente, para eliminá-la, ao passo
que, não os conhecendo pessoalmente, existe a possibilidade de minha leitura
ser mais autêntica ao texto, ao que realmente produziram para a academia.
Por isso, posso afirmar que a obra produzida, agora em renovada edição,
é fruto de pensamento maduro sobre o sistema recursal brasileiro que, como
se sabe, com o advento do CPC/2015, teve modificações que necessitam ser
mais bem compreendidas. Na revisão da obra, não descuidaram os autores de
trabalhar com o polêmico tema da interpretação sobre o alcance do art. 1.015,
CPC, que trata do exaustivo (ou não) rol de possibilidades de interposição
do recurso de Agravo de Instrumento. Trabalharam também com decisão
recente do Superior Tribunal de Justiça sobre a necessidade da impugnação
de todos os pontos da decisão recorrida como forma de (in) admissibilidade
do recurso interposto, assim como alocaram ao texto súmulas relacionadas
ou ligadas ao sistema recursal para melhor fechamento do estudo.
Bruno e Thiago, agora sem a formalidade professoral, já anunciaram à
academia parceria profícua em seus estudos, tendo recentemente publicado
livro de significativa importância sobre o a produção antecipada da prova, na
qual conta com a participação de inúmeros colegas que se preocupam sobre
o tema. Também, não necessariamente lado a lado, mas ainda em ligados à
mesma obra, publicaram Principais inovações do novo Código de processo
Civil e Filosofia do Direito, obras de referência para quem quer conhecer um
novo olhar sobre alguns temas ligados não só ao processo, mas ao Direito
em si.
Por isso, foi com muita alegria e entusiasmo que recebi o honroso
convite para apresentar a 2ª edição dessa ampliada obra de Bruno Fuga e
Thiago Caversan cujas ideias acessam, com certeza, o primeiro escalão de
pensamentos que unem a preocupação de um renovado sistema recursal
brasileiro, a partir de uma análise não só legalista, presa ao CPC, mas da
doutrina e das decisões judiciais que devem acompanhar todo o acadêmico e
o profissional do Direito.
Escrever mais seria privar o leitor do contato com o que foi produzido,
parabenizando Bruno e Thiago pela publicação da 2ª edição do livro, assim
como à Editora pela aposta e ao público leitor que, em tão curto espaço de
tempo oportunizou aos autores a possibilidade de revisão e ampliação das
ideias.

Porto Alegre, novembro de 2018.

Prof. Dr. Marco Félix Jobim


Professor dos Programas de Graduação e Pós-graduação lato e stricto
sensu da PUC/RS.
APRESENTAÇÃO 2.ª EDIÇÃO

O presente livro foi escrito por dois amigos, professores de processual


civil; só isso já motivo de comemoração. A ideia nossa, como professores, foi
reunir pontos problemáticos processuais nos aspectos recursais e escrever
sobre eles. Foi selecionado todos os recursos do art. 994 do CPC e decidimos
abordar pontos específicos dos recursos em espécie. O livro foi bem recebido
pela academia, houve um processo de amadurecimento entre os autores, que
discorremos bastante sobre o tema (pessoalmente, em aulas e também outros
escritos) e chega o tempo de lançar a sua segunda edição.
O livro foi atualizado em diversos pontos, mas especialmente no
capítulo de Agravo de Instrumento diante de novas decisões, em especial
recurso pendente de julgamento no STJ e o capítulo Recurso Especial, pois
incluímos um novo subcapítulo, novos atualizações de rodapés e novas
considerações sobre custas processuais e assistência judiciária quando o
solicitante é o advogado.
Pois bem. O livro ainda segue o propósito de abordar em sua grande
parte pontos polêmicos, sem uma preocupação com os aspectos didáticos
iniciais dos temas – partimos do entendimento que o eleitor sabe o básico e
assim seguimos com os temas.
Desejamos boa leitura para todos.
Os autores.
Londrina, novembro de 2018.
BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE
O LIVRO

Os autores são professores de Direito Processual Civil e membros


ativos da Comissão de Processo Civil da Subseção de Londrina da OAB.
Ambos participaram da elaboração do livro oficial sobre o CPC/2015 da
OAB de Londrina1 e são autores de outras obras relacionadas ao tema.
O livro nasceu de uma ideia central de apresentar estudo sobre todos os
recursos em espécie previstos no repertório do art. 994 do CPC. O primeiro
capítulo, único fora deste rol, trata de uma visão geral sobre todos os recursos
e, em especial, sobre pontos essenciais a serem levados em conta na análise
dos recursos, comumente, nesta obra, denominados “elementos essenciais
dos recursos”.
O propósito foi tratar sobre temas avançados e controvertidos acerca
dos recursos. Dessa maneira, resta claro, ao longo da leitura, que cada capítulo
apresenta no início uma visão geral sobre o recurso sob análise, após, há
um recorte temático e pesquisa sobre determinados pontos de interesse
específico.
Entende-se que a parte recursal é de suma importância para qualquer
operador do Direito e, nesse sentido, com uma grande preocupação teórica,
mas também prática, apresenta-se a obra ora oferecida ao público.
O livro é interessante em duas vertentes. Primeiro, como leitura para
o operador do Direito se deparar com questões controvertidas e avançadas,
às vezes, não presentes em manuais resumidos sobre CPC; assim, a obra
pode ser lida em sua íntegra, fato este que irá colaborar para aprimorar
o conhecimento do operador do Direito e, dessa forma, proporcionar
atualização sobre o tema e também maior aptidão técnica. Segundo, pode ser
útil como fonte de pesquisa acadêmica e prática; ao operador, por exemplo,
que esteja trabalhando com um Recurso Especial, recomenda-se a leitura do
Capítulo 1 e do Capítulo 7 para, assim, possivelmente aprimorar o recurso a

1. FUGA, Bruno Augusto Sampaio (et. al. org.). Principais Inovações do Novo Código de Processo
Civil. Birigui, SP: Boreal, 2017.
ser protocolado. Este é, pelo menos, um desejo dos escritores: fazer com que
seu livro possa ser útil nas rotinas forenses.
Nesse sentido, importante deixar claro que os capítulos certamente não
tratam sobre todos os pontos dos recursos em questão, nem compõem um
manual com fácil ilustração dos recursos e seus cabimentos legais; a leitura é,
em muitos momentos, densa. O escritor, quando inicia um projeto, deve ter
em mira seu público alvo, com quem deseja dialogar, ou seja: se for um livro
para concurseiros, a forma de escrita é diferente, assim como seu conteúdo;
para graduandos, a escrita deve ser totalmente adaptada com explicações de
elementos básicos para, assim, ser didático.
Este livro não tem essa dimensão (graduandos ou concurseiros). Parte-
se do pressuposto de que o leitor já tenha conhecimento preliminar da matéria
e deseja se aprofundar ou pesquisar.
Em um mundo com tantos manuais, esquematizados e afins (não
pretendendo, obviamente, que a observação soe como crítica, pois se sabe ser
muito complexo e difícil elaborar obras com esses referenciais e entendem-se
as finalidades a que se propõem), este livro foge desse panorama e trata sobre
temas avançados e controvertidos.
Esse é o desejo dos autores. Essa foi a linha de pesquisa e, assim,
espera-se agradar o leitor que tenha esse propósito de leitura.
SUMÁRIO

PREFÁCIO����������������������������������������������������������������������������������������������������������� 9
APRESENTAÇÃO��������������������������������������������������������������������������������������������13
APRESENTAÇÃO 2.ª EDIÇÃO�������������������������������������������������������������������� 15
BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE O LIVRO������������������������������������ 17

CAPÍTULO I
ELEMENTOS ESSENCIAS DOS RECURSOS DE ACORDO COM O
CPC/2015������������������������������������������������������������������������������������������������������������23
1.1 Dialeticidade��������������������������������������������������������������������������������������������������23
1.2 Localizar jurisprudência e precedentes obrigatórios������������������������������� 27
1.3 Ratio decidendi e obiter dictum����������������������������������������������������������������� 29
1.4 Overruling e distinguishing������������������������������������������������������������������������� 32
1.5 O prequestionamento����������������������������������������������������������������������������������36

CAPÍTULO II
RECURSO DE APELAÇÃO E A APLICABILIDADE DO ART. 1.012,
§3º DO CPC. CONCESSÃO DO EFEITO SUSPENSIVO��������������������� 41
2.1 O recurso de apelação e o CPC/2015������������������������������������������������������� 42
2.2 Em regra, o efeito suspensivo�������������������������������������������������������������������� 43
2.3 A concessão do efeito suspensivo e o recurso pertinente���������������������� 45
2.4 Tutela provisória e o artigo 229 § único����������������������������������������������������48
2.5 Possibilidade de cassação do efeito suspensivo��������������������������������������� 51

CAPÍTULO III
O AGRAVO DE INSTRUMENTO. ROL TAXATIVO E NÃO
EXAUSTIVO������������������������������������������������������������������������������������������������������53
3.1 O agravo de instrumento���������������������������������������������������������������������������� 53
3.2 Agravo de instrumento e rol não exaustivo ��������������������������������������������54
3.3 O mandando de segurança como meio recursal�������������������������������������� 59
3.4 Correição parcial como meio recursal������������������������������������������������������� 62

CAPÍTULO IV
AGRAVO INTERNO���������������������������������������������������������������������������������������69
4.1 Previsão legal. agravo interno no código de processo civil�������������������� 69
4.2 Dialeticidade no agravo interno����������������������������������������������������������������� 71
4.3 Decisão e a fundamentação necessária������������������������������������������������������ 72
4.4 A multa por inadmissibilidade manifesta�������������������������������������������������� 73
4.5 Fungibilidade com os embargos de declaração���������������������������������������� 74
4.6 O agravo interno e o artigo 1.030�������������������������������������������������������������� 75
4.7 Agravo interno no agravo de instrumento����������������������������������������������� 77
4.8 Agravo interno nos recursos extraordinário e especial repetitivos������� 78
4.9 Agravo interno contra a decisão sobre desconsideração da personalidade
jurídica������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 79
4.10 No âmbito do juizado especial����������������������������������������������������������������� 79

CAPÍTULO V
OS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO��������������������������������������������������������� 81
5.1 Previsão legal no CPC/2015����������������������������������������������������������������������� 82
5.2 Hipóteses de cabimento do recurso���������������������������������������������������������� 82
5.3 Prazo e características da oposição do recurso���������������������������������������� 86
5.4 Julgamento dos embargos��������������������������������������������������������������������������� 87
5.5 Embargos de declaração e fungibilidade���������������������������������������������������88
5.6 Julgamentos dos embargos de declaração e recursos interpostos
anteriormente������������������������������������������������������������������������������������������������������89
5.7 Embargos de declaração e pré-questionamento��������������������������������������90
5.8 Efeitos da oposição de embargos de declaração������������������������������������� 93
5.9 Embargos de declaração e conduta protelatória�������������������������������������� 95

CAPÍTULO VI
RECURSO ORDINÁRIO�������������������������������������������������������������������������������97
6.1 Previsão legal no CPC/2015����������������������������������������������������������������������� 97
6.2 Hipóteses de cabimento do recurso���������������������������������������������������������� 98
6.3 Prazo e características da interposição do recurso��������������������������������100
6.4 Efeitos da interposição������������������������������������������������������������������������������ 101
6.5 Processamento do recurso������������������������������������������������������������������������ 102

CAPÍTULO VII
RECURSO ESPECIAL. UMA NECESSÁRIA LEITURA PROCESSUAL
E CONSTITUCIONAL ��������������������������������������������������������������������������������105
7.1 O recurso especial e o CPC/2015������������������������������������������������������������ 105
7.2 Dialeticidade������������������������������������������������������������������������������������������������109
7.3 Em regra, o não efeito suspensivo����������������������������������������������������������� 110
7.4 Tutela provisória e o art. 229 § único�������������������������������������������������������111
7.5 Prova do dissídio jurisprudencial (CF, art. 105, III, “c”)���������������������� 112
7.6 Contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigência (Cf, art. 105, III,
“a”)���������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 115
7.7 Jurisprudêncial defensiva e aplicabilidade das súmulas��������������������������116
7.8 Recurso especial e extraordinário repetitivos������������������������������������������116
7.9 Legitimidade. honorários de advogado����������������������������������������������������117

CAPÍTULO VIII
RECURSO EXTRAORDINÁRIO���������������������������������������������������������������119
8.1 Previsão legal no CPC/2015����������������������������������������������������������������������119
8.2 Hipóteses de cabimento do recurso��������������������������������������������������������120
8.3 Prazo e características da interposição do recurso�������������������������������� 121
8.4 Repercussão geral���������������������������������������������������������������������������������������123
8.5 Fungibilidade�����������������������������������������������������������������������������������������������126
8.6 Efeitos da interposição������������������������������������������������������������������������������130
8.7 Processamento do recurso������������������������������������������������������������������������130

CAPÍTULO IX
DO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL E EM RECURSO
EXTRAORDINÁRIO������������������������������������������������������������������������������������135
9.1 Previsão legal. Agravo em recurso especial e em recurso extraordinário
no CPC���������������������������������������������������������������������������������������������������������������136
9.2 Dialeticidade no agravo interno��������������������������������������������������������������� 137
9.3 O agravo em recurso especial e recurso extraordinário e o artigo 1.030
�����������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������138
9.4 Não fungibilidade entre agravo interno e agravo no recurso extraordinário
e recurso especial����������������������������������������������������������������������������������������������� 140
9.5 O recurso da decisão proferida no artigo 1.030, §2º����������������������������� 141

CAPÍTULO X
EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA �����������������������������������������������������������145
10.1 Embargos de divergência e o CPC/2015��������������������������������������������� 145
10.2 Prova da divergência�������������������������������������������������������������������������������� 148
10.3 Recurso da decisão de inadmissibilidade���������������������������������������������� 151

CONSIDERAÇÕES FINAIS������������������������������������������������������������������������155

REFERÊNCIAS�����������������������������������������������������������������������������������������������157
CAPÍTULO I

ELEMENTOS ESSENCIAS DOS


RECURSOS DE ACORDO COM O
CPC/2015

No presente capítulo, discorre-se sobre os elementos essenciais que


devem constar, em geral, em um recurso no Processo Civil brasileiro. Os
elementos essenciais, pontos fundamentais e vitais para o conhecimento e
possível provimento do recurso são os temas aqui analisados.
O CPC/2015 alterou de forma significativa alguns elementos do
Processo Civil e os recursos evidentemente não ficaram fora dessas relevantes
inovações. Percebe-se, tanto na prática quanto na teoria, que alguns assuntos
são amplamente debatidos e, às vezes, com algumas profundas controvérsias.
O propósito então é pensar nos recursos e examinar aqui quais seriam
os elementos basilares de qualquer recurso nessa área, que são essenciais não
somente nos planos acadêmico e teórico, mas também na prática forense.
Para tanto, munidos de ampla pesquisa, apresentam-se reflexões sobre a
dialeticidade, a necessária pesquisa por súmulas, jurisprudências e precedentes
(como pesquisar e o que pesquisar), a ratio decidendi e a obiter dictum dos
julgamentos, overruling e o distinguishing e, por fim, o prequestionamento.
O foco é o estudo do CPC/2015 no que tange ao sistema recursal e o
recorte do presente capítulo é apresentar os elementos essenciais de qualquer
recurso no âmbito cível. A seguir, portanto, inicia-se a discussão com o tema
dialeticidade.

1.1 DIALETICIDADE

Importante para o operador do Direito, no ato de recorrer, em relação


a qualquer matéria e a qualquer tema, ter em mente que o recurso deve
ser movido contra a decisão recorrida e não somente apresentar a tese em
discussão. A parte recorrente, tendo razão e se tiver elementos para o recurso,
24 RECURSOS EM ESPÉCIE NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

deve apontar os motivos de efetiva modificação da decisão recorrida, pois


precisa ser ela reformada (total ou parcialmente).
Consiste em equívoco bastante comum a parte recorrente, acreditando
estar com os elementos necessários para a reforma da decisão, replicar os
fundamentos da inicial, da contestação ou impugnação (vício de muitos
operadores do Direito que deve ser evitado tanto quanto possível). O recurso
carece sempre de ser motivado e fundamentado estritamente de acordo com os
fundamentos constantes da sentença, acórdão ou decisão recorrida. É preciso
demonstrar o motivo de reforma da deliberação recorrida e não apenas a tese
em si – sendo lógico, de outro lado, que a tese e seus fundamentos também
devem estar presentes; porém, de forma especialmente voltada a demonstrar
a necessidade de reforma ou anulação da decisão.
De acordo com o artigo 932, III do CPC/2015, incumbe ao relator
“não conhecer de recurso inadmissível, prejudicado ou que não tenha
impugnado especificamente os fundamentos da decisão recorrida”.
Ou seja, a ausência de impugnação específica dos fundamentos da decisão
recorrida implica o não conhecimento do recurso – o que evidenciaria um
grave erro de utilização da técnica processual.1
1. Sobre o tema: “Sexto princípio infraconstitucional dos recursos, o da dialeticidade, relaciona-se,
em alguma medida, com o princípio da voluntariedade. Se aquele princípio se relaciona com
a necessária exteriorização do inconformismo do recorrente diante de uma dada decisão, este
se atrela à necessidade de o recorrente demonstrar as razões de seu inconformismo, relevando
porque a decisão lhe traz algum gravame e porque a decisão deve ser anulada ou reformada. Há
várias Súmulas dos Tribunais Superiores que fazem, ainda que implicitamente, menção a esse
princípio – assim, v.g., Súmula 182 do STJ e as Súmulas 287 e 284 do STF – e o CPC de 2015 o
acolheu expressamente em diversas ocasiões, como se demonstra ao longo deste Capítulo.”
Sobre o tema: “Faço questão de frisar, a respeito deste princípio, que o recurso deve evidenciar
as razões pelas quais a decisão precisa ser anulada, reformada, integrada ou completada, e não
que o recorrente tem razão. O recurso tem de combater a decisão jurisdicional naquilo que ela
o prejudica, naquilo que ela lhe nega pedido ou posição de vantagem processual, demonstrando
o seu desacerto, do ponto de vista procedimental (error in procedendo) ou do ponto de vista do
próprio julgamento (error in judicando). Não atende ao princípio aqui examinado o recurso que
se limita a afirmar a sua posição jurídica como a mais correta. É inepto o recurso que se limita
a reiterar as razões anteriormente expostas e que, com o proferimento da decisão, ainda que
erradamente e sem fundamentação suficiente, foram rejeitadas”. BUENO, Cassio Scarpinella.
Manual de direito processual civil: inteiramente estruturado à luz do novo CPC – Lei n. 13.105,
de 16-3-2015. São Paulo: Saraiva, 2015.
Sobre o tema: “O inciso III explicita a necessidade do recorrente de expor as razões recursais
referentes ao pedido de reforma ou de decretação de nulidade da sentença, em atenção ao
princípio da dialeticidade recursal. Ou seja, para que a apelação seja conhecida o recurso deverá
impugnar especificamente a sentença. Nesse sentido, o art. 932, III dispõe que incumbe ao
relator não conhecer de recurso que não tenha impugnado especificadamente os fundamentos da
decisão recorrida”. RIBEIRO, Cristiana Zugno Pinto. Novo Código de Processo Civil anotado
OAB Rio Grande do Sul. 2015, p. 775.
Sobre o tema: “O inciso III explicita a necessidade do recorrente de expor as razões recursais
referentes ao pedido de reforma ou de decretação de nulidade da sentença, em atenção ao
princípio da dialeticidade recursal. Ou seja, para que a apelação seja conhecida o recurso deverá
impugnar especificamente a sentença. Nesse sentido, o art. 932, III dispõe que incumbe ao
relator não conhecer de recurso que não tenha impugnado especificadamente os fundamentos da
Elementos essenciais dos recursos de acordo com o CPC/2015 25

Na Apelação, por exemplo, deve-se demonstrar “as razões do pedido


de reforma ou de decretação de nulidade” – artigo 1.010, III2, assim também
no agravo de instrumento – artigo, 1.016, III3, de igual maneira, no agravo
interno – artigo 1.021, §1º4. Nos embargos de declaração, o essencial é indicar
de forma clara e circunstanciada o erro, obscuridade, contradição ou omissão5.
No recurso extraordinário e no recurso especial há também necessidade de
se demonstrar as razões do pedido de reforma ou de invalidação da decisão
recorrida (CPC, art. 1.029, III). Essa tem sido, inclusive, uma exigência dos
tribunais6 e dos órgãos superiores7.

decisão recorrida”. RIBEIRO, Cristiana Zugno Pinto. Novo Código de Processo Civil anotado
OAB Rio Grande do Sul. 2015, p. 775.
Sobre o tema: “O recurso não pode se resumir à repetição de razões deduzidas antes, seja na
petição inicial, seja na contestação. Se configuram meio de impugnação de uma decisão, devem
fazer referência específica aos aspectos da decisão que justificam a sua anulação, complementação
ou reforma”. APRIGLIANO, Ricardo de Carvalho. Código de Processo Civil Anotado. OAB
Paraná. 2015, p. 1542.
2. Sobre o tema: “O caput do art. 1.010 se ocupa com o conteúdo das razões de apelo. O texto
aprimora, no particular, o art. 514 do CPC atual, deixando clara a necessidade de o pedido de
reforma ou invalidação do julgado estar fundamentado em razões aptas a dar-lhe embasamento
(princípio da dialeticidade).” BUENO, Cassio Scarpinella. Manual de direito processual civil:
inteiramente estruturado à luz do novo CPC – Lei n. 13.105, de 16-3-2015. São Paulo: Saraiva,
2015.
3. “III - as razões do pedido de reforma ou de invalidação da decisão e o próprio pedido;”
4. “§ 1o Na petição de agravo interno, o recorrente impugnará especificadamente os fundamentos
da decisão agravada.”
5. “Artigo 1.032: Art. 1.023.  Os embargos serão opostos, no prazo de 5 (cinco) dias, em petição
dirigida ao juiz, com indicação do erro, obscuridade, contradição ou omissão, e não se sujeitam a
preparo.”
6. “TJ/RS - Recurso Cível 71005396171 RS (TJ/RS). Data de publicação: 13/07/2015. Ementa:
Processual. Imprescindibilidade da correlação entre as razões da irresignação recursal com
sentença proferida. Violação ao princípio da dialeticidade recursal positivado no art. 514, II,
CPC. Recurso não conhecido.” (grifo nosso)
7. AgRg no AREsp 822675: “Processual penal. Agravo regimental no Agravo em Recurso Especial.
Homicídio qualificado. Ausência de impugnação específica no Agravo em Recurso Especial.”
AgInt no REsp 1466003/PE: “2. O artigo 1.021, § 1º, do Código de Processo Civil de 2015
determina que o recorrente, na petição de agravo interno, observe o princípio da dialeticidade
recursal com a impugnação específica dos fundamentos da decisão agravada, sob pena de
não conhecimento do recurso.”
AgRg no RMS 47875/RS: “Processual civil e administrativo. Agravo interno no recurso ordinário
em mandado de segurança. Falta de impugnação aos fundamentos da decisão. Princípio da
dialeticidade recursal.”
STF. ARE 831369 Agr/DF : “Princípio da Dialeticidade, que impõe o ataque específico aos
fundamentos. Insuficiência de alegação genérica. Precedentes. Manutenção da decisão ora
agravada.”
STF. AI 631672 AgR “Fato e de direito suficientes à reforma da decisão sob O princípio
da  dialeticidade recursal impõe ao recorrente o ônus de evidenciar os motivos de julgada,
trazendo à baila novas argumentações capazes de infirmar todos os fundamentos do decisum que
se pretende modificar, sob pena de vê-lo mantido por seus próprios fundamentos. 2. O agravo
é inadmissível quando a sua fundamentação não impugna especificamente a decisão agravada”
“A petição do recurso ordinário em mandado de segurança deve observar o princípio da
dialeticidade, ou seja, deve apresentar as razões pelas quais a parte recorrente não se conforma
26 RECURSOS EM ESPÉCIE NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

Na prática a dialeticidade deve ser posta no recurso como preliminar,


como uma forma de organização dos fundamentos da sentença e,
principalmente, por meio da indicação clara e objetiva de quais serão as
impugnações de acordo com os fundamentos da decisão recorrida. Se
o magistrado fundamenta sua sentença de acordo com elementos de “a”, “b”
e “c”, o recorrente deverá demonstrar os motivos de reforma da sentença de
acordo com os fundamentos “a”, “b” e “c”. Incorre em erro, portanto, quem,
para tentar anular ou modificar a sentença, apenas copia os fundamentos da
inicial, contestação ou impugnação; pois nas peças processuais provavelmente
há elementos da tese debatida no processo, mas essas peças (por questão
cronológica), não combatem exatamente a decisão a ser recorrida e seus
respectivos fundamentos.
O recurso deve, então, dialogar especificamente com o objeto
recorrido (sentença, acórdão, decisão interlocutória e outros). De acordo
com Daniel Amorim Assumpção Neves8, “trata-se, na realidade, da causa
de pedir recursal”. Lembra ainda Neves que o recurso, em regra, deve ser
de “fundamentação livre”, vale observar, porém, que o recurso obviamente
deve guardar uma lógica processual e, em geral, debater apenas questões já
aventadas no curso do processo9.
O princípio da dialeticidade tem ligação com o elemento descritivo do
recurso (consubstanciado nos fundamentos e pedido constantes do recurso);
esse elemento exige do recorrente a exposição da fundamentação recursal
(causa de pedir: error in judicando e error in procedendo) e do pedido (que poderá
ser de anulação, reforma, esclarecimento ou integração).10
Consubstancia, portanto, de suma importância a dialeticidade, pois
definirá para os Recorridos quais são os elementos para fundamentar
eventuais Contrarrazões, além de fixar os limites de atuação do Tribunal no
julgamento do recurso.
Por fim, sobre este tópico, pode-se questionar se, na ausência de
dialeticidade, deveria o relator, à luz do artigo 932, parágrafo único, intimar
o Recorrente para sanar o vício. Ao contrário do entendimento de Ferreira

com o acórdão proferido pelo Tribunal de origem, o que, todavia, não se verifica nos presentes
autos, em que a impetrante deixou de impugnar especificamente o ponto do acórdão recorrido
consistente na denegação do mandado de segurança contra ato judicial passível de recurso ou
correição” (STJ, RMS 33.455)
8. NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de direito processual civil / Daniel Amorim
Assumpção Neves. – 7. ed. rev. Versão ebook, atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo:
MÉTODO, 2015
9. Exceção no disposto no artigo 933 do CPC/2015.
10. Idem.
Elementos essenciais dos recursos de acordo com o CPC/2015 27

Filho11, entende-se que não. Pensa-se no seguinte exemplo: o réu vê o pedido


do autor julgado totalmente procedente; não satisfeito, interpõe o recurso
de apelação e copia apenas grande parte de sua Contestação como razões de
seu inconformismo; embora sua peça possa em seu conteúdo ser robusta, ela
não atacou os fundamentos da decisão recorrida. O autor então é intimado
para apresentar Contrarrazões. O relator, verificando essa suposta falha, de
acordo com o entendimento que se tem, não poderia entendê-la como vício
a ser sanado. Se assim fosse, o Recorrente poderia fazer então uma nova
estrutura recursal; porém, agora, com acesso às Contrarrazões do Recorrido,
em clara vantagem processual e em completo descompasso com o princípio
da paridade de armas.12
Entende-se não ser vício a ser sanado, mas sim clara deficiência
recursal, precisamente por inexistência de impugnação específica, ou seja,
os elementos do recurso (suas razões) não atendem ao seu propósito de
convencer o julgador da necessidade de reforma da decisão. Do contrário,
ter-se-ia que estender esse entendimento para todos os recursos (apelação,
agravo de instrumento, especial, extraordinário e afins), causando um caos,
ainda maior, nos tribunais e em todo andamento recursal.

1.2 LOCALIZAR JURISPRUDÊNCIA E PRECEDENTES


OBRIGATÓRIOS

Não são tratados, neste breve capítulo, os fundamentos da decisão


(CPC, art. 489), porém algumas informações são conexas ao presente tema e,
portanto, importantes para o desenvolvimento da discussão.
O novo paradigma do Código de Processo Civil é o grande respeito
às jurisprudências, súmulas e também aos precedentes (há diferença entre os
termos e adiante é demonstrado)13.
11. Sobre o tema: “Se as razões da apelação estiverem totalmente divorciadas dos fundamentos da
sentença, deverá o relator dar oportunidade ao apelante para que sane o vício? À luz da norma
constante do art. 932, parágrafo único, a resposta apresenta-se positiva”. FERREIRA FILHO,
Manoel Caetano. Código de Processo Civil Anotado. OAB Paraná. 2015, p. 1569.
12. E veja que mesmo que se desse ao Recorrido oportunidade de apresentação de novas
Contrarrazões, estar-se-ia trabalhando evidentemente contra a garantia de razoável duração do
processo.
13. Sobre o tema: “Identificar a  ratio decidendi de uma questão constante de um caso - isto é, o
precedente que deve ser aplicado (“precedent case”) - é apenas uma das tarefas que envolve a
dinâmica de um sistema de precedentes. Além de identificar a  ratio, é preciso saber se essa é
aplicável ao caso presente (“instant case”)”. MITIDIERO, Daniel. Precedentes: da persuasão à
vinculação (versão e-book). São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016.
Sobre o tema: “Isso quer dizer que [...] a evolução da teoria da interpretação, o impacto do
constitucionalismo e a transformação do próprio conceito de direito fizeram surgir uma nova
racionalidade jurídica no Civil Law, que, portanto, pode exigir e conviver com um sistema de
precedentes obrigatórios”. MARINONI, Luiz Guilherme. A ética dos precedentes. Luiz
28 RECURSOS EM ESPÉCIE NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

O CPC/2015, no art. 926, aponta que “os tribunais devem uniformizar


sua jurisprudência e mantê-la estável, íntegra e coerente”. Ainda faz constar,
logo a seguir, no § 1º que, “na forma estabelecida e segundo os pressupostos
fixados no regimento interno, os tribunais editarão enunciados de súmula
correspondentes a sua jurisprudência dominante”.
O art. 489, no § 1º, VI, dispõe que “não se considera fundamentada
qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória, sentença ou acórdão, que [...]
deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado
pela parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento
ou a superação do entendimento.”
Pode-se dizer que o art. 489 é rico em conteúdo; porém, para o presente
momento discute-se apenas a determinação relativa às ocasiões em que o
julgador “deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente
invocado pela parte”. De acordo com o texto legal, o magistrado deverá
seguir o precedente ou jurisprudência invocada pela parte ou apresentar
fundamentação em sentido contrário. Trata este inciso de apresentar a devida
ratio decidendi ou o overruling (no próximo tópico, aborda-se o assunto), mas
aqui importa dedicar especial esforço para demonstrar a importância do
precedente como um todo.
De forma geral, o litigante deve pesquisar precedentes em favor da
sua tese, isso desde os primeiros movimentos processuais. O respeito ao
precedente tem grande importância no CPC/2015, sendo fundamental
compreender um pouco melhor esse tema, face a sua grande importância na
dinâmica jurisdicional contemporânea.
Daniel Mitidiero14 afirma que jurisprudência e precedente são dois
caminhos distintos. Para o doutrinador, é importante fazer distinção entre
as funções das Cortes de Justiça (Tribunais de Justiça e Tribunais Regionais
Federais) e as funções das Cortes de Precedentes. Todo e qualquer
julgamento das Cortes de Precedentes deve ser uma oportunidade para
formação de precedentes.
Continua ainda afirmando o doutrinador que é preciso fazer distinção
entre precedentes, jurisprudência vinculante e jurisprudência. STF e STJ
formam precedentes, Tribunais de Justiça e Tribunais Regionais Federais dão
lugar à jurisprudência, súmulas podem emanar de qualquer dessas Cortes.
Respeitar precedentes é respeito à ratio decidendi; súmulas são um método de
trabalho e não gozam, em princípio, de força vinculante15.
Guilherme Marinoni, 1 ed.. São Paulo. Editora Revista dos Tribunais, 2014, p. 43.
14. MITIDIERO, Daniel. Precedentes: da persuasão à vinculação (versão e-book). São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2016, p. 80.
15. MITIDIERO, Daniel. Precedentes. Da persuasão à vinculação. Revista dos Tribunais. 2016, p. 97.
Elementos essenciais dos recursos de acordo com o CPC/2015 29

Precedentes são emanados pelas Cortes de Precedentes – STF e STJ


– e são, portanto, obrigatórios. Importante para o operador do direito ter tal
conhecimento dado esse novo paradigma do Processo Civil brasileiro.
Estando a parte favorecida por precedente, jurisprudência ou súmula,
esse fato deverá ser invocado desde os primeiros atos do processo para facilitar
seu desenrolar. Os juízes, por exemplo, devem respeitar os precedentes
obrigatórios, que de acordo com o que se entende, estão descritos no art. 927
do CPC16, do contrário poderá ser cabível, inclusive, recurso de reclamação
(CPC, art. 988).17
A parte poderá não ter um precedente obrigatório a seu favor, mas uma
jurisprudência ou súmula. Neste caso, isso também deverá ser apresentado
desde o início do processo. Verifica-se que o juiz deverá, ao não “seguir
enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente” apresentado pela parte,
fazer o devido distinguishing, sob pena de ser a sentença reconhecida como não
fundamentada (CPC, art. 489, §1º, VI).
Citar a jurisprudência ganha papel fundamental, inclusive, para efeitos
de prequestionamento, matéria que é tratada mais adiante neste estudo. Ou
seja, com esse novo paradigma processual do CPC/2015, não basta apenas a
narrativa dos fatos; a existência de precedentes (obrigatórios ou não) ganha
grande importância na dinâmica forense.

1.3 RATIO DECIDENDI E OBITER DICTUM

Avançando na análise a que se propôs, outro ponto que merece


destaque é o estudo dos institutos da ratio decidendi e obiter dictum. Primeiro se

Sobre o tema: Isto, evidentemente, com exceção das súmulas vinculantes previstas no art. 103-A,
da Constituição Federal.
Sobre o tema: “A orientação final quanto à interpretação da normas deve ser estabelecida pelos
tribunais superiores, exercendo forte ascendência ante os demais órgãos jurisdicionais, que
não podem simplesmente deixar de segui-los sem a devida justificação.” CIMARDI, Cláudia
Aparecida. A jurisprudência uniforme e os precedentes no Novo Código de Processo Civil
brasileiro. São Paulo, Editora Revista dos Tribunais, 2015, p. 322.
16. “Art. 927.  Os juízes e os tribunais observarão: I - as decisões do Supremo Tribunal Federal em
controle concentrado de constitucionalidade; II - os enunciados de súmula vinculante; III - os
acórdãos em incidente de assunção de competência ou de resolução de demandas repetitivas e
em julgamento de recursos extraordinário e especial repetitivos; IV - os enunciados das súmulas
do Supremo Tribunal Federal em matéria constitucional e do Superior Tribunal de Justiça em
matéria infraconstitucional ;V - a orientação do plenário ou do órgão especial aos quais estiverem
vinculados.”
17. Sobre o tema, o Enunciado 168 do FPPC: “(art. 927, I; art. 988, III) Os fundamentos
determinantes do julgamento de ação de controle concentrado de constitucionalidade realizado
pelo STF caracterizam a ratio decidendi do precedente e possuem efeito vinculante para todos os
órgãos jurisdicionais.”
30 RECURSOS EM ESPÉCIE NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

inicia com a ratio decidendi, pois o estudo desta automaticamente explicará o


conceito de obiter dictum.
Por ratio decidendi pode-se entender o fundamento determinante
de certo julgamento18. Para o Ministro Barroso e Patrícia Mello19, o termo
ratio decidendi, que também pode ser denominado holding, contempla os
fundamentos da decisão que são essenciais para compreender o entendimento
que funcionou como pressuposto para a solução concreta alcançada pelo
tribunal e com que nível de generalidade a corte pretendeu afirmá-los20
Para Barroso e Mello, a identificação da ratio decidendi pressupõe a
avaliação de alguns aspectos essenciais: a) os fatos relevantes, b) a questão
jurídica posta em juízo c) os fundamentos da decisão e d) a solução determinada
pela corte.
Nesse novo paradigma do processo de precedentes obrigatórios, bom
entender que o que vincula o juiz é a ratio decidendi do caso21. Verifica-se que
o CPC guardou especial atenção ao termo fundamentos determinantes

18. Sobre o tema: “Como escrevemos em outro estudo, ratio decidendi corresponde aos “argumentos
principais sem os quais a decisão não teria o mesmo resultado, ou seja, os argumentos que podem
ser considerados imprescindíveis”. MEDINA, José Miguel Garcia. Novo código de processo
civil comentado: com remissões e notas comparativas ao CPC/1973. 3ª Edição. São Paulo:
Editora dos Tribunais, 2015.
Sobre o tema: “A partir da definição acima e da redação do supracitado inciso V, é possível
extrair outro conceito indispensável ao entendimento do tema, correspondente às expressões
“fundamentos determinantes” (da decisão) e “elemento normativo” (do caso). Trata-se da
chamada ratio decidendi, consistente basicamente no núcleo essencial do precedente judicial,
encontrado invariavelmente na fundamentação da decisão. É esta parte específica da decisão que
possui a capacidade de vincular os futuros julgamentos e que as cortes estão obrigadas a seguir.”
BAPTISTA, Gabriel Carmona; SOUZA, Camila Nayara. A fundamentação da decisão judicial e
o art. 489 do novo código de processo civil. In: FUGA, Bruno Augusto Sampaio (et. al. org.).
Principais Inovações do Novo Código de Processo Civil. Birigui, SP: Boreal, 2017, p. 367.
Sobre o tema: “ A ratio decidendi refere-se às premissas necessárias à decisão. Já os argumentos
ditos de passagem, não se revelam vitais para a manutenção do julgado, são denominados obiter
dicta. PUGLIESE, William. Precedentes e a civil law brasileira: interpretação e aplicação do novo
código de processo civil. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016, p. 79.
19. BARROSO, Luís Roberto; MELLO, Patrícia Perrone Campo. Trabalhando com uma nova lógica:
a ascensão dos precedentes no direito brasileiro. 2016.
20. No método abstrato normativo.
21. STF em julgados mais recentes tem afastado a teoria da Transcendência dos motivos determinantes
(STF, Rcl 3014, STF, Rcl 9778 AgR, Rcl 4.219). (grifo nosso)
Sobre o tema de teoria da Transcendência dos motivos determinantes “Entretanto, esse
entendimento precisará ser revisitado à luz do CPC/2015, uma vez que o novo Código reconheceu
explicitamente que a tese afirmada pela decisão proferida em controle concentrado produz
efeitos vinculantes e que seu desrespeito possibilita a propositura de reclamação”. BARROSO,
Luís Roberto; MELLO, Patrícia Perrone Campo. Trabalhando com uma nova lógica: a ascensão
dos precedentes no direito brasileiro. 2016, p. 30.
Elementos essenciais dos recursos de acordo com o CPC/2015 31

(CPC, art. 489, §1º, V22 e 979, §2º) também podendo ser entendido como
ratio decidendi23.
Araken de Assis24 de forma categórica afirma que a análise da ratio
decidendi é essencial ao caso, pois sem a explicação dos motivos determinantes
do julgado não será possível averiguar se o caso é similar a outro. Neste
sentido:
A ratio decidendi é, todavia, essencial ao precedente judicial –
tese jurídica afirmada em determinado julgado, mas passível
de aplicar-se em outros feitos nas mesmas condições. Eis um
ponto de asfixia do uso útil dos precedentes judiciais. Sem a
explicitação e a análise dos motivos do pronunciamento não
é possível, racionalmente, decidir se a tese jurídica aplica-se,
ou não, a outras causas, nem o ato apresentará motivação
suficiente (art. 489, § 1.º, V).
Para o juiz julgar fundamentando em precedente, jurisprudência ou
súmula, deverá ele então fundamentar de acordo com a ratio decidendi de ambos
os casos, o caso em situação de ser julgado e o precedente, jurisprudência ou
súmula em perspectiva. Gabriel Baptista e Nayara Souza25 afirmam que “o
que vincula os futuros julgamentos num sistema baseado em precedentes não
é o dispositivo da decisão, mas sim os elementos essenciais contidos em sua
fundamentação, determinantes para a resolução do caso”.

22. Sobre o tema: “O peso do ônus do afastamento de súmula, jurisprudência ou precedente


invocado pela parte foi, felizmente, levado em consideração pelo novo Código. Não podem,
como hoje usualmente se faz, ser pura e simplesmente ignorados, como se aquele caso
estivesse sendo posto à apreciação do Judiciário pela primeira vez. Deve, o magistrado, juiz,
desembargador ou ministro do tribunal superior, demonstrar que o caso a ser julgado apresenta
peculiaridades em relação àquele sobre o qual versa o precedente ou a jurisprudência, e àqueles
que deram origem à súmula. Pode, em vez disso, demonstrar que o afastamento da tese contida
na súmula ou dos fundamentos determinantes (ratio decidendi) do precedente ou da jurisprudência
estão superados.” WAMBIER, Teresa Arruda Alvim; LINS CONCEIÇÃO, Maria Lúcia; SILVA
RIBEIRO, Leonardo Ferres da; MELLHO, Rogerio Licastro Torres de. Primeiros Comentários
ao Novo Código de Processo Civil, artigo por artigo. RT, 1º, ed. São Paulo, 2015.
23. Sobre o tema: “E aqui poderíamos ampliar no caso brasileiro para o uso de ementas de julgados e
súmulas sem reflexão e como âncoras facilitadoras dos julgamentos, com o único sentido privado
de otimizar numericamente o número de decisões. Faz-se uso de súmulas e “precedentes” sem
a devida recuperação do(s) caso(s) paradigma(s), valendo-se apenas de ementas ou do pequeno
texto das súmulas, como se uns e outros pudessem ter algum sentido sem aquilo (os casos) que
lhes deram origem e se confundindo a ratio decidendi (fundamento determinante) com algum
trecho da ementa ou do voto.” THEODORO JÚNIOR, Humberto. Novo CPC – Fundamentos
e sistematização / Humberto Theodoro Júnior, Dierle Nunes, Alexandre Melo Franco Bahia,
Flávio QuinaudPedron – Rio de Janeiro: Forense, 2015.
24. ASSIS, Araken de. Processo civil brasileiro, volume III (livro eletrônico): parte especial:
procedimento comum (da demanda à coisa julgada) /Araken de Assis. 1 ed. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2015b.
25. BAPTISTA, Gabriel Carmona; SOUZA, Camila Nayara. A fundamentação da decisão judicial
e o art. 489 do novo código de processo civil. In: FUGA, Bruno Augusto Sampaio (et. al. org.).
Principais Inovações do Novo Código de Processo Civil. Birigui, SP: Boreal, 2017, p. 367.
32 RECURSOS EM ESPÉCIE NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

Sobre obiter dictum, é de se mencionar que, em regra, fica excluído do


âmbito de abrangência do precedente. São os fundamentos postos na decisão,
mas não imprescindíveis para a sua sustentação lógica26. De acordo com
Araken de Assis27, a ratio decidendi resulta da individualização do holding e da
abstração dos obiter dicta irrelevantes.
Sobre o tema, o Enunciado 318 do FPPC pontua: “Os fundamentos
prescindíveis para o alcance do resultado fixado no dispositivo da decisão
(obiter dicta), ainda que nela presentes, não possuem efeito de precedente
vinculante”.
Deste modo, ganha grande importância teórica e prática a compreensão
dos institutos da ratio decidendi e obiter dicta e suas especificidades. Para estar em
condições de cobrar o julgador, deve o advogado conhecer a distinção entre
os termos e, assim, citar e pedir o respeito correto aos precedentes invocados.
De outra forma, também o julgador deve estar em condições de utilizar de
forma adequada e específica os termos, para, então, respeitar corretamente
o precedente e, quando não estiver em estrita observância, fazer o devido
distinguishing, tema adiante apresentado.

1.4 OVERRULING E DISTINGUISHING

Conforme já afirmado, o CPC/2015 tem especial cuidado com o


respeito e observância dos precedentes. Certamente esse cuidado visa a maior
segurança jurídica, pois, quando respeitados os precedentes, tem-se uma maior
previsibilidade das consequências das condutas juridicamente relevantes.

26. Sobre o tema: “Essas decisões que variam em graus de generalidade, porém, precisam ser
imprescindíveis ao resultado da decisão. Do contrário, não serão ratio decidendi, mas obiter dicta,
o que nos faz concluir que embora os argumentos  obiter dicta possam ter graus distintos de
generalidade, não são elas imprescindíveis ao resultado da decisão”. MEDINA, José Miguel
Garcia. Novo código de processo civil comentado: com remissões e notas comparativas ao
CPC/1973. 3ª Edição. São Paulo: Editora dos Tribunais, 2015.
Sobre o tema: “Portanto, um fundamento que não tem a adesão da maioria não se presta à
produção de uma ratio decidendi”. BARROSO, Luís Roberto; MELLO, Patrícia Perrone Campo.
Trabalhando com uma nova lógica: a ascensão dos precedentes no direito brasileiro. 2016, p. 24.
Sobre o tema: “Limites objetivos do efeito vinculante – É questão controversa e ainda aberta à
consolidação do entendimento do STF a do objeto do efeito vinculante. Em princípio, o efeito
vinculante recai sobre a parte dispositiva do julgado. Não se estende aos seus fundamentos
determinantes, ou ratio decidendi, tal como sucede no direito alemão (tragande Gründe), entendida
a ratio como a regula iuris resultante da leitura jurisprudencial. Em tal caso, ademais, cumpriria o
distinguir na motivação os obiter dicta, ou seja, os argumentos acessórios, prescindíveis à conclusão
tomada. Vozes de elevado merecimento defendem essa extensão,  e, ocasionalmente, o STF a
adotou.” ASSIS, Araken de. Processo civil brasileiro, volume II (livro eletrônico): parte geral:
institutos fundamentais / Araken de Assis. 1 ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015.
27. ASSIS, Araken de. Processo civil brasileiro, volume II (livro eletrônico): parte geral: institutos
fundamentais / Araken de Assis. 1 ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015.
Elementos essenciais dos recursos de acordo com o CPC/2015 33

Pensando nisso, o CPC/2015 traz, claramente, como “valor” o respeito


ao precedente; porém tomando a cautela de prever que, quando for preciso
proceder de modo diverso o julgamento ou fundamento da tese processual,
necessário será apresentar fundamentação para evidenciar o distinguishing.
Há distinguishing quando se afirma que determinado paradigma não
deve ser aplicado ao caso concreto, seja porque há diversidade absoluta
entre suas respectivas ratio decidendi, ou ainda porque, apesar de semelhantes
determinadas circunstâncias, há especificidades próprias que determinam
tratamento diferenciado – o que deve ser evidentemente fundamentado.
Dessa matéria, trata o art. 489, §1º, VI, do CPC/2015.
A regra então é uma parte apresentar “enunciado de súmula,
jurisprudência ou precedente”, a parte contrária apresentar suas considerações
e o julgador analisar a ratio decidendi do caso em questão, bem como a ratio
decidendi do enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente apresentado
pela parte, para avaliar se é o caso de aplicação do paradigma invocado por
uma parte, ou se é adequado proceder o distinguishing.
Vale frisar: diversas são as hipóteses para o simples caso apresentado,
dentre elas o julgador28 pode entender ser caso de mesma ratio decidendi,
acolhendo o pedido e fundamentado; pode também entender não ser o caso
de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente apresentado
pela parte e, neste caso, deverá fundamentar o devido distinguishing.
Ou seja, de acordo com o texto legal (CPC, 489, §1º, VI), ao não aplicar
enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente apresentado pela parte,
o magistrado deve demonstrar a existência de distinção relevante no caso em
julgamento ou a superação do entendimento. Poderá o julgador demonstrar,
por exemplo, superação de entendimento, não ter o precedente a mesma
ratio decidendi, ter apenas o precedente um obiter dictum semelhante ao caso e,
portanto, não ser vinculante, ou analisar se precedente é obrigatório ou não29.

28. “Interpretação da motivação – O art. 489, § 3.º, ocupa-se inovadoramente, da interpretação


da motivação. Impõe a interpretação integral de todos os seus elementos e segundo a boa-
fé. Entenda-se bem: a auctoritas rei iudicate recairá sobre o dispositivo, mas a motivação dos
acórdãos, especialmente nos casos repetitivos (art. 928), assume relevo transcendente, porque
autorizará o juiz, ou não, aplicar o precedente (art. 489, § 1.º, V), identificando a ratio decidendi
e indicando seu ajustamento à espécie sob julgamento, ou a realizar o distinguishing do art. 489,
§ 1.º, VI”. ASSIS, Araken de. Processo civil brasileiro, volume II (livro eletrônico): parte geral:
institutos fundamentais / Araken de Assis. 1 ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015.
29. Sobre o tema: “Também nesses ordenamentos, malgrado tais esforços, há precedentes que
exibem vários fundamentos bastantes à conclusão e há precedentes que não têm nenhum. E as
técnicas do distinguishing e do overruling, pois o progresso é tão indispensável no direito, quanto
nas outras áreas do saber humano, como se notou há muito tempo, permitem afastar o vínculo
para os casos subsequentes. Assim, a Suprema Corte americana a alterar radicalmente, na metade
do Século XX, a vetusta jurisprudência do século anterior. É o que se designa de stylus iudicandi.
ASSIS, Araken de. Processo civil brasileiro, volume II (idem).
34 RECURSOS EM ESPÉCIE NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

Sobre essa análise de interpretação e identificação de eventual


distinguishing, Daniel Mitidiero30 afirma:
Identificar a  ratio decidendi e saber se essa é aplicável à
solução de uma questão constante de um dado caso exigem
interpretação. Em especial, exigem a comparação entre
semelhanças e distinções entre os casos. Em outras palavras:
impõe a identificação de uma “relevant similarity” ou a
necessidade de uma “distinguishing” entre os casos.
A ausência de distinguishing implicará ausência de fundamentação
da decisão, além, é claro, de dar margem à grande insegurança jurídica. O
dispositivo legal é da mais alta importância (CPC, 489, §1º, VI) por justamente
ter a pretensão de deixar a aplicação do ordenamento jurídico mais racional e,
por via de consequência, segura.
Outro ponto que merece destaque é o instituto do overruling. Já se
afirmou em outra oportunidade31 que diversas decisões de cortes superiores
são abruptamente alteradas, modificando entendimentos firmados por anos
e, assim, causando grande insegurança32. É o efeito banana boat já observado
e salientado até mesmo por Ministro do STJ no exercício de sua função
jurisdicional33.
Para coibir essa insegurança que pode assolar a aplicação do ordenamento
jurídico, o CPC/2015 inovou positivando o instituto do overruling. De acordo
com o art. 926, “os tribunais devem uniformizar sua jurisprudência e mantê-
la estável, íntegra e coerente”. Porém, como o Direito não é engessado (pois

30. MITIDIERO, Daniel. Precedentes. Da persuasão à vinculação. Revista dos Tribunais. 2016.
31. FUGA, Bruno Augusto Sampaio Fuga. O ordenamento jurídico, o poder e a economia.
Instrumentalidade a priori e racionalidade a posteriori. Editora Boreal, 2016.
32. Sobre o tema: “Os comportamentos adotados devem proporcionar os efeitos legitimamente
calculados. Alterar o Direito de forma retroativa, por exemplo, é algo que, a toda evidência,
perturba esse básico ideal. OLIVEIRA, Paulo Mendes de. Coisa julgada e precedente: limites
temporais e as relações jurídicas de trato continuado. Paulo Mendes de Oliveira. São Paulo.
Editora Revista dos Tribunais. 2015, p. 26.
33. AgRg no Recurso Especial n.º 382.736/SC “Nós somos os condutores, e eu - Ministro de um
Tribunal cujas decisões os próprios Ministros não respeitam - sinto-me, triste. Como contribuinte,
que também sou, mergulho em insegurança, como um passageiro daquele vôo trágico em que o
piloto que se perdeu no meio da noite em cima da Selva Amazônica: ele virava para a esquerda,
dobrava para a direita e os passageiros sem nada saber, até que eles de repente descobriram
que estavam perdidos: O avião com o Superior Tribunal de Justiça está extremamente perdido.
Agora estamos a rever uma Súmula que fixamos há menos de um trimestre. Agora dizemos que
está errada, porque alguém nos deu uma lição dizendo que essa Súmula não devia ter sido feita
assim. Nas praias de Turismo, pelo mundo afora, existe um brinquedo em que uma enorme bóia,
cheia de pessoas é arrastada por uma lancha. A função do piloto dessa lancha é fazer derrubar as
pessoas montadas no dorso da bóia. Para tanto, a lancha desloca-se em linha reta e, de repente,
descreve curvas de quase noventa graus. O jogo só termina, quando todos os passageiros da bóia
estão dentro do mar. Pois bem, o STJ parece ter assumido o papel do piloto dessa lancha. Nosso
papel tem sido derrubar os jurisdicionados.”
Elementos essenciais dos recursos de acordo com o CPC/2015 35

a sociedade apresenta constantes inovações), os precedentes podem ser


alterados, desde que se observe os § 2º a 4º do art. 927:
§ 2º A alteração de tese jurídica adotada em enunciado de
súmula ou em julgamento de casos repetitivos poderá ser
precedida de audiências públicas e da participação de pessoas,
órgãos ou entidades que possam contribuir para a rediscussão
da tese.§ 3º Na hipótese de alteração de jurisprudência
dominante do Supremo Tribunal Federal e dos tribunais
superiores ou daquela oriunda de julgamento de casos
repetitivos, pode haver modulação dos efeitos da alteração no
interesse social e no da segurança jurídica.§ 4º A modificação
de enunciado de súmula, de jurisprudência pacificada ou de
tese adotada em julgamento de casos repetitivos observará
a necessidade de fundamentação adequada e específica,
considerando os princípios da segurança jurídica, da proteção
da confiança e da isonomia.
Sobre o tema, o Enunciado 320 do FPPC: “Os tribunais poderão sinalizar
aos jurisdicionados sobre a possibilidade de mudança de entendimento da
corte, com a eventual superação ou a criação de exceções ao precedente para
casos futuros”.34
Ou seja, o CPC/2015, de forma digna de aplauso, disciplinou
expressamente a possibilidade de mudanças de entendimentos35 (overruling),
porém com toda uma sistemática adequada para não dar margem à
insegurança jurídica36. Um precedente pode ser alterado de forma integral
(o que se denomina overruling) ou parcial (overturning). O precedente pode ser
também reescrito (overriding) ou transformado (transformation).

34. Sobre o tema, o Enunciado 322 do FPPC, verifica-se que: “A modificação de precedente
vinculante poderá fundar-se, entre outros motivos, na revogação ou modificação da lei em que ele
se baseou, ou em alteração econômica, política, cultural ou social referente à matéria decidida”.
35. Sobre o tema, conforme apontado em outro estudo, “não há mais como conceber um sistema
de precedentes que não permita a alteração do entendimento que os formou. Por outro lado, um
sistema jurídico que adota o sistema de precedentes precisa estabelecer regras e limites para a
alteração dos entendimentos dos seus tribunais, sob pena de negligenciar a proteção dos próprios
princípios que ele visa garantir e proteger ao instituir o regime de precedentes”. MEDINA, José
Miguel Garcia. Novo código de processo civil comentado: com remissões e notas comparativas
ao CPC/1973. 3ª Edição. São Paulo: Editora dos Tribunais, 2015.
Sobre o tema: “A superação de um precedente (overruling) constitui a resposta judicial ao desgaste da
sua congruência social e coerência sistêmica. Quando o precedente carece desses atributos, os princípios
básicos que sustentam a regra do stare decisis – segurança jurídica e igualdade – deixam de autorizar
a sua replicabilidade (replicability), com o que o precedente deve ser superado. Essa conjugação é
tida pela doutrina como a norma básica para superação de precedente (basic overruling principle).”
MARINONI, Luiz Guilherme. Julgamento nas cortes supremas. Precedente e decisão do recurso
diante do novo CPC. 1 ed. baseada na 1 ed impressa. 2015b.
36. Sobre o tema: “O  overruling  é a superação total do precedente e constitui um poder dado
apenas aos órgãos que foram encarregados da sua formulação mediante um complexo encargo
argumentativo, que envolve a demonstração do desgaste do precedente no que tange à sua
congruência social e consistência sistêmica.” MITIDIERO, Daniel. Precedentes: da persuasão à
vinculação (versão e-book). São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016.
36 RECURSOS EM ESPÉCIE NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

De forma prática, portanto, deve o advogado cobrar respeito aos


precedentes e cobrar também, sempre que viável, julgamentos com não
incidência de overruling, pois o respeito ao precedente com mesma ratio
decidendi, sobretudo, precedentes obrigatórios, é de grande importância para a
harmonia do ordenamento jurídico como um todo. Para o julgador, também
se fazem importantes o estudo e a aplicação rigorosa dessa terminologia, pois
o respeito à previsibilidade passa justamente pelo seu crivo. Outro ponto de
vista pode, contudo, ser alcançado com esses institutos, pois em determinados
momentos os anseios sociais pedem mudanças de comportamento (pelas
mais diversas razões) e, quando necessário, decisões e precedentes devem
aplicar a sistemática de overruling – porém com o máximo respeito à norma
processual quanto ao ponto em questão, especialmente no que diz respeito ao
dever de fundamentação específica.
Por fim, o distinguishing encerra este tópico de análise do respeito aos
precedentes e desse novo paradigma do CPC/2015. O precedente deve ser
respeitado; todavia, quando ele não guardar a mesma ratio decidendi, deve-se
fazer o distinguishing – de tão lógico o assunto é simples e, portanto, brilhante
para ser utilizada e seguida pelos operadores do direito essa linha de raciocínio.
37

1.5 O PREQUESTIONAMENTO

Fechando o assunto sobre os elementos essenciais de um recurso,


o prequestionamento é de suma importância38. Desde a inicial ou desde
os primeiros atos de defesa do processo, havendo necessidade, é preciso
questionar matérias para viabilizar eventual recurso especial ou recurso
extraordinário.
Antes do recurso pertinente então é preciso prequestionar, ou seja,
abordar, questionar, ventilar a discussão nos argumentos processuais. Não
37. Sobre o tema, o Enunciado 364 do FPPC: “(art. 1.036, §1º) O sobrestamento da causa em
primeira instância não ocorrerá caso se mostre necessária a produção de provas para efeito de
distinção de precedentes”.
Sobre o tema: “Dada a possibilidade de o magistrado afastar a aplicação do precedente, é evidente
que a valorização da jurisprudência de modo algum acarreta o engessamento do Judiciário e
de suas decisões, com observância da dinâmica da sociedade. As modificações quanto à
fundamentação das decisões inseridas pela nova legislação processual constituem um terreno
áspero e de difícil aceitação, sobretudo num sistema jurídico em que se fala com naturalidade
em um livre convencimento praticamente absoluto. Todavia, as alterações promovidas pelo
novo diploma devem ser vistas com otimismo, tendo em vista que a valorização dos precedentes
judicias em especial pode resultar em inúmeros benefícios no ordenamento jurídico nacional”.
BAPTISTA, Gabriel Carmona; SOUZA, Camila Nayara. A fundamentação da decisão judicial e
o art. 489 do novo código de processo civil. In: FUGA, Bruno Augusto Sampaio (et. al. org.).
Principais Inovações do Novo Código de Processo Civil. Birigui, SP: Boreal, 2017, p. 370.
38. A este respeito, cf. os capítulos 7 e 8.
Elementos essenciais dos recursos de acordo com o CPC/2015 37

basta apenas no ato da interposição do recurso apresentar a matéria que


viabilizaria o cabimento do REsp ou do RE; é preciso antes da interposição do
próprio recurso questionar a sua aplicação, em outras palavras, prequestionar.
Pertinente recurso especial (CF, art. 105, III)39, desde os primeiros atos
processuais deverá o interessado prequestionar, por exemplo, a existência
de precedente com mesma ratio decidendi em outro Tribunal (CF, art. 105,
III, “c”). Pode ainda o interessado prequestionar a aplicabilidade de Lei
Federal ao caso concreto (CF, art. 105, III, “a”). Não sendo a argumentação
acolhida e estando o assunto devidamente presquestionado, além de respeitar
outros requisitos legais (CPC, art. 1.029 e ss.), o recurso especial deverá ser
conhecido40.
Assim também para efeitos de eventual Recurso Extraordinário (CF,
art. 102, III)41, pois, por exemplo, existindo afronta à norma constitucional
(CF, art. 102, III, “a”), o assunto deverá desde os primeiros momentos
processuais ser ventilado de maneira específica.
O assunto sofreu grande alteração legal com o CPC/2015. Explica-se
o que hoje deve ser seguido, não a verdadeira confusão prática existente antes
do CPC/201542. De acordo com o art. 1.025 do CPC/2015, “consideram-se
39. “III - julgar, em recurso especial, as causas decididas, em única ou última instância, pelos Tribunais
Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a
decisão recorrida: a) contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigência; b) julgar válido ato
de governo local contestado em face de lei federal; c) der a lei federal interpretação divergente da
que lhe haja atribuído outro tribunal.”
40. Sobre o tema: “O recurso extraordinário e o recurso especial têm por objeto o controle da correta
aplicação, respectivamente, das normas constitucionais e das normas infraconstitucionais federais
(v. cap. 29, adiante). Para que caibam tais recursos, é indispensável que a questão constitucional
ou de direito federal tenha sido posta no processo e enfrentada pela decisão recorrida. É o
chamado prequestionamento”. WAMBIER, Luiz Rodrigues. Curso Avançado de Processo Civil
(...), 2016
Sobre o tema: “Em qualquer caso, porém, o recorrente tem o ônus de demonstrar nas suas razões
recursais a causa constitucional ou a causa federal que pretende ver examinada pelo Supremo Tribunal
Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça. Vale dizer: tem o ônus de apontar na decisão recorrida a
questão constitucional ou a questão federal que entende equivocadamente tratada. Na prática,
esse requisito é chamado de prequestionamento – nada obstante prequestionar seja na verdade uma
atividade voltada ao enfrentamento pelo órgão que prolatou a decisão recorrida de determinada
questão.” MARINONI, Luiz Guilherme. Novo curso de processo civil: tutela dos direitos
mediante procedimento comum (...), 2015. Curso de Processo Civil, v. 2.
41. “III - julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas em única ou última
instância, quando a decisão recorrida: a) contrariar dispositivo desta Constituição; b) declarar
a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal; c) julgar válida lei ou ato de governo local
contestado em face desta Constituição. d) julgar válida lei local contestada em face de lei federal.” 
42. Sobre o tema, o Enunciado 200 do FPPC: “Fica superado o Enunciado 320 da Súmula
do STJ (“A questão federal somente ventilada no voto vencido não atende ao requisito
do prequestionamento”).”
Sobre o tema: “É composto de um relatório e da decisão da maioria dos julgadores, unificada.
O NCPC tem regra salutar em que se diz que o  voto vencido  (o voto daquele que não
acompanhou a maioria) deve ser necessariamente declarada e é considerado parte integrante
do acórdão, principalmente para fins de prequestionamento.” WAMBIER, Teresa Arruda Alvim
38 RECURSOS EM ESPÉCIE NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

incluídos no acórdão os elementos que o embargante suscitou, para fins de


pré-questionamento, ainda que os embargos de declaração sejam inadmitidos
ou rejeitados, caso o tribunal superior considere existentes erro, omissão,
contradição ou obscuridade.”43
O novel diploma legal procurou solucionar antiga divergência
jurisprudencial do STF e STJ que causava grande insegurança jurídica44. Na
sistemática agora vigente, quando houver oposição de embargos de declaração
com fim de prequestionamento, mesmo os Embargos sendo inadmitidos ou
rejeitados, a matéria será considerada prequestionada.45
O prudente é apresentar o prequestionamento desde as primeiras
fases processuais e também em embargos de declaração nos termos do art.
1.025 do CPC/201546. Não se admitirá embargos de declaração47 apenas
para prequestionamento se as questões não forem ventiladas nos pertinentes
momentos processuais (defesa, inicial, recurso e afins)48. Ou seja, se a
(...), 2015.
43. A este respeito, cf. o capítulo 5.
44. Súmula STF 282: “É inadmissível o recurso extraordinário, quando não ventilada, na decisão
recorrida, a questão federal suscitada.”
Súmula STF 356 (ficto): “O ponto omisso da decisão, sobre o qual não foram opostos
embargos declaratórios, não pode ser objeto de recurso extraordinário, por faltar o requisito do
prequestionamento.”
Súmula STJ 211 (real): “Inadmissível recurso especial quanto à questão que, a despeito da
oposição de embargos declaratórios, não foi apreciada pelo Tribunal a quo”.
Súmula STJ 320: “A questão federal somente ventilada no voto vencido não atende ao requisito
do prequestionamento”.
Súmula STJ 98: “Embargos de declaração manifestados com notório propósito de
prequestionamento não tem caráter protelatório”.
Sobre o tema: “ Trata-se de inovação que prestigia a racionalidade e a eficiência do sistema
recursal”. WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Recurso Especial, (...), 2016.
45. Sobre o tema: “Deste modo, o CPC/2015 reconheceu a possibilidade de os embargos viabilizarem
diretamente o reconhecimento das omissões apontadas pelo órgão julgador, evitando duplicações
recursais, ou seja, interpor um recurso para analisar a violação do artigo 1.022 do CPC e outro
recurso para analisar a questão anteriormente omitida. Assim, da análise do artigo 1.025 do
CPC/2015, denota-se que foi consagrada a tese do prequestionamento ficto, sendo aquele que
se considera ocorrido com a simples interposição dos embargos de declaração diante da omissão
judicial, independentemente do seu êxito.” GIORGIANI, Camila Fonseca Rupp. Embargos de
declaração e as alterações no novo código de processo civil. In: FUGA, Bruno Augusto Sampaio
(et. al. org.). Principais Inovações do Novo Código de Processo Civil. Birigui, SP: Boreal, 2017,
p. 447.
46. Sobre o tema: “O CPC/2015 alterou essa orientação, dispondo em seu art. 1.025 que, mesmo
quando inadmitidos ou rejeitados os embargos de declaração, consideram-se as questões
nele suscitadas para fins de  prequestionamento  incluídas no acórdão (...)”. WAMBIER, Luiz
Rodrigues. Curso Avançado de Processo Civil (...), 2016
47. A este respeito, a controvérsia fica por conta das matérias de ordem pública, que, em tese,
deveriam ser conhecidas pelo tribunal independentemente de arguição específica da parte.
A boa prática, contudo, recomenda que sejam aventadas todas as matérias relevantes para o
deslinde da questão, desde o alvorecer da relação jurídica processual, inclusive para evitar riscos
desnecessários de não admissão de recursos posteriormente.
48. CPC, art. 941, § 3o O voto vencido será necessariamente declarado e considerado parte integrante
Elementos essenciais dos recursos de acordo com o CPC/2015 39

parte se desincumbir desse ônus de prequestionar, mesmo o acórdão não


manifestando exatamente sobre esses pontos e argumentos, considerar-se-á
prequestionada a matéria.

do acórdão para todos os fins legais, inclusive de pré-questionamento.”


CAPÍTULO II

RECURSO DE APELAÇÃO E A
APLICABILIDADE DO ART. 1.012,
§3º DO CPC. CONCESSÃO DO
EFEITO SUSPENSIVO

No presente capítulo1, discorre-se sobre algumas inovações trazidas


pelo CPC/2015, em especial relacionadas ao manejo do recurso de apelação
e à possibilidade de interposição de Recurso para concessão de efeito
suspensivo em determinadas hipóteses.
É sabido que a regra do CPC/2015 (o antigo Código também
contemplava essa mesma sistemática), é a atribuição de efeito suspensivo à
Apelação; no entanto, as hipóteses do § 1º do art. 1.012 trazem as exceções
nas quais, em determinadas circunstâncias, o recurso não será recebido em seu
efeito suspensivo. Nestas situações, possível será formular pedido de que seja
dado início ao cumprimento provisório da sentença, mesmo na pendência de
Apelação.
Nessa situação de não concessão do efeito suspensivo, poderá ser
interposto recurso em duas modalidades, conforme se verá adiante neste
mesmo capítulo. O tema tem grande importância teórica e prática, inclusive
com grandes inovações legais trazidas pelo CPC/2015.
Inicia-se presente capítulo pontuando algumas alterações legislativas
relativas especificamente ao recurso de apelação, posteriormente é tratada a
regra disposta na Lei sobre o efeito suspensivo. Quando estiverem presentes
as situações descritas no art. 1.012, § 1º, ter-se-á um recurso pertinente,
tema este a ser analisado com atenção. Também se apresentam algumas
considerações sobre a tutela provisória recursal, assunto que tem profunda
ligação com o recurso do art. 1.012, §§ 3º e 4º do CPC/2015.

1. Parte deste capítulo, antes da publicação do livro, foi publicado como artigo na Revista REDP, v.
18, n. 2 (2017).
42 RECURSOS EM ESPÉCIE NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

Adiante, portanto, o desenvolvimento do tema.

2.1 O RECURSO DE APELAÇÃO E O CPC/2015

O recurso de apelação encontra previsão legal nos artigos 1.009 a


1.014 no CPC/2015. Trata-se de recurso “padrão” para ser manejado contra
qualquer espécie de sentença, de jurisdição voluntária ou não. Como novidade,
com o advento do CPC/2015, além de ser recurso previsto especificamente
para impugnar sentenças, passou também a ser instrumento adequado para
a suscitação, em preliminar, de questões resolvidas ao longo da fase de
conhecimento – quando a decisão a seu respeito não comportar agravo de
instrumento, o que implica inexistência de preclusão (CPC, art. 1.009, §1º).
Há, então, com o CPC/2015, uma importante mudança de paradigma
no que tange ao recurso de apelação, pois o referido recurso além de ser
pertinente para impugnar sentença, como já ocorria nos diplomas adjetivos
civis anteriores, passou também a ter a função de veicular, como matéria
preliminar, questionamentos dirigidos contra decisões interlocutórias que
tenham tratado de assuntos não previstos no rol claramente taxativo2 do
agravo de instrumento.
É digna de nota, também, outra grande inovação, mais especificamente
sobre os assim denominados honorários recursais, pois, de acordo com o
art. 85, §1º do CPC, “são devidos honorários advocatícios na reconvenção,
no cumprimento de sentença, provisório ou definitivo, na execução, resistida
ou não, e nos recursos interpostos, cumulativamente”, sendo, ainda, que,
segundo o art. 85, § 11, primeira parte, “o tribunal, ao julgar recurso, majorará
os honorários fixados anteriormente levando em conta o trabalho adicional
realizado em grau recursal”.
Como não cabe ao juiz de primeiro grau decidir sobre a admissibilidade
do recurso de apelação (CPC, art. 1.010, §3º),3 cabe a ele apenas constatar
se a hipótese recursal, no caso concreto, encaixa-se no rol do art. 1.012, §1º
do CPC (em que o recurso, em regra, não teria efeito suspensivo); sendo,
aliás, que sequer cabe ao juiz de primeiro grau analisar pedidos de eventual
2. Vale, aqui, ressalvar o entendimento já exposto em outras oportunidades de que o rol de hipóteses
de cabimento do recurso de agravo de instrumento, previsto no art. 1.015 do CPC, mesmo que
evidentemente taxativo, por certo não é exaustivo.
3. O que também constitui inovação do CPC/2015, haja vista o fato de que o art. 518, § 1º do
CPC/1973, previa a possibilidade de o juiz negar-se a receber o recurso de apelação quando a
sentença estivesse em conformidade com súmula do Superior Tribunal de Justiça ou do Supremo
Tribunal Federal.
Sobre o tema: “O recurso de apelação continua sendo interposto no 1º grau de jurisdição,
tendo-lhe sido, todavia, retirado o juízo de admissibilidade, que é exercido apenas no 2º grau de
jurisdição. Com isso, suprime-se um novo foco desnecessário de recorribilidade.” (Exposição de
motivos do CPC)
Recurso de apelação e a aplicabilidade do art. 1.012, §3º do CPC 43

atribuição excepcional de efeito suspensivo a recurso de apelação em


situações expressamente previstas no art. 1.012, §1º do CPC – já que, para
essas situações, o texto legal prevê competência diversa, conforme se verá
adiante.

2.2 EM REGRA, O EFEITO SUSPENSIVO

Como já se adiantou no início deste capítulo, a Apelação é dotada, em


regra, de efeito suspensivo (CPC, art. 1.012, caput); a regra geral (CPC, art.
995); contudo, vale lembrar que os demais recursos não têm efeito suspensivo
ex lege. Significa que, em regra, a sentença deixará de ter eficácia imediata,
quando houver interposição do recurso de apelação; a decisão judicial,
portanto, neste caso, nasce sem eficácia4. Disto resulta, portanto, que o efeito
suspensivo não nasce exatamente com a interposição do recurso, mas sim
com a própria prolação da decisão impugnável por recurso de apelação5–

4. Sobre o tema: “Ressalvadas as exceções previstas nos incisos deste artigo e em leis especiais, a
apelação tem efeito suspensivo, ou seja, retira a eficácia da sentença desde o momento em que é
proferida até o julgamento daquela. É que a previsão de recurso com efeito suspensivo faz com
que a decisão judicial nasça sem eficácia e nesse estado permaneça até que o recurso seja julgado.
Neste lapso de tempo, a sentença não pode ser executada, nem mesmo provisoriamente.”
FERREIRA FILHO, Manoel Caetano. Código de Processo Civil Anotado. OAB Paraná. 2015, p.
1573.
Sobre o tema: “Além de poder ser concedida liminarmente ou depois da oitiva do réu, a “tutela
provisória” pode ainda ser prestada ao longo de todo o procedimento comum e mesmo na
própria sentença. É claro que o racional, em um sistema que trabalha com a técnica antecipatória,
seria que a sentença tivesse eficácia imediata, o que implicaria ausência de efeito suspensivo da
apelação.  O Código de Processo Civil, porém, perdeu a oportunidade de corrigir essa grave
irracionalidade do processo civil brasileiro – a de admitir que decisões fundadas em cognição
sumária tenham eficácia imediata e decisões fundadas em cognição exauriente não tenham – e
manteve o efeito suspensivo da apelação (art. 1.012).” MARINONI, Luiz Guilherme. Novo curso
de processo civil: tutela dos direitos mediante procedimento comum, volume II. Luiz Guilherme
Marinoni, Sérgio Arenhart, Daniel Mitidiero. São Paulo, Editora Revista dos Tribunais, 2015.
Curso de Processo Civil, v. 2.
Sobre o tema: “Curiosamente, a sistemática de efeitos do recurso de apelação vai contra a
produção de efeitos concretos através da tutela provisória. Permite-se que decisões liminares
produzam efeitos imediatamente, mas assim não ocorre com as decisões atacadas via recurso
de apelação que, diga-se de passagem, percorreram todo o processo, exaurindo o contraditório
e ampla defesa.” PALEARI, Fábio Nascimento. Teoria Geral dos Recursos: principais inovações
das disposições gerais dos recursos no novo código de processo civil. In: FUGA, Bruno Augusto
Sampaio (et. al. org.). Principais Inovações do Novo Código de Processo Civil. Birigui: Boreal,
2017, p. 401.
Sobre o tema: “A preservação dessa regra representa, na minha opinião – e com o devido respeito
do entendimento contrário –, um dos grandes retrocessos do CPC de 2015, máxime porque
conflita frontalmente com o que, a este respeito, propuseram o Anteprojeto e o Projeto do
Senado. Infelizmente, o Senado, na derradeira fase do processo legislativo, não recuperou a sua
própria proposta (art. 968 do Projeto do Senado), mantendo, em última análise, a regra de que a
apelação, no direito processual civil brasileiro, tem (e continua a ter) efeito suspensivo.” BUENO,
Cassio Scarpinella. Manual de direito processual civil: inteiramente estruturado à luz do novo
CPC – Lei n. 13.105, de 16-3-2015. São Paulo: Saraiva, 2015.
5. Tanto é verdade, que, salvo nas hipóteses do art. 1.012, § 1º do CPC, não se cogita a possibilidade
44 RECURSOS EM ESPÉCIE NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

exceto nas hipóteses excepcionais em que há previsão legal expressa de não


ocorrência de efeito suspensivo, em regra, mesmo com a interposição do
recurso – situações estas especificadas no art. 1.012, §1º do CPC.
Na opinião de Ferreira Filho6, “ao manter o efeito suspensivo à apelação
como regra, este Código não conseguiu se desvencilhar de nefasto ranço
histórico”7. O questionamento, para aqueles que são críticos da manutenção do
efeito suspensivo automático como regra geral da Apelação, está relacionado,
por exemplo, à circunstância de um processo de cognição exauriente não
ter sua eficácia com a sentença de primeiro grau (salvo algumas poucas
exceções previstas no texto legal). Poderia o Código ter adotado outra técnica
processual para conferir maior eficácia e força para a sentença de primeiro
grau, porém assim não fez,8 e como mencionado acima, possivelmente, por
força de elementos mais históricos do que exatamente técnicos.9
Deste modo, como descrito, em algumas situações, com maior
necessidade de eficácia imediata da decisão, o legislador optou pela via da
não atribuição de efeito suspensivo, como regra, como consequência da
interposição do recurso de apelação (CPC, art. 1.012, §1º). É sobre essas
possibilidades, que viabilizam a execução provisória de “imediato”, que são
traçadas algumas considerações.
Destaca-se que essa é uma situação peculiar ao recurso de apelação,
pois para o recurso de agravo de instrumento, por exemplo, não há a regra do
efeito suspensivo. O efeito suspensivo, nos outros recursos, em geral, aliás, é
a exceção e depende de decisão do relator (CPC, art. 932, II e 995).10
de cumprimento de sentença – mesmo que provisório – imediatamente após a sua prolação,
enquanto ainda não interposto ou transcorrido o prazo do recurso de apelação.
6. FERREIRA FILHO, Manoel Caetano. Código de Processo Civil Anotado. OAB Paraná. 2015, p.
1573.
7. Sobre o tema: “De qualquer sorte, a concessão da tutela da evidência será de enorme valia para
“tirar” ou evitar o efeito suspensivo do recurso de apelação lamentavelmente preservado como
regra pelo CPC de 2015 (art. 1.012, caput)”. BUENO, Cassio Scarpinella. Manual de direito
processual civil: inteiramente estruturado à luz do novo CPC – Lei n. 13.105, de 16-3-2015. São
Paulo: Saraiva, 2015.
Sobre o tema, Enunciado 559 do FPPC: “O efeito suspensivo ope legis do recurso de apelação não
obsta a eficácia das decisões interlocutórias nele impugnadas.”
8. Vale salientar, de qualquer forma, que a opção, no processo legislativo, é uma expressão
eminentemente política – e não estritamente técnico-jurídica, como se poderia, possivelmente,
supor.
9. Sobre o tema: “Prolonga a situação de ineficácia da sentença, a que esta se sujeita, só pelo fato de
ser impugnável por meio de recurso que tem efeito “suspensivo”. Vê-se, pois, que não decorre da
interposição do recurso, mas da situação de recorribilidade.” WAMBIER, Teresa Arruda Alvim;
LINS CONCEIÇÃO, Maria Lúcia; SILVA RIBEIRO, Leonardo Ferres da; MELLHO, Rogerio
Licastro Torres de. Primeiros Comentários ao Novo Código de Processo Civil, artigo por artigo.
RT, 1º, ed. São Paulo, 2015.
10. Aliás, a atribuição de efeito suspensivo a outros recursos quaisquer, por parte do relator, na
forma dos art. 932, II e 995 do CPC, por ter cunho decisório, deve, evidentemente, em atenção
Recurso de apelação e a aplicabilidade do art. 1.012, §3º do CPC 45

2.3 A CONCESSÃO DO EFEITO SUSPENSIVO E O RECURSO


PERTINENTE

O disposto no art. 1.012, caput, determina que “a apelação terá efeito


suspensivo”, ou seja, essa é a regra geral relacionada a esta espécie de recurso
em particular. A exceção para tal regra de atribuição de efeito suspensivo no
recurso de apelação segue, porém, logo no primeiro parágrafo do referido
artigo, nos seguintes termos: “Além de outras hipóteses11 previstas em lei,
começa a produzir efeitos imediatamente após a sua publicação a sentença
que: I - homologa divisão ou demarcação de terras; II - condena a pagar
alimentos; III - extingue sem resolução do mérito ou julga improcedentes
os embargos do executado; IV - julga procedente o pedido de instituição de
arbitragem; V - confirma, concede ou revoga tutela provisória; VI - decreta
a interdição”; sendo que, logo a seguir, o § 2º desse mesmo artigo esclarece
que, nesses casos de não atribuição de efeito suspensivo automático, o
interessado poderá promover o pedido de cumprimento provisório tão logo
seja publicada a sentença.
A regra geral, então, determina o efeito suspensivo, como consequência
natural da interposição de recurso de apelação; todavia nas hipóteses
descritas acima a interposição do recurso não suspenderá, automaticamente,
a eficácia da sentença. O magistrado de primeiro grau, além do mais, não pode
atribuir efeito suspensivo ao recurso, pois se trata de competência exclusiva
do relator. Deste modo, se o risco for iminente, no ato da interposição do
recurso deverá o recorrente dirigir petição também ao Tribunal competente
nos termos do art. 1.012, §3º, I do CPC. O requerimento, neste caso, será
distribuído e o relator designado para apreciação da questão restará prevento.
No CPC/1973, por ausência de previsão legal expressa e específica,
o pedido de atribuição excepcional de efeito suspensivo ao recurso de
apelação, na prática, às vezes era formulado, por alguns advogados, por meio
de medida Cautelar Inominada12 (CPC/1973, art. 706 e ss). O CPC/2015,

ao determinado no art. 489, § 1º do CPC, indicar especificamente as circunstâncias excepcionais


que recomendam a medida em questão, em cada caso concreto.
11. Sobre outras hipóteses: art. 58, V, da Lei 8.245/1991 (Lei de Locações), art. 14, § 3.º, da Lei
12.016/2009 (Lei do Mandado de Segurança), art. 90 da Lei 11.101/2005 (Lei de Recuperação
Judicial), art. 164, § 7.º da Lei 11.101/2005 (Lei de Recuperação Judicial),
12. Sobre o tema: “Agravo Regimental – Ação Cautelar efeito suspensivo – Apelação – Cabimento –
Perigo de dano – Plausibilidade do direito – Configuração – Liminar concedida – Argumentações
que não infirmam o decisum – Decisão monocrática mantida – Recurso desprovido. I. A
demanda cautelar afigura-se instrumento processual cabível para se buscar a atribuição de efeito
suspensivo a recurso de apelação recebido inicialmente apenas no efeito devolutivo. Configurados
os requisitos ensejadores da concessão de medida cautelar, quais sejam, o perigo de dano e a
plausibilidade do direito, é de se deferi-la. II. Não havendo nenhum fato novo que importasse na
mudança de convencimento do relator, é de ser mantida a decisão agravada, pelos seus próprios
46 RECURSOS EM ESPÉCIE NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

por sua vez, traz expressa previsão legal para referido pedido/recurso, não
devendo mais ser veiculado por meio de Cautelar Inominada; no entanto,
o referido dispositivo não atribui denominação para a tal solicitação, nem
tampouco menciona a eventual necessidade de quaisquer formalidades, o que
implica, nos termos do art. 188,13 a possibilidade de ser veiculado por petição
simples, apenas atendendo as determinações dispostas no § 4º do art. 1.012
do CPC: “a eficácia da sentença poderá ser suspensa pelo relator se o apelante
demonstrar a probabilidade de provimento do recurso ou se, sendo relevante
a fundamentação, houver risco de dano grave ou de difícil reparação.”14
Da decisão do relator a respeito desse pedido de atribuição excepcional
de efeito suspensivo ao recurso de Apelação interposto nas hipóteses do art.
1.012, § 1º, caberá agravo interno,15 nos termos do art. 1.021 do CPC.
Importante lembrar, embora não sendo o foco deste capítulo, que
sobre o recurso pertinente a ser manejado na hipótese de concessão de
tutela provisória na sentença, o pacífico entendimento jurisprudencial é
ser a Apelação e não o agravo de instrumento: “[...] Não cabe agravo de
instrumento contra a sentença que julga pedido de antecipação de tutela. O
único recurso oportuno é a apelação.” (STJ, 3ª T., AGRg no Ag n.º 723.547/
DF, Rel. Min. Humberto Gomes de Barros, j. em 29/11/2007).16

fundamentos.”
(TJ/MS - AGR: 14102221320158120000 MS 1410222-13.2015.8.12.0000, Relator: Des. Marco
André Nogueira Hanson, Data de Julgamento: 29/09/2015, 3ª Câmara Cível, Data de Publicação:
01/10/2015)
13. Art. 188.  Os atos e os termos processuais independem de forma determinada, salvo quando a lei
expressamente a exigir, considerando-se válidos os que, realizados de outro modo, lhe preencham
a finalidade essencial.
14. Sobre o tema: “O pedido de efeito suspensivo deve ser efetuado em simples petição, porém
fundamentada, sem exigência de maiores formalidades”. FERREIRA FILHO, Manoel Caetano.
Código de Processo Civil Anotado. OAB Paraná. 2015, p. 1577.
Sobre o tema: “A suspensão do processo que originou a constrição, haja vista o duplo efeito
da apelação (art. 1.012, caput), perdurará até o trânsito em julgado da sentença ou do acórdão
desfavorável ao embargante, como acontece, em geral, nos interditos possessórios, salvo decisão
em contrário do relator (art. 1.012, § 4.º).”ASSIS, Araken de. Processo civil brasileiro, volume II
(livro eletrônico): parte geral: institutos fundamentais / Araken de Assis. 1 ed. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2015.
15. Sobre Agravo Interno, cf. o capítulo 4.
16. Sobre o tema: “Não obstante a melhor orientação doutrinária no sentido de que a decisão que
concede a medida antecipatória não perde sua natureza interlocutória mesmo se outorgada na
sentença – e, portanto, impugnável via agravo de instrumento, a jurisprudência é pacífica no
sentido de que o recurso a ser manejado é a apelação que deve ser recebida apenas no efeito
devolutivo quanto à antecipação de tutela, em razão da regra do art. 1.012, inciso V, do Código
de Processo Civil de 2015.” TESSER, André Luiz Bäuml. Código de Processo Civil Anotado.
OAB Paraná. 2015, p. 502.
Sobre o tema: “Desnecessário, portanto, pedido de concessão de efeito suspensivo dirigido ao
juízo a quo e eventual interposição de agravo de instrumento, em caso de decisão denegatória.”
PALEARI, Fábio Nascimento. Teoria Geral dos Recursos: principais inovações das disposições
gerais dos recursos no novo código de processo civil. In: FUGA, Bruno Augusto Sampaio (et.
Recurso de apelação e a aplicabilidade do art. 1.012, §3º do CPC 47

É bem verdade que essa questão poderia ganhar contornos de


complexidade e gerar dúvidas, com o advento do CPC/2015 e o novo
tratamento das tutelas de urgência e de evidência, mas o texto legal parece,
também, claro a este respeito – haja vista o fato de que o art. 1.015, caput,
especifica o cabimento de recurso de agravo de instrumento exclusivamente
“contra decisões interlocutórias”, por um lado, enquanto o art. 1.012, § 1º,
V do CPC ao tratar do recurso de apelação, faz referência às sentenças que
confirmam, concedem ou revogam tutela provisória, indistintamente.17
al. org.). Principais Inovações do Novo Código de Processo Civil. Birigui: Boreal, 2017, p. 402.
Sobre o tema: “De fato, trata-se de pronunciamento que teria sido normalmente concedido
liminarmente, mas, por alguma razão, não foi. Agora, no momento da sentença, a cognição já
é exauriente – ainda assim, o juiz pode conceder uma “liminar” tardia, que não será mais uma
liminar, mas um capítulo da sentença, em que se tutela ou a evidência (tardiamente percebida), ou
a urgência (de que o juiz se deu conta em momento adiantado do processo – melhor agora, do
que nunca; ou, então, porque a urgência configurou-se depois do início do processo e antes da
sentença). Então, o fato é que, ainda que soe estranho, o juiz pode, sim, conceder tutela provisória
na sentença.” WAMBIER, Teresa Arruda Alvim; LINS CONCEIÇÃO, Maria Lúcia; SILVA
RIBEIRO, Leonardo Ferres da; MELLHO, Rogerio Licastro Torres de. Primeiros Comentários
ao Novo Código de Processo Civil, artigo por artigo. RT, 1º, ed. São Paulo, 2015.
17. Uma parcela da possível dificuldade de compreensão do tema provavelmente está ligada à
multiplicidade recente de definições legais de sentença e decisão interlocutória – que implicam
quase que inevitavelmente dificuldades equivalentes na identificação do recurso correspondente.
O CPC/2015 faz nova tentativa de evolução nesta seara, dispondo, no art. 203, § 1º, que
“ressalvadas as disposições expressas dos procedimentos especiais, sentença é o pronunciamento
por meio do qual o juiz, com fundamento nos arts. 485 e 487, põe fim à fase cognitiva do
procedimento comum, bem como extingue a execução”, e, logo em seguida, no parágrafo
segundo, que “decisão interlocutória é todo pronunciamento judicial de natureza decisória que
não se enquadre no § 1º”.
Sobre o tema: “O Código de Processo Civil [de 1973], na sua origem (isto é, antes da Lei
11.232/2005), definiu sentença como o ato que põe fim ao processo, julgando ou não o mérito,
e decisão interlocutória como o ato que resolve questão incidente no curso do processo. Dessa
forma, o Código de Processo Civil tornou bastante simples a identificação do recurso apropriado
para impugnar os atos do juiz. Quando o ato colocava fim ao processo e, portanto, era qualificado
de sentença, cabível era o recurso de apelação. No caso em que era resolvida ‘questão incidente’
no curso do processo, qualquer que fosse o seu conteúdo, adequado seria o recurso de agravo.
Diante das alterações provocadas pela Lei 11.232/2005, sentença passou a ser ‘o ato do juiz
que implica alguma das situações previstas nos arts. 267 e 269 (...)’ (art. 162, § 1º). [...] Nesse
aspecto, a novidade da Lei 11.232/2005 está na existência de sentenças de mérito que não
extinguem o processo.” MARINONI, Luiz Guilherme. Curso de Processo Civil, vol. 2: processo
de conhecimento. 10 ed. São Paulo: RT, 2011, p. 404. Frise-se, uma vez mais, contudo, que a
nova redação do art. 203, § 1º do CPC/2015 procurou resolver a questão, conciliando elementos
da definição original do CPC/1973 e daquela que vigia a partir do advento da Lei 11.232/2005.
Sobre o tema, elucidando os motivos problemáticos que levaram à alteração da definição legal de
sentença até então vigente, pela Lei 11.232/2005, e que, de certa forma, ganharam novo fôlego
com a definição constante do art. 203, § 1º, do CPC/2015: “Ocorre que esta definição contida na
lei não era das mais precisas do ponto de vista da técnica processual. Basta dizer, para demonstrar
a impropriedade da definição, que a sentença não é (nem nunca foi) capaz de extinguir o processo,
eis que é possível a interposição de recurso contra a mesma, o que fará com que o processo
continue a se desenvolver. Em verdade, o módulo processual de conhecimento só se encerra
com o trânsito em julgado da sentença, o que se dá no momento em que se esgotam os recursos
cabíveis”. CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil, vol 1. 17 ed. Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 2008, p. 409.
Sobre o tema: “A fase de conhecimento apenas terá o seu término quando não mais cabível a
48 RECURSOS EM ESPÉCIE NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

Pode-se, aliás, eventualmente especular que a sistemática vigente


daria azo a alguma margem de risco de o juiz de primeiro grau, ao prolatar
a sentença, incluir nela uma tutela provisória de urgência (ou seja, mesmo
quando não estiverem necessariamente presentes os requisitos autorizadores
da concessão de tutela de evidência, que seria cabível, em tese, em hipóteses
mais restritas), cedendo a uma tentação demasiado humana de não submeter
sua própria decisão a um efeito suspensivo, no caso de interposição de
recurso de apelação pela parte vencida – mas não é demais repetir que tanto
a eficácia imediata da sentença nessas circunstâncias (CPC/2015, art. 1.012, §
1º, V) quanto o cabimento de Apelação e não de Agravo inclusive contra essa
parcela do conteúdo decisório (CPC/2015, art. 1.015, caput) são escolhas de
ordem política que se encontram claramente expressas no texto legal.

2.4 TUTELA PROVISÓRIA E O ARTIGO 299 § ÚNICO

Pelo exposto até este ponto, evidencia-se que, diante da eventual


necessidade concreta de concessão de efeito suspensivo, quando o caso tratar
de uma das hipóteses descritas no art. 1.012, §1º do CPC, necessário será um
provimento específico, e este deverá ser uma tutela provisória recursal – ou
seja, a própria concessão de efeito suspensivo ao recurso de apelação.
O art. 299, parágrafo único do CPC assim dispõe: “ressalvada disposição
especial, na ação de competência originária de tribunal e nos recursos a tutela
provisória será requerida ao órgão jurisdicional competente para apreciar o
mérito”.
Deste modo, nos recursos a tutela provisória18 será requerida
ao órgão jurisdicional competente para apreciar o mérito. Nos termos do

interposição de qualquer recurso para o combate da última das decisões judiciais proferidas. Por
essa razão, não nos parece acertada a colocação de que a sentença necessariamente poria fim ao
processo, sendo mais lógica a afirmação de que encerra a fase de conhecimento na instância,
abrindo caminho para que o processo seja reapreciado no segundo grau de jurisdição, através
do tribunal que se mostre como competente. A sentença encerra a instância de conhecimento
[...]” MONTENEGRO FILHO, Misael. Curso de Direito Processual Civil, vol. 1: teoria geral do
processo e processo de conhecimento. 4 ed. São Paulo: Atlas, 2007, p. 521.
De qualquer forma, vale lembrar que o próprio texto legal prevê hipóteses em que pode haver,
ainda, atividade cognitiva de primeiro grau, mesmo após a prolação da sentença, como, por
exemplo, no caso de equívoco de ordem material, ou de oposição de embargos de declaração
(CPC/1973, art. 462 e CPC/2015, art. 493); e no caso de retratação do juiz que tiver prolatado
sentença liminar de improcedência (CPC/1973, art. 285-A, § 1º e CPC/2015, art. 332, § 3º) ou de
indeferimento da petição inicial (CPC/1973, art. 296, caput e CPC/2015, art. 331, caput).
18. Sobre o tema: “Logo, deve-se admitir a possibilidade de antecipação de tutela recursal não apenas
em relação ao agravo de instrumento, mas, também, em relação aos demais recursos. Devem
ser considerados, para tanto, os requisitos necessários à concessão de tutela provisória, a que
se referem os arts. 294 ss. do CPC/2015, evidentemente, adaptados ao modo como se passam
as coisas, em sede recursal.” MEDINA, José Miguel Garcia. Novo código de processo civil
comentado: com remissões e notas comparativas ao CPC/1973. 3ª Edição. São Paulo: Editora
Recurso de apelação e a aplicabilidade do art. 1.012, §3º do CPC 49

art. 932, II, incumbe ao relator “apreciar o pedido de tutela provisória nos
recursos e nos processos de competência originária do tribunal”.
Bedaque19, ao tratar do tema, afirma que a Apelação, em regra, é dotada
de efeito suspensivo e que pode ser necessária a providência imediata, visando
a evitar dano grave e de difícil reparação, e que nesse ínterim, eventual pedido
de tutela provisória deve ser apresentado diretamente no tribunal e dirigido
ao Presidente.
A questão, assim, conforme já exposto aqui, não é de fácil tratamento
e são diversas as situações onde a tutela provisória recursal deverá ter
pertinência na análise. Se a parte então pretender a atribuição excepcional de
efeito suspensivo na hipótese de a decisão estar entre aquelas previstas no art.
1.012, § 1º, poderá pleitear nas próprias razões do recurso de apelação e o
relator deverá analisar o pedido (CPC, art. 932, II e art. 995)20. Nas situações
de urgência extraordinária, contudo, o recorrente pode e deve dirigir o seu
pleito de atribuição excepcional de efeito suspensivo ao recurso diretamente
ao tribunal ad quem entre “o período compreendido entre a interposição
da apelação e sua distribuição, ficando o relator designado para seu exame
prevento para julgá-la” (art. 1.012, § 3º, I).
Deste modo, o Relator poderá atribuir efeito suspensivo nas
hipóteses do art. 1.012, §1º, suspendendo a eficácia da sentença, desde que
haja probabilidade de provimento e perigo de dano decorrente da demora
do seu julgamento. É de se salientar que o referido artigo, em seu § 4º, assim
dispõe: “Nas hipóteses do § 1o, a eficácia da sentença poderá ser suspensa
pelo relator se o apelante demonstrar a probabilidade de provimento do
recurso ou se, sendo relevante a fundamentação, houver risco de dano grave
ou de difícil reparação.” Destaque-se que a presença de tais requisitos deve
ser comprovada nas razões do pedido, ou seja, tais requisitos não devem ser
dispensados para a concessão do efeito suspensivo da sentença, que, conforme

dos Tribunais, 2015.


Em sentido diverso: “Nos casos em que o recurso não possui o efeito suspensivo automático, é
possível a atribuição dessa eficácia pelo relator ou pelo órgão julgador do recurso (arts. 995, 1.012,
§§ 3.º e 4.º, 1.019, 1.026, § 1.º, art. 1.029, § 5.º, do CPC/2015). Essa possibilidade põe-se para todos
os recursos. Em nenhum caso é necessário o emprego de medidas cautelares ou outras ações para
a obtenção dessa providência.” WAMBIER, Luiz Rodrigues. Curso Avançado de Processo Civil:
cognição jurisdicional (processo comum de conhecimento e tutela provisória), volume 2 / Luiz
Rodrigues Wambier, Eduardo Talamini. 16 ed. Reformulada e ampliada de acordo com o novo
CPC. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016.
19. BEDAQUE, José Roberto dos Santos. Código de Processo Civil Anotado. OAB Paraná. 2015.
20. Sobre o tema: “Neste caso o recorrente pode pedir ao magistrado – invocando a relevância dos
fundamentos do recurso e fundado receio de sofrer lesão grave e de difícil reparação – que receba
a apelação no efeito suspensivo.” WAMBIER, Teresa Arruda Alvim; LINS CONCEIÇÃO, Maria
Lúcia; SILVA RIBEIRO, Leonardo Ferres da; MELLHO, Rogerio Licastro Torres de. Primeiros
Comentários ao Novo Código de Processo Civil, artigo por artigo. RT, 1º, ed. São Paulo, 2015
50 RECURSOS EM ESPÉCIE NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

anteriormente referido, demandará a pertinente fundamentação, por conta do


determinado no art. 93, IX da CF e no art. 489, § 1º do próprio CPC.
De qualquer forma, tal como está, a redação do art. 1.012, § 4º do CPC
dá margem à atribuição de efeito suspensivo a recurso de apelação, mesmo
nas hipóteses do § 1º daquele mesmo dispositivo legal, ainda que não seja
evidenciado risco grave ou de difícil reparação, bastando para tanto que seja
demonstrada “probabilidade do provimento do recurso”. Provavelmente,
no mais das vezes, melhor seria que o art. 1.012, § 4º dispusesse21 que: Nas
hipóteses do § 1º, a eficácia da sentença poderá ser suspensa pelo relator se
o apelante demonstrar a probabilidade de provimento do recurso e se, sendo
relevante a fundamentação, houver risco de dano grave ou de difícil reparação.
Alterar-se-ia então a locução ou por e, de forma que para a concessão do
efeito suspensivo ao recurso de apelação nas hipóteses do art. 1.012, § 1º
não bastaria apenas a demonstração de probabilidade do provimento, mas
também de risco de dano e de relevante fundamento, de forma cumulativa.
Aqui também, contudo, o texto legal expressa de forma bastante clara a
opção legislativa – e, como tal, política, ainda que possivelmente equívoca,
mas muito provavelmente determinada pelo temor de eficácia imediata de
sentenças de primeiro grau possivelmente tautológicas, em determinadas
situações22 – de permitir a atribuição de efeito suspensivo ao recurso de
apelação, nas hipóteses do art. 1.012, § 1º, mesmo quando não houver risco de
dano grave ou de difícil reparação evidenciado, desde que esteja demonstrada
a probabilidade de provimento do próprio recurso.
De acordo com Wambier e Talamini23 para a obtenção do efeito
suspensivo, “o apelante terá de demonstrar a fortíssima probabilidade de
provimento do recurso (tutela da evidência) ou a relevância (plausibilidade)
de sua fundamentação (fumus boni juris) somada ao periculum in mora, i.e.,

21. Texto original:  “4o Nas hipóteses do § 1o, a eficácia da sentença poderá ser suspensa pelo relator
se o apelante demonstrar a probabilidade de provimento do recurso ou se, sendo relevante a
fundamentação, houver risco de dano grave ou de difícil reparação.”
22. Vale observar, contudo, que, se, por um lado, pode haver temor a respeito do risco de decisões de
alguma forma teratológicas na primeira instância, por outro, não há, por assim dizer, fundamento
lógico para a convicção de que o próprio Poder Judiciário dará, em substituição, uma decisão
posterior que seja objetivamente “melhor” do que a primeira.
Sobre o tema: “Ora, admitir que o Estado-Juiz errou no julgamento que se cristalizou, obviamente
implica aceitar que o Estado-Juiz pode errar no segundo julgamento”. MARINONI, Luiz
Guilherme. Sobre a Chamada “Relativização” da Coisa Julgada Material. 2004, p. 5.
23. WAMBIER, Luiz Rodrigues. Curso Avançado de Processo Civil: cognição jurisdicional (processo
comum de conhecimento e tutela provisória), volume 2 / Luiz Rodrigues Wambier, Eduardo
Talamini. 16 ed. Reformulada e ampliada de acordo com o novo CPC. São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais, 2016.
Sobre o tema, o Enunciado 423 do FPPC: “Cabe tutela de evidência recursal”.
Sobre o tema, o Enunciado 465 do FPPC: “A concessão do efeito suspensivo ao recurso
inominado cabe exclusivamente ao relator na turma recursal”.
Recurso de apelação e a aplicabilidade do art. 1.012, §3º do CPC 51

o risco de dano grave ou de difícil reparação (tutela de urgência).” É o que


prevê o art. 1.012, § 4.º, do CPC/2015.
Resta, portanto, bastante claro – ainda que possivelmente seja muito
questionável, na perspectiva política – que a necessidade da presença de
demonstração de periculum in mora para atribuição de efeito suspensivo ao
recurso de apelação nas hipóteses do art. 1.012, § 1º do CPC apenas existe
quando a pretensão do recorrente de tal atribuição não se encontra já lastrada
na demonstração de alta probabilidade de provimento do recurso.

2.5 POSSIBILIDADE DE CASSAÇÃO DO EFEITO SUSPENSIVO

O texto legal insculpido no art. 1.012, § 3º do CPC é claro sobre a


possibilidade de se formular requerimento de atribuição de suspensivo, por
ocasião da interposição do recurso de apelação nas hipóteses do art. 1.012,
§ 1º.
Há, contudo, uma outra possibilidade relevante e para a qual o texto
legal vigente não daria, ainda, ao que parece, solução muito evidente – que
é precisamente a atribuição legal “automática” de efeito suspensivo em
situações de fato que demandariam eficácia imediata da sentença, sob pena
de risco fundado de dano grave de difícil ou impossível reparação.
Um exemplo seria o da possibilidade de prolação de sentença que,
por uma circunstância ou outra, deixe de confirmar a tutela antecipada
anteriormente concedida – sem expressamente revogá-la – e que, assim, ao
que parece, ficaria sujeita ao efeito suspensivo “automático” previsto no art.
1.012, caput, por não se enquadrar exatamente na hipótese do art. 1.012, § 1º,
V do CPC, perdendo, dessa forma, a eficácia que até então sustentava (com
base em decisão interlocutória proferida em exercício de cognição sumária)
até o julgamento do recurso de apelação (mesmo que agora virtualmente
lastrada em sentença prolatada em exercício de cognição exauriente, mas que
apenas deixou de confirmá-la em termos expressos).
Parece possível afirmar que nessas hipóteses, por interpretação
sistemática e analógica, caberia a aplicação do art. 1.012, §§ 3º e 4º, para
permitir à parte que formule ao tribunal ou ao relator, conforme o caso, o
pedido de atribuição de efeito ativo – por meio do qual restaria superado
o efeito suspensivo aparentemente determinado pelo art. 1.012, caput –
cujo acolhimento pode (desde que demonstrada a presença dos requisitos
especificados no § 4º) garantir a eficácia da sentença durante o processamento
do recurso de apelação, e, assim, viabilizar o seu cumprimento provisório.24

24. Sobre o tema: “O pedido respectivo será dirigido ao Tribunal ou ao relator, o que encontra
fundamento no § 3º do art. 1.012, interpretado ampliativamente para nele compreender não só a
concessão do efeito suspensivo a apelo dele desprovido mas também a subtração dos que o tem”.
BUENO, Cassio Scarpinella. Manual de direito processual civil: inteiramente estruturado à luz do
novo CPC – Lei n. 13.105, de 16-3-2015. São Paulo: Saraiva, 2015.
CAPÍTULO III

O AGRAVO DE INSTRUMENTO.
ROL TAXATIVO E NÃO
EXAUSTIVO

No presente capítulo, discorre-se sobre inovações trazidas pelo


CPC/ 2015 no que tocante ao tratamento do agravo de instrumento, que
aparentemente restringiu algumas hipóteses de cabimento do referido
recurso. De acordo com o novo dispositivo legal, determinadas situações
seriam recorríveis por meio de agravo de instrumento (art. 1.015, do CPC) e
outras por meio de preliminar de recurso apelação (art. 1.009, §1º, do CPC).
Essa nova sistemática trouxe diversos questionamentos, dentre eles: o
rol descrito no artigo 1.015 do Código de Processo Civil de 2015 é taxativo,
exemplificativo ou com “taxatividade mitigada”; aliás, o rol é exaustivo ou
com possibilidades de interpretações ampliativas para, assim, ter possibilidade
de admissibilidade de outras hipóteses recursais; existe a possibilidade de
impetração de Mandado de Segurança diante da ausência de previsão legal
específica de determinadas hipóteses recursais e risco manifesto de prejuízos
significativos?
Neste capítulo, portanto, o objetivo é analisar esses diversos pontos
temáticos de forma direta, sem discorrer sobre a evolução história ou tratar
do cabimento do agravo de instrumento de forma mais geral.

3.1 O AGRAVO DE INSTRUMENTO

O agravo de instrumento é o recurso próprio a ser manejado contra


algumas decisões interlocutórias proferidas na fase de conhecimento,
ou contra decisões proferidas na fase de liquidação de sentença ou de
cumprimento de sentença, no processo de execução e no processo de
inventário. Há, todavia, hipóteses relevantes (e essa é exatamente a problemática
do presente capítulo) que não estão expressas e especificamente elencadas no
54 RECURSOS EM ESPÉCIE NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

rol do art. 1.015 e, portanto, em princípio, poderiam ser impugnadas por meio
de preliminar em recurso de apelação.1
Destaca-se que o agravo de instrumento é recurso que trata de mérito
do processo, ou seja, contra a decisão proferida do julgamento parcial de
mérito (CPC, art. 356, § 5º e art. 354, parágrafo único) o recurso cabível é o
agravo de instrumento e não a apelação.
A técnica de interposição obriga que o recurso seja dirigido diretamente
ao tribunal competente, e não ao órgão prolator da decisão recorrida.
Os requisitos da peça estão descritos no art. 1.016 e as peças que devem
obrigatoriamente compor o instrumento no art. 1.017 – necessário, nesse
ponto, especial atenção do operador do Direito, pois o julgador estará em
posse da cópia do processo, vez que o processo original estará em posse do
órgão recorrido. A ausência de qualquer das peças obrigatórias configura,
segundo o art. 1.017, § 3º do CPC/2015, configura vício sanável – o que
constitui novidade digna de nota, haja vista o fato de que sob a égide do
CPC/1973, tal situação implicava a negativa de conhecimento ao recurso.
Importante inovação traz, também, o art. 1.003, § 4º, pois a data de
postagem pelo correio (e não a data de recebimento pelo correio pelo
órgão julgador) é o termo válido para a aferição da tempestividade do recurso
remetido pelo correio.
Vale destacar que, contra decisão colegiada proferida em agravo de
instrumento, caberá, em princípio, recurso rspecial2 (Súmula 86 do STJ)
– é, no entanto, sempre de suma importância verificar cuidadosamente as
restrições aplicáveis ao próprio recurso especial, que não apenas não cabível
contra decisão monocrática, como também tem hipóteses de cabimento
especificamente delimitadas, e requisitos próprios bem delineados.
O recorte temático do presente capítulo é, conforme afirmado na
introdução, discorrer sobre a alteração do CPC/2015 que extingue o “agravo
retido” e traz um rol “taxativo” no art. 1.015. Sobre este ponto segue o estudo.

3.2 AGRAVO DE INSTRUMENTO E ROL NÃO EXAUSTIVO

É cediço que o CPC/2015, dentre as muitas alterações que trouxe à


sistemática adjetiva civil brasileira, extinguiu o recurso de Agravo Retido,
permitindo, como consequência da previsão do art. 1.009, § 1º, que certas
questões resolvidas pelo magistrado de primeiro grau por meio de decisões
interlocutórias sejam suscitadas em preliminar de Apelação.

1. Sobre o recurso de apelação, cf. o capítulo 2.


2. Sobre o recurso especial, cf. o capítulo 7.
O agravo de instrumento. Rol taxativo e não exaustivo 55

Ocorre, contudo, que o rol do art. 1.015, do Código de Processo Civil,


apesar de razoavelmente detalhado (e evidentemente taxativo), salvo melhor
juízo, não é exaustivo.
Tanto é verdade, que o caput do dispositivo legal em questão esclarece
que “cabe agravo de instrumento” contra certas decisões – mas não se atreve
a sugerir que o recurso caiba apenas naquelas exatas hipóteses.
Aqui está um ponto de nevrálgica importância, já que, por mera
interpretação gramatical, mesmo sem procurar amparo no arcabouço
constitucional vigente, pode-se chegar à conclusão de inexistência de limitação
do cabimento do recurso de agravo de instrumento por mera falta de previsão
expressa e específica entre as hipóteses do art. 1.015, do CPC/2015.
De qualquer forma, tal pretensão de limitação, caso existisse, não
poderia prevalecer, sob pena de descompasso inconciliável com o texto
constitucional, conforme se procurará demonstrar a seguir.
Antes, porém, é de se mencionar, brevemente, que Marco Félix Jobim3,
por exemplo, é categórico ao afirmar que o rol do art. 1.015, do CPC/2015,
não é exaustivo.
Karla Nidahara4 afirma, inclusive, que o tempo deverá responder se
as hipóteses são taxativas ou não, pois do contrário seria, ao que parece,
necessária uma mudança de entendimento jurisprudencial – pela virtual
possibilidade de se “incentivar” os cidadãos a lançar mão do Mandando de
Segurança com intuito de impugnação de decisão judicial (tema que será
abordado mais adiante).
De toda sorte, insta lembrar que o art. 5º, XXXV, da Constituição
Federal, determina, em termos expressos, como garantia fundamental, que “a
lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”,
e, como é por demais sabido, remansosa doutrina entende que a previsão
categórica da existência de tribunais no texto constitucional deixa clara a
existência de pretensão de se garantir acesso ao duplo grau de jurisdição.5
Imagine um caso de indenização por suposto defeito de um certo
produto, em que o magistrado de primeiro grau tenha entendido ser necessária

3. JOBIM, Marco Félix. Anotações aos artigos 1.015 a 1.020. In Novo código de processo civil
anotado / OAB. – Porto Alegre : OAB RS, 2015, p. 792.
4. NIDAHARA, Karla Saory Moriya. Agravo de Instrumento e Agravo Interno no CPC/2015. In:
FUGA, Bruno Augusto Sampaio (et. al. org.). Principais Inovações do Novo Código de Processo
Civil. Birigui, SP: Boreal, 2017, p .462.
5. Sobre o tema: “Em que pese o fato de a doutrina também frisar que se trata de princípio
implícito, e não de garantia”. NERY JUNIOR, Nelson. Princípios do Processo na Constituição
Federal. 10 ed. São Paulo: RT, 2010, p. 285; SORMANI, Alexandre. Princípio do Duplo Grau
de Jurisdição. In: OLIVEIRA NETO, Olavo de e LOPES, Maria Elizabeth de Castro (org.).
Princípios Processuais Civis na Constituição. 2 tir. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008, p. 238.
56 RECURSOS EM ESPÉCIE NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

a realização de prova pericial, e que tenha imposto à empresa ré – por conta da


inversão do ônus da prova viabilizada pelo art. 6º, VIII, do Código de Defesa
do Consumidor – o dever de antecipar os valores referentes a honorários
periciais, mas que tenha arbitrado esses mesmos honorários em valor que seja
considerado excessivo pela ré – inclusive, eventualmente, com amparo em
jurisprudência do próprio Tribunal de Justiça ao qual o caso estaria sujeito
–, e em circunstâncias em que tenha ela dificuldade financeira para custear a
despesa.
Destaca-se que o exemplo deve ser vislumbrado em dois momentos.
O primeiro é concernente à inversão do ônus da prova ou dinamização
do ônus da prova (art. 373, § 1º do CPC), contra a qual certamente existe
previsão legal para interposição de agravo de instrumento (art. 1.015, XI do
CPC). O segundo momento seria o prosseguimento do feito sem qualquer
recurso das partes, pois posteriormente poderão ser discutidos os reflexos
dessa dinamização, com nomeação de peritos e as consequentes obrigações
de pagamento de custos periciais; sobre esta fase processual, se, por exemplo,
arbitrado alto valor de perícia, não há previsão legal específica para o recurso
de agravo de instrumento.
Isso posto, vale dizer que nesse caso existiria claríssima ameaça ao
direito de exercício de ampla defesa e contraditório por parte da ré, caso
o Tribunal de Justiça em questão estivesse, eventualmente, impedido pela
legislação infraconstitucional de conhecer imediatamente do pleito de redução
do valor da verba honorária.
Vale lembrar, aliás, que “[…] a substanciação do princípio da ampla
defesa depende de uma interpretação sempre mais favorável à produção das
provas”6, e que “a prova deve ser vista, também, como um direito, como
projeção do princípio do contraditório”.7
Ora, no caso hipotético que se tomou como exemplo, se a ré não
pudesse pleitear o imediato pronunciamento do Tribunal de Justiça sobre
a questão e também não adiantasse, desde logo, os honorários do perito,
correria o risco concreto de a prova não vir a ser realizada, e de se considerar
que deveria recair sobre ela o ônus de não realização da prova – inclusive

6. RUZON, Bruno Ponich. Princípios do Contraditório e da Ampla Defesa. In: RUZON, Bruno
Ponich (org.). Princípios do Processo Civil Brasileiro. Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2013, p. 157.
Sobre o tema, Taruffo afirma, inclusive, que normas jurídicas as quais restringem o uso dos meios
de prova devam ser reduzidas a um patamar mínimo. TARUFFO, Michele. A prova. Tradução
João Gabriel Couto. 1. ed. São Paulo. Marcia Pons, 2014, p. 24.
7. LOPES, Maria Elizabeth de Castro. Princípio do Contraditório. In: OLIVEIRA NETO, Olavo
de e LOPES, Maria Elizabeth de Castro. Princípios Processuais Civis na Constituição. 2 tir. Rio
de Janeiro: Elsevier, 2008, p. 112.
O agravo de instrumento. Rol taxativo e não exaustivo 57

com a eventual presunção de veracidade de determinados fatos lesivos a seus


interesses.
Neste sentido, há, já, precedente do Superior Tribunal de Justiça:
Na linha da jurisprudência da Corte, a inversão do ônus da
prova, deferida nos termos do art. 6º, VIII, do Código de
Defesa do Consumidor, não significa transferir para a parte
ré o ônus do pagamento dos honorários do perito, embora
deva arcar com as conseqüências de sua não-produção. (REsp
651632/BA)
Nesse cenário, evidentemente teria sido limitada a possibilidade de
exercício de defesa e de contraditório, por parte da ré, por circunstâncias que
são claramente atentatórias ao texto constitucional.
Além do mais, caso a ré, nesse mesmo caso, conseguisse fazer o
pagamento de tal valor, mas saísse vitoriosa na demanda, muito provavelmente
não conseguiria recebê-lo de volta, haja vista o fato de que o autor, na prática,
quase certamente seria beneficiário da gratuidade de justiça – e, o que talvez
seja ainda mais absurdo, também não poderia discutir o valor perante o
Tribunal de Justiça, porque, na condição de vencedora da demanda, não teria
recurso de apelação em que incluir a matéria como preliminar.
Por outro lado, caso a ré conseguisse fazer o pagamento do valor em
questão, mas saísse vencida na demanda, e o Tribunal de Justiça, por ocasião
do julgamento do recurso de apelação, viesse a considerar o valor arbitrado
a título de honorários periciais excessivos, restaria a ela utilizar as vias do
próprio Poder Judiciário para procurar ser ressarcida da diferença em face do
perito – o que, salvo melhor juízo, certamente serviria apenas para assoberbar
as vias judiciais, ao invés de aliviá-las.
Verifica-se, desta forma, que existe um sério risco de que a negativa
de conhecimento imediato à pretensão recursal da parte, em casos tais quais
o mencionado, implique um sem número de prejuízos – sem, contudo, vale
repisar, implicar amparo na legislação infraconstitucional positivada, já que,
como visto, o próprio caput do art. 1.015, do Código de Processo Civil não
sugere que o rol ali previsto seja exaustivo, e também sem qualquer proveito
considerável para a eficiência do Poder Judiciário.
Muito pelo contrário, aliás.
Aqui, cabe uma menção à pertinente observação de Karla Nidahara8:
A taxatividade das hipóteses de recorribilidade das decisões
interlocutórias acontecia no regime do Código de Processo
Civil de 1939. Dali, é possível analisar as consequências desta
8. NIDAHARA, Karla Saory Moriya. Agravo de Instrumento e Agravo Interno no CPC/2015. In:
FUGA, Bruno Augusto Sampaio (et. al. org.). Principais Inovações do Novo Código de Processo
Civil. Birigui, SP: Boreal, 2017, p .459.
58 RECURSOS EM ESPÉCIE NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

estrutura, que não é nova, mas ressuscita um modelo que já


havia sido superado pelo CPC/1973.
Nelson Nery Jr. ensina que durante a vigência do CPC/1939,
havia a previsão do agravo de instrumento e agravo nos
autos do processo (assemelhado ao agravo retido), em
hipóteses arroladas em numerus clausus (CPC/1939, art. 842
e art. 851). Como muitas decisões interlocutórias não se
encontravam nos mencionados dispositivos legais, inclusive a
mais importante decisão interlocutória do sistema processual
(despacho saneador), sobrevieram os institutos da correição
parcial e da reclamação para os casos em que as decisões eram
irrecorríveis. Demais disso sobreveio a utilização do mandado
de segurança como sucedâneo de recurso.
Oportuno citar alguns entendimentos de doutrinadores sobre o tema,
tendo em vista não existirem, ainda, precedentes obrigatórios9 sobre o
assunto. Medina10 afirma não existirem decisões interlocutórias irrecorríveis,
mas apenas decisões interlocutórias “imediatamente” recorríveis, destaca
ainda ser pertinente o Mandando de Segurança sempre que se demonstrar
a inutilidade do exame do ato acoimado de ilegal apenas por ocasião do
julgamento da Apelação. Teresa Arruda Alvim e outros11 afirmam ainda que o
texto legal abre novamente espaço para o uso do Mandado de Segurança contra
atos do juiz e que “nada impede que se dê interpretação extensiva aos incisos
do art. 1.015”12. Para Marinoni e outros13 embora tenha a lei empregado um rol

9. A respeito do regime de precedentes obrigatórios, cf. o art. 927, do CPC/2015.


Sobre o tema, conquanto não tenha observado a sistemática de formação de precedentes
obrigatórios, digna de nota a seguinte decisão do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro:
“Agravo de instrumento. Processual civil. Cabimento. Rol exemplificativo. Artigo 1.015 do
CPC/2015. Decisão que rejeita exceção de incompetência. Cuida-se de decisão interlocutória
que rejeitou exceção de incompetência, diante de cláusula de eleição de foro. O rol do artigo
1.015 do CPC/2015, é exemplificativo, admitindo outras hipóteses, em especial a dos autos. Não
se mostra razoável a adoção de mandado de segurança, ou aguardar o julgamento final, para
impugnar a decisão. No mérito, a hipótese não é de relação de consumo, considerando que o
agravante não é destinatário final dos bens. A cláusula de foro de eleição é válida, ainda que
se trate de contrato de adesão. Precedentes do E. STJ. Recurso conhecido e improvido, nos
termos do voto do Desembargador Relator” (TJ-RJ - AI: 00242780720168190000 Rio de Janeiro
capital 3 Vara Cível, Relator: Cherubin Helcias Schwartz Júnior, data de julgamento: 19/07/2016,
décima segunda câmara cível, DATA de Publicação: 21/07/2016).
10. MEDINA, José Miguel Garcia. Novo código de processo civil comentado: com remissões e
notas comparativas ao CPC/1973. 3ª Edição. São Paulo: Editora dos Tribunais, 2015, p. 1399.
11. WAMBIER, Teresa Arruda Alvim; LINS CONCEIÇÃO, Maria Lúcia; SILVA RIBEIRO,
Leonardo Ferres da; MELLHO, Rogerio Licastro Torres de. Primeiros Comentários ao Novo
Código de Processo Civil, artigo por artigo. RT, 1º, ed. São Paulo, 2015, p. 1453.
12. WAMBIER, Teresa Arruda Alvim; LINS CONCEIÇÃO, Maria Lúcia; SILVA RIBEIRO,
Leonardo Ferres da; MELLHO, Rogerio Licastro Torres de. Primeiros Comentários ao Novo
Código de Processo Civil, artigo por artigo. RT, 1º, ed. São Paulo, 2016 (versão e-book).
13. MARINONI, Luiz Guilherme. Novo curso de processo civil: tutela dos direitos mediante
procedimento comum, volume II. Luiz Guilherme Marinoni, Sérgio Arenhart, Daniel Mitidiero.
São Paulo, Editora Revista dos Tribunais, 2015, p. 534. Curso de Processo Civil, v. 2.
O agravo de instrumento. Rol taxativo e não exaustivo 59

taxativo, isso não impede o julgador de utilizar a analogia para interpretação


das hipóteses contidas nos textos (entendendo, assim, não ser o rol exaustivo).
Para Wambier e Talamini14 o rol é exaustivo, embora possa a parte insurgir-se
contra a decisão por meio de Mandando de Segurança. Para Cassio Scarpinella
Bueno15, poderia haver uma interpretação ampliativa “sempre conservando,
contudo, a razão de ser de cada uma de suas hipóteses para não generalizá-las
indevidamente”. Ana Cláudia Rodrigues Müller16, em sua tese de doutorado,
também defende que o rol do art. 1.015 do CPC/2015 não é exaustivo, e
chega a sugerir que a pretensão de restrição do cabimento do recurso de
agravo de instrumento em situações que implicam um risco de nulidade
futura configura organização tecnicamente inadequada da marcha processual.
Luiz Henrique Barbante Franzé17 também afirma que o rol em questão não é
exaustivo e alerta para os riscos da interpretação equivocadamente restritiva
do dispositivo legal em questão e dos consequentes incentivos à utilização
“deturpada” da via do mandado de segurança com finalidade claramente
recursal.
A exposição de motivos do Código de Processo Civil18 – texto de grande
importância para entender o novo paradigma que se pretende imprimir às
relações processuais civis – embora sem força de norma processual, expressou
a intenção de que o agravo de instrumento estabeleceria um rol para as
hipóteses de recorribilidade, porém não emprega maiores informações e não
afirma ser o rol exaustivo ou não.

3.3 O MANDANDO DE SEGURANÇA COMO MEIO RECURSAL

É evidente que os cidadãos não se conformarão com a simples negativa


de conhecimento de suas pretensões recursais em hipóteses nas quais (como
a que foi mencionada a título de exemplo no tópico anterior) haja receio

14. WAMBIER, Luiz Rodrigues. Curso Avançado de Processo Civil: cognição jurisdicional (processo
comum de conhecimento e tutela provisória), volume 2 / Luiz Rodrigues Wambier, Eduardo
Talamini. 16 ed. Reformulada e ampliada de acordo com o novo CPC. São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais, 2016, p. 543.
15. BUENO, Cassio Scarpinella. Manual de direito processual civil: inteiramente estruturado à luz do
novo CPC – Lei n. 13.105, de 16-3-2015. São Paulo: Saraiva, 2015.
16. MÜLLER, Ana Cláudia Rodrigues. Do rol não taxativo do agravo de instrumento no Novo
Código de Processo Civil. 2016. 200 f. Tese (Doutorado em Direito) - Programa de Estudos
Pós-Graduados em Direito, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2016 (...)
17. FRANZÉ, Luís Henrique Barbante. Agravo e o Novo Código de Processo Civil. 8ª ed. Curitiba:
Juruá, 2016, p. 227 e 228.
18. O texto da exposição de motivos reza que: o agravo de instrumento ficou mantido para as
hipóteses de concessão, ou não, de tutela de urgência; para as interlocutórias de mérito, para as
interlocutórias proferidas na execução (e no cumprimento de sentença) e para todos os demais
casos a respeito dos quais houver previsão legal expressa.
60 RECURSOS EM ESPÉCIE NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

fundado de lesão irreversível ou de difícil ou incerta possibilidade de reparação


a um direito seu.
Sendo esta uma posição a ser adotada pelo prudente advogado
(insurgir-se contra a decisão que padeça de vícios e que seja atentatória contra
interesses de seu cliente), questiona-se então se pertinente será a utilização
de Mandado de Segurança nessas circunstâncias. O Supremo Tribunal
Federal, no julgamento do Recurso Extraordinário 576.847/BA,19 manteve
posicionamento de que não caberia Mandado de Segurança contra decisão
interlocutória proferida no Juizado Especial Cível. O Superior Tribunal
Justiça, por sua vez, no julgamento do agravo regimental na reclamação
4564/RJ,20 entendeu ser pertinente o Mandado de Segurança contra decisões
interlocutórias proferidas no Juizado Especial quando eivadas de manifesta
ilegalidade ou abuso de poder. As Turmas Recursais Únicas do Estado do
Paraná esposam o entendimento de impossibilidade jurídica de impetração
de Mandando de Segurança contra decisões no âmbito dos Juizados21.
Inicia-se o assunto com o exemplo da Lei do Juizado Especial, pois
com a mudança promovida pelo CPC/2015 o sistema recursal do Juizado
Especial em alguns tópicos se assemelhará consideravelmente com a dinâmica
aplicável à chamada “justiça comum”.
No Juizado Especial, a decisão interlocutória é irrecorrível e, assim,
inevitavelmente, iniciou-se a discussão sobre a possibilidade de se impetrar
Mandando de Segurança; no CPC/2015, como há restrição de recorribilidade
de decisões interlocutória, é preciso questionar se o meio adequado de
impugnação de certas decisões interlocutórias seria o Mandado de Segurança.
Neste ponto, é necessário atentar para o fato de que o CPC/2015 procura
atribuir grande importância para os precedentes (cf. artigo 926). Desde modo,
vale a transcrição da ementa do já aludido Recurso Extraordinário 576.847/
BA, para que se possa refletir sobre sua ratio decidendi e, assim, apurar se é
possível lançar mão de tal precedente como solução:
Ementa: Recurso Extraordinário. Processo Civil. Repercussão
Geral reconhecida. Mandado de segurança. Cabimento.
Decisão liminar nos juizados especiais. Lei n.º 9.099/95. Art.
5º, LV da Constituição do Brasil. Princípio constitucional da
ampla defesa. Ausência de violação. 1. Não cabe mandado de
segurança das decisões interlocutórias exaradas em processos

19. RE 576847 RG, Rel. Ministro Eros Grau, julgado em 01/05/2008, DJe 31/07/2008.
20. AgRg na Rcl 4.564/RJ, Rel. Ministro Raul Araújo, 2ª Seção, julgado em 10/11/2010, DJe
19/11/2010.
21. 0000250-56.2015.8.16.9000/0.  Mandado De  Segurança.  Decisão interlocutória. Ausência de
direito líquido e certo. Ilegalidade e teratologia inexistente. Mero inconformismo. Indevida
utilização do mandado de segurança como substitutivo de agravo de instrumento. Recurso não
previsto no sistema de juizados especiais cíveis. 
O agravo de instrumento. Rol taxativo e não exaustivo 61

submetidos ao rito da Lei n.º 9.099/95. 2. A Lei n.º 9.099/95


está voltada à promoção de celeridade no processamento e
julgamento de causas cíveis de complexidade menor. Daí
ter consagrado a regra da irrecorribilidade das decisões
interlocutórias, inarredável. 3. Não cabe, nos casos por ela
abrangidos, aplicação subsidiária do Código de Processo Civil,
sob a forma do agravo de instrumento, ou o uso do instituto
do mandado de segurança. 4. Não há afronta ao princípio
constitucional da ampla defesa (art. 5º, LV da CB), vez que
decisões interlocutórias podem ser impugnadas quando da
interposição de recurso inominado. Recurso extraordinário a
que se nega provimento.
Em princípio, então, o Mandado de Segurança seria pertinente pela
ausência de outro Recurso, com algumas restrições da Lei 12.016/2009, em
especial no art. 5º, que restringe seu uso para “ato do qual caiba recurso
administrativo com efeito suspensivo, independentemente de caução, de
decisão judicial da qual caiba recurso com efeito suspensivo”.
O fundamento seria usar o Mandado de Segurança diante da
impossibilidade de manejar imediatamente outro meio de impugnação (em
vista da redação do art. 1.015, do CPC/2015) e a necessidade concreta de
se pleitear a reforma ou anulação de determinada decisão interlocutória. Em
síntese, na ausência então de decisão prevista no rol do art. 1.015, questiona-
se se seria possível manejar o Mandando de Segurança. Primeiro ponto, a
decisão do STF proferida no RE 576.847 não pode ser utilizada de forma
própria como precedente, pois o caso não guarda a mesma ratio decidendi.
Verifica-se que a recusa do STF em negar a viabilidade de Mandado de
Segurança é em decorrência da especificidade da lei do Juizado Especial, o
que certamente não é a mesma situação do CPC/ 2015; porém um ponto
merece atenção, o final da ementa, que fez constar não existir “afronta ao
princípio constitucional da ampla defesa (art. 5º, LV da CB), vez que decisões
interlocutórias podem ser impugnadas quando da interposição de recurso
inominado”.
De acordo como fundamento do STF então não haveria afronta à ampla
defesa, pois o assunto poderia ser debatido, no caso do diploma processual
civil, em preliminar de Apelação (conforme a previsão do art. 1.009, §1º, do
CPC/2015).
Em resumo, aponta-se que o precedente do STF não guarda a
mesma ratio decidendi, pois o motivo da recusa é outro que não guarda nexo
específico com o CPC/2015, no entanto, ao decidir também fundamento
que não haveria afronta à ampla defesa. Discorda-se deste último ponto,
pois conforme já apresentado em exemplo acima, ter-se-ia sim hipótese de
manifestos prejuízos.
62 RECURSOS EM ESPÉCIE NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

O Mandando de Segurança é um importante instrumento processual,


entende-se, portanto, ser pertinente quando outros meios propriamente
recursais, como o agravo de instrumento, não forem previstos ou conhecidos22.
Ocorre, todavia, que não se entende benéfico o uso indiscriminado deste
mecanismo processual com fim recursal; primeiro porque a decisão contrária
do STF (se assim se mantiver o posicionamento daquela Corte) é um
importante fator contrário para sua interposição; segundo, entende-se mais
prudente e instrumental a interposição do próprio agravo de instrumento,
mesmo em hipóteses não descritas no art. 1.015, com fundamentos de sua
necessidade de interpretação ampliativa, conforme adiante será visto.

3.4 CORREIÇÃO PARCIAL COMO MEIO RECURSAL

O Regimento Interno do TJ/PR23, de acordo com o art. 335, assim


dispõe: “A correição parcial visa à emenda de erros ou abusos que importem
na inversão tumultuária de atos e fórmulas legais, na paralisação injustificada
dos feitos ou na dilação abusiva de prazos, quando, para o caso, não haja
recurso previsto em lei.”24

22. Sobre o tema: “De fato, se o recurso manejável (a apelação) é remoto e problemático, a conclusão
é de que o decisório, na verdade, não se apresenta como passível de suspensão imediata pela via
recursal. Logo, estando demonstrada a lesão de direito líquido e certo da parte, causada pela
decisão interlocutória não agravável, o remédio com que o lesado pode contar será mesmo o
mandado de segurança, nos termos do art. 5º, II, da Lei nº 12.016/2009. Não será admissível,
dentro do processo justo e efetivo, garantido pela ordem constitucional, deixar desamparado o
titular de direito líquido e certo ofendido por ato judicial abusivo ou ilegal. Daí o cabimento do
mandamus, nos termos do direito fundamental assegurado pelo art. 5º, LXIX, da Constituição”.
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, vol. III. 50 ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2017. (grifo nosso)
23. Minas Gerais, a regulamentação da correição parcial está contida no art. 24, IX, do Regimento
Interno do Conselho da Magistratura (Resolução nº 420/2003).
Na Justiça Federal, Lei nº 5.010/1966, art. 6º, I, a correição parcial está inserida na competência
do Conselho da Justiça Federal.
24. Sobre o tema: “Por isso, engendrou a praxe forense, encampada por algumas leis locais de
organização judiciária e regimentos internos de tribunais, a correição parcial ou reclamação,
como providência assemelhada ao recurso, sempre que o ato do juiz for irrecorrível e puder
causar dano irreparável para a parte. Sua natureza é mais disciplinar que processual, embora
possa ter reflexos sobre a normalização da marcha tumultuada do processo.” THEODORO
JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, vol. III. 50 ed. Rio de Janeiro: Forense,
2017.
Sobre o tema: “haverá situações particulares em que o risco de um dano irreparável é tão evidente
que se impõe a admissão de recurso imediato, seja por meio do agravo (preferível, já que é a figura
desenhada para esse fim), seja por meio de outra via de impugnação, a exemplo da correição
parcial ou do mandado de segurança. Suponha-se o caso de admissão de prova ilícita. Embora
a hipótese não esteja prevista no rol do art. 1.015, CPC, é imprescindível a admissão do agravo
nesse caso”. MARINONI, Luiz Guilherme. O novo processo civil (livro eletrônico). Luiz
Guilherme Marinoni, Sérgio Cruz Arenhart, Daniel Mitidiero – 3. ed. São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais, 2017.
O agravo de instrumento. Rol taxativo e não exaustivo 63

O recurso então poderia ser utilizado quando existir decisão


interlocutória não descrita no rol do art. 1.015 do CPC. Este é, inclusive,
o posicionamento o Tribunal do Paraná que vem aceitando o agravo de
instrumento pelo princípio da fungibilidade como correição parcial com
fundamento em seu regimento interno.
De acordo com precedente do TJ/PR, Correição Parcial n.º 1.615.419-
5 : “Recurso recebido como correição parcial. Identidade de procedimentos.
25

Fungibilidade recursal. Negativa de seguimento a recurso de apelação fundada


em suposta intempestividade. Nova sistemática processual determinada
pelo CPC 2015. Juízo de admissibilidade realizado pelo tribunal ad quem.
Impossibilidade de obstaculizar o recurso no juízo a quo.”26
Decisão do STJ proferida sobre o tema (AgRg no AgRg no Recurso
Especial n.º 1.038.446/RJ27) destaca que a Correição Parcial era cabível no
CPC/1939, pois naquela ocasião existiam decisões interlocutórias que não
eram recorríveis por meio de agravo de instrumento. Desde modo, o cenário
mudou com o CPC/1973; porém se alterou novamente com o advento do
CPC/2015, fazendo com que a Correição Parcial voltasse a ter sentido como
meio recursal nessas situações apontadas.
Deste modo, embora não especificamente previsto no CPC/2015,
é possível aplicar o princípio da fungibilidade para reconhecer o agravo de
instrumento como correição parcial, como bem fez o TJ/PR no precedente
citado acima, consubstanciando a aplicação do princípio da primazia do
julgamento de mérito (CPC, art. 4º) que deve ser aplicado com vigor na rotina
jurisdicional, inclusive com atenção ao caráter instrumental do processo.
De toda sorte, é de se ressalvar que a pretensão de se restringir a
possibilidade de impugnação de decisões interlocutórias não especificamente
previstas no rol do art. 1.015 do CPC/2015 à via da correição parcial parece
25. Voto do Relator: “Por outro lado, a decisão impugnada não consta no rol taxativo do art. 1.015 e,
portanto, não desafia Agravo de Instrumento, nem qualquer outro recurso, restando preenchido
o segundo requisito previsto no art. 335 do RITJ/PR para o processamento da Correição Parcial”
26. Neste sentido também, em novembro de 2018, TJ/SC Reclamação 4030535-84.2018.8.24.0900,
“Considerando, ademais, que a decislio impugnada nao é passivei de recurso, pois os fatos nao
se subsumem a nenhuma das hipóteses legais elencadas no arl. 1.015 do CPC, de cabimento do
Agravo de Instrumento, nem se recomenda, dado o prejulzo processual iminente a ser causado
ao Reclamante pelo aludido decisum, deixar para arguir os constatados erros em preliminar
de Apelação, condui-se não só pelo cabimento da presente Reclamação, mas também pelo
deferimento da ordem de suspensao.”
27. “Deveras, ainda que de natureza administrativa, pode, em certos casos, estar revestida de caráter
jurisdicional, dependendo do ângulo de análise a que se reveste sua decisão. Isto porque, o recurso
judicial é meio apto a reformar, invalidar, esclarecer ou integrar decisão judicial que se impugna;
vale dizer, ostenta como objeto uma decisão judicial, que se reveste de conteúdo eminentemente
jurisdicional, em que consiste o poder atribuído ao órgão julgador de dirimir conflitos e decidir
as controvérsias que refletem direta ou indiretamente na ordem jurídica. (...) AgRg no AgRg no
Recurso Especial nº 1.038.446/RJ”
64 RECURSOS EM ESPÉCIE NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

interpretação excessivamente restritiva – e, mesmo, pouco eficiente, haja


vista que tal sistemática levaria o cidadão a ter sua sorte decidida com base,
quase que exclusivamente, nos regimentos internos dos tribunais, situação
que o CPC/2015, ao que parece, claramente pretendeu dar por superada, ao
promover o tratamento específico do agravo interno,28 por exemplo.

3.5 ROL TAXATIVO MAS NÃO EXAUSTIVO

São dois os pontos fundamentais a serem analisados. Primeiro, o rol


do art. 1.015 seria sim taxativo, não há como negar, pois foi essa a intenção
do legislador e, inclusive, fez constar na exposição de motivos do Código de
Processo Civil29; sustentar posição diversa configuraria verdadeira ginástica
interpretativa, uma espécie de “Salto Triplo Carpado Hermenêutico.”30
Defendeu-se, porém, na primeira edição deste livro, que a ideia de que
embora seja taxativo o rol, não seria exaustivo. O legislador teria procurado
estabelecer uma relação para, assim, inibir a avalanche de recursos nos
tribunais e, por meio de tal técnica, teria optado por deixar algumas decisões
para serem aventadas como preliminares de Apelação.
Na ocasião, já afirmávamos: trata-se uma técnica processual, pode-
se criticá-la, mas é norma positivada e, salvo sua revogação, deve-se
respeitá-la; ressalvada a possibilidade de se enfrentar a questão pelo viés da
constitucionalidade, como adiantado no tópico 3.2.
Vale lembrar, novamente, que determinadas situações implicam
necessidade imprescindível de recorribilidade por meio de agravo de

28. Vale lembrar que o agravo interno surge no Brasil com previsão apenas nos regimentos internos
dos tribunais, o que lhe rendeu a denominação inicial de “agravo regimental”.
Sobre o agravo interno, cf. o capítulo 4.
29. O agravo de instrumento ficou mantido para as hipóteses de concessão, ou não, de tutela de
urgência; para as interlocutórias de mérito, para as interlocutórias proferidas na execução (e no
cumprimento de sentença) e para todos os demais casos a respeito dos quais houver previsão
legal expressa.
30. “Salto Triplo Carpado Hermenêutico foi o “argumento jurídico” utilizado pelo então Ministro
do Excelso Supremo Tribunal Federal – STF, Carlos Ayres Brito, por ocasião do julgamento do
Recurso Extraordinário – RE 630147, (Lei da Ficha Limpa), com a intenção de rechaçar questão
de ordem suscitada no plenário. A questão de ordem visava ampliar a causa petendi deduzida no
recurso excepcional para conhecer e analisar eventual inconstitucionalidade formal por eventual
desrespeito ao devido legislativo no âmbito interno de regimento do Senado Federal. Se do ponto
de vista técnico-jurídico a expressão possa parecer sui generis, do ponto de vista crítico ela ajuda
entender bem a crise pela qual passa as dimensões de validade do Direito por parte do Judiciário.”
BRENE, Tiago. O Judiciário entre a interação e a fragmentação da tripartição do poder: análise
da dupla dimensão de validade do direito sob a perspectiva das competências típicas e atípicas.
IN Direito & Teoria Crítica. Organizador Clodomiro José Bannwart Júnior, Boreal, 2015, p. 65.
O agravo de instrumento. Rol taxativo e não exaustivo 65

instrumento por não guardarem condições de esperar para serem suscitadas


como preliminar de apelação.31
Entende-se que se devidamente fundamentadas a necessidade de
reforma da decisão interlocutória e essa imprescindibilidade de manejo com
agravo de instrumento, pertinente será a interpretação ampliativa do rol do
art. 1.015 e, assim, conhecer o agravo de instrumento; ou seja, o rol seria
taxativo; no entanto, não exaustivo – até porque, como visto, isto é o que
resulta da própria redação do caput.
Em suma, entende-se que poderá o julgador interpretar a norma e
acolher determinadas situações fundamentadas de pertinência do agravo
de instrumento, ademais o Código de Processo Civil acolhe o respeito
a Constituição (art. 1º), a primazia do julgamento de mérito (art. 4º), a
necessidade de apreciar ameaça ou lesão de direito (art. 3º), a razoabilidade e
eficiência (art. 8º).
Vê-se, durante esse amadurecimento das discussões sobre o Código de
Processo Civil de 2015, que o rol será, na prática jurisdicional, provavelmente
interpretado como exemplificativo ou exaustivo, se houver a possibilidade
de a parte insurgir-se contra decisão interlocutória por meio de Mandando
de Segurança quando a decisão não estiver descrita no rol do artigo 1.015.32
Poderia, a partir desta ponto de vista, existir interpretação ampliativa do rol
e, assim, insurgência por meio de agravo de instrumento mesmo quando não
estiver o motivo do recurso expresso e especificamente previsto no rol do
referido artigo.
Entendeu-se, assim, que o elenco do art. 1.015 seria taxativo, porém
não inibiria a interpretação para tutelar situações com evidente necessidade
de recorribilidade por meio do agravo de instrumento. O rol, portanto,
embora taxativo supostamente não seria exaustivo. Já alertamos, na ocasião,
que a possibilidade de reconhecer o agravo de instrumento em situação não
previstas no artigo 1.015, do Código de Processo Civil, certamente mereceria
a devida fundamentação (artigo 489, §1º), assim como também merece, e

31. Aqui, vale um resgate histórico. Na redação original do Decreto-Lei 1.608, que instituiu o
Código de Processo Civil de 1939, o art. 842, havia procurado estabelecer um rol de hipóteses
de cabimento de recurso de agravo de instrumento contra decisões interlocutórias. Já em 1942,
sentiu-se a necessidade de fazer ajustes em tal rol, que se mostrava insuficiente – o que foi
feito por meio do Decreto-Lei 4.565/1942. Pode-se intuir que, adiante, também se constatou
a inadequação prática do estabelecimento de uma lista restrita de hipóteses de cabimento da
interposição de recurso imediato contra decisões interlocutórias pela redação original do art. 522,
do Código de Processo Civil de 1973, que estabelecia como regra geral e recorribilidade imediata.
É possível que, na elaboração do Código de Processo Civil de 2015, as lições da História tenham
sido subestimadas.
32. Tema que já foi objeto do tópico 3.3 deste mesmo livro.
66 RECURSOS EM ESPÉCIE NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

muito, a fundamentação de pertinência pela parte que deseja ver seu recurso
admitido.
Concebe-se, como melhor técnica, por ser mais apropriada e específica,
o agravo de instrumento ao mandado de segurança. Embora se reconheça
a possibilidade de utilização do mandando de segurança, principalmente
em situações teratológicas, o agravo de instrumento aparenta ser o meio
processual de maior pertinência e inclusive especificidade para o objeto da
insurgência em questão.
Em tempo, destacamos que decisão proferida do processo em trâmite
no STJ (REsp 1.696.396 e REsp 1.704.520), que afetará todos os processos
no ordenamento jurídico, procura encontrar solução de ser o rol de uma
“taxatividade mitigada”. Assim fez constar em decisão no voto da relatora
Ministra Nancy Andrighi, ainda sem decisão final:
A tese que se propõe consiste em, a partir de um requisito
objetivo – a urgência que decorre da inutilidade futura do
julgamento do recurso diferido da apelação –, possibilitar a
recorribilidade imediata de decisões interlocutórias fora da lista
do art. 1.015 do CPC, sempre em caráter excepcional e desde
que preenchido o requisito urgência, independentemente do
uso da interpretação extensiva ou analógica dos incisos do art.
1.015 do CPC, porque, como demonstrado, nem mesmo essas
técnicas hermenêuticas são suficientes para abarcar todas as
situações. Não há que se falar, destaque-se, em desrespeito
a consciente escolha político-legislativa de restringir o
cabimento do agravo de instrumento, mas, sim, de interpretar
o dispositivo em conformidade com a vontade do legislador
e que é subjacente à norma jurídica, qual seja, o recurso de
agravo de instrumento é sempre cabível para as “situações
que, realmente, não podem aguardar rediscussão futura em
eventual recurso de apelação”, nos termos do Parecer nº 956
de 2014, de relatoria do Senador Vital do Rego.
(...)
Em última análise, trata-se de reconhecer que o rol do art.
1.015 do CPC possui uma singular espécie de taxatividade
mitigada por uma cláusula adicional de cabimento, sem a
qual haveria desrespeito às normas fundamentais do próprio
CPC e grave prejuízo às partes ou ao próprio processo.
Sobre o tema, aguardamos no processo em questão decisão final,
porém desde logo destacamos que a decisão proferida em voto da relatora
segue nosso entendimento já firmado na primeira edição deste livro, pois
como já relatado em determinadas situações, mesmo que não descritas no rol
do art. 1.015, a necessidade de recorribilidade é flagrante.
Em que pese o fato de a posição que havíamos defendido anteriormente,
ao que parece, ter boas chances de prevalecer no debate jurisdicional no
O agravo de instrumento. Rol taxativo e não exaustivo 67

âmbito do Superior Tribunal de Justiça, com força de precedente vinculante,


vale destacar que, ao longo deste tempo, também acomodamos nosso próprio
entendimento em direção diversa.
Hoje temos a forte impressão de que a intenção do legislador,
ao instituir o rol do art. 1.015, do Código de Processo Civil de 2015, foi
genuinamente exaustiva, de maneira que a interpretação de taxatividade
sem exaustividade que tem sido comum e que também nos encantou em
um primeiro momento, por mais bem intencionada que possa ser, caminha
no sentido de negar vigência ao texto positivado, por meio de um exercício
hermenêutico tortuoso e indisfarçavelmente contrário ao próprio suporte
interpretativo, isto é, o texto normativo.
Há não apenas uma série de inconvenientes práticos que decorrem
da tentativa de defesa da interpretação de rol taxativo, mas não exaustivo –
como a própria questão da eventual preclusão, no caso de não interposição de
recurso imediato contra decisão interlocutória não expressa e especificamente
mencionada no art. 1.015, do Código de Processo Civil de 2015 –; como
também se apresenta uma objeção de ordem mais teórica, ligada à própria
função legítima do Poder Judiciário, de interpretar o ordenamento jurídico
segundo os limites traçados pelo Poder Legislativo, resistindo à tentação
permanente de atuar na definição de seus próprios limites.
Em síntese, parece-nos, conforme já adiantamos no item 3.2, que a
alternativa hermeneuticamente viável e institucionalmente legítima é que o
Poder Judiciário enfrente a questão da (in)constitucionalidade da pretensão do
legislador infraconstitucional de limitar o cabimento de interposição imediata
de recurso contra decisão interlocutória, em casos nos quais se verifica
urgência e/ou possibilidade de dano irreparável, ou ainda de ineficácia futura
do próprio exercício jurisdicional, mormente diante daquilo que preveem
os incisos XXXV e LV, da Constituição Federal, que estabelecem, como
garantias fundamentais, a inafastabilidade da jurisdição e a ampla defesa, com
os recursos a ela inerentes.
CAPÍTULO IV

AGRAVO INTERNO

No presente capítulo, discorre-se sobre o tratamento dado pelo


CPC/2015 ao recurso de agravo de interno. O tema tem previsão legal em
destaque no art. 1.021, além de outros artigos conforme se verá adiante.
O propósito foi abordar sua ampla possibilidade de interposição, com
suas diversas nuances e características. Há um vasto leque de possibilidades
de interposição do agravo interno, além de diversos requisitos para serem
atendidos, tanto por parte do Recorrente, quanto do julgador
Discorre-se, neste capítulo, sobre a dialeticidade, a necessária
fundamentação da decisão proferida no agravo interno, a possibilidade de
imposição de multa, a fungibilidade recursal, o recurso na visão do art. 1.030,
o agravo interno no agravo de instrumento, nos recursos repetitivos, na
desconsideração da personalidade jurídica e no âmbito do Juizado Especial
Cível.
Pretende-se apresentar uma visão abrangente sobre o tema e, assim,
colaborar com as pesquisas dos operadores do Direito e com as rotinas de
quem se dedica à prática forense. Adiante, portanto, o desenvolvimento do
tema.

4.1 PREVISÃO LEGAL. AGRAVO INTERNO NO CÓDIGO DE


PROCESSO CIVIL

O recurso de agravo interno encontra previsão legal no artigo 1.021 do


CPC/2015. Afirma ainda o referido dispositivo que deverão ser observadas
quanto ao processamento as regras dos regimentos internos dos Tribunais –
o STJ, por exemplo, mantém em seu regimento, mais especificamente no art.
259, a forma de processamento do agravo interno, e o regimento encontra-se,
inclusive, atualizado de acordo com o CPC/2015.
70 RECURSOS EM ESPÉCIE NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

O agravo interno é movido contra típica decisão monocrática proferida


pelo relator, contra a qual caberá a interposição dessa espécie de recurso para
o órgão colegiado. Dito de outra forma, o recorrente, não satisfeito com
a decisão monocrática poderá recorrer, portanto, para o respectivo órgão
colegiado.
Assim, caso o relator julgue monocraticamente com fundamento no
art. 932 caberá agravo interno1 contra a decisão proferida conforme adiante
será visto. Seu recebimento, em regra, não tem efeito suspensivo, segundo
a previsão do art. 995; no entanto, se devidamente fundamentado, com fulcro
no art. 932, II e ainda por aplicação analógica do art. 1.026, § 1º do CPC/2015,
poderá o Relator excepcionalmente receber o agravo interno com a atribuição
de efeito suspensivo da decisão recorrida2.
Por ausência de previsão legal, o agravo interno, como regra geral, não
comporta sustentação oral (CPC/2015, art. 937), salvo em outras hipóteses
previstas no regimento interno dos tribunais (CPC/2015, art. 937, IX)3 ou
nas hipóteses do art. 937, § 3º.4
O prazo para interposição é de 15 dias úteis (CPC/2015, art. 1.003,
§ 5 e art. 1.070) e o recurso deve ser protocolado sempre perante o próprio
órgão prolator da decisão recorrida. A este respeito, o STJ sedimentou o
entendimento de ser o prazo de 15 dias para o agravo interno, e não 5 dias.
Vale mencionar, contudo, que o prazo de 5 dias foi mantido para o Agravo
Regimental (AgRg) em matéria penal (art. 258 Regimento Interno do STJ);
sendo que o agravo interno (AgInt) é recurso cabível para matéria cível e,

1. Sobre o tema: “As decisões proferidas pelo relator com base no art. 932 são, todas elas, sem
exceção, recorríveis. É o papel desempenhado pelo agravo interno a que se refere o art. 1.021”.
BUENO, Cassio Scarpinella. Manual de direito processual civil (...), 2015.
2. Sobre o tema: “No que tange ao agravo interno, não há previsão expressa de atribuição de efeito
suspensivo, sequer excepcionalmente. Contudo, tal imprevisão poderá ser suprida em regras de
processamento a serem implementadas pelo tribunal competente, em regimento interno (art.
1.021, caput). Na ausência de regra regimental surgem dúvidas acerca da solução a ser tomada.
Se, de um lado, a falta de previsão específica possa indicar a impossibilidade de atribuição de
efeito suspensivo em agravo interno, de outro, a regra geral contida no art. 995,parágrafo único,
é inerente a todos os recursos (...)”. PALEARI, Fábio Nascimento. Teoria Geral dos Recursos:
principais inovações das disposições (...) p. 403.
3. Sobre o tema: “A parte final do caput do art. 937 remete à “parte final do caput do art. 1.021”. O
acréscimo, surgido na revisão final do texto do CPC de 2015, sugere que os regimentos internos
dos tribunais poderão regrar a sustentação oral. Para evitar a inconstitucionalidade formal do
dispositivo, importa entender que o regimento interno não poderá, em nenhuma hipótese,
sobrepor-se ao comando legal; não, ao menos para restringi-lo, mas, tão somente, para ampliá-lo,
nos precisos termos, aliás, do que permite o inciso IX do art. 937. BUENO, Cassio Scarpinella.
Manual de direito processual civil: inteiramente estruturado à luz do novo CPC – Lei n. 13.105,
de 16-3-2015. São Paulo: Saraiva, 2015.
4. O art. 937, VI e § 3º determina o cabimento de sustentação oral em agravo interno interposto
contra decisão do relator que extinga processo de ação rescisória, mandado de segurança ou
reclamação.
Agravo interno 71

portanto, considerou-se pertinente o prazo de 15 dias do dispositivo legal em


questão (CPC, art. 1.070).
Outro ponto que merece destaque é a necessidade de prévia interposição
de agravo interno como meio de viabilizar a posterior interposição de recurso
especial e de recurso extraordinário – trata-se de esgotar as vias recursais
antes da interposição desses referidos recursos5.

4.2 DIALETICIDADE NO AGRAVO INTERNO

Os recursos devem sempre ser motivados e fundamentados


especialmente de acordo com o disposto na decisão, sentença, acórdão ou
despacho recorrido. O § 1º do art. 1.021 afirma que o Agravante deverá
impugnar “especificadamente os fundamentos da decisão agravada”.
Em suma, o recorrente deve demonstrar em seu arrazoado os motivos
de reforma da decisão e não apenas discorrer sobre a tese em si. Assim,
deixar de referir e impugnar especificamente os motivos da decisão agravada
configura um grave erro de estratégia processual6.
Para melhor ilustrar, na Apelação, deve-se demonstrar “as razões
do pedido de reforma ou de decretação de nulidade” – artigo 1.010, III7.
Assim também no agravo de instrumento – artigo, 1.016, III8. No recurso
extraordinário e no recurso especial há, da mesma forma, necessidade de
demonstrar as razões do pedido de reforma ou de invalidação da decisão
recorrida (CPC, art. 1.029, III).
Na prática, a dialeticidade deve ser estampada no recurso como preliminar,
como uma forma de organização dos fundamentos da decisão recorrida; no
agravo de interno deve constar um breve resumo fático, após a dialeticidade e
5. Sobre o tema: “No direito anterior, o Superior Tribunal de Justiça decidiu pela necessidade de
interposição de agravo interno da decisão do relator para o colegiado como etapa imprescindível
voltada ao esgotamento da instância ordinária (...)”. MARINONI, Luiz Guilherme. Novo curso
de processo civil: tutela dos direitos mediante procedimento comum, volume II. Luiz Guilherme
Marinoni, Sérgio Arenhart, Daniel Mitidiero. São Paulo, Editora Revista dos Tribunais, 2015, p.
537. Curso de Processo Civil, v. 2.
Sobre o tema: “STJ, REsp (Repetitivo) 1.198.108/RJ: É amplamente majoritário o entendimento
desta Corte Superior no sentido de que o agravo interposto contra decisão monocrática do
Tribunal de origem, com o objetivo de exaurir a instância recursal ordinária, a fim de permitir
a interposição de recurso especial e do extraordinário, não é manifestamente inadmissível ou
infundado, o que torna inaplicável a multa (...) (REsp 1.198.108/RJ).
6. A este respeito, cf. o capítulo 1.
7. O caput do art. 1.010 se ocupa com o conteúdo das razões de apelo. O texto aprimora, no
particular, o art. 514 do CPC atual, deixando clara a necessidade de o pedido de reforma ou
invalidação do julgado estar fundamentado em razões aptas a dar-lhe embasamento (princípio
da dialeticidade). BUENO, Cassio Scarpinella. Manual de direito processual civil: inteiramente
estruturado à luz do novo CPC – Lei n. 13.105, de 16-3-2015. São Paulo: Saraiva, 2015.
8. III - as razões do pedido de reforma ou de invalidação da decisão e o próprio pedido;
72 RECURSOS EM ESPÉCIE NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

posteriormente uma análise objetiva, mas detalhada, dos motivos de reforma


ou anulação da decisão recorrida.
O recurso deve então dialogar com o objeto recorrido (sentença,
acórdão, despacho interlocutório e outros). Já se afirmou que, para Daniel
Amorim Assumpção Neves9, “trata-se, na realidade, da causa de pedir recursal”.
Lembra ainda Neves que o recurso, em regra, deve ser de “fundamentação
livre”; todavia, é de se salientar que o recurso deve guardar uma lógica
processual – como manifestar a cautela em relação a “não surpresas”, isto é,
com a veiculação de argumentação em torno, apenas, em regra, de questões
já debatidas no processo10.
O art. 1.021, § 1º é claro então em trazer como requisito legal a
necessidade de, na petição de agravo interno, impugnar-se especificadamente
os fundamentos da decisão agravada, ou seja, na prática de respeitar o dever
de dialeticidade.
A ausência de dialeticidade e de impugnação dos “específicos
fundamentos da decisão agravada” é, inclusive, vale frisar, vício processual de
natureza insanável.

4.3 DECISÃO E A FUNDAMENTAÇÃO NECESSÁRIA

O disposto no § 3º do art. 1.021 assim faz constar: “É vedado ao


relator limitar-se à reprodução dos fundamentos da decisão agravada para
julgar improcedente o agravo interno”11.
É sabido que a nova ordem processual civil trouxe para o ordenamento
jurídico os elementos essenciais das decisões judiciais. Cobra a legislação
vigente uma posição mais ativa com a fundamentação das decisões judiciais12
com o texto legal disposto no art. 489 do CPC. O § 1º do dispositivo em
questão traz algumas exigências para considerar “fundamentada qualquer
decisão judicial, seja ela interlocutória, sentença ou acórdão”13. Verifica-se,
9. NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de direito processual civil / Daniel Amorim
Assumpção Neves. – 7. ed. rev. Versão ebook, atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo:
MÉTODO, 2015.
10. Exceção por conta do disposto no artigo 933 do CPC/2015.
11. Regimento Interno STJ, art. 259, § 2º: “Na petição de agravo interno, o recorrente impugnará
especificadamente os fundamentos da decisão agravada”.
12. Sobre o tema: “O dever de fundamentação (art. 93, IX da CF, art. 489 §1º CPC/2015) é
previsto expressamente no julgamento do agravo interno, visto ser vedado ao relator limitar-se
à reprodução dos fundamentos da decisão agravada para julgar improcedente o agravo interno.
NIDAHARA, Karla Saory Moriya. Agravo de Instrumento e Agravo Interno no CPC/2015. In:
FUGA, Bruno Augusto Sampaio (et. al. org.). Principais Inovações do Novo Código de Processo
Civil. Birigui, SP: Boreal, 2017, p .465.
13. “§ 1o Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória, sentença
ou acórdão, que: I - se limitar à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem
Agravo interno 73

portanto, que o texto legal não trata apenas de sentenças, mas de quaisquer
decisões judiciais – essa exigência de fundamentação não seria diferente, por
óbvio, para a decisão do agravo interno.
Assim, e por força, inclusive, da redação específica e expressa do
dispositivo legal sob análise, é vedado ao relator, bem como ao órgão
colegiado, “limitar-se à reprodução dos fundamentos da decisão agravada
para julgar improcedente o agravo interno”. Para se considerar fundamentada
uma decisão do agravo interno, deverá tanto relator como órgão colegiado
motivar a decisão de acordo com todos os dispositivos legais do § 1º do
art. 489 – inclusive enfrentando todos os argumentos deduzidos pela parte e
capazes de, em tese, infirmar a conclusão esposada pelo julgador.
É de se salientar, inclusive, que, ao que parece, mostra-se pertinente a
interposição de recurso especial com fundamento no art. 10514, III, “a” da
Constituição Federal para pleitear a reforma da decisão cuja fundamentação
esteja limitada à reprodução dos fundamentos da deliberação anterior
(recorrida) com vistas a garantir vigência ao determinado no art. 489, § 1º do
CPC/2015 e, assim, obter a devida fundamentação – seria um recurso (recuso
especial) para obter a devida fundamentação da decisão proferida em outro
recurso (mais especificamente o agravo interno, neste caso).

4.4 A MULTA POR INADMISSIBILIDADE MANIFESTA

Dispõe o § 4º do art. 1.021 que “quando o agravo interno for declarado


manifestamente inadmissível ou improcedente em votação unânime, o órgão
colegiado, em decisão fundamentada, condenará o agravante a pagar ao
agravado multa fixada entre um e cinco por cento do valor atualizado da
causa”.
Tal multa constitui forte instrumento contra recursos protelatórios;
todavia, deve ser visto com grandes ressalvas, para que não implique

explicar sua relação com a causa ou a questão decidida; II - empregar conceitos jurídicos
indeterminados, sem explicar o motivo concreto de sua incidência no caso; III - invocar motivos
que se prestariam a justificar qualquer outra decisão; IV - não enfrentar todos os argumentos
deduzidos no processo capazes de, em tese, infirmar a conclusão adotada pelo julgador; V -
se limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus fundamentos
determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta àqueles fundamentos; VI
- deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela parte, sem
demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação do entendimento.”
14. “Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: III - julgar, em recurso especial, as causas
decididas, em única ou última instância, pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos
Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão recorrida: a) contrariar tratado ou
lei federal, ou negar-lhes vigência; b) julgar válido ato de governo local contestado em face de lei
federal; c) der a lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído outro tribunal.”
74 RECURSOS EM ESPÉCIE NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

cerceamento inadequado das possibilidades constitucionalmente garantidas


de exercício do contraditório e da ampla defesa.
Assim, não poderá ser a multa fundamentada, por exemplo, apenas
na simples circunstância de improcedência do agravo interno; mesmo que
“em votação unânime” – hipótese em que sua aplicação (exclusivamente
por tal fundamento, repita-se) mostra-se totalmente desproporcional15. O
recurso existe e é direito subjetivo da parte buscar o seu provimento junto ao
Judiciário, mesmo que a decisão, por unanimidade, seja de não provimento – a
simples rejeição do recurso, portanto, não é motivo suficiente para a aplicação
da multa sob análise.
É evidente que, em muitas situações, a aplicação da multa parece
razoável; e o tema é tratado quando dos deveres das partes, no art. 77 e no
tópico de Responsabilidade das Partes por Dano Processual, nos art. 79 e
seguintes, todos do CPC/2015.
Parece adequada a imposição de multa, por exemplo, quando a parte
“alterar a verdade dos fatos”, ou “usar do processo para conseguir objetivo
ilegal,” (art. 80). Desta maneira, ao que parece, o assunto já se encontrava
devidamente disciplinado nos artigos 77 e seguintes do CPC – sendo, assim,
salvo melhor juízo, que seria desnecessário que o art. 1.021 repetisse o assunto
de forma deslocada.
Qualquer previsão legal que implique sanções processuais de qualquer
ordem e, ainda, que iniba16 a prática de interposição de Recurso deve ser vista
com cautela; e essa previsão legal do § 4º do art. 1.021 não é diferente.

4.5 FUNGIBILIDADE COM OS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO

O art. 1024, § 3º, ao tratar dos embargos de declaração afirma que “o


órgão julgador conhecerá dos embargos de declaração como agravo interno
se entender ser este o recurso cabível, desde que determine previamente a

15. Sobre o tema, o Enunciado 358 do FPPC: “A aplicação da multa prevista no art. 1.021, § 4º, exige
manifesta inadmissibilidade ou manifesta improcedência”.
Sobre o tema, o Enunciado 359 do FPPC: “A aplicação da multa prevista no art. 1.021, § 4º, exige
que a manifesta inadmissibilidade seja declarada por unanimidade”.
16. Sobre o tema: “Outro fator inibidor do exercício do direito de recorrer é o não adimplemento
de multas fixadas em lei, que impedem a interposição de novos recursos. Tal é o que ocorre com
as previsões concernentes ao agravo interno (art. 1.021, §5.°) e aos embargos declaratórios (art.
1.026, §3.°). Embora se possa duvidar da constitucionalidade desses dispositivos, enquanto não
houver manifestação da instância própria a respeito, a parte condenada a pagar essas multas (pela
interposição de recurso considerado protelatório) não pode utilizar-se de outros meios recursais
enquanto não depositar os valores devidos”. MARINONI, Luiz Guilherme. Novo curso de
processo civil: tutela dos direitos mediante procedimento comum, volume II. Luiz Guilherme
Marinoni, Sérgio Arenhart, Daniel Mitidiero. São Paulo, Editora Revista dos Tribunais, 2015, p.
521. Curso de Processo Civil, v. 2.
Agravo interno 75

intimação do recorrente para, no prazo de 5 (cinco) dias, complementar as


razões recursais, de modo a ajustá-las às exigências do art. 1.021, § 1o.”
O assunto é pertinente e tratado com admirável senso instrumentalidade
e consciência democrática da função dos mecanismos processuais pelo CPC.
Os embargos de declaração têm ampla possibilidade de ser opostos; poderiam
ser manejados, inclusive, contra a decisão monocrática com obscuridade,
contradição, omissão ou para corrigir erro material. É possível, assim, que
em determinados casos haja dúvida objetiva entre a viabilidade de oposição
de embargos de declaração ou de interposição de agravo interno contra a
decisão do Relator.
De acordo com o texto legal, todavia, desde que intimado o Recorrente
para “complementar”17 as razões recursais, os Embargos deverão ser recebidos
como se agravo interno fossem18.

4.6 O AGRAVO INTERNO E O ARTIGO 1.030

O agravo interno deverá ser interposto contra a decisão do relator,


porém não somente nessas hipóteses. Aqui, sugere-se especial atenção ao
leitor e operador do Direito.
Com vistas a viabilizar uma apreciação crítica da questão, apresenta-se
parte do texto positivado no artigo sob análise:
Art.  1.030. Recebida a petição do recurso pela secretaria
do tribunal, o recorrido será intimado para apresentar
contrarrazões no prazo de 15 (quinze) dias, findo o qual os
autos serão conclusos ao presidente ou ao vice-presidente
do tribunal recorrido, que deverá: (Redação dada pela Lei n.º
13.256, de 2016) (Vigência)
I – negar seguimento: (Incluído pela Lei n.º 13.256, de 2016)
(Vigência)
a)  a recurso extraordinário que discuta questão constitucional
à qual o Supremo Tribunal Federal não tenha reconhecido a
existência de repercussão geral ou a recurso extraordinário
interposto contra acórdão que esteja em conformidade com
entendimento do Supremo Tribunal Federal exarado no
regime de repercussão geral; (Incluída pela Lei n.º 13.256, de

17. Sobre o tema: “O dispositivo deve ser saudado porque a causa de pedir recursal dos embargos
de declaração, voltada a vícios formais previamente determinados em lei, não se confunde
com a causa de pedir do agravo interno, que se presta a impugnar os fundamentos da decisão
monocrática. Sem a adaptação, como ocorre atualmente, o recorrente tem o agravo interno
julgado sem ter tido a oportunidade de arrazoá-lo”. NEVES, Daniel Amorim Assumpção.
Manual de direito processual civil / (...), 2015.
18. Sobre o tema, o Enunciado 104 do FPPC: “O princípio da fungibilidade recursal é compatível
com o NCPC e alcança todos os recursos, sendo aplicável de ofício.”
76 RECURSOS EM ESPÉCIE NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

2016) (Vigência)
b)  a recurso extraordinário ou a recurso especial interposto
contra acórdão que esteja em conformidade com
entendimento do Supremo Tribunal Federal ou do Superior
Tribunal de Justiça, respectivamente, exarado no regime de
julgamento de recursos repetitivos; (Incluída pela Lei n.º
13.256, de 2016) (Vigência)
II – encaminhar o processo ao órgão julgador para realização
do juízo de retratação, se o acórdão recorrido divergir do
entendimento do Supremo Tribunal Federal ou do Superior
Tribunal de Justiça exarado, conforme o caso, nos regimes de
repercussão geral ou de recursos repetitivos; (Incluído pela
Lei n.º 13.256, de 2016) (Vigência)
III – sobrestar o recurso que versar sobre controvérsia de
caráter repetitivo ainda não decidida pelo Supremo Tribunal
Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça, conforme
se trate de matéria constitucional ou infraconstitucional;
(Incluído pela Lei n.º 13.256, de 2016) (Vigência)
IV – selecionar o recurso como representativo de controvérsia
constitucional ou infraconstitucional, nos termos do § 6º do
art. 1.036; (Incluído pela Lei n.º 13.256, de 2016) (Vigência)
V – realizar o juízo de admissibilidade e, se positivo, remeter
o feito ao Supremo Tribunal Federal ou ao Superior Tribunal
de Justiça, desde que: (Incluído pela Lei n.º 13.256, de 2016)
(Vigência)
a)  o recurso ainda não tenha sido submetido ao regime de
repercussão geral ou de julgamento de recursos repetitivos;
(Incluída pela Lei n.º 13.256, de 2016) (Vigência)
b)   o recurso tenha sido selecionado como representativo
da controvérsia; ou (Incluída pela Lei n.º 13.256, de 2016)
(Vigência)
c)  o tribunal recorrido tenha refutado o juízo de retratação.
(Incluída pela Lei n.º 13.256, de 2016)   (Vigência)
§   1º  Da decisão de inadmissibilidade proferida com
fundamento no inciso V caberá agravo ao tribunal superior,
nos termos do art. 1.042. (Incluído pela Lei n.º 13.256, de
2016)   (Vigência)
§  2º Da decisão proferida com fundamento nos incisos I e
III caberá agravo interno, nos termos do art. 1.021. (Incluído
pela Lei n.º 13.256, de 2016) (Vigência) (grifo nosso).
Primeiro, verifica-se facilmente com a leitura que vários dispositivos
legais sobre o assunto foram de alguma forma alterados pela Lei 13.256/2016.
Segundo, para quem não está habituado a manejar os Recursos em questão,
Agravo interno 77

há evidentemente a necessidade de uma atenção especial às hipóteses de


cabimento, requisitos e características próprias.
O art. 1.030 trata do recurso especial e do recurso extraordinário e,
principalmente, sobre a fase de admissibilidade dos referidos recursos.
Diante da inadmissibilidade de tais recursos, poderia o recorrente ser levado
a interpor o agravo em recurso especial e em recurso extraordinário do art.
1.042. Porém, importante observar, que há hipótese de Agravo nos termos
do art. 1.042 (CPC, art. 1.030, §1º) e Agravo nos termos do art. 1.021 (CPC,
art. 1.030, §2º) – dois recursos distintos, com funções diversas e que não se
confundem de forma alguma.
Caberá então agravo interno (além das hipóteses do art. 1.021 e das
ocasiões em que se aplicar fungibilidade em relação aos embargos de declaração)
também nos casos previstos no art. 1.030, §2º; ou seja, deverá ser interposto
agravo interno se o presidente ou ao vice-presidente do tribunal onde se
proferiu a decisão recorrida negar seguimento “a) a recurso extraordinário que
discuta questão constitucional à qual o Supremo Tribunal Federal não tenha
reconhecido a existência de repercussão geral ou a recurso extraordinário
interposto contra acórdão que esteja em conformidade com entendimento
do Supremo Tribunal Federal exarado no regime de repercussão geral; ou b)
a recurso extraordinário ou a recurso especial interposto contra acórdão que
esteja em conformidade com entendimento do Supremo Tribunal Federal
ou do Superior Tribunal de Justiça, respectivamente, exarado no regime de
julgamento de recursos repetitivos.”
Caberá ainda agravo interno, com fundamento no art. 1.030, § 2º,
se o presidente ou ao vice-presidente do tribunal recorrido “(III) sobrestar
o recurso que versar sobre controvérsia de caráter repetitivo ainda não
decidida pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça,
conforme se trate de matéria constitucional ou infraconstitucional.”

4.7 AGRAVO INTERNO NO AGRAVO DE INSTRUMENTO

As decisões monocráticas proferidas com fundamento no art. 1.019, I


do CPC19 são recorríveis por meio de agravo de interno, a saber:

19. Sobre o tema: “No que toca ao agravo interno, não há mecanismo de atribuição de efeito
suspensivo e talvez essa lacuna mereça ser coberta por norma regimental, na medida em que
o art. 1.021, NCPC, remete ao regimento o papel de disciplinar seu processamento. Mas na
falta de norma regimental específica, alguma solução precisa haver e embora criticável, parece
que a solução seja cometer ao Relator do agravo interno, nada obstante seja ele o prolator da
decisão agravada, pois solução similar se colhe da regra do § 1º, do art. 1.026, NCPC, ditada
para os embargos de declaração. A crítica é no sentido de que essa solução, em termos práticos,
inviabiliza concretamente a concessão de efeito suspensivo, na medida em que o prolator da
decisão agravada dificilmente vai vislumbrar probabilidade de êxito recursal.” MARIOTTI,
78 RECURSOS EM ESPÉCIE NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

Art. 1.019.   Recebido o agravo de instrumento no tribunal


e distribuído imediatamente, se não for o caso de aplicação
do art. 932, incisos III e IV, o relator, no prazo de 5 (cinco)
dias: I - poderá atribuir efeito suspensivo ao recurso ou deferir,
em antecipação de tutela, total ou parcialmente, a pretensão
recursal, comunicando ao juiz sua decisão; (grifo nosso)
Sobre o tema, o Enunciado 142 do FPPC: “Da decisão monocrática
do relator que concede ou nega o efeito suspensivo ao agravo de instrumento
ou que concede, nega, modifica ou revoga, no todo ou em parte, a tutela
jurisdicional nos casos de competência originária ou recursal, cabe o recurso
de agravo interno nos termos do art. 1.021 do CPC”.

4.8 AGRAVO INTERNO NOS RECURSOS EXTRAORDINÁRIO E


ESPECIAL REPETITIVOS

A dinâmica aplicável nos casos de constatação de multiplicidade de


Recursos Extraordinários e Especiais com fundamento em idêntica questão
de direito tem previsão legal no art. 1.036 do CPC. Os pressupostos para
admissibilidade estão descritos no dispositivo legal em questão, e o relator,
presentes tais pressupostos, proferirá decisão.
De acordo com o art. 1.037, § 9o  “demonstrando distinção entre a
questão a ser decidida no processo e aquela a ser julgada no recurso especial
ou extraordinário afetado, a parte poderá requerer o prosseguimento do seu
processo”. Da decisão do relator sobre tal requerimento, de acordo com a
previsão do § 13, II, do referido artigo, caberá agravo interno20.
Deste modo, o interessado poderá configurar o distinguishing21 entre o
caso afetado e sua pretensão, assim tentará demonstrar tratar-se de casos com
ratio decidendi diversas. Em suma, contra essa decisão proferida pelo relator
sobre o requerimento de desafetação caberá agravo interno22.
Eduardo. Anotações aos artigos 994 a 1008. In Novo código de processo civil anotado / OAB.
– Porto Alegre: OAB RS, 2015, 770.
Sobre o tema, Enunciado 142 do FPPC: “(art. 298; art. 1.021) Da decisão monocrática do
relator que concede ou nega o efeito suspensivo ao agravo de instrumento ou que concede,
nega, modifica ou revoga, no todo ou em parte, a tutela jurisdicional nos casos de competência
originária ou recursal, cabe o recurso de agravo interno nos termos do art. 1.021 do CPC.”
20. “§13.  Da decisão que resolver o requerimento a que se refere o § 9o  caberá: I - agravo de
instrumento, se o processo estiver em primeiro grau; II - agravo interno, se a decisão for de
relator.
21. A este respeito, cf. o capítulo 1.
22. Oportuno consignar que o inciso II do § 13 do art. 1.037 do CPC contempla relevante hipótese
de cabimento de agravo interno, derivada dos casos de requerimentos fundados no § 9º
daquele dispositivo, para fins de desafetação de determinado processo submetido ao regime
de julgamento dos recursos especial e extraordinários repetitivos, permitindo a impugnação de
eventual ordem monocrática de suspensão, para fins de permitir o seu prosseguimento. Nesses
casos, dar-se-á o uso do agravo interno contra a decisão unipessoal que negar ou acolher o
Agravo interno 79

4.9 AGRAVO INTERNO CONTRA A DECISÃO SOBRE


DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA

Com a vigência do CPC/2015, algumas inovações no âmbito processual


foram trazidas no que tange à desconsideração da personalidade jurídica. O
assunto recebe tratamento específico no art. 136 do referido diploma legal.
De acordo com o dispositivo legal sob análise, “concluída a instrução,
se necessária, o incidente será resolvido por decisão interlocutória”, e o
parágrafo único prevê que, “se a decisão for proferida pelo relator, cabe
agravo interno.”
Entende-se, contudo, que, neste particular, o agravo interno seria
pertinente apenas contra as decisões finais que defiram ou não o pedido de
desconsideração da personalidade jurídica, e não contra a simples decisão do
relator que determina o processamento do incidente – que, neste particular,
é desprovida de cunho decisório e, portanto, não é passível de recurso. Sobre
o tema o art. 932, VI do CPC aponta que incumbe ao relator “decidir o
incidente de desconsideração da personalidade jurídica, quando este for
instaurado originariamente perante o tribunal.”23

4.10 NO ÂMBITO DO JUIZADO ESPECIAL

No âmbito do Juizado Especial Cível, há algumas restrições recursais,


como a inexistência de previsão legal dos recursos adesivos, a impossibilidade
de interposição de agravo de instrumento contra decisões interlocutórias e a
inviabilidade de interposição de recurso especial.
Destaca-se, porém, que há possibilidade de interposição de agravo
interno contra a decisão proferida pelo relator na Turma Recursal.24 Esse
configura um requisito, inclusive, para viabilizar a posterior interposição

pedido de desafetação”. KOZIKOSKI, Sandro Marcelo. O “novo” juízo de admissibilidade do


recurso especial e extraordinário. In Novo CPC doutrina selecionada, v. 6: processo nos tribunais
e meios de impugnação às decisões judiciais. Coordenador geral, Fredie Didier Jr; organizadores,
Lucas Buril de Macêdo, Ravi Peixoto, Alexandre Freire, Salvador: Juspodivm, 2016a, p. 1593.
Sobre o assunto, Enunciado do FPPC 230: “(art. 1.043) Cabem embargos de divergência contra
acórdão que, em agravo interno ou agravo em recurso especial ou extraordinário, decide recurso
especial ou extraordinário.”
23. “Sobre o tema: “Sendo o incidente processado no âmbito dos Tribunais, esclarece o parágrafo
único, a hipótese é de agravo interno, o que se harmoniza com a previsão do art. 932, VI, que
reserva ao relator a competência (monocrática) para decidir o incidente aqui anotado, quando
ele, o incidente, for instaurado originariamente perante o Tribunal”. BUENO, Cassio Scarpinella.
Novo Código de Processo Civil anotado. São Paulo: Saraiva, 2015.
24. Sobre o tema, o Enunciado 464 do FPCC: “A decisão unipessoal (monocrática) do relator em
Turma Recursal é impugnável por agravo interno.”.
80 RECURSOS EM ESPÉCIE NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

de recurso extraordinário – ou seja, passo necessário para esgotar as vias


ordinárias antes da interposição do RE.25

25. Sobre o tratamento do Recurso Extraordinário, cf. o capítulo 8.


CAPÍTULO V

OS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO

Este breve capítulo tem como objeto a análise do tratamento do


recurso de embargos de declaração pelo CPC/2015, mais especificamente
nos art. 1.022 e seguintes.
Pretende-se abordar as características gerais do recurso em questão,
suas hipóteses de cabimento, requisitos específicos e efeitos, e, assim, de
certa forma, oferecer um quadro comparativo em relação à sistemática
anteriormente vigente.
Merece especial atenção o tratamento que o CPC/2015 pretendeu dar
aos embargos de declaração opostos com fins de prequestionamento e os
desafios que a prática provavelmente colocará até que a norma consiga atingir
sua finalidade.26
Conquanto a rotina forense dê conta de que os embargos de declaração
constituem recurso extremamente banalizado – tanto no manejo, por parte
de advogados, quanto na apreciação, pelos magistrados –, pode ele se mostrar
instrumento de diferenciada importância na integração de decisões judiciais,
de maneira, inclusive, a evitar o acesso desnecessário às instâncias recursais e
também a prevenir danos concretos às partes, promovendo, assim, a possível
pacificação social dentro do processo,27 um dos escopos da jurisdição.
26. A este respeito, cf. o capítulo 1.
27. Sobre o tema: “[trata-se de] instrumento de colaboração no processo, permitindo um juízo
aberto e ponderado ante um diálogo que tem por escopo um efetivo aperfeiçoamento da tutela
jurisdicional, conforme anota o artigo 6º do CPC/2015”. GIORGIANI, Camila Fonseca Rupp.
Embargos de declaração e as alterações no novo código de processo civil. In: FUGA, Bruno
Augusto Sampaio (et. al. org.). Principais Inovações do Novo Código de Processo Civil. Birigui,
SP: Boreal, 2017, p. 443.
Sobre o tema: “[os embargos de declaração constituem] instrumento de aperfeiçoamento da
decisão”. DIDIER JR., Fredie; BRAGA, Paula Sarno; e OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Curso
de Direito Processual Civil, vol. 2: teoria da prova, direito probatório, ações probatórias, decisão,
precedente, coisa julgada e antecipação dos efeitos da tutela. 10 ed. Salvador: Jus Podivm, 2015,
p. 338.
Sobre o tema, o Enunciado 475 do FPPC: “Cabem embargos de declaração contra decisão
82 RECURSOS EM ESPÉCIE NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

5.1 PREVISÃO LEGAL NO CPC/2015

Os embargos de declaração encontram-se disciplinados nos art.


1.022 a 1.026 do CPC/2015, que tratam, em síntese apertada, das hipóteses
de cabimento do recurso, do prazo para oposição e manifestação da parte
adversa, do julgamento, de sua utilização para fins de pré-questionamento e
de seus efeitos.
Conforme se procurará demonstrar adiante, o CPC/2015 trata do
recurso sob análise de forma consideravelmente mais detalhada que o diploma
adjetivo civil anterior.28

5.2 HIPÓTESES DE CABIMENTO DO RECURSO

O art. 494, II, do CPC/2015 prevê que a oposição de embargos de


declaração é uma das hipóteses em que o juiz pode alterar a sentença mesmo
depois de publicada.29
A simples pretensão de que a decisão ou sentença seja modificada,
contudo, não dá ensejo à oposição do recurso – e até por isso é de extrema
importância o conhecimento específico das hipóteses de cabimento, de forma
a viabilizar o exercício adequado da dialeticidade nos embargos de declaração.
Segundo o art. 1.022 do CPC, cabem embargos de declaração contra
qualquer decisão judicial para esclarecer obscuridade ou eliminar contradição;
suprir omissão de ponto ou questão sobre o qual devia se pronunciar o juiz
de ofício ou a requerimento; e para corrigir erro material.

interlocutória no âmbito dos juizados especiais”.


28. Sobre o tema: “A legislação nova foi severa e minuciosa na repulsa à tolerância com que os
tribunais vinham compactuando com verdadeiros simulacros de fundamentação, em largo uso
na praxe dos juízos de primeiro grau e nos tribunais superiores”. THEODORO JÚNIOR,
Humberto. Curso de Direito Processual Civil - Vol. III, 50ª edição. Forense, 02/2017.
Sobre o tema: “Pensamos que haverá uma tendência de aumento na quantidade de recursos
de embargos de declaração, já que as situações listadas no § 1.º do art. 489 são extremamente
subjetivas”. MONTENEGRO FILHO, Misael. Curso de Direito Processual Civil, 12ª edição.
Atlas, 04/2016.
Sobre o tema: “Assim, trata-se de recurso com íntima ligação com duas garantias fundamentais:
o princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional (art. 5.º, XXXV, da CF/1988) e o dever
de fundamentação das decisões (art. 93, IX, da CF/1988).” WAMBIER, Luiz Rodrigues. Curso
Avançado de Processo Civil: cognição jurisdicional (processo comum de conhecimento e tutela
provisória), volume 2 / Luiz Rodrigues Wambier, Eduardo Talamini. 16 ed (5ºed. em ebook)’.
Reformulada e ampliada de acordo com o novo CPC. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,
2016
29. Pode-se mencionar, também, a possibilidade de alteração da sentença publicada para correção
de inexatidões materiais ou erros de cálculo, segundo o art. 494, I; e, ainda, a possibilidade de
retratação de sentença de indeferimento da petição inicial e da sentença liminar de improcedência,
conforme a previsão do art. 331, caput, e do art. 332, §§ 3º e 4º do CPC.
Os embargos de declaração 83

De início, é importante salientar que, enquanto o art. 535 do CPC/1973


previa, textualmente, a possibilidade de oposição de embargos de declaração
por obscuridade ou contradição apenas em sentença ou acórdão, ou por
omissão30, o caput do art. 1.022 do CPC/2015 consagrou aquilo que já era,
há muito, prática completamente disseminada (e em torno da qual não havia
controvérsias relevantes), isto é, a admissão de embargos de declaração contra
qualquer espécie de decisão judicial.31
A decisão será considerada obscura quando lhe faltar clareza a ponto
de se tornar ininteligível ou incompreensível segundo as circunstâncias do
caso concreto.
A este respeito, o Ministro Hamilton Carvalhido, do Superior Tribunal
de Justiça, afirmou, judiciosamente que:
A obscuridade verifica-se quando há evidente dificuldade na
compreensão do julgado. Ocorre quando há a falta de clareza
do decisum, daí resultando a ininteligibilidade da questão
decidida pelo órgão judicial. Em última análise, ocorre a
obscuridade quando a decisão, no tocante a alguma questão
importante, soluciona-a de modo incompreensível.32
Quanto à contradição que dá ensejo à oposição do recurso, é importante
destacar que se trata de inconformidade entre os termos da própria decisão
judicial recorrida, ou, eventualmente, entre tal decisão e deliberação anterior
do próprio juízo.
Dito de outra forma, é a contradição “interna” (entre os termos daquilo
que foi decidido pelo próprio ente jurisdicional) que configura hipótese de

30. No art. 535, II, do CPC/1973, não havia menção às espécies de decisão contra as quais caberia a
oposição de Embargos de Declaração por omissão, mas era categórico no inciso imediatamente
anterior ao mencionar apenas sentenças e acórdãos.
Sobre o tema: “O art. 1.022 do CPC/2015 adotou esse entendimento, tendo previsto o cabimento
de embargos de declaração em face de qualquer decisão judicial.” ALVIM, Arruda. Manual de
direito processual civil (livro eletrônico): teoria do processo e processo de conhecimento /
Arruda Alvim – 2 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2017.
31. Neste particular, o CPC/2015 é digno de elogios, haja vista o fato de que, considerando o princípio
da tipicidade dos recursos, contribui para a manutenção da harmonia do sistema processual.
Sobre o tema: “o legislador positivou entendimento doutrinário e jurisprudencial, para
prever o cabimento do recurso de embargos de declaração ‘contra qualquer decisão judicial’,
logicamente incluindo as decisões interlocutórias, o que não se encontra previsto no CPC/73”.
MONTENEGRO FILHO, Misael. Novo Código de Processo Civil: modificações substanciais. São Paulo:
Atlas, 2015, p. 116.
Sobre o tema: “Mérito importante do caput do art. 1.022 está na admissão do recurso de embargos
de declaração contra qualquer decisão, o que deve ser suficiente para afastar inexplicável
entendimento restritivo por vezes defendido diante da literalidade do art. 535 do CPC atual, de
que a decisão interlocutória não seria embargável de declaração”. BUENO, Cassio Scarpinella.
Manual de direito processual civil: inteiramente estruturado à luz do novo CPC – Lei n. 13.105,
de 16-3-2015. São Paulo: Saraiva, 2015.
32. Cf. STJ, REsp 671.165/SP, Rel. Ministro Hamilton Carvalhido, 6ª Turma, julgado em 21/10/2004,
DJ 17/12/2004, p. 636.
84 RECURSOS EM ESPÉCIE NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

cabimento de embargos de declaração, e não a simples contradição entre a


decisão e aquilo que foi alegado ou pleiteado pela parte.33
O próprio art. 1.022, em seu parágrafo único, procura explicitar,
também, a espécie de omissão que dá azo à oposição de embargos de
declaração, especificando que se considera omissa a decisão que deixe de
se manifestar sobre tese firmada em julgamento de casos repetitivos ou em
incidente de assunção de competência aplicável ao caso sob julgamento; ou
que incorra em qualquer das condutas descritas no art. 489, § 1º do CPC.34
Pode-se destacar que é viável a oposição de embargos de declaração
por omissão quando o magistrado deixar de se manifestar sobre matéria de
ordem pública – mesmo que não tenha havido invocação específica anterior
da parte a este respeito.
Vale mencionar, ainda, que, com fundamento em omissão, é, em
tese, viável a oposição de embargos de declaração mesmo contra ato do
juiz completamente desprovido de cunho decisório, ou seja, mesmo contra
despachos de mero expediente.
Isto porque, em determinadas situações, pode ocorrer de o magistrado
determinar o impulsionamento do feito sem se manifestar sobre pedido da
parte que demande apreciação imediata. Neste caso, ao que parece, estaria
configurada omissão juridicamente relevante, que daria ensejo à oposição de
embargos de declaração com fundamento no art. 1.022, II, do CPC/2015.

33. Sobre o tema: “A decisão contraditória ocorre quando há, na decisão, elementos racionalmente
inconciliáveis. A contradição, desta forma, confunde-se com a incoerência interna da decisão”
ALVIM, Teresa Arruda. Embargos de Declaração. In: TUCCI, José Rogério Cruz e (et. al.,
coord.). OAB Paraná e AASP. Código de Processo Civil Anotado. Curitiba: OAB Paraná, 2015,
p. 1596.
34. Sobre o tema, o Enunciado 598 do FPPC: “Cabem embargos de declaração para suprir a
omissão do acórdão que, embora convergente na conclusão, deixe de declarar os fundamentos
divergentes”.
Sobre o tema: “[...] o parâmetro a partir do qual se deve aferir a completude da motivação das
decisões judiciais passa longe da simples constância na decisão do esquema lógico-jurídico
mediante o qual o juiz chegou à sua conclusão. Partindo-se da compreensão do direito ao
contraditório como direito de influência e o dever de fundamentação como dever de debate, a
completude da motivação só pode ser aferida em função dos fundamentos arguidos pelas partes”.
MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz; e MITIDIERO, Daniel. Novo Curso
de Processo Civil, vol. 2: tutela dos direitos mediante procedimento comum. São Paulo: RT, 2015,
p. 540.
Sobre o tema: “[...] ante o contigo no artigo 489, § 1º, inciso IV do CPC/2015, o órgão
jurisdicional é obrigado a enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo que, em tese,
embasam a conclusão adotada, sob pena de não se considerar fundamentada a decisão. Portanto,
todos os argumentos com aptidão para conduzir a decisão devem ser analisados pelo magistrado,
e assim, existindo omissão na análise de qualquer argumento, caberão embargos de declaração
para saneamento de tal omissão”. GIORGIANI, Camila Fonseca Rupp. Embargos de declaração
e as alterações no novo código de processo civil. In: FUGA, Bruno Augusto Sampaio (et. al.
org.). Principais Inovações do Novo Código de Processo Civil. Birigui, SP: Boreal, 2017, p. 446.
Os embargos de declaração 85

Por derradeiro, o art. 1.022, III, prevê a possibilidade de oposição de


embargos de declaração para veicular o requerimento de correção de erro de
ordem material.35
Neste ponto, o ordenamento reforça aquilo que já se encontra previsto
no art. 494, I, do CPC/2015, segundo o qual, como visto, publicada a sentença
é possível ao juiz alterá-la para corrigir, de ofício ou a requerimento da parte,
inexatidões materiais ou erros de cálculo.
Vale mencionar que, ao que parece, o pedido previsto no art. 494, I,
do CPC/2015 pode ser formulado por meio de simples petição, que não se
sujeita aos requisitos específicos dos embargos de declaração e nem tampouco
é limitado pelo prazo previsto para a sua oposição no art. 1.023, caput.36
Imagine, por exemplo, uma ação de adoção que seja julgada procedente
– e em que isto salte claro e cristalino da fundamentação e também da parte
dispositiva –, mas em que, afinal, a sentença determine que seja formalizado
novo registro da criança tendo como genitores pessoas que absolutamente não
tenham participado da relação jurídico-processual. Trata-se, evidentemente,
de hipótese de mero erro material, que pode e deve ser corrigido pelo juiz
prolator da sentença de ofício ou a requerimento da parte interessada (ou,
ainda, no caso, do Ministério Público, na qualidade de fiscal da lei), mesmo
após transcorrido o prazo para interposição de recursos, em homenagem aos
princípios da instrumentalidade e da economia processual.
Por outro lado, é de se mencionar que, quando viável, aproveitando
a nova menção específica do art. 1.022, III, do CPC/2015, é claramente
preferível à parte, por cautela e respeito à boa técnica, manejar a solicitação de
correção de erro material por meio da oposição de embargos de declaração
– isto levando em conta a possibilidade de o magistrado prolator da decisão
negar-se a corrigir o equívoco em questão, o que poderia dar causa à
necessidade de interposição de outro recurso, o que seria possível por força
da previsão do art. 1.026, caput,37 ao qual se reportará mais adiante.

35. Sobre o tema: “O CPC/2015 acrescentou uma nova hipótese legal de cabimento dos embargos
declaratórios: a correção de erro material, qual seja, um erro na redação da decisão – erros de
cálculos e inexatidões materiais – e não no julgamento nela exprimido”. GIORGIANI, Camila
Fonseca Rupp. Embargos de declaração e as alterações no novo código de processo civil. In:
FUGA, Bruno Augusto Sampaio (et. al. org.). Principais Inovações do Novo Código de Processo
Civil. Birigui, SP: Boreal, 2017, p. 440.
36. Sobre o tema, o Enunciado 360 do FPPC: “A não posição de embargos de declaração em caso
de erro material na decisão não impede sua correção a qualquer tempo”.
Sobre o tema, o Enunciado 394 do FPPC: “As partes podem opor embargos de declaração para
corrigir vício da decisão relativo aos argumentos trazidos pelo amicus curiae”.
37. O art. 1.026, caput, do CPC/2015 estabelece que os embargos de declaração não têm efeito
suspensivo, mas esclarece que sua oposição interrompe o prazo para interposição de outros
recursos.
86 RECURSOS EM ESPÉCIE NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

5.3 PRAZO E CARACTERÍSTICAS DA OPOSIÇÃO DO RECURSO

O CPC/2015 inovou, também, ao procurar, por meio do art. 1.003, §


5º, unificar os prazos para apresentação de recursos em 15 dias38 – excetuando,
contudo, expressamente, os embargos de declaração, para cuja oposição o art.
1.023, caput, prevê o prazo de cinco dias.39
Segundo o art. 1.023, caput, a petição de oposição do recurso deve
ser dirigida à própria autoridade judicial prolatora da decisão impugnada.
Vale dizer que se a decisão recorrida foi prolatada na primeira instância, os
embargos de declaração são dirigidos ao próprio juiz; e se a decisão recorrida
foi proferida no âmbito de Tribunal, o recurso é dirigido ao respectivo
desembargador ou ministro.
O dispositivo legal em questão ainda assevera que é necessário que haja
indicação específica do erro, obscuridade, contradição ou omissão que dá
fundamento ao recurso e configura o seu cabimento – trata-se de previsão
legal expressa que salienta a indispensabilidade do respeito à dialeticidade no
exercício recursal.
No § 1º, o art. 1.023 do CPC/2015 prevê ser aplicável aos embargos de
declaração a disposição do art. 229; segundo a qual, “quando os litisconsortes
[...] tiverem diferentes procuradores, de escritórios de advocacia distintos,
terão prazos contados em dobro para todas as suas manifestações”. Vale
mencionar, porém, que segundo a determinação do art. 229, § 2º, a contagem
de prazos em dobro, por diversidade de procuradores, não é aplicável aos
processos que tramitam em meio eletrônico.40
Logo a seguir, o art. 1.023, § 2º, determina que, naqueles casos em que
eventual acolhimento dos embargos de declaração implique a modificação

38. É de se mencionar que aqui também vale a determinação do art. 219 de que na contagem de
prazo em dias computar-se-ão somente os dias úteis.
39. Nas ações sujeitas ao procedimento previsto no Código Eleitoral, o prazo para oposição de
embargos de declaração é de três dias, por força do determinado no art. 1.067 do CPC/2015.
40. A primeira impressão pode ser de que o art. 229, assim, não tem mais qualquer importância prática,
haja vista o fato de que, em muitos lugares, as novas demandas, sem exceção, são processadas em
meio eletrônico. Vale lembrar, contudo, que no Estado do Paraná, por exemplo, em que pese o
fato de as novas ações todas serem distribuídas em meio eletrônico, muitos recursos continuam
tramitando em autos físicos, no Tribunal de Justiça – hipóteses em que, portanto, continua tendo
plena aplicabilidade a contagem de prazo em dobro prevista no art. 229, caput, do CPC/2015.
Os embargos de declaração 87

da decisão embargada,41 o juiz deverá oportunizar a manifestação da parte


adversa, no prazo de cinco dias.42
Trata-se, aqui, ao que parece, de mera explicitação daquilo que já
se encontra determinado no art. 9º, caput, do CPC/2015,43 e também de
consequência natural da garantia constitucional fundamental de exercício
efetivo de contraditório.
Evidentemente – e inclusive em respeito à garantia constitucional
igualmente fundamental de razoável duração do processo, que é repisada
no art. 4º, do CPC/2015 – a intimação do embargado para manifestação
é desnecessária quando o magistrado, de pronto, verificar a inexistência de
possibilidade de provimento do recurso.44

5.4 JULGAMENTO DOS EMBARGOS

O art. 1.024, do CPC/2015, determina que os embargos de declaração


(quando opostos no primeiro grau de jurisdição) sejam julgados, também, no
prazo de cinco dias. Trata-se, porém, evidentemente, de prazo impróprio, cuja
inobservância certamente não implica preclusão pro judicato.
O § 1º do art. 1.024, por sua vez, determina que, quando opostos no
âmbito de tribunal, o relator deve apresentar os embargos de declaração
41. Trata-se, aqui, do chamado efeito “infringente” ou “modificativo” dos embargos de declaração,
que consiste, exatamente, na possibilidade de o magistrado, no julgamento dos embargos,
ao sanar erro, obscuridade, contradição ou omissão, modificar o conteúdo daquilo que havia
decidido anteriormente. Como exemplo, mencione-se a possibilidade de uma sentença de
julgamento de improcedência, por falta de prova, em que a parte autora opõe embargos de
declaração arguindo omissão do juízo sobre um certo documento determinante a respeito do
qual não houver pronunciamento. Neste caso, acolhidos os embargos e reconhecida a omissão,
é possível que isto implique a procedência dos pedidos exordiais. Trata-se de hipótese em que o
juízo, por lapso, não apreciou prova que havia sido efetivamente produzida e que poderia influir
sensivelmente no destino da demanda.
42. Sobre o tema, o Enunciado 614 do FPPC: “Não tendo havido prévia intimação do embargado
para apresentar contrarrazões aos embargos de declaração, se surgir divergência capaz de
acarretar o acolhimento com atribuição de efeito modificativo do recurso durante a sessão de
julgamento, esse será imediatamente suspenso para que seja o embargado intimado a manifestar-
se no prazo do §2º do art. 1.023”.
43. O art. 9º, caput, do CPC/2015 determina que “não se proferirá decisão contra uma das partes sem
que ela seja previamente ouvida”.
44. Sobre o tema: “Em regra, os embargos declaratórios não se prestam à alteração do julgado
embargado. Nessa linha, o procedimento dos embargos declaratórios não se realiza em
contraditório. Todavia, pode ocorrer de, em função da obscuridade, omissão ou contradição
(obviamente, não por força de simples erro material), o órgão judicial vislumbrar a possibilidade
de o acolhimento dos embargos provocar a modificação da decisão embargada (a “infringência”
do julgado, com o que os embargos declaratórios adquirem efeitos infringentes). Nesse caso, haja
vista o direito ao contraditório, o juiz intimará o embargado para, querendo, manifestar-se no
prazo de cinco dias a respeito dos embargos (art. 1.023, § 2.°)”. MARINONI, Luiz Guilherme;
ARENHART, Sérgio Cruz; e MITIDIERO, Daniel. Novo Curso de Processo Civil, vol. 2: tutela
dos direitos mediante procedimento comum. São Paulo: RT, 2015, p. 540.
88 RECURSOS EM ESPÉCIE NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

na sessão subsequente, e prevê, ainda, que se não houver julgamento nessa


sessão, o recurso deve ser incluído em pauta automaticamente.45 No § 2º,
encontra-se também a previsão de que quando os embargos forem opostos
contra deliberação unipessoal proferida em tribunal, a decisão do recurso
também será monocrática.46

5.5 EMBARGOS DE DECLARAÇÃO E FUNGIBILIDADE

O art. 1.024, § 3º do CPC/2015 trata de fungibilidade recursal47 e prevê


a possibilidade de que os embargos de declaração sejam conhecidos como se
agravo interno fossem,48 caso o órgão julgador entenda ser este o recurso
cabível.
45. Sobre o tema, o Enunciado 84 do FPPC: “A ausência de publicação da pauta gera nulidade
do acórdão que decidiu o recurso, ainda que não haja previsão de sustentação oral, ressalvada,
apenas, a hipótese do §1º do art. 1.024, na qual a publicação da pauta é dispensável”.
46. Há, aqui, ao que parece, evidentemente, uma tentativa de manter distintos os âmbitos de
cabimento de Embargos de Declaração contra decisão monocrática, no âmbito dos tribunais, e
de Agravo Interno (cf. art. 1.021, CPC). Isto, não obstante o próprio art. 1.024, § 3º, preveja a
fungibilidade entre os recursos, conforme se aponta a seguir.
Sobre o tema: “O oferecimento de embargos de declaração não opera o efeito devolutivo, já
que não se remete ao conhecimento de nenhum outro órgão jurisdicional o exame da decisão
inquinada. Ao contrário, os embargos de declaração são analisados pelo próprio prolator da
decisão (o que, aliás, é mesmo o desejável, já que ele foi o prolator da decisão imperfeita, sendo
a pessoa mais autorizada a esclarecer-lhe o conteúdo e a ideia), que complementará, se for o
caso, a decisão anteriormente lançada”. MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio
Cruz; e MITIDIERO, Daniel. Novo Curso de Processo Civil, vol. 2: tutela dos direitos mediante
procedimento comum. São Paulo: RT, 2015, p. 540.
Sobre o tema: “Não se trata de mera faculdade, como apressadamente se pode concluir, mas de
ato impositivo, o que inevitavelmente implicará maior agilização na apreciação do recurso e no
andamento processual, visto que, agora, nessa hipótese, o julgamento dos embargos declaratórios
independe de sessão colegiada”. CUNHA, Marcelo Garcia da. Anotações aos Arts. 1.022 a 1.026.
In: OAB. Novo Código de Processo Civil Anotado. Porto Alegre: OAB RS, 2015, p. 801.
47. Sobre o tema, o Enunciado 104 do FPPC: “O princípio da fungibilidade recursal é compatível
com o CPC e alcança todos os recursos, sendo aplicável de ofício”.
48. Sobre o tema: “Diferentemente dos embargos declaratórios, o agravo interno objetiva a
modificação da tutela jurisdicional. Portanto, são recursos com requisitos e finalidades diferentes”.
GIORGIANI, Camila Fonseca Rupp. Embargos de declaração e as alterações no novo código de
processo civil. In: FUGA, Bruno Augusto Sampaio (et. al. org.). Principais Inovações do Novo
Código de Processo Civil. Birigui, SP: Boreal, 2017, p. 445.
Sobre o tema: “Não se pode deixar de abordar, também, a possibilidade de os embargos de
declaração serem recebidos como agravo interno (art. 1.024, § 3o). É que muito frequentemente
se vê, na prática, a interposição de recurso contra decisão monocrática de relator sob o rótulo de
embargos de declaração quando, na verdade, tudo o que se pretende é a reforma ou invalidação
da decisão monocrática. É preciso, então, ter claro que não é o rótulo, o nomen iuris, atribuído
à peça oferecida pela parte, que determina a natureza do ato praticado. Sempre que, contra uma
decisão monocrática proferida em tribunal, apresentar-se recurso em que se postula sua reforma
ou invalidação, sem qualquer alusão à existência de obscuridade, contradição, omissão ou erro
material, mas com fundamento consistente na alegação de error in iudicando ou de error in
procedendo, não se estará diante de verdadeiros embargos de declaração, mas de um agravo
interno. Neste caso, deverá o relator determinar a intimação do recorrente para, no prazo de cinco
dias, complementar as razões recursais, adaptando sua petição ao recurso que verdadeiramente se
Os embargos de declaração 89

Neste caso, segundo o dispositivo legal em questão, deve ser determinada


a intimação do recorrente para, no prazo de cinco dias, complementar suas
razões recursais, fazendo os ajustes pertinentes em atenção às exigências do
art. 1.021, § 1º, do CPC. Na prática, as razões recursais que, em atenção
ao determinado nos art. 1.022 e 1.023, limitavam-se à indicação de erro,
obscuridade, contradição e/ou omissão, devem, nessas circunstâncias, passar
a apresentar impugnação específica dos fundamentos da decisão recorrida.49

5.6 JULGAMENTOS DOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO E


RECURSOS INTERPOSTOS ANTERIORMENTE

Conforme anteriormente mencionado – e se encontra estampado, aliás,


no art. 1.023, § 2º, do CPC – é possível que o acolhimento de embargos de
declaração implique a modificação de conteúdo da decisão embargada.
Neste caso, é possível que outro recurso eventualmente interposto
pela parte contrária50 torne-se, de alguma forma, “obsoleto” – exatamente
por, com a nova situação processual criada pela situação de acolhimento dos
embargos de declaração, o recurso anteriormente interposto não respeitar
mais, a contento, o dever de dialeticidade.
Por força dessa possibilidade, o art. 1.024, § 4º, do CPC prevê que na
hipótese de o acolhimento dos embargos de declaração implicar modificação
da decisão objurgada, o embargado que tiver interposto anteriormente outro
recurso contra a decisão originária tem o direito51 de complementar ou alterar
suas razões recursais, no prazo de 15 dias úteis a partir da intimação da nova
decisão.

interpôs, o agravo interno (art. 1.024, § 3o) e, se for o caso, comprovando também o recolhimento
das custas”. CÂMARA, Alexandre Freitas. O Novo Processo Civil Brasileiro, 3ª edição. Atlas,
01/2017.
49. Sobre o tema: “Como os embargos têm natureza meramente integrativa, ao passo que o agravo
interno objetiva a modificação do julgado, portanto são recursos com diversos requisitos
e finalidades, cumprirá ao órgão julgador necessariamente intimar a parte interessada, para
promover as devidas adequações na fundamentação recursal, apontando os aspectos decisórios
objeto de sua irresignação. Se restar inerte o recorrente a respeito dessa intimação, o recurso não
passará pelo juízo de conhecimento, por inobservância dos requisitos legais do agravo interno”.
CUNHA, Marcelo Garcia da. Anotações aos Arts. 1.022 a 1.026. In: OAB. Novo Código de
Processo Civil Anotado. Porto Alegre: OAB RS, 2015, p. 801.
50. Destaque-se que, por conta do princípio da unicidade dos recursos ou da singularidade recursal,
se uma parte opôs embargos de declaração, apenas outra parte pode ter manejado, no mesmo
momento processual, contra a mesma decisão, outra espécie de recurso.
51. Trata-se, segundo os estritos termos do art. 1.024, § 4º do CPC, de “direito” da parte – e não de
obrigação. É de se salientar, contudo, que pode haver descompasso entre as razões do recurso
anteriormente interposto e os novos fundamentos da decisão, após o acolhimento dos Embargos
de Declaração, o que pode gerar um descompasso em relação ao dever de respeito à dialeticidade
e, eventualmente, prejudicar o conhecimento das razões recursais.
90 RECURSOS EM ESPÉCIE NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

A parte final do dispositivo em questão, contudo, ressalva que tal


complementação ou alteração das razões recursais fica limitada pela extensão
da modificação da decisão originária; e o art. 1.024, § 5º expressa que, no
caso de rejeição dos embargos, ou de acolhimento sem alteração da decisão
originária, o recurso que tiver sido anteriormente interposto pela parte
embargada será processado e julgado independentemente de ratificação52
– sendo, nesta hipótese, também, claramente inviável que a parte pretenda
complementar ou alterar suas razões recursais.
Em síntese, portanto – e, inclusive, por força da noção de preclusão
consumativa –, a simples oposição de embargos de declaração, por uma
parte, não dá a outra parte o direito de alterar suas razões recursais, se o seu
próprio recurso foi interposto anteriormente. É apenas a respeito daquilo que
houver, eventualmente, efetiva modificação que se admitirá complementação
ou alteração das razões recursais, conforme o caso, segundo os limites
estabelecidos no art. 1.024, §§ 4º e 5º, do CPC/2015.53

5.7 EMBARGOS DE DECLARAÇÃO E PRÉ-QUESTIONAMENTO

O art. 1.025, do CPC/2015 – que não encontra correspondência


específica no CPC/1973 – procura, claramente, superar uma dificuldade que,
em tese, poderia apresentar-se nas tentativas de acesso às cortes superiores54.
No âmbito do Supremo Tribunal Federal, foram editadas as súmulas
282 e 356, com os seguintes enunciados: “Súmula 282. É inadmissível o
recurso extraordinário, quando não ventilada, na decisão recorrida, a questão
federal suscitada” e “Súmula 356. O ponto omisso da decisão, sobre o qual
não foram opostos embargos declaratórios, não pode ser objeto de recurso
extraordinário, por faltar o requisito do prequestionamento”.

52. Sobre o tema, o Enunciado 23 do FPPC, segundo o qual, com a entrada em vigor do CPC/2015,
fica superado o enunciado 418 da súmula do STJ – tal enunciado previa ser “inadmissível o
recurso especial interposto antes da publicação do acórdão dos embargos de declaração, sem
posterior ratificação”.
Sobre o tema: “A regra contida no § 5º tem nítida finalidade de combater tendência jurisprudencial,
ao nosso ver equivocada, que se consolidou no sentido de considerar “precoce” o recurso
principal interposto quando a parte contrária anteriormente interpôs embargos de declaração,
devendo o recurso principal, para ser conhecido, ratificado”. ALVIM, Teresa Arruda. Embargos
de Declaração. In: TUCCI, José Rogério Cruz e (et. al., coord.). OAB Paraná e AASP. Código de
Processo Civil Anotado. Curitiba: OAB Paraná, 2015, p. 1601.
53. Sobre o tema: “[...] a nova lei processual deveria permitir à parte interessada fazer as devidas
adequações ao seu recurso, caso os embargos declaratórios, a despeito de manterem inalterada a
conclusão do que fora julgado, sejam acolhidos e impliquem modificação ou complementação da
ratio decidendi”. CUNHA, Marcelo Garcia da. Anotações aos Arts. 1.022 a 1.026. In: OAB. Novo
Código de Processo Civil Anotado. Porto Alegre: OAB RS, 2015, p. 803.
54. A este respeito, cf. os capítulos 1, 7 e 8.
Os embargos de declaração 91

Quanto ao Superior Tribunal de Justiça, editou-se a Súmula 211, que


assevera ser “inadmissível recurso especial quanto à questão que, a despeito
da oposição de embargos declaratórios, não foi apreciada pelo Tribunal a
quo”.
Como é por demais sabido, as cortes superiores vinham, já, exigindo
prequestionamento mesmo para a apreciação daquelas matérias que,
segundo o art. 267, § 3º e o art. 301, § 4º, do CPC/1973 – que encontram
correspondentes no art. 485, § 3º e no art. 337, § 5º, do CPC/2015 – deveriam
ser apreciadas de ofício, em qualquer tempo e grau de jurisdição.
Ocorre que, também no cenário dos tribunais de apelação, já
vinha sendo comum o julgamento de embargos de declaração de forma
completamente genérica – em desrespeito ao que já determinava, antes, o
art. 93, IX, da Constituição Federal –, com afirmação descontextualizada de
suposta inexistência de “vícios a serem corrigidos” e sem qualquer mínima
menção às razões do recurso e aos dispositivos invocados para fins de
prequestionamento.
Apesar de tal nefasta sistemática genuinamente generalizada – e, talvez,
até mesmo exatamente por força dela – o Supremo Tribunal Federal e o
Superior Tribunal de Justiça continuavam afirmando, em suas decisões, a
inviabilidade do conhecimento de recursos dirigidos àquelas cortes quando
não houvesse ocorrido pronunciamento específico da instância a quo sobre
a matéria – mesmo que a parte tivesse manejado, antes, oportunamente,
embargos de declaração com tal finalidade.55

55. Como exemplo, cite-se as seguintes decisões do Supremo Tribunal Federal: “Assim, como tem
consignado este Tribunal por meio da Súmula 282, é inadmissível o recurso extraordinário se
a questão constitucional suscitada não tiver sido apreciada no acórdão recorrido. Ao contrário
do que sustenta a parte agravante, a oposição dos embargos de declaração com a finalidade de
provocar tal debate, é inservível para se reconhecer a matéria como causa decidida, viabilizadora da
abertura da instância extraordinária.” (ARE 790511 AgR, Relator Ministro Ricardo Lewandowski,
Tribunal Pleno, julgamento em 19.3.2015, DJe de 15.4.2015); e “Saliento que esta Corte não
tem procedido à exegese a ‘contrario sensu’ da Súmula STF 356 e, por consequência, somente
considera prequestionada a questão constitucional quando tenha sido enfrentada, de modo
expresso, pelo Tribunal ‘a quo’. A mera oposição de embargos declaratórios não basta para tanto.”
(ARE 707221 AgR, Relatora Ministra Rosa Weber, Primeira Turma, julgamento em 20.8.2013,
DJe de 4.9.2013). Mencione-se, também, a ementa de acórdão proferido pelo Superior Tribunal
de Justiça, já na vigência do CPC/2015 (com a observação, do Relator, de que a nova sistemática
processual civil não seria aplicável ao caso, por se tratar de recurso interposto antes da vigência
do CPC/2015): “Agravo Interno no Agravo em Recurso Especial. Processual Civil (CPC/1973).
Questão não analisada pelo tribunal de origem. Imprescindibilidade de que haja manifestação
expressa quanto à matéria suscitada, prescindindo tão somente a indicação dos dispositivos
legais pertinentes (prequestionamento implícito). Necessidade de prequestionamento mesmo de
matérias de ordem pública. Inexistência do efeito translativo em recursos extraordinários ‘lato
sensu’. Recorribilidade Extraordinária. Precedentes. Agravo a que se nega provimento.” (AGInt
no AREsp 810.863/MT, Rel. Ministro Paulo De Tarso Sanseverino, Terceira Turma, julgado em
01/09/2016, DJe 09/09/2016)
92 RECURSOS EM ESPÉCIE NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

Na prática, portanto, quando havia oposição de embargos de


declaração, mesmo com capítulo dedicado expressa e especificamente ao
prequestionamento, não havendo manifestação do tribunal de apelação
restava à parte que pretendesse levar seus argumentos às cortes superiores,
apenas, a reiteração dos embargos de declaração – com a afirmação de nova
omissão, mas sempre com o risco de condenação ao pagamento de multa
por suposta conduta protelatória,56 ficando a interposição de outros recursos
condicionada ao prévio recolhimento de tal valor.
Pode-se argumentar que seria, em tese, viável a interposição de recurso
especial, contra a decisão que, nessa situação hipotética, negou provimento
aos embargos de declaração – pleiteando que o Superior Tribunal de Justiça
determinasse ao tribunal de apelação que desse vigência aos dispositivos
legais que disciplinam os próprios embargos de declaração, pronunciando-
se sobre a matéria questionada, para, posteriormente, viabilizar interposição
de novo recurso especial, ou de recurso extraordinário;57 mas a solução
é inegavelmente ineficiente e antieconômica, e sempre há o risco de que,
nessa primeira tentativa de acesso ao Superior Tribunal de Justiça ainda
haja as dificuldades da argumentação que se criou em torno do “óbice da
Súmula 7”,58 com a alegação de que a verificação de ocorrência concreta de
omissão, obscuridade ou contradição na decisão da instância a quo implicaria
supostamente necessidade de revolvimento da matéria fático-probatória.
Como adiantado no início deste tópico, o art. 1.025, do CPC/2015,
procura, claramente, contribuir para a superação do cenário que a prática
vinha impondo – de verdadeiro pacto entre as cortes superiores e os tribunais

56. A multa – que, no caso de reiteração, poderia ser elevada a até 10% sobre o valor da causa – era
prevista no art. 538, parágrafo único, do CPC/1973, que encontra correspondência no art. 1.026,
§§ 2º e 3º, do CPC/2015. Ressalve-se, contudo, que o Superior Tribunal de Justiça havia editado
a Súmula 98, segundo a qual “embargos de declaração manifestados com notório propósito de
prequestionamento não têm caráter protelatório”.
57.oSobre o tema: “À luz do direito em vigor, ocorre com frequência que a primeira ofensa à lei
que dá azo à interposição de recurso especial seja justamente a não supressão da omissão por
embargos de declaração no tribunal a quo. Em seguida, no próprio recurso especial, formula o
recorrente outro pedido, decorrente da ilegalidade da decisão de mérito proferida pelo segundo
grau de jurisdição. Frequentemente o STJ determina o retorno dos autos ao tribunal a quo, para
que este supra a omissão, ficando prejudicado o resto do recurso. Uma vez suprida a lacuna,
maneja outro recurso especial, agora reiterando o pedido de correção da ilegalidade da decisão
de mérito”. ALVIM, Teresa Arruda. Embargos de Declaração. In: TUCCI, José Rogério Cruz e
(et. al., coord.). OAB Paraná e AASP. Código de Processo Civil Anotado. Curitiba: OAB Paraná,
2015, p. 1601.
58. A Súmula 7 do Superior Tribunal de Justiça prevê que “a pretensão de simples reexame de prova
não enseja recurso especial”, mas a sua aplicação prática tem dado ensejo a uma “jurisprudência
defensiva” que contraria claramente o texto constitucional e que inegavelmente exorbita os
limites de sua própria redação. A este respeito, cf. ANTUNES, Thiago Caversan. Limites de
Aplicação da Súmula 7 do Superior Tribunal de Justiça. 2015.
Os embargos de declaração 93

de apelação pelo desempenho inadequado de suas funções como meio de


limitar o exercício recursal por parte do cidadão.59
O dispositivo legal em questão prevê, então, que devem ser
considerados incluídos no acórdão os elementos que o embargante
suscitou, para fins de pré-questionamento, ainda que os embargos de
declaração sejam inadmitidos ou rejeitados pelo tribunal de apelação, caso
a corte superior considere, no julgamento do recurso que lhe é dirigido, que
realmente existiu o erro, omissão, contradição ou obscuridade que constituiu
objeto daqueles embargos de declaração.
A nova previsão legal procura, claramente, dar um tratamento mais
eficiente àqueles casos em que o julgamento dos embargos de declaração,
por parte do tribunal de apelação, consagra a manutenção de omissão mesmo
sobre a matéria objeto de prequestionamento específico – e o que se espera
é que as cortes superiores apliquem o dispositivo em atenção às finalidades a
que se propõe.60

5.8 EFEITOS DA OPOSIÇÃO DE EMBARGOS DE DECLARAÇÃO

Segundo a primeira parte do caput do art. 1.026 do CPC/2015,


os embargos de declaração, em regra, não têm efeito suspensivo.61 O §

59. Por exemplo, com a consagração de uma sistemática em que os tribunais de apelação julgavam
de maneira claramente inadequada os embargos de declaração que eram opostos inclusive para
fins de prequestionamento e, posteriormente, as cortes superiores negavam conhecimento aos
recursos que lhes eram dirigidos com a afirmação de que a matéria não teria sido objeto de
pronunciamento pela instância a quo.
Sobre o tema: “Com essa postura, o novo CPC adotou orientação que já vinha sendo aplicada
pelo STF, segundo sua Súmula nº 356,486 no sentido de ser suficiente a oposição de embargos
de declaração pela parte, para se entender realizado o prequestionamento necessário para a
viabilidade do recurso extraordinário”. THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito
Processual Civil, vol. III. 50 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2017
Sobre o tema: “O legislador do novo CPC, tal como o STF, se contenta com o prequestionamento
implícito. Se a decisão contém erro, omissão, contradição ou obscuridade, cabe à parte interpor
embargos de declaração antes da interposição do recurso especial. Interpostos os declaratórios,
por exemplo, sobre um ponto omisso, o requisito do prequestionamento reputa-se preenchido,
mesmo na hipótese de o tribunal de origem entender que a decisão não deva ser integrada”.
DONIZETTI, Elpídio. Curso Didático de Direito Processual Civil. 20 ed. São Paulo: Atlas, 2017
Sobre o tema: “Por tudo isso, consideram-se incluídos no acórdão os elementos que o
embargante suscitou, para fins de pré-questionamento, ainda que os embargos de declaração
sejam inadmitidos ou rejeitados, caso o tribunal superior considere existentes erro, omissão,
contradição ou obscuridade”. ABELHA, Marcelo. Manual de Direito Processual Civil, 6ª edição.
Forense, 2016.
60. Sobre o tema: “A prática, contudo, certamente aplaudirá a iniciativa na expectativa (ingênua),
somada à previsão do art. 941, § 3º, de que boa parte dos problemas relativos ao prequestionamento
– a começar pela sua demonstração – estará superada pela apresentação dos tais ‘embargos de
declaração prequestionadores’”. BUENO, Cassio Scarpinella. Novo Código de Processo Civil
Anotado. São Paulo: Saraiva, 2015.
61. Sobre o tema: “Lamenta-se a retirada do efeito suspensivo ope legis dos embargos de declaração.
94 RECURSOS EM ESPÉCIE NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

1º, contudo, esclarece que é possível a atribuição excepcional de efeito


suspensivo em duas hipóteses: a) quando restar demonstrada a probabilidade
de provimento do recurso; b) quando for relevante a fundamentação do
recurso e houver risco de dano grave ou de difícil reparação.62
Assim, segundo os estritos termos do art. 1.026, § 1º do CPC, a
atribuição de efeito suspensivo pode ocorrer, por parte do juiz ou do relator,
desde que ele se convença, apenas, da alta probabilidade de provimento do
recurso – ainda que não haja risco evidente de ocorrência de dano de qualquer
espécie.
Além disto, também é possível a atribuição de efeito suspensivo se
houver risco de dano de difícil reparação – ainda que esse dano hipotético não
seja, em tese, “grave”, já que a conjunção utilizada pelo texto legal é alternativa,
e não aditiva –, desde que se considere que é relevante a sua fundamentação.
Dito de outra forma, se os embargos não tiverem fundamentação relevante,
mesmo a possibilidade de que sobrevenha dano grave ou de difícil reparação
não autoriza a concessão de efeito suspensivo.63
Na segunda parte do caput do art. 1.026 do CPC, encontra-se a previsão
de que a oposição de embargos de declaração interrompe o prazo para

Embora o NCPC tenha encerrado a discussão doutrinária sobre o tema, questiona-se o fato de
se atribuir eficácia imediata a uma decisão omissa, contraditória ou obscura, dada a dificuldade
de cumprimento do mandamento”. PALEARI, Fábio Nascimento. Teoria Geral dos Recursos:
principais inovações das disposições gerais dos recursos no novo código de processo civil. In:
FUGA, Bruno Augusto (...), 2017, p. 403.
Sobre o tema, o Enunciado 218 do FPPC: “A inexistência de efeito suspensivo dos embargos
de declaração não autoriza o cumprimento provisório da sentença nos casos em que a apelação
tenha efeito suspensivo”.
Sobre o tema: “como a apelação ainda tem (infelizmente), como regra, efeito suspensivo (art.
1.009, caput), não há como admitir eficácia da sentença embargada por causa de sua sujeição, ao
menos em tese, ao apelo munido daquele efeito. Neste sentido, o efeito suspensivo da apelação
sobrepõe-se, prevalecendo, à ausência de efeito suspensivo dos embargos de declaração”
BUENO, Cassio Scarpinella. Manual de direito (...), 2015.
62. É de se destacar que, havendo pedido expresso de atribuição de efeito suspensivo, pela parte
embargante, caberá ao magistrado – ao determinar a intimação da parte contrária, caso
vislumbrar possibilidade de alteração da decisão originária, nos termos do art. 1.023, § 2º do
CPC – fundamentar a concessão ou não do efeito pleiteado, nos termos do art. 489, § 1º do
próprio CPC, e também do art. 93, IX da CF.
63. Sobre o tema: “[…] não se repetiu a regra do art. 995, parágrafo único (probabilidade de
provimento do recurso associada ao risco de dano grave ou de difícil reparação). Na verdade,
abriu-se a hipótese de concessão de efeito suspensivo com a simples probabilidade de provimento
do recurso ou, conjuntamente, pela relevância da fundamentação aliada ao risco de dano grave
ou de difícil reparação”. PALEARI, Fábio Nascimento. Teoria Geral dos Recursos: principais
inovações das disposições gerais dos recursos no novo código de processo civil. In: FUGA,
Bruno Augusto (...), 2017, p. 403.
Os embargos de declaração 95

interposição de outros recursos64 sobre a mesma decisão – regra que vale


para ambas as partes.65

5.9 EMBARGOS DE DECLARAÇÃO E CONDUTA PROTELATÓRIA

O art. 1.026, §§ 2º a 4º do CPC/2015, trata, de forma específica e


qualificada, da conduta da parte que opõe embargos de declaração de caráter
protelatório.
Vale mencionar que a interposição de recurso com intuito
manifestamente protelatório já configura, segundo o art. 80, VII do CPC, má-
fé processual, e, conforme a previsão do art. 81, sujeita o respectivo litigante
a multa que deve ser fixada pelo juiz entre um e dez por cento do valor
corrigido da causa,66 além do dever de indenizar os prejuízos que a parte
contrária eventualmente sofrer,67 incluindo honorários advocatícios e todas
as despesas que efetuar.
Segundo a previsão específica do art. 1.026, § 2º, contudo, diante
da constatação de oposição de embargos de declaração manifestamente
protelatórios, o juiz ou tribunal deve condenar o embargante ao pagamento
de multa não excedente a dois por cento sobre o valor da causa.68
O dispositivo em questão repisa que a decisão deve ser fundamentada
– o que já seria decorrência lógica do previsto no art. 93, IX da CF e no art.
489, § 1º do CPC –, limita o referencial da multa a dois por cento do valor

64. Isto, inclusive no âmbito dos Juizados Especiais, com as alterações que foram determinadas pelos
art. 1.064 a 1.066 do CPC/2015 em dispositivos da Lei 9.099/1995.
Sobre o tema, o Enunciado 483 do FPPC: “Os embargos de declaração no sistema dos juizados
especiais interrompem o prazo para a interposição de recursos e propositura de reclamação
constitucional para o Superior Tribunal de Justiça”.
Sobre o tema, o Enunciado 563 do FPPC: “Os embargos de declaração no âmbito do Supremo
Tribunal Federal interrompem o prazo para a interposição de outros recursos”.
65. Sobre o tema: “[...] salvo no caso de inadmissibilidade dos embargos de declaração por
intempestividade, os embargos de declaração interrompem o prazo para interposição dos
demais recursos, para ambas as partes, seja qual for seu intuito. Isto porque a intempestividade é
considerada uma causa diferenciada de inadmissibilidade do recurso, tendo em vista os critérios
objetivos em que se baseia. Nos demais casos de inadmissibilidade, ainda mais quando se trata
de recurso de fundamentação vinculada, a avaliação da inadmissibilidade envolve inevitável dose
de subjetividade, implicando o exame, ainda que superficial, do mérito”. ALVIM, Teresa Arruda.
Embargos de Declaração. In: TUCCI, José Rogério Cruz e (et. al., coord.). OAB Paraná e AASP.
(...), 2015, p. 1604.
66. O art. 81, § 2º do CPC, prevê que quando o valor da causa for irrisório ou inestimável, a multa
poderá ser fixada em até o décuplo do salário-mínimo vigente.
67. É de se mencionar que o art. 81, § 3º do CPC determina que o valor da indenização será fixado
pelo juiz ou, no caso de impossibilidade de se mensurar o prejuízo, liquidado por arbitramento
ou pelo procedimento comum, nos próprios autos.
68. Vale salientar, contudo, que não é possível cumular, para o mesmo ato processual, as sanções
previstas no art. 81 e no art. 1.026, § 2º do CPC, por conta da vedação de bis in idem.
96 RECURSOS EM ESPÉCIE NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

atualizado da causa, e não faz menção à possibilidade de indenização por


danos que eventualmente decorrerem da conduta maliciosa do embargante.
O art. 1.026, § 3º do CPC, por sua vez, prevê que, no caso de reiteração
de embargos de declaração manifestamente protelatórios, a multa poderá ser
elevada a até dez por cento do valor atualizado da causa69 – hipótese em que
a interposição de quaisquer outros recursos ficará condicionada ao depósito
prévio do valor da multa.70
Por derradeiro, o art. 1.026, § 4º do CPC, prevê que não se admitirá a
oposição de novos embargos de declaração, caso os dois anteriores houverem
sido considerados protelatórios.71 É evidente, aqui, que o dispositivo legal
limita, apenas, a pretensão de oposição de novos embargos de declaração no
mesmo momento processual – não inviabilizando a pretensão de que sejam
sanados vícios processuais de outras decisões que forem prolatadas no futuro.

69. O art. 1.067 do CPC/2015 determina a redação do art. 275, §§ 6º e 7º do Código Eleitoral, e, nas
ações sujeitas ao procedimento ali previsto, determina que a multa por oposição de embargos de
declaração manifestamente protelatórios não excederá o dobro do salário-mínimo vigente e, no
caso de reiteração, que tal multa poderá ser elevada até o máximo do décuplo do salário-mínimo.
70. A parte final do art. 1.026, § 3º, prevê que a exigência prévia do depósito do valor da multa como
requisito de admissibilidade de outros recursos não se aplica à Fazenda Pública e aos beneficiários
da gratuidade de justiça, que deverão recolher tal verba ao final do trâmite processual. Vale
mencionar, aliás, que o art. 98, § 4º, determina, em termos expressos, que a “concessão de
gratuidade não afasta o dever de o beneficiário pagar, ao final, as multas processuais que lhe
sejam impostas”.
71. Sobre o tema, o Enunciado 361 do FPPC: “Na hipótese do art. 1.026, § 4º, não cabem embargos
de declaração e, caso opostos, não produzirão qualquer efeito”.
Sobre o tema: “Caracterizam-se como protelatórios os embargos de declaração que visam
rediscutir matéria já apreciada e decidida pela Corte de origem em conformidade com súmula do
STJ ou STF ou, ainda, precedente julgado pelo rito dos artigos 543-C e 543-B, do CPC” (REsp
1.410.839/SC, julgado em 14.05.2014).
CAPÍTULO VI

RECURSO ORDINÁRIO

O recurso ordinário é objeto de tratamento pelo CPC/2015, e também


encontra regramento na Constituição Federal, na Lei 8.038/1990, e nos
regimentos internos das cortes superiores.
Provavelmente, os seus principais traços distintivos estão relacionados
às restritas hipóteses de cabimento e, também, à circunstância de que, pela via
do recurso ordinário, é levada ao Supremo Tribunal Federal ou ao Superior
Tribunal de Justiça, conforme o caso, a apreciação de fatos e provas, também
– e não apenas exclusivamente a análise da adequação da aplicação do
ordenamento jurídico aos fatos afirmados na decisão proferida pela instância
a quo, como é comum nas vias especiais. 1
Para uma melhor compreensão desse mecanismo processual, procurar-
se-á analisar brevemente as características de interposição e processamento
do recurso ordinário, e também os seus respectivos efeitos na ordem jurídica
vigente.

6.1 PREVISÃO LEGAL NO CPC/2015

O recurso ordinário encontra-se atualmente disciplinado pelos art.


1.027 e 1.028 do CPC/2015, que tratam das hipóteses de cabimento e de
características específicas da interposição e processamento dessa espécie de
recurso.
Conforme se procurará demonstrar adiante, o CPC/2015 não traz
grandes inovações no que diz respeito, especificamente ao recurso ordinário
– ficando as distinções de redação em relação ao CPC/1973, em geral, por
conta das explicitações de mudanças gerais no tratamento de recursos pela
nova legislação adjetiva civil.

1. A este respeito, cf. os capítulos 7 e 8.


98 RECURSOS EM ESPÉCIE NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

6.2 HIPÓTESES DE CABIMENTO DO RECURSO

O art. 1.027 do CPC/2015 trata, principalmente, das restritas hipóteses


em que é adequada a interposição de recurso ordinário.
Segundo o inciso I, do referido artigo,2 serão julgados em recurso
ordinário, pelo Supremo Tribunal Federal,3 os mandados de segurança, os
habeas data e os mandados de injunção4 que tiverem sido decididos em única
instância pelos Tribunais Superiores, quando a decisão for denegatória do
pedido.5
A competência do Superior Tribunal de Justiça, por sua vez, é regulada
pelo inciso II, do art. 1.027 do CPC/2015, em duas alíneas6 que tratam do
recurso ordinário interposto sobre: a) os mandados de segurança decididos
em única instância pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos Tribunais de
Justiça dos Estados e do Distrito Federal e Territórios, quando denegatória
a decisão;7 e b) os processos em que forem partes, de um lado, Estado

2. O art. 1.027, I, na realidade, a este respeito, repete simplesmente a competência que já é atribuída
ao Supremo Tribunal Federal pelo art. 102, II, “a”, da Constituição Federal, que também prevê,
na alínea b, a competência do STF para julgamento em Recurso Ordinário de crime político.
3. Sobre o tema: “Só as decisões coletivas dos Tribunais, e não as singulares de Relatores e
Presidentes, desafiam recurso ordinário. Assim, a decisão do agravo interno interposto contra
decisum do relator é que será objeto de recurso ordinário”. THEODORO JÚNIOR, Humberto.
Curso de Direito Processual Civil, vol. III. 50 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2017, p. 1100.
4. Sobre o tema: “O CPC não faz alusão expressa ao habeas corpus, o que é provavelmente
devido ao fato de que se trataria de um processo penal, e não civil, mas não se pode esquecer
a possibilidade de se ter habeas corpus civil (nos casos de prisão civil, como a do devedor
inescusável de alimentos)”. CÂMARA, Alexandre Freitas. O Novo Processo Civil Brasileiro. 3
ed. São Paulo: Atlas, 2017, p. 543.
5. Sobre o tema: “[...] a admissibilidade do recurso não se limita a situações específicas como as dos
arts. 102, III, e 105, III, da Constituição. Alcança todo e qualquer caso de sucumbência. Basta
estar vencida a parte para interpor o recurso ordinário, como acontece em qualquer situação
comum de dualidade de graus de jurisdição” . THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de
Direito Processual Civil, vol. III. 50 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2017, p. 1100.
Sobre o tema: “Cabe destacar que a expressão ‘decisões denegatórias’ deve ser interpretada
de modo a abranger tanto as decisões em que o pedido formulado na inicial seja julgado
improcedente, resultando na sucumbência do demandante, quanto aquelas em que o processo é
extinto sem resolução do mérito. Se, porém, o relator indeferir monocraticamente a petição inicial
de mandado de segurança, habeas data ou mandado de injunção, não cabe imediatamente recurso
ordinário para o STF ou STF, mas sim agravo interno para o órgão colegiado”. DONIZETTI,
Elpídio. Curso Didático de Direito Processual Civil. 20 ed. São Paulo: Atlas, 2017, p. 1388.
6. O art. 1.027, II, a e b, também repete a competência que já é atribuída ao Superior Tribunal de
Justiça pela Constituição Federal no art. 105, II, “b” e “c”.
7. Sobre o tema: “Cumpre frisar que as hipóteses arroladas no art. 1.027, I e II, a, excluem o
cabimento de recurso ordinário contra mandados de segurança, habeas data e mandados de
injunção que cheguem aos tribunais em grau de recurso”. DONIZETTI, Elpídio. Curso
Didático de Direito Processual Civil. 20 ed. São Paulo: Atlas, 2017, p. 1388.
Recurso ordinário 99

estrangeiro ou organismo internacional e, de outro, Município ou pessoa


residente ou domiciliada no País.8 9
É de se salientar, ainda, que o art. 1.072 do CPC/2015, apesar de ter
revogado outros dispositivos da Lei 8.038/1990,10 não incluiu nesse rol os
art. 30 a 32, pelo que fica mantida a possibilidade de interposição de recurso
8. Vale lembrar que essas causas são de competência originária da Justiça Federal de primeiro grau,
sendo que a própria Constituição Federal, no art. 105, II, “c”, determina que o Superior Tribunal
de Justiça funcione, nessas hipóteses, como verdadeiro Tribunal de Apelação, no lugar dos
respectivos Tribunais Regionais Federais.
9. O art. 1.027, § 1º do CPC 2015 prevê que nos processos referidos no inciso II, b – isto é, quando
se tratar de processos em que forem partes, de um lado, Estado estrangeiro ou organismo
internacional e, de outro, Município ou pessoa residente ou domiciliada no País –, o recurso
cabível contra decisões interlocutórias será o de agravo de instrumento, limitada a admissibilidade
às hipóteses previstas no art. 1.015 do próprio CPC. Nesse caso, por força da previsão do art.
1.028, § 1º aplicar-se-ão ao recurso as disposições do próprio CPC relativas ao Agravo de
Instrumento, e também o regramento do Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça.
Conforme se verá adiante, contudo, tal sistemática aplica-se, apenas, às decisões interlocutórias –
deixando o CPC simplesmente claro que o Agravo de Instrumento também não deve ser dirigido
ao Tribunal Regional Federal –, e não às sentenças, estas sim sujeitas ao Recurso Ordinário
processado sempre nos próprios autos.
Sobre o tema: “Como facilmente se percebe, trata-se de uma ‘apelação com outro nome’, uma
apelação constitucional, que só não é chamada de apelação por não ser submetida a julgamento pelo
tribunal de segunda instância (que é, a rigor, o tribunal de apelações), mas ao Superior Tribuna de
Justiça. Essa Corte de superposição atua, neste caso, como órgão de segundo grau de jurisdição,
julgamento a apelação (ainda que chamada por outro nome, recurso ordinário constitucional)
e, também, os agravos de instrumento, cabíveis nos casos previstos no art. 1.015”. CÂMARA,
Alexandre Freitas. O Novo Processo Civil Brasileiro. 3 ed. São Paulo: Atlas, 2017, p. 544.
Sobre o tema: “Das sentenças proferidas pelos juízes federais nas causas em que forem partes,
de um lado, Estado estrangeiro ou organismo internacional, e, de outro, Município ou pessoa
residente ou domiciliada no País, cabe recurso ordinário (apelação) dirigido ao Superior Tribunal
de Justiça; Observe-se que, nesses casos, em vez de apelação para o TRF, cabe recurso ordinário
ao STJ. Saliente-se, ainda, que das decisões interlocutórias proferidas nessas causas cabe agravo
de instrumento para o STJ, e não para o TRF (art. 1.027, § 1º)”. DONIZETTI, Elpídio. Curso
Didático de Direito Processual Civil. 20 ed. São Paulo: Atlas, 2017, p. 1388.
Sobre o tema: “Ou seja, causas referidas no CPC/2015, art. 1.027, inciso II, b, quando não se tratar
de decisão final, mas de decisão interlocutória, será cabível o recurso de agravo (ver CPC/2015,
arts. 1.027, § 1º, e 1.015), também dirigido ao STJ, que nessas hipóteses, como mencionamos,
funciona como órgão de segundo grau de jurisdição, ainda que se trate de decisão proferida por
juiz de primeiro grau de jurisdição [...]”. PINTO, Nelson Luiz. Arts. 1.027 e 1.028. In: TUCCI,
José Rogério Cruz e (et. al., coord.). Código de Processo Civil Anotado. Curitiba: OAB-PR, 2015,
p. 1607. O autor observa, ainda, que “[...] o novo diploma processual trouxe um rol de hipóteses
restritas de cabimento do agravo de instrumento. Assim, salvo outra disposição expressamente
prevista em lei, somente possibilitar-se-á a interposição do recurso nos casos enumerados nos
incisos I a XIII do art. 1.015, ficando as demais matérias para apreciação como preliminar do
recurso ordinário eventualmente interposto contra a decisão final, como ocorre com a apelação”
PINTO, Nelson Luiz. Arts. 1.027 e 1.028. In: TUCCI, José Rogério Cruz e (et. al., coord.). Código
de Processo Civil Anotado. Curitiba: OAB-PR, 2015, p. 1607.
10. Mais especificamente os art. 13 a 18, 26 a 29 e 38 da Lei 8.038/1990, que tratam, respectivamente,
da Reclamação, Recurso Extraordinário, Recurso Especial e da decisão inicial do Relator. Vale
ressaltar que nem poderia ser diferente, haja vista o fato de que a competência do Superior
Tribunal de Justiça para julgar, em Recurso Ordinário, os Habeas Corpus decididos em única
ou última instância pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do
Distrito Federal e Territórios, quando a decisão for denegatória é expressamente atribuída pela
Constituição Federal, no art. 105, II, “a”..
100 RECURSOS EM ESPÉCIE NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

ordinário para o Superior Tribunal de Justiça, contra as decisões denegatórias


de habeas corpus proferidas pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos
Tribunais dos Estados e do Distrito Federal.
Por derradeiro, é de se mencionar que, conforme observa Theodoro
Júnior, “segundo a jurisprudência do STF [...] ocorre erro grosseiro na
interposição de recurso ordinário quando cabível o extraordinário, o que
impossibilita a aplicação do princípio da fungibilidade recursal, por inexistente
dúvida objetiva a respeito de qual o recurso adequado”11.

6.3 PRAZO E CARACTERÍSTICAS DA INTERPOSIÇÃO DO


RECURSO

Aplica-se ao recurso ordinário a previsão geral do art. 1.003, § 5º do


CPC/2015, segundo a qual o prazo para interpor recursos é de 15 dias.12
Vale observar que, no caso de interposição de recurso ordinário para o
Superior Tribunal de Justiça, com fundamento no art. 30 da Lei 8.038/1990,13
excepcionalmente, o prazo para interposição será de cinco dias, por conta da
previsão expressa e específica do próprio dispositivo legal em questão.
Em respeito aos princípios da isonomia processual e da paridade de
armas, o prazo para apresentação de contrarrazões será equivalente ao prazo
para sua interposição – isto é, de 15 dias para as hipóteses reguladas pelo CPC
e de cinco dias para o caso do recurso ordinário interposto com fundamento
no art. 30 da Lei 8.038/1990.14
Em todos os casos, por força do disposto no art. 1.028, caput e §
2º, a interposição obedecerá, em geral, às regras aplicáveis ao recurso de
apelação15 – o que significa que o recurso ordinário será processado nos
11. THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, vol. III. 50 ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2017, p. 1102.
12. Com a exceção, digna de nota, estabelecida pelo próprio art. 1.003, § 5º e reforçada pelo art.
1.023, caput do CPC/2015, dos embargos de declaração, aos quais se aplica o prazo de oposição
de cinco dias.
13. Art. 30 - O recurso ordinário para o Superior Tribunal de Justiça, das decisões denegatórias de
Habeas Corpus, proferidas pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos Tribunais dos Estados e
do Distrito Federal, será interposto no prazo de cinco dias, com as razões do pedido de reforma.
14. É necessário lembrar, contudo, que, por conta da previsão dos art. 180, 183 e 186, caput e § 3º
do CPC/2015, o Ministério Público, a Advocacia Pública, a Defensoria Pública e os escritórios
de prática jurídica das faculdades de Direito, além das entidades que prestam assistência jurídica
gratuita em razão de convênios firmados com a Defensoria Pública, gozarão de prazo em dobro.
15. Sobre o tema: “A admissibilidade do recurso ordinário constitucional depende do preenchimento
dos mesmos requisitos exigidos para a admissibilidade da apelação (art. 1.028, que não obstante
sua literalidade, não se aplica apenas ao caso previsto na alínea b do art. 1.027, II, mas a todos os
casos de cabimento do recurso ordinário constitucional), o que é mero corolário da já afirmada
natureza de apelação que este recurso ostenta”. CÂMARA, Alexandre Freitas. O Novo Processo
Civil Brasileiro. 3 ed. São Paulo: Atlas, 2017, p. 544.
Recurso ordinário 101

próprios autos, interposto na instância a quo, onde se intimará o recorrido


para apresentar suas contrarrazões, encaminhando-se posteriormente à corte
ad quem, independentemente de juízo de admissibilidade.16
É de se salientar, ainda, que o recorrente deverá observar os requisitos
aplicáveis aos recursos, em geral – como, por exemplo, a tempestividade,
o preparo, e, notadamente, a dialeticidade,17 fazendo com que as razões do
recurso ordinário revistam a impugnação específica dos fundamentos da
decisão recorrida.18

6.4 EFEITOS DA INTERPOSIÇÃO

Por consequência da previsão do art. 995, caput do CPC/2015, recurso


ordinário não terá efeito suspensivo natural,19 mas o parágrafo único

16. A regra segundo a qual os autos serão remetidos ao Tribunal ad quem independentemente de juízo
de admissibilidade encontra-se nos art. 1.010, § 3º e 1.028, § 3º do CPC/2015.
Sobre o tema: Enunciado 208 FPPC, “Cabe reclamação, por usurpação da competência do
Superior Tribunal de Justiça, contra a decisão de juiz de 1º grau que inadmitir recurso ordinário,
no caso do art. 1.027, II, ‘b’”.
Sobre o tema: Enunciado 209 FPPC, “Cabe reclamação, por usurpação da competência do
Superior Tribunal de Justiça, contra a decisão de presidente ou vice-presidente do tribunal de 2º
grau que inadmitir recurso ordinário interposto com fundamento no art. 1.027, II, ‘a’”.
Sobre o tema: Enunciado 210 FPPC, “Cabe reclamação, por usurpação da competência do
Supremo Tribunal Federal, contra a decisão de presidente ou vice-presidente de tribunal superior
que inadmitir recurso ordinário interposto com fundamento no art. 1.027, I”.
17. A este respeito, cf. o capítulo 1.
18. Sobre o tema: “Trata-se de recurso cujo juízo de admissibilidade é semelhante ao da apelação,
aplicando-se o regime jurídico do referido recurso, tal como preceitua o CPC/2015, art. 1.028,
caput. Assim sendo, observará todo o conjunto intrínseco e extrínseco de admissibilidade, imposto
de forma genérica à apelação (legitimidade, interesse, tempestividade, preparo, etc.)”. PINTO,
Nelson Luiz. Arts. 1.027 e 1.028. In: TUCCI, José Rogério Cruz e (et. al., coord.). Código de
Processo Civil Anotado. Curitiba: OAB-PR, 2015, p. 1610.
19. Sobre o tema: “[...] cabe ressaltar que o recurso ordinário, em qualquer de suas modalidades, não
é dotado de efeito suspensivo ope legis, regramento que, neste particular, se distingue do previsto
para a apelação”. DONIZETTI, Elpídio. Curso Didático de Direito Processual Civil. 20 ed. São
Paulo: Atlas, 2017, p. 1388.
Sobre o tema: “O recurso ordinário, como os recursos em geral, não possui efeito suspensivo.
Entretanto, o recorrente poderá pedir a suspensão dos efeitos da decisão impugnada com base
no art. 1.027, § 2º c/c o art. 1.029, § 5º”. THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito
Processual Civil, vol. III. 50 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2017, p. 1101.
Sobre o tema: “O recurso ordinário não possui requisitos diferenciados para a concessão do efeito
suspensivo. O pedido deve atender ao disposto no art. 995, parágrafo único e o requerimento deve
ser dirigido ao órgão ou tribunal referenciado no art. 1.029, § 5º”. PALEARI, Fábio Nascimento.
Teoria Geral dos Recursos: principais inovações das disposições gerais dos recursos no novo código de processo civil.
In: FUGA, Bruno Augusto Sampaio (et. al. org.). Principais Inovações do Novo Código de Processo Civil.
Birigui: Boreal, 2017, p. 404.
Sobre o tema: “[...] o recurso ordinário, ainda que submetido à regra geral de ser recebido apenas
no efeito devolutivo (art. 995), aproveita a regra de exceção dirigida aos recursos extraordinário
e especial, podendo nos casos previstos em lei ser beneficiado pelo duplo efeito”. MACEDO,
Elaine Harzheim. Anotações aos Artigos 1.027 a 1.028. In: MACEDO, Elaine Harzheim e
MIGLIAVACCA, Carolina Moraes (coord.). Novo Código de Processo Civil Anotado. Porto Alegre:
102 RECURSOS EM ESPÉCIE NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

desse mesmo dispositivo legal prevê a possibilidade de concessão de efeito


suspensivo, excepcionalmente, quando ficar evidenciado que, da imediata
produção de efeitos da decisão impugnada, houver risco de dano grave,
de difícil ou impossível reparação, e ficar demonstrada a probabilidade de
provimento do recurso.
O art. 1.027, § 2º, determina a aplicabilidade das disposições do art.
1.029, § 5º – que está alocado em Seção dedicada especificamente ao recurso
extraordinário e ao recurso especial – ao recurso ordinário, sendo assim que
o pedido de atribuição excepcional de efeito suspensivo deve ser dirigido: a)
no período compreendido entre a interposição do recurso e a publicação da
decisão de admissão do recurso, assim como no caso de o recurso ter sido
sobrestado pela afetação para julgamento de recursos múltiplos, ao Presidente
ou ao Vice-Presidente do Tribunal a quo; b) no período compreendido entre a
publicação da decisão de admissão do recurso e sua distribuição, ao respectivo
Tribunal Superior;20 ou c) quando já tiver sido distribuído o recurso, ao próprio
relator.
Vale frisar, contudo, que, na sistemática processual civil vigente, a regra
é que as decisões judiciais, em geral, estejam revestidas de eficácia imediata
e que os recursos não tenham efeito suspensivo – exceto quando houver
previsão legal específica em sentido contrário,21 ou quando, nos termos do art.
995, parágrafo único, ficar evidenciada alta probabilidade de seu provimento
e risco concreto de dano grave de difícil ou impossível reparação.

6.5 PROCESSAMENTO DO RECURSO

O recurso ordinário será processado e julgado com a aplicação


subsidiária das normas aplicáveis ao recurso de apelação,22 e ainda segundo

OAB-RS, 2015, p. 808.


Sobre o tema, em sentido contrário: “Sendo o recurso ordinário constitucional uma verdadeira
apelação, a ele se aplica todo o regime desta espécie recursal [...], inclusive – e principalmente – no
que concerne à produção dos efeitos devolutivo, translativo e suspensivo”. CÂMARA, Alexandre
Freitas. O Novo Processo Civil Brasileiro. 3 ed. São Paulo: Atlas, 2017, p. 544.
Afirma o autor, em síntese, que, após as alterações introduzidas pela Lei 13.256/2016, teria
restado revogada a determinação de aplicação ao recurso ordinário das disposições contidas no
art. 1.029, § 5º do CPC/2015. Com a devida venia, mesmo lendo o texto legal na redação original,
antes da vigência da Lei 13.256/2016, parece-nos que o legislador não teve a intenção de conferir
ao Recurso Ordinário um efeito suspensivo natural.
20. Havendo previsão, neste caso, no art. 1.029, § 5º, I do CPC/2015 de que o relator designado para
exame do pedido de concessão de efeito suspensivo prevento para julgamento do recurso.
21. Como ocorre, por exemplo, com o recurso de apelação, ao qual o art. 1.012, caput do CPC/2015
prevê, como regra geral, a atribuição automática de efeito suspensivo.
22. Sobre o tema: Enunciado 357 FPPC, “Aplicam-se ao recurso ordinário os arts. 1.013 e 1.014”.
Recurso ordinário 103

o regramento da Lei 8.038/1990 e dos regimentos internos dos respectivos


tribunais.
Segundo a previsão do art. 1.027, § 2º do CPC/2015, aplica-se ao
recurso ordinário o disposto no art. 1.013, § 3º, de maneira que o Tribunal ad
quem deve julgar desde logo o mérito,23 sempre que tiver condições, quando
reformar sentença ou acórdão terminativo proferido com fundamento no
art. 485 do CPC; decretar a nulidade de sentença ou acórdão que tenha
desrespeitado o princípio da congruência;24 julgar pedido sobre o qual tenha
se omitido a instância a quo; ou decretar a nulidade de sentença ou acórdão
por falta de fundamentação.
Talvez o grande traço distintivo do recurso ordinário, contudo,
no tocante ao seu processamento e julgamento é o fato de que as Cortes
Superiores nesse caso funcionam como verdadeiros tribunais de apelação, não
se aplicando os estritos limites temáticos costumeiros – que fazem, em geral,
com que a pretensão recursal que implique necessidade de nova apreciação
de provas reste prejudicada.
Humberto Theodoro Júnior25 observa que
Nos recursos ordinários, ao contrário do que se passa nos
extraordinários e especiais, a devolução ao Tribunal ad quem é
a mais ampla possível. Abrange tanto a matéria fática como
a de direito, ensejando, por isso, uma completa revisão, em
todos os níveis, do que se decidiu no Tribunal inferior.26

23. Sobre o tema: “Ao recurso ordinário em sentido estrito aplica-se a teoria da causa madura,
assim como ocorre com a apelação. Deste modo, se a causa estiver em condições de imediato
julgamento, deve o STJ decidir desde logo o mérito nas hipóteses mencionadas no § 3º do art.
1.013”. DONIZETTI, Elpídio. Curso Didático de Direito Processual Civil. 20 ed. São Paulo:
Atlas, 2017, p. 1389.
24. Isto é, que seja extra petita ou ultra petita.
25. THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, vol. III. 50 ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2017, p. 1100.
26. Sobre o tema: “É um recurso comum, porquanto tem por objeto as questões e provas suscitadas
e debatidas no curso da relação processual; em última análise, tem por objetivo a proteção do
direito subjetivo. A despeito de ter sede constitucional, difere dos recursos especiais (REsp e RE)
que objetivam a proteção do direito objetivo. Difere também por não exigir prequestionamento.
Assim, ele se limita a atender ao princípio do duplo grau de jurisdição”. DONIZETTI, Elpídio.
Curso Didático de Direito Processual Civil. 20 ed. São Paulo: Atlas, 2017, p. 1387.
Sobre o tema: “Trata-se, portanto, de recurso que tem como finalidade permitir um segundo
grau de jurisdição em determinadas ações que são, via de regra, processadas originariamente
nos tribunais, podendo ter como objetivo tanto a reforma (em caso de error in judicando) como
a invalidação da decisão (em caso de error in procedendo). Funciona, pois, para as hipóteses aqui
previstas, como verdadeira apelação”. PINTO, Nelson Luiz. Arts. 1.027 e 1.028. In: TUCCI, José
Rogério Cruz e (et. al., coord.). Código de Processo Civil Anotado. Curitiba: OAB-PR, 2015, p.
1606.
Sobre o tema: “Embora as Cortes Superiores tenham como principal função, respectivamente,
a guarda da Constituição e a unidade do direito federal, atuando em recursos extravagantes que
não correspondem ao desiderato de reexame das questões de fato e de direito que ensejaram uma
determinada decisão, em sede de processo subjetivo, o recurso ordinário afeiçoa-se aos recursos
104 RECURSOS EM ESPÉCIE NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

É de se mencionar que são aplicáveis ao recurso ordinário as disposições


do art. 932 do CPC/2015, havendo, portanto, hipóteses em que é possível que
o Relator, por decisão monocrática, negue conhecimento ou provimento
ao recurso, ou ainda que dê provimento monocraticamente.27 Nesses casos,
caberá, pela parte sucumbente, a interposição de agravo interno, nos termos
do art. 1.021 do CPC.
Além do mais, é possível que no julgamento do recurso ordinário pelo
STJ surja alguma inconstitucionalidade, hipótese em que, demonstrada a
repercussão geral, será viável a interposição de recurso extraordinário, nos
termos do art. 102, III da CF.
Por derradeiro, é de se recordar que o art. 80, VII do CPC prevê que
é considerado litigante de má-fé aquele que interpuser recurso com intuito
manifestamente protelatório, sujeitando-se às sanções previstas no art. 81 –
que incluem multa de 1 a 10% do valor corrigido da causa, indenização por
perdas e danos, honorários advocatícios e despesas.

comuns, mais precisamente à apelação, atribuindo a função de duplo de grau de jurisdição tanto
ao Supremo Tribunal Federal como ao Superior Tribunal de Justiça em situações especialíssimas,
como é o caso dos artigos já mencionados: 102, inciso II, e 105, inciso II, da Constituição
republicana”. MACEDO, Elaine Harzheim. Anotações aos Artigos 1.027 a 1.028. In: MACEDO,
Elaine Harzheim e MIGLIAVACCA, Carolina Moraes (coord.). Novo Código de Processo Civil
Anotado. Porto Alegre: OAB-RS, 2015, p. 806.
27. Hipóteses previstas, respectivamente, no art. 932, III a V do CPC.
CAPÍTULO VII

RECURSO ESPECIAL.
UMA NECESSÁRIA
LEITURA PROCESSUAL E
CONSTITUCIONAL

No presente capítulo, aborda-se o recurso especial em espécie, sua


previsão legal no CPC e hipóteses de cabimento na Constituição Federal.
Apresenta-se a necessidade de respeito ao dever de dialeticidade (necessidade
esta em todos os recursos) além de expor brevemente um panorama geral
sobre o recurso em questão.
De acordo com o art. 995, em regra os recursos não impedem a
eficácia da decisão. Deste modo, descreve-se a possibilidade de conseguir
tutela recursal ou efeito suspensivo na interposição do recurso – trata-se de
inovação do atual Código.
Sobre as hipóteses de cabimento, dedicam-se a pesquisas em duas
hipóteses, as alíneas “a” e “c” do art. 105, III da CF. Por questão de maior
aplicabilidade prática, elegem-se apenas estes dispositivos para desenvolver a
reflexão que segue adiante.
Por fim, apresenta-se de forma breve a possibilidade de Recursos
Especial e Extraordinário repetitivos. Trata-se certamente, assim como o
IRDR e o IAC, uma nova forma de encarar o processo com a formação dos
precedentes.
Adiante, portanto, o desenvolvimento do tema.

7.1 O RECURSO ESPECIAL E O CPC/2015

O recurso especial tem previsão legal no art. 105, inciso III, alíneas
“a”, “b” e “c” da CF e no CPC/2015, nos art. 1.029 a 1.041. É recurso
106 RECURSOS EM ESPÉCIE NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

com clara previsão constitucional de cabimento, pois a Carta Magna afirma,


categoricamente, que é competência do Superior Tribunal de Justiça:
Art. 105, inciso III - julgar, em recurso especial, as causas
decididas, em única ou última instância, pelos Tribunais
Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito
Federal e Territórios, quando a decisão recorrida:
a) contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigência;
b) julgar válido ato de governo local contestado em face de
lei federal; 
c) der a lei federal interpretação divergente da que lhe haja
atribuído outro tribunal. 
Verifica-se que o texto legal traz competência do STJ para julgar em
recurso especial as causas julgadas pelos Tribunais Regionais Federais ou
pelos Tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios1. Por essa
razão não é possível REsp contra decisão proferida pelas Turmas Recursais
dos Juizados Especiais (Súmula STJ n.º 203).
Além dessa previsão legal, há também o recurso especial e extraordinário
na modalidade repetitivas, cuja função é criar, assim, precedentes obrigatórios,
conforme será demonstrado adiante; sua previsão legal segue no art. 1.036 e
seguintes do CPC.
Além dessa previsão legal, tanto constitucional quando no Código de
Processo Civil, de grande importância é o regimento interno do STJ ao
tratar sobre o tema no art. 255 (recurso especial) e art. 256 (recurso especial
repetitivo).
O recurso especial pode ser interposto contra acórdão proferido em
apelação, agravo de instrumento e agravo interno (Súmula 86 do STJ).
Entre os requisitos de admissibilidade do recurso, pode-se mencionar que
deve ser tempestivo (admitindo recurso adesivo, CPC, art. 997, II), ter
preparo2, observar a necessidade de esgotamento prévio das vias ordinárias3
(Súmula 207 STJ), não pode discutir matéria de fato (Súmula 07 e 05 do
STJ), e anteriormente observado o dever de prequestionamento (CPC, art.
1.025). A interposição é no órgão a quo, no prazo de 15 dias e com exame de
admissibilidade dúplice.
1. Sobre o tema: “A função de dar unidade aos conteúdos acrescidos ao texto da lei é apenas do
STJ.” MARINONI, Luiz Guilherme. O STJ enquanto corte de precedentes: recompreensão do
sistema processual da corte suprema. 2 ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2014, p. 155.
2. Exceto quando a parte recorrente for beneficiária da gratuidade de justiça, é evidente.
3. Sobre o tema: “Assim, por exemplo, decisão monocrática proferida pelo relator, impugnável por
agravo interno, não se sujeita a recurso extraordinário ou especial. De igual modo, se couberem
embargos de declaração (cf. Enunciado 356 da Súmula do STF).” MEDINA, José Miguel Garcia.
Novo código de processo civil comentado: com remissões e notas comparativas ao CPC/1973.
3ª Edição. São Paulo: Editora dos Tribunais, 2015.
Recurso especial 107

Como a admissibilidade do recurso é dúplice4, eventual inadmissão do


recurso será recorrível por meio de Agravo nos termos do art. 1.042, salvo
nas hipóteses do art. 1.030, §2º, quando o recurso pertinente será o agravo
interno do art. 1.021. Deste modo, o exame de admissibilidade é feito nos
termos do art. 1.030; a admissão implicará na remessa dos autos para o STJ,
e inadmissão nos termos do inciso V do art. 1.030 será recorrível por agravo
(art. 1.042 e art. 1.030, §1º), inadmissão com fundamento no inciso I e III
do art. 1.030, por sua vez, é recorrível por agravo interno (art. 1.021 e art.
1.030, §2º)5.
Sobre esgotamento das vias ordinárias, importante destacar que não
caberá recurso especial contra decisão monocrática proferida nos termos
do art. 932 do CPC. Contra decisão monocrática o recurso pertinente será o
agravo interno do art. 1.021. Portanto, interpor recurso especial contra decisão
monocrática proferida em recurso de apelação, por exemplo, corresponde a
não esgotar as vias ordinárias.6
Eventual vício deve ser sanado, pois o Supremo Tribunal Federal ou
o Superior Tribunal de Justiça poderá desconsiderar vício formal de recurso
tempestivo ou determinar sua correção, desde que não o repute grave
(CPC, art. 1.029, §3º). Neste sentido, há possibilidade de fungibilidade, ou
conversibilidade7 entre os recursos especiais e recurso extraordinários (CPC,
4. Sobre o tema: Em síntese, se o julgamento da causa em recurso extraordinário ou especial
depender de prova ainda não produzida, o tribunal de superposição - após fixas a tese jurídica
correta – deve remeter aos autos à primeira instância para provimento de instrução e novo
julgamento. Entretanto, se a causa estiver madura, o tribunal deve julgá-la integralmente –
obviamente nos limites horizontais do provimento da impugnação -, respeitando os ponto fáticos
já decididos pelo tribunal de origem, bem como as garantias do contraditório e da ampla defesa.
Eis o significado e a real extensão do art. 1.034 do Novo Código de Processo Civil. FONSECA,
João Francisco Naves da. A profundidade do efeito devolutivo nos recursos extraordinário e
especial: o que significa a expressão “julgará o processo, aplicando o direito” (CPC/2015, art.
1.034). (...)
5. A este respeito, cf. o capítulo 9.
6. Sobre o tema: “Nesses casos - julgamento e apelação, ação rescisória e agravo de instrumento,
quando houver reforma de decisão que julgar parcialmente o mérito - o julgamento só se
completaria depois de ter sido ampliada a colegialidade e, assim, somente depois disso caberá
recurso extraordinário ou recurso especial.” WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Recurso
Especial, recurso extraordinário e a nova função dos tribunais superiores no direito brasileiro
(livro eletrônico). Teresa Arruda Alvim Wambier, Bruno Dantas. 1. ed. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2016.
7. Sobre o tema: “Do mesmo modo, a interposição de recurso extraordinário em caso em que
seria adequada a interposição de recurso especial também acarreta a conversão, nos termos do
art. 1.033. Há, aí, a conversão de um recurso em outro.” CÂMARA, Alexandre Freitas. O novo
processo civil brasileiro / Alexandre Freitas Câmara. – 3. ed. – São Paulo: Atlas, 2017.
Sobre o tema: “Com fincas a extirpar tais dificuldades, o NCPC trouxe, em seus arts. 1032 e 1033,
regra elogiável que deverá solucionar todo o imbróglio, vez que permite a fungibilidade entre o
recurso especial e o recurso extraordinário, criando uma espécie de ponte entre o STF e o STJ,
determinando, em caso de interposição equivocada, que um Tribunal Superior determine o envio
dos autos ao outro para prosseguimento do feito”. FARIA, Márcio Carvalho. O novo código de
108 RECURSOS EM ESPÉCIE NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

art. 1.032 e 1.0338). Sobre o tema, comporta o recurso também tutela de


evidência recursal9.
É recurso de delicado manuseio, pois, conforme será apresentado,
há forte tendência de jurisprudência defensiva10, impendido a análise dos
recursos, mesmo com alterações no CPC/2015. Obriga o operador do
Direito, especialmente o advogado, a ter grande perícia para então obter o
conhecimento e provimento do referido recurso conforme adiante se verá
(comporta sustentação oral, CPC, art. 937, III).11

processo civil vs. a jurisprudência defensiva. In Novo CPC doutrina selecionada, (...)
Sobre o tema: “Para usufruir do benefício da fungibilidade de que tratam os arts. 1.032 e 1.033 do
CPC/2015, o recorrente deve demonstrar o estado de dúvida, que deve se fundar na comprovada
existência de entendimento doutrinário e jurisprudencial (...) CAMARGO, Luiz Henrique Volpe.
A fungibilidade de mão dupla entre recursos excepcionais no CPC/2015. In Novo CPC doutrina
selecionada, v. 6: (...)
Sobre o tema, o Enunciado 566 do FPPC: “Na hipótese de conversão do recurso extraordinário
em recurso especial, nos termos do art. 1.033, cabe ao relator conceder o prazo do caput do art.
1.032 para que o recorrente adapte seu recurso e se manifeste sobre a questão infraconstitucional”.
8. “Art. 1.032.  Se o relator, no Superior Tribunal de Justiça, entender que o recurso especial versa
sobre questão constitucional, deverá conceder prazo de 15 (quinze) dias para que o recorrente
demonstre a existência de repercussão geral e se manifeste sobre a questão constitucional.
Parágrafo único.   Cumprida a diligência de que trata o  caput, o relator remeterá o recurso ao
Supremo Tribunal Federal, que, em juízo de admissibilidade, poderá devolvê-lo ao Superior
Tribunal de Justiça. Art. 1.033.  Se o Supremo Tribunal Federal considerar como reflexa a ofensa
à Constituição afirmada no recurso extraordinário, por pressupor a revisão da interpretação de lei
federal ou de tratado, remetê-lo-á ao Superior Tribunal de Justiça para julgamento como recurso
especial.”
Sobre o tema, Enunciado 23 do FPPC: “Fica superado o enunciado 418 da súmula do STJ após a
entrada em vigor do CPC”. Súmula nº. 418 do STJ: “É inadmissível o recurso especial interposto
antes da publicação do acórdão dos embargos de declaração, sem posterior ratificação”.
9. Sobre o tema, o Enunciado 423 do FPPC: “Cabe tutela de evidência recursal”.
10. Sobre o tema: “Nas últimas décadas, porém, certamente em decorrência do excesso de trabalho,
no afã de filtrar os recursos que lhes chegam, o STJ e o STF têm adotado orientações de
jurisprudência dita “defensiva”: trata-se de exigências meramente formais, despidas de verdadeira
relevância para o processamento ou cognição do recurso (por exemplo, recusar-se conhecimento
a recurso especial porque o preparo e a emissão do respectivo comprovante foram feitos por
acesso ao serviço bancário pela Internet, e não no caixa da agência do banco...).” WAMBIER,
Luiz Rodrigues. Curso Avançado de Processo Civil: cognição jurisdicional (processo comum
de conhecimento e tutela provisória), volume 2 / Luiz Rodrigues Wambier, Eduardo Talamini.
16 ed. Reformulada e ampliada de acordo com o novo CPC. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2016
11. Sobre o tema: “Se a Corte Suprema não deve mais se limitar a corrigir a aplicação da lei para
resolver o caso concreto, não basta mais saber apenas a sua conclusão, sendo imprescindível
conhecer as razões que justificam a sua decisão e a sua escolha interpretativa. São essas razões
que dão corpo ao precedente, tornando-o racionalmente aceitável e aplicável aos casos futuros.”
MARINONI, Luiz Guilherme. O julgamento nas cortes supremas: precedentes e decisão do
recurso diante do novo CPC. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015.
Recurso especial 109

7.2 DIALETICIDADE

Importante para o operador do Direito, no ato de recorrer, em relação


a qualquer matéria e a qualquer tema, ter em mente que o recurso deve ser
movido contra a decisão recorrida e não somente sobre a tese em discussão12.
A parte recorrente, tendo razão e se tiver elementos para o recurso, deve
apontar os motivos de efetiva modificação (total ou parcial) ou anulação da
decisão recorrida.
Deve-se demonstrar o motivo de reforma da decisão recorrida e
não apenas da tese em si – sendo lógico, de outro lado, que a tese e seus
fundamentos também devem estar presentes, porém especialmente para
demonstrar a necessidade de reforma da decisão.
De acordo com o artigo 932, III do CPC/2015, incumbe ao relator
“não conhecer de recurso inadmissível, prejudicado ou que não tenha
impugnado especificamente os fundamentos da decisão recorrida”.
Ou seja, a ausência de impugnação específica dos fundamentos da decisão
recorrida implica o não conhecimento do recurso, por configurar erro grave.13
No recurso extraordinário e no recurso especial há também necessidade
de se demonstrar as razões do pedido de reforma ou de invalidação da decisão
recorrida (CPC, art. 1.029, III). Essa tem sido, inclusive, uma exigência dos
tribunais14 e dos órgãos superiores. O regimento interno do STJ, art. 255, §
4o, inciso I determina que o Relator poderá “não conhecer do recurso especial

12. A este respeito, cf. o capítulo 1.


13. Sobre o tema: “Sexto princípio infraconstitucional dos recursos, o da dialeticidade, relaciona-se,
em alguma medida, com o princípio da voluntariedade. Se aquele princípio relaciona-se com
a necessária exteriorização do inconformismo do recorrente diante de uma dada decisão, este
atrela-se à necessidade de o recorrente demonstrar as razões de seu inconformismo, relevando
por que a decisão lhe traz algum gravame e por que a decisão deve ser anulada ou reformada.
Há várias Súmulas dos Tribunais Superiores que fazem, ainda que implicitamente, menção a esse
princípio – assim, v.g., Súmula 182 do STJ e as Súmulas 287 e 284 do STF – e o CPC de 2015 o
acolheu expressamente em diversas ocasiões, como demonstro ao longo deste Capítulo.
“Faço questão de frisar, a respeito deste princípio, que o recurso deve evidenciar as razões pelas
quais a decisão precisa ser anulada, reformada, integrada ou completada, e não que o recorrente
tem razão. O recurso tem de combater a decisão jurisdicional naquilo que ela o prejudica, naquilo
que ela lhe nega pedido ou posição de vantagem processual, demonstrando o seu desacerto, do
ponto de vista procedimental (error in procedendo) ou do ponto de vista do próprio julgamento (error in
judicando). Não atende ao princípio aqui examinado o recurso que se limita a afirmar a sua posição
jurídica como a mais correta. É inepto o recurso que se limita a reiterar as razões anteriormente
expostas e que, com o proferimento da decisão, ainda que erradamente e sem fundamentação
suficiente, foram rejeitadas”. BUENO, Cassio Scarpinella. Manual de direito processual civil:
inteiramente estruturado à luz do novo CPC – Lei n. 13.105, de 16-3-2015. São Paulo: Saraiva,
2015.
14. “TJ/RS - Recurso Cível 71005396171 RS (TJ/RS). Data de publicação: 13/07/2015. Ementa:
Processual. Imprescindibilidade da correlação entre as razões da irresignação recursal com
sentença proferida. Violação ao princípio da dialeticidade recursal positivado no art. 514, II, CPC.
Recurso não conhecido.”
110 RECURSOS EM ESPÉCIE NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

inadmissível, prejudicado ou que não tiver impugnado especificamente os


fundamentos da decisão recorrida.”
Na prática a dialeticidade deve ser posta no recurso como preliminar,
como uma forma de exposição organizada dos fundamentos da decisão e,
principalmente, como indicação de quais serão as impugnações específicas
correspondentes a tais fundamentos da decisão recorrida. Incorre em erro,
portanto, quem, para tentar anular ou modificar o acórdão, apenas copia os
fundamentos da inicial, contestação, impugnação ou recurso de apelação
(dentre outras peças); pois nas peças processuais provavelmente há elementos
da tese debatida no processo, mas essas peças (por questão cronológica),
não combatem exatamente a decisão a ser recorrida e seus respectivos
fundamentos.

7.3 EM REGRA, O NÃO EFEITO SUSPENSIVO

Pelo disposto no art. 995 (regra geral) os recursos, em regra, não são
dotados de efeito suspensivo, ou seja, os recursos não impedem a eficácia
imediata da decisão impugnada. Ocorre, porém, que o art. 1.029, §5º15 do
CPC traz expressa regra possibilitando o pedido de concessão do efeito
suspensivo (todos sem previsão no CPC/1973).
A regra, conforme o disposto no inciso II do referido artigo não traz
grandes controvérsias, pois se já distribuído o recurso, a análise no STJ do
pedido de concessão de efeito suspensivo será no próprio STJ.
Quanto ao inciso I, o pedido de concessão de efeito suspensivo deverá
ser dirigido por simples petição ao STJ, no período compreendido entre a
publicação da decisão de admissão do recurso e sua distribuição, ficando o
relator designado para seu exame prevento para julgá-lo. Ou seja, se já tiver
decisão de admissão nos Tribunais Regionais Federais ou pelos Tribunais
dos Estados, do Distrito Federal e Territórios (CF, art. 105, III), porém ainda
não distribuído o recurso no STJ, o próprio STJ será responsável pela análise
do pedido de efeito suspensivo16.
15. “§ 5o O pedido de concessão de efeito suspensivo a recurso extraordinário ou a recurso especial
poderá ser formulado por requerimento dirigido: I – ao tribunal superior respectivo, no período
compreendido entre a publicação da decisão de admissão do recurso e sua distribuição, ficando o
relator designado para seu exame prevento para julgá-lo;  II - ao relator, se já distribuído o recurso;
III – ao presidente ou ao vice-presidente do tribunal recorrido, no período compreendido entre
a interposição do recurso e a publicação da decisão de admissão do recurso, assim como no caso
de o recurso ter sido sobrestado, nos termos do art. 1.037.”       
16. Sobre o tema: “No entanto, o parágrafo quinto do artigo 1.029, do NCPC, agora destaca que o
pedido de suspensão poderá ser feito por simples requerimento a depender da fase que se encontra
ao recurso extremo.” BUTZKE, Alex de Siqueira. Recurso especial e recurso extraordinário.
Breves notas sobre as alterações promovidas pelo novo código de processo civil. In: FUGA,
Bruno Augusto Sampaio (et. al. org.). Principais Inovações do Novo Código de Processo Civil.
Recurso especial 111

Quanto ao inciso III, é hipótese de já protocolado o recurso especial,


porém inexiste ainda decisão de admissão (não se sabe se positiva ou negativa),
assim como a hipótese de o recurso ter sido sobrestado. Neste caso o pedido é
direcionado para o presidente ou vice-presidente dos Tribunais dos Estados,
do Distrito Federal e Territórios (CF, art. 105, III), e não para o STJ.

7.4 TUTELA PROVISÓRIA E O ART. 229 § ÚNICO

O art. 299, parágrafo único do CPC assim dispõe: “ressalvada disposição


especial, na ação de competência originária de tribunal e nos recursos a tutela
provisória será requerida ao órgão jurisdicional competente para apreciar o
mérito”.
Deste modo, nos “recursos a tutela provisória”17 será requerida ao órgão
jurisdicional competente para apreciar o mérito. Nos termos do art. 932, II,
incumbe ao relator “apreciar o pedido de tutela provisória nos recursos e nos
processos de competência originária do tribunal”.
No recurso especial, portanto, além da hipótese de concessão de efeito
suspensivo nos termos do art. 1.029, §5º18, I e II do CPC, poderá o relator do
STJ analisar pedido de tutela provisória nos termos do artigo citado19.

Birigui, SP: Boreal, 2017.


17. Sobre o tema: “Logo, deve-se admitir a possibilidade de antecipação de tutela recursal não apenas
em relação ao agravo de instrumento, mas, também, em relação aos demais recursos. Devem
ser considerados, para tanto, os requisitos necessários à concessão de tutela provisória, a que
se referem os arts. 294 ss. do CPC/2015, evidentemente, adaptados ao modo como se passam
as coisas, em sede recursal.” MEDINA, José Miguel Garcia. Novo código de processo civil
comentado: com remissões e notas comparativas ao CPC/1973. 3ª Edição. São Paulo: Editora
dos Tribunais, 2015.
Sobre o tema, em sentido diverso: “Nos casos em que o recurso não possui o efeito suspensivo
automático, é possível a atribuição dessa eficácia pelo relator ou pelo órgão julgador do recurso
(arts. 995, 1.012, §§ 3.º e 4.º, 1.019, 1.026, § 1.º, art. 1.029, § 5.º, do CPC/2015). Essa possibilidade
põe-se para todos os recursos. Em nenhum caso é necessário o emprego de medidas cautelares ou
outras ações para a obtenção dessa providência.” WAMBIER, Luiz Rodrigues. Curso Avançado
de Processo Civil: cognição jurisdicional (processo comum de conhecimento e tutela provisória),
volume 2 / Luiz Rodrigues Wambier, Eduardo Talamini. 16 ed. Reformulada e ampliada de
acordo com o novo CPC. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016
18. §5o O pedido de concessão de efeito suspensivo a recurso extraordinário ou a recurso especial
poderá ser formulado por requerimento dirigido: I – ao tribunal superior respectivo, no período
compreendido entre a publicação da decisão de admissão do recurso e sua distribuição, ficando o
relator designado para seu exame prevento para julgá-lo;  II - ao relator, se já distribuído o recurso;
III – ao presidente ou ao vice-presidente do tribunal recorrido, no período compreendido entre
a interposição do recurso e a publicação da decisão de admissão do recurso, assim como no caso
de o recurso ter sido sobrestado, nos termos do art. 1.037.       
19. Sobre o tema: “Excetuam-se à regra do art. 299 as hipóteses de concessão de tutela de urgência
(efeito suspensivo) em sede de recurso especial e extraordinário, por serem regidas pelo disposto
no art. 1.029, § 5º, do CPC/2015, na redação atribuída pela Lei 13.256/2016.” ALVIM,
Arruda. Manual de direito processual civil (livro eletrônico): teoria do processo e processo de
conhecimento. 2. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2017.
112 RECURSOS EM ESPÉCIE NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

7.5 PROVA DO DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL (CF, ART. 105, III, “C”)

Já se afirmou que as hipóteses de cabimento do recurso especial estão


elencadas no art. 105, inciso III, alíneas “a”, “b” e “c” da CF. Em especial
a alínea c, traz possibilidade do referido recurso quando os “Tribunais dos
Estados, do Distrito Federal e Territórios derem a lei federal interpretação
divergente da que lhe haja atribuído outro tribunal.” O CPC complementa
que neste caso deverá ser provado do dissídio jurisprudencial20 (CPC, art.
1.029, §1º21).
Fica evidente neste ponto que a missão do STJ é de zelar pela
uniformidade de interpretação do ordenamento jurídico. Existir decisão
paradigma de outro tribunal divergente da decisão recorrida, implica dizer que
as pretensões dos processos (decisão de outro tribunal e decisão recorrida)
guardam a mesma ratio decidendi.22

20. Sobre o tema: “É a própria Constituição que, além de afirmar que todos são iguais perante a
lei, devendo, portanto, receber um tratamento isonômico pelo Direito, estabeleceu uma medida
processual com o objetivo específico de uniformizar a jurisprudência. Como não se sensibilizar
diante de mensagem tão eloquente do Poder Constituinte?”. OLIVEIRA, Paulo Mendes de.
Coisa julgada e precedente: limites temporais e as relações jurídicas de trato continuado. São
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015.
21. “§ 1oQuando o recurso fundar-se em dissídio jurisprudencial, o recorrente fará a prova da
divergência com a certidão, cópia ou citação do repositório de jurisprudência, oficial ou
credenciado, inclusive em mídia eletrônica, em que houver sido publicado o acórdão divergente,
ou ainda com a reprodução de julgado disponível na rede mundial de computadores, com
indicação da respectiva fonte, devendo-se, em qualquer caso, mencionar as circunstâncias que
identifiquem ou assemelhem os casos confrontados.”
Sobre o tema: “Nesta hipótese, para que o recurso especial seja admitido, exige-se, em
conformidade com o NCPC, bem como com o art. 255 do RISTJ, que: (a)  se demonstre a
existência de decisão divergente, o que deverá ser feito por um dos meios indicados nos
referidos dispositivos legal e regimental; (b) se realize a demonstração analítica da divergência,
com comparação de trechos da decisão recorrida e das decisões divergentes de outros
tribunais. que demonstrem que foram dadas soluções díspares a situações idênticas.”
(...) “Não se dispensa o recorrente, igualmente, da realização da demonstração analítica
da divergência, a que se referiu acima, apontando as circunstâncias que identifiquem ou
assemelhem os casos confrontados. Os acórdãos citados como paradigmas devem ter
sido proferidos por outros tribunais de segundo grau, ou, ainda, do próprio STJ ou do STF.
(...) Deve-se fazer a demonstração da divergência minuciosamente e no corpo dos acórdãos,
deixando-se de lado as respectivas ementas. A demonstração do dissídio através das ementas
não será considerada suficiente, embora formalmente nada há no sistema que obste que assim
se proceda.(...)” WAMBIER, Teresa Arruda Alvim; LINS CONCEIÇÃO, Maria Lúcia; SILVA
RIBEIRO, Leonardo Ferres da; MELLHO, Rogerio Licastro Torres de. Primeiros Comentários
ao Novo Código de Processo Civil, artigo por artigo. RT, 1º, ed. São Paulo, 2015.
Sobre o tema: “O conhecimento do recurso especial, tendo como causa dissídio de jurisprudência,
requer demonstração analítica para comprovar a identidade do suporte fático”. THEODORO
JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, vol. III. 50 ed. Rio de Janeiro: Forense,
2017.
22. A este respeito, cf. o capítulo 1.
Recurso especial 113

Necessário que nesta configuração de dissídio jurisprudencial, o cotejo


ocorra entre decisões proferidas por tribunais diferentes23; de um lado a
decisão recorrida, de outro a decisão proferida por outro tribunal, não do
mesmo tribunal.
O recorrente precisará então de uma decisão paradigma, ou seja, uma
decisão proferida por outro tribunal24 com entendimento favorável a tese
posta no processo recorrido. De um lado se tem a decisão de outro tribunal
com procedência no ponto em questão, de outro a decisão a ser recorrida,
com entendimento desfavorável à mesma tese. O objeto do recurso então
será “comparar” a decisão paradigma com a decisão recorrida (objeto este do
recurso especial) e fundamentar o motivo de acerto da decisão paradigma.25
A decisão paradigma não pode ser fundada em decisão monocrática ou
de Turma Recursal (veja capítulo 7). Necessário demonstrar o devido cotejo
analítico26 entre o acórdão recorrido e o paradigma, não basta a transcrição
de duas ementas, é necessário embate analítico entre os fundamentos que
ensejam o recurso; necessário, portanto, comprovar o dissídio (CPC, art.
1.029, §1º); a exceção é se as ementas contiverem elementos suficientes para

23. Sobre o tema, a Súmula 13 do STJ: “A divergência entre julgados do mesmo Tribunal não enseja
recurso especial”.
24. Sobre o tema: “Por se tratar de mero desdobramento do antigo recurso extraordinário, deverá
prevalecer, também para o recurso especial, a jurisprudência assentada pelo STF, pelo menos
enquanto o STJ não adotar, eventualmente, outro posicionamento em face de algum ou outro
tema específico. Eis alguns exemplos de orientação traçada para o recurso extraordinário e que
tem sido adotada no recurso especial (...) grifo nosso. THEODORO JÚNIOR, Humberto.
Curso de Direito Processual Civil, vol. III. 50 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2017.
25. Sobre o tema: “(...) precisando a identidade de situações fáticas e divergência de soluções jurídicas.
Trata-se, assim, de contrastar as situações, numa técnica de espelhamento das similitudes fáticas,
que receberam diferentes soluções jurídicas, com as premissas de comparação detalhadas trecho
a trecho.” KOZIKOSKI, Sandro Marcelo. O “novo” juízo de admissibilidade do recurso especial
e extraordinário. In Novo CPC doutrina selecionada, v. 6: (...)
26. ANDRIGHI, Fátima Nancy. Comentário ao artigo 105, III da Constituição. In CANOTILHO,
J.J. Gomes; MENDES, Gilmar F.; SARLET, Ingo w.; STRECK, Lenio L. (Coords). Comentários
à Constituição do Brasil. São Paulo: Saraiva/Almedina, 2013, p. 1452.
Sobre o tema: “Exige-se a indicação da fonte de onde foi extraída a decisão, com a finalidade
de permitir-se a conferência quanto à existência do julgado e à fidelidade do teor transcrito
àquilo que consta da página do tribunal. Não fosse assim, não seria possível o controle objetivo
acerca da existência e conteúdo da decisão apontada como paradigma; (b) Deve-se realizar a
demonstração analítica da divergência, com comparação de trechos da decisão recorrida e das
decisões divergentes que demonstrem que foram dadas soluções díspares a situações idênticas”.
MEDINA, José Miguel Garcia. Novo código de processo civil comentado: com remissões e
notas comparativas ao CPC/1973. 3ª Edição. São Paulo: Editora dos Tribunais, 2015.
114 RECURSOS EM ESPÉCIE NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

identificar a divergência27. A decisão paradigma poderá também fundar-se em


decisão do próprio STJ28, porém não do STF.
O Regimento Interno do STJ, art. 255, § 1o29, também trata do tema
e assim com o CPC determina que deve, em qualquer caso, mencionar as
circunstâncias que identifiquem ou assemelhem os casos confrontados.
Alguns termos então nascem como pedra de toque para o referido
recurso, são eles: cotejo analítico, embate analítico, comprovar o dissídio
e ratio decidendi. Fazer o cotejo30 analítico tanto da decisão recorrida quanto
da decisão paradigma é de fundamental importância; precisa ser enfrentado
este ponto, com embate analítico, comparações de decisão com mesma ratio
decidendi, porém com decisões diferentes. Vital a impressão na íntegra das duas
decisões, a prova desse dissídio jurisprudencial, de grifar os pontos críticos e
emblemáticos. Em resumo, há grande jurisprudência defensiva31 atualmente,
27. “III. Recurso especial: art. 105, III, c: a ementa do acórdão paradigma pode servir de
demonstração da divergência, quando nela se expresse inequivocamente a dissonância
acerca da questão federal objeto do recurso.”Inq no STF 1070. Relator(a):  Min. Sepúlveda
Pertence. Julgamento:  24/11/2004. Órgão Julgador:  Tribunal Pleno. Publicação:  01/07/2005.  
STJ Súmula 83: “Não se conhece de recurso especial pela divergência quando a orientação do
tribunal se firmou no mesmo sentido da decisão recorrida”
28. STJ - Recurso Especial REsp 1102008/SC. Data de publicação: 01/06/2009. “Ementa: Recurso
Especial. Dissídio Pretoriano. Acórdão apontado como paradigma proferido pelo próprio
Superior Tribunal de Justiça. Possibilidade. 1. É assente neste Sodalício que a expressão “outro
tribunal”, contida na letra c do permissivo constitucional, engloba também os julgados proferidos
pelo Superior Tribunal de Justiça. (...)”
Recurso Especial nº 327.687/SP. “Recurso Especial. Divergência. Precedente do STJ. Diário da
Justiça. Site na internet. Indicado como paradigma acórdão do próprio STJ, com referência ao
Diário da Justiça da União, órgão de publicação oficial, e com a reprodução do inteiro teor
divulgado na página que o STJ mantém na Internet, tem-se por formalmente satisfeita a exigência
de indicação da fonte do acórdão que serve para caracterizar o dissídio. (...)”
Sobre o tema: “Portanto, supor que um precedente do STJ pode ser ignorado por um tribunal de
apelação é corromper o sistema judicial e usurpar a função constitucional que foi atribuída à Corte
Suprema.” MARINONI, Luiz Guilherme. O STJ enquanto corte de precedentes: recompreensão
do sistema processual da corte suprema. 2 ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2014,
p. 181.
29. §1º Quando o recurso fundar-se em dissídio jurisprudencial, o recorrente fará a prova da
divergência com a certidão, cópia ou citação do repositório de jurisprudência, oficial ou
credenciado, inclusive em mídia eletrônica, em que houver sido publicado o acórdão divergente,
ou ainda com a reprodução de julgado disponível na internet, com indicação da respectiva fonte,
devendo-se, em qualquer caso, mencionar as circunstâncias que identifiquem ou assemelhem os
casos confrontados.
30. Substantivo masculino. Ato, processo ou efeito de cotejar pessoas, coisas, elementos etc. diversos,
investigando-lhes possíveis semelhanças e/ou diferenças; comparação.
Sobre o tema: “Por conta disso, o recurso especial deve confrontar, de modo analítico, a decisão
recorrida em face da decisão que afirma divergente, demonstrando não só que a decisão recorrida
e a dita divergente trataram da mesma questão de direito federal, mas também que chegaram a
interpretações ou resultados diversos.” MARINONI, Luiz Guilherme. O STJ enquanto corte de
precedentes: recompreensão do sistema processual da corte suprema. 2 ed. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2014, p. 182.
31. “A Corte Especial do STJ firmou o entendimento de que, mesmo quando o dissídio for notório,
deve o recorrente cumprir as formalidades no que concerne à comprovação da discrepância
Recurso especial 115

principalmente em cortes superiores, fazendo então com que esta prova do


dissídio seja tarefa árdua para o operador do direito32, sendo prudente impor
como missão exaustiva e perfeita a prova do embate analítico para evitar o
não conhecimento do recurso por ausência de comprovação de disposto no
art. 1.029, §1º do CPC e art. 105, inciso III, alínea “c” da C.F; deve fugir o
advogado de fazer fundamentações genéricas das circunstâncias de embate
analítico.

7.6 CONTRARIAR TRATADO OU LEI FEDERAL, OU NEGAR-


LHES VIGÊNCIA (CF, ART. 105, III, “A”)

Outra hipótese de cabimento do recurso especial é quando os Tribunais


dos Estados, do Distrito Federal e Territórios  contrariarem tratado ou lei
federal, ou negar-lhes vigência (CF, art. art. 105, inciso III, alínea “a”).
Negar vigência tem ligação com afronta a lei federal, ou seja, deixar de
aplicá-la quando deveria ser aplicada; pertinente também será quando não
der a lei federal interpretação mais adequada. Lembrando que não basta a
alegação de violação de enunciado ou súmula33 34.
De acordo com a Ministra Fátima Nancy Andrighi35, a petição recursal
deve ser expressa e precisa, demonstrando de forma inequívoca a frontal
jurisprudencial, realizando o cotejo analítico. (...) (AgRg no REsp 1235386/RJ, Rel. Ministro
Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado em 14/04/2011, DJe 25/04/2011).”
“Processual civil e Administrativo. Agravo Regimental nos embargos de divergência no recurso
especial. Divergência jurisprudencial não comprovada. Falta das cópias integrais dos
arestos paradigmas. Cotejo analítico não realizado. Impossibilidade de configuração de
dissenso pretoriano (...) 2. Sucede que, no caso sub examine, o ora agravante, além de não ter
juntado as cópias integrais autenticadas dos arestos apontados como paradigmas, nem indicado
o repositório oficial em que tais decisões tenham sido publicadas, furtou-se a realizar o cotejo
analítico entre os acórdãos em comparação, com a demonstração dos trechos que eventualmente
os identificassem, limitando-se a mera transcrição de ementas, o que é insuficiente à comprovação
do dissídio jurisprudencial invocado. (...) (AgRg nos EREsp 1172805/SP, Rel. Ministro Benedito
Gonçalves, primeira seção, julgado em 09/02/2011, DJe 16/02/2011)”
32. Sobre o tema: “Mas, para o provimento do recurso especial, caberá à parte demonstrar que a
interpretação adotada pela decisão recorrida não é a correta, e sim aquela empregada em acórdão
citado e trazido como paradigma. Para que seja possível tal cotejo, é preciso que o julgado
invocado como paradigma verse sobre caso análogo, no que concerne aos aspectos essenciais,
àquele enfrentado na decisão recorrida.” WAMBIER, Luiz Rodrigues. Curso Avançado de
Processo Civil: cognição jurisdicional (processo comum de conhecimento e tutela provisória),
volume 2 / Luiz Rodrigues Wambier, Eduardo Talamini. 16 ed. Reformulada e ampliada de
acordo com o novo CPC. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016
33. GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito Processual esquematizado. Coordenador Pedro
Lenza. 7 ed. São Paulo: Saraiva, 2016, p. 909. Coleção esquematizado.
34. Sobre o tema, a Súmula 518 do STJ: Para fins do art. 105, III, “a”, da Constituição Federal, não
é cabível recurso especial fundado em alegada violação de enunciado de súmula.
35. ANDRIGHI, Fátima Nancy, comentário ao artigo 105, III da Constituição. In CANOTILHO,
J.J. Gomes; MENDES, Gilmar F.; SARLET, Ingo w.; STRECK, Lenio L. (Coords). Comentários
à Constituição do Brasil. São Paulo: Saraiva/Almedina, 2013, p. 1452.
116 RECURSOS EM ESPÉCIE NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

violação ao texto infraconstitucional; a simples referência ao artigo da Lei


Federal, desacompanhada das razões que evidenciam a violação, não permitem
o conhecimento do recurso especial.

7.7 JURISPRUDÊNCIAL DEFENSIVA E APLICABILIDADE DAS


SÚMULAS
Neste subcapítulo trazemos um assunto extremamente ligado à
jurisprudência defensiva do STJ e STF. Assim, em todos os casos, tanto
em recursos extraordinários e especiais, recomendamos afirmar e provar
não ser hipótese de aplicabilidade, por exemplo, da Súmula 7 do STJ: “A
pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial.”
Assim, antes do resumo fático, da dialeticidade e razões de reforma,
o assunto “súmulas” deve ser abordado na peça recursal. De extrema
importância, portanto, em tópico específico abordar o assunto e pelo
contexto recursal fático provar não ser hipótese de aplicabilidade da Súmula
7 o STJ.
Assim também, e vem sendo usado muito pelas Cortes Superiores,
como forma de jurisprudência defensiva, “as seguintes Súmulas” como uma
espécie de análise de filtro recursal:
Súmula 13 do STJ: A divergência entre julgados do mesmo
tribunal não enseja recurso especial.
Súmula 83 do STJ: Não se conhece do recurso especial pela
divergência, quando a orientação do tribunal se firmou no
mesmo sentido da decisão recorrida.
Súmula 282 do STF: É inadmissível o recurso extraordinário,
quando não ventilada, na decisão recorrida, a questão federal
suscitada.
Súmula 284 do STF: É inadmissível o recurso extraordinário,
quando a deficiência na sua fundamentação não permitir a
exata compreensão da controvérsia.
Tanto em recursos especiais quanto em recursos extraordinários, são
essas súmulas rotineiramente utilizadas como forma de “admissibilidade” e
uma “espécie de filtro recursal”. Entendemos então prudente a citação e a
comprovação do respeito ao conteúdo da súmula.

7.8 RECURSO ESPECIAL E EXTRAORDINÁRIO REPETITIVOS

Outro ponto de destaque aqui é o recurso especial na modalidade de


recurso repetitivo nos termos do art. 1.036 e seguintes do CPC (RISTJ, art.
256 e seguintes). Aqui há uma clara racionalização por parte do legislador
Recurso especial 117

para criar precedentes obrigatórios e, assim, ter melhor segurança jurídica e,


diga-se, eficiência no julgamento dos processos36.
O tema tem ligação com o art. 926 do CPC que trata de segurança
jurídica e respeito aos precedentes, assim como art. 927, III que trata de uma
hipótese de precedente obrigatório. Tem pertinência também com o art.
988, IV ao tratar de reclamação, pois da decisão proferida em resolução de
demandas repetitivas, na hipótese de decisão contrária, caberá impugnação
por essa via.
Neste ponto há apenas uma restrição ao procedimento apontado no
IRDR, pois no recurso especial ou extraordinário repetitivo este procedimento
estará apto apenas nestes recursos, não em questões de direito local que
podem ser julgadas pelo Tribunais (como no caso do IRDR e IAC).

7.9 LEGITIMIDADE. HONORÁRIOS DE ADVOGADO

Outro ponto que merece destaque é a legitimidade para pleitear apenas


honorários na hipótese de verba sucumbencial. O advogado pleiteando
apenas a verba de honorários e não sendo ele beneficiário da gratuidade de
justiça, em princípio, deverá arcar com as custas processuais, essa é regra.
Há, porém, precedente no STJ que merece leitura apurada. Na hipótese
da parte autora ser beneficiária da assistência judiciária e a advogado pleitear
apenas a parte sucumbência, de acordo com o REsp 361.713/RJ: “Honorários
Advocatícios. Legitimidade de Parte. Arbitramento do quantum. Têm
legitimidade para recorrer da sentença, no ponto alusivo aos honorários
advocatícios, tanto a parte como o seu patrono.37”
Neste sentido também REsp n.º 1.596.062/SP38:
Com efeito, a jurisprudência desta Corte possui o
entendimento de que, apesar de os honorários advocatícios
36. Sobre o tema: “Como o legislador imaginou que os precedentes são na sua imensa maioria
oriundos somente dos julgamentos dos recursos repetitivos (art. 927, III, do CPC), apenas em
relação a esses previu a necessidade de identificação “com precisão” da questão a ser submetida
a julgamento (art. 1.037, I, do CPC), de “solicitar ou admitir a manifestação de pessoas, órgãos
ou entidades com interesse na controvérsia, considerando a relevância da matéria” e de “fixar
data para, em audiência pública, ouvir depoimentos de pessoas com experiência e conhecimento
na matéria, com a finalidade de instruir o procedimento” (art. 1.038, I e II, do CPC). Porém,
é necessário que todo e qualquer recurso extraordinário ou recurso especial tenha identificada
com precisão a questão que será debatida e submetida a julgamento” MITIDIERO, Daniel.
Precedentes: da persuasão à vinculação. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016.
37. Voto Ministro Barros Monteiro (Relator): “Tanto a parte como o seu patrono têm legitimidade
para recorrer contra a decisão que deixou de estabelecer os encargos da sucumbência. A despeito
de o art. 23 da Lei n° 8.906, de 4.7.1994, outorgar ao profissional da advocacia a titularidade dos
honorários decorrentes da sucumbência, o próprio litigante não se acha inibido de formular a
irresignação”
38. Neste mesmo sentido: AREsp 603.943/AP, REsp 1.466.005/SP, REsp 1.378.162/SC.
118 RECURSOS EM ESPÉCIE NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

constituírem direito autônomo do advogado, não se exclui da


parte a legitimidade concorrente para discuti-los, inocorrendo
deserção se ela litiga sob o pálio da gratuidade da justiça.
Assim, destoando o acórdão recorrido da jurisprudência
desta Corte, sua reforma é medida que se impõe. Ante
o exposto, dou provimento ao recurso especial para
declarar a desnecessidade de recolhimento do preparo
e determinar o retorno dos autos ao Tribunal de origem
para que prossiga no julgamento da causa.
Já na vigência do CPC/2015, decisão proferida em AREsp n°
1360532/SP (2018/0232776-3), pelo relator Ministro Raul Araújo seguiu este
etendimento e assim fez constar:
“Por sua vez, a jurisprudência desta Egrégia Corte, que se
orienta no sentido de considerar que, “Não tendo agido a
advogada em nome próprio, não há falar em deserção quando
o litigante está abrigado pela gratuidade da Justiça.” (AgRg
no REsp 1378162/SC, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL
MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 04/02/2014,
DJe 10/02/2014). (...)
Portanto, verifica-se que o entendimento exposto pela Corte
de origem encontra-se em dissonância com a Jurisprudência
desta Corte Superior.
Diante do exposto, nos termos do art. 253, parágrafo único,
II, c, do RISTJ, conheço do agravo para dar provimento ao
recurso especial, e, afastando a necessidade de recolhimento
do preparo recursal, determino o retorno dos autos ao
Tribunal de origem para que prossiga no julgamento do
recurso de apelação.
Deste modo, entende-se que, de acordo com os precedentes (CPC, art.
926) e pelo fundamento de concessão de assistência judiciária gratuita para a
parte (autora do processo), o advogado poderá pleitear verbas sucumbenciais
sem a necessidade de pagar ou complementar as custas processuais.
CAPÍTULO VIII

RECURSO EXTRAORDINÁRIO

O recurso extraordinário é objeto de tratamento pelo CPC/2015, em


conjunto com o recurso especial, a partir do art. 1.029, e também encontra
regramento no art. 102, III e § 3º da Constituição Federal, e no regimento
interno do Supremo Tribunal Federal.1
É notável que o recurso extraordinário tem a importante função de
garantir a vigência e solidez da ordem constitucional, nos casos concretos
que são levados ao Poder Judiciário – isto, ao menos, quando evidenciada a
repercussão geral da questão, segundo a sistemática inaugurada pela Emenda
Constitucional n.º 45/2004.2
No estudo que ora se apresenta, procurar-se-á aprofundar a compreensão
sobre a disciplina do recurso extraordinário no CPC/2015 – inclusive com
atenção às alterações introduzidas pela Lei 13.256/2016 –, as suas hipóteses de
cabimento, o prazo e as características da interposição, o requisito específico
de demonstração de repercussão geral, a hipótese específica de fungibilidade
trazida pelos arts. 1.032 e 1.033 do CPC, a possibilidade de atribuição de
efeito suspensivo, além das fases de processamento e juízo de admissibilidade
no Tribunal de origem e no Supremo Tribunal Federal.

8.1 PREVISÃO LEGAL NO CPC/2015

Conforme adiantado nas breves considerações introdutórias, o recurso


extraordinário encontra-se atualmente disciplinado (em conjunto com o
recurso especial) pelos art. 1.029 e seguintes do CPC/2015, que tratam de
1. O Recurso Extraordinário encontrava, ainda, previsão e regramento nos art. 26 a 29 da Lei
8.038/1990, mas tais dispositivos foram expressamente revogados pelo art. 1.072, IV, do
CPC/2015.
2. Sobre o tema: “[...] historicamente, o ordenamento jurídico pátrio já contou com um instituto
similar, mas não idêntico à repercussão geral, qual seja, a arguição de relevância, introduzida pela
Emenda Regimental nº 3 de 1975”. BUZINGNANI, Wilian Zendrini. Aspectos Modernos do
Recurso Extraordinário: repercussão geral e outros apontamentos. Curitiba: CRV, 2013, p. 155.
120 RECURSOS EM ESPÉCIE NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

disposições gerais e do julgamento de recursos repetitivos – seguindo, nas


Seções seguintes, com o tratamento do agravo em recurso especial e em
recurso extraordinário3 e dos embargos de divergência.4
Merecem nota, por exemplo, nas previsões do CPC/2015 sobre a
matéria, o tratamento específico da configuração de repercussão geral,5 e
também a nova disciplina dada ao processamento de recurso extraordinário
quando se considerar que a ofensa ao texto constitucional é apenas reflexa,
e que seu exame depende da análise da legislação federal ou de tratado
internacional sobre a matéria.

8.2 HIPÓTESES DE CABIMENTO DO RECURSO

O art. 1.029, caput do CPC/2015 faz referência expressa ao texto


constitucional, no que diz respeito às hipóteses de cabimento do recurso
extraordinário.6
Valem, portanto, neste particular, as determinações do art. 102, da Carta
Magna, que no seu caput atribui ao Supremo Tribunal Federal a competência
precípua de guarda daquela Constituição7 e, no inciso III, prevê que cabe
àquela Corte o julgamento, em recurso extraordinário, de causas decididas em
única ou última instância8 quando a decisão recorrida: a) contrariar dispositivo
da própria Constituição Federal; b) declarar a inconstitucionalidade de tratado
ou lei federal;9 c) julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face

3. Sobre o agravo em recurso especial e recurso extraordinário, cf. o capítulo 9.


4. Sobre os embargos de divergência, cf. o capítulo 10.
5. Que havia sido introduzido – de forma semelhante mas com algumas distinções em relação
à sistemática ora vigente – pela Lei 11.418/2006, que acrescentou os arts. 543-A e 543-B ao
CPC/1973.
6. Sobre o tema: “o art. 1.029, caput, do CPC/2015 fez bem em explicitar a ideia de que o cabimento
dos recursos extraordinário e especial se sujeita à Constituição Federal, respectivamente em seus
arts. 102, inciso III, e 105, inciso III. Daí se extrai que a legislação infraconstitucional não tem
aptidão de ampliar ou restringir o cabimento desses recursos em relação ao que preceitua a
Constituição da República”. SICA, Heitor Vitor Mendonça. Arts. 1.029 a 1.035. In: TUCCI, José
Rogério Cruz (...). 2015, p. 1.613.
7. Sobre o tema: “[...] o Supremo não é uma Corte Constitucional nos moldes clássicos, mas o órgão
de cúpula do Poder Judiciário que, entre outras funções, incumbe, de modo precípuo, a tutela
dos valores constitucionais mediante o manejo de um sistema de controle de constitucionalidade
híbrido [...]”. GONÇALVES, Nicole P. S. Mäder. O Supremo como Corte Constitucional. (...),
2014, p. 618.
8. Sobre o tema: “Admite-se até mesmo recurso extraordinário contra decisão proferida por juízo
singular de primeira instância nos casos em que estes atuam como instância ordinária única (o
que se dá, por exemplo, nas execuções fiscais de pequeno valor, nos termos do art. 34 da Lei de
Execuções Fiscais)”. CÂMARA, Alexandre Freitas. (...), 2017, p. 516.
9. É de se salientar que a declaração de inconstitucionalidade de tratado internacional ou de lei
federal, conquanto configure hipótese de cabimento de recurso extraordinário, não implica
necessariamente que tal recurso venha a ser provido – até porque o tratado ou dispositivo de lei
Recurso extraordinário 121

do texto constitucional; e d) julgar válida lei local contestada em face de lei


federal.10 Destaque-se que só é viável a interposição de recurso extraordinário
quando esgotadas as instâncias ordinárias11 e quando prequestionada12 a
matéria objeto das razões recursais.13

8.3 PRAZO E CARACTERÍSTICAS DA INTERPOSIÇÃO DO


RECURSO

Aplica-se ao recurso extraordinário, também, a previsão geral do art.


1.003, § 5º do CPC/2015, segundo a qual o prazo para interpor recursos é de
15 dias.14
Segundo o art. 1.029, I a III, interposição do recurso extraordinário
deve se dar por meio de petição própria, em que esteja claramente delineada
a exposição do fato e do direito; a demonstração inequívoca do cabimento
do recurso;15 e as razões do pedido de reforma ou de invalidação da decisão
recorrida.

federal poder, efetivamente, padecer de inconstitucionalidade.


Sobre o tema: “Um acórdão pode perfeitamente ser correto e merecer ‘confirmação’ apesar
de haver declarado a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal”. MANCUSO, Rodolfo de
Camargo. Recurso Extraordinário e Recurso Especial. 4 ed. São Paulo: RT, 1996, p. 140.
10. Sobre o tema: “[...] é preciso observar que tal discussão encerra conflito entre as competências
legislativas, de sorte a justificar o pronunciamento do STF em relação à constitucionalidade formal
das leis confrontadas. [...] Importa observar que – se a preterição da lei federal estiver lastreada
em ato de governo local –, a situação foge da alçada do extraordinário e deverá ser impugnada
pela via do recurso especial”. KOZIKOSKI, Sandro Marcelo. Recurso Extraordinário (...) p. 726.
11. Sendo inviável, portanto, a interposição de Recurso Extraordinário quando couber, ainda,
interposição de recurso perante o Tribunal de Apelação – como o agravo interno, por exemplo,
quando a decisão supostamente atentatória à ordem constitucional tiver sido proferida
monocraticamente.
12. Caso o acórdão não tenha se manifestado expressamente sobre a matéria constitucional em
questão, cabe a oposição de Embargos de Declaração, inclusive com atenção ao disposto no art.
1.025 do CPC.
Sobre o tema: “[...] a matéria que não figurar no conteúdo da decisão impugnada não terá sido
efetivamente decidida pelo órgão a quo, de modo que, para que se verifique o requisito do cabimento
do recurso extraordinário, é imperioso que a matéria constitucional contra a qual se insurge tenha
sido efetivamente julgada”. WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Recurso Especial, (...) p. 341.
Sobre o tema: “Por isso, se a decisão impugnada tiver sido omissa a seu respeito ou se a pretensa
ofensa à Constituição tiver origem em posicionamento do órgão julgador adotado pela vez
primeira no pr’[oprio julgado recorrido, deverá a parte, antes de interpor o recurso extraordinário,
provocar o pronunciamento sobre a questão constitucional por meio de embargos de declaração”.
THEODORO JÚNIOR, Humberto. (...) 2017, p. 1109.
13. A este respeito, cf. o tópico 6 do capítulo 1.
14. Aqui vale, novamente, a menção à exceção estabelecida pelo próprio art. 1.003, § 5º e reforçada
pelo art. 1.023, caput do CPC/2015, dos embargos de declaração, aos quais se aplica o prazo de
oposição de cinco dias.
15. É de se salientar que o recurso extraordinário tem cabimento, como visto, apenas nas hipóteses
expressamente previstas no art. 102, III CF.
122 RECURSOS EM ESPÉCIE NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

Assim, quando houver interposição simultânea de recurso especial


e recurso extraordinário, cada qual deve ser veiculado por meio de petição
distinta – com atenção, evidentemente, às hipóteses de cabimento e requisitos
aplicáveis a cada caso.
Destaque-se que, em que pese o fato de a Súmula 279 do STF previr
a inviabilidade de recurso extraordinário para simples reexame de prova,
é necessário que as razões recursais exponham não apenas o direito sobre
o qual se encontra fundamentada a pretensão de reforma ou anulação da
decisão recorrida, mas também dos respectivos fatos.
Este é um ponto de fulcral importância – e que aparentemente é
comumente mal compreendido.
Quando se trata do exercício do controle de constitucionalidade pela
via difusa (inclusive por parte do Supremo Tribunal Federal, por meio de
recurso extraordinário, por exemplo), é evidente que se encontra em juízo
o questionamento da aplicação de uma determinada norma a um certo
caso concreto,16 de maneira que colocar os fatos em perspectiva é de suma
importância.
Para que a parte esteja apta a expor o fato sobre o qual se baseia sua
pretensão recursal sem que isso implique necessidade do reexame de prova
por parte do Supremo Tribunal Federal (o que, como visto, encontraria
óbice na Súmula 279, daquela Corte) é importante que tal fato tenha sido
mencionado na decisão recorrida,17 de forma que reste evidente que o que

16. Note que, nas demandas que são levadas ao Poder Judiciário pelo cidadão comum e que podem
dar ensejo ao exercício do controle concreto de constitucionalidade, determina o art. 319, III
do CPC que a petição inicial indique “o fato” sobre o qual se baseia a pretensão do autor – que
constitui a causa de pedir próxima da demanda. Isto ocorre porque o Poder Judiciário não se
presta ao exercício de atividade meramente consultiva ou mesmo abstrata (com exceção, de certa
forma e com restrições importantes, ao exercício do controle de constitucionalidade pela via
concentrada).
Sobre o tema, cf. KELSEN, Hans. Teoria Geral do Direito e do Estado. 3 ed. 2 tir. São Paulo:
Martins Fontes, 2000; REALE, Miguel. Lições Preliminares de Direito. 25 ed. 22 tir. São Paulo:
Saraiva, 2001, p. 60 a 63 e p. 196 e 197.
Sobre o tema: “[...] o STF não verificará os fatos com a finalidade de averiguar se eles realmente
ocorreram ou não do modo narrado na decisão impugnada, mas apenas para deles extrair as
respectivas consequências jurídicas”. OLIVEIRA, Pedro Miranda. Recurso Extraordinário e o
Requisito da Repercussão Geral. São Paulo: RT, 2013, p. 121.
Sobre o tema: “No novo julgamento da causa, o STF e o STJ, naturalmente, terão de examinar o
fato em que se achava apoiada a decisão cassada. Isto, porém, não quer dizer que possa reavaliar
os fatos para formar nova e diversa convicção sobre a respectiva veracidade. Os fatos que são
levados em conta são exatamente aqueles fixados pelo tribunal de origem”. THEODORO
JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil - Vol. III, 50ª edição. Forense, 02/2017,
p. 1131.
17. Nos casos em que houver na decisão omissão sobre fato juridicamente relevante, mostra-se
pertinente a oposição de embargos de declaração, na forma dos art. 1.022 e seguintes do CPC.
Sobre o tema: “[...] quando a hipótese for de controle do processo subsuntivo via recurso
extraordinário, e partindo-se da premissa de que o STF não reexamina provas, embora reexamine
Recurso extraordinário 123

se pretende por meio do recurso extraordinário é pleitear a garantia de


vigência de dispositivos constitucionais sobre fatos reconhecidos pela própria
instância a quo no julgamento recorrido – e não exatamente pleitear o próprio
reconhecimento da ocorrência do fato pela instância superior.
Saliente-se, ainda, a extrema importância de o recurso extraordinário
observar o dever de dialeticidade18 em relação à decisão recorrida. Deve,
assim, o recorrente, em atenção ao determinado no art. 1.029, III do CPC,
demonstrar especificamente as razões que justificam a reforma ou anulação
da decisão recorrida, com menção específica a seus fundamentos.
Merece destaque também a nova previsão do art. 1.029, § 3º do CPC,
que permite que o STF desconsidere ou determine a correção de vício formal
de recurso extraordinário, desde que a interposição tenha sido tempestiva e
de que o vício não seja considerado grave.19

8.4 REPERCUSSÃO GERAL

Como visto, a partir da Emenda Constitucional 45/2004, o art. 102,


§ 3º, da Carta Magna, exige a demonstração de repercussão geral da alegada
ofensa ao texto constitucional como requisito de admissibilidade do recurso

os fatos tais quais descritos na decisão impugnada, às partes assiste o direito subjetivo de obter, do
tribunal a quo, decisão judicial na qual esteja refletida efetivamente a discussão travada por elas ao
longo do processo: a isso se tem chamado de prequestionamento”. WAMBIER, Teresa Arruda
Alvim. Recurso Especial, (...) p. 342.
18. A este respeito, cf. o capítulo 1.
19. Sobre o tema: “O texto legislativo autoriza o STF e o STJ a desconsiderarem vício formal de
recurso tempestivo ou determinar a sua correção, quando este não seja reputado como grave.
Trata-se de mensagem que nitidamente indica a superação da nefasta jurisprudência defensiva
dos tribunais em sede recursal”. XAVIER, José Tadeu Neves. Anotações aos Artigos 1.029 a
1.034. In: MACEDO, Elaine Harzheim e MIGLIAVACCA, Carolina Moraes (coord.). Novo
Código de Processo Civil Anotado. Porto Alegre: OAB-RS, 2015, p. 811.
Sobre o tema: “Em síntese, a não ser que se trate de defeito grave, por exemplo, ausência de
prequestionamento, é possível que o STJ e o STF (por meio do relator ou do órgão colegiado)
desconsiderem o vício e determinem o regular prosseguimento do recurso. Também na hipótese
de defeito que possa ser corrigido, cabe ao tribunal determinar a intimação do recorrente para
suprir a irregularidade. Somente se o recorrente não sanar o vício formal do qual foi intimado
para corrigir é que o tribunal deverá inadmitir o recurso”. DONIZETTI, Elpídio. Curso Didático
de Direito Processual Civil. 20 ed. São Paulo: Atlas, 2017, p. 1395.
Sobre o tema, o Enunciado 219 do FPPC: “O relator ou o órgão colegiado poderá desconsiderar
o vício formal de recurso tempestivo ou determinar sua correção, desde que não o repute grave”.
Sobre o tema, o Enunciado 220 do FPPC: “O Supremo Tribunal Federal ou o Superior Tribunal
de Justiça inadmitirá o recurso extraordinário ou o recurso especial quando o recorrente não
sanar o vício formal de cuja falta foi intimado para corrigir”.
Sobre o tema, o Enunciado 550 do FPPC: “A inexistência de repercussão geral da questão
constitucional discutida no recurso extraordinário é vício insanável, não se aplicando o dever de
prevenção de que trata o parágrafo único do art. 932, sem prejuízo do disposto no art. 1.033”.
124 RECURSOS EM ESPÉCIE NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

extraordinário. Este é, portanto, ponto de diferenciada e extrema importância


a ser levado em conta na elaboração das razões do recurso.20
Tal sistemática é consagrada no nível infraconstitucional pelo
CPC/2015, que dedica o art. 1.035 especificamente ao seu regramento – que
traz algumas novidades em relação ao tratamento até então dispensado à
matéria pelos arts. 543-A e 543-B do CPC/1973.
Segundo o § 1º do art. 1.035, a configuração de repercussão geral da
matéria objeto de recurso extraordinário levará em consideração a existência
ou não de questões relevantes do ponto de vista econômico, político, social
ou jurídico21 que ultrapassem os interesses subjetivos do processo.
Em suma, a afirmação de repercussão geral depende da demonstração
de que o pronunciamento do Supremo Tribunal Federal a respeito da matéria
é do interesse da sociedade, em geral, e não apenas das partes litigantes no
caso concreto levado à sua apreciação.22

20. Sobre o tema: “Apesar de a repercussão geral ser requisito de admissibilidade do recurso
extraordinário, não pode ser conhecida de ofício. A parte recorrente deve demonstrar que a
questão constitucional está revestida de repercussão geral. Ausente essa preliminar, o recurso será
inadmitido”. WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Recurso Especial, (...) p. 411.
Sobre o tema, o Enunciado 224 do FPPC: “A existência de repercussão geral terá de ser
demonstrada de forma fundamentada, sendo dispensável sua alegação em preliminar ou em
tópico específico”.
Sobre o tema: “A falta de um capítulo na peça recursal dedicado a demonstrar a repercussão
geral vem ensejando há tempos o não conhecimento do recurso extraordinário por vício formal,
nos termos do art. 327 do Regimento Interno do STF, alterado pela Emenda Regimental nº
21/2007)”. SICA, Heitor Vitor Mendonça. Arts. 1.029 a 1.035. In: TUCCI, José Rogério Cruz e
(et. al., coord.). Código de Processo Civil Anotado. Curitiba: OAB-PR, 2015, p. 1.626.
21. Sobre o tema: “Com relação às matérias elencadas, a norma jurídica que introduziu a repercussão
geral tem caráter exemplificativo quando informa ‘do ponto de vista econômico, político, social
ou jurídico’, uma vez que ao enfocar a relevância ao sistema social, a norma abarca uma série de
outros subsistemas que fazem eco no sistema social, tais como: a medicina, a ética, a moral entre
outros” BUZINGNANI, Wilian Zendrini. Aspectos Modernos do Recurso Extraordinário:
repercussão geral e outros apontamentos. Curitiba: CRV, 2013, p. 156.
22. Sobre o tema: “Com efeito, uma questão constitucional terá repercussão geral mesmo quando o
interesse social esteja frontalmente no sentido inverso. Aliás, vale observar que, em casos assim, a
repercussão geral decorrerá justa e ironicamente do fato de a coletividade estar mobilizada contra
a questão, o que, por si só, já revela o seu potencial impacto indireto”. WAMBIER, Teresa Arruda
Alvim. Recurso Especial, (...) p. 251.
Recurso extraordinário 125

No § 3º, o art. 1.035 estabelece duas23 hipóteses de presunção absoluta24


de repercussão geral, sempre que o recurso extraordinário for dirigido contra
acórdão que: a) contrariar súmula ou jurisprudência dominante do Supremo
Tribunal Federal; ou b) afirme a inconstitucionalidade de tratado ou de lei
federal por vota da maioria absoluta dos membros do Tribunal a quo ou dos
membros do respectivo órgão especial, nos termos do art. 97 da Constituição
Federal.
Parece possível afirmar que a intenção consagrada no art. 1.035, § 3º
do CPC/2015 é aumentar a possibilidade de configuração de repercussão
geral – mas também é útil lembrar que os dispositivos em questão precisam
ser interpretados de maneira harmônica e sistemática e, segundo o já
referido art. 1.035, § 1º, o reconhecimento de repercussão geral dependerá
da demonstração de que o pronunciamento do Supremo Tribunal Federal a
respeito da matéria ultrapassa o interesse das partes envolvidas no processo.
Como a questão da constatação de repercussão geral está ligada
ao reconhecimento da função social do Supremo Tribunal Federal25 no
23. O art. 1.035, § 3º, II do CPC/2015, em sua redação original, também previa a presunção
de repercussão geral quando o Recurso Extraordinário impugnasse acórdão proferido em
julgamento de casos repetitivos, mas o dispositivo em questão foi expressamente revogado pelo
art. 3º, II, da Lei 13.256/2016.
Sobre o tema: “Deve-se ter presente, entretanto, que permaneceu no Código o § 1º do art. 987,
que diz presumir-se haver repercussão geral em casos submetidos ao IRDR, pelo que pode-se
concluir que a revogação do dispositivo não tem o alcance que se esperava. Com a exclusão desse
inciso, só não será presumida a repercussão geral em acórdão que julga recurso especial repetitivo”.
WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Recurso Especial, (...) p. 411.
24. Sobre o tema: “Há presunção absoluta de repercussão geral da questão constitucional sempre
que o recurso extraordinário for interposto contra decisão que contraria enunciado de súmula ou
jurisprudência dominante do STF (art. 1.035, § 3º, I). Também haverá tal presunção absoluta de
repercussão geral quando o acórdão recorrido tenha afirmado a inconstitucionalidade de tratado
internacional ou lei federal com observância da cláusula de reserva de plenário (art. 1.035, § 3º,
III). Nos demais casos, caberá ao recorrente demonstrar a existência de repercussão geral da
questão constitucional, cabendo ao Supremo Tribunal Federal decidir pela presença ou não deste
requisito específico de admissibilidade do recurso extraordinário”. CÂMARA, Alexandre Freitas.
O novo processo civil brasileiro / Alexandre Freitas Câmara. – 3. ed. – São Paulo: Atlas, 2017, p.
547.
Sobre o tema: “Em duas situações a relevância da questão é presumida de modo absoluto, isto
é, iure et de iure”. DONIZETTI, Elpídio. Curso Didático de Direito Processual Civil. 20 ed. São
Paulo: Atlas, 2017, p. 1402.
25. Sobre o tema: “[...] o legislador constitucional acabou por tornar ‘fácil demais’ o acesso ao STF,
pois contra qualquer decisão judicial é possível indicar alguma suposta inconstitucionalidade.
E como quase tudo pode ser levado ao Supremo, a este cabe julgar quase todas as matérias,
impedindo que as grandes causas que tenham repercussão geral na sociedade brasileira sejam
amadurecidas, julgadas com profundidade, e recebam a devida atenção dos jurisdicionados.
[...] Enfim, o STF, para dar uma resposta judiciária de qualidade, necessita de certos elementos
de contenção. Do contrário, ou bem não conseguirá gerir a quantidade de processos que a ele
chegam diariamente, levando ao represamento e ao atraso na prestação jurisdicional; ou bem
acabará ofertando resposta judicial de massa, com evidente prejuízo para os valores segurança
e justiça. Nesse contexto está inseria a repercussão geral das questões constitucionais, em que
se conferiu flexibilidade ao STF para conhecer apenas as matérias que entender realmente
126 RECURSOS EM ESPÉCIE NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

estabelecimento de balizas razoavelmente claras sobre a interpretação e


aplicação do ordenamento constitucional, o art. 1.035, § 4º também dá ao
relator a possibilidade de admitir a manifestação de terceiros (por meio de
procurador devidamente habilitado), de forma a colaborar especificamente
com a análise de existência ou não da alegada repercussão.
O reconhecimento de repercussão geral, segundo o art. 1.035, § 5º,
implicará, por decisão do Relator no Supremo Tribunal Federal, a suspensão
do processamento de todos os processos pendentes que versem sobre a
mesma questão em todo o território nacional.
Por outro lado, negada a repercussão geral da matéria, pelo próprio
Supremo Tribunal Federal,26 determina o art. 1.035, § 8º que o Presidente
ou Vice-Presidente do Tribunal de Apelação neguem seguimento a todos
os Recursos Extraordinários que tenham sido sobrestados na origem e que
tratem da mesma matéria constitucional – precisamente pela falta de interesse
social geral no pronunciamento do STF sobre a questão.27
Vale observar que o § 9º do art. 1.035 determina que o julgamento de
recurso extraordinário com repercussão geral reconhecida deve ocorrer no
prazo de um ano, e que terá, inclusive, preferência sobre outros feitos28 – mas
é de se destacar que o art. 3º, II, da Lei 13.256/2016 revogou expressamente
o § 10 do art. 1.035 do CPC, que previa que a falta de julgamento no prazo
estabelecido no § 9º implicaria a retomada do curso normal dos processos
que tivessem sido suspensos na forma do § 5º, isto é, que cessaria a suspensão
de tramitação.

8.5 FUNGIBILIDADE

Como se sabe, o CPC/2015 consagra um esforço no sentido de que


sejam superados certos formalismos jurisdicionais, de forma a permitir que
importantes para a sociedade brasileira”. OLIVEIRA, Pedro Miranda. Recurso Extraordinário e
o Requisito da Repercussão Geral. São Paulo: RT, 2013, p. 85.
Sobre o tema: “Foi, sem dúvida, a necessidade de controlar e reduzir o sempre crescente e
intolerável volume de recursos da espécie que passou a assoberbar o Supremo Tribunal a ponto
de comprometer o bom desempenho de sua missão de Corte Constitucional, que inspirou a
justificou a reforma operada pela EC n.º 45 . THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de
Direito Processual Civil - Vol. III, 50ª edição. Forense, 02/2017, p. 1112.
26. Sobre o tema: “O Supremo Tribunal Federal só pode deixar de conhecer do recurso extraordinário
por ausência de repercussão geral da questão constitucional se neste sentido se manifestarem
pelo menos dois terços de seus membros”. CÂMARA, Alexandre Freitas. O novo processo civil
brasileiro / Alexandre Freitas Câmara. – 3. ed. – São Paulo: Atlas, 2017, p. 548.
27. Mencione-se que à parte recorrente, contudo, é dado demonstrar a existência de distinguishing
entre a própria pretensão recursal e a ratio decidendi da decisão que afirmou a inexistência de
repercussão geral de determinada matéria. A este respeito, cf. o capítulo 1.
28. Com exceção dos processos que envolvam réus presos e dos pedidos de habeas corpus, por
previsão expressa do próprio art. 1.035, § 9º do CPC.
Recurso extraordinário 127

os mecanismos processuais sejam utilizados de maneira a viabilizar a efetiva


pronúncia do Poder Judiciário a respeito das questões que são levadas a seu
conhecimento por meio das demandas dos cidadãos.29
Neste sentido, o art. 1.033 do CPC/2015 traz inovação extremamente
importante e realmente digna de aplauso, ao prever que se o Supremo Tribunal
Federal considerar que a ofensa ao texto constitucional afirmada pela parte
no recurso extraordinário é reflexa, por demandar a revisão da interpretação
de lei federal ou de tratado, deve remetê-lo ao Superior Tribunal de Justiça,
para que seja julgado como se recurso especial fosse.
Destaque-se que sistemática semelhante é prevista no art. 1.032 do
CPC/2015, para quando se considerar que recurso especial interposto perante
o Superior Tribunal de Justiça tem como objeto questão constitucional –
hipótese em que deve ser concedido prazo ao recorrente30 para se manifestar
sobre tal questão constitucional e demonstrar a sua repercussão geral, sendo
possível ao Supremo Tribunal Federal, no exercício do juízo de admissibilidade,
devolver a apreciação do recurso ao STJ.31
29. Assim, por exemplo, o art. 139, IX do CPC/2015, que impõe aos magistrados a incumbência
de determinar o suprimento de pressupostos processuais e o saneamento de outros vícios
processuais; o art. 277, caput determina o aproveitamento de atos aparentemente nulos por
desrespeito à forma, quando for alcançada a respectiva finalidade; o art. 283, parágrafo único
prevê o aproveitamento dos atos praticados, mesmo quando houver nulidade, desde que não
resulta prejuízo à defesa de qualquer das partes; o art. 317, segundo o qual antes de proferir
decisão sem resolução de mérito, o juiz deve conceder à parte oportunidade para, se possível,
corrigir o vício. Especificamente na seara recursal, o CPC/2015 determina, por exemplo, no
art. 932, parágrafo único, que, sempre que possível, antes de considerar inadmissível qualquer
recurso, o relator conceda o prazo de cinco dias ao recorrente para que seja sanado vício ou
complementada a documentação exigível; o art. 938, § 1º determina que constatada a ocorrência
de vício sanável, inclusive aquele que possa ser conhecido de ofício, o relator determinará a
realização ou a renovação do ato processual; e o art. 1.007, em seus parágrafos, determina que
seja viabilizado à parte recorrente corrigir equívoco, insuficiência ou falta de recolhimento dos
valores referentes ao respectivo preparo.
30. Sobre o tema, o Enunciado 565 do FPPC: “Na hipótese de conversão de recurso extraordinário
em recurso especial ou vice-versa, após a manifestação do recorrente, o recorrido será intimado
para, no prazo do caput do art. 1.032, complementar suas contrarrazões”.
Sobre o tema, o Enunciado 566 do FPPC: “Na hipótese de conversão do recurso extraordinário
em recurso especial, nos termos do art. 1.033, cabe ao relator conceder o prazo do caput do art.
1.032 para que o recorrente adapte seu recurso e se manifeste sobre a questão infraconstitucional”.
31. Sobre o tema: “Esses dois dispositivos, que devem ser interpretados conjuntamente, preveem
um regime de remessa recíproca dos autos, ou redirecionamento do recurso, caso haja dúvidas
quanto à circunstância de predominar, na questão de direito central, o aspecto constitucional ou
infraconstitucional. Essa questão será solucionada pelo STF, de forma definitiva, em decisão de
que não cabe recurso”. WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Recurso Especial, (...) p. 516.
Sobre o tema: “Consagrando novamente o princípio da primazia do julgamento do mérito,
os artigos 1.032 e 1.033, do NCPC, possibilitam a conversão do Recurso Especial em
Recurso Extraordinário e vice-versa”. BUTZKE, Alex de Siqueira. Recurso especial e recurso
extraordinário. Breves notas sobre as alterações promovidas pelo novo código de processo civil.
In: FUGA, Bruno Augusto Sampaio (...) p. 494.
Sobre o tema (tratando especificamente do art. 1.033): “Dois problemas podem advir desse novo
dispositivo: (a) já há no STJ recurso especial que versa sobre a mesma questão jurídica, mas
128 RECURSOS EM ESPÉCIE NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

Tais dispositivos legais visam superar um grave problema que havia se


instalado na dinâmica recursal das Cortes Superiores – nos casos em que a
Constituição Federal remete a definição de determinadas garantias de enorme
importância à legislação infraconstitucional.
No cenário jurisprudencial que vinha dominando, pode-se mencionar
que o Supremo Tribunal Federal
[...] firmou orientação no sentido de ser inadmissível, em
regra, a interposição de recurso extraordinário para discutir
matéria relacionada à ofensa aos princípios constitucionais do
devido processo legal, da ampla defesa, do contraditório e da
prestação jurisdicional, quando a verificação dessa alegação
depender de exame prévio de legislação infraconstitucional,
por configurar situação de ofensa reflexa ao texto
constitucional.32
A Súmula 636 do Supremo Tribunal Federal, por exemplo, prevê que
“não cabe recurso extraordinário por contrariedade ao princípio constitucional
da legalidade, quando a sua verificação pressuponha rever a interpretação
dada a normas infraconstitucionais pela decisão recorrida”.
O problema que vinha se apresentando na dinâmica jurisdicional,
contudo, era que o Superior Tribunal de Justiça entendia que quando se
afirmava ofensa aos princípios da legalidade ou do devido processo legal, por
exemplo, o meio adequado seria o recurso extraordinário, e não o recurso
especial.33
analisada à luz da legislação infraconstitucional; nesse caso, o STJ estaria autorizado a inadmitir o
recurso extraordinário remetido pelo STF por falta de interesse recursal; (b) o STJ entende que a
matéria versada é, em realidade, constitucional; nesse caso, não seria possível aplicar o art. 1.032,
pois o parágrafo único desse dispositivo deixa claro que a última palavra a respeito dessa questão
é do STF e ela já foi antecipadamente dada. O STJ será, pois, obrigado a examinar o recurso”
(SICA, 2015, p. 1.623).
Sobre o tema: “[...] restou claro para o NCPC, no campo dos recursos excepcionais, ser irrelevante
o equívoco da patê em usar o especial em lugar do extraordinário e vice e versa, pois sempre será
possível a conversão do inadequado no adequado”. THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso
de Direito Processual Civil - Vol. III, 50ª edição. Forense, 02/2017, p. 1151.
32. STF, ARE 682028 AgR, 2ª Turma, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, DJe 19/10/2012.
Sobre o tema, na sistemática anteriormente vigente: “É de se destacar que tal entendimento limita
consideravelmente as possibilidades de se tentar garantir a vigência da garantia constitucional do
devido processo legal, perante a Suprema Corte, haja vista o fato já mencionado de que será, em
geral, a legislação infraconstitucional quem disciplinará os limites, as fases e as características do
processo”. ANTUNES, Thiago Caversan. Princípio do Devido Processo Legal. In: RUZON,
Bruno Ponich (org.). Princípios do Processo Civil Brasileiro. Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2013,
p. 79.
Sobre o tema: “[...] não se pode considerar admissível recurso extraordinário em que se alegue
violaão ao princípio do devido processo ou ao princípio do contraditório por ter sido descumprido
algum comando oriundo de lei processual”. CÂMARA, Alexandre Freitas. O novo processo civil
brasileiro / Alexandre Freitas Câmara. – 3. ed. – São Paulo: Atlas, 2017, p. 549.
33. Cf. STJ, AgRg no REsp 1287146/BA, 2ª Turma, Rel. Min. Herman Benjamin, DJe 10/10/2012;
STJ, AgRb o AREsp 18732/DF, 2ª Turma, Rel. Min. Humberto Martins, DJe 04/10/2011; STJ,
REsp 1213377/PR, 2ª Turma, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, DJe 05/05/2011.
Recurso extraordinário 129

Na prática, portanto, a vigência de importantes determinações do


ordenamento jurídico brasileiro não era garantida por qualquer das Cortes
Superiores – o Superior Tribunal de Justiça negava conhecimento a recurso
especial, por considerar que o fundamento das razões recursais tinha natureza
constitucional, e o Supremo Tribunal Federal negava-se, também, a conhecer
recurso extraordinário, argumentando que a ofensa ao texto constitucional
seria apenas “reflexa” e que sua verificação dependeria do exame da legislação
infraconstitucional.34
A sistemática que os arts. 1.032 e 1.033 do CPC/2015 pretende inaugurar
visa, assim, claramente, superar tais dificuldades, possibilitando que a
questão de natureza constitucional seja encaminhada ao Supremo Tribunal
Federal, e, ainda, que aquela Corte Suprema encaminhe definitivamente para
conhecimento pelo Superior Tribunal de Justiça recurso cuja fundamentação
trate de ofensa ao texto constitucional apenas de forma “reflexa”.

34. Sobre o tema: “Não se coaduna com a missão precípua do Supremo Tribunal Federal, de guardião
maior da Carta Política da República, alçar a dogma a assertiva segundo a qual a violência à
Lei Básica, suficiente a impulsionar o extraordinário, há de ser frontal e direta. Dois princípios
dos mais caros nas sociedades democráticas, e por isso mesmo contemplados pela Carta de
1988, afastam esse enfoque, no que remetem, sempre, ao exame do caso concreto, considerada a
legislação ordinária - os princípios da legalidade e do devido processo legal” (STF, RE 398407, 1ª
Turma, Rel. Min. Marco Aurélio, DJ 17/12/2014).
Sobre o tema: “De fato, além de a exigência de que se tratasse de ofensa direta à Constituição
Federal ter, com o tempo, se transformado em mais um caos de jurisprudência defensiva, o fato
é que muitas vezes pode realmente haver fundadas dúvidas sobre o aspecto que prepondera em
questão de direito mencionada ou disciplinada a um só tempo pela Constituição Federal e pelo
direito infraconstitucional”. WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Recurso Especial, (...) p. 545.
Sobre o tema: “Cada uma das espécies de recursos excepcionais possui objeto específico. Porém
nem sempre a decisão recorrida expõe com clareza a sua fundamentação normativa, em especial
nos casos em que a matéria constitucional – sabidamente ampla e às vezes até difusa – é também
apontada na fundamentação. Esta realidade se fez sentir na vigência do sistema do CPC de 1973,
nas hipóteses em que ambas as Cortes Superiores eram chamadas para julgarem os recursos
excepcionais interpostos simultaneamente em relação à mesma decisão, dando oportunidade para
que o STJ recusasse o recebimento do recurso especial, entendo ser caso de enfrentamento de
matéria constitucional e o STF, por sua vez, não conhecesse do recurso extraordinário, sob o
fundamento não ter havido violação direita de texto constitucional. Esta realidade, em última
análise, representava negativa de prestação jurisdicional, o que é inadmissível em um Estado de
Direito”. XAVIER, José Tadeu Neves. Anotações aos Artigos 1.029 a 1.034. In: MACEDO, Elaine
Harzheim e MIGLIAVACCA, Carolina Moraes (coord.). Novo Código de Processo Civil Anotado.
Porto Alegre: OAB-RS, 2015, p. 812.
Sobre o tema: “O novo Código consagrou, nos arts. 1.032 e 1.033, a fungibilidade no tocante
à interposição de recurso especial e extraordinário. O objetivo do legislador foi evitar a
jurisprudência defensiva, em que um tribunal afirmava ser a competência para julgar o recurso do
outro e, em razão disso, nenhum dos dois julgava”. THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso
de Direito Processual Civil - Vol. III, 50ª edição. Forense, 02/2017, p. 1150.
130 RECURSOS EM ESPÉCIE NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

8.6 EFEITOS DA INTERPOSIÇÃO

Em relação ao recurso extraordinário também incide a previsão do art.


995, caput do CPC/2015,35 segundo o qual via de regra a interposição de
recursos, em geral, não suspende a eficácia da decisão recorrida.36
Adiante, as disposições do art. 1.029, § 5º – que está alocado na Seção
dedicada especificamente ao recurso extraordinário e ao recurso especial –
disciplinam o pleito de concessão excepcional de efeito suspensivo, regulando
a quem tal pedido deve ser dirigido, em cada momento processual: a) no
período compreendido entre a interposição do recurso e a publicação da
decisão de admissão do recurso, assim como no caso de o recurso ter sido
sobrestado pela afetação para julgamento de recursos múltiplos, ao Presidente
ou ao Vice-Presidente do Tribunal prolator da decisão recorrida; b) no período
compreendido entre a publicação da decisão de admissão do recurso e sua
distribuição, o pedido será dirigido ao próprio Supremo Tribunal Federal37 ou
c) quando já tiver sido distribuído o recurso, ao próprio relator.
É de se repisar, porém, que a atribuição de efeito suspensivo a recursos
é, na sistemática processual civil atualmente vigente no Brasil, excepcional, e
que fica, em geral, segundo os termos do art. 995, parágrafo único do CPC,
condicionada à existência de previsão legal específica ou da demonstração
inequívoca, cumulativamente, de probabilidade de provimento do recurso e
de risco efetivo de dano grave de difícil ou impossível reparação.

8.7 PROCESSAMENTO DO RECURSO

O recurso extraordinário é protocolado perante o próprio Tribunal


prolator da decisão recorrida, cuja Secretaria providenciará a intimação da
parte recorrida para apresentar suas contrarrazões, também no prazo de 15
dias.

35. Sobre o tema: “Com a possibilidade de concessão de efeito suspensivo, o NCPC inviabilizou o
uso de medidas cautelares para atribuição de tal efeito aos recursos especial e extraordinário”.
PALEARI, Fábio Nascimento. Teoria Geral dos Recursos: principais inovações das disposições
gerais dos recursos no novo código de processo civil. In: FUGA, Bruno Augusto Sampaio (et. al.
org.). Principais Inovações do Novo Código de Processo Civil. Birigui: Boreal, 2017, p. 404.
36. A exceção, digna de nota, é o recurso de apelação que, por força do disposto no art. 1.012,
caput do CPC/2015 tem, em regra, efeito suspensivo, ressalvadas as hipóteses do parágrafo
primeiro. Saliente-se, ademais, que o próprio art. 995, no parágrafo único, prevê a possibilidade
de concessão de efeito suspensivo, excepcionalmente, pelo relator, quando ficar evidenciado
que da imediata produção de seus efeitos houver risco de dano grave, de difícil ou impossível
reparação, e ficar demonstrada a probabilidade de provimento do recurso.
37. Ou, evidentemente, ao Superior Tribunal de Justiça, no caso de recurso especial. No caso de
interposição conjunta de recursos Especial e Extraordinário, ademais, também incide a regra do
art. 1.031, caput, do CPC.
Recurso extraordinário 131

Após esse prazo, com ou sem a resposta, os autos serão conclusos ao


Presidente ou ao Vice-Presidente38 do Tribunal prolator da decisão recorrida,
para fins de prosseguimento.
Nesta fase – de exame de admissibilidade, na instância a quo, na forma
determinada pela Lei 13.256/2016 – o art. 1.030 do CPC entrega ao Presidente
ou Vice-Presidente do Tribunal em que se proferiu a decisão recorrida um
roteiro, que se inicia pela verificação das hipóteses de negativa de seguimento
ao recurso extraordinário quando: a) tiver por objeto questão constitucional
em relação à qual o Supremo Tribunal Federal já tenha reconhecido a
inexistência de repercussão geral; b) for interposto contra acórdão que esteja
em conformidade com entendimento do próprio STF firmado no regime de
repercussão geral ou no julgamento de recursos repetitivos.
Aqui, há uma questão problemática, relacionada ao eventual
engessamento de certas interpretações, e a forma pela qual se viabilizará o
overruling39 de entendimentos firmados como precedentes obrigatórios. Veja
que o art. 1.030, I do CPC estabelece hipóteses de negativa de seguimento ao
recurso extraordinário, e que o art. 1.042 prevê a possibilidade de interposição
de Agravo contra a decisão que inadmite o recurso em questão, “salvo quando
fundada na aplicação de entendimento firmado em regime de repercussão
geral ou em julgamento de recursos repetitivos” – restando, assim, obscura a
sistemática segundo a qual os fundamentos que poderiam implicar a aplicação
do art. 927, §§ 2º a 4º, de maneira a viabilizar modificação de precedentes
obrigatórios anteriormente firmados poderiam ser jurisdicionalmente levados
às Cortes Superiores.40
38. É o Regimento Interno do Tribunal quem cuida da atribuição interna de competências, quando
não há previsão legal específica em sentido contrário, sendo, portanto, ali que se determina, em
cada caso, se os autos deverão ser conclusos ao Presidente ou ao Vice-Presidente do Tribunal de
Apelação.
39. A este respeito, cf. o capítulo 1.
40. Sobre o tema, o Enunciado 320 do FPPC: “Os tribunais poderão sinalizar aos jurisdicionados
sobre a possibilidade de mudança de entendimento da corte, com a eventual superação ou a
criação de exceções ao precedente para casos futuros”.
Sobre o tema, o Enunciado 322 do FPPC: “A modificação de precedente vinculante poderá
fundar-se, entre outros motivos, na revogação ou modificação da lei em que ele se baseou, ou em
alteração econômica, política, cultural ou social referente à matéria decidida”.
Sobre o tema: “[...] é preciso verificar se o recurso especial ou extraordinário interposto para
discutir matéria já examinada pelo STF ou pelo STJ é mera reprodução do que já foi apreciado pelo
Tribunal de Superposição, ou se ali se sustentou fundamento para a superação do entendimento
já firmado. Tendo sido sustentada a existência de fundamento para a superação, deverá o recurso
especial ou extraordinário ser admitido (não obstante a literalidade do texto do inciso I, a e b,
do art. 1.030, na redação da Lei 13.256/206). Caso o recurso não seja admitido, será possível
impugnar-se tal decisão por meio de agravo interno, para que o tribunal recorrido, por seu Pleno
ou Órgão Especial, reaprecie a questão. Negado provimento ao agravo interno, porém, deverá
admitir-se novo recurso (especial ou extraordinário, conforme o caso), a fim de viabilizar a subida
da causa ao Tribunal de Superposição competente”. CÂMARA, Alexandre Freitas. O novo
processo civil brasileiro / Alexandre Freitas Câmara. – 3. ed. – São Paulo: Atlas, 2017, p. 554.
132 RECURSOS EM ESPÉCIE NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

É bem verdade que o § 2º do art. 1.030 do CPC prevê expressamente


a possibilidade de interposição de agravo interno, nos termos do art. 1.021,
contra a decisão monocrática que nega seguimento ao recurso extraordinário
nos termos do art. 1.030, I – mas é necessário notar que o julgamento do
agravo interno ocorre, também, no âmbito do Tribunal de Apelação, e não
do Supremo Tribunal Federal.
Não sendo o caso de se negar seguimento, determina o art. 1.030, II
do CPC que, se a afirmação do recurso extraordinário for no sentido de que
o próprio acórdão recorrido está em desconformidade com entendimento
firmado pelo Supremo Tribunal Federal em regime de repercussão geral ou
de julgamento de recursos repetitivos, deve o Presidente ou Vice-Presidente
encaminhar os autos ao órgão julgador, para que exerça o juízo de retratação.
Se não for exercido o juízo de retratação pelo órgão prolator da
decisão recorrida – ou não sendo hipótese de cabimento do encaminhamento
previsto no inciso II – o art. 1.030, III do CPC determina que o Presidente
ou Vice-Presidente proceda o sobrestamento do recurso extraordinário que
tenha por objeto controvérsia de caráter repetitivo ainda não decidida pelo
Supremo Tribunal Federal41 – neste caso, segundo o art. 1.040 do CPC, uma
vez publicado o acórdão paradigma pelo STF, será negado seguimento ao
recurso extraordinário que se mostrar contrário à tese firmada, ou haverá
remessa dos autos ao órgão que proferiu a decisão recorrida quando esta
estiver em descompasso com a orientação determinada no julgamento por
aquela Corte Suprema.
Se ainda não tiver sido dado início ao procedimento de julgamento
de Recursos Extraordinários repetitivos – ficando, portanto, prejudicada a
aplicação do sobrestamento previsto no inciso terceiro –, prevê o art. 1.030,
IV do CPC que, caso a matéria aventada nas razões do recorrente seja objeto
de múltiplos recursos com fundamento em idêntica questão de direito,
é dado ao Presidente ou Vice-Presidente do Tribunal selecionar o recurso
como representativo da controvérsia constitucional, na forma do art. 1.036 e
seguintes do CPC.
Por outro lado, caso nenhuma das hipóteses previstas nos incisos
anteriores seja aplicável ao caso concreto, determina o art. 1.030, V do
CPC/2015 que seja realizado o juízo de admissibilidade e, sendo positivo,

41. O julgamento de Recursos Extraordinários repetitivos é disciplinado pelos arts. 1.036 a 1.041 do
CPC/2015.
Contra a decisão que determina o sobrestamento, caberá a interposição de agravo interno,
nos termos do art. 1.021, por conta da previsão expressa do art. 1.030, § 2º. É de se salientar,
também, que se o recurso extraordinário sobrestado for intempestivo, o art. 1.036, § 2º prevê a
possibilidade de o interessado requerer ao Presidente ou Vice-Presidente do Tribunal que exclua
a decisão de sobrestamento e inadmita, desde logo, o recurso.
Recurso extraordinário 133

seja o recurso extraordinário remetido ao Supremo Tribunal Federal,42


ressalvando, novamente, contudo, que o envio não deve ser efetivado caso:
a) o recurso deva ser sobrestado por conta do regime de repercussão geral
ou de julgamento de recursos repetitivos, na forma do art. 1.030, III; b) o
recurso tenha sido selecionado como representativo de controvérsia para o
julgamento de recursos repetitivos, nos termos do art. 1.030, IV; ou c) tenha se
retratado o órgão prolator da decisão recorrida, segundo a dinâmica prevista
no art. 1.030, II do CPC.
Quando recurso especial e recurso extraordinário forem interpostos
simultaneamente, determina o art. 1.031 do CPC que, após o exame
de admissibilidade no Tribunal de Apelação, os autos sejam remetidos
primeiramente ao Superior Tribunal de Justiça e que somente após concluído
o julgamento naquela Corte Superior sejam eles enviados ao Supremo
Tribunal Federal, para apreciação do recurso extraordinário – isto, caso ele
não tenha restado prejudicado, por perda do objeto, por exemplo.
Preveem os §§ 2º e 3º do art. 1.031 que o relator do recurso especial,
constatando a existência de prejudicialidade em relação ao recurso
extraordinário, deve, por decisão irrecorrível, sobrestar o julgamento e
determinar a remessa ao Supremo Tribunal Federal – e que no STF o Relator,
por sua vez, considerando que a prejudicialidade não existe, também por
decisão irrecorrível, devolverá os autos ao STJ para julgamento do recurso
especial.43
Por derradeiro, segundo o art. 1.034 do CPC, admitido o recurso
extraordinário, o Supremo Tribunal Federal julgará o processo,44 com vistas a

42. Sobre o tema: “[...] o STF e o STJ não ficam vinculados ao juízo positivo de admissibilidade
emitido pelo tribunal inferior, sendo perfeitamente possível que aqueles Tribunais de Superposição
decidam no sentido de não conhecer do recurso que havia sido admitido no tribunal de origem”.
CÂMARA, Alexandre Freitas. O novo processo civil brasileiro / Alexandre Freitas Câmara. – 3.
ed. – São Paulo: Atlas, 2017, p. 556.
43. Sobre o tema: “A prejudicialidade é um liame lógico que se estabelece entre a questão antecedente
e a subsequente, de modo que o exame daquela seja imprescindível para o exame desta, e exerça
papel determinante em relação a como esta última será decidida. Prejudicialidade haverá, por
exemplo, se no especial se alegar que a lei foi mal interpretada (deu-se a ela interpretação diferente
da adotada pelo STJ) e, no extraordinário, se arguir que a mesma lei é inconstitucional. Ora,
inexiste necessidade de saber se a tal lei foi mal ou bem aplicada, se a mesma lei é inconstitucional”.
WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Recurso Especial, (...) p. 496.
Sobre o tema: “O Supremo Tribunal Federal, todavia, não fica submetido forçosamente ao que
se deliberou no STJ, pois a lei reconhece ao relator do STF o poder de reexame da questionada
prejudicialidade e, se concluir pela sua inexistência, devolverá os autos, por meio de decisão
irrecorrível, a fim de que o recurso especial seja julgado normalmente em primeiro lugar (art.
1.031, § 3º). Entre o que decide o relator do recurso especial e o que pronuncia o relator do
recurso extraordinário, como se vê, a última palavra é dada por este”. THEODORO JÚNIOR,
Humberto. Curso de Direito Processual Civil - Vol. III, 50ª edição. Forense, 02/2017, p. 1150.
44. No processamento do Recurso observar-se-á, evidentemente, o disposto no Regimento Interno
do STF.
134 RECURSOS EM ESPÉCIE NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

garantir a vigência do texto constitucional, conforme a tese fixada, inclusive


com efeito devolutivo para conhecimento de todos os fundamentos (mesmo
dos não expressamente invocados nas razões recursais), especificamente para
solução do capítulo impugnado do acórdão recorrido.45

Sobre o tema: “No caso de haver julgamento de mérito do recurso, o STF e o STJ deverão ir
além da mera fixação da tese jurídica aplicável, incumbindo-lhes julgar o caso concreto, aplicando
o direito (art. 1.034). É que o STJ e o STF não são meros ‘tribunais de teses’, nem atuam como
tribunais de cassação (limitando-se a invalidar decisões que reputem equivocadas para que os
tribunais inferiores rejulguem as causas). A eles cabe atuar, em sede de recursos excepcionais,
como tribunais de revisão, rejulgando as causas que lhes são submetidas através de recurso especial
ou recurso extraordinário”. CÂMARA, Alexandre Freitas. O novo processo civil brasileiro /
Alexandre Freitas Câmara. – 3. ed. – São Paulo: Atlas, 2017, p. 557.
45. Sobre o tema: “O artigo mencionado não encontra correspondência no Código de Processo
Civil de 1973 (CPC/73), sendo, portanto, uma novidade da legislação processual vigente e
explicitando que tanto o STF quanto o STJ julgarão o processo, aplicando o direito fixado. O
parágrafo único do mesmo artigo ainda destaca que se devolve ao tribunal ad quem todos os
fundamentos para a solução da lide. Observe que a norma do parágrafo único ainda esclarece
a profundidade do efeito devolutivo: o que se devolve são todos os fundamentos do capítulo
impugnado, não toda a matéria debatida nos autos, pois, se determinado capítulo da sentença não
foi objeto do recurso analisado, opera-se sobre ele a coisa julgada material”. BUTZKE, Alex de
Siqueira. Recurso especial e recurso extraordinário. Breves notas sobre as alterações promovidas
pelo novo código de processo civil. In: FUGA, Bruno Augusto Sampaio (...) p. 488.
CAPÍTULO IX

DO AGRAVO EM RECURSO
ESPECIAL E EM RECURSO
EXTRAORDINÁRIO

O presente capítulo abordará as inovações do CPC/2015, em especial


sobre o sistema recursal e o egravo em recurso especial e extraordinário,
regulado pelo art. 1.042 do referido diploma legal. O capítulo foi também
escrito já com atenção às alterações promovidas pela Lei 13.256/2016.
Não se fará aqui qualquer menção ao revogado Código de Processo
Civil ou à sistemática antes da alteração da Lei 13.256/2016. O propósito é
abordar exclusivamente o ordenamento jurídico tal como atualmente vigente,
em especial no que diz respeito ao Recurso de Agravo em questão.
Aborda-se de início a previsão legal do Agravo em REsp e RE com
uma breve exposição de sua sistemática processual. Na sequência, apresenta-
se a necessidade do Agravo do art. 1.042 respeitar o dever de dialeticidade
(tema este essencial em todos os recursos).
Dedica-se especial atenção à aplicabilidade do art. 1.030, que trata da
admissibilidade do recurso especial e do recurso extraordinário, inclusive nas
exceções ao recurso de agravo no REsp e RE, assim como a não possibilidade
de fungibilidade na hipótese de erro diante da interposição do agravo interno
do art. 1.021 do CPC.
Segue-se então com análise do agravo no REsp e RE com visão crítica
e abordando em especial seus pontos controvertidos.
136 RECURSOS EM ESPÉCIE NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

9.1 PREVISÃO LEGAL. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL E EM


RECURSO EXTRAORDINÁRIO NO CPC

O recurso de agravo em recurso especial e em recurso extraordinário


encontra previsão legal no artigo 1.042 do CPC/20151. Há também já
diversas alterações fundamentais diante da Lei 13.256/2016 que modificou o
CPC antes mesmo do início de sua vigência. O presente capítulo abordará o
atual texto legal, sem fazer comparativos entre o CPC/1973 e o CPC/2015
antes das reformas promovidas pela Lei 13.256/2016.
O recurso é protocolado no tribunal de origem, ou seja, perante o
tribunal que proferiu decisão que constitui objeto do próprio recurso (CPC,
art. 1.042, §2º). De acordo com o § 3º do artigo sob análise, é possível a
retratação; não ocorrendo esta, deverão os autos do processo (todo processo
e não somente a peça recursal) ser remetidos para o tribunal superior. É
recurso que visa então destrancar2 recurso excepcional.3
Tendo em vista a admissibilidade compartilhada (exames que se realizam
no órgão em que é interposto o recurso e no órgão para o qual é dirigido),
da decisão do órgão que proferiu a decisão objeto do recurso que inadmitir
eventual recurso especial (CF, art. 105, III) ou recurso extraordinário (CF, art.
102, III), caberá agravo nos termos do art. 1.042, “salvo quando fundada na
aplicação de entendimento firmado em regime de repercussão geral ou em
julgamento de recursos repetitivos”.4

1. Sobre o tema, cf. o Regimento Interno do STJ, art. 253 e seguintes.


2. Sobre o tema: “No Regime do CPC/1973, segundo a redação do art. 544, anteriormente ao
advento da Lei 12.322/2010, tal modalidade de agravo para “destrancar” recurso excepcional
estava circunscrita à formação de “instrumento”. KOZIKOSKI, Sandro Marcelo. Sistema
recursal CPC 2015: em conformidade em a Lei 13.256/2016. Salvador: JusPodivm, 2016, 271.
3. Sobre o tema, o Enunciado 255 do FPPC: “O agravo em recurso especial ou extraordinário será
interposto nos próprios autos.”
Sobre o tema, também, o Enunciado FPPC 228: “Fica superado o enunciado 639 da súmula do
STF após a entrada em vigor do CPC (“Aplica-se a súmula 288 quando não constarem do traslado
do agravo de instrumento as cópias das peças necessárias à verificação da tempestividade do
recurso extraordinário não admitido pela decisão agravada”).”
Sobre o tema, ainda, o Enunciado FPPC 229:”Fica superado o enunciado 288 da súmula do
STF após a entrada em vigor do CPC (“Nega-se provimento a agravo para subida de recurso
extraordinário, quando faltar no traslado o despacho agravado, a decisão recorrida, a petição de
recurso extraordinário ou qualquer peça essencial à compreensão da controvérsia”).”
4. Sobre o tema: “[...] competindo presidente e vice-presidente do tribunal recorrido realizar
preliminarmente o juízo de admissibilidade recursal, prestigiando ainda o efeito regressivo ao
buscar o alinhamento da decisão hostilizada com as teses adotadas nos Tribunais Superiores.
Em relação aos demais recursos previstos no art. 944 do CPC, far-se-á o juízo de admissibilidade
diretamente no órgão responsável pelo seu julgamento. Assim, as decisões presidenciais
denegatórias pelo seu processamento do recurso especial ou extraordinário estão sujeitas ao
cabimento do agravo (CPC 2015, art. 1.042)”. KOZIKOSKI, Sandro Marcelo. O “novo” juízo
de admissibilidade do recurso especial e extraordinário. In Novo CPC doutrina selecionada, v. 6:
(...)
Do agravo em recurso especial e em recurso extraordinário 137

O prazo para interposição será de 15 dias úteis (CPC/2015, art. 1.003,


§ 5º e art. 1.070). Sobre o prazo, aliás, o STJ já firmou o entendimento de ser
aplicável o prazo de 15 dias também para o agravo interno (CPC/2015,art.
1.021), e não cinco dias. O prazo de cinco dias teria, assim, sido mantido
para o Agravo Regimental (AgRg) em matéria penal (art. 258 do Regimento
Interno STJ), porém o agravo interno (AgInt) tem como objeto matéria cível
e, destarte, pertinente ao prazo de 15 dias do dispositivo legal em questão
(CPC, art. 1.070), aplicando então tanto para o Agravo do art. 1.042 quando
do art. 1.021 o prazo de 15 dias.
Caberá também a majoração dos honorários nos termos do art. 85,
§11 do CPC/2015. Neste sentido pronunciou-se, já, o STJ no julgamento do
agravo em recurso especial n.º 959.991/RS. 5
No mais, o art. 1.042 do CPC parece claro em suas determinações, não
sendo necessário descrevê-lo de forma mais minuciosa. Para o presente estudo,
dedica-se esforço para apresentar os pontos controvertidos e problemáticos
conforme se prosseguirá.

9.2 DIALETICIDADE NO AGRAVO INTERNO

Sabe-se que o recurso deve sempre ser motivado e fundamentado de


acordo com o disposto na sentença, acórdão ou despacho recorrido. Em
suma, deve-se demonstrar o motivo de reforma da decisão e apenas não da
tese em si. Não apontar os motivos de reforma da decisão agravada seria,
então, um grave equívoco de procedimento. Em relação ao recurso sob
análise, portanto, deve o recorrente apontar os motivos para o recurso ser
conhecido e provido e, assim, reformada a decisão que negou seguimento ao
recurso anteriormente interposto.
Para melhor ilustrar, na Apelação deve-se demonstrar “as razões
do pedido de reforma ou de decretação de nulidade” – artigo 1.010, III6.
Assim também no agravo de instrumento – artigo, 1.016, III7. No recurso
extraordinário e no recurso especial há também necessidade de demonstrar

5. Agravo em Recurso Especial n.º 959.991/RS (2016/0200803-9) “Em razão de a decisão ora
agravada ter sido publicada após a vigência do CPC/2015 (Enunciado Administrativo n.º 7 do
Plenário do STJ), majoro os honorários advocatícios em R$ 500,00 (quinhentos reais) em favor
dos procuradores da parte ora recorrida, nos termos do art. 85, §§ 8º e 11, do CPC/2015.”
Julgado: 16/08/2016
6. O caput do art. 1.010 se ocupa com o conteúdo das razões de apelo. O texto aprimora, no
particular, o art. 514 do CPC atual, deixando clara a necessidade de o pedido de reforma ou
invalidação do julgado estar fundamentado em razões aptas a dar-lhe embasamento (princípio
da dialeticidade). BUENO, Cassio Scarpinella. Manual de direito processual civil: inteiramente
estruturado à luz do novo CPC – Lei n. 13.105, de 16-3-2015. São Paulo: Saraiva, 2015.
7. III - as razões do pedido de reforma ou de invalidação da decisão e o próprio pedido;
138 RECURSOS EM ESPÉCIE NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

as razões do pedido de reforma ou de invalidação da decisão recorrida (CPC,


art. 1.029, III).
Veja-se então que para o recurso especial ou extraordinário deverá
o recorrente apontar as razões do pedido de reforma ou de invalidação da
decisão recorrida (CPC, art. 1.029, III), porém especial atenção deverá ser
dedicada ao Agravo do art. 1.042 do CPC/2015. Nessa peça não se deve
demonstrar os fundamentos do REsp ou RE anteriormente interposto, mas
sim os exatos e específicos motivos de reforma da decisão que não
admitiu um ou ambos os recursos8.
O Regimento Interno do STJ trata a ausência de dialeticidade, inclusive,
como motivo para não conhecimento do Recurso. Conforme o art. 253,
parágrafo único, I, do Regimento Interno segundo o qual o relator poderá:
“não conhecer do agravo inadmissível, prejudicado ou daquele que não tenha
impugnado especificamente todos os fundamentos da decisão recorrida.”
Na prática, a dialeticidade deve ser posta no recurso como preliminar,
como uma forma de referência organizada e específica aos fundamentos da
decisão recorrida9.
O recurso deve então dialogar especificamente e de forma
circunstanciada com o objeto recorrido (neste caso decisão que inadmitiu
o REsp ou RE). A ausência de dialeticidade e de impugnação específica dos
fundamentos da decisão recorrida é, inclusive, vício insanável.

9.3 O AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL E RECURSO


EXTRAORDINÁRIO E O ARTIGO 1.030

O artigo 1.030 do CPC estabeleceu algumas regras para o processamento


dos recursos pelo presidente ou pelo vice-presidente do tribunal recorrido,
pois cabe lembrar que o exame de admissibilidade é também feito no tribunal
recorrido.10
8. Agravo em Recurso Especial n.º 959.991/RS. Processual Civil. Agravo em Recurso Especial.
Interposição contra decisão publicada na vigência do CPC/2015. 1. Impugnação dos
fundamentos da decisão agravada (CPC/2015, art 932, III). Necessidade. (...). Na petição de
agravo de fls. 434-444 (e-STJ), o ora agravante não impugna a decisão hostilizada na parte que
não admitiu o recurso especial de fls. 377- 408 (e-STJ). (grifo nosso)
9. Sobre o tema: “O julgamento do agravo dar-se-á de acordo com o disposto nos regimentos
internos do Superior Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal Federal, sendo conferido ao
relator o poder de não conhecer do agravo manifestamente inadmissível, prejudicado ou que
não tenha atacado especificamente os fundamentos da decisão agravada”. WAMBIER, Luiz
Rodrigues. Curso Avançado de Processo Civil: cognição jurisdicional (processo comum de
conhecimento e tutela provisória), volume 2 / Luiz Rodrigues Wambier, Eduardo Talamini.
16 ed. Reformulada e ampliada de acordo com o novo CPC. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2016.
10. Aqui, vale salientar que, na redação original do CPC/2015, o parágrafo único do art. 1.030 previa
Do agravo em recurso especial e em recurso extraordinário 139

Primeiro, apura-se facilmente com a leitura que vários dispositivos


legais sobre o assunto foram revogados pela Lei 13.256/2016. Segundo,
sugere-se especial atenção para quem não está habituado a manejar referidos
Recursos11.
O art. 1.03012 traz disposições sobre o recurso Especial e recurso
extraordinário e, principalmente, sobre a fase de admissibilidade dos

que a remessa de Recurso Especial e Recurso Extraordinário ocorreria independentemente de


juízo de admissibilidade. Com as modificações introduzidas pela Lei 13.256/2016, antes mesmo
da vigência do Código, contudo, o texto legal passou a contemplar uma série de previsões
específicas sobre o exercício do juízo de admissibilidade no tribunal a quo.
Sobre o tema: “O recurso extraordinário e o recurso especial devem ser interpostos perante o
tribunal que tenha proferido a decisão recorrida, devendo a petição ser dirigida ao Presidente ou
Vice Presidente do tribunal (conforme disponha seu próprio regimento interno). A Secretaria do
tribunal, em seguida, providenciará a intimação do recorrido para oferecer contrarrazões e, findo
o prazo (que é de quinze dias), os autos serão encaminhados ao Presidente ou Vice Presidente
do tribunal recorrido para exercício do juízo de admissibilidade (art. 1.030, caput, na redação da
Lei n° 13.256/2016)”, e, adiante, “[...] incumbirá ao Presidente ou Vice-Presidente do tribunal
de origem exercer o juízo de admissibilidade do recurso especial ou extraordinário, verificando
se foram ou não preenchidos os requisitos necessários para que seu mérito possa ser examinado
pelo STJ ou STF (art. 1.030, V, na redação da Lei n° 13.256/2016). Caso se profira, nesta hipótese,
juízo negativo de admissibilidade será admissível agravo para o STJ ou STF, conforme o recurso
inadmitido seja especial ou extraordinário (art. 1.030, § 1°, na redação da Lei n° 13.256/2016)”.
CÂMARA, Alexandre Freitas. O Novo Processo Civil Brasileiro. 3 ed. São Paulo: Atlas, 2017.
11. Sobre o tema: “Mas se a decisão de inadmissibilidade tiver como fundamento qualquer das
hipóteses do inciso V, do artigo 1.030, do NCPC, o recurso próprio para atacar essa decisão será
agravo para o tribunal superior, na forma do artigo 1.042, do NCPC. A observação é importante,
pois, como visto, a depender da decisão caberá ou agravo interno ou agravo para o tribunal
superior. “Esse agravo interno cumprirá o papel de servir como veículo do direito à distinção: o
recorrente poderá demonstrar que seu caso é distinto, a justificar a não aplicação dos precedentes
obrigatórios referidos no inciso I do art. 1.030 do CPC”. BUTZKE, Alex de Siqueira. Recurso
especial e recurso extraordinário. Breves notas sobre as alterações promovidas pelo novo código
de processo civil. In: FUGA, Bruno Augusto Sampaio (et. al. org.). Principais Inovações do Novo
Código de Processo Civil. Birigui, SP: Boreal, 2017, p. 492.
12. Art.  1.030. Recebida a petição do recurso pela secretaria do tribunal, o recorrido será intimado
para apresentar contrarrazões no prazo de 15 (quinze) dias, findo o qual os autos serão conclusos
ao presidente ou ao vice-presidente do tribunal recorrido, que deverá: I – negar seguimento: a)  a
recurso extraordinário que discuta questão constitucional à qual o Supremo Tribunal Federal não
tenha reconhecido a existência de repercussão geral ou a recurso extraordinário interposto contra
acórdão que esteja em conformidade com entendimento do Supremo Tribunal Federal exarado
no regime de repercussão geral; b)  a recurso extraordinário ou a recurso especial interposto
contra acórdão que esteja em conformidade com entendimento do Supremo Tribunal Federal ou
do Superior Tribunal de Justiça, respectivamente, exarado no regime de julgamento de recursos
repetitivos; II – encaminhar o processo ao órgão julgador para realização do juízo de retratação,
se o acórdão recorrido divergir do entendimento do Supremo Tribunal Federal ou do Superior
Tribunal de Justiça exarado, conforme o caso, nos regimes de repercussão geral ou de recursos
repetitivos; III – sobrestar o recurso que versar sobre controvérsia de caráter repetitivo ainda não
decidida pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça, conforme se trate
de matéria constitucional ou infraconstitucional; IV – selecionar o recurso como representativo
de controvérsia constitucional ou infraconstitucional, nos termos do § 6º  do art. 1.036; V –
realizar o juízo de admissibilidade e, se positivo, remeter o feito ao Supremo Tribunal Federal
ou ao Superior Tribunal de Justiça, desde que: a)  o recurso ainda não tenha sido submetido ao
regime de repercussão geral ou de julgamento de recursos repetitivos; b)  o recurso tenha sido
selecionado como representativo da controvérsia; ou c)  o tribunal recorrido tenha refutado o
140 RECURSOS EM ESPÉCIE NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

referidos recursos. Diante da inadmissibilidade dos recursos, o recorrente


deverá nos termos do art.1.030, §1º interpor o agravo em recurso especial ou
em recurso extraordinário do art. 1.042.
Porém, importante observar, que há hipótese de agravo interno13 nos
termos do art. 1.021 (CPC, art. 1.030, §2º) e de Agravo em recurso especial
e Extraordinário nos termos do art. 1.042 (CPC, art. 1.030,§1º) - são eles
recursos distintos para situações específicas igualmente diversas.
Deste modo, é de se salientar que, na hipótese do art. 1.030, §2º,14
caberá o agravo interno, regulado pelo art. 1.021 – e não o agravo em recurso
especial e em recurso extraordinário, disciplinado pelo art. 1.042. A alteração
legislativa é nitidamente para evitar recursos protelatórios, já com decisão do
STF reconhecendo a inexistência de repercussão geral, ou recurso interposto
contra precedente do STF exarado no regime de repercussão geral, ou ainda
recurso interposto contra precedente firmado em IRDR pelo STF ou STJ.
É certamente uma técnica processual vigente atualmente, passível de
críticas conforme adiante é mostrado, porém com grande importância para
o operador do Direito por ser peça recursal fundamental em determinados
momentos processuais.

9.4 NÃO FUNGIBILIDADE ENTRE AGRAVO INTERNO E AGRAVO


NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO E RECURSO ESPECIAL

A interposição de agravo com fundamento no art. 1.042 nas situações


em que pertinente o agravo interno do art. 1.021, assim como o inverso,
implicará configuração de erro grosseiro e, consequentemente, o recurso não
será admitido.
Assim também configurará erro grosseiro a interposição de agravo
no recurso especial (art. 1.042) nas ocasiões fundadas na aplicação de
entendimento firmado em regime de repercussão geral ou em julgamento de
recursos repetitivos (art. 1.042 caput), assim como na hipótese do art. 1.030,
§2º, pois de forma expressa, conforme se afirmou em subcapítulo anterior, a
pretensão recursal deverá ser movida por meio de agravo interno (art. 1.021)
e não de Agravo em REsp ou RE.

juízo de retratação.§  1º Da decisão de inadmissibilidade proferida com fundamento no inciso


V caberá agravo ao tribunal superior, nos termos do art. 1.042.§  2º Da decisão proferida com
fundamento nos incisos I e III caberá agravo interno, nos termos do art. 1.021.             
13. A este respeito, cf. o capítulo 4.
14. Isto é, quando a decisão do Presidente ou do Vice-Presidente do tribunal recorrido for proferida
com fundamento nos já citados incisos I e III do art. 1.030 do CPC/2015.
Do agravo em recurso especial e em recurso extraordinário 141

Essa é a concepção, inclusive, contida em decisão proferida em agosto


de 2016 no STJ (AREsp 959.991), firmando entendimento de que: “A
interposição do agravo previsto no art. 1.042, caput, do CPC/2015 quando
a Corte de origem o inadmitir com base em recurso repetitivo constitui erro
grosseiro”15.
Deste modo, interpor o recurso de maneira incorreta implica, vale
repisar, erro grosseiro, não sendo pertinente o STJ ou STF determinar a
remessa dos autos para o juiz de origem para corrigir o vício. Ademais, por
configurar vício insanável, não está referido ato protegido pelo princípio da
sanabilidade vigente no atual CPC16.
Conforme então já tratado no tópico anterior deste mesmo capítulo, há
o agravo interno do art. 1.021 e o Agravo em REsp e RE do art. 1.042. A leitura
de ambos os artigos (art. 1.021 e 1.042) deixa clara a hipótese de cabimento
de cada um desses recursos – sendo necessária a leitura complementar do art.
1.030 para se compreender as exceções cabíveis.

9.5 O RECURSO DA DECISÃO PROFERIDA NO ARTIGO 1.030, §2º

Diante da não admissão do recurso especial ou recurso extraordinário,


em princípio, o recurso pertinente seria, no órgão de origem, o recurso de
agravo no recurso especial ou recurso extraordinário (art. 1.042). Se assim
for, o recurso será protocolado no tribunal em questão e após analisado no
órgão ad quem
Ocorre, porém, que se o recurso foi motivado nos termos do art. 1.030,
§2º ou nas ocasiões fundadas na aplicação de entendimento firmado em

15. Com o advento do Código de Processo Civil de 2015 passou a existir expressa previsão legal
no sentido do não cabimento de agravo contra decisão que não admite recurso especial quando
a matéria nele veiculada já houver sido decidida pela Corte de origem em conformidade com
recurso repetitivo (art. 1.042, caput). Tal disposição legal aplica-se aos agravos apresentados contra
decisão publicada após a entrada em vigor do Novo CPC, em conformidade com o princípio
tempus regit actum. 2. A interposição do agravo previsto no art. 1.042, caput, do CPC/2015 quando
a Corte de origem o inadmitir com base em recurso repetitivo constitui erro grosseiro, não sendo
mais devida a determinação de outrora de retorno dos autos ao Tribunal a quo para que o aprecie
como agravo interno. 3. Não se configura ofensa ao art. 535 do CPC/73 quando o Tribunal
de origem, embora rejeite os embargos de declaração opostos, manifesta-se acerca de todas as
questões devolvidas com o recurso e consideradas   necessárias   à   solução   da   controvérsia,
sendo desnecessária a manifestação pontual sobre todos os artigos de lei indicados como violados
pela parte vencida. 4. Agravo parcialmente conhecido para, nessa extensão, negar provimento ao
recurso especial, com majoração dos honorários advocatícios, na forma do art. 85, §§ 8º e 11, do
CPC/2015. (AREsp 959.991/RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, 3ª Turma, DJe 26/08/2016)
16. Sobre o tema: “Dessa forma, a decisão do STJ foi acertada e consentânea com a lei, impedindo,
assim, que as partes transformem o agravo do art. 1042 em mais um recurso naquela Corte, quando
a matéria nele tratada, já tiver sido solucionada no âmbito de recurso especial representativo
da controvérsia.” BECKER, Rodrigo; TRIGUEIRO, Victor. Erro grosseiro na interposição do
agravo do art. 1042.
142 RECURSOS EM ESPÉCIE NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

regime de repercussão geral ou em julgamento de recursos repetitivos (art.


1.042 caput), não caberá agravo nos termos do art. 1.042, mas sim o agravo
interno (CPC, art. 1.021)17. Da decisão denegatória do Agravo Interno com
este fundamento, o processo ou recurso não é remetido para o órgão ad quem,
e a pretensão recursal não seria, assim, analisada pelo tribunal em questão.
Questiona-se, então, qual recurso pertinente contra a referida decisão.
Poderia ser questionado se o recurso seria novo recurso extraordinário,
reclamação ou mandado de segurança.
Entende-se que se o caso estiver amparado no art. 988, IV e o §5º,
inciso II do CPC, certamente deverá ser pertinente a reclamação. Pensa-se
também que a solução deverá ser pela análise das circunstâncias específicas do
caso concreto, porém restando extremamente restritas as hipóteses recursais.
Aponta-se sobre o tema, de acordo com o que se entende, que se o
Recurso a que se negou seguimento for o recurso especial e se este tinha
como fundamento eventual overruling de recurso repetitivo ou de Incidente de
Assunção de Competência, com fundamento no art. 927, §2º, caberá novo
recurso especial da decisão que inadmitir o pedido de reconhecimento de
overruling; porém, agora por ofensa ao art. 105, III, “a” da CF, pois a decisão
contrariou, em tese, dispositivo de Lei Federal (CPC, art. 927, §2º).
Além desta hipótese, o ordenamento jurídico precisará criar sistema
de eventualmente oportunizar que esses precedentes obrigatórios sejam
revistos18, ou seja, que exista efetiva possibilidade de overruling. Da maneira
posta há um claro risco de engessamento da possibilidade de discussão
em determinadas ocasiões, sem condições de oportunizar que o órgão
competente reveja seus posicionamentos, pois o exame de admissibilidade
será feito no próprio órgão recorrido.
Entende-se ser esse o ponto nevrálgico da discussão do recurso de agravo
em recurso especial e extraordinário, pois a restrição recursal imposta pela lei
no que tange a esse recurso atingiu a finalidade instrumental de racionalizar a
análise de processos diante de determinadas situações (IRDR, IAC). Porém,
como a sociedade não é engessada e mudanças de posicionamentos são
17. Sobre o tema: “Verifica-se que a intenção do legislador foi a de reduzir as chances de interposição
de recursos com cunho procrastinatório, baseado em temas cujo entendimento já tenha sido
pacificado pelos tribunais, em sede de repercussão geral ou por meio dos recursos processados
sob o regime dos repetitivos.” BRAUN, Paola Roos. O agravo de admissão do art. 1.042 do novo
código de processo civil. 2017.
18. Sobre o tema: “O desafio desse modelo reside na identificação de uma forma de viabilizar a
oxigenação da jurisprudência, pois conforme o art. 1.042 não caberá agravo de admissão
contra decisões que apliquem “entendimento firmado em regime de repercussão geral ou em
julgamento de recursos repetitivos”. Nesses casos, será necessário criar outro meio hábil para
permitir que, de tempos em tempos, os Tribunais de Brasília conheçam de novos argumentos e
possam, eventualmente, rever suas orientações, atualizando a sua jurisprudência”. BRAUN, Paola
Roos. O agravo de admissão do art. 1.042 do novo código de processo civil. 2017.
Do agravo em recurso especial e em recurso extraordinário 143

possíveis e, frequentemente, pertinentes no mundo jurídico, necessário será


pensar em técnicas para viabilizar a nova análise de temas e a oxigenação de
determinadas teses.
Da forma posta, eventual RE ou REsp que discuta a mudança de
posicionamento nos chamados precedentes obrigatórios encontrará sérias
dificuldades para ser conhecido.
Em síntese, a forma atual inibe a interposição dos recursos chamados
protelatórios, porém restringe também recursos que devidamente
fundamentados procuram alcançar o reconhecimento de importantes
mudanças de entendimento. Em futuro breve esse ponto de equilíbrio deverá
ser alcançado, pois na atualidade há grandes vantagens para o sistema que
inibe discussões sadias e a necessária oxigenação do Direito.
CAPÍTULO X

EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA

No presente capítulo, aborda-se o último artigo do rol do art. 994


do CPC e, consequentemente este é o último capítulo do livro. O tema
tem previsão legal no art. 1.043 do CPC, além de ter ampla previsão nos
regimentos internos do STF e do STJ.
Apresenta-se a visão geral do recurso em questão e, após, as suas
especificidades. Em especial, aborda-se um dos principais tópicos desde
recurso que é a prova da divergência (objeto do recurso).
Aborda-se também sobre os recursos pertinentes diante de decisões
proferidas nos embargos de divergência. Adiante, portanto, o desenvolvimento
do tema.

10.1 EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA E O CPC/2015

Os embargos de divergência têm previsão legal no art. 1.043 do


CPC/2015 (CPC/1973, art. 496, VIII). Após alterações impostas pela Lei
13.256/2016, é embargável, por esta via, o acórdão de órgão fracionário que
em recurso extraordinário ou em recurso especial, divergir do julgamento
de qualquer outro órgão do mesmo tribunal, sendo os acórdãos, embargado
e paradigma, de mérito ou que em recurso extraordinário ou em recurso
especial, divergir do julgamento de qualquer outro órgão do mesmo tribunal,
sendo um acórdão de mérito e outro que não tenha conhecido do recurso,
embora tenha apreciado a controvérsia. O prazo para interposição é de 15
dias1 e depende de preparo2.

1. Neste sentido, a regra geral do art. 1.003, § 5º do CPC.


2. Por inexistência de previsão legal específica análoga ao art. 1.023, caput (que diz respeito aos
embargos de declaração), entende-se que incidem sobre os embargos de divergência as
determinações do art. .1007 do CPC sobre a necessidade de preparo.
146 RECURSOS EM ESPÉCIE NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

A função primordial dos embargos de divergência é a uniformização


interna das decisões, tanto do STJ3 quanto do STF. É importante instrumento
recursal para preservar a segurança jurídica e é, inclusive, a forte ideologia
posta no CPC, especialmente em relação à redação dos art. 926 e 927. É o
recurso, portanto, próprio de tribunais superiores (turmas do STJ ou STF
somente). Tem a função de dissuadir novos recursos4 (tanto o provimento ou
não provimento dos embargos de divergência), pois busca a uniformização
jurisprudencial, tendo em vista que a existência de decisões divergentes
incentiva a interposição de recursos5 – além de, inegavelmente, promover
indesejável sensação de insegurança social e institucional e de descrédito ao
ordenamento jurídico e ao próprio Poder Judiciário.
Poderão ser confrontadas teses jurídicas contidas em julgamentos de
recursos e de ações de competência originária, a divergência pode ser
verificada na aplicação do direito material ou processual (art. 1.043, §1º e 2º).
Em princípio, o acórdão paradigma deve ser de outra turma do órgão
fracionário (não de outro órgão), porém cabem embargos de divergência
quando o acórdão paradigma for da mesma turma que proferiu a decisão

3. “AgRg nos EAREsp 971629/PR. Agravo Regimental nos  Embargos  de  Divergência  em
Agravo em Recurso Especial. 1. A finalidade dos embargos de divergência é a uniformização da
jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, (...)”
Sobre o tema: “STJ, Súmula 169: São inadmissíveis embargos infringentes no processo de
mandado de segurança.”
STJ, Súmula 316: Cabem embargos de divergência contra acórdão que, em agravo regimental,
decide recurso especial.
STJ, Súmula 420: Incabível, em  embargos de divergência, discutir o valor de indenização por
danos morais.
Sobre o tema: “A duas, o recurso de  embargos de divergência  visa justamente a viabilizar
a composição de eventuais dissensos entre decisões no âmbito das Cortes Supremas, de modo que
a sua função só pode estar evidentemente atada à superação do dissenso e à busca pela unidade
do direito. Em outras palavras: à formação de precedentes. Como é evidente, num e noutro caso
pode simplesmente não ser necessária a pronúncia da Seção, da Corte Especial ou do Pleno para
o julgamento da questão a fim de que se obtenha a formação de um precedente.” MITIDIERO,
Daniel. Precedentes: da persuasão à vinculação (versão e-book). São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2016.
4. Sobre o tema: “O NCPC, por outro lado, não só manteve esses embargos como ampliou as
hipóteses de seu cabimento (art. 1.043, I e III), numa forma de desestimular os recursos para o
STJ ou STF.” THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, vol. III. 50
ed. Rio de Janeiro: Forense, 2017.
5. Sobre o tema: “Isso quer dizer que os embargos de divergência só terão sentido a partir do momento
em que houver reconstrução discursiva dos casos e decisões interpretativas que suportam as
decisões divergentes, tendo o colegiado o dever de analisar as diferentes interpretações refazendo
o percurso justificativo de ambas. Os embargos de divergência não constituem o palco em que
o discurso interpretativo tem início, mas sim o palco de sua reconstrução. Decisões divergentes
abrem oportunidade para que as diferentes justificativas sejam comparadas a fim de que se
defina qual é a que encontra maior suporte na ordem jurídica.” MARINONI, Luiz Guilherme.
Novo curso de processo civil: tutela dos direitos mediante procedimento comum, volume II.
Luiz Guilherme Marinoni, Sérgio Arenhart, Daniel Mitidiero. São Paulo, Editora Revista dos
Tribunais, 2015. Curso de Processo Civil, v. 2.
Embargos de divergência 147

embargada, desde que sua composição tenha sofrido alteração em mais da


metade de seus membros (art. 1.043, §3º).
Conforme adiante se aponta, a prova da divergência, com a decisão
paradigma de outra turma salvo a aplicação do art. 1.043, §3º, requer grande
diligência do operador do Direito (art. 1.043, §4º).
Além da previsão legal do CPC, necessária a leitura dos regimentos
internos dos tribunais (art. 1.044). No STJ o tema é regulamentado nos
artigos 266 e seguintes e no STF artigos 330 e seguintes.
De acordo com o art. 1.044, §1º do CPC, a interposição de embargos
de divergência no Superior Tribunal de Justiça interrompe o prazo para
interposição de recurso extraordinário por qualquer das partes (RISTJ, art.
266-A) – interrompe totalmente, ainda que julgamento seja parcial. Por
fim, de acordo com o art. 1.044, §2º, se os embargos de divergência forem
desprovidos ou não alterarem a conclusão do julgamento anterior, o recurso
extraordinário interposto pela outra parte antes da publicação do julgamento
dos embargos de divergência será processado e julgado independentemente
de ratificação (RISTJ, art. 266-B).
Importante destacar também que para os embargos de divergência
necessário o esgotamento dos recursos pertinentes, ou seja, não caberá de
decisão monocrática proferida pelo STJ ou STF, pois contra essa decisão
caberá agravo interno nos termos do art. 1.021 do CPC6. Há, ainda,
possibilidade de sustentação oral nos termos do art. 937, V do CPC.

6. “AgRg nos EDcl nos Embargos de Divergência em Agravo em Recurso Especial nº 758.078/
SP. Agravo Regimental nos Embargos de Declaração nos Embargos de Divergência em Agravo
em Recurso Especial. Interposição contra decisão monocrática. Não cabimento. Recurso a que
se nega provimento. 1. Os embargos de divergência não têm cabimento contra decisão proferida
monocraticamente. 2. Agravo regimental a que se nega provimento. (...)”
“AgRg nos Embargos de Divergência em Agravo em Recurso Especial nº 960.406/RS (...) Assim,
não são cabíveis quando não analisado o mérito do apelo especial, como no caso de que aqui se
cuida, em que o agravo sequer foi conhecido diante da ausência de impugnação aos fundamentos
do decisum hostilizado, tendo o Colegiado da Quinta Turma negado provimento ao subsequente
agravo regimental. Desse modo, não há falar em exame da questão de fundo veiculada no apelo
especial nesta seara.”
“AGint nos EAResp 908961/SP. Agravo Interno nos Embargos de Divergência em Agravo
em Recurso Especial: Processual Civil. Agravo Interno. Embargos de Divergência em Agravo
em Recurso Especial. Decisão singular. Não cabimento. CPC, art. 1.043. ristj, art. 266. 1. Nos
termos dos arts. 1.043 do Código de Processo Civil e 266 do RISTJ, as decisões singulares não
estão sujeitas à impugnação pela via dos embargos de divergência. (...)”
Sobre o tema: “O julgamento monocrático do recurso especial ou do recurso extraordinário
não enseja a interposição do recurso de embargos de divergência contra o pronunciamento da
relatoria, já que o artigo em exame exige que a decisão que lhe dá ensejo seja acórdão de órgão
fracionário do STJ ou do STF.” FILHO, MONTENEGRO, Misael. Curso de Direito Processual Civil,
12ª edição. Atlas, 04/2016.
148 RECURSOS EM ESPÉCIE NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

O texto legal é muito esclarecedor sobre as hipóteses de cabimento


do referido recurso, além seu processamento. Deste modo, aborda-se seu
aspecto prático e as problemáticas presentes.

10.2 PROVA DA DIVERGÊNCIA

Como já ventilado, o art. 105, inciso III, alínea “c” da CF, traz
possibilidade de interposição de recurso especial quando os Tribunais dos
Estados, do Distrito Federal e Territórios derem a “lei federal interpretação
divergente da que lhe haja atribuído outro tribunal”. Neste caso deverá ser
provado o dissídio jurisprudencial (CPC, art. 1.029, §1º7).
Há então no recurso especial uma decisão recorrida e uma decisão
paradigma. No recurso de embargos de divergência não é muito diferente,
pois há uma decisão recorrida e uma paradigma, devendo ser provado, no
caso deste recurso, a divergência nos termos do art. 1.043, §4º.
Assim como ocorre no recurso especial e no recurso extraordinário,
afirmar a existência de decisão paradigma divergente da decisão recorrida
implica dizer que as pretensões dos processos guardam a mesma ratio decidendi;
uma decisão favorável e a recorrida desfavorável8.
7. “§ 1o  Quando o recurso fundar-se em dissídio jurisprudencial, o recorrente fará a prova
da divergência com a certidão, cópia ou citação do repositório de jurisprudência, oficial ou
credenciado, inclusive em mídia eletrônica, em que houver sido publicado o acórdão divergente,
ou ainda com a reprodução de julgado disponível na rede mundial de computadores, com
indicação da respectiva fonte, devendo-se, em qualquer caso, mencionar as circunstâncias que
identifiquem ou assemelhem os casos confrontados.”
Sobre o tema: “O conhecimento do recurso especial, tendo como causa dissídio de
jurisprudência, requer demonstração analítica para comprovar a identidade do suporte fático”.
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, vol. III. 50 ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2017. (grifo nosso)
Sobre o tema, Súmula 168 do STJ: “Não cabem embargos de divergência, quando a jurisprudência
do tribunal se firmou no mesmo sentido do acórdão embargado.”
Sobre o tema: “AgInt nos EAREsp 708636/MS. Agravo Interno nos Embargos de Divergência em
Agravo em Recurso Especial. Não se podem admitir Embargos de Divergência quando
inexistente a indispensável semelhança fático-processual entre os arestos confrontados “.
Sobre o tema: “Os embargos de divergência também diferem dos recursos especial e extraordinário.
Os embargos de divergência visam eliminar divergência no seio do próprio tribunal, ao passo
que os recursos especial e extraordinário objetivam a uniformização das interpretações dadas
ao direito objetivo (constitucional ou infraconstitucional) pelos diversos tribunais do País”.
DONIZETTI, Elpídio. Curso Didático de Direito Processual Civil, 20ª edição. Atlas, 01/2017.
8. “AgInt nos EAREsp 805488/SP Agravo Interno os  Embargos  de  Divergência  em Agravo
em Recurso Especial. Direito civil e processual civil. Agravo Regimental nos Embargos de
Divergência em Recurso Especial. Teses jurídicas entre os acórdãos confrontados não são
divergentes. Ausência de similitude fática. I - Somente são cabíveis os embargos de divergência
quando o acórdão trazido à colação firmou posição antagônica sobre os mesmos fatos e
questões jurídicas deduzidos no acórdão embargado. Ao contrário, devem ser indeferidos os
embargos quando, considerando as peculiaridades de cada caso concreto, foram dadas soluções
diferentes para as hipóteses confrontadas. II - Não se encontram evidenciados os requisitos de
admissibilidade dos embargos de divergência, pois as teses jurídicas manifestadas no acórdão
Embargos de divergência 149

O recorrente precisará então de uma decisão paradigma, ou seja, uma


decisão proferida por outra turma do mesmo tribunal recorrido, salvo na
hipótese do art. 1.043, §3º. De um lado se tem a decisão de outra turma do
mesmo órgão recorrido com procedência no ponto em questão, de outro a
decisão a ser recorrida, com entendimento desfavorável à mesma tese. Assim
como o recurso especial (CF, art. 105, III, “c”) o objeto do recurso então será
“comparar” a decisão paradigma com a decisão recorrida e fundamentar o
motivo de acerto da decisão paradigma.
Necessário demonstrar o devido cotejo analítico entre o acórdão
recorrido e o paradigma, não basta a transcrição de duas ementas9, é necessário
embate analítico entre os fundamentos que ensejam o recurso; necessário,
portanto, comprovar a divergência (CPC, art. 1.043, §4º).10
O regimento interno do STJ, no art. 266, §4º11 determina a maneira de
provar a divergência e comprovar a autenticidade da divergência, precisando,
inclusive, mencionar as circunstâncias que identificam ou assemelham os
casos confrontados. Necessário analisar, assim, os pontos de aproximação
entre as ratio decidendi dos casos.12
embargado e no paradigma não são divergentes, daí porque a solução adotada por eles é diversa
em virtude da dessemelhança entre os suportes fáticos de cada um. (...)”
Sobre o tema: “Em se tratando de dissídio notório, tem-se decidido que devem ser mitigadas as
exigências referentes à admissibilidade dos  embargos de divergência”. MEDINA, José Miguel
Garcia. Novo código de processo civil comentado: com remissões e notas comparativas ao
CPC/1973. 3ª Edição. São Paulo: Editora dos Tribunais, 2015.
9. “AgRg nos EAREsp 20838/MG. Agravo Regimental nos Embargos de Divergência em Agravo
em Recurso Especial. É inviável, para a demonstração da divergência, a simples transcrição de
ementas, impondo-se a realização do cotejo analítico entre os arestos confrontados, de modo
a evidenciar o alegado dissenso das teses jurídicas adotadas, alegadamente, em situações de
evidente similitude fática.”
Sobre o tema: “É indispensável, ainda, que mencione “as circunstâncias que identificam ou
assemelham os casos confrontados”. Vale dizer, deverá o embargante demonstrar, de forma
analítica, a similitude ou identidade do suporte fático”. THEODORO JÚNIOR, Humberto.
Curso de Direito Processual Civil, vol. III. 50 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2017.
10. Sobre tema: “AgInt nos EREsp 298368/PR. Agravo Interno nos Embargos de Divergência em
Recurso Especial. 2. Os embargos de divergência devem indicar, com clareza e precisão, as
circunstâncias que identificam ou assemelham os casos confrontados, consoante o disposto no
art. 1.043, § 4º, do novo Código de Processo Civil e no art. 266, § 4º, do Regimento Interno do
Superior Tribunal de Justiça.”
Sobre o tema: “AgInt nos EREsp 1108559/DF. Agravo Interno nos Embargos de Divergência em
Recurso Especial. Segundo consolidada jurisprudência desta Corte Superior, para o conhecimento
dosembargos de divergência, exige-se o devido cotejo analítico entre os julgados, bem como a
similitude fático-jurídica entre o acórdão embargado e os arestos invocados como paradigmas,
com a demonstração do dissenso na interpretação acerca do direito aplicável à espécie.”
11. § 4º O recorrente provará a divergência com certidão, cópia ou citação de repositório oficial ou
credenciado de jurisprudência, inclusive em mídia eletrônica, em que foi publicado o acórdão
divergente, ou com a reprodução de julgado disponível na internet, indicando a respectiva fonte,
e mencionará as circunstâncias que identificam ou assemelham os casos confrontados
12. Sobre o tema: “AgInt nos EREsp 1417597/RS. Agravo Interno nos Embargos de Divergência em
Recurso Especial: Incabível o recurso de embargos de divergência se as razões de impugnação
150 RECURSOS EM ESPÉCIE NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

O regimento interno do STF, no art. 33113, não é diferente, pois


determina que se deve mencionar, em qualquer caso, as “circunstâncias que
identifiquem ou assemelhem os casos confrontados.”
O cuidado para provar
o dissídio no recurso especial e no recurso extraordinário deve ser tomado
também neste recurso. Alguns termos então são de extrema importância,
são eles: cotejo analítico, embate analítico, comprovar a divergência e
ratio decidendi. Fazer o cotejo14 analítico tanto da decisão recorrida quanto
da decisão paradigma é de fundamental importância; precisa ser enfrentado
este ponto, com embate analítico, comparações de decisão com mesma
ratio decidendi, porém com decisões diferentes. Vital a impressão na íntegra
das duas decisões, a prova dessa divergência, de grifar os pontos críticos e
emblemáticos.15
Há grande jurisprudência defensiva atualmente16, sobretudo em cortes
superiores, fazendo então com que esta prova da divergência seja tarefa árdua
para o operador do Direito, sendo prudente impor como missão exaustiva e
perfeita a prova do embate analítico para evitar o não conhecimento do
recurso por ausência de comprovação da divergência (art. 1.043, §4º do CPC);

não conseguem demonstrar a similitude entre os substratos fáticos dos julgados em confronto.”
13. “Art. 331. A divergência será comprovada mediante certidão, cópia autenticada ou pela citação
do repositório de jurisprudência, oficial ou credenciado, inclusive em mídia eletrônica, em que
tiver sido publicada a decisão divergente, ou ainda pela reprodução de julgado disponível na
internet, com indicação da respectiva fonte, mencionando, em qualquer caso, as circunstâncias
que identifiquem ou assemelhem os casos confrontados.”
Sobre o tema (RISTF): “Art. 331, § 2º Da decisão que não admitir os embargos, caberá agravo,
em cinco dias, para o órgão competente para o julgamento do recurso”.
14. Substantivo masculino. Ato, processo ou efeito de cotejar pessoas, coisas, elementos etc. diversos,
investigando-lhes possíveis semelhanças e/ou diferenças; comparação.
15. Sobre o tema: “EAREsp 754086/SP. Embargos  de  Divergência  em Agravo em Recurso
Especial. Processual civil. Embargos de divergência em recurso especial. Pedido de justiça
gratuita formulado na petição de recurso especial. Ausência de petição avulsa. Nova orientação
da corte especial. 1. Hipótese em que o acórdão embargado de divergência considerou deserto
o Recurso Especial, por haver sido formulado requerimento de Justiça Gratuita na própria peça
recursal, não em petição avulsa. Acórdão paradigma que dispensa a petição avulsa, admitindo
seja o requerimento de Justiça Gratuita formulado na peça recursal. 2. A Corte Especial, por
ocasião do julgamento do AgRg nos EREsp 1222355/MG, (Rel. Ministro Raul Araújo, Corte
Especial, julgado em 04/11/2015), superou anterior interpretação do Superior Tribunal de
Justiça, passando-se a entender que: “É viável a formulação, no curso do processo, de pedido de
assistência judiciária gratuita na própria petição recursal, dispensando-se a exigência de petição
avulsa, quando não houver prejuízo ao trâmite normal do feito.”. 3. Orientação que, partindo do
órgão responsável por uniformizar jurisprudência em matérias comuns a mais de uma Seção no
âmbito do Superior Tribunal de Justiça, deve ser seguida. 4. Embargos de divergência providos.”
16. Sobre o tema: “EREsp 1076126/DF. Embargos de Divergência em Recurso Especial. “São
inadmissíveis os embargos de divergência que não enfrentarem todosos fundamentos do
acórdão recorrido suficientes à manutenção do julgado, ante a aplicação analógica da Súmula
n. 283 do STF (AgRg nos EREsp 1.121.199/SP, Rel. Ministro João Otávio de Noronha, Corte
Especial, julgado em 3/6/2015, DJe 15/6/2015)”.
Embargos de divergência 151

deve fugir o advogado de fazer fundamentações genéricas das circunstâncias


da divergência.17
De acordo com o regimento interno do STJ (art. 266-C18), os embargos
de divergência poderão ser, inclusive, indeferidos liminarmente diante da não
comprovação da divergência jurisprudencial atual, ou seja, a discussão
contraria ao julgamento de recurso repetitivo ou de repercussão geral, a
entendimento firmado em incidente de assunção de competência, a súmula
do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça ou, ainda, a
jurisprudência dominante acerca do tema.
Destaca-se que, embora revogado do o §5º do art. 1.043, após o
embargante comprovar dissídio com embate analítico, cotejo analítico e
análise de ratio decidendi, deverá o órgão julgador desincumbir-se do dever de
exame analítico (CF/1988, art. 93, IX; CPC/2015, arts. 11 e 489, § 1º)19.

10.3 RECURSO DA DECISÃO DE INADMISSIBILIDADE

Nos termos do RISTJ, art. 266-C, poderá os embargos de divergência


ser indeferido liminarmente. Nesta hipótese, o indeferimento ocorrerá por
meio de decisão monocrática, podendo, portanto, ser interposto o recurso de
agravo interno nos termos do art. 1.021 do CPC20.
17. Sobre o tema: “AgRg nos EREsp 1251725/MG. Agravo Regimental
nos Embargos de Divergencia em Recurso Especial. Agravo regimental. Embargos de divergência.
Penal. Motivo torpe. Motivação. Similitude fática. Não ocorrência. Recurso não provido. 1. A
similitude fática entre o aresto paradigma e o acórdão embargado deve ser demonstrada,
nos termos do art. 266, § 4º, do RISTJ, com a menção, contextualizada, das circunstâncias que
os identificam. Não basta, portanto, a simples reprodução de afirmação ou trecho sem a devida
contextualização”. (grifo nosso)
18. “Art. 266-C. Sorteado o relator, ele poderá indeferir os embargos de divergência liminarmente
se intempestivos ou se não comprovada ou não configurada a divergência jurisprudencial atual,
ou negar-lhes provimento caso a tese deduzida no recurso seja contrária a fixada em julgamento
de recurso repetitivo ou de repercussão geral, a entendimento firmado em incidente de assunção
de competência, a súmula do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça ou,
ainda, a jurisprudência dominante acerca do tema.”
19. “Em contrapartida, cumprido esse ônus pelo embargante, o órgão julgador deverá desincumbir-
se do dever de exame analítico. O art. 1.043, § 5.º, na redação original do CPC, estabelecia que
o relator não pode negar conhecimento aos embargos de divergência amparando-se em mera
afirmação genérica de que as circunstâncias fáticas são diferentes, sem demonstrar a existência da
distinção. Tal dispositivo foi revogado pela Lei 13.256/2016. Mas essa imposição já se extrairia,
de todo modo, do dever geral de fundamentar (CF/1988, art. 93, IX; CPC/2015, arts. 11 e 489,
§ 1.º) - e, portanto, continua vigente.” WAMBIER, Luiz Rodrigues. Curso Avançado de Processo
Civil: cognição jurisdicional (processo comum de conhecimento e tutela provisória), volume 2 /
Luiz Rodrigues Wambier, Eduardo Talamini. 16 ed. Reformulada e ampliada de acordo com o
novo CPC. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016
20. “STJ. AGINT nos EREsp 1120356/RS. Agravo Interno nos Embargos de Divergência em
Recurso Especial. Processual civil. Agravo conhecido apenas no capítulo impugnado da decisão
agravada. Art. 1.021, § 1º, do CPC/2015. Embargos de Divergência apreciados à luz do CPC/73.
Acórdão embargado que não conheceu do Recurso Especial. Aplicação da Súmula 7/STJ.
152 RECURSOS EM ESPÉCIE NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

Outro ponto que merece destaque é que contra a decisão proferida


em embargos de divergência não caberá a oposição de novos embargos de
divergência. Neste sentido, a decisão proferida nos EDv nos EDcl nos EREsp
1.096.074/SP: “É firme a orientação no sentido de que é manifestamente
incabível a apresentação de embargos de divergência contra acórdão deste
Tribunal, proferido em sede de embargos de divergência.”21
Destaque-se que nos termos do art. 1.043, inciso III, necessário na
divergência um acórdão de mérito e outro que não tenha conhecido do
recurso, embora tenha apreciado a controvérsia. Deste modo, necessária a
admissibilidade do recurso especial recorrido, não sendo os embargos de
divergência peça processual para discutir ou reexaminar os pressupostos de
conhecimento do recurso especial22
Paradigmas que examinaram o mérito da demanda. Dissídio jurisprudencial não demonstrado.
Requerimento da parte agravada de aplicação da multa prevista no § 4º do art. 1.021 do
CPC/2015. Agravo Interno parcialmente conhecido e, nessa extensão, improvido. 1. Nos
termos do art. 1.021, § 1º, do CPC/2015, merece ser conhecido o agravo interno tão somente
em relação aos capítulos impugnados da decisão agravada. 2. Não fica caracterizada a divergência
jurisprudencial entre acórdão que aplica regra técnica de conhecimento e outro que decide o
mérito da controvérsia. 3. A aplicação da multa prevista no § 4º do art. 1.021 do CPC/2015 não
é automática, não se tratando de mera decorrência lógica do não provimento do agravo interno
em votação unânime. A condenação do agravante ao pagamento da aludida multa, a ser analisada
em cada caso concreto, em decisão fundamentada, pressupõe que o agravo interno mostre-se
manifestamente inadmissível ou que sua improcedência seja de tal forma evidente que a simples
interposição do recurso possa ser tida, de plano, como abusiva ou protelatória, o que, contudo,
não ocorreu na hipótese examinada. 4. Agravo interno parcialmente conhecido e, nessa extensão,
improvido.”
21. Neste sentido: “AgInt nos Embargos de Divergência em Agravo em Recurso Especial nº
476.850/SP: É manifestamente incabível a apresentação de embargos de divergência contra
acórdão deste Tribunal, proferido em sede de embargos de divergência.”
22. “AgInt nos EAREsp 599145/RS. Agravo Interno nos  Embargos  de  Divergência  em Agravo
em Recurso Especial. Processo civil. Embargos de divergência. Agravo interno. Súmula 281 do
STF. 1. Nos termos do art. 266, caput, do RISTJ c/c o art. 1.043 do CPC/2015, os embargos de
divergência têm como requisito de admissibilidade a existência de dissenso interpretativo entre
diferentes órgãos jurisdicionais deste Tribunal Superior, desde que tenha sido apreciada a matéria
de mérito do recurso especial – seja de natureza processual seja material -, tendo em vista que
este recurso é incabível para o reexame de regra técnica de admissibilidade recursal, como sói ser
a incidência da Súmula 281 do STF, que respaldou a decisão ora embargada.”
Sobre o tema: “AgRg nos EREsp 1598300/PR. AgRg nos Embargos de Divergencia em Recurso
Especial. Regimental. Embargos de divergência. Descaminho. Aplicabilidade do princípio da
insignificância. Incidência da súmula 7/STJ. Impossibilidade de revisão da admissibilidade do
recurso especial. Agravo improvido. 1. Nos termos da pacífica jurisprudência deste Superior
Tribunal de Justiça, os embargos de divergência não se prestam à revisão de regras técnicas de
admissibilidade do recurso especial, sendo, portanto, in casu, descabida a emissão de juízo de
valor acerca da aplicabilidade da Súmula 7/STJ ao caso concreto.”
Sobre o tema: “AgInt nos EAREsp 363990/MG. Agravo Interno nos Embargos de Divergência em
Agravo em Recurso Especial. Agravo Interno nos Embargos de Divergência em Agravo em
Recurso Especial. Processual civil. Acórdão embargado que não adentrou no mérito da
controvérsia. Súmula nº 315/STJ. 1. A teor do que dispõe o artigo 1.043, inciso III, do Código
de Processo Civil de 2015, só se admitem embargos de divergência que cotejam acórdão de
mérito com acórdão que não conheceu de recurso especial quando este apreciou a controvérsia.
2. Agravo interno não provido.”
Embargos de divergência 153

Por fim, os embargos de divergência serão julgados pela Seção, se a


divergência se deu em seu interior, ou pelo Órgão Especial, na hipótese da
divergência ser entre Turmas de Seções diversas, ou entre Turma e outra
Seção, ou com a Corte Especial; no STF, será julgado pelo plenário23.

Sobre o tema: “Sem que esse pressuposto se configure, o cabimento dos embargos de divergência
que envolva acórdão que se limitou ao juízo de inadmissibilidade continua vetado.” THEODORO
JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, vol. III. 50 ed. Rio de Janeiro: Forense,
2017.
23. Enunciado FPPC 230: “Cabem embargos de divergência contra acórdão que, em agravo interno
ou agravo em recurso especial ou extraordinário, decide recurso especial ou extraordinário.”
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao longo do estudo apresentado, procurou-se analisar em profundidade


pontos específicos relacionados à dinâmica dos recursos expressamente
previstos no CPC/2015.
A Exposição de Motivos do Projeto de Lei que deu origem ao Código
expressou a intenção declarada de reduzir o número de recursos, como
resultado de uma jurisprudência mais uniforme e estável; o que é resultado,
inclusive, da visão, declarada já no primeiro parágrafo daquela Exposição
de Motivos, de que “um sistema processual civil que não proporcione à
sociedade o reconhecimento e a realização dos direitos, ameaçados ou
violados, que têm cada um dos jurisdicionados, não se harmoniza com as
garantias constitucionais de um Estado Democrático de Direito”, logo
seguido pela observação de que “sendo ineficiente o sistema processual, todo
o ordenamento jurídico passa a carecer de real efetividade”.
De fato, o CPC/2015 – mesmo após as controversas modificações
introduzidas pela Lei 13.256/2016, e que também se cuidou no estudo que
ora se conclui – consagrou modificações que já vinham sendo introduzidas
no CPC/1973, e levou ainda adiante os objetivos de oferecer mecanismos que
viabilizem uma sistemática recursal a um só tempo mais dinâmica e estável, de
forma a proporcionar maior eficiência e segurança à prestação jurisdicional
que é buscada pelo cidadão que vê o seu direito ameaçado ou lesado.
O bom funcionamento das ferramentas que o CPC/2015 pretende
entregar à sociedade, contudo, depende de um esforço sincero por parte de
todos os envolvidos nas relações processuais – desde professores e alunos
envolvidos no estudo do alcance das previsões normativas, até advogados
dedicados profissionalmente ao seu manejo e, talvez, sobretudo, pelos
magistrados, de todas as instâncias, no desenvolvimento do trabalho de
efetiva aplicação do ordenamento.
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