Você está na página 1de 19

CASOS PRÁTICOS – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES 1

LIVRO:
Manuel Januário da Costa Gomes – direito das obrigações – casos práticos e outros elementos
para as aulas práticas
Hipóteses 1 a 18; 27, 28 e 29; 38 e 39 (estes 2 são sobre negócios jurídicos unilaterais – esta
matéria não vem no exame).

CASO 10 – CUMPRIMENTO E TEMPO DA PRESTAÇÃO


Celebração de um contrato de depósito durante 1 ano com inicio em 1 de fevereiro.
A titulo de remuneração fixaram a quantia de 120 euros.
O depósito era de uma joia.
Para garantir a obrigação do B, que era o depositário (aquele que recebeu a joia em deposito),
foi constituído um penhor sobre um anel de C.
O contrato teve inicio a 1 de fevereiro de um determinado ano. Quando é que termina?
Contagem de prazos –art.279º alinea c) – para prazos fixados em anos – neste caso só temos
1 ano, logo por definição esse é sempre o ultimo. Se fosse dia 1 de fevereiro de 2015 seria às
24h do dia 1 de fevereiro de 2016.

B assumiu a obrigação de guardar a joia durante 1 ano e devolver passado o prazo.


C entregou um anel a A para garantir a responsabilidade do B.

Em outubro, o C que era a proprietária do anel que foi empenhado, vendeu o anel a D.
D exige o anel. Neste caso a responsabilidade de B deixa de estar garantida. Isto tem impacto
no prazo?
Se assumirmos que a devolução da joia extingue o penhor, a responsabilidade do B para com
o A, deixou de estar garantida. Perde o beneficio do prazo, a devolução é imediatamente
exigida.
Na verdade, o penhor segue a venda da coisa. Em rigor o penhor não se extingue por efeito
da venda, não existiria diminuição das garantias reais, não havia perda de beneficio do prazo.

Assumindo que existia extinção do penhor, era imediatamente exigível a devolução da joia. B
poderia exigir em contrapartida imediatamente o pagamento dos 120 euros? A é o devedor
no pagamento dos 120 euros, é ele que escolhe no prazo de um ano quando é que vai pagar
pois é ele que tem beneficio do prazo – art.779º. Neste caso não existe nenhum facto que
faça com que o A perca o beneficio do prazo, logo o B não pode exigir ao A o pagamento
imediato dos 120 euros.
Não pode ser invocada exceção de não cumprimento, pois não existe uma situação de
incumprimento.
Ver se este facto afetava ou não a garantia (de acordo com o regime do penhor) – se não
afetava não havia perda de beneficio do prazo.
Admitindo que a venda da coisa extinguia o penhor – era por causa imputável ao
comportamento de 3º (o C) – sendo a perda da garantia imputável a 3º não há nunca perda
do beneficio do prazo.
CASOS PRÁTICOS – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES 2

Era irrelevante saber se se extinguia ou não o penhor, pois a causa da perda da garantia
nunca seria imputável ao devedor (B), mas sim ao terceiro (C) que era proprietário da coisa e
a vendeu. Nunca existiria perda do beneficio do prazo (art.780º).
Prazo continua a ter-se como estabelecido em beneficio do devedor.

Esquecendo o penhor, A diz ao B que afinal quer a joia. Dá-me a joia e eu dou te os 120
euros. Pode fazer isto? B não perde nada com isto. O estabelecimento do prazo em benefico
do devedor é uma presunção ilidível, devemos ver no caso concreto se o devedor tee algum
interesse que possa ser afetado na exigência do cumprimento imediato da obrigação
 Não representa para o devedor nenhuma desvantagem, pelo contrario, pois liberta-
se mais cedo de uma responsabilidade que incide sobre ele – então, considera-se
ilidida a presunção do art.779º.
Esta exigência antecipada no A, não pode por em causa a remuneração a que o B tem direito.
Não pode unilateralmente extinguir o contrato, nem unilateralmente modificar o contrato,
alterando a obrigação a que ele se comprometeu.
A pode exigir a devolução da joia a qualquer momento, mas para o fazer tem que oferecer
simultaneamente o pagamento integral da remuneração a que se prometeu.
Art.779º (presunção é ilidida) + 1194º (prazo é estabelecido a favor do depositante, que é o
A pois ele é que tem interesse em que a coisa seja guardada e protegida. Mas note-se que
neste caso o deposito era oneroso).
A pode exigir a devolução imediata da joia porque o prazo é estabelecido em seu favor.

3ªhipótese
Ainda no decurso do prazo, A pretende a devolução da joia e diz que paga apenas 110 euros
–não pode, não existindo fundamento para o A querer fazer esta restituição, ele não pode
alterar a sua contrapartida. A está obrigado a pagar a remuneração integral.
Se A quisesse fazer a restituição porque B não tinha feito um mau uso da coisa – A poderia
optar pela resolução do contrato por incumprimento e reduzir a sua contraprestação.

CASO 12
Na cidade do Porto, A vendeu ao B um carro que estava em Cascais. A é residente em Lisboa.
O preço do carro são 10 mil euros pago em 4 prestações mensais de 2500 euros cada uma.
A 1ª vence no dia 10 de março, data em que o carro deveria ser entregue.
Art.279º - se são mensais uma deveria ser 10 março, outra, 10 abril, 10 maio, 10 Junho.
a) Em 10 de Março, B quer pagar 2500 euros. Onde é que o deve fazer? Onde é que o
carro deve ser entregue? Art.772º - regra geral que so aplicamos se não tivermos
regra especial. Art.773º - carro é coisa móvel determinada, portanto o carro deve ser
entregue em Cascais (local onde ele se encontrava no momento em que o negocio
foi concluído). Todos os outros factos são irrelevantes. No dia 10 de março a coisa
deve ser entregue em cascais, pelo A ao B.
B deve pagar os 2500 euros que deve
Art.774º - obrigações pecuniárias, no entanto este artigo cede perante o 885º. Logo
o pagamento dos 2500 deve ser pago em cascais no momento da entrega do
automóvel.
CASOS PRÁTICOS – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES 3

A no dia 10 de março não aparece em cascais – situação de não cumprimento – mora do


credor de um lado e mora do devedor do outro
A é o vendedor – devedor da obrigação de entrega da coisa e credor na obrigação de entrega
do preço.
Ambos são simultaneamente credores e devedores, temos que ver é qual a obrigação cuja
perturbação que estamos a analisar.

b) A não quer entregar o automóvel e exige a B o pagamento de 2500 euros. A está em


mora do devedor relativamente a esta obrigação. Pode nessas circunstâncias ele exigir
que o outro pague o preço devido? Não.
Ver quais os direitos que o credor tem nessa situação de incumprimento.
Relativamente á entrega do carro – insistir nessa entrega
Relativamente à prestação que ele deve – pode adiar até que a outra seja realizada
O credor tem direito a ser indemnizado pelos danos que este atraso eventualmente
lhe tenha causado.
O A (devedor que está em atraso) pode exigir ao B que pague o preço? Não, porque
o credor pode adiá-la até ao momento em que a outra parte deixe de estar em mora.
A não pode exigir ao B que pague até sanar essa mora.
B pode recusar-se licitamente a pagar até ao momento em que o carro lhe seja
entregue.
Se o carro não devesse ser entregue em 10 de março, mas em 10 de abril, se o A se
atrasasse o B só podia adiar o pagamento da segunda prestação e não da primeira.

c) Em 10 de março B pagou os 2500 euros aquando da entrega do carro, tudo se


cumpriu como previsto.
No dia 10 de Abril B já não paga a prestação que deve. Em que posição fica o B? Em
mora do devedor relativamente ao pagamento de 2500 euros. O incumprimento é
um facto imputável ao devedor neste caso.
Consequências desta mora de B:
o B no dia 10 de abril fica obrigado a pagar os juros moratórios sobre o
montante que deve – art.806º
o Art.781º - divida liquidável em prestações (não se aplica neste caso).
Compra e venda com a divida liquidável em prestações vamos aplicar o
art.934º, é necessário que a prestação em falta exceda a oitava parte do preço
para que exista vencimento imediato. Neste caso estamos perante uma
prestação de ¼, então ele perde o beneficio do prazo.

d) No dia 10 de março A entrega o carro e o B paga os 2500 euros. Em Abril B não paga,
então A exige a B os 7500 euros. Pode fazê-lo? Sim, resulta da perda do beneficio do
prazo, vencem-se as prestações que eram devidas em maio e junho.
C apresenta-se ao A e oferece-se para pagar 5000 euros. Pode o A recusar este
pagamento ou não? Pode pois apenas se está a ser oferecido um cumprimento
parcial –art.763º.
A circunstância de o cumprimento estar a ser oferecido pelo C que é um 3º não é
relevante neste caso –art.767º e 768º.
e) B envia no final de março um cheque de 7500 euros a A. Pode fazê-lo ou não?
Pode, porque o prazo entende-se estabelecido em seu beneficio –art.779º.
CASOS PRÁTICOS – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES 4

Se o A recusar, incorre em mora do credor pois não tem nenhum fundamento que
legitime a recusa naquele contexto.

f) A também tinha vendido uma casa ao B por 500 mil euros. Tendo o B ficado a
devedor 250 mil. No final de março, o B paga 7500 euros. No dia 10 de abril, o A
exige ao B 2500 euros do carro. B diz que já pagou o preço todo, mas A diz que os
7500 euros foram para abater no preço da casa.
Trata-se de imputação do cumprimento: é o devedor que tem a faculdade de
designar. Mas ele não designou a tempo de distinguir desde o momento inicial qual
é a obrigação que está a ser extinta. Restriçoes: o devedor não pode designar uma
divida que não fique integralmente satisfeita se o credor puder recusar a prestação
parcial. Se tivesse feito só podia ter optado pelo carro, pois era a única que ficaria
integralmente satisfeita.
Não houve designação –art.784º - tínhamos que ver se a divida da casa estava
vencida ou não. Se estivesse teria que ser escolhida a casa, pois a divida do carro
ainda não estava vencida no final de março. Se nenhuma das dividas estivesse vencida
teríamos que ir para o nº2.

19 abril 2016
CASO 13
1ª hipótese
Mora do credor relativamente à restituição do carro e mora do devedor relativamente ao
pagamento dos 500 euros.
O lugar do cumprimento estava definido por contrato e esse só poderá ser alterado por
consenso entre as partes, o que não se verifica.
Se B se tinha esquecido que tinha que pagar os 500 euros , isso levaria a uma exceção de
não cumprimento.
Na prática não teríamos uma situação de mora do devedor, visto que não havia uma razão
justificativa para não cumprir.
Tecnicamente este caso não se trata de uma exceção de não cumprimento, mas antes de um
direito de retenção, uma vez que uma obrigação não é propriamente contrapartida da outra.
Situaçao de impossibilidade perante a obrigação de restituição do carro que ocorreria durante
o período de mora do credor.
Art.814º - se fosse possível a reparação
Art.815º - se não for possível
Ocorrendo esta situação na pendencia da mora, A não se responsabiliza.
A não responde a não ser que o outro demonstre que ele atuou com dolo ou culpa grave –
art.814º e 815º.
A ficaria obrigado a indemnizar o B pelos danos que lhe tenha causado.
CASOS PRÁTICOS – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES 5

2ª hipótese
Caso de impossibilidade
Aplicamos o art.815º - o risco recai sobre o credor, temos também que aplicar o nº2 –
assumindo que as obrigações são reciprocas.
Art.815º/2 – o devedor exonera-se da sua obrigação e mantem o direito aquilo que lhe seja
devido, mas se tiver algum beneficio deve reduzi-lo áquilo que lhe é devido.

3ªhipótese
Relativamente à obrigação de restituição do carro estamos perante uma situação de não
cumprimento.
Qual a causa desse não cumprimento? A obrigação não foi cumprida porque o A pretendia
receber no seu domicilio os 500 euros, foi por opção do A. Temos Que saber se esta opção
é licita (admissível) ou não.
Obrigação pecuniária –art.774º diz que é no domicilio do credor (principio geral para o lugar
do cumprimento das obrigações pecuniárias).
Art.885º - não se aplica apenas à compra e venda , aqui temos uma situação em que o
pagamento dos 500 euros deveria acontecer ao mesmo tempo da entrega de uma coisa
móvel, então é este que aplicamos e não o 774º. Não é no domicilio do credor, mas sim no
domicilio do B.
Assim, o comportamento do A é ilícito – temos uma situação de não cumprimento por razoes
imputáveis do A – mora do devedor – ele continua obrigado a restituir o carro, o B continua
obrigado a pagar os 500 euros, mas não paga juros porque ele não pagou os 500 euros por
mora do credor (A que está em atraso nessa obrigação). A está ainda obrigado a indemnizar
o B pelos danos que tenham ocorrido do atraso.

4ªHipótese
Mora do devedor na restituição do carro e mora do credor na entrega dos 500 euros (?)
Mora do devedor e objeto de deveria ser entregue foi destruído – situação de impossibilidade.
A impossibilidade não é imputável ao A. Vamos aplicar o art.807º. é uma impossibilidade que
ocorre na pendencia da mora do devedor, embora não lhe seja imputável, tem lhe associadas
consequências que são negativas para o devedor.
O art.807º refere-se a risco, mas não se aplica só a risco.
A fica obrigado a indemnizar o B com o prejuízo que ele teve com a destruição do automóvel,
sabendo que o facto que levou à destruição do automóvel não é imputável ao A. Ele responde
simplesmente por estar em mora.
Nº2 também tem que ser aplicado aqui – A teria que demonstrar que se tivesse cumprido a
tempo (feito a entrega do carro no dia x) o carro teria ainda assim sido destruído. Tem que
demonstrar que o facto de ele estar em atraso foi indiferente para a perda/destruição do
carro.
Com os dados da hipótese ele não consegue demonstrar isto, não se verificam os
pressupostos da relevância da causa virtual.
Estes factos só seriam relevantes se o A demonstrar que o B, depois da entrega, continuaria
a usar a mesma garagem.
CASOS PRÁTICOS – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES 6

CASO 14
1ª hipótese
No dia seguinte á celebração do contrato, o B deveria entregar o computador no domicilio
do A.
Isso aconteceu? Não – situação de não cumprimento.
Qual a causa desse não cumprimento? Resulta de um facto estranho que impossibilita o
cumprimento da obrigação – impossibilidade –art.790º e ss
Qual é a consequência?
Trata-se da obrigação de entrega do computador, computador com características
especificas, é só aquele e mais nenhum.
2 opções: regime geral da impossibilidade ou regime especial do risco.
Só vamos aplicar o regime geral se chegarmos á conclusão que o regime do risco não é
aplicável (art.796º).
Art.796º - requisitos:
 É necessário que a obrigação em causa seja a obrigação de entrega de uma coisa
 É necessário que essa obrigação de entrega tenha como fonte um contrato relativo à
transferência do domínio sobre ela
 É necessário que essa obrigação se tenha tornado impossível
 É necessário que isso tenha acontecido por razoes não imputáveis ao devedor
(alienante)
Neste caso todos os requisitos estão verificados.
Nº2 - Temos que ver se a coisa continuo no poder do B em consequência de termo
constituído a seu favor
Beneficio do prazo: dá vantagem no sentido de a parte poder escolher o cumprimento dentro
daquele prazo; tem também uma ideia de proteção de não ser confrontado com uma escolha
da outra parte. Quando é fixado um momento preciso para o cumprimento ele é fixado em
beneficio de ambos. A fixação de aquele momento não atende ao interesse especial que uma
das partes tenha nele.
Então neste caso não aplicamos o 796º/2.

2ª hipótese
Situação de não cumprimento – por razoes imputáveis ao B – mora do devedor
Na pendencia da mora o devedor tem a oportunidade de a qualquer momento cumprir e
extinguir a obrigação.
Não o faz diretamente, mas através do C. A obrigação pode ser cumprida por 3º - art.767º e
768º.
Quando o 3º vai para entregar acaba por não o fazer – situação de impossibilidade.
Devedor responde nos termos do art.807º pelos danos causados ao credor.
Art.801º também poderia ser aplicado.

3ªhipótese
No dia do vencimento da 2ª prestação, A deveria pagar ao B 250 euros. O pagamento deveria
ser feito no domicilio do A (credor) –art.774º - esta já é sujeita ao regime geral, logo não se
aplica o 885º.
Não há problema que se tenha substituído por terceiro.
O D quando cumpre, fá-lo junto de um terceiro (E) – isto não extingue a obrigação, o devedor
continua obrigado a cumprir junto do verdadeiro credor.
CASOS PRÁTICOS – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES 7

Quando o pagamento é feito a E, não é feito ao verdadeiro credor – situação de não


cumprimento da obrigação – por razoes imputáveis ao devedor – mora do devedor.
Quais as consequências?
Obrigação de indemnizar pelos danos causados –art.804º e ss
Obrigação pecuniária – pagamento de juros –art.806º
O devedor não cumpriu uma das prestações, logo perdeu o beneficio do prazo relativamente
ás demais –art.781º + art.934º - era necessário que excede a oitava parte do preço.

Entretanto, B cedeu o credito correspondente as duas ultimas prestações ao E. Pode fazê-lo?


Sim –art.577º e ss (cessão de créditos). B cedeu parcialmente o seu crédito.
A partir do momento em que existiu a cessão de créditos - credor passa a ser o E.
B não pode exigir os 750 euros – não tem legitimidade para isso.
Pode exigir apenas os 250 euros que não cedeu + juros a que tem direito uma vez que o
devedor está em mora.
A até pode corresponder ao pedido que o B faça pois não tem conhecimento da cessação –
nessa hipótese A fica exonerado ou não? Sim fica, pois, a cessação não lhe é ainda oponível
–art.583º.
E poderia exigir logo as outras 2 prestações ou teria que esperar? Quando o E adquire aquele
crédito ele estava vencido, ele é cedido como vencido. E pode imediatamente exigir o
cumprimento da 3ª e da 4ª prestação pois já as adquiriu vencidas.
A situação seria diferente se antes do vencimento da 2ªprestaçao, o E tivesse adquirido a 3ª
e a 4ª.
O facto de ter sido o E a receber a 2ª prestação altera alguma coisa ou não? Sim –art.770º/c).
E não adquiriu o crédito relativamente à 2ª prestação.

4ª hipótese
Pagamento da 2ª prestação, obrigação pecuniária, deve ser cumprida no domicilio do credor
–art.774º.
Credor envia o procurador ao domicilio do devedor
Pode o B como credor fazer esta exigência ou não? Ver se o A (devedor) tinha ou não razoes
que licitamente pudessem furtar-se ao cumprimento da obrigação de pagamento da parte
do preço naquela data.
Cumprimento estava a ser feito num lugar que não era o lugar do cumprimento.
Estava a cumprir perante o procurador e não perante o credor
A recusa do cumprimento é licita ou não?
A pode ou não recusar cumprir perante o D? Pode –art.771º - o devedor não é obrigado a
cumprir perante representante voluntário do credor, a não ser que haja convenção nesse
sentido.

Hipótese de A ter pago perante o D – a obrigação estaria cumprida. Se o devedor entrega a


prestação ao representante do credor, os atos praticados por ele possuem efeitos na esfera
jurídica do credor –art.769º ou 770º/a).

Como A recusa, tem que ir realizar a prestação no domicilio do credor (art.774º). Se ele não
o fizer – mora do devedor (não porque se tenha recusado a cumprir junto do procurador,
mas sim porque depois dessa recusa não adotou os comportamentos que lhe eram exigíveis
para o cumprimento da prestação).
CASOS PRÁTICOS – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES 8

5ª hipótese
F pode apresentar-se no escritório de B para pagar os 250 euros? Sim, a prestação pode ser
realizada por 3º. Não é necessário que o devedor esteja de acordo –art.768º/2 2ªparte.
B (credor) sabendo que A está mal de fianças diz que tem direito à totalidade – B está a
invocar o 780º, a indicar a situação de insolvência do devedor para considerar que ele perde
o beneficio do prazo relativamente a todas as prestações.
Insolvência não equivale a estar mal de finanças. Insolvência é a situação patrimonial daquele
que não tem recursos suficientes para fazer face às suas obrigações. Pressupõe que se
demonstre uma determinada pessoa não tem recursos suficientes para satisfazer as suas
obrigações. Estar mal de finanças não quer necessariamente dizer que está em insolvência.
Se por acaso esta situação de dificuldades financeiras correspondesse a insolvência então B
tinha razão, poderia exigir a totalidade e poderia recusar receber apenas 250 –art.763º.
F não é o seu devedor, não tem nenhuma obrigação de prestar qualquer garantia. A exigência
das garantias do 780º/2 não se aplica ao caso de insolvência, apenas à situação de diminuição
de garantias.
Se não correspondesse á situação de insolvência, então o credor não poderia exigir
imediatamente todas as prestações. Apenas tinha direito aos 250 e não os podia recusar. Se
o fizesse –mora do credor.

6ªhipótese
Situação de não cumprimento – por razoes imputáveis ao credor.
Ele não criou as condições necessárias para viabilizar o cumprimento – mora do credor –
art.813º e ss.
Na pendencia da mora do credor o computador fica destruído, logo já não vai poder ser
entregue – impossibilidade (art.815º) – o risco corre por conta do credor, ou seja, já não vai
receber o computador e vai ser continuar a ser obrigado a pagar o preço. A não ser que se
mostre que o devedor atuou com culpa grave.

26 abril 2016
CASO 15
Maquina de cortar relva (hipótese 2)
Contrato de promessa –art.410º e ss
Os 1000 euros entregues deviam ser considerados sinal –art.441º
Situação de não cumprimento
Qual é a causa deste não cumprimento, porque é que no mo
mento devido a prestação não for realizada? – ver a quem é imputável este não cumprimento
Não cumprimento imputável ao devedor – incumprimento
Quais as consequências deste incumprimento?
Primeiro temos que qualificar o incumprimento quanto aos critérios que são relevantes para
a determinação do seu regime jurídico
 Critério temporal – fazer a distinção entre mora e incumprimento definitivo (cada um
tem consequências diferentes)
CASOS PRÁTICOS – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES 9

 Critério material – incumprimento total ou incumprimento parcial (as consequências


também vão ser diferentes)
Neste caso estamos perante uma situação de incumprimento total.
Para estarmos perante incumprimento definitivo – é necessária perda de interesse do credor
na prestação – requisitos:
Art.808º - a perda de interesse tem que ser uma perda efetiva e subjetiva (se estivermos
perante um caso em que a maior parte das pessoas teriam perdido interesse na prestação,
mas ele não perdeu, então não estamos perante incumprimento definitivo); a perda tem de
ser objetiva, isto é razoável; tem que estar em pendencia da mora e existir uma relação de
causa efeito entre a mora e a perda de interesse.
Neste caso o devedor estava na pendencia da mora? Ver regras sobre a contagem do prazo
-art.296º + 279º
2 hipóteses (poderíamos seguir uma ou outra):
 Art.779º - beneficio do prazo, neste caso o credor não poderia exigir a prestação
antes do fim do mês de junho
 Se a obrigação não tiver prazo certo, para que exista mora é necessária interpelação.

De qualquer das formas - A mora só se constituiria por definição no fim do mês de junho.
No fim do mês de junho temos uma situação de mora.
E incumprimento definitivo havia?
Não haveria perda de interesse que justificasse o incumprimento definitivo nos termos do
art.808º (se o modelo aparecer antes de junho).
Se o modelo novo aparecer em julho – é discutível (para o prof. não existe perda de interesse).
O credor se queria desistir da prestação, o que podia fazer era fixar um prazo admonitório,
se o devedor não cumprir – incumprimento definitivo.
5 causas que nos levam para incumprimento definitivo, o prazo admonitório é o que depende
exclusivamente do credor, ele é que comanda a obrigação nesse caso.
Se estivéssemos ainda em junho – não existia mora sequer (não discutíamos se havia ou não
incumprimento definitivo)
Se estamos em junho ou depois – já existe mora, desde o final de junho, temos que ver se essa
mora se converteu em incumprimento definitivo ou não

Hipótese do transporte (hipótese 1)


Ele deveria ter feito o transporte da mercadoria imediatamente após o desalfandegamento.
Era relevante saber se no dia 16 ele estava em mora ou não? Não era.
A obrigação não foi cumprida porque o barco ainda não tinha chegado – situação de
impossibilidade absoluta - impede em qualquer circunstancia o cumprimento da obrigação,
reúne as condições necessárias para exonerar o devedor, temos que saber se exonera
definitivamente (através da extinção da obrigação) ou temporariamente (suspensão da
obrigação)
Neste caso é temporária, enquanto se mantiver a impossibilidade o devedor mantem se
exonerado. Temos que ver quando a impossibilidade terminou – a partir de que momento é
que passa a ser exigível ao devedor que cumpra?
A partir do momento em que é feita a interpelação para cumprimento (se não se conformar
com ela, entra em mora).
Aconteceu alguma coisa que levasse ao incumprimento definitivo? Não, o que aconteceu foi
que o incumprimento tornou se impossível na pendencia da mora por uma causa estanha –
CASOS PRÁTICOS – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES 10

art.807º (leitura extensiva). O risco desta impossibilidade corre por conta do devedor, logo o
devedor responde? Este artigo permite a relevância relativa da causa virtual (demonstração
que os danos causados ao credor teriam sido causados na mesma, mesmo que ele tivesse
cumprido).
Se houvesse relevância da causa virtual – excluir a responsabilidade do devedor
A está obrigado a prestar esta contrapartida ou não?
Do art.807º vimos que não vamos responsabilizar o devedor – a obrigação tornou-se
impossível –art.790º - a obrigação extingue-se e a contraprestação também –art.795º.

CASO 16
A e B celebram um contrato nos termos do qual B consertaria uma parede da casa de A e ele
trazia lhe uma jiboia.

1ª Hipótese
A jiboia é uma coisa especifica, se fosse uma qualquer aplicaríamos o regime das obrigações
genéricas.
Situação de não cumprimento – ver a quem é imputável
Assumindo-se que é uma situação não imputável ao devedor, a obrigação extingue-se (não
sofre consequências de incumprimento).

2ª hipótese
Situação de não cumprimento – impossibilidade imputável ao devedor –art.801º e ss
Impossibilidade total –art.801º

3ªhipótese
Jiboia deveria ter sido entregue e não foi
Situação de não cumprimento, pois a obrigação tornou-se mais onerosa do que aquilo com
que o devedor contava, então optou por não a realizar. Não se trata de impossibilidade.
Incumprimento imputável ao devedor
O que A poderia fazer? – regime do erro, é uma questão de formação do contrato e não de
execução do contrato –art.497º

4ªhipótese
Situação de não cumprimento – impossibilidade por factos externos –art.790º e ss

5ªhipotese
Incumprimento –art.801º (embora se refira aos casos de impossibilidade imputável ao
devedor, tem as consequências também)
Aplicamos o art.801º quando o incumprimento é definitivo, se ainda estivermos numa situação
de mora aplicamos o art.804º e ss.
Antes da aplicação do art.801º deveríamos discutir se estamos perante mora ou
incumprimento definitivo.
CASOS PRÁTICOS – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES 11

CASO 17
1ª hipótese
No dia 15 de fevereiro, a coisa deveria ter sido entregue por A a B.
Isto não correu – situação de não cumprimento
Impossibilidade por factos externos –art.790º e ss
O devedor não responde pelas consequências do seu não cumprimento, pelas consequências
da não realização do cumprimento obrigacional.
Esta obrigação é especifica, a impossibilidade é definitiva.
Aplicamos o art.796º, o risco corre por conta do adquirente.
O prazo tem se por estabelecido a favor do devedor, que neste caso é o A –presunção do
art.779º, esta presunção neste caso deve ser ilidida.

2ªhipótese
Situação de não cumprimento – impossibilidade imputável ao credor – ver se a realização da
prestação é possível (art.813º e ss) ou se o comportamento do credor tornou o cumprimento
da prestação impossível (art.790º e ss).
Impossibilidade imputável ao credor, quando é definitiva extingue a obrigação.

CASO 43
1ª hipótese
Estamos perante um contrato de compra e venda de um imóvel que deve ser feito em
escritura publica, quando a forma não é respeitada a consequência é a nulidade – 220º.
Art.289º - Cada uma das partes deve restituir à outra aquilo que tenha recebido, logo A tem
direito aos 10 mil euros, mas não através do enriquecimento sem causa –art.474º.

2ªhipótese
Esta divida já se encontra prescrita, uma vez que o prazo ordinário de prescrição é de 20 anos
–art.309º.
Pode ele recorrer ao regime do enriquecimento sem causa para obter a restituição deste
montante? Pode o credor numa obrigação natural recorrer ao regime do enriquecimento
sem causa e exigir uma compensação nos termos do artigo 479º? Não – principio da
subsidiariedade – se a obrigação é natural não pode ser coerciva.
Não é viável o recurso ao enriquecimento sem causa no sentido de reaver o montante em
questão.

3ªhipótese
O carro foi furtado, a seguradora pagou 25 mil euros pelo furto, passado uns meses o carro
veio a aparecer e foi entregue ao proprietário. A seguradora pode exigir os 25 mil euros?
No momento em que a compensação foi paga ela era devida, esta deslocação patrimonial
da esfera jurídica da seguradora para o A é uma deslocação que tem uma causa que é a
verificação de um facto que nos termos do contrato determina essa consequência.
O carro aparece – 2 alternativas:
 Há de resultar do contrato, a obrigação do A devolver à seguradora os 25 mil euros
em situações como esta
CASOS PRÁTICOS – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES 12

 Se chegarmos á conclusão que interpretando o contrato não temos nenhuma


solução, utilizamos o enriquecimento sem causa? Sim, pois a causa deixou de existir
–art.473º/2

4ªhipótese
Neste caso alguém enriqueceu à custa de outrem? Aqui temos um enriquecimento, ele fica
melhor do que quando não tinha as garrafas. Ele tem acesso a 5 garrafas de whisky que
consome. Este enriquecimento tem causa justificativa?
Nesta hipótese não íamos para o enriquecimento sem causa –art.474º

5ªhipótese
Neste caso teve enriquecimento, ele ficou numa situação patrimonialmente melhor do que
aquela em que se encontrava.
Existe causa justificativa para esse enriquecimento? Neste caso não.
Compensação –art.479º
Se fosse a teoria do duplo limite – 1500 (ver qual era o valor do enriquecimento – na situação
em que o B não estivesse a pensar contratar uma pessoa para fazer a pintura o
enriquecimento seria de 1750, mas ele já tinha tomado a decisão de fazer a pintura, ele já
tinha assumido que ia gastar 2000 euros para realizar aquela pintura e do empobrecimento
-1500.
Situação real – ele tem o armazém pintado
Situação hipotética – ele não tem o armazém pintado
O que gasta em cada um dos casos é 0.
O seu enriquecimento é de 1750 euros.
De acordo com a outra conceção, a compensação seria 2000.

1. ENRIQUECIMENTO? Sim
2.CAUSA JUSTIFICATIVA? Não
3. OUTRA SOLUÇÃO? Art.474º - não
enriquecimento sem causa

6ªhipótese
Não pode exigir este valor com base no enriquecimento sem causa.
Na relação do A com o I o I não enriqueceu, a única diferença é que ele devia a J, mas existe
uma sub-rogação legal com a fiança e ele passa a dever a A.
Se não há enriquecimento não há enriquecimento sem causa (nem o I nem o J enriqueceram).

7ªhipótese
Art.476º/3 – a obrigação de restituição devia ser cumprida no dia 1 de julho mas foi cumprida
com 1 mês de antecedência, a 1 de junho. Não há direito á restituição da prestação, apenas
pode haver se o erro for desculpável e corresponde aquilo que o credor enriqueceu por efeito
do cumprimento antecipado.
CASOS PRÁTICOS – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES 13

8ªhipótese
Para que tenhamos enriquecimento sem causa é necessário: enriquecimento, que esse
enriquecimento não tenha causa justificativa e que não seja possível recorrer a outro regime
para a resolução da questão com que somos confrontados.
Relativamente aos danos de 5000 euros – problema de responsabilidade civil
Situação em que o M utiliza o terreno do A para a plantação e corte de eucaliptos, com isso
ganha 25 mil euros, sabendo nós que o valor do mercado da utilização do terreno para
idênticos efeitos ronda os 4000 euros – existe enriquecimento. Há causa justificativa para esse
enriquecimento (algum facto que de acordo com o nosso oj permitisse a M fazer uma
utilização do terreno do A para daí tirar efeitos económicos)? Não. Também não temos outro
regime jurídico adequado para resolver esta situação – estão verificados os pressupostos do
enriquecimento sem causa.
Art.479º - qual é a medida da compensação? A compensação será de 4000 euros. A medida
da compensação é o menor de 2 valores: a medida do enriquecimento (25 mil euros – as
despesas que teve com a plantação); quanto é que precisaria de despender em utilizações
normais para a utilização do terreno para aquele fim (4000) – este é o enriquecimento que
ele obteu à custa do A. Os 25 mil euros são enriquecimento que ele obteve devido à sua
própria iniciativa.

9ªhipótese
Existe enriquecimento sem causa nesta situação? Sim.
Quando eu sou proprietário de uma coisa ninguém a pode explorar, inclusive para efeitos de
imagem, sem me compensar por isso. Se eu sou proprietário eu é que determino o destino
que a coisa tem.
Neste caso não podemos invocar que se trata de uma violação do direito de propriedade e
recorrer à responsabilidade civil porque não existem danos, logo não poderá existir
indemnização.
O enriquecimento corresponde aos ganhos que ele tem com os calendários, não existe causa
justificativa para este aproveitamento de um bem alheio, não existe no oj nenhum outro
instituto a que possamos recorrer que apresente uma solução para este mesmo
enriquecimento.

10ªhipótese
Neste caso o bem de que é feito o aproveitamento é um bem de personalidade.
Estas duas hipóteses (9 e 10) poderiam ser resolvidas através da responsabilidade civil desde
que se demonstrasse que existiam danos. Podemos aplicar simultaneamente o
enriquecimento sem causa e a responsabilidade civil, pois eles são para coisas diferentes. RC
(indemnização pelos danos causados), mas podemos continuar a aplicar o regime do
enriquecimento sem causa para a questão do enriquecimento em si.

11ªhipótese
Neste caso não há enriquecimento sem causa.
Relações contratuais de facto – art.234º - independentemente das circunstâncias e da
declaração de que nós proferimos o oj admite que existiu um contrato.
CASOS PRÁTICOS – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES 14

12ªhipótese
A comprou por 150 mil euros uma vivenda a Q. Q no dia seguinte vendeu-a a R – aquisição
tabular.
Q estava a vender um bem alheio.
R celebrou o contrato depois, mas chegou primeiro ao registo, então é protegido pelo
ordenamento jurídico e se estiver de boa fé torna-se proprietário e o A perde a sua
propriedade.
Houve enriquecimento? Q enriqueceu, vendeu 2 vezes a mesma coisa.
Há causa justificativa para o enriquecimento? Não, no momento em que ele recebe o preço
do R está a receber o preço por uma contrapartida de um bem que já não era dele.
O ordenamento jurídico dá outra solução para este problema? Sim, responsabilidade civil. Q
viola o direito de propriedade do A. A medida do dano do A é perder a propriedade que
tinha (neste caso teve danos no valor de 160 mil euros, que é aquilo que vale o imóvel).

13ªhipótese
Nesta hipótese temos um enriquecimento – o S enriqueceu, viu o seu património valorizado
em 1000 euros.
Há causa justificativa? Sabendo que existia um contrato de arrendamento, teríamos que ir a
esse regime e ver o que era aplicável – depende do que lá esteja estabelecido.
 A causa justificativa só não existe se nos termos do contrato de arrendamento e da
lei aplicável não existir fundamento que permita que o senhorio se possa apropriar
das obras feitas pelo arrendatário na casa arrendada.
 Se por outro lado, o contrato o permitir, então não aplicamos o regime do
enriquecimento sem causa, pois é o próprio contrato de arrendamento que vai ser a
causa justificativa para o enriquecimento.
Na 1ª hipótese ainda teríamos que ver se existira outra solução possível a aplicar neste caso,
mesmo não a tendo com base no contrato de arrendamento, dado o caracter subsidiário do
enriquecimento sem causa.

14ªhipótese
T teve um enriquecimento? Sim
Há causa justificativa? Não.
Encontramos no oj outro instituto que dê solução ao problema que identificámos? Não, já
afastamos a responsabilidade civil porque não existem danos e não conhecemos outro
instituto que possa ser aplicado – temos enriquecimento sem causa.
Art.479º, 480º e 481º - ver quais as consequências deste enriquecimento
T divide a areia ao meio:
 Uma metade vende a U – relativamente a esta metade o seu enriquecimento são
2500 euros. O que é que ele precisaria de despender para aceder a estes 2500 euros
(o investimento necessário) – 2250 euros. O valor da compensação nos termos do
enriquecimento sem causa é de 2250 euros. Ele não compensa dos outros 2250 pois
isso resulta da habilidade dele, é o valor que ele acrescentou devido ao seu esforço.
Esse acrescento não é obtido à custa do outro, por isso não tem que compensar essa
parte.
 Outra metade doa a V – enriquecimento aqui é 0 – art.481º - vamos esquecer o T e
colocar aqui o V. Quanto é que o V enriqueceu? Não sabemos, pois não temos
CASOS PRÁTICOS – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES 15

conhecimento do proveito que ele tirou daquela areia. O investimento necessário


para tirar esse proveito é 500. Então a compensação aqui será 500.
Desconhece-se que à data das alienações, T já teria sido alertado para o facto de a areia
provir da propriedade de A
 Se a venda tivesse ocorrido depois de ele tomar conhecimento de que o terreno não
era dele, o único efeito aqui seria o pagamento de juros. Ele iria pagar juros a partir
do momento em que tinha conhecimento que o seu enriquecimento não tinha causa
(2250 + juros desde a data).
De resto, o art.480º não altera mais nada.
 Em relação à parte da doação, o T manter-se-ia responsável. Teríamos que ir ao
momento em que ele tomou conhecimento, ver qual o valor do seu enriquecimento
na altura (seriam os 2250) e daí em diante toda a destruição deste valor não o exonera
da sua responsabilidade no pagamento ao empobrecido.
 Não sabendo se ele tinha conhecimento ou não – art.342º - temos que ver quem é
tinha o ónus de provar. Não resultando provado que o T sabia no momento em que
fez a doação que o seu enriquecimento não tinha causa é o A que tem que provar
pois esse conhecimento é um facto constitutivo do direito agravado pelo A da
necessidade de responsabilização do T, logo é o A que tem o ónus. A demonstração
de que ele tinha conhecimento quando fez a doação é um requisito para o
agravamento da sua responsabilidade.

CASO 42
Dá-se a gestão de negócios quando uma pessoa assume a direção de um negócio alheio no
interesse e por conta do respetivo dono, sem para tal estar autorizado
Para que tenhamos direção de negócio alheio – em termos práticos é tratar de um assunto
que não é seu. Envolver-se na resolução de um problema que é de outro. É substituir-se ao
outro na adoção de um determinado comportamento
Atuar no interesse do outro para efeitos do 464º - verifica a necessidade e atua para satisfação
dessa mesma necessidade
Atuar por conta – é atuar com o propósito de transferir para a esfera jurídica do outro todos
os efeitos do seu comportamento
Sem estar autorizado
Estão verificados os requisitos – temos gestão de negócios
A gestão é representativa ou não representativa?
 Quadro de vieira da silva – gestão não representativa, A realiza negocio com C em
nome próprio, não dando conhecimento ao C de que está a atuar em gestão de
negócios
 Cópia do Dali – gestão representativa, A atua em nome de B
Em relação á compra do Dali – gestão irregular (a vontade real ou em limite a vontade
presumível era de que o B não queria aquela cópia, o A atuou em termos desconformes à
vontade de B).
B ratifica a aquisição da cópia e vende-a a E por 750 euros – art.471º - este ato de B não
corresponde à aprovação de que faz referência o artigo 469º.
Não é uma aprovação, a aprovação é um juízo genérico da gestão que foi feita.
É possível ele querer alguns atos que estão praticados, mas olhando para a gestão como um
todo não estar satisfeito com aquilo que foi feito.
CASOS PRÁTICOS – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES 16

Se os atos que ele ratifica tendem a coincidir com a gestão como um todo não faz sentido
que ele esteja a ratificar e não a aprovar.

16 maio 2016
RESOLUÇÃO TODA DE NOVO
A atua em gestão de negócios do B, estão verificados os requisitos do art.464º.
O A adquire a tela de vieira da silva e a cópia do Dali.
Temos 2 conjuntos de atos que consubstanciam cada um deles uma gestão de negócios.
É relevante sabermos se é 1 ou 2 porque distinguimos a gestão regular ou irregular (o
diferente regime que é aplicável) em função de um juízo global sobre a gestão. A aprovação
substitui o juízo de regularidade sujeitando o dono do negocio às mesmas obrigações que
existem na gestão regular pois é um juízo genérico de aprovação da gestão. Significa que ele
em termos gerais aprova a gestão. Trata-se de um juízo favorável relativamente à gestão
como um todo.
Como distinguimos se é 1 ou 2? Qual é o critério? Olhando para o 464º temos que ver se o
negocio, se a necessidade que ele vai satisfazer no outro se trata de uma necessidade que
ele identifica como única (apenas 1 gestão de negócios) ou se pelo contrario, a trata como se
fossem múltiplos assuntos distintos, na satisfação de necessidades distintas (várias gestões de
negócios).

Exemplo: A perante uma tempestade vai tratar da casa do B que está de férias e contrata um
empreiteiro, contra o material necessário, entre outros – só 1 gestão, pois todos estes atos
têm em vista a satisfação de uma única necessidade (neste caso, a reparação da casa).

Na hipótese temos que analisar individualmente o que tem a ver com um assunto e o que
tem a ver com outro.
 Compra da tela
Gestão regular
Temos que ver se é um ato objetivamente valioso para uma pessoa normal com as
características que o dono do negocio tem – sim
É conforme a sua vontade? – sim e até é conforme a sua vontade real (ele queria
aquele quadro).
O facto de ele estar ausente no estrangeiro é relevante? Se ele não estivesse ausente
no estrangeiro
A ausência, não sendo um requisito da gestão de negócios é um requisito para que
ela seja considerada licita – art.465º b). É necessário que no momento em que ele
inicia a gestão não seja possível contactar o dono do negócio. Se for possível e ele
não o fizer, a gestão torna-se ilícita, e está sujeita ao mesmo regime da gestão
irregular.
Quais são os efeitos? – art.468º/1
O dono do negocio fica obrigado a reembolsar o gestor das despesas indispensáveis.
Sendo a gestão regular, é relevante para algum efeito que não haja aprovação?
Efeitos da aprovação – independentemente das características e da qualificação que
a gestao mereça, ela terá sempre os efeitos do nº1 do 468º, a aprovação torna
irrelevante a distinção entre gestao regular e irregular. O que a aprovação nos podia
CASOS PRÁTICOS – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES 17

dar é aquilo que a gestao regular já nos deu – a aplicação do nº1 do 468º, portanto
havendo gestao regular a existência ou não de aprovação torna-se irrelevante.
Em relação ao C a gestao é não representativa (o dono do negócio atua em nome
próprio). Quais são os efeitos em relação ao C? O negócio celebrado entre o A e o C
produz efeitos nas relações entre o A e o C, o negócio é eficaz. Mandato sem
representação – o dono do negocio deve assumir para si as obrigações que resultam
desse contrato. O gestor está obrigado a transferir para o dono do negócio todos os
direitos decorrentes da gestao. Os efeitos produzem se num primeiro momento na
esfera jurídica do gestor, mas depois são transferidos (pois ele atuou por conta do
dono do negócio).
O D é o fiador nesta hipótese – art.627º - instrumento adicional em relação à garantia
geral das obrigações. É uma garantia pessoal pois colocamos ao lado do património
do devedor um outro património que também vai responder pela obrigação. Nas
garantias reais temos por objeto uma coisa, sendo que o efeito é atribuir o credor de
que dela beneficia o direito de se satisfazer com preferência em relação aos outros
credores com o valor que essa coisa tenha. As garantias reais podem ser prestadas
tanto pelo devedor como por terceiro. As pessoais têm que ser prestadas por
terceiros.
Para ter fiança era necessária uma declaração expressa do D. Partimos do pressuposto
de que ela existe.
A pagou 1000 euros ao C – tem direito a recuperá-los? Sim – art.468º/1 – com juros
legais desde o momento em que este pagamento foi feito
A não pagou a 2ªprestação – se ele deixou de pagar uma prestação, as outras
vencem-se imediatamente – 934º. Quem tem a obrigação de pagar perante o C é o
A. O A depois tem direito a ser reembolsado pelo B. A pede a restituição só do
montante que pagou ou também dos juros moratórios? Pede também os juros
moratórios. Sendo a gestao regular, o B volta e está pendente uma obrigação de
4000 euros para pagar. Ele deveria ter assumido a divida.
Pode o C exigir os 4000 euros ao D? Pode, mas em principio não já. Nada sendo dito
o fiador tem o benéfico da excussão prévia, o C só poderia reclamar o pagamento
ao D quando tivesse esgotado a sua possibilidade de satisfação do seu direito de
crédito ao A (se o B ainda não assumiu a dívida o devedor é o A pois ele fez o negócio
em nome próprio).

 Compra da cópia
Gestão irregular, pois, para ser regular é preciso que seja conforme o interesse e a
vontade real ou presumível do dono do negócio. Não basta que a necessidade seja
alheia e que ele tenha atuado com vista a satisfaze-la (como no art.464º). É necessário
que essa necessidade seja objetivamente valiosa para estarmos perante gestão
regular. O interesse e a vontade são critérios distintos.
O A identificou aquela necessidade (mal) mas isso permite-nos entrar na gestão de
negócios, aquilo que o oj valoriza é a sua perspetiva altruísta (464º). Temos que saber
se aquele ato, objetivamente apreciado corresponde ou não a um ato que uma
pessoa normal, naquelas circunstâncias praticaria, no sentido de satisfazer a
necessidade verificada. Se as condições forem razoáveis é conforme o interesse, se
não forem não é. O interesse do artigo 465º é um interesse objetivo, mas no direito
não há nada que seja puramente objetivo. Aquilo que vamos ver não é se uma
CASOS PRÁTICOS – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES 18

pessoa, independentemente das suas características, sentiria essa necessidade. Temos


que ver é se uma pessoa normal que goste de arte iria satisfazer aquela necessidade
e em função dela praticar aquela gestão, temos que ver de acordo com as
circunstâncias do caso concreto.
Chegando à conclusão que não havia interesse – gestão irregular
Se existia interesse – seria também gestão irregular porque neste caso trata-se de um
ato contrário à vontade do dono do negocio, contrário à vontade real pois ele já tinha
dito que não gostava de cópias.
Temos uma gestão de negócios que é irregular
 quais são os direitos que o A tem? Art.468º/2 – o A a única coisa que teria
em relação ao B era ser compensado nos termos do enriquecimento sem
causa. Art.469º - neste caso houve aprovação? Não, B discorda do
comportamento do A. B ratifica a aquisição da cópia e vende-a a E por um
preço mais elevado. Tendo ele ratificado o ato, não tendo a gestão autonomia
em relação ao ato ratificado, esta ratificação da gestão é abusiva – 334º. É um
comportamento contraditório e não está de acordo com o principio da
materialidade subjacente. Isto é possível fazer, temos é que encontrar um
bom fundamento que justifique que o homem razoável possa fazer isto,
teríamos que conseguir autonomizar os atos concretos relativamente à
gestão (o que não acontece aqui). Há rejeição da gestão, mas o B deve ser
sujeito aos efeitos da aprovação por força do artigo 334º.
Estamos perante uma gestão representativa – art.471º - 268º - o negócio foi ineficaz
até ao momento em que foi ratificado. A partir daí tornou-se eficaz entre o C e o B.
Ele vai produzir efeitos na esfera jurídica do B. Quem está obrigado a pagar ao C os
250 que faltam é o B.
Nas relações entre o A e o B, vamos aplicar o nº1 do 468º - B deve reembolsar o A
por todas as despesas que ele razoavelmente tenha considerado indispensáveis

2. Situação de impossibilidade imputável ao devedor – art.801º - o C responde pelo


incumprimento definitivo desta obrigação. Responde perante o A. O A tem de transferir os
direitos a que acede por via deste incumprimento para o B – art.1181º.
O C vai receber uma indemnização do seguro, isso é relevante para o art.794º.

CÓPIA DO DALI – Em vez de ele ter vendido o quadro por 750 euros, teria vendido por 1000.
Ele pagou 250 ao C. O A também pagou 250 euros ao C. O dono do negócio ganhou 750
euros. O gestor gastou 250. Se a gestao fosse regular quanto é que o dono do negócio
pagaria ao gestor? Os 250 (assumindo que todas as despesas teriam sido consideradas de
forma razoável indispensáveis). Se a gestao fosse irregular – art.479º: o que ganhou (750) o
que foi à custa do gestor de negócios (não sabemos). Imagine-se que seria 500.
Qual seria a compensação? Seria de 500. Ele recebia mais pelo nº2 do 468º do que pelo nº1.

OUTRA HIPÓTESE
A arranja o telhado do B.
A gasta 1000.
A casa ficou valorizada em 2000.
O preço normal da obra são 1500.
CASOS PRÁTICOS – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES 19

A gestao foi regular. Quanto é que o A recebe? – art.468º/1 – recebe 1000 (valor das despesas
que razoavelmente tenha feito consideradas indispensáveis).

A gestao foi irregular. Quanto é que o A recebe? – art.468º/2 – recebe 1500. Recebe mais por
uma gestao irregular do que receberia se a gestao fosse irregular. Essa não pode ser a
solução. Temos que ser cuidados na leitura do art.468º. Não podemos ler o nº2 do 468º
separado, não relacionado com o nº1. Nunca pode o gestor receber a titulo de gestao
irregular mais do que receberia por uma gestao regular (que é considerada licita).
A única interpretação possível – o nº1 do 468 marca o limite máximo da compensação, em
qualquer dos cenários (gestao regular ou irregular), a que o gestor terá direito. O nº2 só
funciona para diminuir a compensação, quando segundo o regime do enriquecimento sem
causa chegarmos à conclusão que o valor encontrado é inferior ao do nº1.
“Apenas” – o que se visa é limitar a compensação do nº1
Na gestao irregular não é certo dizermos que a compensação é sempre resultado da
aplicação do instituto do enriquecimento sem causa. Ela vai corresponder ao menor dos 2
valores (o do nº1 do 468º ou o que resulte da aplicação do enriquecimento sem causa).

Você também pode gostar