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Klein,V. C. & Linhares, M. B. M. (2007).

Temperamento, comportamento e dor 33


______________________________________Disponível em www.scielo.br/paideia____________________________________

Temperamento, comportamento e experiência dolorosa na trajetória de


desenvolvimento da criança
Vivian Caroline Klein
Maria Beatriz Martins Linhares
Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, Brasil

Resumo: O presente estudo teve por objetivo realizar uma revisão de estudos sobre as relações
entre temperamento, comportamento e experiências dolorosas iniciais nas trajetórias de
desenvolvimento de crianças, especialmente nas nascidas prematuras. Os estudos empíricos
foram obtidos por meio das bases de dados PsycINFO e Medline. Os resultados mostraram que
o temperamento foi preditor de padrões individuais de reação à dor e problemas de comportamento
da criança, em diferentes idades. Além disso, as experiências precoces de dor em crianças
nascidas prematuras podem afetar a reatividade do bebê, que por sua vez mostrou associação
com dimensões do temperamento nos primeiros anos de vida.
Palavras-chave: Temperamento. Reatividade. Dor. Prematuridade.

Temperament, behavior and painful experience in the child developmental


course
Abstract: The objective of the present study was to review the studies about the relations
among the temperament, behavior, and early painful experiences in children developmental
pathways, especially with preterm born children. The empirical studies were obtained through
the data bases PsycINFO and Medline. The results showed that the temperament was a predictor
of the individual patterns of reaction to pain and to behavior problems at different ages. Moreover,
the early painful experiences of children born preterm can influence infant’s reactivity, which
was in association to temperamental dimensions during the first years of life.
Keywords: Temperament. Reactivity. Pain. Prematurity.

Temperamento, comportamiento y experiencia dolorosa en la trayectoria del


desarrollo del niño
Resumen: El objetivo del presente estudio fue realizar una revisión sobre las relaciones entre
temperamento, comportamiento y experiencias dolorosas iniciales en la trayectoria del desarrollo
de los niños, especialmente en los nacidos prematuros. Los estudios empíricos fueron obtenidos
por medio de la base de datos PsycINFO y Medline. Los resultados muestran que el temperamento
fue el definidor de los patrones individuales de las reacciones al dolor y problemas del
comportamiento de los niños, en diferentes edades. También las experiencias precoces de dolor
en niños nacidos prematuros pueden afectar la reactividad del recién nacido, que además mostró
asociación con dimensiones del temperamento en los primeros años de vida.
Palabras clave: Temperamento. Reactividad. Dolor. Prematuridad.
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A Psicopatologia do Desenvolvimento, há mais análise dos fatores de risco precisa contemplar a


de duas décadas, tem recebido crescente reconheci- multiplicidade dos concomitantes e os seus meca-
mento no estudo sobre os transtornos de desenvolvi- nismos de ação.
mento à luz do contexto do psicológico normativo O segundo conceito é o de fator de promo-
(Luthar, Burack, Cicchetti & Weisz, 1997). Ela in- ção, que é uma variável positivamente relacionada a
corpora os parâmetros do desenvolvimento à com- um resultado desenvolvimental positivo, independente da
preensão das psicopatologias, entendendo as desor-
exposição do indivíduo a riscos (Gutman & cols., 2003).
dens de adaptação do indivíduo sob a ótica do pro-
cesso e do contexto, sem predições lineares, O terceiro conceito é o de mecanismo de pro-
deterministas ou isomórficas (Rutter & Sroufe, 2000). teção, que consiste em uma variável positivamente
Investiga a natureza do processo de desenvolvimen- relacionada a um resultado desenvolvimental positivo
to, as origens e os cursos de padrões individuais de em um grupo de alto risco, porém não num de baixo
adaptação comportamental, assim como os fatores e risco, apresentando efeito interativo (Gutman & cols.,
mecanismos que influenciam positiva ou negativamen- 2003). Os mecanismos de proteção podem ser atri-
te estas diferentes trajetórias de vida (Achenbach, butos disposicionais do indivíduo, aspectos do meio
1992; Garber, 1984; Sameroff, 2000). ambiente ou da interação entre esses, que modificam,
Esta perspectiva preconiza os intercâmbios melhoraram ou alteraram respostas pessoais a deter-
probabilísticos entre dinâmicas individuais e de con- minados riscos de desadaptação (Rutter, 1987;
textos ambientais que compreendem o comportamento Werner, 1986); desta forma, neutralizando os efeitos
humano, em oposição a relações lineares de causa- adversos provocados por uma condição de risco.
efeito. Desta forma, verifica-se um avanço em com- O quarto conceito é o de vulnerabilidade, uma
paração aos modelos tradicionais de compreensão da variável negativamente relacionada a um resultado
doença mental, ao incorporar funcionamentos bioló- desenvolvimental positivo em um grupo de baixo risco,
gicos e comportamentais na perspectiva de sistemas porém não em um de alto risco (Gutman & cols., 2003).
de regulação desenvolvimental (Sameroff, 2000). O quinto conceito é o de resiliência, que se
Além disso, ela integra o conhecimento inter- e intra- refere a processos que explicam a superação de cri-
disciplinar, teorias, contextos e domínios de pesquisa,
ses e adversidades em indivíduos, grupos ou organi-
transcendendo de um nível descritivo de sintomas iso-
zações (Rutter, 1987; Yunes & Szymanski, 2001;
lados para um de compreensão de processos presen-
Yunes, 2003). A resiliência envolve a interação entre
tes em trajetórias de desenvolvimento típico ou atípico
atributos e características do indivíduo e recursos
(Cicchetti & Cohen, 1995).
ambientais em um processo que resulta em supera-
Dada a importância do estudo de múltiplas in- ção e retorno ao padrão adaptativo inicial, sem que o
fluências, alguns conceitos nesta perspectiva são fun- indivíduo saia ileso deste processo.
damentais para a compreensão das trajetórias de de-
senvolvimento das crianças. O primeiro é o de fator Neste interjogo entre risco e proteção se inter-
de risco, que é uma variável positivamente relacio- põem variáveis moderadoras e mediadoras que aju-
nada a um resultado desenvolvimental negativo dam a compreender o efeito das diferentes forças
(Gutman, Sameroff & Cole, 2003) e que quando pre- que desencadeiam os resultados desenvolvimentais.
sente, aumenta a probabilidade de o indivíduo apre- A moderadora é uma variável que especifica uma
sentar problemas físicos, psicológicos ou sociais condição sob a qual um dado preditor é relacionado a
(Yunes & Szymanski, 2001). Os fatores de risco po- um resultado desenvolvimental. A natureza da asso-
dem ser identificados na pessoa ou no ambiente e de ciação entre preditor e predito pode variar em função
forma combinada em ambos (Kopp & Kaler, 1989), do moderador. Por outro lado, a mediadora é uma
e devem ser entendidos como um indicador potencial variável que explica o processo ou mecanismo pelo
que aumenta a probabilidade da ocorrência de efei- qual um preditor significativamente afeta um resulta-
tos negativos no desenvolvimento, não sendo consi- do desenvolvimental; este liga-se ao mediador, o qual,
derado uma variável fixa e pontual. Nesse sentido a por sua vez, o é à variável predita (Holmbeck, 2002).
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Nesse contexto, o presente estudo tem por cessos evidentes precocemente na vida a partir dos
objetivo contribuir para a compreensão dos proces- quais as adaptações sociais às condições ambientais
sos envolvidos na trajetória de desenvolvimento da se desenvolvem.
criança, com enfoque na interação entre variáveis No campo de estudo do temperamento, uma
individuais dela e as ambientais que produzem resul- primeira abordagem adveio de um trabalho pioneiro
tados desenvolvimentais. Inclui a análise de estudos realizado por Thomas e Chess denominado Estudo
empíricos, obtidos por meio das bases de dados Longitudinal de Nova Iorque (Thomas, Chess, Birch,
PsycINFO e Medline, que tratam das relações entre Hertzig & Korn, 1963 citado por Muris & Ollendick,
temperamento, comportamento e experiências de dor 2005). Nela, o temperamento é entendido como uma
em crianças nascidas a termo e a pré-termo. categoria derivada da constelação de comportamen-
Portanto, tem-se primeiro uma breve descri- tos exibidos em um determinado momento de vida,
ção das abordagens teóricas que norteiam as investi- que são resultantes de todas as influências passadas
gações do temperamento, com ênfase na abordagem e presentes, as quais os modelam e modificam em
inserida na perspectiva desenvolvimental proposta por um processo constantemente interativo. A consistên-
Rothbart (1981). Segundo, os resultados de estudos cia de traços ou constelações de temperamento em
empíricos que relacionam temperamento, reatividade um indivíduo ao longo do tempo, no entanto, deve re-
e comportamento em crianças nascidas a termo. Ter- querer estabilidade nestas forças interacionais, tais
ceiro, os resultados de estudos empíricos que relacio- como influências ambientais, motivações e habilidades.
nam temperamento, comportamento e reatividade à Foi desenvolvido um sistema de nove catego-
dor em crianças nascidas prematuras. Por fim, os de rias principais para classificar o temperamento, a sa-
estudos que demonstram os efeitos a curto e médio ber: 1) nível de atividade, referente ao componente
prazo destas experiências cumulativas de dor na motor presente no funcionamento de uma criança e
reatividade da criança nascida prematura. na proporção diurna de períodos de ativação e passi-
A condição de nascimento prematuro consiste vidade; 2) ritmo, direcionado à previsibilidade e/ ou
em um fator de risco biológico ao desenvolvimento imprevisibilidade no tempo de qualquer função; 3)
da criança, tornando-a vulnerável (Werner, 1986; aproximação ou retraimento, ligado à resposta ini-
Laucht, Esser & Schmidt, 2001, 2002), exposta a ex- cial a um estímulo novo, por exemplo, uma nova co-
periências precoces cumulativas de dor na Unidade mida ou um novo brinquedo; 4) adaptabilidade, que
de Terapia Intensiva Neonatal e com maior propen- se refere à facilidade com que a criança modifica
são a apresentar problemas de desenvolvimento, em uma situação nova ou alterada na direção desejada;
especial, de comportamento em sua trajetória de vida 5) limiar de responsividade, voltado à intensidade
(Grunau, Whitfield & Petrie, 1994). do nível de estimulação necessária para evocar uma
Relevância do estudo do temperamento para a resposta deliberada, independente da forma específi-
compreensão do interjogo entre risco e prote- ca que esta pode assumir ou da modalidade sensorial
ção na trajetória de desenvolvimento da criança afetada; 6) intensidade de reação, que diz respeito
Diferentes crianças podem responder aos mes- ao nível de energia da resposta, independentemente
mos investimentos sociais de promoção do desenvol- da sua qualidade ou direção; 7) qualidade de hu-
vimento de formas diferentes, com suas característi- mor, que fala da quantidade de prazer, divertimento
cas individuais influenciando trajetórias tanto de su- ou comportamento amistoso em comparação ao
cesso quanto de desadaptação, e podem também de- desprazer, choro e comportamento não amistoso; 8)
terminar se uma intervenção é necessária, assim como distraibilidade, direcionada à efetividade de um es-
as estratégias que o adulto deve escolher para pro- tímulo ambiental externo em interferir no comporta-
mover mudanças. Entre essas características pesso- mento vigente e alterar sua direção; 9) período de
ais relevantes destaca-se o temperamento, e a pes- atenção e persistência, referente respectivamente
quisa nesta área permite estudar interações entre in- ao período de tempo que uma atividade particular é
fluências individuais e ambientais, pois descreve pro- realizada pela criança e a continuação de uma na pre-
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sença de obstáculos para a manutenção da direção no porquê dele (motivação) ou o quê (ação)
da atividade (Muris & Ollendick, 2005). (Helgadóttir & Wilson, 2004).
Segundo Rothbart, Ellis, Rueda e Posner Em uma terceira abordagem, proposta por
(2003), devido ao fato de estas dimensões terem sido Rothbart (1981), o temperamento é composto por di-
desenvolvidas com objetivos clínicos, não houve uma mensões relacionadas ao modelo da Psicopatologia
tentativa inicial de elaborar medidas homogêneas e do Desenvolvimento. Segundo Goldsmith (1983), a
relativamente independentes baseadas nestes teoria e a pesquisa de Rothbart mudaram a concep-
constructos. Desta forma, questionários e outros ins- ção anterior de temperamento de uma definição
trumentos que se fundamentam nesta abordagem li- estilística para uma psicobiológica. Portanto, ele não
dam com constructos que muitas vezes apresentam seria restrito aos processos afetivos e incluiria as di-
sobreposição de significados. ferenças individuais na auto-regulação da atenção
A partir dessas dimensões, foram obtidas ca- como sua dimensão básica. Nesta abordagem o fun-
tegorias sobre tipos de temperamento, a saber: fácil, cionamento do temperamento é visto como influenci-
difícil, intermediário e lento. Há na literatura o uso ado tanto pela maturação quanto pela experiência
extensivo do constructo criança difícil. Porém, (Rothbart, Posner & Hershey, 1995). Este último as-
Rothbart (2004) destaca vários problemas relaciona- pecto constitui-se em uma contribuição fundamental para
dos a sua utilização na área da pesquisa, como a ampla a compreensão dele na perspectiva desenvolvimental.
variação nas suas operacionalizações, a confusão dos A Abordagem de Rothbart (2004) define tem-
conceitos de criança difícil, com problema de com- peramento como diferenças individuais com base
portamento e os problemas de adaptação social constitucional na reatividade e auto-regulação, obser-
advindos do rótulo a ela dado. vadas nos domínios de emocionalidade, atividade
Em uma segunda abordagem de temperamen- motora e atenção, sendo influenciados ao longo do
to, denominada Modelo EAS – Emocionalidade, tempo pela hereditariedade, maturação e experiên-
Atividade e Sociabilidade (Buss & Plomin, 1975 cia. A reatividade é definida como característica da
citado por Muris & Ollendick, 2005) distinguiram- responsividade individual a mudanças de estimulação
se três dimensões básicas de temperamento, a sa- apresentada em diversos níveis (comportamental,
ber: a) emocionalidade, que se refere à instabili- autonômico, neuro-endócrino) e por meio de
dade psicológica e à propensão a experimentar sen- parâmetros de latência, tempo de aumento, de recu-
timentos de medo, raiva e tristeza; b) atividade, que peração da reação e intensidade máxima. A auto-
diz respeito a características como tempo, vigor e regulação consiste em processos que modulam essa
resistência, podendo ser medida por taxa e amplitu- reatividade, incluindo aproximação/ retraimento
de da fala e movimento, deslocamentos corporais e comportamental, controle inibitório e de atenção. Com
duração de comportamento agitado; c) sociabili- o curso do desenvolvimento da criança, sistemas ini-
dade, direcionada à tendência de afiliação e cialmente mais reativos tornam-se crescentemente
responsividade às pessoas, podendo ser avaliada pela regulados, na medida em que os de inibição ao medo
preferência por estar com os outros, necessidade e de controle de atenção se desenvolvem.
de compartilhar atividades e de receber atenção Apesar de o temperamento pertencer a dispo-
como resultado da interação social. sições relativamente estáveis, seus eliciadores e ex-
As abordagens de Thomas e Chess (1977) Buss pressões freqüentemente mudam ao longo do curso
e Plomin (1984) assumem que as diferenças indivi- desenvolvimental (Putnam, Ellis & Rothbart, 2001;
duais do temperamento refletem estilos de resposta Rothbart & Putnam, 2002; Rutter, 1994). A princípio,
comportamental e que os processos temperamentais os comportamentos iniciais podem ser vistos como
são equivalentes aos afetivos, sendo consideradas reativos a eventos de estimulação imediata ou a mu-
como estilísticas do temperamento, pois se preocu- danças endógenas. Posteriormente, no entanto, sis-
pam em descrever como os comportamentos ocor- temas de regulação mais diretos, incluindo aspectos
rem em um determinado tipo de temperamento e não de inibição de medo e de flexibilidade de controle de
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atenção, irão se desenvolver para modular essa transtorno; j) os transtornos por si próprios podem mudar
reatividade comportamental (Rothbart & Putnam, aspectos do temperamento e ocasionar riscos futuros.
2002). Na medida em que o desenvolvimento envol-
Temperamento, comportamento e reatividade da criança
ve continuidades e descontinuidades certa consistên-
cia é esperada, podendo adotar diferentes formas ao A relação entre temperamento e problemas de
longo do tempo (Rutter, 1994). comportamento da criança tem sido estabelecida em
diferentes idades (Rothbart & cols., 1995). No estu-
Segundo Rothbart e Putnam (2002), as dife-
do de Wasserman, Diblasio, Bond, Young e Colletti
renças individuais do temperamento constituem a
(1990) foi encontrado que o temperamento difícil da
expressão mais precoce da personalidade e o substrato
criança aos quatro meses, assim como o baixo nível
a partir do qual ela se desenvolve. Enquanto a perso-
sócio-econômico, predisse problemas de comporta-
nalidade da criança incluirá habilidades, hábitos e es-
mento aos seis anos de idade em uma amostra clínica
truturas cognitivas moldadas por meio da interação
pediátrica. Segundo Bates, Pettit, Dodge e Ridge
com o ambiente, o temperamento provê as bases bi-
(1998), as crianças com temperamento resistente (di-
ológicas sobre as quais estas estruturas são
fícil de conduzir e com falta de auto-regulação) mos-
construídas. Ao traçar o desenvolvimento do tempe-
traram níveis mais altos de problemas de
ramento e as adaptações que ele sustenta em dife-
externalização na idade escolar.
rentes momentos do ciclo vital, torna-se possível avan-
çar na compreensão do risco para psicopatologias. A reatividade tem sido incluída como um dos
traços centrais do temperamento (Rothbart, 1989;
O temperamento pode moldar e ser moldado
Strelau & Eliaz, 1994). A influência dele na reatividade
pela adaptação individual por meio de diferentes tra-
jetórias (Rothbart, Posner & Hershey, 1995), ocor- da criança aos três anos de idade foi investigada por
rendo de formas diversas, nas quais ele estaria en- Zimmerman e Stansburry (2004) e avaliada por meio
volvido no desenvolvimento do risco para da variação do nível de cortisol salivar medido antes,
psicopatologias, incluindo: a) diferenças individuais, durante e depois de uma situação experimental em
que em seu extremo, que se constituiriam em que a criança é abordada por pessoa estranha. Os
psicopatologia ou predisporiam o indivíduo à mesma; resultados mostraram que alto nível de timidez dela
b) características de temperamento que evocam rea- (velocidade de aproximação baixa ou inibida e des-
ções em outras pessoas, podendo promover ou neu- conforto em situações sociais) foi preditor de eleva-
tralizar o risco para psicopatologia; c) ou influenciar ção de um relevante parâmetro fisiológico de estresse
a seleção dos nichos de desenvolvimento da pessoa (nível de cortisol salivar), enquanto que boa regulação
expondo-a a maior ou menor risco para psi- emocional e freqüentar creche foram preditores de
copatologia; d) o temperamento podendo influir na baixas elevações nos níveis de cortisol.
modalidade de um transtorno, no seu curso e na pro- A relação entre nível de cortisol salivar em uma
babilidade de sua recidiva; ou no processamento de situação estressante, apego, temperamento e desen-
informação sobre si mesmo e o mundo, seja aumen- volvimento de crianças aos 15 meses de idade foi
tando ou diminuindo a probabilidade para examinada por Van Bakel e Riksen-Walraven (2004).
psicopatologia; e) ainda regular ou neutralizar os fa- Os autores identificaram que as que apresentaram
tores de risco ou estresse; f) há variação na altos níveis de propensão à raiva (a reações negati-
responsividade temperamental aos eventos vas particularmente em situações de frustração) e
ambientais; g) na interação entre os sistemas, sendo melhor desempenho cognitivo apresentaram maior
que alguns deles se desenvolvem tardiamente; h) as elevação do nível de cortisol salivar. Houve correla-
disposições temperamentais podem moldar diferen- ção positiva entre desenvolvimento cognitivo e au-
tes trajetórias para um dado resultado desenvolvimental mento de cortisol salivar apenas no grupo de bebês
e as individuais levar a múltiplos resultados; i) as ca- com baixos escores de apego seguro. Desta forma,
racterísticas dele e do ambiente de cuidado trazer este foi identificado como variável moderadora da
contribuições independentes ao desenvolvimento, ou relação entre desenvolvimento cognitivo e reatividade
interagir aumentando ou diminuindo o risco para um fisiológica da criança ao estresse.
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A relação entre temperamento do bebê nasci- que, por sua vez, predisse o relato parental de
do a termo no primeiro mês de vida, e choro e inqui- somatização da criança.
etação, avaliados ao longo de 16 dias consecutivos A realização de futuras pesquisas sobre o pa-
aos dois meses de vida, foi objeto do estudo de Blum, pel do temperamento e das experiências de exposi-
Taubman, Tretina e Heyward (2002). Os resultados ção a estímulos dolorosos no desenvolvimento de es-
mostraram o maior tempo de choro e inquietação as- tratégias para lidar com as dolorosas e de somatização
sociado com bebês de temperamento com alta inten- da criança parece ser um caminho promissor para a
sidade de resposta e baixa distraibilidade. Estes melhor compreensão das relações entre temperamen-
resultados sugerem que bebês com altos níveis de to e reatividade à dor. Essa linha de investigação se
choro são mais reativos à estimulação sensorial e di- faz necessária, principalmente, para estudar os desfe-
fíceis de consolar do que os que choram menos. Cer- chos de trajetórias de desenvolvimento em populações
tamente, o modo como o ambiente vai lidar com es- biologicamente vulneráveis constituídas por crianças
sas características temperamentais deles irá contri- de alto risco para problemas na área de saúde mental.
buir para o delineamento de trajetórias de desenvol-
vimento. A interação entre a criança e seus cuidadores Comportamento e temperamento da criança
precisará ser regulada para lidar com as característi- nascida prematura exposta precocemente a ex-
cas pessoais à luz do contexto de influência bidirecional periências inevitáveis de dor
entre indivíduos. Uma amostra vulnerável que freqüentemente
A relação entre o temperamento e a reatividade se encontra exposta a experiências inevitáveis de dor
à dor têm sido destacada no campo de investigação é constituída por bebês prematuros, considerados em
devido ao fato de este tipo de reatividade ser consi- situação de risco biológico que ameaça o seu desen-
derado uma das dimensões da reatividade ao estresse volvimento (Werner, 1986), constituindo-se em risco
e da capacidade de auto-regulação do indivíduo em si mesmo, além de expô-los a uma cadeia de ad-
(Morison & cols., 2003). O estudo de Helgadóttir e versidades decorrentes da própria prematuridade
Wilson (2004) examinou as relações entre tempera- (Beckwith & Rodning, 1991; Laucht, Esser &
mento e o auto e hetero-relato de dor em crianças na Schimdt, 1997; Linhares, Bordin & Carvalho, 2004),
faixa de três a sete anos durante o procedimento de dentre as quais encontra-se a alta exposição do bebê
tonsilectomia; os resultados revelaram que maior in- a estímulos dolorosos inerente aos procedimentos
tensidade de dor pós-operatória durante a médicos e de enfermagem necessários ao cuidado
hospitalização foi relatada pelas mais ativas ou com intensivo do bebê no período de internação na Unida-
humor negativo; no pós-alta, maior intensidade de dor de de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN).
pós-operatória pelas que apresentaram maior Os resultados desenvolvimentais do grupo de
distraibilidade ou menor limiar sensorial. crianças nascidas pré-termo com peso ao nascimen-
Na busca de identificar preditores de to abaixo de 1500 gramas mostraram que estas, quan-
somatização e reatividade à dor durante procedimen- do comparadas às nascidas a termo, apresentam mais
to doloroso aos cinco anos de idade, Rocha, Prkachin, deficiência cognitiva (Bradley & cols., 1993; Damman
Beaumont, Hardy e Zumbo (2003) avaliaram o tem- & cols., 1996; Laucht & cols., 1997, 2002), proble-
peramento da criança nascida a termo, a quantidade mas de desempenho escolar (Taylor, Hack, Klein &
de experiências prévias de dor dela e dos modelos de Schatschneider, 1995; Withfield & Grunau, 2000), di-
dor (pessoas de seu convívio portadores de dor crô- ficuldades comportamentais (Laucht & cols., 2002)
nica), a resposta materna durante o procedimento, o e somatização (Grunau, Whitfield & Petrie, 1994).
encorajamento parental do comportamento de doen- Diversos estudos têm identificado o compor-
ça da criança. Os autores encontraram que tempera- tamento como um dos principais problemas na traje-
mento caracterizado como de baixa adaptabilidade, tória de desenvolvimento de crianças nascidas com o
bem como maior exposição prévia a experiências risco biológico da prematuridade. Schothorst e Van
dolorosas, foi preditor de maior reatividade à dor da Engeland (1996) encontraram que as pré-termo com
criança observada durante procedimento doloroso, idade gestacional igual ou inferior a 32 semanas e as
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pré-termo e pequenas para a idade gestacional apre- mais retraídas em se aproximar de pessoas ou situa-
sentaram mais problemas sociais na idade escolar em ções desconhecidas (Honjo & cols., 2002), mais ati-
comparação às nascidas a termo, sendo que esses vas (Kerestes, 2005) e mais difíceis para serem con-
problemas persistiram até a adolescência. Resulta- soladas (Larroque, N’guyen, The Tich, Guedeney,
dos semelhantes foram obtidos por Foulder-Hughes Marchand & Burguet, 2005) do que as a termo. Es-
e Cooke (2003). No estudo prospectivo longitudinal tes achados vão à direção oposta aos de um estudo
de Gray, Indurkhya e McCormick (2004) foi anterior realizado por Sajaniemi e cols (1998) no se-
identificada a prevalência e continuidade de proble- gundo ano de vida, o qual identificou que as crianças
mas de comportamentos aos três, cinco e oito anos nascidas prematuras foram menos ativas, mais adap-
de idade em 869 crianças nascidas prematuras com táveis, menos intensas, com humor mais positivo e
peso abaixo de 2500g. Os autores encontraram uma com menor limiar de resposta à estimulação, inde-
prevalência de problemas de comportamento nas cri- pendente do nível de gravidade de estado clínico na
anças de 20% nas idades avaliadas, sendo o dobro da fase neonatal.
vista na população em geral. Os problemas de com- Algumas variáveis relacionadas à condição de
portamento foram mantidos ao longo do tempo nas saúde da criança nascida prematura foram
diferentes idades estudadas em 50% da amostra. identificadas em associação com dimensões do tem-
Considerando os estudos sobre nascimento pre- peramento. Em relação à idade gestacional, quanto
maturo e problemas de comportamento da criança, faz- menor ela for, menor o período de tempo de atenção
se necessário avançar na compreensão a respeito de no primeiro ano de vida (Kerestes, 2005). Quanto as
como as características individuais das nascidas prema- intercorrências clínicas decorrentes da prematuridade,
turas podem atuar na trajetória de seu desenvolvimento. as prematuras diagnosticadas com lesões cerebrais
A relação entre temperamento e comportamen- no período neonatal e com atraso no desenvolvimen-
to da criança nascida prematura foi identificada em al- to psicomotor eram menos responsivas a estímulos
guns estudos. Alto escore global de temperamento difí- sociais e adaptáveis aos 9 meses do que as nascidas
cil, de índice de estresse parental e família de pais sol- na mesma condição que não apresentaram tais pro-
teiros foram preditores de problemas de comportamen- blemas (Larroque & cols., 2005). Apenas um estudo
to das prematuras aos sete anos (Saylor, Boyce & Price, encontrou associação entre maior morbidade perinatal
2003). A alta emocionalidade negativa aos três anos à maior persistência de atenção durante as ativida-
de vida foi encontrada em grupos de crianças prematu- des (Weiss, St. John-Seed & Wilson, 2004), o que
ras diferenciadas quanto à presença da dimensão surpreendeu os autores. No entanto, estes supõem
externalização e internalização do comportamento, res- que as complicações médicas durante o período
pectivamente, em comparação com as do grupo contro- neonatal podem prenunciar certos problemas físicos
le sem problemas de comportamento (Blair, 2002). ou neurológicos que limitam as habilidades da crian-
Estudos que compararam crianças nascidas ça e resultam em mais dificuldades para terminar uma
prematuras com as a termo em relação ao tempera- tarefa. Estas limitações poderiam requerer da crian-
mento encontraram diferenças significativas entre os ça que focalizasse ou prestasse atenção a fim de efe-
grupos. Considerando as categorias diagnósticas de tivamente engajar-se em determinada atividade ou
temperamento difícil e fácil, dois estudos não encon- realizar a tarefa.
traram diferenças entre crianças nascidas prematu- Grunau, Whitfield e Petrie (1994) encontraram
ras e as a termo aos seis (Honjo & cols., 2002) e que o temperamento foi significativamente relacio-
vinte e quatro meses (Sajaniemi, Salokorpi & Von nado à sensibilidade à dor no grupo de crianças nas-
Wendt, 1998). No entanto, ao se considerar as di- cidas a termo, e moderadamente no das pré-termo
mensões do temperamento das crianças os estudos de baixo peso (1500- 2499 g) e de muito baixo peso
encontraram especificidades relacionadas ao grupo (801-1499g) e não relacionado à sensibilidade à dor
das prematuras. No primeiro ano de vida, a compa- no grupo de extremo baixo peso (< 801g) aos dois
ração das dimensões do temperamento entre os gru- anos de idade. Assim, nas nascidas a termo e nas
pos revelou que as crianças nascidas prematuras eram pré-termo com peso acima de 801 gramas, maior
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reatividade emocional foi relacionada a maior res- nos de menor idade gestacional (< 28 semanas), mai-
posta à dor. Desta forma, o temperamento foi um or quantidade de exposição neonatal à dor foi preditora
mediador significativo da sensibilidade à dor, porém, de menor resposta de cortisol plasmático ao estresse
identificou-se a relação entre menor peso de nasci- e reatividade facial à dor na 32ª semana de idade
mento e o papel decrescente do temperamento como cronológica corrigida, independente da gravidade clí-
mediador de sensibilidade à dor aos dois anos de ida- nica neonatal e da quantidade de exposição à morfi-
de da criança. Estes achados indicam que nas mais na a partir do nascimento. No grupo de idade
imaturas pode ocorrer a atuação de outras variáveis gestacional superior a 28 semanas, a maior gravida-
mediadoras da relação entre temperamento e sensi- de do estado de saúde neonatal foi significantemente
bilidade à dor. associada a menor freqüência de batimento cardíaco
Esses achados evidenciam a importância de durante o procedimento doloroso.
serem investigadas outras variáveis clínicas do bebê, Esses estudos mostram que tanto a prema-
assim como ambientais, no estudo do temperamento turidade quanto as condições adversas decorrentes
da criança nascida prematura. Nesse sentido, alguns da terapia intensiva neonatal, que envolvem procedi-
estudos destacam as experiências iniciais de dor como mentos dolorosos inevitáveis no início do desenvolvi-
variável ambiental que pode influenciar dimensões de mento, constituem-se em mecanismos que afetam a
temperamento, mais especificamente relacionada à reatividade comportamental e fisiológica das crian-
reatividade do nascido prematuro. ças à dor. No entanto, é importante destacar as di-
Grunau e cols (2001) verificaram que os bebês mensões e categorias de temperamento, parâmetros
nascidos com extremo baixo peso ao serem expostos a comportamentais e fisiológicos de reatividade da cri-
procedimento de lancetagem para coleta de sangue aos ança e características biológicas e ambientais decor-
oito meses de idade apresentaram maiores taxas basais rentes do nascimento prematuro.
de batimento cardíaco e recuperação comportamental Sendo assim, os estudos analisados avaliaram
e fisiológica mais rápida do que os a termo. Além disso, também outras variáveis, tais como: a) tipo de estra-
entre os com extremo baixo peso ao nascimento, maior tégias de regulação emocional (Zimmermann &
número de procedimentos invasivos e dolorosos prévios Stansbury, 2004), desenvolvimento cognitivo e apego
foram associados a menor atividade facial de resposta à (Van Bakel & Riksen-Walraven, 2004); b) variáveis
dor e menor taxa de batimentos cardíacos durante o parentais, como atitudes relacionadas ao uso de anal-
procedimento doloroso. gésicos (Helgadóttir & Wilson, 2004), resposta ma-
Outro estudo encontrou níveis significativa- terna ao comportamento da criança durante o proce-
mente mais altos de cortisol salivar em bebês nasci- dimento doloroso e encorajamento parental ao de
dos com idade gestacional extremamente baixa (d” doença da criança (Rocha, Prkachin, Beaumont,
28 semanas) aos oito meses de idade cronológica Hardy & Zumbo, 2003), estresse e estilo parental
corrigida antes e depois da apresentação de um estí- (Saylor, Boyce & Price, 2003), (Grunau, Whitfield &
mulo visual envolvendo novidade em comparação aos Petrie, 1994); c) Variáveis familiares, do tipo nível
com idade gestacional muito baixa (29-32 semanas) sócio-econômico (Gray, Indurkhya & McCormick,
e com os a termo. Após controlar a gravidade neonatal 2004; Wasserman & cols., 1990); quantidade de pes-
e a quantidade de exposição à oxigenação artificial soas do convívio da criança que são portadores de
na UTIN, verificou-se que níveis mais elevados de dor crônica e servem como modelos (Rocha & cols.,
cortisol basal em bebês pré-termo aos oito meses fo- 2003) nível de suporte e tipo de composição familiar
ram associados com maior número de procedimen- (Saylor, Boyce & Price, 2003).
tos invasivos e dolorosos ocorridos no período neonatal Considerações Finais
(Grunau, Weinberg & Whitfield, 2004). O temperamento consiste em uma variável in-
Avançando no estudo da relação entre quanti- dividual fundamental para a compreensão das traje-
dade de exposição à dor no período neonatal e tórias de desenvolvimento das crianças. A reatividade
reatividade, Grunau e cols (2005) encontraram que é um aspecto considerado em diferentes abordagens
Klein,V. C. & Linhares, M. B. M. (2007). Temperamento, comportamento e dor 41

teóricas sobre o temperamento. Os estudos a avali- Faz-se assim necessário o investimento em


am com parâmetros comportamentais (choro, mími- pesquisas que investiguem os processos que relacio-
ca facial) e fisiológicas (cortisol salivar, batimento nam características individuais, como temperamento
cardíaco). Altos escores nas dimensões timidez, rai- da criança, e ambientais, como história de exposição
va e intensidade de resposta e baixos em distraibilidade à estimulação dolorosa em idades precoces, e resul-
foram relacionados à maior reatividade da criança. tados desenvolvimentais da criança.
A reatividade à dor envolve aspectos básicos Considerando que o grupo de prematuras é bi-
do temperamento. Níveis altos de atividade e humor ologicamente vulnerável e que as variáveis de sua
negativo e baixos de adaptabilidade foram relaciona- saúde exercem influência no seu temperamento, es-
dos a maior reatividade à dor da criança. Mais expo- tudos que avaliam o temperamento destas crianças
sição prévia de dor e maior reatividade a ela foram por meio do referencial psicobiológico de Rothbart
associados à somatização da criança. podem identificar especificidades neste grupo relaci-
onadas a auto-regulação e controle de atenção.
O grupo de crianças nascidas prematuras foi
destacado no presente artigo considerando que este se A detecção precoce de características indivi-
encontra muito precocemente e de forma persistente duais que podem influenciar o desenvolvimento da
exposto a experiências de dor e é identificado como de criança, bem como a compreensão acerca do interjogo
alto risco para problemas de comportamento, em ida- entre fatores constitucionais e ambientais no proces-
des posteriores. Em crianças prematuras, temperamen- so desenvolvimental, contribuem para a promoção do
desenvolvimento da criança, assim como para a pre-
to difícil e maior emocionalidade negativa foram asso-
venção de problemas de saúde mental.
ciados a mais problemas de comportamento.
A comparação do temperamento de prematu- Referências
ras com a termo revelou que as dimensões de tempe- Achenbach, T. M. (1992). Developmental
ramento mais do que suas categorias diagnósticas de psychopathology. In M. H. Bornstein & M. E.
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maturas. Estas foram mais retraídas, ativas e difíceis Lawrence Erlbaum Associates Publishers.
de consolar do que as a termo. Bates, J. E., Pettit, G. S., Dodge, K. A., & Ridge, B.
Consideraram-se não somente o peso de nas- (1998). Interaction of temperamental resistance
cimento e a idade gestacional para identificar as ca- to control and restrictive parenting in the
racterísticas de temperamento de crianças nascidas development of externalizing behavior.
prematuras. Maior gravidade clínica neonatal das pre- Developmental Psychology, 34, 982-95.
maturas foi associada a menores escores em persis-
Beckwith, L., & Rodning, C. (1991). Intellectual
tência de atenção, responsividade social e adaptação.
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nascidas prematuras foram inconsistentes em reve- development of children’s thinking (pp. 25-28).
lar a direção da associação entre essas variáveis. New Jersey: Lawrence Erlbaum Associates
Sendo assim, a análise das trajetórias de de- Publishers.
senvolvimento das crianças prematuras deve levar
Blair, C. (2002). Early intervention for low birth
em conta as características de gravidade de saúde
weight, preterm infants: the role of negative
neonatal, bem como da exposição à estimulação do-
emotionality in the specification of effects.
lorosa na UTIN, considerando que alguns estudos
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relacionaram aspectos do temperamento a estas va-
riáveis mais do que à condição de nascimento pre- Blum, N. J., Taubman, B., Tretina, L., & Heyward,
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Endereço para correspondência:
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14048-900, Ribeirão Preto – SP, Brasil. E-mail:
Thomas, A., & Chess, S. (1977). Temperament and kleinvivian@hotmail.com ou linhares@fmrp.usp.br
Development. New York: Brunner/ Mazel.
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As autoras contam com o apoio da Fundação
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de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
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