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GERENCIAMENTO DO TEMPO NO CONTEXTO UNIVERSITÁRIO: UMA

OFICINA ONLINE

INTRODUÇÃO
Diante a constância e relevância das discussões sobre saúde mental em todas as
esferas da sociedade, o Núcleo Técnico de Atenção Psicossocial (NTAPS) surgiu por meio de
um convênio entre o Banco Santander e a Universidade Estadual Paulista “Júlio Mesquita
Filho” (UNESP), Campus de Bauru/SP, com o objetivo de oferecer suporte às demandas de
saúde mental através de ações coletivas e afirmativas voltadas à qualidade de vida da
comunidade acadêmica.
No contexto universitário, a falta de habilidade para manejar tarefas de acordo com
seus prazos pode se manifestar de formas desfavoráveis até mesmo nas condições de
funcionamento tradicionais da universidade (BASSO et al., 2013; OLIVEIRA et al., 2016).
Com a suspensão do ensino presencial, as plataformas virtuais são o recurso para a
continuidade dos processos de graduação e aumentam a necessidade de que estudantes
consigam se adaptar ao contexto remoto.
Pode-se definir o gerenciamento de tempo como o ato ou processo de planejamento e
exercício do controle consciente sobre a quantidade de tempo gasto em atividades específicas
(ČIARNIENE e VIENAZINDIENE, 2014). Organizar adequadamente o tempo se mostra de
extrema relevância (LEITE; TAMAYO; GÜNTHER, 2003; PELLEGRINI; CALAIS;
SALGADO, 2012; BASSO et al., 2013; CIARNIENE; VIENAZINDIENE, 2014; OLIVEIRA
et al., 2016;). Foram evidenciados três indicadores da relevância da intervenção: (1) as
dificuldades de adaptação ao distanciamento físico; (2) as queixas de estudantes atendidos
pela frente de Acolhimento Psicossocial do NTAPS em 2019; e (3) as respostas ao formulário
online enviado à comunidade universitária já em 2020.
Com isso, a frente de Prevenção e Promoção em Saúde Mental do NTAPS propôs a
Oficina de Organização do Tempo com o objetivo de auxiliar na redução de danos do ensino
emergencial e das dificuldades de gerenciamento de tempo nas condições de distanciamento
físico. O resumo expandido pretende descrever seu primeiro encontro.
MÉTODO
Primeiramente, (a) foi elaborado um formulário online para mapear o interesse do
público diante a proposta da Oficina de Organização do Tempo. Excluindo as informações de

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identificação dos interessados, as duas últimas questões consistiram em descrições de
comportamentos relacionados às dificuldades de organização do tempo a serem trabalhadas.
Assim, a oficina foi planejada como: (1) síncrona em uma plataforma virtual; (2)
encontro único de noventa minutos; (3) dividido em quatro momentos; e (4) com limite de
quinze vagas para favorecer o diálogo entre participantes. Dos quatro membros do Núcleo
ministrando a Oficina, dois estudantes da graduação de Psicologia foram responsáveis por
preencher um roteiro de observação, base para a coleta de evidências do processo. Quanto à
condução do encontro, sistematizada por slides, ficaram responsáveis uma estudante de
graduação e uma de pós-graduação em Psicologia.
No primeiro momento, com o objetivo de construir coletivamente o conceito principal
da intervenção, foram propostas perguntas abertas sobre o que seria o gerenciamento de
tempo e motivos para repensar tais organizações individuais.
Com isso, o segundo momento expôs informações científicas quanto às consequências
de um gerenciamento do tempo desfavorável1, destacou a adaptação como um processo e
evidenciou a responsabilidade do participante para com a organização do próprio tempo 2. Na
(b) primeira atividade foi solicitado que cada participante escrevesse as tarefas planejadas
para sua semana e foram acrescentadas quatro categorias para que as tarefas individuais
fossem classificadas: tarefas urgentes, importantes, não-urgentes e não-importantes. Com o
objetivo de ressaltar essa autoavaliação para priorização de tarefas, abriu-se novamente o
espaço para discussão coletiva estruturado por questionamentos sobre as formas com que cada
um tem organizado o próprio tempo e seus níveis de satisfação pessoal.
No terceiro momento foram apresentadas estratégias e técnicas de estudo congruentes
às dificuldades elencadas no (a) formulário. As dicas, distribuídas na Oficina, abordaram o
equilíbrio entre universidade e vida pessoal, controle da atenção e execução de tarefas.
No quarto momento executou-se a (c) segunda atividade. Utilizando a listagem e
classificação das tarefas individuais, foi solicitado que as mesmas fossem organizadas nos
dias da semana seguinte ao encontro em um planner.

1O estresse refere-se ao processo de alterações psicofisiológicas dos organismos como resposta a situações
percebidas como ameaçadoras de seu equilíbrio. Para se alcançar o reequilíbrio e adaptação a uma situação,
procura-se eliminar ou enfrentar a fonte de estresse, seja por meio de estratégias de luta ou fuga (LIPP, 2004).
2Envolvendo o estabelecimento de prioridades e estratégias para as alcançar, o controle eficiente sobre o tempo
torna as pessoas menos estressadas, mais satisfeitas e reduz tensões somáticas (PELLEGRINI; CALAIS;
SALGADO, 2012). O indivíduo necessita decidir quais tarefas irá desempenhar, definir a prioridade de cada
uma e lidar com as possíveis distrações na execução para organizar seu tempo (CLAESSENS et al., 2007).

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Como instrumento de avaliação da Oficina, foi elaborado um (d) questionário online.
Ressalta-se que a permissão dos participantes quanto à disponibilidade de seus dados
coletados de forma anônima com a finalidade de produção científica foi coletada nessa etapa.
Contendo respostas fechadas e espaço para comentários dissertativos, as três primeiras
perguntas se referiram à avaliação do participante para com o objetivo e execução da (b)
primeira atividade, da exposição das dicas de estudo e (c) da segunda atividade. A quarta
questão coletou a percepção dos participantes sobre a oficina ter cumprido seu objetivo e, por
último, foi solicitado que cada participante enviasse um arquivo contendo seu planejamento
semanal uma semana após o encontro.
RESULTADOS
As respostas do (a) formulário totalizaram trinta e três universitários interessados,
sendo separadas as quinze como participantes do primeiro encontro e quatorze compareceram.
No diálogo do primeiro momento, o desequilíbrio entre atividades acadêmicas e vida
pessoal foi fundamentado por relatos envolvendo desânimo e autocobrança direcionadas às
tarefas cobradas durante o distanciamento social.
A (b) primeira atividade evidenciou relatos de participantes que perceberam não
priorizar suas tarefas. Uma participante relatou ter classificado seu Trabalho de Conclusão de
Curso como importante e não-urgente. Logo depois, compartilhou que, ao mesmo tempo que
concordava, sabia que a tarefa se tornaria urgente por conta de comportamentos de
procrastinação.
Durante as dicas e técnicas de estudo, foram compartilhados métodos de estudo e
estratégias individuais de organização. E, quanto à (c) segunda atividade, precisou ser refeita
para que as tarefas fossem conciliadas de forma individualmente satisfatória. A necessidade
de cumprir as tarefas em horários específicos foi levantada e dois participantes comentaram
que conseguiam alocar suas tarefas no planejamento semanal mas percebiam dificuldades em
cumprir o próprio planejamento diário.
Foi acrescentado que o planejamento deve fazer sentido para quem o planeja. E,
relacionado ao possível caráter obrigatório do planejamento, um participante relatou que
bastava não cumprir uma das tarefas determinadas para o dia para se sentir mal e cansado. Ao
problematizar as excessivas cobranças do contexto universitário, foi ressaltada a necessidade
de separar momentos para descanso e lazer.
Por fim, o (d) questionário foi respondido por oito dos participantes. A (b) primeira
atividade obteve unanimidade no item indicando a relação entre seu objetivo e execução.

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Quanto às dicas e técnicas de estudo, metade dos respondentes as avaliaram como úteis junto
à declaração de interesse em praticá-las. Na (c) segunda atividade, a compreensão do objetivo
e a declaração de interesse em construir o hábito de planejamento semanal foi unânime.
Quanto ao objetivo da Oficina, os respondentes o avaliaram unanimemente como
alcançado e cinco planejamentos semanais foram recebidos uma semana após o encontro,
podendo indicar um aproveitamento de 35,7% dos participantes.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Compreende-se as limitações da intervenção ao observar as dificuldades de conexão à
internet e ao processo de adaptação à comunicação virtual com o objetivo de intervir.
Entretanto, considerando a interação dos participantes, a qualidade dos resultados descritos e
as respostas ao (d) questionário, conclui-se que a intervenção atingiu seu objetivo.
E ressalta-se a relevância de intervenções voltadas para demandas objetivas e
subjetivas das comunidades universitárias, principalmente se tratando da criticidade do
momento em que a pandemia de Covid-19 tem alterado as condições de funcionamento das
sociedades.
REFERÊNCIAS
BASSO, C.; GRAF, L. P.; LIMA, F. C.; SCHIMIDT, B.; BARDAGI, M. P. Organização de
tempo e métodos de estudo: Oficinas com estudantes universitários. Rev. bras. orientac.
prof, São Paulo, v. 14, n. 2, p. 277-288, dez. 2013.
ČIARNIENĖ, R.; VIENAŽINDIENĖ, M. The Conceptual Model of Time Management.
Mediterranean Journal of Social Sciences. v. 5, n.13, p. 42-48, jun. 2014.
CLAESSENS, B. J. C.; VAN EERDE, W.; RUTTE, C. G.; ROE, R. A. A review of the time
management literature. Personnel Review, v.36, n. 2, p. 255-276, fev. 2007.
LEITE, U. do R.; TAMAYO, Á.; GUNTHER, H. Organização do uso do tempo e valores de
universitários. Aval. psicol., Porto Alegre, v. 2, n. 1, p. 57-66, jun. 2003.
OLIVEIRA, C. T. de; TEIXEIRA, M. A. P.; CARLOTTO, R. C.; DIAS, A. C. G. Oficinas de
Gestão do Tempo com Estudantes Universitários. Psicol. cienc. prof., Brasília, v. 36, n. 1, p.
224-233, mar. 2016.
PELLEGRINI, C. F. de S.; CALAIS, S. L.; SALGADO, M. H. Habilidades sociais e
administração de tempo no manejo do estresse. Arq. bras. psicol., Rio de Janeiro, v. 64, n. 3,
p. 110-129, dez. 2012.

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