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FRATERNIDADE JARAGUAENSE – Nº 3620


Fundada em 20 de Agosto de 2004
Or de Jaraguá do Sul - SC

Jaraguá do Sul (SC), 28 de março de 2019

Ir∴ Edison Orlando Pereira

O LIVRE-ARBÍTRIO

SER UM HOMEM LIVRE É SER UM HOMEM DE LIVRE-ARBÍTRIO?


O tema em questão aparentemente é de fácil compreensão e simples interpretação. Uma vez que,
se admitirmos uma definição pura e simples de que o Livre-Arbítrio consiste em, diante de uma
situação de tomada de decisão optamos pela opção A ou opção B, e a partir daí seremos
responsáveis pelos benefícios ou malefícios da decisão tomada, o assunto se esgota por aqui.
Contudo ao pesquisar com um pouco mais de profundidade sobre o tema, logo percebemos que o
mesmo é bastante amplo, complexo, cheio de dualidades e interpretações, e que por mais que
possamos elencar uma série de definições e pontos de vista, que serão listados abaixo,
dificilmente conseguiremos chegar a uma conclusão definitiva e absoluta.

DEFINIÇÕES FILOSÓFICAS E TEOLÓGICAS

Segundo Jean Staune fundador da Universidade Interdisciplinar de Paris e professor convidado


em duas Universidades Pontifícias em Roma e na Universidade de Shandong, na China. Filósofo
das ciências, trabalhando na encruzilhada entre a filosofia, a teologia, as ciências e a gestão:
O conceito da abdicação parcial da Onipotência em virtude da Criação, na sua simplicidade,
parece apto a responder ao paradoxo invocado a propósito dos atributos de Deus (Deus
Onipotente e Deus Onisciente são conceitos incompatíveis entre si: se Deus, tudo sabe, sabe o
que acontecerá até ao fim da eternidade e então não pode mudar o que vai acontecer; se pode
mudar, não pode saber o que vai acontecer) e, sobretudo, ao entendimento de que só o ateísmo é
compatível com o Livre-Arbítrio, pois a crença no Criador e na Criação implica que aquele, tendo
Criado e podendo Mudar, a seu bel-prazer, tudo determina e, portanto, impede que haja
verdadeiro Livre-Arbítrio.

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Criar não é sinônimo de fabricar. Fabricam-se artefatos, que deverão ser como nós queremos,
enquanto quisermos, como quisermos. O ato da criação implica algo mais profundo, mais
dinâmico: implica que o que criamos não fique sob o nosso absoluto controle, que cresça e evolua
por si, mesmo contra a nossa vontade.

A verdade mesmo, é que não lidamos com verdades absolutas. Como disse o teólogo Walter
Chantry: “Apesar do grande louvor que é dado ao “livre-arbítrio”, temos visto que a vontade do
homem não é livre para escolher um curso contrário aos propósitos de Deus, nem é livre para agir
em contrário a sua própria natureza moral. A sua vontade não determina os acontecimentos de
sua vida, nem as circunstâncias dela. Escolhas éticas não são formadas por um mente neutra, são
sempre ditadas pelo que constitui a sua personalidade.”

Vejamos algumas posições filosóficas sobre a questão envolvendo o livre-arbítrio. Para Espinosa
e Nietzsche, o livre-arbítrio não existe, é uma ficção. Não dá para alguém pensar de modo isento,
isento da própria maneira de ver o mundo e da própria história de vida. 
Erasmo de Roterdã escreveu uma obra chamada “Sobre o Livre-Arbítrio”, onde defendeu que se
erramos, o fazemos por nossa própria opção. Martinho Lutero escreveu o “Servo-Arbítrio”, onde
afirma que Ele tampouco é responsável pelo mal, e o mal deve ser imputado somente ao
homem. Basicamente, retoma a questão da predestinação, que já havia sido exposta por Santo
Agostinho, ou seja, Deus tudo sabe e tudo previu. 

O LIVRE-ARBÍTRIO E A MAÇONARIA

“A Maçonaria autêntica jamais admitiu a interpretação licenciosa ou puramente subjetiva de


qualquer símbolo por ela adotado. Diante de um símbolo, o Maçom não deve portar-se como um
doente num consultório de psicanálise, como também não deve arrastar suas interpretações ao
sabor de suas crenças pessoais.” 
Sendo que o Livre-Arbítrio não se configura propriamente como um símbolo, e sim um
comportamento ou deliberação, talvez esse seja o motivo das contradições e dualidades de

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interpretação da sua real aplicação, seja em Loja, ou na vida profana.

Alguns autores defendem a relação do Livre-Arbítrio com alguns símbolos Maçons, como o
Pavimento Mosaico, representando a dualidade e as possibilidades de escolha.
Definamos dualidade: é a propriedade ou caráter do que é duplo ou que contém em si duas
naturezas, duas substâncias ou dois princípios. Por sua vez, dualismo é: um conceito da filosofia e
teologia, que se baseia em dois princípios ou duas realidades opostas e que são irredutíveis entre
si. 
Com relação aos preceitos do homem, e que podem ser positivos ou negativos, reflete a
polaridade positiva e negativa da natureza, e a dualidade do bem e do mal. Para a  Humanidade,
lado a lado caminham o bem e o mal, a humildade e a vaidade, a busca por uma vida melhor e a
ganância desenfreada.

Partindo para uma outra interligação do livre-arbítrio com preceitos maçônicos - Porquê submeter
a minha vontade? 

O ser humano é emocional e racional, que pode ou não praticar atos em obediência e a um
impulso ou a motivos ditados pela razão.
Entretanto, através do livre-arbítrio o ser humano é livre para ser e fazer o que quiser sem dar
satisfações a ninguém e nem prestar contas a ninguém a não ser a ele próprio. Lógico que
devemos assumir as responsabilidades pelos nossos atos e sofrer as consequências de nossas
más ações. Mas, somos livres, ou achamos que somos livres.
Esta pretensa liberdade é que devemos trabalhar. Na verdade não somos livres, somos escravos
de nossos vícios e de nossas paixões que controlam a nossa vida. Somos escravos do nosso
cotidiano, da rotina estafante do dia-a-dia, de nosso trabalho, do relógio, de nossas famílias, de
nossos amigos e de nossos inimigos, de nossos sonhos, de nossas falsas promessas, do Poder
Constituído, das Leis e da nossa vontade.
Este submeter a minha vontade, não quer dizer submeter a minha vontade, à vontade de outros,
mas, sim submeter a minha vontade à minha vontade. É ter controle sobre minhas emoções e
minha vontade de praticá-las. É fazer minha razão subjugar minha vontade, sujeitando,

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entregando e rendendo-se ao bom senso e à prudência, ponderando minhas ideias, tendo um


raciocínio lógico e juízo perfeito em minhas ações. Ter emoções e vontade saudáveis aprimora o
seu relacionamento consigo mesmo e irradia vida e felicidade ao seu redor.
Então, devemos submeter a nossa vontade, nosso livre-arbítrio praticando boas ações, tendo
bons pensamentos em relação a todos que nos cercam e isto indiretamente a Maçonaria tentará
colocar dentro de cada um de nós, através do desvendar do simbolismo filosófico de nossa ordem.
É submetendo, ou seja, controlando a nossa vontade é que seremos livres dos vícios e das
paixões desregradas.

CONSIDERAÇÕES E NÃO CONCLUSÕES

Conforme citamos no enunciado do trabalho, ora em fase de finalização, o tema Livre-Arbítrio, nos
dá a oportunidade de uma série de reflexões e análises de pontos de vista diferentes sobre um
mesmo tema. Considerando as várias definições acima expostas, quero crer que a difícil tarefa de
exercermos com sabedoria o livre-arbítrio, fica um pouco menos difícil, a partir do momento que
nós Maçons, conseguirmos compreender que a decisão tomada no momento da nossa Iniciação -
ocasião pela qual foi testada por diversas vezes nossa determinação em nos tornamos membros
desta Fraternidade – e que pela nossa livre e espontânea vontade dissemos sim, ao desejo de
sermos apresentados aos augustos mistérios da Maçonaria, nos deu a possibilidade de fazermos
nossas escolhas de forma mais acertada. Pois para o homem dominado por suas paixões,
instintos e vícios, não há livre-arbítrio. Pelo menos não da forma como existe para o homem que
desenvolve suas virtudes.
Mas então podemos concluir, que por sermos homens livres e de bons costumes, temos
autonomia para exercermos plenamente o livre-arbítrio? Creio que não. Pois a definição mais
direta de “ser livre”, significa apenas ser um homem cuja garantias de liberdade ainda lhe são
permitidas. E isso por si só, não lhe garante conhecimento para arbitrar decisões de forma
acertada.
Ser homem livre então, no sentido mais amplo, é aquele que não está limitado por suas crenças
religiosas, preconceitos, pelo fanatismo, e pela ignorância, que impõem a escuridão ao espírito

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daquele que precisa tomar suas decisões?


Ou aprofundando mais, ser livre, não seria aquele homem que conseguiu combater suas paixões,
submeter suas vontades, cavando masmorras ao vício e erguendo templos à virtude, trabalhando
diariamente a tarefa solitária de lapidar sua pedra bruta, ficando assim livre das mazelas do vício?

Se conseguirmos atingir esse nível de lapidação, ou o mais próximo dele possível, e se estivermos
de posse de todas as informações, fatos e dados, sobre o assunto ou decisão a ser tomada,
conseguiremos pensar com mais exatidão, e exercer com mais sabedoria o Livre-Arbítrio.

BIBLIOGRAFIA
- Blog ESTUDOS - Ir∴ Irineu Bianchi – Or∴ de Jaraguá do Sul – SC
- Blog A PARTIR DA PEDRA – Ir∴ Rui Bandeira – Or∴ de Lisboa – Portugal
- Revista Universo Maçônico.

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