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RELATO COMPLETO DAS

EXPERIÊNCIAS
COLÉGIO ARVENSE – BRASÍLIA DF
PROJETO COMER BEM

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1 - Como surgiu o projeto?

O Projeto Comer Bem surgiu em 2005. A Coordenadora Pedagógica viu a necessidade


de ter uma diferença na alimentação da cantina. Então, a partir de 2005, ela tirou refrigerante,
guloseimas em geral. Tudo que até então poderia fazer diferença também relacionada à saúde
ela retirou. Então desde 2005 que a gente vem nesse trabalho de não incluir isso na rotina
escolar das crianças. E não só vender. Não é que a gente não permita, a gente coloca para os
pais que o envio de lanches que saudáveis é a melhor alternativa.

2 - Quanto tempo de existência? E quais os objetivos do projeto?

O Projeto tem 7 anos. Os objetivos que a gente tem principalmente é trazer saúde e
qualidade de vida para as crianças. Não só para as crianças, mas para os funcionários, para os
cuidadores também. A gente envolve também eles porque é um projeto que não é só a escola
que desenvolve. Temos uma parceria com os pais, com os funcionários. Então o principal foco
é qualidade de vida atrelada a uma boa alimentação, principalmente alimentação saudável.
Dentre os outros objetivos que a gente tem esse é mais forte.

3 - A cantina atende todos os alunos da escola?

A gente tem algumas vertentes. Eu tenho, por exemplo, o kit lanchinho, que é um kit
composto por fruta, suco e um carboidrato. Esse cardápio é feito semanalmente. Então toda
semana eu faço um cardápio novo e a gente leva em consideração essas particularidades com
relação a uma boa alimentação. Então tenho, por exemplo, para creche: a gente oferece suco
e fruta. Dependendo, é claro, da condição dessa criança, se ela tem alguma intolerância,
alguma restrição, a gente vai tomar as devidas necessidades em relação a um cardápio
diferenciado. Então a gente atende à creche com essa postura. As crianças maiores do ensino
infantil, até o 5º ano, a gente tem a disponibilidade do kit lanche que é esse: o suco, a fruta e o
carboidrato. Então, por mais que a criança não venha a fazer o lanche da escola, que é um
serviço à parte, eu passo orientando e olhando as lancheiras. Então, o que a gente vende aqui
eu sei o que é; e o que vem de casa a gente também olha. E o que não está de acordo, a gente
tem a postura de dar um retorno para o pai. A gente fala: “ oh, melhora”. A gente tem uma
ação que chama blitz da lancheira. A gente faz isso. É uma das posturas que a gente tem para
dar um retorno para os pais que mandam o lanche para a escola. Então acaba que a gente
atende a todo mundo. O público é da creche até o 5º ano. Com ações diferentes dependendo
do público alvo.

4 - A escola apoia o projeto?

A direção apoia totalmente o projeto. Eu nunca tive nenhum problema ou qualquer 2


atropelo da direção; pelo contrário, ela sempre me apoiou. Tudo que eu falo: “oh, estou
querendo fazendo uma coisa diferente”. A direção se interessa em saber como vai fazer, qual é
o mecanismo, quer saber o custo, né? Porque isso também tem a ver. Em nenhum momento a
direção disse: “não, não vamos fazer”! Pelo contrário: “se você está dizendo, eu apoio
completamente!”. Nem a direção, nem a coordenação, ninguém nunca me deu um sinal
vermelho.

5 - Como foi o processo de mudança da cantina?

Pelo que a gente, conversa foi algo que os pais também acreditaram muito. Então não
foi uma coisa imposta, foi uma coisa de comum acordo, uma ideia da direção com o apoio dos
pais. É claro que a gente não teve apoio de 100%, porque tem alguns pais que ainda acreditam
que o refrigerante, a bolacha recheada, o bolo com cobertura podem trazer um prazer muito
grande, quando na verdade a gente sabe que isso é primeiro passo. Não deveria ser o foco,
mas foi uma coisa que tanto os pais e como a direção chegaram a um comum acordo e
entenderam que essa seria uma postura adequada. Até porque muitos pais daqui buscam isso
e vêm para a escola com essas premissas de que a gente tem um cuidado com o lanche. Até
porque eles também têm em casa. Então eles querem que a escola seja uma extensão do que
é proposto em casa. Então a gente não teve problema. Foi uma ideia que surgiu, os pais
acolheram e a gente tem até hoje essa postura.

6 – Como foi a receptividade/retorno dos estudantes e familiares?

Os pequenos respondem conforme a gente estimula. À medida que a gente estimula


de uma forma educativa, colorida, divertida, diversificada, eles respondem da melhor maneira
possível. Os maiores, a partir do 1º ano e 2º ano, já querem ter o poder de escolha, de decidir
o que vai comprar e o que vai comer. Eles nem sempre olham com bons olhos. Às vezes a
gente precisa ter um pouco mais de cuidado e de cautela de trabalhar melhor isso com eles,
para que eles venham a aceitar. É claro que hoje a gente não tem 100% da escola e dos alunos
que fazem o consumo de frutas in natura ou de sucos de frutas, mas é uma coisa que a gente
trabalha arduamente, sempre, todos os dias. Seja eu, seja a professora, seja a pessoa que
trabalha na cantina, a gente sempre estimula e sempre trabalha, principalmente com os
maiores. Com os menores nem tanto.

7 - Quais foram as principais dificuldades enfrentadas?

Eu acho que uma educação mesmo. Entender que isso é um benefício. Que hoje é uma
restrição - alguns entendem até como uma proibição-, mas que é um benefício. Então eu acho
que isso se enxerga em longo prazo. Não é uma coisa rápida: você deixa de tomar um
refrigerante hoje e passa sentir amanhã a diferença. É uma coisa que é em longo prazo. Até
porque o corpo tem um mecanismo. É uma máquina, mas não é uma máquina imediatista. Ela
demanda um pouco de tempo. Então eu acho que a dificuldade que a gente teve em alguns 3
momentos foi essa de querer um resultado para ontem. Tem pai que fala: “Ah, meu filho não
come frutas”. A gente vai estimular, a gente vai mostrar para ele a importância, mas sabemos
que não é uma coisa que do dia pra noite. Só que quanto mais a gente estimula, melhor é o
resultado, e ele perdura por mais tempo. Não é uma coisa imediatista e acabou e pronto.

8 - Hoje você considera a cantina da escola saudável?

Considero. Em virtude de muitas... que a gente tem... Mas a gente procura sempre
melhorar. Hoje eu tenho uma gama de sucos de caixinhas, muito grande, porque ainda eu não
consegui manter um maquinário e pessoas para fazer in natura toda a gama de sabores que eu
tenho da caixinha. Mas eu tenho pelo menos duas opções de sucos in natura. Durante o dia eu
tenho a opção do suco in natura, com ou sem açúcar, e tenho a opção da caixinha. É claro que
a gente estimula que eles optem pelo natural. Eu considero uma cantina saudável, mas a gente
quer sempre que melhore. A gente sempre enxerga muita coisa para ser melhorada. Por isso, a
gente sempre procura trazer coisas novas. Eu sempre procuro ver com os meninos o que eles
estão comendo e que a gente não oferece, se é possível a gente oferecer isso. Então eu
considero saudável, mas a gente quer sempre mais, sempre melhorar!

9 - Quais ações estão sendo utilizadas para manter a cantina saudável?

Na cantina, a gente tem algumas posturas: salgado é só o assado. O suco eu tenho as


opções in natura, com ou sem açúcar, e tenho a opção na caixinha. Tenho a opção, por
exemplo, de doces. O que a gente chama de doces é: barra de cereal, bananinha, banana
passas e um chocolate meio amargo, com 0% de açúcar e gordura. Essas são as opções. Então,
na verdade, na cantina eu sei o que está vendendo. Se aparecer um chiclete, um pirulito ou
uma balinha, eu sei que não é daqui, veio de casa. Aí a ação em contrapartida à da cantina é
olhar o que veio de casa. Então eu faço uma ronda diariamente, no horário do lanche, e passo
olhando o que eles estão comendo. As professoras têm também esse canal aberto de chegar e
dizer assim: “olha, semana passada mesmo apareceu um refrigerante”. Aí ela já veio e me
falou: “olha, apareceu isso”. A gente faz um formulário que a gente chama de blitz, e eu envio
para os pais, colocando que é uma opção que precisa ser revista, que não é a proposta da
escola. Então as ações que a gente tem são essas. E diariamente eu estou olhando. E em
contrapartida, a gente tem os aniversariantes do mês. Uma vez ao mês, eles se reúnem com os
aniversariantes do mês e fazem um lanche coletivo. Esse lanche coletivo eu também olho o
cardápio, analiso a proposta que eles colocam. Precisa passar pela minha aprovação, vamos
dizer assim. Então eles sentam e falam o que eles querem: “ah, a gente quer biscoito”. Aí eu
falo: “biscoito o quê? Biscoito recheado?”. Aí eu falo: “recheado não. Vamos colocar um
biscoito simples, um biscoito integral”. Aí eu autorizo. Caso contrário, não. Outra ação para
estimular e fiscalizar é a hora da fruta. Então todos os dias dentro grade curricular deles tem
essa hora da fruta, que são 15 minutos. Eles vão lá, pegam as frutas da lancheira, partilham as
frutas, sentam em uma roda e todo mundo prova a fruta de todo mundo. Um trouxe mexerica,
outro trouxe banana, outro trouxe maçã, goiaba... Então a diversidade é muito grande. Fora 4
isso... Aliás, com tudo isso, a gente tem também a questão dos pais. A gente procura sempre
mandar para eles materiais, reportagens, discussões. Eu sempre coloco esse canal aberto, para
os pais trazerem novidades, pra gente também colocar para eles novidades. Isso sempre
acontece. Nas datas festivas, por exemplo, dia das mães, a gente sempre estimula. As meninas
sempre colocam uma dinâmica que envolva a alimentação. Então as mães vêm fazer um bolo
com eles, as mães vêm fazer biscoitos, e assim sucessivamente. Exceto festividades, como por
exemplo, festa junina, é quando a gente tem realmente um refrigerante. É uma coisa que o pai
tem a disponibilidade para comprar, mas a gente também tem à disposição o suco. Então ele
pode escolher entre o refrigerante e o suco.

10 - Quais são as dificuldades ainda enfrentadas hoje?

Acho que essa questão de ser imediatista ainda é uma coisa que perdura. As pessoas
querem milagre. Na minha visão não existe milagre. É um trabalho de formiguinha, do dia-a-
dia, de estimular. E também não é só um trabalho da escola. A gente não está sozinho: se a
gente estimula aqui, em casa também precisa ser estimulado. A gente sabe que no dia-a-dia,
na rotina, às vezes o pai ou a mãe não têm tempo. Ou alguém que fica com a criança, ou fica
com a babá, e às vezes a gente sabe que falta até conhecimento de julgar o que é bom ou ruim
para ele. Se ele está comendo um biscoito: “ah, que bom que está comendo”. Mas não precisa
ser um biscoito recheado, pode ser um simples. Então a questão de ser imediatista é uma coisa
que a gente tem que trabalhar muito ainda.

11 - Quais são os resultados do projeto?

Na verdade, a avaliação que a gente tem é quase que diária acerca das crianças que
entraram aqui conosco, que não faziam o uso de frutas ou não consumiam, e hoje estão
consumindo. Então a gente tem um retorno deles. Quando eu passo para olhar, para fazer a
ronda deles, a gente sabe quem come, já comia, ou quem come porque está aprendendo a
comer agora. Então acaba que é um resultado diário, e aí eu consigo enxergar isso todos os
dias. Ou eles mesmos ou os próprios pais sempre dizem: “meu filho está comendo fruta, não
comia antes”. Então acaba que é diário.
12 – O que você recomenda para outras escolas, e donos (as) de
cantinas escolares para manter uma cantina que ofereça alimentos
adequados e saudáveis?

O primeiro passo é querer a mudança. Acho que não deve ser uma coisa só que a
sociedade impõe ou que “ah, para minha escola ser uma escola bonitinha ela tem que ter uma
cantina assim ou assado”. Parte muito dessa questão do querer. A partir do momento que a
gente quis que fazer a diferença.... Mas que essa diferença não deveria ser entendida como
uma diferença, e sim como uma coisa normal. Porque a gente sabe que uma alimentação
saudável é uma coisa que tem que ser normal, que não é uma diferença. Acaba que nos
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tornamos uma referência por algo diferente, mas a gente entende como algo normal. É normal
que eu não ofereça balinha, chiclete, guloseimas na cantina. Para nós é normal. Então o
primeiro passo é querer essa mudança. E segundo eu acho que é persistir, não é uma coisa que
todo mundo olha com bons olhos. Mas se a pessoa que está ali está disposta e entende que é
para o beneficio, acho que anda muito bem. E acho que o terceiro ponto é ter uma boa
equipe, um bom profissional treinado dentro de uma cozinha, capaz de entender que uma
fritura pode atrelar realmente um prato gostoso, mas que não é a melhor opção. Eu não estou
proibindo a cozinheira de fazer uma fritura, mas eu estou colocando para ela que a melhor
opção é não usar a fritura. Então eu acho que ter uma boa equipe - e hoje eu tenho -, tanto na
cozinha, quanto na direção e na coordenação, é fundamental. Então eu acho que esses três
pontos são bem importantes.
CENTRO EDUCACIONAL CCI
SAMAMBAIA – DF

1 - Como surgiu a experiência da Cantina Saudável?

Em função de uma suposta lei que iria acontecer. Preocupado com meu negócio,
percebi que tal lei iria me levar à falência, e tudo que eu tinha investido poderia ser perdido.
Então fui até uma reunião para a qual foram convocados vários donos de lanchonete escolar,
com a presença de políticos envolvidos na questão. Então confirmei que queriam proibir a
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venda de balas, doces, refrigerante, frituras, ou seja, tudo que eu vendia. Aí fiquei indignado e
procurei os outros proprietários de lanchonete que estavam no local, pois se tratava de
grandes escolas naquela época. Eu fui, de certa forma, até ignorado, pois percebi que a briga
era para os ‘grandes’. Como na época o CCI era pequeno, eles nem me deram atenção. Aí me
lembrei daquele ditado popular: “se não pode com eles, então junte-se a eles”. Então procurei
as coordenadoras do Projeto A Escola Promovendo Hábitos Alimentares Saudáveis e me
coloquei à disposição. Aí aconteceu de tudo, mas percebi que não eram mudanças radicais,
mas sim um novo hábito de vida, o qual hoje seria uma realidade.

2 – Existe algum projeto vinculado à Cantina Saudável? Se sim, qual? E


quais os objetivos?

Na verdade a escola tem uma grande preocupação em relação à alimentação das


crianças e desenvolve em sala de aula vários projetos. Dentre eles, até uma cozinha
experimental foi criada na escola.

3 – A cantina atende todos os alunos da escola?

Ela é disponível para todos. Mas como em todo comércio, as pessoas são livres para
suas escolhas.

4 – A escola apoia a Cantina saudável?

Sim, sempre tivemos apoio. Até acredito que não pode ser maior em função de alguns
pais mesmo.
5 – Como foi o processo de mudança da cantina?

Lento, de ano a ano, e ainda percebemos que são muito difíceis as mudanças, mas
também necessárias.

6 – Como foi a receptividade/retorno dos estudantes e familiares com


relação à cantina saudável?

Para alguns pais foi ótimo, e para outros foi indiferente. Para os alunos, acredito que
em longo prazo foi bom, mas de imediato eles ficaram meio que contra. Mas também criamos
outro público na lanchonete: o das lancheiras, que passaram a consumir na lanchonete. 7

7 – Quais foram as principais dificuldades enfrentadas com a


implantação da Cantina Saudável?

As compras e a manipulação de alimentos, pois passamos a fazer muitas coisas. Era


fácil ter salgadinhos, ter promotores e demonstradores de produtos. Os lucros eram até
maiores. Mas por outro lado, era terrível entregar a uma criança um pastel pingando óleo e o
copo de refrigerante.

8 – Hoje você considera a Cantina da Escola 100% saudável?

Não totalmente, em função do local e de problemas que tivemos na frente da escola.


Quando não estávamos vendendo mais balas e frituras tivemos que recuar, pois percebemos
que outras pessoas aproveitaram para vender na porta da escola estes produtos. Mesmo
assim, somos uma cantina saudável, pois oferecemos acesso à alimentação com maior
controle. Não trabalhamos com frituras, damos a opção de saladas de frutas, refeições
balanceada, sucos naturais e muito mais...

9 – Quais ações estão sendo utilizadas para manter a cantina saudável?

Exposição de produtos mais saudáveis em primeiro plano e participação em eventos,


com divulgação em reuniões dos pais no início do ano.

10 - Quais são as dificuldades ainda enfrentadas hoje?

Preços, pois produtos melhores sempre têm maior custo, e mão de obra para preparo.
11 – Quais são os resultados da Cantina Escolar Saudável?

Acredito que é recompensador poder (1) deitar e ter consciência de que estamos
trabalhando para o futuro, e (2) sermos remunerados também, pois na atual situação
financeira do mundo podemos gerar emprego e podemos trabalhar para conseguirmos nosso
sustento e estabilidade futura.

12 – Comente sobre o impacto financeiro, em termos de venda e de


custos?

No primeiro momento, teve uma queda, pois percebemos que perdemos cliente. Mas 8
começamos a conseguir novos clientes, mais estáveis, pois são pessoas conservadoras e com
opiniões formadas, diferente de cliente de propaganda de TV. Hoje me sinto mais satisfeito
com esse trabalho em todos os sentidos.

13 – O que você recomenda para outras escolas, e donos (as) de


cantinas escolares para manter uma cantina que ofereça alimentos
adequados e saudáveis?

Parceria, pois uma coisa realmente depende da outra. E não adianta a escola ter a
semana da alimentação sem ela mesma acreditar que realmente vale a pena manter uma vida
sadia. Hoje já se percebe que a promoção de uma boa alimentação é a melhor maneira de
termos pessoas, no futuro, mais saudáveis e produtivas, gerando economia aos cofres públicos
e criando uma melhor qualidade de vida. Acredito que a proibição é errada. A sugestão e a
oferta de variedades saudáveis em uma lanchonete seria a melhor saída. Hoje chegamos a
uma lanchonete e são sempre exibidos os mesmos lanches e sem muitas opções saudáveis.
Sendo assim, seria interessante ter os dois e trabalhar a consciência sobre uma alimentação
melhor. E para os donos de cantinas: fiquem tranquilos, pois seus lucros não vão cair, e sim
aumentar! Mas como nem tudo é maravilha, inclusive seu trabalho, como tempo será
lucrativo, basta saber administrar. E quanto aos donos de escola, acredito que o sucesso seria
assim: “o capinar é individual, mas a colheita é coletiva”, frase usada pela direção do colégio.
ESCOLA CASTANHEIRA – SANTANA DO PARNAÍBA SP
CANTINA DO RESTAURANTE BEDIN
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1 - Como surgiu a experiência da Cantina Saudável?

Desde a implantação da escola, já foi pensado e projetado uma cantina que estivesse
de acordo com uma proposta saudável, sendo que os itens alimentares escolhidos estavam de
acordo com a legislação vigente (PORTARIA INTERMINISTERIAL Nº 1.010 DE 8 DE MAIO DE
2006) e com as ideias sustentáveis discutidas com a coordenação da escola e professores.

2- Existe algum projeto vinculado a Cantina Saudável? Se sim, qual? E


quais os objetivos?

Temos toda uma preocupação com os projetos escolares, que visam agregar valor e
conscientização para as crianças, professores e equipe escolar. No terceiro ano do ensino
fundamental 1, foi planejada uma aula pela nutricionista junto ao professor de educação física
que visa atender as dúvidas e abordar junto aos alunos sobre as condutas saudáveis na escola
e ao seu cotidiano. Algumas séries do fundamental 2, podem agendar com a equipe da cozinha
e a nutricionista uma visita para conhecer os procedimentos técnicos de produção das
refeições, assim acabam entendendo melhor a rotina dos funcionários, para a preparação de
cada item alimentar projetado no cardápio. Os pais também podem participar desse projeto,
participando efetivamente da rotina alimentar de seus filhos, consumindo da mesma refeição
servida no Buffet. Para as crianças que permanecem em período integral, temos um projeto
muito interessante que desperta o interesse gastronômico, sendo que no momento do lanche,
eles degustam alimentos crus, orgânicos, funcionais de uma forma lúdica, colorida e criativa.
Temos uma horta e composteira, utilizamos os restos de cascas de frutas e legumes que são
separadas na cozinha e depois encaminhamos para um local apropriado para fazer a
compostagem. Após essa técnica, o húmus é colocado para enriquecer a terra utilizada na
horta.

3- A cantina atende todos os alunos da escola?

A cantina foi projetada por uma equipe de arquitetos para atender os alunos, equipe
escolar e aos pais. Sendo que os alimentos ficam expostos para que possamos incentivar os
alunos em escolhas mais saudáveis.
4 - A escola apoia a Cantina saudável?

Queremos que o nosso ambiente escolar seja um local educativo. Além de


proporcionar aos alunos opções mais saudáveis, nutritivas e sustentáveis, para que eles
futuramente não sofram de patologias associadas a uma má alimentação e sedentarismo.

5 - Como foi o processo de mudança da cantina?

A equipe de direção e comissão de pais cultiva um grande envolvimento nos projetos


de reavaliação e atualização da cantina, mantendo uma padronização do serviço.
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6 - Como foi a receptividade/retorno dos estudantes e familiares com
relação à cantina saudável?

Há uma grande receptividade dos alunos e pais com a formatação do serviço de


cantina, sendo que a cada momento estamos apresentando novidades para manter o
interesse do consumo. Nossa última implantação foram os sucos sustentáveis que são servidos
através das garrafas de vidros retornáveis.

7 - Quais foram as principais dificuldades enfrentadas com a


implantação da Cantina Saudável?

Como os alunos não podem fazer uso de dinheiro para a compra dos itens alimentares,
a escola inicialmente utilizou de cartelas que hoje foram substituídas por cartões de consumo,
onde os pais podem ter mais acesso ao que os alunos consomem. Entretanto estamos na
implantação desse novo sistema. Em relação à introdução de novos alimentos, como açaí,
salada de frutas e cereal com iogurte, percebeu-se uma baixa aceitação pelos alunos, mas
diariamente estamos estimulando o visual desses produtos para que haja um consumo
saudável.

8 - Hoje você considera a Cantina da Escola 100% saudável?

Percebemos que o consumo familiar ainda interfere nas escolhas saudáveis que
oferecemos na cantina, pois alguns alunos preferem consumir chocolates (30g), sorvetes ao
invés de frutas e barras de cereais. Essa é a grande meta das cantinas escolares, mas sabemos
que esses alimentos fazem parte da rotina alimentar deles.

9 - Quais as ações estão sendo utilizadas para manter a cantina


saudável?

A comissão de pais se reúne na escola semanalmente e um dos assuntos que sempre


participa da nossa pauta é alimentação dos filhos. Essas reuniões influenciaram algumas
mudanças positivas na cantina.
10 - Quais são as dificuldades ainda enfrentadas hoje?

A confiança e a receptividade por parte de pais e alunos já está bem consolidada entre
a cantina e equipe da cozinha.

11 - Quais são os resultados da Cantina Escolar Saudável?

Proporcionamos através de uma alimentação saudável, nutritiva e sustentável uma


melhora na qualidade de vida dos alunos.
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12 - O que você recomenda para outras escolas, e donos (as) de
cantinas escolares para manter uma cantina que ofereça alimentos
adequados e saudáveis?

Sabemos que a integração do aluno com equipe da cantina é fundamental para


obtermos escolhas mais saudáveis. Assim o funcionário poderá contribuir positivamente na
alimentação dessas crianças através de algumas dicas, um comentário, uma atenção especial
contribuindo com o bem estar do aluno. Sempre é bom ressaltar que devemos escolher os
itens alimentares com consciência, sendo que devemos restringir o consumo dos refrigerantes,
sucos artificiais e refrescos à base de pó industrializado, salgadinhos e pipocas industrializadas,
biscoitos recheados, salgados e doces e guloseimas.
ESCOLA DA FAZENDA – FLORIANOPOLIS - SC
COZINHA PEDAGÓGICA CÉU DA BOCA

A Cozinha Pedagógica Céu da Boca surgiu da iniciativa de duas professoras de Línguas


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apaixonadas pela gastronomia que resolveram encampar um projeto que unisse alimentação e
educação. Assim, mais que uma cantina, adotamos o conceito de Cozinha Pedagógica, pois
vemos o ato de alimentar-se como um amplo espaço de aprendizado prático: aprender a
comer, a cozinhar, a conviver, a fazer escolhas.

Assim nasceu o Projeto, com os objetivos de:

- Instalar na Escola da Fazenda uma cozinha ativa e pedagógica, ambiental e


socialmente comprometida, através da produção de alimentos caseiros e utilização de
ingredientes selecionados com critérios, valorizando a produção local e artesanal;

- Conciliar a proposta pedagógica da Escola da Fazenda com a prestação dos serviços


de alimentação aos estudantes e à equipe pedagógica;

- Oferecer uma alimentação equilibrada e difundir práticas de bons hábitos


alimentares entre os estudantes, equipe pedagógica e famílias;

- Promover atividades curriculares que integrem bons hábitos alimentares a conceitos


de sustentabilidade e conhecimentos das diversas disciplinas trabalhadas em sala de
aula.

- Desenvolver a percepção do alimento envolvendo todos os sentidos e cultivar o


prazer da alimentação;

- Resgatar valores de afetividade e ludicidade no ato de alimentar-se coletivamente;

- Aproximar o estudante do processo de produção do alimento, desenvolvendo sua


autonomia e seu interesse pelo que come;

- Tornar a alimentação um ato consciente e integrado com a valorização e preservação


do meio ambiente, dentro do conceito de sustentabilidade.

O berço do Projeto foi a Escola da Fazenda, que já trazia em sua Proposta Pedagógica à
alimentação coletiva e saudável, que atendesse a todos os estudantes e equipe pedagógica.
Assim, contamos com o apoio e o entusiasmo da escola na implantação da nova cozinha. O
lanche coletivo, já presente na escola, ganhou qualidade e principalmente uma dimensão
pedagógica, trazendo para a sala de aula discussões sobre alimentação, saúde e qualidade de
vida – conhecimentos que estimulam as práticas saudáveis. Vale lembrar que as ações sempre
têm as professoras e professores como parceiros, o que consideramos de fundamental
importância.
Vemos na educação alimentar, múltiplas possibilidades de estabelecer relações
interdisciplinares no currículo escolar. A cozinha é uma rica unidade pedagógica, para discutir
Geografia e História, excelente ponto de partida ou chegada para produções textuais e
atividades de letramento, indiscutível laboratório para Ciências e Matemática, e até mesmo
palco para as Artes.
Tudo isso pode ajudar a remover barreiras de preconceitos e fazer com que a criança
coma de tudo. Ajudando o estudante a discernir o que é bom e o que é ruim, verde e maduro,
aceitando críticas, conversando sobre o cru e o cozido, o fresco e o podre; ensinando que, ao 13
ler o código de validade, estaremos fazendo um trabalho de enorme importância. Ensinar
principalmente o privilégio de é ter uma “boca curiosa”, pronta a abarcar o mundo, criativa e
brincalhona.
A produção do lanche e do almoço é feita na própria escola e de maneira artesanal,
buscando uma alimentação livre dos artifícios de corantes, conservantes, estabilizantes ou
aromatizantes. Introduzimos no cardápio diário do estudante, uma refeição que sempre traz a
combinação de uma fruta in natura, um suco natural ou iogurte ou leite e um prato (livre de
fritura, embutidos, açúcar ou sódio excessivos), produzido poucas horas antes do seu
consumo.
Com a produção artesanal do lanche, o estudante passa a habituar-se ao sabor do
próprio alimento (e não do saborizante), mas nem sempre é uma tarefa fácil. E é com as
bebidas que encontramos as maiores dificuldades de aceitação. O paladar, muitas vezes
acostumado aos sucos e achocolatados açucarados do mercado, reluta ao encontrar um suco
natural ou leite com cacau, por exemplo. Após muitas tentativas de habituar o paladar das
crianças, foram necessárias algumas mudanças nos planos iniciais: o cacau foi o campeão de
rejeição (hoje é usado apenas em bolos e cookies) e a quantidade de açúcar nos sucos ainda é
maior do que julgamos ideal.
Entendemos que o cardápio deve ser saudável, mas nunca radical ou impositivo. Para
garantir uma boa aceitação do lanche, constantemente fazemos pesquisas entre as crianças e
adolescentes, famílias e equipe pedagógica para reformular o cardápio, buscando um
equilíbrio entre o gostoso e o saudável.
Não somos exatamente uma cantina, no sentido de que o lanche não é comprado
diariamente. No início do ano as famílias escolhem por participar do lanche coletivo pagando
uma anuidade ou adquiri-lo esporadicamente ou ainda trazendo o seu lanche de casa, desde
que respeitado o padrão exigido pela Escola (nada de refrigerante, fritura, salgadinhos tipo
chips, balas e guloseimas similares). Temos adesão de aproximadamente 95% dos estudantes
na anuidade. Durante nossa trajetória, a questão financeira realmente impactou em algumas
mudanças. Diante da oscilação do mercado de produtos alimentícios, e de nosso preço
estabelecido anualmente, nosso desafio é compatibilizar o orçamento "congelado" à variação
de preços imposta pelo mercado. Assim, estamos em constante replanejamento tentando
conciliar o que é mais saudável com aquilo que cabe em nosso orçamento. O ideal para nós, o
100% saudável, seria, por exemplo, servir frutas e verduras orgânicos, servir apenas arroz
integral, usar exclusivamente açúcar mascavo ou demerara, mas precisamos fazer adequações
buscando manter a proposta de servir alimentos saudáveis, dentro daquilo que é possível
praticar com o valor de custo de nossas refeições.

O trabalho realizado pela parceria entre a Cozinha Céu da Boca e a Escola da Fazenda
já resultou em algumas mudanças de hábitos por parte dos estudantes. Conquistamos uma
excelente aceitação de pães integrais, saladas no sanduíche (começamos com a escolha de um
tipo com três vegetais, hoje todos os sanduíches levam as três variedades) e frutas (calculamos
o consumo diário de aproximadamente 200g por estudante). Comendo bem, nossas crianças e
adolescentes passaram ilesos por surtos de gripes e tem baixíssimo índice de obesidade,
cercam de 1,5%.
Ainda restam desafios a superar. Adequar a proposta e os cardápios à particularidades 14
(inclusive de gostos) ainda é uma dificuldade quando se trata de uma proposta de lanche
coletivo, em que o cardápio diário é partilhado por pessoas com hábitos e paladares diversos.
Concorremos com os hábitos trazidos de casa e os propagados pela indústria de alimentos,
que investe pesado em propagandas que conquistam a atenção dos jovens consumidores. Por
isso é essencial que haja uma grande parceria entre a cozinha, a escola e as famílias em prol do
consumo de alimentos saudáveis. Consideramos que, para dar continuidade ao trabalho
realizado na escola e para torná-lo efetivo, é imprescindível que hábitos sejam incentivados,
valorizados e adotados pelas famílias.

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