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TÉCNICAS DE

EXPRESSÃO E COMUNICAÇÃO I | 51069

TIPOS DE TEXTOS

Classificar textos

Classificar um texto consiste em identificar nele uma ou mais


propriedades e, por via desse reconhecimento, em inseri-lo numa dada classe
prevista na classificação em causa. De facto, no seio de cada classificação,
considera-se um ou mais critérios que permitem aproximar alguns textos
(inserindo-os na mesma classe) e afastar outros (inserindo-os em classes
distintas). Assim, cada classificação difere das outras quer pelos critérios que
são usados, quer pelas classes que são previstas.

Classificações textuais (ou tipologias textuais)

Existem, então, múltiplas classificações textuais, ou seja, modos de


categorizar os textos de acordo com propriedades diversas que podem ser
consideradas para os caracterizar. Entre elas, destacam-se as seguintes:

a) classificação em modos literários: aplica-se exclusivamente a


textos literários e inclui um número reduzido de classes, geralmente apenas
três: lírica, narrativa, drama;

b) classificação em tipos de discurso: agrupa os textos produzidos por


indivíduos que desempenham tarefas no seio de uma dada área de atividade
socioprofissional (como jornalismo, política, justiça, religião, investigação e

1
ensino superior, literatura e publicidade, entre outras); integra classes como
discurso jornalístico, político, jurídico, religioso, científico-académico,
literário, publicitário, etc.;

c) classificação em géneros: inclui um número elevado e indeterminado


de classes, sejam géneros literários – como o romance, o conto, o soneto, a
tragédia, etc. –, ou géneros específicos (ou não) de outras áreas de atividade
socioprofissional – como a notícia, a reportagem, o decreto-lei, a ata, o
despacho, o sermão, a carta, a mensagem de correio eletrónico, etc.;

d) classificação em tipos de textos: constitui uma classificação


fechada1 e inclui um número reduzido de classes, geralmente até cinco:
narrativo, descritivo, argumentativo, expositivo, instrucional;

e) classificação em tipos de sequências textuais: a proposta de Adam


(1992) foi inspirada na classificação em tipos de textos e constitui, de igual
modo, uma classificação fechada, pelo que também contempla um número
reduzido de classes: narrativo, descritivo, argumentativo, explicativo,
dialogal.

Outras classificações textuais (ou, mais especificamente, oposições


entre duas classes de textos) podem ser consideradas:

f) a distinção poesia-prosa, que é pertinente considerar no caso dos


textos literários;

g) a distinção informativo-opinativo, operatória em contextos como


o do discurso jornalístico.

1
Diz-se que uma classificação textual é fechada quando não é possível que, ao longo
dos tempos, novas classes venham a integrá-la ou que outras classes venham a ser
descartadas. Uma classificação textual é aberta sempre que seja possível incorporar
novas classes ou quando sucede que algumas deixem de ser usadas. Nesse sentido,
pode dizer-se que as classificações em modos literários, em tipos de textos e em
tipos de sequências textuais são fechadas, e as classificações em tipos de discurso e
em géneros são abertas.

2
Uma das classificações mais frequentemente adotadas em contexto
didático é a que incide nos tipos de textos. Para ficar a conhecer de forma
sistemática a tipologia proposta por Werlich (1983) – que é possivelmente a
mais (re)conhecida classificação em tipos de textos –, interessa responder a
questões como as seguintes:
− o que são tipos de textos (segundo Werlich, 1983)?
− quais são os tipos de textos previstos nessa classificação?
− que critérios são usados para identificar e distinguir os tipos de textos?
− que propriedades se associa a cada tipo de texto?
Nas secções seguintes, reflete-se sobre estas questões e apresenta-se
textos que são exemplares de cada um dos tipos contemplados na
classificação de Werlich (1983).

O que são tipos de textos?

Os tipos de texto são categorias textuais que configuram modelos


abstratos de explicitação e estruturação de conteúdos; estes modelos servem
quer para orientar a produção de cada novo texto, quer para ajudar o
leitor/ouvinte a interpretar os conteúdos de modo mais eficaz, pelo
reconhecimento do tipo em que o texto se insere (Werlich, 1983, p. 39).
Ao produzir um novo texto, os sujeitos falantes adotam (de forma
consciente ou intuitiva) uma ordenação particular dos conteúdos. Desse
modo, textos com diferentes ordenações das ideias manifestadas inserem-se
em diferentes classes desta classificação, ou seja, em diferentes tipos de
textos. Além disso, nos textos de cada um dos tipos previstos, geralmente
predominam propriedades linguísticas específicas, como adiante se verá.
A importância de se conhecer os diversos tipos de textos e as suas
propriedades decorre de ser relevante os estudantes tomarem consciência do
tipo de texto que são solicitados a escrever em contexto académico. Assim,
poderão redigir textos que estejam em conformidade com o que se espera e
exige, isto é, textos académicos adequados ao contexto em que são
produzidos e em que circulam; neste sentido, ganham particular relevo as
respostas que os estudantes redigem em provas de avaliação e os textos que
elaboram em diversos trabalhos escritos. A maior ou menor adequação
depende, em grande parte, da seleção, estruturação e articulação dos

3
conteúdos manifestados nos textos de cada tipo e nos mecanismos
linguísticos usados em cada um deles.

Quais são os tipos de textos previstos na classificação de Werlich


(1983)?

A tipologia de tipos de textos que é provavelmente a mais conhecida foi


proposta por Werlich (1983) e prevê cinco tipos:
− narrativo
− descritivo
− argumentativo
− expositivo
− instrucional2.

Que critérios são usados para identificar e distinguir os diversos tipos


de textos?

Segundo Werlich (1983, p. 39-41), os dois principais critérios que


permitem distinguir os diversos tipos de textos consistem na finalidade
comunicativa visada pelo autor do texto3 e nos mecanismos cognitivos
subjacentes à produção textual. Os objetivos que se pretende atingir com os
textos e os processos ativados nas mentes dos sujeitos falantes para os
produzir constituem, respetivamente um critério de natureza pragmática e
um critério de natureza cognitiva.
Todavia, na superfície textual nem sempre são explicitados os objetivos
pretendidos pelo seu autor. E os mecanismos cognitivos ativados em cada
indivíduo não estão, evidentemente, acessíveis no texto. É a análise de
propriedades textuais (ou seja, explicitamente manifestadas nos textos) que
possibilita a identificação quer daqueles objetivos, quer destes mecanismos.
Parece ser necessário, por isso, contemplar dois outros critérios que
contribuem para a identificação, caracterização e distinção entre os tipos de

2
O texto instrucional também é, por vezes, designado texto injuntivo.
3
Werlich (1983, p. 39) refere-se ao “foco contextual” de cada tipo de texto. Esta
designação pode ser interpretada como a finalidade que o autor do texto visa atingir
num dado contexto (em que se dirige a determinados interlocutores – investidos de
papéis socioprofissionais específicos –, em que se abordam certos temas, etc.)

4
textos: a estruturação dos conteúdos no texto e as propriedades
linguístico-textuais. Estes critérios são de natureza eminentemente
textual; ao contrário dos outros (objetivo comunicativo e mecanismo
cognitivo predominante), são identificados no texto, e não meramente
deduzidos com base na análise de propriedades textuais.

Que propriedades se associa a cada tipo de texto?

Os textos de um dado tipo evidenciam regra geral propriedades que os


aproximam. Por um lado, dizem respeito aos conteúdos manifestados e aos
modos como se encontram ordenados e articulados nos textos. Por outro
lado, certos mecanismos linguísticos tendem a ocorrer de forma
predominante nos textos de um dado tipo, mas não nos de outro tipo – a este
propósito, destacam-se o uso de tempos verbais e de conectores. De
qualquer modo, Werlich (1983) destacou como principais critérios de
identificação e distinção dos tipos de texto que propôs o foco contextual de
cada tipo (ou a finalidade que com ele se pretende atingir) e o mecanismo
cognitivo subjacente à sua produção.
São esses dois critérios que a tabela n.º 1 sistematiza.

Tabela n.º 1 – Objetivos e mecanismos cognitivos


associados a cada tipo de texto

Tipo de texto Finalidade Mecanismo cognitivo


Explicitar eventos Perceção dos acontecimentos
Narrativo
cronologicamente ordenados no tempo
Caracterizar uma dada Perceção das entidades no
Descritivo
entidade espaço
Convencer ou persuadir os Avaliação e tomada de posição
Argumentativo
destinatários do autor
Compreender e/ou fazer Análise e síntese de
Expositivo
compreender representações conceptuais
Recomendar ou prescrever
Instrucional comportamentos futuros dos Planificação de eventos futuros
destinatários

5
É conveniente referir também que um texto (em particular, se se trata
de um texto extenso) pode não ser exclusivamente de um dado tipo. Dito de
outro modo, cada texto pode integrar excertos de diversos tipos4. Assim, num
texto narrativo, podem ocorrer segmentos de tipo descritivo, argumentativo
ou expositivo, por exemplo. Num texto argumentativo, pode narrar-se um
episódio para ilustrar a tese que se defende (ou seja, ele pode integrar um
segmento de tipo narrativo). Diz-se, por isso, que os textos são, na maior
parte dos casos, predominantemente narrativos e não exclusivamente
narrativos5.
Nas secções seguintes, serão sistematizadas as principais propriedades
textuais geralmente associadas aos textos dos tipos indicados por Werlich
(1983) e serão apresentados exemplos de cada um deles.

Textos narrativos
Os textos narrativos têm como objetivo explicitar um conjunto de
eventos cronologicamente ordenados. Desse modo, subjaz-lhes o mecanismo
cognitivo de perceção dos acontecimentos no tempo.
A ocorrência de formas verbais de pretérito perfeito simples e de
adverbiais temporais é mais frequente em textos deste tipo. Constata-se
também que, neles, predomina a referência a eventos que se sucedem
cronologicamente e são quase sempre localizados num período de tempo
anterior àquele em que o texto é produzido. Estas propriedades fundamentam
a ocorrência frequente, por um lado, de formas verbais de pretérito perfeito
simples (coocorrendo com formas de pretérito imperfeito e de pretérito mais
que perfeito) e, por outro lado, de adverbiais temporais, que servem para
localizar as situações denotadas quer no eixo do tempo, quer umas
relativamente às outras.

4
Esta constatação esteve na origem da proposta de uma classificação em
sequências textuais, inspirada na classificação em tipos de textos. De acordo com
o autor que a propôs (Adam, 1992), os textos integram geralmente sequências de
diversos tipos, ainda que um deles predomine em relação aos outros.
5
Considera-se geralmente que há três maneiras de identificar que tipo predomina
num dado texto: i) o tipo que ocorre nos excertos com que se inicia e termina o texto
é frequentemente o tipo dominante; ii) o tipo mais extenso ao longo do texto é
geralmente o que predomina; iii) quando se sumaria um texto, o resumo obtido
revela geralmente o tipo dominante, porque é ele próprio predominantemente
narrativo, descritivo, argumentativo, etc. Cf. Adam (2005, p. 177-179) e Silva (2012,
p. 130).

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Outras propriedades que podem ser associadas a este tipo foram
sistematizadas por Adam (1992), incidindo a sua atenção não sobre o
conceito de tipo de texto, mas sobre o de sequência textual. De qualquer
modo, as suas propostas podem ser acolhidas no que diz respeito ao que se
tem designado nesta exposição por textos narrativos (ou textos de tipo
narrativo).
De acordo com este autor, as sequências narrativas caracterizam-se por
seis propriedades interligadas: i) a unidade temática pode ser entendida
como o facto de os conteúdos manifestados se desenrolarem em torno de
uma ou mais personagens; ii) observa-se, de igual modo, que as situações
referidas (eventos e estados) se sucedem temporalmente e iii) que há
relações de causalidade entre elas; além disso, iv) entre os momentos inicial
e final da intriga narrativa, há uma transformação de predicados, o que
equivale a dizer que a situação final é diferente da situação inicial da
narrativa; estas três propriedades conjugadas permitem concluir que v) os
conteúdos narrados configuram um processo; por fim, vi) de um texto
narrativo, pode-se extrair ou inferir uma avaliação, ensinamento ou lição de
moral.
O excerto seguinte constitui um exemplo de texto narrativo.

Excerto extraído de Amor de perdição, de Camilo Castelo Branco

E este amor era singularmente discreto e cauteloso. [Teresa e Simão]


Viram-se e falaram-se três meses, sem darem rebate à vizinhança e nem
sequer suspeitas às duas famílias. O destino que ambos se prometiam era o
mais honesto: ele ia formar-se para poder sustentá-la, se não tivessem
outros recursos; ela esperava que seu velho pai falecesse para, senhora sua,
lhe dar, com o coração, o seu grande património.
Espanta discrição tamanha na índole de Simão Botelho, e na presumível
ignorância de Teresa em coisas materiais da vida, como são um património!
Na véspera da sua ida para Coimbra, estava Simão Botelho despedindo-
se da suspirosa menina, quando subitamente ela foi arrancada da janela. O
alucinado moço ouviu gemidos daquela voz que, um momento antes,
soluçava comovida por lágrimas de saudade. Ferveu-lhe o sangue na cabeça;
contorceu-se no seu quarto como o tigre contra as grades inflexíveis da jaula.
Teve tentações de se matar, na impotência de socorrê-la. As restantes horas
daquela noite passou-as em raivas e projetos de vingança. Com o amanhecer
esfriou-lhe o sangue, e renasceu a esperança com os cálculos.

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Quando o chamaram para partir para Coimbra, lançou-se do leito de tal
modo transfigurado, que sua mãe, avisada do rosto amargurado dele, foi ao
quarto interrogá-lo e despersuadi-lo de ir enquanto assim estivesse febril.
Simão, porém, entre mil projetos, achara melhor o de ir para Coimbra,
esperar lá notícias de Teresa, e vir a ocultas a Viseu falar com ela.
Ajuizadamente discorrera ele; que a sua demora agravaria a situação de
Teresa.
Descera o académico ao pátio, depois de abraçar a mãe e irmãs, e beijar
a mão do pai, que para esta hora reservara uma admoestação severa, a ponto
de lhe asseverar que de todo o abandonaria se ele caísse em novas
extravagâncias. Quando metia o pé no estribo, viu a seu lado uma velha
mendiga, estendeu-lhe a mão aberta como quem pede esmola, e, na palma
da mão, um pequeno papel. Sobressaltou-se o moço; e, a poucos passos
distante de sua casa, leu estas linhas:

"Meu pai diz que me vai encerrar num convento por tua causa. Sofrerei
tudo por amor de ti. Não me esqueças tu, e achar-me-ás no convento, ou no
céu, sempre tua do coração, e sempre leal. Parte para Coimbra. Lá irão dar
as minhas cartas; e na primeira te direi em que nome hás de responder à tua
pobre Teresa".

A mudança do estudante maravilhou a academia. Se o não viam nas


aulas, em parte nenhuma o viam. Das antigas relações restavam-lhe apenas
as dos condiscípulos sensatos que o aconselhavam para bem, e o visitaram
no cárcere de seis meses, dando-lhe alentos e recursos, que seu pai lhe não
dava, e sua mãe escassamente supria. Estudava com fervor, como quem já
dali formava as bases do futuro renome e da posição por ele merecida,
bastante a sustentar dignamente a esposa. A ninguém confiava o seu
segredo, senão às cartas que enviava a Teresa, longas cartas em que folgava
o espírito da tarefa da ciência. A apaixonada menina escrevia-lhe a miúdo, e
já dizia que a ameaça do convento fora mero terror de que já não tinha medo,
porque seu pai não podia viver sem ela.
Isto afervorou-lhe para mais o amor ao estudo. Simão, chamado em
pontos difíceis das matérias do primeiro ano, tal conta deu de si, que os lentes
e os condiscípulos o houveram como primeiro premiado.

Castelo Branco, Camilo, Amor de perdição. Disponível em


https://www.wattpad.com/897450590-amor-de-perdi%C3%A7%C3%A3o-1862-
cap%C3%ADtulo-ii/page/2

Em conformidade com o que foi anteriormente referido, vale a pena


sublinhar a ideia de que este excerto constitui um texto predominantemente
narrativo e não exclusivamente narrativo. De facto, pode-se reconhecer

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segmentos de tipo descritivo (com destaque sublinhado), como “este amor
era singularmente discreto e cauteloso”, “daquela voz que, um momento
antes, soluçava comovida por lágrimas de saudade”, “a apaixonada menina”
ou “pontos difíceis das matérias”. Esta constatação reitera o conhecido
preceito segundo o qual é possível descrever sem narrar, mas não é possível
narrar sem que haja um mínimo de descrição.
Alguns textos do género anedota adotam a estrutura de textos
narrativos curtos, quando manifestam eventos que se sucedem no tempo. É
o caso do exemplo seguinte.

Texto disponível na página web Anedotas para rir

Ia um homem a estrear o seu carro novo quando viu um indivíduo de


bicicleta ao longe na estrada. Para lhe mostrar que o carro andava muito
depressa, acelerou e passou por ele a 120 Km/hora. Diminuiu a velocidade
um pouco mais à frente e foi ultrapassado pelo ciclista também a 120
Km/hora. Surpreendido, o homem acelerou de novo e ultrapassou o ciclista,
desta vez a 140 Km/hora, mas, mais à frente, foi novamente ultrapassado.
Intrigado, o homem parou o carro. Surpresa das surpresas, o ciclista passou
por ele, desta vez em marcha à ré a 140 Km/hora. E continuou a passar para
trás e para a frente, diminuindo gradualmente a velocidade, até parar junto
ao homem do carro. Disse então o ciclista:
− Posso tirar o suspensório que ficou preso na maçaneta da porta?

Página web Anedotas para rir. Disponível em https://www.anedotas.rir.com.pt/

Textos descritivos
Os textos de tipo descritivo dependem do processo cognitivo de
perceção das entidades no espaço e visam caracterizar uma dada entidade
(pessoa, animal, objeto, edifício, paisagem, etc.). Para tal, concretizam
movimentos como i) nomear essa entidade, ii) indicar as suas propriedades
e iii) listar as partes em que pode ser segmentada, além de se iv) proceder
à sua localização no espaço e/ou no tempo e, eventualmente, v) compará-la
com outras entidades.
Cada parte da entidade descrita pode, por sua vez, ser objeto de
descrição, num processo recursivo; por exemplo, se o objeto da descrição
global é um edifício, a descrição pode incidir em cada um dos vários andares

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que o constituem; cada andar, por seu turno, pode ser globalmente
caracterizado e segmentado em compartimentos (quartos, salas, etc.); cada
um dos compartimentos pode, novamente, ser caracterizado e segmentado
em partes (mobiliário, janelas, etc.); e assim sucessivamente.
Nestes textos, predomina geralmente o uso de formas verbais do
presente do indicativo ou do pretérito imperfeito. Também é comum os
conteúdos descritos apresentarem-se ordenados de tal forma que adotam
movimentos como os seguintes:
− das características físicas para as características psíquicas (no caso
de um retrato) ou vice-versa;
− do geral para o particular ou vice-versa;
− do maior para o menor ou vice-versa;
− do que está em cima para o que está em baixo ou vice-versa;
− do que está à esquerda em direção ao que está à direita ou vice-
versa;
− do que está em frente em direção ao que está atrás ou vice-versa.

Os dois textos seguintes constituem exemplos de textos


predominantemente descritivos. Merece ser destacado que, no primeiro
excerto, predominam as formas verbais de pretérito imperfeito (“era
conhecida”, “tinha”, “competia”, “provinha”, “distinguiam”), enquanto, no
segundo, são mais recorrentes as formas de presente do indicativo, quer na
voz ativa (“são”, “ocupa”, “possui”, “existe”, “comunica”, etc.), quer na voz
passiva (“é constituído”, “é completado”, “é revestida”, etc.).

Excerto extraído de Os Maias, de Eça de Queirós

A casa que os Maias vieram habitar em Lisboa, no Outono de 1875, era


conhecida na vizinhança da Rua de S. Francisco de Paula, e em todo o bairro
das Janelas Verdes, pela Casa do Ramalhete, ou simplesmente o Ramalhete.
Apesar deste fresco nome de vivenda campestre, o Ramalhete, sombrio
casarão de paredes severas, com um renque de estreitas varandas de ferro
no primeiro andar, e por cima uma tímida fila de janelinhas abrigadas à beira
do telhado, tinha o aspeto tristonho de residência eclesiástica que competia
a uma edificação do reinado da senhora D. Maria I: com uma sineta e com
uma cruz no topo, assemelhar-se-ia a um colégio de Jesuítas. O nome de
Ramalhete provinha decerto de um revestimento quadrado de azulejos

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fazendo painel no lugar heráldico do Escudo de Armas, que nunca chegara a
ser colocado, e representando um grande ramo de girassóis atado por uma
fita onde se distinguiam letras e números de uma data. […]

Queirós, Eça de (s/d). Os Maias. Episódios da vida romântica.


Edição Livros do Brasil, p. 5

Texto disponível na página web Edifício Parada Leitão (Porto)

O edifício é constituído por cave, RC, primeiro e segundo andar. Todos


os pisos são morfologicamente diferentes, havendo muitos pontos de
coincidência entre o rés-do-chão e o 1º andar.
A cave ocupa uma área de implantação inferior aos restantes pisos.
Possui três compartimentos distintos tendo dois deles janelas, que neste
momento se encontram entaipadas. Além dos três compartimentos existe
uma rampa em pedra que comunica com um dos vãos que ligavam essas
casas a uma antiga viela.
O RC já não conserva a integridade da composição octogonal
organizadora dos espaços presentes no 1º e 2º andar, mas deixa ainda
perceber a coerência formal do projecto inicial da casa. Possui 5
compartimentos distintos, um dos quais de geometria circular. Uma escada
complementar, com acesso independente remata as traseiras. Esta escada
foi um acrescento posterior à construção e apenas serve o 2º andar.
No 1º andar um hall central de forma octogonal emoldurado por
carpintarias trabalhadas faz a distribuição para os três compartimentos
principais, todos eles com fogões de sala em ferro fundido. À semelhança do
RC existe um compartimento redondo com tectos trabalhados com três vãos
que ligam a uma varanda em pedra. O piso é completado por compartimentos
de serviço mais pequenos nas traseiras.
Em termos organizacionais a planta do 2º andar assemelha-se à do 1º,
com o hall central de forma octogonal rematado por uma clarabóia. Neste
piso os compartimentos são mais reduzidos havendo uma maior
compartimentação dos espaços. Para além do acesso vertical que serve todos
os pisos, existe um segundo na parte posterior que apenas serve este andar.
A fachada é revestida por azulejos de bisel, de 7,5x 15,5 de cor
bordeaux, dispostos horizontalmente e contrafiados. Elementos estruturais e
compositivos da fachada em granito enquadram os panos de parede revestida
a azulejo. Toda a parte redonda do edifício é em cantaria, bem como o
envasamento, pilastras, faixas, cornijas e a varanda do primeiro andar.
Duas clarabóias em ferro, infelizmente muito degradadas, rematam o
volume complicado dos telhados e permitem a iluminação da caixa de escadas
e da zona central do edifício. Interiormente essas clarabóias apresentam rica
decoração em estuques.

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A cobertura da varanda de remate superior da construção é suportada
por esbeltas escoras de ferro, rematadas por florões de três pétalas em
chapa.
O varandim da varanda superior do edifício é constituído por uma
platibanda de granito que alterna espaços cheios com espaços de balaustrada
aberta.

Página web Edifício Parada Leitão. Disponível em


https://edificioparadaleitao.wordpress.com/projecto/descricao-do-edificio/

Apresenta-se, a seguir, uma imagem da fachada do edifício sobre o qual


se incidiu a atenção no excerto anterior, para que se possa visualizar melhor
o objeto da descrição.

Imagem 1 – Fachada do edifício Parada Leitão (Porto)


(disponível em: http://www.nve.pt/pt/projects/praca-parada-de-leitao.html)

Textos argumentativos
Os textos deste tipo assentam no mecanismo cognitivo de avaliação e
tomada de posição do locutor. Quando produz um texto argumentativo, o
sujeito falante pretende convencer ou persuadir os seus destinatários.
Assim, entre as características deste tipo de textos constam os
movimentos retóricos que consistem na apresentação de dados – que servem
de argumentos –, os quais permitem extrair uma dada conclusão (ou mais

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do que uma). Deste modo, cada texto argumentativo inclui um ou mais
movimentos retóricos que consistem na relação entre vários argumentos e
uma ou mais conclusões. Convencer os interlocutores de que a tese que o
autor defende é mais válida do que outra(s) tese(s) alternativa(s) constitui o
principal objetivo do autor de textos argumentativos.
A ordem de apresentação dos argumentos e das conclusões no texto
determina dois movimentos diferentes:

− o movimento progressivo observa-se sempre que, no texto, os


argumentos são manifestados em primeiro lugar e só depois a conclusão,
segundo o esquema seguinte:
argumentos − logo → conclusão

− o movimento regressivo dá-se sempre que, no texto, se explicita a


conclusão em primeiro lugar e só depois os argumentos, de acordo com o
esquema seguinte:
conclusão ← porque − argumentos

Em textos argumentativos académicos (ou seja, produzidos no âmbito


do ensino superior), é conveniente que sejam manifestados no texto
argumentos a favor da tese que o autor defende, mas também a favor da
tese que se lhe opõe. Por exemplo, se, num texto argumentativo, se defende
a ideia de que deve haver legislação que prescreva a existência de quotas
visando promover a paridade entre homens e mulheres em cargos públicos,
o autor deve também expor argumentos que sustentem a tese contrária: a
de que não deve haver tais quotas. A tarefa do autor do texto consiste em
demonstrar que os argumentos que apoiam a tese que defende são mais
fortes e, por isso, mais válidos do que os argumentos que sustentam a tese
oposta.
Os excertos seguintes constituem exemplares de textos jornalísticos
predominantemente argumentativos.

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Excerto extraído do editorial “A luta contra o tempo na guerra da Ucrânia”,
Manuel Carvalho

Estrategas militares, analistas políticos e, obviamente, o Presidente da


Ucrânia referem a cada passo a resistência que os invasores russos estão a
enfrentar. Em 2014, a Crimeia foi anexada e as parcelas orientais do Donbass
conquistadas após um passeio. Agora, a batalha pela Ucrânia é marcada pelos
obstáculos que o gigante russo enfrenta em Mariupol, em Karkhiv (Carcóvia)
ou em Kiev. Se esses obstáculos estavam previstos nos planos do Kremlin,
ou se são uma surpresa que tende a reforçar o moral ucraniano, as opiniões
divergem. O que parece certo é que o conflito militar será apenas a primeira
parte de uma longa guerra entre a Ucrânia e o Ocidente contra a Rússia.
Há sinais que nos chegam das frentes e lições da História que nos
ajudam a perceber esse cenário. Em 1941, na colossal Operação Barba Ruiva
que a Alemanha nazi lançou contra a União Soviética, bastaram dois meses
e meio até que Kiev caísse. Doze dias de operações militares é, por isso,
pouco tempo para se perceber o que está em causa. Os russos pararam nos
subúrbios das grandes cidades, mas a bacia do mar negro está quase toda
sob controlo e, de acordo com as expectativas de peritos militares ocidentais,
a queda de Kiev pode estar por dias […]

Carvalho, M. A luta contra o tempo na guerra da Ucrânia. Público (09.03.2022).


Disponível em: https://www.publico.pt/2022/03/08/mundo/editorial/luta-tempo-
guerra-ucrania-1998100

Neste excerto, o autor começa por expor a tese segundo a qual a invasão
da Ucrânia por soldados russos, em fevereiro de 2022, enfrentou uma
inesperada resistência. E essa ideia é reforçada pelo argumento de que, em
2014, quando a Crimeia foi anexada pela Rússia, não houve grande oposição
(militar ou mesmo político-diplomática) por parte dos ucranianos.
Depois, apresenta uma outra tese: a de que este conflito militar constitui
apenas uma parte de um conflito mais duradouro (militar ou não) entre a
Ucrânia e o Ocidente, por um lado, e a Rússia, por outro. E expõe dados
(neste caso, históricos, relativos a acontecimentos que se deram durante a
segunda guerra mundial) que parecem apoiar essa tese: em apenas dois
meses e meio, os soldados nazis tomaram Kiev, mas a guerra estendeu-se
por cerca de seis anos. Além disso, segundo o autor, mesmo que a Rússia
não venha a controlar militarmente toda a Ucrânia, terá o seu vizinho
dominado (e, neste caso, o leitor plausivelmente pode inferir que isso

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implicará não deixar os ucranianos decidirem livremente sobre as opções de
adesão à União Europeia e à NATO).

Excerto extraído do artigo “Radiografia às diferenças salariais entre homens


e mulheres”, de Maria João Marques

[…] As desigualdades e injustiças que caem sobre as mulheres têm a


característica irritante da persistência.
Um repetente é o diferencial salarial entre homens e mulheres. Em
Portugal, subiu de 10,9% para 11,4% em 2021, graças à pandemia. Número
conservador, ainda assim. Sara Falcão Casaca, num estudo que coordenou,
englobando também os prémios e os pagamentos de horas extraordinárias,
concluiu termos um gap salarial de 21% entre homens e mulheres.
Nos vários anos que venho pesquisando sobre o tema, ganhei uma
convicção: os salários não pagam o trabalho, pagam o trabalhador. O
trabalho não é pago consoante a produtividade (na maioria dos casos é
impossível medir a produtividade efetiva de cada trabalhador e o seu quinhão
para o sucesso global de uma empresa ou organização), mas sim dependendo
do valor social do trabalhador. Como as mulheres são socialmente menos
valorizadas do que os homens ganham menos. Claro que uma mulher
altamente escolarizada ganha mais do que um homem sem diferenciação
escolar ou técnica – mas também porque socialmente está uns patamares
acima. […]

Marques, M. J. Radiografia às diferenças salariais entre homens e mulheres. Público


(09.03.2022). Disponível em:
https://www.publico.pt/2022/03/09/opiniao/opiniao/radiografia-diferencas-
salariais-homens-mulheres-1998080

Neste trecho predominantemente argumentativo, a autora apresenta


duas teses. A primeira consta do início do excerto: persistem no tempo as
desigualdades e as injustiças de que as mulheres são alvo (em comparação
com os homens). E são apresentados dados (ou argumentos) que apoiam
esta tese: o diferencial salarial, em vez de se ter reduzido no ano anterior,
aumentou.
A segunda tese que defende consiste na afirmação segundo a qual o
salário paga o trabalhador e não o trabalho efetivamente realizado. Para
sustentar esta tese, expõe o argumento de que o valor social do trabalhador
está indexado a fatores como o sexo (homem ou mulher) e o nível de
escolaridade.

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Em todos os casos apresentados nos dois excertos, expõe-se a tese em
primeiro lugar, e só depois os argumentos que a fundamentam. Nesse
sentido, os vários movimentos retóricos atestados são de tipo regressivo.

Textos expositivos
Os textos expositivos visam manifestar conteúdos para que o
interlocutor fique a conhecer um pouco mais acerca do tema abordado.
Dependem do processo cognitivo de análise e síntese de representações
conceptuais.
Nem sempre é fácil distinguir textos argumentativos de textos
expositivos. Por exemplo, quanto às propriedades textuais que evidenciam,
a ocorrência de formas verbais de presente do indicativo e de conectores
lógico-causais é comum em textos de tipo argumentativo e expositivo. Assim,
pode ser necessário recorrer a ouros critérios para diferenciar os textos
destes dois tipos. Nesse sentido, pode-se considerar o objetivo pragmático
que o autor procura atingir. Com os textos argumentativos, procura-se
fundamentalmente avaliar e julgar, influenciando as opções do interlocutor,
isto é, convencendo-o acerca de algo ou persuadindo-o a agir de uma
determinada maneira. Contrastando com esta intenção, os textos expositivos
têm como principal objetivo fazer com que o interlocutor compreenda algo,
instruí-lo acerca de um dado tema. A finalidade visada é, então, um dos
critérios que permite diferenciar os textos de cada um destes dois tipos.
Os excertos seguintes constituem exemplares de textos
predominantemente expositivos.

Excerto extraído do artigo “Elefante”, da Wikipédia

[…] Ao longo da história, os elefantes foram utilizados pelo Homem para


várias funções, como transporte, entretenimento e guerra. Os elefantes de
guerra foram uma peça táctica importante antes da generalização da
artilharia, principalmente nos exércitos de Cartago e do Império Aqueménida.
O general Aníbal considerava os animais excelentes para os combates
militares, embora não apresentassem resistência ao frio. Foi através de
Alexandre, o Grande que os elefantes de guerra chegaram ao Ocidente, em
325 a.C.
Apesar destes usos, o elefante não é um animal doméstico, na medida
em que não é criado em cativeiro. Quase todos os elefantes ao serviço do

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Homem foram ou são animais domados, isto é, nascidos em liberdade e
adaptados às várias funções. Os motivos da falta de sucesso da domesticação
dos elefantes incluem as despesas elevadas de manutenção, o longo período
de gestação e crescimento e o temperamento por vezes violento destes
animais. É por causa da sua personalidade que a grande maioria dos animais
domados são fêmeas; em contrapartida, elefantes de guerra eram (e, ainda
hoje, normalmente são) exclusivamente machos. […]

Elefante. Wikipédia. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Elefante

Este trecho constitui um exemplar de texto expositivo, na medida em


que facilmente se deduz que o seu principal objetivo consiste em informar ou
instruir o leitor acerca de algo que ele pode não saber relativamente ao
animal que constitui o tema do artigo dessa enciclopédia.

Excerto extraído do artigo “Coração”, da Wikipédia

[…] O coração atua de forma semelhante a uma bomba hidráulica,


fazendo com que o sangue circule no sistema cardiovascular de forma
contínua. O sistema cardiovascular divide-se em dois circuitos distintos: a
circulação pulmonar, que transporta o sangue para os pulmões onde se dão
as trocas gasosas, e a circulação sistémica, que fornece sangue a todos os
órgãos do corpo, incluindo aos pulmões e ao próprio coração.
O coração esquerdo irriga a circulação sistémica, bombeando sangue
arterial rico em oxigénio para a maior artéria do corpo, a artéria aorta. A
aorta ramifica-se em inúmeras artérias que levam o sangue a todas as células
do corpo. Nas células, o sangue liberta oxigénio e nutrientes e recolhe dióxido
de carbono e outros resíduos metabólicos. O sangue venoso, pobre em
oxigénio, regressa ao coração pelas veias.
O coração direito irriga a circulação pulmonar. A aurícula direita recebe
o sangue venoso da circulação sistémica, pobre em oxigénio. Daí passa para
o ventrículo direito, onde é bombeado para a artéria pulmonar e entra na
circulação pulmonar. Nos pulmões, o sangue liberta o dióxido de carbono e
recebe o oxigénio inalado pelo sistema respiratório. O sangue rico em
oxigénio regressa então ao coração esquerdo pelas veias pulmonares. Entra
pela aurícula esquerda e daí passa para o ventrículo esquerdo, onde é
novamente bombeado para a circulação sistémica, repetindo-se o ciclo. As
válvulas cardíacas fazem com que o sangue flua em sentido único e ajudam
a manter a pressão necessária. […]

Coração. Wikipédia. Disponível em:


https://pt.wikipedia.org/wiki/Cora%C3%A7%C3%A3o

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Também este excerto configura um exemplo de texto expositivo, dado
que visa atingir a mesma finalidade: informar acerca do modo como se
processa a circulação sanguínea no corpo humano. Mas, à semelhança do que
já foi anteriormente observado, o excerto inclui segmentos que podem ser
considerados descritivos (como “O sistema cardiovascular divide-se em dois
circuitos distintos: a circulação pulmonar […] e a circulação sistémica […]”) e
narrativos (“A aurícula direita recebe o sangue venoso da circulação
sistémica, pobre em oxigénio. Daí passa para o ventrículo direito, onde é
bombeado para a artéria pulmonar e entra na circulação pulmonar. Nos
pulmões, o sangue liberta o dióxido de carbono e recebe o oxigénio inalado
pelo sistema respiratório. O sangue rico em oxigénio regressa então ao
coração esquerdo pelas veias pulmonares”).
Por isso se diz que o texto é predominantemente expositivo, e não
exclusivamente expositivo. Recorrer à finalidade comunicativa visada pelo
autor do texto pode ser indispensável para que se identifique adequadamente
o tipo em que um dado texto se insere. Neste caso, por exemplo, o principal
objetivo pretendido consiste em fazer com que o interlocutor compreenda
algo acerca de um dado tema (a circulação sanguínea), e não propriamente
explicitar eventos cronologicamente ordenados (como seria no caso de se
tratar de um texto de tipo narrativo) ou caracterizar uma dada entidade
(como seria no caso de se tratar de um texto de tipo descritivo).

Textos instrucionais
Os textos instrucionais dizem respeito à antevisão de comportamentos
futuros do interlocutor: sugerem, aconselham, recomendam ou prescrevem
o que o destinatário poderá ou deverá fazer para atingir uma determinada
finalidade. Subjaz-lhes o mecanismo cognitivo de planificação.
Os textos deste tipo visam uma finalidade prática, que consiste em
auxiliar o leitor a concretizar uma determinada tarefa ou adotar uma
determinada atitude. Por isso, expressam indicações que, em muitos casos,
devem ser seguidas numa ordem sequencial (por exemplo, nas instruções de
montagem de mobiliário, nas receitas de culinária ou no de uso de certos
produtos, como champôs, cremes, medicamentos, etc.). Muitas vezes, quer
o leitor do texto, quer o tempo em que as tarefas são concretizadas são
indeterminados (o que significa que quem escreve o texto pode não saber

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exatamente a que indivíduo específico se está a dirigir, nem em que momento
serão concretizadas as tarefas indicadas). Além disso, as formas verbais
predominantes possuem valor ilocutório diretivo (ou seja, aconselham,
recomendam ou prescrevem indicações que o leitor deverá seguir); trata-se,
geralmente, de formas verbais do imperativo, do presente do conjuntivo
(com valor de imperativo), do presente do indicativo (frequentemente com
sujeito indeterminado) ou do infinitivo não flexionado; tanto as formas de
presente do indicativo como as de presente do conjuntivo ocorrem
flexionadas na 3.ª pessoa do singular.
Nas alíneas seguintes, ilustra-se com exemplos a ocorrência destas
formas verbais:

a) “Carrega os caixotes na carrinha e leva-os à estação dos comboios.”


(imperativo flexionado na 2.ª pessoa do singular)

b) “Nunca desmonte o produto nem a bateria. […] Não toque nos


terminais de recarga.” (presente do conjuntivo flexionado na 3.ª
pessoa do singular)

c) “Coloca-se a carne num tabuleiro e tempera-se com sal, 1,5 dl do


azeite, o vinho branco, a folha de louro e um pouco de pimentão-
doce. Depois, leva-se ao forno pré-aquecido a 160º C durante cerca
de 1 hora.” (presente do indicativo, com sujeito indeterminado,
flexionado na 3.ª pessoa do singular)

d) “Depois de lavar e escorrer o cabelo, esfregar com um pouco de


champô anticaspa, pondo água quente até obter espuma. Enxaguar.
Repetir a operação.” (infinitivo não flexionado)

Os dois excertos que se seguem constituem exemplos de textos


instrucionais.

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Excerto extraído do
Manual de instruções do aspirador robot Rowenta

NORMAS DE SEGURANÇA IMPORTANTES


Importante: As seguintes normas de segurança destinam-se a evitar
situações de perigo através da utilização segura e correcta do
produto.
Aviso: O não seguimento das instruções pode causar a morte ou
ferimentos graves.
Segundo aviso: O não seguimento das instruções pode causar
ferimentos graves ou danos materiais. Após ler as instruções,
guarde-as num local seguro, acessível a todas as pessoas que
utilizem o aparelho.

Aviso: Não modifique nem desmonte


Nunca desmonte o produto nem a bateria, ou os modifique, a menos que seja
um técnico de reparações autorizado (se o fizer pode provocar um incêndio
ou uma avaria).

Colocar o cabo de alimentação


Certifique-se de que o cabo de alimentação não está a ser comprimido por
um objecto pesado e que não está em contacto com objectos pontiagudos
(tal pode provocar um incêndio ou um choque eléctrico).
Não toque nos terminais de recarga.
Não toque nos terminais de recarga localizados na base de carregamento e
no corpo principal do aparelho. Afaste quaisquer objectos metálicos (hastes
de metal, tesouras, etc.) dos terminais de recarga (se não o fizer pode
provocar um choque eléctrico ou uma avaria).

Carregar apenas o robot


Nunca utilize a bateria, o adaptador ou a base de carregamento para qualquer
outro produto que não o robot ROWENTA (se o fizer pode provocar um
incêndio ou uma avaria).
Proibido introduzir elementos estranhos
Não coloque qualquer tipo de líquido, a lâmina de uma faca, pionés, etc. no
adaptador, na base de carregamento ou no corpo principal do robot (se o
fizer pode danificar o robot).
Não utilize o aparelho em locais perigosos
Não utilize o robot no chão molhado ou perto de objectos perigosos ou frágeis
como uma vela ou copo de vidro (se o fizer pode provocar um incêndio ou
danificar o robot).

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Paragem de emergência
Se o produto produzir um som ou odor estranho, ou fumo, desligue
imediatamente o interruptor principal de modo a evitar um incêndio ou danos
no robot).
Não coloque materiais inflamáveis perto do robot. Não coloque materiais
inflamáveis como gasolina, diluentes, etc., ou agentes químicos fortes como
detergentes, produtos de casa de banho, bebidas, etc. junto ao corpo
principal do robot (se o fizer pode provocar um incêndio ou danificar o robot).

Manuseamento da ficha
Não manuseie a ficha do adaptador com as mãos molhadas e segure-a bem
quando a retirar da tomada (não puxe pelo cabo). Quando retira a ficha do
adaptador, segure o corpo principal evitando o contacto com partes metálicas
(se não o fizer pode provocar um choque eléctrico).
Nota: Ligue à entrada de alimentação do carregador antes de ligar à tomada
de CA da parede.

Risco de quedas
O robot ROWENTA está equipado com sensores inteligentes de detecção de
espaço vazio que o impedem de cair. No entanto, podem ocorrer situações
nas quais os sensores de espaço vazio são menos eficientes, por exemplo,
junto de extremidades de escadas redondas, quando existem carpetes junto
a escadas, em superfícies escorregadias e quando os sensores estão
obstruídos. […]

Manual de instruções do aspirador robot Rowenta, pp. 91-92. Disponível em


https://dam.groupeseb.com/m/4e62aec049d34325/original/NC00903124-IFU.pdf

Excerto extraído do Folheto informativo:


Informação para o utilizador ben-u-ron® 500 mg cápsulas paracetamol

[…] Como tomar ben-u-ron


Tome este medicamento exatamente como está descrito neste folheto, ou de
acordo com as indicações do seu médico ou farmacêutico. Fale com o seu
médico ou farmacêutico se tiver dúvidas.
A dose recomendada depende da idade e do peso corporal. ben-u-ron 500
mg cápsulas destina-se a administração oral em adultos (incluindo idosos) e
crianças, com idade igual ou superior a 12 anos.
O intervalo entre as doses é de 6 a 8 horas. Se necessário o intervalo pode
ser de, pelo menos, 4 horas, não devendo ultrapassar as 6 cápsulas diárias.

Dose máxima diária


A dose máxima diária de Paracetamol não deve exceder 3 g/dia. O
paracetamol (acetaminofeno) é um componente frequente de vários

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medicamentos em associação. Ao tomar outros medicamentos que
contenham paracetamol, tenha em atenção para não ultrapassar a dose
máxima diária.

Duração do tratamento
A não ser por indicação do médico, ben-u-ron não deve ser tomado durante
mais de 3 dias, nem em doses elevadas. Se os sintomas se agravarem ou
persistirem mais de 3 dias, deve consultar o seu médico.

Modo e via de administração


Via oral. As cápsulas devem ser engolidas com uma quantidade suficiente de
líquido, preferencialmente um copo de água (200 ml). A administração após
as refeições pode atrasar o início do efeito analgésico de ben-u-ron. […]

Folheto informativo: Informação para o utilizador ben-u-ron® 500 mg cápsulas


paracetamol, p. 4. Disponível em https://ben-u-ron.pt/wp-content/themes/ben-u-
ron/dist/images/folhetos/500/ben-u-ron_500mg_ca%CC%81psulas_FI.pdf

Referências bibliográficas

Adam, J.-M. (1992). Les textes: types et prototypes. Nathan.

Silva, P. N. (2012). Tipologias textuais: Como classificar textos e sequências.


Almedina/CELGA.

Werlich, E. (1983). A text grammar of English. 2nd ed. Quelle & Meyer.

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