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Ficha de trabalho - Gramática

PORTUGUÊS |12.º ANO


Preparação Exame Nacional

Lê o texto.

Só faço a mala à última hora. Nos dias anteriores a uma grande viagem, tento resolver uma
enorme quantidade de assuntos que, com frequência, estavam por tratar há meses. Tento arrumar
tudo, até a consciência, e partir tranquilo. Normalmente, consigo fazê-lo. Soluciono burocracias
acumuladas, organizo gavetas, escrevo e-mails aborrecidos que andava a adiar e que, durante esse
5 tempo, pareciam crescer em tamanho, em número e em aborrecimento.
Nessa vertigem, não tenho consciência daquilo que me espera à distância de horas. A mente,
ocupada com a obsessão de eliminar problemas antigos, não se liberta a conceber a viagem que
começará em breve. Mesmo a fazer a mala, ainda não estou consciente da enorme transformação
que está prestes a acontecer. Mantenho uma noção simultaneamente teórica e prática daquilo que
10 planeio: número de dias, calor/frio, necessidades específicas. Assim, escolho roupa e objetos, entalo
meias nos espaços livres.
As partidas. Saio do táxi e tudo segue uma rotina: ver no placard eletrónico qual o balcão do
check-in certo, caminhar a um ritmo certo, pedir para me arranjarem um lugar que não seja no meio,
e guardo sempre o bilhete e os documentos no mesmo sítio, e sigo sempre a mesma ordem na
15 máquina dos metais. Tenho sempre um livro para ler. Com ele, espero junto ao portão de embarque.
Quando a voz do altifalante avisa que vai começar o embarque, não tenho pressa.
Sei que chegaremos todos ao mesmo tempo. Entro no avião com o pé direito, sento-me e, só
nesse momento, começo a fantasiar sobre o destino para o qual me dirijo. Faço-o durante toda a
viagem.
20 Miami, Pequim, Moscovo. Antes de levantar voo, mas já com o cinto apertado, tinha ideias
sobre cada uma dessas cidades. Nesse tempo agora irrepetível, acreditava nessas ideias com
firmeza, eram uma realidade que tinha como base leituras, filmes, conversas e uma enorme
quantidade de suspeitas que, em última análise, refletiam a minha visão do mundo. Só concebia
aquilo que era capaz de conceber. A minha experiência passada era muito importante para traçar
25 essas fronteiras, mas aquilo que eu imaginava tinha noção da necessidade de transcender essa
experiência. Não sou capaz de garantir que fosse capaz de fazê-lo. Com base nesse conhecimento,
a escolha destes três destinos teve como eixo a vontade de testemunhar três ângulos essenciais da
contemporaneidade política e civilizacional; três polos de influência mundial que contribuíssem com
pistas para o retrato daquilo que é o mundo hoje e, ao mesmo tempo, permitissem intuir um pouco
30 do mundo que aí vem. Tentando erguer o tripé de um álbum de impressões, memórias, imagens,
detalhes de instantes.
No que diz respeito ao olhar, impôs-se aquele que está lá e que privilegia a experiência simples
dos sentidos. No fundo, para quem foi, o mais fundamental desse tempo, aquilo que efetivamente
lhe acrescentou mundo, foi ter ido, ter estado lá realmente, ter olhado em volta. Há muito que se
35 pode aprender em enciclopédias, documentários ou na internet, mas também há o resto: aquilo que
se pode sentir.

PEIXOTO, José Luís, 2012. In Volta ao Mundo, n.º 209, março de 2012

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1. Na linha 4, o pronome “que” desempenha a função sintática de

(A) sujeito, em ambas as ocorrências.


(B) complemento direto, em ambas as ocorrências.
(C) complemento direto, na primeira ocorrência, e sujeito, na segunda ocorrência.
(D) sujeito, na primeira ocorrência, e complemento direto, na segunda ocorrência.

2. O único constituinte que não desempenha a função sintática de complemento do nome é

(A) “daquilo que me espera à distância de horas” (linha 6).


(B) “de eliminar problemas antigos” (linha 7).
(C) “de transcender essa experiência” (linhas 25-26).
(D) “de garantir que fosse capaz de fazê-lo” (linha 26).

3. Os pronomes “me”, usados nas linhas 6 e 13, desempenham as funções sintáticas de

(A) complemento direto e de complemento indireto, respetivamente.


(B) complemento indireto e de complemento direto, respetivamente.
(C) complemento direto, em ambos os casos.
(D) complemento indireto, em ambos os casos.

4. A oração subordinada introduzida por “que”, na linha 22, é

(A) adjetiva relativa explicativa.


(B) substantiva completiva.
(C) substantiva relativa.
(D) adjetiva relativa restritiva.

5. Nas linhas 23 e 26, a palavra “que” é

(A) uma conjunção em ambos os casos.


(B) um pronome em ambos os casos.
(C) um pronome e uma conjunção, respetivamente.
(D) uma conjunção e um pronome, respetivamente.

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6. Identifica o antecedente do pronome “[l]o” presente na frase “Não sou capaz de garantir que fosse capaz de
fazê-lo.” (linha 26). transcender essa experiência

7. Associa a palavra “para”, com que se iniciam os constituintes apresentados na coluna A à respetiva classe, e
subclasse, nalguns casos, da coluna B.

Coluna A Coluna B

2 a) “para me arranjarem um lugar que não seja no meio” (linha 13) 1 – Preposição
3 b) “para ler” (linha 15) 2 – Conjunção subordinativa completiva
3 – Conjunção subordinativa final
1 c) “para o retrato daquilo que é o mundo hoje” (linha 29)

8. Identifica as funções sintáticas desempenhadas pelos constituintes que se seguem.

a) “da enorme transformação que está prestes a acontecer” (linhas 8-9); Complemento do adjetivo
b) “que não seja no meio” (linha 13); Modificador restritivo do nome
c) “no mesmo sítio” (linha 14); Complemento oblíquo
d) “lá” (linha 34); Predicativo do sujeito
e) “o resto” (linha 36). Complemento direto

9. Classifica a oração subordinada presente na frase “Sei que chegaremos todos ao mesmo tempo.” (linha 17) e
identifica a função sintática que desempenha.
oração subordinada substantiva completiva e complemento direto

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