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GUIA PARA

ESCOLAS E
UNIVERSIDADES
SOBRE O
ALUNO COM
DISLEXIA
E OUTROS
TRANSTORNOS DE
APRENDIZAGEM
INTRODUÇÃO
O Brasil passa por uma grande fase de
inclusão econômica, social e educacional.
Tal contexto nos leva a uma reflexão
sobre o papel de grandes universidades e
escolas em uma sociedade que, cada vez
mais, busca a inclusão de todos.

Com o poder de moldar e educar as pessoas, Existem diversos transtornos específicos de


as escolas de Ensino Básico e Instituições de Ensi- aprendizagem, como a discalculia, que afeta a ca-
no Superior (IES) possuem caráter essencial como pacidade da pessoa em compreender e manipular
agentes de mudança ao trabalhar com a inclusão de números; a disortografia, que se mostra como uma
todos os perfis de alunos, o que gera um ambiente inabilidade persistente observada no planejamento
acolhedor e de igualdade. e na coerência textual, além de grande dificuldade
Apesar de muito se falar na inclusão de pes- na memorização das regras ortográficas. Porém, o
soas com deficiência (motora, visual e mental), ainda mais conhecido transtorno específico de aprendiza-
é raro o debate sobre a inclusão de pessoas com gem é a dislexia, que afeta as capacidades de leitu-
transtornos de aprendizagem no Brasil. Os trans- ra, escrita e soletração.
tornos de aprendizagem se apresentam como uma Este documento tem como objetivo servir
inabilidade específica, de leitura, escrita ou mate- como um guia para Escolas e Instituições de Ensi-
mática, em indivíduos que apresentam resultados no Superior, auxiliando na inclusão dos estudantes
significativamente abaixo do esperado, nestas ativi- com dislexia e outros transtornos de aprendizagem,
dades, para seu nível de desenvolvimento, escolari- durante todas as fases da vida escolar.
dade e capacidade intelectual.

O QUE É A DISLEXIA?
A dislexia é um transtorno de leitura e escri- A dislexia consta da Classificação Internacio-
ta que pode afetar também a percepção dos sons nal de Doenças (CID), que descreve suas caracte-
da fala, e se manifesta, inicialmente, durante a fase rísticas e sintomas. Trata-se de um transtorno de
de alfabetização. É uma condição de aprendizagem aprendizagem persistente e inesperado. Persisten-
de base genética, ou seja, tem natureza hereditária. te, porque acompanha o indivíduo ao longo de sua
Existem vários genes envolvidos nesta condição e vida e inesperado porque o substancial prejuízo nas
pesquisadores do mundo todo estão muito próxi- habilidades de leitura e escrita não é justificado por
mos de identificar quais são esses genes. déficits intelectuais ou sensoriais.

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As dificuldades podem ser minimizadas utili- mente e em idade adequada o ensino regular e,
zando-se métodos pedagógicos alternativos e es- diferentemente de seu grupo, não respondeu às
tratégias individualizadas, que se adaptam ao perfil instruções/ intervenções educacionais, a pessoa
de aprendizagem e necessidades de cada pessoa. está no grupo de risco. Ela deve ser encaminha-
da para a avaliação de uma equipe multidisciplinar
composta, em geral, por um neuropediatra, um fo-
COMO É FEITO O noaudiólogo, um psicopedagogo e um psicólogo,
DIAGNÓSTICO? que farão uma avaliação diagnóstica. São aplica-
dos testes e provas para avaliar o nível de leitura,
Ao ser identificada a dificuldade para o apren- o vocabulário e as habilidades neuropsicológicas
dizado da leitura e da escrita, realizada após a específicas, como memória, atenção e velocidade
verificação de que este aluno frequentou regular- de processamento.

ESTIMA-SE QUE 4% DA POPULAÇÃO BRASILEIRA TENHA DISLEXIA.


PORTANTO, SÃO MAIS DE 7 MILHÕES DE PESSOAS CONVIVENDO
COM O PROBLEMA.

O INGRESSO NA ESCOLA
Uma vez diagnosticado o transtorno de apren- com dislexia deverão enfrentar continuamente os
dizagem, a escola deverá fazer uma reunião inicial desafios impostos por essa condição.
com os pais e com o aluno para juntos discutirem Na vida acadêmica, área de grande impacto
qual é a melhor estratégia para o caso e quais adap- desses transtornos, é papel fundamental que a es-
tações deverão ser feitas. cola auxilie seus alunos disléxicos a desenvolver ao
Lembramos que a capacidade cognitiva de máximo seu potencial. Durante os períodos de ava-
quem tem dislexia, ou outro transtorno de apren- liação escolar, recomendamos as seguintes adap-
dizagem, não é afetada, porém há métodos tações:
pedagógicos que podem auxiliar na aprendizagem a) Ledor – Profissional que, se necessário, pode-
dos estudantes e, muitas vezes, o próprio aluno já rá ler as questões das provas para o aluno.
identificou estratégias próprias para lidar com as b) Transcritor – Profissional que auxilie, se ne-
demandas diárias, que também devem ser consi- cessário, a transcrever a redação e as ques-
deradas. tões discursivas.
c) Maior tempo de prova – Recomendamos
que os estudantes com transtornos de apren-
AVALIAÇÕES, dizagem tenham, ao menos, 25% a mais de
PROVAS E tempo para realização da prova.
d) Calculadora ou Computador – Para pes-
ACOMPANHAMENTO soas com discalculia é importante o uso

NA ESCOLA de ferramentas de calcular como apoio nas


provas, pois o que deve ser valorizado é
Não há cura para os transtornos de aprendiza- o raciocínio envolvido na solução e não as
gem, mas tratamento. Isso significa que as pessoas operações matemáticas.

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e) Maneiras alternativas de avaliações – Pro- ou psicopedagogo da escola e do especialista da
va oral, trabalhos em grupo, seminários e etc. saúde que acompanha o estudante fora da escola.
f) Correção diferenciada - A ênfase da corre- É usual que profissionais da educação e da saúde
ção das provas dos disléxicos deve privilegiar que conhecem e acompanham o disléxico mante-
o conteúdo e seu desenvolvimento argumen- nham contato, com o intuito de compartilharem in-
tativo, sendo o quesito referente aos erros or- formações e trocarem experiências que favoreçam
tográficos o último a ser observado. e viabilizem o desenvolvimento de estratégias indi-
vidualizadas, bem como a realização/ orientação de
Além das adaptações nas avaliações, é ne- adaptações que permitam ao disléxico desenvolver
cessário um monitoramento contínuo do psicólogo adequadamente suas competências.

O INGRESSO NAS
UNIVERSIDADES E O
VESTIBULAR
O atendimento diferenciado em provas de se- que os estudantes com transtornos de apren-
leção é um direito de todas as pessoas com defi- dizagem tenham, ao menos, 25% a mais de
ciência. De acordo com o Decreto nº 5.296/2004, tempo para realização da prova.
todos têm direito a instrumentos, equipamentos ou
tecnologias adaptados para favorecer sua autono- O acesso aos itens descritos acima devem
mia. Além disso, o Decreto nº 3.298/99 (BRASIL, auxiliar os estudantes com transtornos de aprendi-
1999) descreve especificamente as adaptações zagem e irá equipará-los aos demais concorrentes,
que devem ser oferecidas pelo ensino superior, ou deixando todos com as mesmas chances de aces-
seja, é uma obrigação para as IES abrigarem e au- so à universidade.
xiliarem a todos que tenham necessidades espe-
cíficas.
Apesar de não entrar na categoria de deficiên-
AVALIAÇÕES,
cia, desde 2012, provas como o Exame Nacional PROVAS E
do Ensino Médio (ENEM) vêm adotando medidas
de atendimento diferenciado para estudantes com ACOMPANHAMENTO
dislexia. Assim, recomendamos que logo na inscri-
ção do vestibular, o candidato possa identificar-se
NAS UNIVERSIDADES
como disléxico e tenha à disposição as seguintes Apesar de persistente, a dislexia é uma con-
adaptações: dição que pode ser minimizada por meio de inter-
a) Ledor – Profissional que lê em voz alta para o venções específicas e adequadas a cada caso. É
vestibulando. sabido que os disléxicos que chegam ao Ensino Su-
b) Transcritor – Profissional que auxilie a trans- perior apresentam condições de se desenvolver se
crever a redação, as questões discursivas e o tiverem conhecimento das limitações de seu quadro
gabarito. e se forem encorajados a seguir em suas realiza-
c) Maior tempo de prova – Recomendamos ções.

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Assim, as Instituições de Ensino Superior de- QUANDO O ALUNO
vem criar condições para o cumprimento das con-
quistas, asseguradas por direitos legais, bem como
CHEGA AO ENSINO
disponibilidade para permitir que esses futuros SUPERIOR SEM O
alunos se apropriem das ferramentas, estratégias
e adaptações para iniciar, permanecer e finalizar a DIAGNÓSTICO
graduação em igualdade de condições com os de- A dislexia e os demais transtornos de aprendi-
mais universitários. zagem não são devidamente conhecidos por pro-
Além das adaptações citadas no item 2b, ou- fessores do Ensino Básico e/ou professores univer-
tras ações norteadoras são também eficientes, tais sitários, causando dificuldades nas relações entre
como: eles e seus alunos.
a) Auxílio de calculadora ou computador – Muitos professores não imaginam que um alu-
Para pessoas com discalculia, é importante no possa ser disléxico ou sofrer com outro trans-
o uso de ferramentas de calcular como apoio torno de aprendizagem, já que alguns chegam ao
nas provas, pois o que deve ser valorizado é o ensino superior sem serem diagnosticados.
raciocínio envolvido na solução e não as ope- Assim, é importante que o professor fique
rações matemáticas utilizadas. atento aos seguintes sinais:
b) Maneiras alternativas de avaliações – Pro- a) Leitura pouco fluente;
va oral, trabalhos em grupo, seminários e etc. b) Erros ortográficos;
Essas ações norteadoras destacam a evo- c) Pobreza de vocabulário;
lução no entendimento e atendimento às pessoas d) Dificuldades em cálculos simples.
com dislexia e outros transtornos de aprendizagem Se o professor perceber que tais sinais são
no ensino superior, mostrando que não basta aten- persistentes e estão prejudicando o desenvolvimen-
der a esses jovens apenas no acesso às universi- to do aluno, recomendamos que seja marcada uma
dades, mas também prover ferramentas, espaços reunião entre professor, aluno e responsáveis para
e currículos adaptados de forma a permitir sua per- que juntos decidam a melhor maneira de lidar com
manência e efetiva participação acadêmica. o caso.

ACOMODAÇÕES A
ALUNOS DISLÉXICOS
FORA DO BRASIL
Em países como Estados Unidos, Canadá Nas universidades americanas e europeias, o
e Inglaterra, cada universidade tem autonomia aluno pode pedir acomodações para sua vida aca-
para criar as acomodações que possam atender dêmica, porém este deve entrar em contato com o
alunos com diferentes tipos de deficiência e/ou departamento responsável e submeter sua inscrição
transtorno. para ter acesso a benefícios.
É importante lembrar que nos EUA e Canadá Por exemplo, para entrar com o pedido para
a dislexia é considerada uma deficiência (learning as acomodações na Universidade de Oxford (Ingla-
disability), mas no Brasil não. terra), o aluno deve:

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a) Verificar com o departamento de admis-
sões ou com o Núcleo de Apoio aos Alunos
SUGESTÕES DE
qual é a documentação necessária para FACILITAÇÕES PARA
que a universidade aceite seus pedidos de
acomodações.
DISLÉXICOS NO
b) Apresentar o laudo diagnóstico, seu his- BRASIL
tórico de acompanhamento e a sua última
avaliação feita por um especialista em lei- De forma geral, as facilitações podem ser clas-
tura ou da saúde. sificadas em 5 categorias: 1.Tempo; 2.Desenvol-
vimento das tarefas; 3.Contexto; 4.Respostas e
Uma vez admitido o pedido do aluno, este 5.Apresentação do conteúdo.
deve entrar em contato com o Escritório de Serviços
de Deficiência, ou Núcleo de Apoio ao Aluno, para
discutir as acomodações necessárias. Dentre os 1. Tempo: facilitações relacionadas ao tempo
pedidos solicitados, o aluno pode ter acesso a: podem incluir várias flexibilizações. Exemplo:
a) Permitir mais tempo nas avaliações;
a) Tecnologia assistiva nas bibliotecas e
b) Permitir mais tempo nas atividades em
sala de estudos (ex.: computador com fun-
classe (que envolvam a dificuldade em
ção text-to-speech);
questão);
b) Livros didáticos em formatos alternati- c) Permitir mais tempo para entrega de traba-
vos; lhos (que envolvam a dificuldade em ques-
c) Permissão para fazer testes em um am- tão);
biente separado; d) Permitir intervalos frequentes (em atividades
d) Tempo extra para completar todos os específicas ou em avaliações);
trabalhos escritos e provas; e) Permitir mais tempo no empréstimo de li-
vros da biblioteca.
e) Ledor e/ou transcritor;
f) Instruções orais para provas e trabalhos;
g) Gravador para assistir aulas;
h) Substituições de matérias. 2. Desenvolvimento das atividades: inclui
alterações na forma como as atividades são
De forma geral, as Instituições de Ensino Su- desenvolvidas. Exemplo:
perior têm o direito de recusar algumas facilitações. a) Permitir que o aluno grave a aula em áudio
Isso ocorre principalmente no caso de substituições ou em vídeo (para dificuldades de atenção,
de matérias, pois pode alterar radicalmente o con- memória ou compreensão);
teúdo acadêmico da graduação (ex.: dispensa de b) Oferecer algum tipo de organizador da infor-
uma língua estrangeira). No entanto, a maioria das mação durante a aula (esquema impresso,
faculdades e universidades mostra-se disposta a por exemplo);
trabalhar com o aluno disléxico fazendo com que c) Permitir uso de calculadora;
ele desenvolva todo o seu potencial. d) Evitar atividades de cópia da lousa. Se ne-
Outras Universidades, como Harvard (EUA), cessário: dividir o quadro em partes, nume-
além de oferecer todas as facilitações necessárias rá-los, usar cores diferentes nas linhas ou
para os alunos com transtornos de aprendizagem, parágrafos;
também dispõem de treinamento para ajudar os e) Fornecer feedback constante e sempre pro-
professores a lidar com esses problemas em sala mover a autoestima dos alunos.
de aula.

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3. Contexto: refere-se às modificações no 5.1. Exemplos de mudanças na forma:
ambiente do aluno. Exemplo: a) Fornecer livros falados ou vídeos;
a) Fazer prova em uma sala à parte ou em um b) Apresentar as instruções oralmente;
grupo pequeno; c) Apresentar o material com letras maiores;
b) Sugerir assento preferencial na classe; d) Diminuir o número de itens por página ou
c) Diminuir estímulos distratores visuais ou au- por linha;
ditivos; e) Usar indicadores visuais, como desenhos,
d) Incentivar o uso de agendas e outros tipos esquemas, cores diferentes.
de registros.

5.2. Exemplos de mudanças na organização do


conteúdo:
4. Respostas: flexibilizar a forma de o aluno a) Apresentar novas ideias ou conceitos expli-
responder ao que é solicitado. Exemplo: citamente;
a) Permitir respostas orais ou de outro tipo, b) Fornecer sumário do novo tópico antes de
sem que seja necessário o uso da escrita iniciar a matéria (pode ser na aula anterior,
cursiva; para os alunos lerem em casa);
b) Disponibilizar um ‘escriba’ para escrever as c) Deixar claro quais são os objetivos e alvos
questões ditadas pelo aluno; de cada capítulo da matéria: informação es-
c) Permitir gravador para gravar as respostas sencial e complementar;
orais do aluno; d) Ao final, fornecer resumo das informações
d) Permitir uso de computador com corretor principais;
ortográfico; e) Listar os fatos principais de um conteúdo e
e) Permitir cálculos mentais ao invés de escri- numerá-los;
tos; f) Durante as aulas e nas avaliações: evitar
f) Oferecer espaço quadriculado, ao invés de frases demasiadamente longas (faladas e
espaço em branco, para resolução de pro- escritas);
blemas que envolvam cálculos; g) Dar instruções passo a passo;
g) Oferecer linhas mais espaçadas; h) Quebrar tarefas em partes menores;
h) Evitar desencorajar diferentes formas de so- i) Incentivar revisões frequentes do conteúdo,
lução de problemas. pois dificuldades na memorização são co-
muns;
j) Buscar ensino multissensorial e varieda-
de dos formatos das atividades: ouvir, ver
5. Apresentação do conteúdo (texto, figuras, desenhos, diagramas), fazer
a) Apresentar o material aos alunos de uma (texto, diagrama, esquemas, cartões), con-
forma diferente da tradicional; versar com colegas, realizar apresentações
b) Incluir mudanças na forma e na organização orais.
do conteúdo.

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CONCLUSÃO
Crianças e jovens disléxicos podem
esconder grandes potenciais. Não são
raros os casos de grandes nomes ligados
aos transtornos de aprendizagem.
Entre os casos mais conhecidos, temos
figuras históricas como Thomas Edison,
Albert Einstein, atores de Hollywood
como Orlando Bloom, Tom Hanks e
também grandes empresários como
Richard Branson e Charles Schwab.

Assim, pessoas com transtornos de apren- Superior, auxiliarem de maneira adequada, criando
dizagem precisam de apoio e facilitações ade- condições para abrigar e acomodar tais alunos da
quadas, pois elas podem ter uma vida acadêmi- melhor maneira possível, gerando um retorno para
ca normal, se as escolas e Instituições de Ensino toda a sociedade.

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