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Atividade Avaliativa – 3° ano

TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:


Uma aranha

ela surgiu não sei de onde


quando abri o Dicionário de Filosofia
de José Ferrater Mora
(no verbete Descartes, René) mi-
núscula
com suas muitas perninhas
quase invisíveis
cruzou a página 1305 como se flutuasse
(uma esfera de ar
viva)
e foi postar-se no alto
no limite entre o texto e a margem branca
enquanto eu
fascinado
indagava:
como pode residir
insuspeitado
nestas encardidas páginas
– em minha casa, afinal de contas –
um tal ser
mínimo mas vivo
consciente de si
(e como eu
parte do século XXI)
e que agora parece observar-me
tão espantado quanto estou
com este nosso inesperado encontro?
FERREIRA GULLAR. Em alguma parte alguma. Rio de Janeiro: José Olympio, 2013.

1. (Uerj 2014) Quatro trechos do poema estão delimitados graficamente por parênteses
ou travessões. Dois deles empregam linguagem com características especiais: uma
técnica e outra poética.
Identifique esses dois trechos e cite a linguagem característica observada em cada um.

2. (Uerj 2014) Um tema característico da renovação poética modernista é a valorização


do cotidiano, como se observa em “Uma aranha”. No poema, essa valorização se
expressa por meio da seleção vocabular e da referência às dúvidas existenciais. Observe
os fragmentos:

I
ela surgiu não sei de onde
quando abri o Dicionário de Filosofia
de José Ferrater Mora
(no verbete Descartes, René) mi-
minúscula

II
como pode residir
insuspeitado
nestas encardidas páginas
- em minha casa, afinal de contas -
um tal ser

Identifique duas palavras ou expressões que comprovam a valorização do cotidiano.


Indique, também, o fragmento em que se evidencia a referência a dúvidas existenciais a
partir de elementos do cotidiano e transcreva desse fragmento a palavra que revela a
surpresa do poeta.
No poema “Uma aranha” temos a conquista da renovação poética modernista: a
valorização do cotidiano no nível vocabular e no nível temático.
Observando no nível vocabular, o poeta usa palavras comuns, do dia a dia já no nível
temático os sentimentos humanos e indagações existenciais são expressos por meio
de vocábulos e atos comuns do cotidiano.
Nos dois fragmentos, são exemplos da valorização do cotidiano na seleção vocabular:
“dicionário”, “verbete”, “encardidas páginas”, “minha casa”.
O fragmento que expressa dúvidas existenciais a partir de elementos do cotidiano:
segundo fragmento, no qual se anuncia a ideia de que a aranha é um ser “consciente
de si”. Dessa forma, a palavra que revela a surpresa do poeta com os
questionamentos que ele começa a fazer é “insuspeitado”. 

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Texto I

Diálogo da relativa grandeza

Sentado no monte de lenha, as pernas abertas, os cotovelos nos joelhos, Doril


examinava um louva-deus pousado nas costas da mão. Ele queria que o bichinho
voasse, ou pulasse, mas o bichinho estava muito à vontade, vai ver que dormindo – ou
pensando? Doril tocava-o com a unha do dedo menor e ele nem nada, não dava
confiança, parece que nem sentia; se Doril não visse o leve pulsar de 1fole do pescoço –
e só olhando bem é que se via – era capaz de dizer que o pobrezinho estava morto, ou
então que era um grilo de brinquedo, desses que as moças pregam no vestido para
enfeitar.
Entretido com o louva-deus, Doril não viu Diana chegar comendo um marmelo,
fruta azeda enjoada que só serve para ranger os dentes. Ela parou perto do monte de
lenha e ficou descascando o marmelo com os dentes mas sem jogar a casca fora, não
queria perder nada. Quando ela já tinha comido um bom pedaço da parte de cima e nada
de Doril ligar, ela cuspiu fora um pedaço de miolo com semente e falou:
_ Está direitinho um macaco em galho de pau.
Doril olhou só com os olhos e revidou:
_ Macaco é quem fala. Está até comendo banana.
_ Marmelo é banana, besta?
_ Não é mas serve.
Ficaram calados, cada um pensando por seu lado. Diana cuspiu mais um caroço.
_ Sabe aquele livro de história que o Mirto ganhou?
_ Que Mirto, seu. É Milllton. Mania!
_ Mas sabe? Eu vou ganhar um igual. Tia Jura vai mindar.
_ Não é mindar. É me-dar. Mas não é vantagem.
_ Não é vantagem? É muita vantagem.
_ Você já não leu o de Milton?
_ Li mas quero ter. Pra guardar e ler de novo.
_ Vantagem é ganhar outro. Diferente.
_ Deferente eu não quero. Pode não ser bom.
_ Como foi que você disse? Diz de novo?
_ Já disse uma vez, chega.
_ Você disse deferente.
_ Foi não.
_ Foi. Eu ouvi.
_ Foi não.
_ Foi.
_ Foi não.
_ Fooooi.
Continuariam até um se cansar e tapar o ouvido para ficar com a última palavra,
se Diana não tivesse tido a habilidade de se retirar logo que percebeu a 2dízima. Com o
pedacinho final do marmelo entre os dedos ela chegou-se mais perto do irmão e disse:
_ Gi! Matando louva-deus! Olhe o castigo!
_ Eu estou matando, estou?
_ Está 3judiando. Ele morre.
_ Eu estou judiando?
_ Amolar um bicho tão pequenininho é o mesmo que judiar.
Doril não disse mais nada, qualquer coisa que ele dissesse ela aproveitaria para
outra acusação.
Era difícil tapar a boca de Diana, ô menina 4renitente. Ele preferiu continuar
olhando o louva-deus. Soprou-o de leve, ele encolheu-se e vergou o corpo para o lado
do sopro, como faz uma pessoa na ventania. O louva-deus estava no meio de uma
tempestade de vento, dessas que derrubam árvores e arrancam telhados e podem até
levantar uma pessoa do chão. Doril era a força que mandava a tempestade e que podia
pará-la quando quisesse. Então ele era Deus? Será que as nossas tempestades também
são brincadeira? Será que quem manda elas olha para nós como Doril estava olhando
para o louva-deus? Será que somos pequenos para ele como um gafanhoto é pequeno
para nós, ou menores ainda? De que tamanho, comparando – do de formiga? De piolho
de galinha? Qual será o nosso tamanho mesmo, verdadeiro?

José J. Veiga. A máquina extraviada. Rio de Janeiro: Editora Prelo, 1968.

1
fole − papo
2
dízima − refere-se à dízima periódica, algo sem fim
3
judiar − maltratar
4
renitente − teimosa

Texto I

Uma aranha

ela surgiu não sei de onde


quando abri o Dicionário de Filosofia
de José Ferrater Mora
(no verbete Descartes, René) mi-
núscula
com suas muitas perninhas
quase invisíveis
cruzou a página 1305 como se flutuasse
(uma esfera de ar
viva)
e foi postar-se no alto
no limite entre o texto e a margem branca
enquanto eu
fascinado
indagava:
como pode residir
insuspeitado
nestas encardidas páginas
– em minha casa, afinal de contas –
um tal ser
mínimo mas vivo
consciente de si
(e como eu
parte do século XXI)
e que agora parece observar-me
tão espantado quanto estou
com este nosso inesperado encontro?

FERREIRA GULLAR. Em alguma parte alguma. Rio de Janeiro: José Olympio, 2013.

3. (Uerj 2014) Pode-se observar uma semelhança e uma diferença nas representações
do louva-deus, no texto I, e da aranha, no texto II. Um traço comum a ambos é a
estrutura delicada e frágil do corpo, destacada logo no início dos textos. O traço
diferenciador é a relação entre o animal e o ser humano.
Transcreva de cada um dos textos a expressão que mais explicitamente revela o traço
comum ao louva-deus e à aranha.
Em seguida, indique o título do texto em que a relação entre animal e ser humano é de
dominação, justificando sua resposta por meio de um enunciado completo.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Texto I

A DISCIPLINA DO AMOR

Foi na França, durante a segunda grande guerra. Um jovem tinha um cachorro


que todos os dias, pontualmente, ia esperá-lo voltar do trabalho. Postava-se na esquina,
um pouco antes das seis da tarde. Assim que via o dono, ia correndo ao seu encontro e,
na maior alegria, acompanhava-o com seu passinho saltitante de volta a casa.
A vila inteira já conhecia o cachorro e as pessoas que passavam faziam-lhe
festinhas e ele correspondia, chegava a correr todo animado atrás dos mais íntimos para
logo voltar atento ao seu posto e ali ficar sentado até o momento em que seu dono
apontava lá longe.
Mas eu avisei que o tempo era de guerra, o jovem foi convocado. Pensa que o
cachorro deixou de esperá-lo? Continuou a ir diariamente até a esquina, fixo o olhar
ansioso naquele único ponto, a orelha em pé, atenta ao menor ruído que pudesse indicar
a presença do dono bem-amado. Assim que anoitecia, ele voltava para casa e levava a
sua vida normal de cachorro até chegar o dia seguinte. Então, disciplinadamente, como
se tivesse um relógio preso à pata, voltava ao seu posto de espera.
O jovem morreu num bombardeio, mas no pequeno coração do cachorro não
morreu a esperança. Quiseram prendê-lo, distraí-lo. Tudo em vão. Quando ia chegando
aquela hora ele disparava para o compromisso assumido, todos os dias. Todos os dias.
Com o passar dos anos (a memória dos homens!) as pessoas foram se
esquecendo do jovem soldado que não voltou. Casou-se a noiva com um primo. Os
familiares voltaram-se para outros familiares. Os amigos, para outros amigos. Só o
cachorro já velhíssimo (era jovem quando o jovem partiu) continuou a esperá-lo na sua
esquina. As pessoas estranhavam, mas quem esse cachorro está esperando?... Uma tarde
(era inverno) ele lá ficou, o focinho sempre voltado para "aquela" direção.
(TELLES, Lygia Fagundes. A disciplina do amor. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980.
p. 99-100)

Vocabulário:
Postar-se - posicionar-se, permanecer em determinado local
Apontar - aparecer

Texto II
COMPANHEIRO FIEL

Se estou trabalhando
- seja a que hora for -
Gatinho se deita ao lado
do meu computador.

Se vou para a sala


e deito no sofá,
ele logo vai pra lá.

Se à mesa me sento
a escrever poesia
e da sala me ausento
pela fantasia,

volto à realidade
quando, sem querer,
toco de resvés
numa coisa macia.

Já sei, não pago dez:


é o Gatinho
que sem eu saber
veio de mansinho
deitar-se a meus pés.
(GULLAR, Ferreira. Companheiro fiel. In: Palavras de encantamento. São Paulo:
Moderna, 2001. v.1, p.76)

Vocabulário:
Resvés - rente, próximo
Não pagar dez - não ter dúvida

Texto III

PSICOLOGIA ANIMAL
Amigos, fiéis e ciumentos

Quem tem ou já teve cachorros sabe: eles são muito amigos e, também,
superciumentos. Na verdade, eles sentem uma série de emoções consideradas humanas,
segundo uma pesquisa da Universidade de Portsmouth, na Inglaterra. Os cientistas
analisaram o comportamento de mil cães e seus donos. Registraram cenas de ciúme
explícito, como um cão interrompendo, sem a menor cerimônia, momentos românticos
de seu dono. O estudo de psicólogos e especialistas em comportamento animal desafia a
tese de que somente pessoas e chimpanzés são capazes de experimentar as chamadas
emoções secundárias como culpa, vergonha, ciúme ou orgulho, embora seja ponto
pacífico que cães, gatos e outros animais têm emoções primárias, como ansiedade,
surpresa e raiva.
(REVISTA, Suplemento do jornal O Globo, de 17 de setembro de 2006.)

Vocabulário:
Explícito - que é claro
Tese - afirmação baseada em estudos científicos
Primárias - básicas, primeiras
Secundárias - que vêm em segunda posição
Ponto pacífico - ideia que se aceita sem discussão

4. (G1 - cp2 2007) No texto II, o poeta usou letra maiúscula para escrever a palavra
"Gatinho". Por que ele fez isso?

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


As questões tomam por base um fragmento da peça teatral DR. GETÚLIO, SUA VIDA E
SUA GLÓRIA, de Dias Gomes (1922-) e Ferreira Gullar (1930-).

SEGUNDA PARTE

[...]

Cessa a Bateria.

AUTOR

E enquanto essas coincidências


iam assim coincidindo,
num clube então existente,
um homem muito ladino
fazia uma conferência
sobre um tema pertinente,
com este título: "Como
se depõe um Presidente".

Volta a Bateria. Entram homens e mulheres, todos com lanternas. Entre eles,
vêm também as Aves de Rapina. Lacerda entra no meio do grupo que percorre o palco
dançando e logo forma um círculo, no centro do qual, sobre um praticável, fica o
conferencista.

LACERDA

É simples:
em primeiro lugar
é preciso levantar
a bandeira moralista:
mostrar que o Governo é corrupto,
composto de chantagistas,
de ladrões,
de rufiões,
cafetões e vigaristas,
de tubarões,
charlatães,
maganões
e descuidistas.
Isto é muito importante.
Com a bandeira moralista
ganha-se então por inteiro
a famosa classe-média,
que sonha ter em virtudes
o que lhe falta em dinheiro.
E como a virtude é rara
e difícil de provar,
torna-se fácil apontar
corrupção no governo.
Gatunagem,
malandragem,
ladroagem,
tratantagem

(Discursa)

"Enquanto o povo brasileiro dorme,


os gatunos agem".

"ENQUANTO O POVO BRASILEIRO DORME, OS GATUNOS AGEM". In:


GOMES, Dias & GULLAR, Ferreira. DR. GETÚLIO, SUA VIDA E SUA GLÓRIA. Rio
de Janeiro: Civilização Brasileira, 1968, p. 55-56.

5. (Unesp 1999) A ação da peça teatral DR. GETÚLIO, SUA VIDA E SUA GLÓRIA,
de Dias Gomes e Ferreira Gullar, se desenvolve numa quadra de escola de samba como
ensaio de um enredo sobre a vida de Getúlio Vargas. No trecho transcrito, a personagem
AUTOR introduz a personagem Lacerda, que passa a discorrer sobre o melhor modo de
depor, o presidente. Releia o trecho e, a seguir, responda.
a) Ao sugerir a seus correligionários que levantem a "bandeira moralista" para abalar o
governo, a personagem acaba incorrendo numa contradição também de ordem moral.
Analisando a própria fala de Lacerda, demonstre essa contradição.
b) Explique, com base no contexto, o significado dos versos "... a famosa classe média, /
que sonha ter em virtudes / o que lhe falta em dinheiro."

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