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Tema III – Estrutura e Dinâmica da Geosfera

1.  Métodos  para  o  estudo  do  interior  da  geosfera  


O conhecimento do interior da Terra resulta da articulação entre o contributo de diversas áreas, utilizando para tal métodos
directos (observações e estudo de materiais acessíveis ao Homem) e métodos indirectos (dados sobre a constituição e
condições das zonas acessíveis deduzidos através de outros conhecimentos).

MÉTODOS DIRECTOS MÉTODOS INDIRECTOS


- observação e estudo direto da superfície visível - Planetologia e Astrogeologia
- exploração de jazigos minerais a maiores profundidades - Gravimetria
- sondagens (perfurações) - Densidade
- magmas e xenólitos (materiais expelidos pelos vulcões oriundos de grandes - Geomagnetismo
profundidades e que aparecem à superfície) - Sismologia
- Geotermia

1.1.  MÉTODOS  DIRECTOS  


v Estudo da superfície visível – consiste no estudo dos materiais (rochas) que afloram à superfície.
Tem grandes limitações pois corresponde apenas a uma fina camada comparado com a dimensão da Terra e as rochas
demoram muito milhões de anos até aflorarem e ficarem acessíveis para serem estudadas.

v Exploração de jazigos minerais efectuada em minas e escavações – a


exploração de recursos minerais (minerais, rochas, areias, …) pode ser feita através de
escavações à superfície ou pela escavação de galerias em profundidade.
Só permite a obtenção de dados de profundidades que oscilam, no máximo, entre os 3 e 4
km.

v Sondagens – são perfurações (mais ou menos profundas) da crusta.


São utilizados equipamentos com pontos de fusão muito elevados, com o intuito de perfurar
o máximo possível de metros, devido ao gradiente geotérmico (aumento da temperatura com
a profundidade). Como tal, se os materiais das sondas não tiverem um ponto de fusão
elevado não é possível fazer as perfurações e não se retiram as amostras de rocha (carotes
ou tarolos) de zonas profundas.
A sondagem mais profunda foi realizada na península de Kola, em 1970, e atingiu-se
uma profundidade de 12 023 metros. A essa profundidade a temperatura registada era
de cerca de 230ºC.

As sondagens são muito importantes porque permitem obter muitas informações acerca da estrutura interna da Terra:
composição e tipos de rochas que aí existem; a temperatura aproximada das zonas profundas da Terra, a composição das
águas que circulam em profundidade bem como dos gases que aí existem.

Este processo envolve custos económicos muito elevados bem como a utilização de instrumentos muito evoluídos
tecnicamente. Estes devem ser ao mesmo tempo, suficientemente resistentes para suportarem as altas temperaturas e
pressões do interior da Terra e facilmente manejáveis.

v Magmas e Xenólitos – devido à geodinâmica interna terrestre existem manifestações desse dinamismo. É o caso das
erupções vulcânicas que expulsam magma que provém de profundidades entre os 100 a 200km.
Os vulcões ao expelirem o magma, oriundo de grandes profundidades, dão-nos a possibilidade de estudar este líquido e
assim inferir sobre a temperatura do interior da Terra e sobre a sua composição química.
O magma movimenta-se em direcção à superfície e, ao fazê-lo, incorpora e transporta consigo fragmentos de rochas do
manto superior e da crusta terrestre, denominados por xenólitos ou encraves.

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1.2.  MÉTODOS  INDIRECTOS  
v PLANETOLOGIA E ASTROGEOLOGIA
Certas técnicas utilizadas para descobrir mais acerca dos planetas do sistema solar, também podem ser aplicados no nosso
próprio planeta.

A Astrogeologia é a ciência que estuda os princípios e métodos geológicos num plano mais vasto que é o Sistema Solar.
A razão de estudar o Sistema Solar é que todos os planetas deste sistema surgiram do mesmo modo e ao mesmo tempo,
através da grande nuvem de gases e poeiras, e, por isso, a sua estrutura é semelhante, pelo que se podem retirar conclusões
acerca dos estados de formação da Terra e da composição do seu interior através do estudo de outros corpos do sistema
solar, nomeadamente de meteoritos (corpos primitivos que não sofreram alterações significativas).

O estudo dos outros planetas e restantes astros do Sistema Solar é feito através de vários instrumentos:
Satélites Artificiais, Sondas Espaciais, telescópios, naves Espaciais e Estações Espaciais.

v GRAVIMETRIA

Força gravítica – força de atracção para o centro da Terra (tanto maior quanto maior a massa e tanto menor quanto maior a
distância ao centro da Terra).

• Sendo a superfície da Terra irregular, nem todos os locais se encontram à mesma distância do centro do planeta e
por isso a atracção gravítica varia de local para local. Para estabelecer comparações entre os vários pontos da
Terra, foi necessário introduzir correcções relativas a diferentes parâmetros (latitude, longitude, acidentes
topográficos). Após estas correcções seria de esperar que a força gravítica fosse igual em todos os locais à
superfície. Contudo tal não acontece.
Considera-se o valor normal de força gravítica zero ao nível médio do mar. Valores acima ou abaixo consideram-se
anomalias gravimétricas (positivas ou negativas respectivamente).

• Verifica-se assim a existência de anomalias gravimétricas negativas na presença de um doma salino no seio de
rochas encaixantes, uma vez que o doma salino é constituído por materiais de baixa densidade o que faz diminuir a
gravidade nesse local.
• Do mesmo modo, na presença de uma intrusão ígnea, cuja densidade é elevada relativamente às rochas
encaixantes registar-se-à uma anomalia gravimétrica positiva visto que a força gravítica aumenta nesse local.

• A ocorrência de anomalias gravimétricas negativas (crosta continental) e positivas (crosta oceânica) faz
supor a existência de variação na espessura da crosta terrestre:
atendendo a que a densidade corresponde a uma relação entre a massa e o volume por ela ocupado e que zonas
de maior densidade têm um efeito positivo na variação da gravidade (zonas de maior concentração de massa), é
possível deduzir uma maior espessura da crosta continental relativamente à oceânica, já que os valores da
gravidade aí medidos são inferiores aos dos oceanos. Este facto faz supor a existência de grandes extensões de
material pouco denso nos continentes.

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v DENSIDADE
Através de fórmulas pode se determinar a massa volúmica total terrestre e verifica-se que
esta corresponde a 5.5g/cm3. e também se sabe que as rochas da superfície correspondem a
apenas 2.8g/cm3. Assim podemos concluir que a densidade/massa volúmica dos compostos
existentes no interior da Terra é superior.

v GEOMAGNETISMO

A Terra possui um campo magnético – magnetosfera – e sob a acção deste campo magnético qualquer corpo magnetizado
se orienta segundo a direcção dos pólos magnéticos N-S. (ex.: agulha da bússola).

A existência desta magnetosfera terrestre não só apoia o modelo actualmente aceite para a estrutura interna da Terra
como também fornece informações sobre o passado:

• o campo magnético terrestre resulta do movimento de rotação dos metais fluidos do núcleo externo terrestre
que criam uma corrente eléctrica. Caso o núcleo não fosse metálico e sim rochoso provavelmente não existiria um
campo magnético terrestre.

• Certas rochas, como o basalto, têm na sua composição minerais ferromagnesianos (por exemplo, a magnetite).
Durante o arrefecimento do magma esses minerais ficam magnetizados e dispõem-se paralelamente ao campo
magnético terrestre existente na altura da sua formação, mantendo-se essa orientação mesmo com a alteração do
campo magnético. O campo magnético que fica registado na rocha designa-se por campo paleomagnético.

• Estudos feitos em rochas dos fundos oceânicos mostram que ao longo da história da Terra têm ocorrido alterações
periódicas na polaridade do campo magnético terrestre (4 a 5 em cada M.a).
O Pólo Norte magnético, que está actualmente próximo do Pólo Norte geográfico - polaridade normal – já esteve,
no passado, próximo do Pólo Sul geográfico - polaridade inversa. Assim, se uma rocha apresenta o mesmo
magnetismo que o campo magnético actual diz-se que tem polaridade normal, no caso contrário tem polaridade
inversa. A mudança de polaridade normal para polaridade inversa designa-se inversão do campo magnético.

• O estudo do paleomagnetismo das rochas dos fundos oceânicos (basálticas) permitiu ainda verificar que essas
inversões mostram-se simétricas de um lado e outro dos riftes, o que permite admitir que ocorre expansão dos
fundos oceânicos a partir dessas zonas (a lava solidifica à superfície originando basalto que alastra para ambos os
lados do rifte constituindo crosta oceânica). Ao solidificar os minerais ferromagnesianos ficaram com a polaridade
vigente na altura. Concluindo, o paleomagnetismo regista as inversões de polaridade do campo magnético terrestre
e apoia a teoria da expansão dos fundos oceânicos a partir dos riftes.

• É possível fazer essa leitura dos campos magnéticos, a partir dos magnetómetros. Foi possível, assim, verificar que
os fundos oceânicos apresentam zonas onde a intensidade do campo magnético é superior à intensidade média
actual - anomalias positivas - e outras zonas onde a intensidade do campo magnético é inferior à intensidade
média actual - anomalias negativas.

Banda com fraca Banda com elevada


Intensidade magnética Intensidade magnética

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v SISMOLOGIA
Muito do conhecimento do interior da Terra proveio do estudo do comportamento das ondas sísmicas que se propagam
através do Globo.
Se a Terra fosse homogénea, ou seja, se a composição e as propriedades físicas dos materiais fossem idênticas em todos os
pontos do globo, a velocidade das ondas sísmicas devia manter-se constante em qualquer direcção e a trajectória dos raios
sísmicos seria rectilínea.
Contudo, na Terra real, a velocidade das ondas sísmicas experimenta alterações, as ondas são desviadas e algumas deixam
de se propagar a partir de determinada profundidade. Todos estes acontecimentos fornecem informações sobre a contituição
e as características do globo terrestre.

v GEOTERMISMO

Fontes do calor interno da Terra: desintegração de elementos radioactivos e calor remanescente da formação do planeta
(acreção).

Gradiente geotérmico - taxa de variação da temperatura com a profundidade, ou seja o aumento da temperatura por
quilómetro de profundidade.

Grau geotérmico - número de metros que é necessário aprofundar para que a temperatura aumente 1ºC. Para as
profundidades em que tem sido possível fazer determinações directas (minas e perfurações petrolíferas) verifica-se que em
regra, a temperatura aumenta cerca de 30ºC por Km, ou seja por cada 33 a 34 metros de profundidade a temperatura
aumenta 1ºC.

O calor interno da Terra vai-se libertando continuamente através da sua superfície. A dissipação do calor é constante e
denomina-se fluxo térmico que é avaliado pela quantidade de calor libertado por unidade de superfície e por unidade
de tempo. O seu valor é maior que o somatório das energias de todos os processos sísmicos, vulcânicos e tectónicos.

Por vezes esse fluxo é perceptível e até espectacular, como acontece nas zonas vulcânicas e fontes termais. Contudo, na
generalidade não nos apercebemos dessa libertação de calor interno devido à baixa condutividade térmica da crosta
terrestre.

Nas zonas geologicamente mais activas (limites divergentes), o fluxo térmico é mais elevado. Aí ascendem e derramam-se
grandes quantidades de magma que, solidificando, geram crosta terrestre, que é mais antiga à medida que se afasta do rifte.

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