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1 - De acordo com os estudos feitos em sala de aula, responda: qual a importância

dos estudos de Fernand Braudel para a História? Qual a sua relação com a
Geografia?

Segundo as discussões realizadas em sala de aula, podemos observar que a


importância dos estudos de Fernand Braudel para a História se expressa na contribuição
teórica e metodológica de se fazer História de forma científica. Braudel introduziu, na
análise metodológica, a ideia de tempos históricos contrapondo a ideia de uma
temporalidade linear proposta pelos positivistas no século XIX. Segundo o historiador,
o tempo histórico não se apresentaria em uma linearidade em progressão constante, mas
seria composto de três tempos históricos, cujos três apresentavam mudanças/rupturas e
continuidades/ permanências.

Os três tempos históricos propostos por Braudel seriam: a temporalidade de longa


duração, a de média duração e a de curta duração. A longa duração, por ele proposta,
pode ser pensada como um recorte histórico longo, as mudanças que ocorrem durante
essa duração estendida são sutis e demoram a se expressarem, ao analisar em curta
duração, essas mesmas mudanças, são quase que imperceptíveis. Desse modo, ao
analisar determinado período de tempo na longa duração é possível encontrar
acontecimentos contidos nas entrelinhas da curta e média duração, é possível evidenciar
mudanças e permanências que não podem ser encontradas nas outras duas
temporalidades apresentadas por Braudel, pois há mudanças ou permanências que não
se expressam repentinamente, ao contrário, são constituídas em um longo período de
tempo até que se percebam de fato as alterações geradas pelo longo tempo.

A curta e a média duração são delimitações do tempo menores, elas podem ou


não estarem contidas na longa duração e a longa duração pode ou não se apresentar
nelas. Tratam-se de medidas temporais que evidenciam um período em que ocorrem
mudanças e permanências mais evidentes e repentinas, porém, essas mudanças e
permanências repentinas costumam resultar de uma longa duração a qual preparou o
contexto e o local para receberem tais mudanças ou para elaborar permanências
adaptadas ao novo contexto de sociedade residente na localidade estudada. Portanto,
essas duas temporalidades menores apresentariam períodos em que ocorreram
mudanças e permanências em maior constância e evidencia. Por exemplo, a curta
duração pode ser vinculada a um período político no qual os representantes de dado
partido assumem o poder, esses representantes estão na curta duração de quatro a oito
anos de mandato o qual podem exercer o poder, porém, o partido o qual pertencem é um
objeto da média duração que envolve desde seu nascimento e formação até o período
em que os representantes da curta duração assumem, já a longa duração pode ser vista
no conceito política, quando surgiu a política a qual fazemos hoje?

Para Braudel, a temporalidade histórica poderia ser analisada segundo as três


durações expressas nos parágrafos acima. Essas temporalidades, curta, média e longa
estariam em diálogo entre si. Essa análise temporal proposta inovou a maneira de fazer
a História, pois rompeu com a visão anterior de tempo linear e progressivo, ampliando a
análise de tempo histórico como três tempos em diálogo constante. Esse jogo de
temporalidades possibilitou a observação de continuidades e rupturas antes ignoradas
aos olhos dos positivistas, o tempo linear não poderia abarcar determinados
acontecimentos e a elaborações de permanências contextualizadas, já que seu enfoque
não o permitia voltar seu olhar para mudanças sutis, seu campo de observação o
restringia de olhar para além do óbvio, olhar as entrelinhas dos tempos.

É nesse contexto que Fernand Braudel escreve uma de suas obras mais
conceituadas e conhecidas na comunidade acadêmica, intitulada “O Mediterrâneo e o
Mundo Mediterrâneo na Época de Filipe II”, essa obra vem nos trazer uma nova, mas
sumariamente discutida, interdisciplinaridade com a Geografia. Como já ressaltado em
outro texto, História e Geografia tem sua raiz em um mesmo tronco científico, porém
com o século XIX e a fragmentação do conhecimento em disciplinas científicas, essas
duas disciplinas se distanciaram para adquirirem metodologias e teorias próprias.
Braudel, com essa obra em específico, reata a relação entre a História e Geografia, onde
o Mediterrâneo é o grande protagonista da obra, assumindo o lugar de Felipe II.

Dessa maneira, esse historiador utiliza do Mediterrâneo e sua geografia para


discorrer sobre a longa temporalidade presente nele. Esse Mar com relevância essencial,
para a humanidade, desde a Antiguidade Clássica, é utilizado para explicar as relações
humanas ocorridas por meio dele, ele é o responsável por proporcionar a ligação entre
diversos povos e sociedades que se utilizavam dele para se comunicar, comercializar
estabelecer relações de poder, de trocas culturais, entre tantas mais. Ao analisar o
Mediterrâneo, Braudel tece, novamente, a relação entre as disciplinas da História e da
Geografia, pois utiliza de dados geográficos para apresentar acontecimentos históricos
na longa temporalidade, ao utilizar-se da geografia com interdisciplina da História, ele
propõem reatar a relação entre as duas áreas do conhecimento sem negar a essência que
compõe cada uma.

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