Você está na página 1de 4

 

Licenciatura em História

Disciplina: História Contemporânea

Smith e a Filofia Moral

O projeto de Adan Smith e dos filósofos morais escoceses pretendeu explicitar os


princípios que conectam e ordenam a vida em sociedade. Para Smith, a tarefa da
filosofia era explicar os vários fenômenos, sendo naturais ou morais, a partir de
princípios bem conhecidos ou provados.

Para a grande maioria dos pensadores escoceses, tais princípios refletiriam o plano
de um grande artífice, aquele que planejou e executou essa obra, um ser divino. Deus
estaria para o universo assim como o relojoeiro esta para o relógio. Este argumento era
associado a uma visão providencialista de que a humanidade é candidata a formar uma
comunidade moral ordenada, ou seja, cada indivíduo tem o potencial de atingir a
perfeição moral da natureza humana, potencial que ira se realizar na medida em que
cada um compreenda essa possibilidade. Caberia à filosofia moral descortinar essa
possibilidade, revelando a cada um o papel que desempenha na consecução do desígnio
divino.

Essa concepção ligada a um argumento teológico sobre a existência de Deus foi o


ponto de partida para que os pensadores escoceses iniciassem as suas investigações
empíricas sobre as instituições sociais e econômicas efetivamente existentes. Porem há
casos, por exemplo, o de Hume, que consideram que a ordem social poderia ser
explicada sem qualquer tipo de interferência divina.

A respeito de Smith, alguns intérpretes consideram que o ponto de partida de sua


teorização é a crença em uma divindade sabia e benevolente cuja obra, estruturada ao
modo de um mecanismo, tem por finalidade promover a felicidade humana. Outros, que
sua teorização parte de uma doutrina incondicional de uma ordem natural harmoniosa,
sob direção divina, que promove o bem-estar do homem através da operação de suas
propensões individuais.

Diante das diferentes compreensões sobre o principio da teorização de Smith


toma-se uma posição intermediaria. Trata-se de reconhecer que, ao mesmo tempo em
que subscreve o argumento teológico sobre a existência de Deus, Smith raramente faz
uso dele. As explicações relacionadas à vontade divina só comparecem quando a
investigação em termos das causas eficientes já foi completada. A explicação teológica
surge como um complemento e não como um substituto de explicações causais.

A Simpatia e o Espelho da sociedade

Hutcheson afirma que os homens parecem dotados de tal profusão de desejos e


paixões que a natureza humana deve parecer à primeira vista um estranho caos ou uma
confusa combinação de princípios dissonantes, até que, por um olhar mais atento,
evidencie-se alguma conexão ou ordem natural entre eles, alguns princípios
naturalmente adaptados a regular todos os demais. Para Smith, a ciência que procura
investigar e explicar aqueles princípios conectantes é a filosofia moral.

Em relação ao modo como Smith concebe a moralidade, devemos inferir que ele
se distancia dos defensores da moralidade como algo intrínseco ou natural aos homens e
dos adeptos da visão que concebe a moralidade como um artifício criado para controlar
ou regular o potencial disruptivo das paixões humanas. A contribuição de mais original
de Smith a filosofia moral foi justamente a de ter removido a separação entre natureza e
artifício. Para Smith a moralidade em geral era artificial, mas ela era um artifício que
era natural para a humanidade, a personalidade das pessoas era algo adquirido no
intercurso com os outros.

Smith recusa, assim, a ideia de um estado de natureza que, histórica ou


conceitualmente, anteceda a condição civil da humanidade e reduz toda a moralidade a
uma convenção que resulta da vida em sociedade. Ao mesmo tempo ele torna esse
artifício uma condição natural para a humanidade.

O ponto de partida de Smith é admitir que os homens estão dotados de um


conjunto variado de sentimentos, e estes não são necessariamente bons ou maus. Nossas
experiências sensíveis atuam sobre estes sentimentos, que, por sua vez, determinam
nossas reações e comportamentos. Porem, o amor próprio, para Smith, é um principio
natural nos homens que nos permite garantir e aperfeiçoar nossa existência.

Todavia, para Smith, ao mesmo tempo em que os homens são inclinados a buscar
seus interesses pessoais, eles também se preocupam com os outros homens, com sua
felicidade ou seu sofrimento. Como seres naturalmente dispostos para a vida em
sociedade, nem mesmo o menos virtuoso dentre os homens consegue ser indiferente ao
que se passa com os demais, nos emocionamos diante da visão do sofrimento alheio.

Como não temos acesso direto aos sofrimentos dos outros homens, só podemos
formar uma ideia da maneira como eles se sentem ao imaginarmos como é que nos
sentiríamos se estivéssemos em sua situação. Este sentimento de solidariedade é o que
Smith denomina de simpatia, um principio bem conhecido e que ocupa uma posição
essencial em sua filosofia moral, pois é com base nele que podemos conectar todos os
demais princípios da moralidade.

O conceito de simpatia expresso por Smith dispõe de três sentidos distintos. O


primeiro é exatamente aquele de um sentimento de solidariedade que se manifesta na
forma de um interesse pela sorte dos outros homens. O segundo sentido apresenta o
conceito de simpatia como sinônimo de piedade ou compaixão, emoções que sentimos
frente ao sofrimento alheio. O conceito adquire maior precisão, porem, na terceira
forma em que é empregado, aquela a qual Smith vai edificar sua teoria moral, a palavra
simpatia denota uma correspondência de sentimentos entre a pessoa diretamente afetada
e aquele que observa atentamente a situação, o expectador.

É importante ressaltar que o conceito de simpatia não se restringe a compaixão ou


piedade e é mais amplo que qualquer forma de benevolência. A simpatia também não é
propriamente uma paixão, mas uma concordância ou correspondência de sentimentos.
Por fim o conceito de simpatia proposto por Smith é mais complexo e amplo que aquele
adotado por Hume. Para Smith, a simpatia refere-se ao compartilhar de qualquer
sentimento e, mais do que isso, não decorre de um contagio de sentimentos, mas
consiste num ato da imaginação.

Aquilo a que temos acesso é apenas o que pode ser observado, as circunstancias
que cercam o agente, mas não sua mente. Desse modo, a simpatia não decorre de
observarmos a paixão efetivamente experimentada pelo agente, mas de nos colocarmos
na situação que a provoca. A isso Smith acrescenta que nada nos agrada mais que
observar em outros homens um sentimento solidário com todas as emoções de nosso
próprio peito. 

É com base nesta correspondência de sentimentos que podemos formular


avaliações morais: quando as paixões da pessoa diretamente afetada convergem com as
paixões que o expectador produz em si mesmo por meio da simpatia, então o expectador
é movido a considerar aquelas paixões como necessariamente próprias ou adequadas. O
contrário ocorre quando as paixões produzidas através da simpatia diferem daquilo que
a pessoa efetivamente sente elas nos parecerão necessariamente inadequadas e
impróprias.

Você também pode gostar