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A Inovação, o Currículo, a Pedagogia, a Avaliação e a Aprendizagem e as


relações existentes entre estes

Article · July 2020

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Miguel de Carvalho
University of Lisbon
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Ensaio crítico
A Inovação, o Currículo, a Pedagogia, a Avaliação e a Aprendizagem e
as relações existentes entre estes


Miguel de Carvalho
Professor do 1.º Ciclo do Ensino Básico
carvalho.miguelde@gmail.com / carvalho.miguel@edu.ulisboa.pt

Introdução

O presente trabalho tem como objetivo uma reflexão critica sobre as relações entre inovação,
currículo, pedagogia, avaliação e aprendizagem.
Segundo Cros (2001), a inovação, em educação, é uma atitude intencionada e voluntária de
mudar para algo novo, ou uma reformulação e/ou combinação de práticas antigas, proporcionando
experiências com mais valor do que se tem experienciado.
Perrenoud (2002) contribui para a definição deste conceito quando afirma que o contexto
não pode ser esquecido quando se pretende criar práticas inovadoras.
Canário (2005) também colabora para a definição do mesmo ao referir que inovar é mudar a
escola no sentido de a melhorar, melhoria essa permitida pela proximidade que existe com o
contexto. Esta mesma mudança, para o autor, deve ter em conta a) que se gera para a resolução de
situações problemáticas existente nos contextos, b) os conflitos que podem surgir durante processo
de mudança, c) as negociações que podem ser necessárias realizar para que a mesma aconteça, d)
as estruturas em que se pretende atuar e/ou envolver e e) a mudança de comportamentos
pretendida.
Por sua vez, Tyack & Cuban (1998) afirmam que as mudanças devem ser feitas de forma
gradual, permitindo que haja tempo para mudar.
A inovação em educação, segundo Pintassilgo (2019), é um construir de práticas educativas
diferenciadoras associadas a projetos globais da sociedade, ou bastante particulares, que visam a
melhoria desta, envolvendo a comunidade educativa na construção de um bem maior.
O currículo, por ser um conceito polissémico, pelas variadas conceções propostas na área da
Educação, não apresenta um consenso pela generalidade da comunidade científica. Portugal, um país
onde o poder político é centralizado, assumo o conceito de programa definido pelo Ministério da
Educação, contrariamente a países como Inglaterra e Holanda onde é notória a existência de vários
currículos elaborados pelas comunidades educativas. Stenhause (1984) define o currículo como um
processo de trabalho, onde a teoria é transportada para a aula, centrada na figura do professor como
detentor de todo o conhecimento, prática que, nos dias de hoje, ainda é bastante evidente no
sistema de ensino português. Contrariamente a esta conceção, surge a o currículo como projeto e
prática, desenhados nas comunidades educativas, onde professores, alunos e a comunidade
educativa envolvente à comunidade escolar dão o seu contributo, prática conhecida nos países
nórdicos da Europa.
Numa visão mais tradicional, o currículo tem por base a racionalidade técnica, onde a
transmissão de conhecimentos está organizada em disciplinas, programados numa visão taylorista e
mecanicista (Tyler, 1949; Phenix, 1962; D’Hainaut, 1980).
Pacheco (1996), dá-nos uma definição mais atual e mais lato de currículo:
“(...) um todo organizado em funções de questões previamente planificadas, do contexto
em que ocorre e dos saberes, atitudes, valores, crenças que os intervenientes trazem
consigo, com a valorização das experiências e dos processos de aprendizagem.”

Pacheco (1996) acredita que determinado currículo existe em detrimento de cada sistema
educativo e, por isso, acrescenta uma dimensão mais prática à qual designamos de projeto educativo,
dinâmico e interativo, assumindo que o conhecimento é, também, fruto de uma interação social.
De acordo com Altet (1999), a pedagogia é o campo onde se transforma a informação em sob
a orientação do professor, através da comunicação e interação em determinada situação educativa,
apelando às relações interpessoais e sociais que estão subjacentes ao tratamento da informação e
da transformação desta em saber, num contexto real, no espaço onde a aula acontece.
A avaliação, segundo Fernandes (2010), apresenta-se com o propósito de emitir juízos, de
mérito ou valor, sobre a qualidade de dado objeto, e que pode trazer contributos para caracterizar,
compreender, divulgar e auxiliar na resolução de questões que têm impacto na sociedade
Tavares & Alarcão (2005) define aprendizagem como uma construção pessoal, resultante de
um processo experiencial, interior à pessoa e que se traduz numa modificação de comportamento
relativamente estável.

Reflexão

A definição de conceitos leva-nos a estabelecer relações entre os mesmos, tal como se sugere
na ilustração seguinte:

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Figura 1 - Relação de conceitos em Educação

Após a reflexão sobre as várias contribuições apresentadas para o conceito de inovação é-


nos possível concluir que inovação em educação é agir, deliberadamente, no sentido de construir
novas práticas ou recombinando saberes, capazes de proporcionar experiências mais
enriquecedoras, tendo em conta o contexto em que se pretende inovar, para resolver problemas do
mesmo em que se necessita atuar, negociando e planeando com os envolvidos, permitindo aos
atores apropriar-se do sentido de melhoria, no tempo necessário para que na prática faça sentido e
estes se apropriem desse desejo, sendo o produto final a melhoria da sociedade e a construção de
cidadãos críticos capazes de agir, onde a escola é o meio e o espaço primordial.
A discussão sobre o que é currículo está associada ao conceito inovação quando temos como
referência um currículo que é mais do que um programa fixado pelo poder central e tendo como
preocupação as aprendizagens significativas do aluno ao longo da vida. Na relação de inovação e
currículo surgem como atores os professores (mediadores no acesso ao conhecimento), os alunos
(pesquisadores, investigadores e construtores de conhecimento), as escolas (estruturas de apoio,
com instrumentos apropriados ou que possibilitam a construção de instrumentos, para a pesquisa,
investigação e construção de conhecimentos) e a comunidade educativa (veículo de inserção dos
alunos na sociedade).

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No que respeita à pedagogia esta também apresenta-se relacionada com os conceitos de
inovação e currículo uma vez que é através dos modelos pedagógicos que se permite aos alunos
aprender de diferentes modos, mediante as necessidades que os alunos sentem ou as problemáticas
encontradas pelos restantes atores.
A avaliação está, fortemente, relacionada a estes conceitos, nomeadamente quando se
questiona o que é avaliável no paradigma da inovação em educação. Sendo a avaliação o
quantificador e medidor de conhecimentos, esta é um elemento-chave quando se fala em avaliação
formativa, o feed-back. Recorrendo a esta tipologia de avaliação há melhoria: a) o aluno pode
melhorar o caminho que “escreveu”, regulando o seu processo de aprendizagem, b) o professor
auxilia na regulação do conhecimento, ao mesmo tempo que, na procura de uma melhor mediação
que pretende proporcionar ao aluno, investigará e questionar-se-á sobre a aprendizagem, no que e
como, c) a escola consegue medir a eficácia dos instrumentos que disponibiliza, aprimorando-os, se
necessário, ou até criando novos instrumentos e d) a comunidade é também capaz de
medir/quantificar a sua ação, melhorando as suas interações neste processo de ensino-
aprendizagem, no sentido de criar uma sociedade melhorada e consciente.
Todos estes conceitos não são dissociáveis da aprendizagem, pois o que se pretende é
capacitar todos os atores de conhecimentos, sejam eles de que natureza científica sejam, bem como
melhorar o produto final, uma sociedade inovadora, consciente e colaborante.

Referências

Altet, M. (1999). As pedagogias da aprendizagem. Lisboa: Instituto Piaget.


Canário, R. (2005). O que é a escola? Um “olhar” sociológico. Porto: Porto Editora
(pp. 89-120)
Cros, F. (2001). L’innovation scolaire. Paris: INRP.
D’ Hainaut, L. (1980). Educação: dos fins aos objectivos. Coimbra : Almedina.
Fernandes, D. (2010). Acerca da articulação de perspectivas e da construção teórica em avaliação
educacional. In Esteban, M. T. & Afonso, A. J. (Orgs.), Olhares e interfaces: Reflexões críticas
sobre a avaliação (pp. 15-44). São Paulo: Cortez.
Pacheco, J. A. (1996). Currículo: teoria e praxis. Porto: Porto Editora.
Perrenoud, P. (2002). Aprender a negociar a mudança em educação. Porto: Asa Edições.

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Pintassilgo, J., & Alves, L. A. M. (Coord.) (2019). Roteiros da inovação pedagógica: Escolas e
experiências de referência em Portugal no século XX. Lisboa: Instituto de Educação da
Universidade de Lisboa.
Stenhouse, L. (1984). Inventigación y Desarrollo del Curriculum. Madrid: Morata.
Tavares, J. & Alarcão, I. (2005). Psicologia do desenvolvimento e da aprendizagem. Coimbra: Edições
Almedina, AS (p. 86)
TYLER, R. (1949). Basic principles of curriculum and instruction. Chicago, IL: University of Chicago
Press.

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