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Gilberto Cifuentes Dias Araújo, Marlusa Gosling

GESTÃO DE ACIDENTES DE TRABALHO


EM UMA EMPRESA FRIGORÍFICA:
UM ESTUDO DE CASO

Gilberto Cifuentes Dias Araújo


M a r l u s a G o s l i n g

Resumo

Com o crescente aumento do rebanho no Brasil, estabelecimentos de


abate e processamento de carnes passam a ter maior importância na cadeia
produtiva do país, gerando mais renda e empregos. Por outro lado, o aumento
de produção e de postos de trabalho faz crescer, em geral, os riscos laborais
a que os trabalhadores de frigoríficos estão expostos. Os acidentes mais
comuns nesses estabelecimentos estão relacionados aos membros superiores,
especificamente, as mãos, dado o uso contínuo de ferramentas cortantes e
dada a exigência acentuada de forças e movimentos repetitivos. O presente
trabalho investiga os acidentes com as mãos de uma empresa frigorífica na
região metropolitana de Belo Horizonte Minas Gerais, a partir da análise
das comunicações de acidentes de trabalho (CATs). Os resultados mostram
que a empresa ainda está em fase embrionária na questão de segurança do
trabalho. Sugere-se que a empresa deve desenvolver e implementar um plano
formal de gestão de segurança que seja fortemente baseado em treinamentos.

Palavras-chave: Acidentes com as mãos. Segurança do trabalho.


CAT.

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Gestão de acidentes de trabalho em uma empresa frigorífica: um estudo de caso

Introdução b) Redução da mão-de-obra


na década de 90, com conseqüente
O aumento do tamanho dos aumento do ritmo de trabalho;
rebanhos, especialmente de bovinos, c) Grande número de tarefas
bem como o crescimento das associadas, complexas e com
exportações, é uma realidade que, diversos tipos de riscos;
se por um lado destaca a capacidade d) Característica da
produtiva do Brasil na indústria da atividade como “trabalho reverso”,
alimentação, em nível mundial, por ou seja, de desmontagem, ao invés
outro, representa um desafio maior da clássica montagem que
a quem gerencia as condições de caracteriza os processos de
ambientes de trabalho em empresas produção continua;
do setor, desde abatedouros até e) Grandes problemas
frigoríficos. ergonômicos resultantes do processo
de tração;
Segundo dados do
f) Grande ocorrência de
Ministério da Agricultura, Pecuária
acidentes com máquinas e
e Abastecimento (2007), o rebanho
ferramentas perfuro-cortantes;
bovino brasileiro aumentou cerca de
g) Riscos relacionados ao
28,49% em pouco mais de uma
ruído, umidade e grande alternância
década, passando de 161.228.000 de
de temperaturas;
cabeças em 1995, para 207.157.000
g) Riscos biológicos
em 2005. Em Minas Gerais, esse associados à atividade, devido ao
crescimento foi menor, cerca de 6%, contato com pele e pelo dos animais,
chegando em 2005, com 21.404.000 secreções e excreções, antes e
cabeças de bovino. No mesmo durante o abate;
período, o rebanho suíno decresceu h) Geralmente, as pessoas
5,54% no Brasil, enquanto, em trabalham em pé, com os braços
Minas Gerais cresceu 12,62%, erguidos;
passando de 3.368.000, em 1995, i) Poucas pausas, não
para 3.793.000, em 2005. ocasionando uma recomposição
O setor de carnes, do abate física completa dos músculos;
à mesa do consumidor, é um dos j) Grande incidência de
mais problemáticos no que diz doenças por esforços repetitivos e
respeito à segurança e saúde dos movimentos curtos;
trabalhadores, por vários motivos, k) Ocorrências de DORT
muitos deles listados na Nota (doenças osteomusculares
Técnica do MINISTÉRIO DO relacionadas ao trabalho),
TRABALHO E EMPREGO (2004), a principalmente nos setores
saber: do corte de bovinos e aves, devido à
a) Empresas trabalhando grande exigência de força nos
em ritmo frenético de produção; membros superiores.

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Diante do mencionado, o é necessário melhorar, visto que os


presente trabalho trata de analisar, funcionários do frigorífico tiveram,
a partir de CATs – Comunicação de no decorrer do ano de 2003, vinte
Acidentes do Trabalho, os acidentes horas de treinamento. Este valor
de trabalho ocorridos em uma corresponde a apenas 1% das horas
empresa frigorífica de Minas Gerais, trabalhadas. Uma das razões
no período de 2006. apontadas para o baixo volume de
Especificamente, pretende-se focar treinamento é a dificuldade de se
os acidentes com membros interromper a produção para serem
superiores (mãos). A seção seguinte efetuadas as qualificações. Outra
trata da literatura relacionada ao razão que também pode colaborar
tema, fazendo, assim, referências a para o baixo número de horas de
estudos anteriores. Em seguida, será treinamento é a falta de local
detalhada a metodologia utilizada e adequado para a realização de
os dados coletados serão analisados. capacitações no frigorífico.
Outro estudo sobre o tema
Estudos anteriores foi o de Gallois (2002). O autor, a
relacionados ao tema partir da análise de acompanha-
mentos médicos em ambulatórios de
Fernandes (2004) estudou indústrias frigoríficas, relacionou
indicadores de sustentabilidade de
algumas queixas habituais dos
um frigorífico avícola, dentre os
trabalhadores, e constatações de
quais estavam presentes itens
males à saúde, às baixas
relativos à segurança e saúde
temperaturas de trabalho das
ocupacionais. Como resultados
câmaras frigoríficas, sendo o frio,
relacionados à saúde e segurança
então, um agente agressivo.
dos trabalhadores da empresa
Para Gallois (2002), em
estudada, o autor explica que no ano
ambientes de baixa temperatura
de 2003 houve 11 acidentes, que
ocorre a maior predisposição para
ocasionaram afastamento do
acidentes, devido à perda da
trabalho, resultando em 70 dias. O
ano de 2002 apresentou 15 habilidade manual. É comprovada a
acidentes, que implicou a perda de maior incidência de acidentes de
144 dias de trabalho. trabalho, em virtude da diminuição
Segundo o estudo do autor, da sensibilidade dos dedos e
o turnover dos colaboradores do flexibilidade das juntas, em
frigorífico é de 6,01 anos, tempo ambientes em que a temperatura é
considerado bom pela área de igual ou inferior a 15 °C.
recursos humanos, que considera Na Tabela 1, tem-se que o
esse número um indicativo de baixa regime de trabalho-aquecimento se
rotatividade do corpo de funcio- aplica a qualquer período de 4 horas
nários. Por outro lado, em termos de de trabalho, com uma atividade de
treinamento, o autor argumenta que moderada a pesada, com períodos de

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Gestão de acidentes de trabalho em uma empresa frigorífica: um estudo de caso

aquecimento de 10 minutos em local Gallois (2002, p. 33-34), trata da


quente e com uma pausa longa em proteção para as mãos a fim de se
local quente (por exemplo, almoço), manter a destreza manual e, assim,
no final do período de 4 horas. Para evitar acidentes. Destacam-se os
trabalho leve a moderado seguintes pontos:
(movimentação física limitada): a) Para trabalhos de
aplicar o regime de um nível inferior. precisão, com as mãos descobertas

TABELA 1
LIMITES DE EXPORTAÇÃO PARA REGIME DE
TRABALHO/AQUECIMENTO PARA JORNADAS DE
4 HORAS (ACGIH)

Fonte: ABHO (1999), Citado por Gallois (2002, p. 32)

Para a proteção do por mais de 10 a 20 minutos em um


trabalhador contra o agente físico ambiente com temperatura abaixo
frio, só podem ser realizadas de 16 °C, devem ser adotadas
medidas adminis-trativas e medidas especiais para manter as
implantação de equipamentos de mãos dos trabalhadores aquecidas,
proteção individual. A norma da tais como jatos de ar quente,
ACGIH/ABHO (1999),1 citada por aquecedores radiantes (elétricos ou

1
American Conference of Governmental Industrial Hygienists/Associação Brasileira de Higienistas cupacionais.

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por combustão), ou placas de nuada a ambientes frios, encon-


contato aquecidas. Nota-se ainda tram-se:
que, sob temperaturas inferiores a - a) doenças de vias respi-
1°C, as par tes metálicas da ratórias superiores (gripes,
ferramenta e as barras de controle amidalite, laringite, bronquite,
devem ser cobertas com isolante broncopneumonias, dentre outras),
térmico. que resultam da exposição à
b) Se não for necessária alternância dos gradientes de
destreza manual, destaca-se que os temperatura, deixando as vias
trabalhadores devem usar luvas, respiratórias esfriadas, com pouca
sempre que a temperatura do ar cair resistência orgânica, o que favorece
abaixo de 16 °C, no caso de trabalho a patogenização dos vírus e
sedentário, 4°C para trabalho leve e bactérias;
-7°C para trabalho moderado. b) doenças reumáticas ou
c) Para evitar um agravamento quando pré-existentes
congelamento de contato, os (dores articulares, edemas
trabalhadores devem usar luva anti- articulares, etc), que dificultam os
contato. movimentos das articulações;
d) Deve-se aler tar o c doenças circulatórias
trabalhador quanto a evitar contatos (redução do fluxo sangüíneo, em
acidentais das mãos com superfícies especial nas extremidades), sendo
que os pequenos vasos com
frias, a temperaturas inferiores a -
constrição causada pelo frio
7°C.
prejudicam a circulação periférica;
e) Se a temperatura do ar for
d) agravamento de enfer-
–17,55°C, ou menos, as mãos devem
midades cardíacas, já que o coração
ser protegidas por luvas mitene. O
para de bater quando a temperatura
controle das máquinas e corporal atinge 18ºC negativos;
fer ramentas para uso nestas e) lesões dos tecidos e pele
condições deve estar projetado para ou necrose (frostbite), que são
per mitir sua manipulação sem bolhas, rachaduras e ulcerações
necessidade de remover as luvas causadas pelo frio;
mitene. f) necrose das extremidades,
O autor explica ainda que representada pela morte patológica
quando se trabalha em ambientes de grupo celular em contato com
com temperaturas de 4°C ou inferior, células vivas, também devido à
deve ser for necida a proteção exposição ao frio intenso;
adicional para o corpo inteiro. g) tonturas, desmaios e
Segundo Esteves (2003), confusão mental, pois quando baixa
dentre as doenças mais freqüentes a temperatura do corpo, baixa
provocadas pela exposição conti- também a do cérebro, causando

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Gestão de acidentes de trabalho em uma empresa frigorífica: um estudo de caso

comportamentos estranhos, inclu- recuperação física e mental, em


sive a queda da consciência e coma; atendimento ao disposto no subitem
h) perda de habilidade 17.6.3, alínea “b”, da NR-17 da
manual; Portaria 3214/78 e ao artigo 253 da
i) cristalização de elementos CLT. As pausas serão distribuídas da
sangüíneos. seguinte maneira: 20 (vinte) minutos
Para Campoamor (2006, p. de repouso após cada período de 1
25), o trabalho em frigoríficos (uma) hora e 40 (quarenta) minutos
compreende tarefas repetitivas, de trabalho contínuo ou,
sendo o processo de produção alternativamente, 10 minutos a cada
intenso. Em geral, as atividades período de 50 minutos trabalhados,
laborais são exercidas em ambientes computados esses intervalos como
inapropriados, incluindo má de trabalho efetivo.
iluminação, ruído, poeiras, limitado Os problemas referentes à
espaço físico. Tudo isso torna o ergonomia, r uído, umidade,
trabalho exaustivo e perigoso. exposição à alternância de tem-
Segundo Scholosser (2001), citado peratura e riscos biológicos são os
por Campoamor (2006), os acidentes principais fardos de trabalhadores
de trabalho que cor rem em de frigoríficos. Assim, esse tipo de
frigoríficos incluem lacerações trabalho requer uma intervenção
severas, amputações de membros, ergonômica, ou seja, um levan-
queimaduras, intoxicações por tamento de problemas relativos ao
produtos de limpeza, ferimentos funcionamento e uso inadequado do
oculares e aparecimento de doenças Equipamento de Proteção Individual
devido a traumas osteomusculares.
(EPI), à incompatibilidade entre o
Segundo a Nota Técnica do
EPI e a anatomia do trabalhador, o
Ministério do Trabalho e Emprego
possível prejuízo na comunicação, a
(2004), os processos de produção
atenuação desfavorável, entre
utilizados nas empresas de abate e
outros (PINTO, 2006).
processamento de car nes são
Na legislação brasileira,
organizados de tal maneira que as
acidente do trabalho é definido pelo
atividades de trabalho desenvol-
vidas apresentam potencial risco à Decreto nº 611/92 de 21 de julho de
saúde e à segurança dos 19929, que diz:
trabalhadores. A mesma norma Art. 139 - Acidente do trabalho é o
especifica que as empresas que ocorre pelo exercício do trabalho
garantirão pausas no trabalho para a serviço da empresa, ou ainda, pelo
exercício do trabalho dos segurados
os que trabalham em ambientes
especiais, provocando lesão corporal
artificialmente frios, durante as ou perturbação funcional que cause
quais os trabalhadores permane- a mor te, a perda ou redução da
cerão em ambientes com tempera- capacidade para o trabalho, perma-
tura superior a 20ºC, visando à nente ou temporária.

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Nota-se que a legislação, trabalho, quando delas decorrer a


por meio do mesmo decreto, incapacidade para o trabalho.
estabelece diferenças entre doenças Segundo o site do Ministério
profissionais e doenças do trabalho. da Previdência Social, a comu-
As doenças profissionais são aquelas nicação de acidente de trabalho
adquiridas em decorrência do (CAT) foi prevista inicialmente na
exercício do trabalho em si, por Lei nº 5.316/67, com todas as
exemplo, a LER/DORT em um alterações ocorridas posteriormente
digitador. Por outro lado, a doença até a Lei nº 9.032/95, regulamentada
do trabalho é decorrente das pelo Decreto nº 2.172/97. A Lei nº
condições especiais em que o 8.213/91 determina no seu artigo 22
trabalho é realizado, por exemplo, que todo acidente do trabalho ou
perda auditiva (ir reversível) doença profissional deverá ser
causada por trabalho sob ruídos comunicado pela empresa ao INSS,
excessivos no ambiente laboral. sob pena de multa em caso de
Ambos os tipos de doença são omissão. A Tabela 2 explica as
consideradas como acidentes do ocorrências e respectivos tipos de CAT.

TABELA 2
TIPOS DE CAT

Fonte: Site do Ministério da Previdência Social. Acesso em 2007

Materiais e métodos frigorífica pesquisada, de 2006).


Foram analisadas 48 ocorrências,
A presente pesquisa pode sendo que, destas, 36 representaram
ser caracterizada, conforme acidentes com as mãos. Adicional-
classificação de Marconi & Lakatos mente, para entender melhor os
(2005), como descritiva e resultados, foram feitas entrevistas
quantitativa, utilizando dados semi-estruturadas com funcionários
secundários (CATs da empresa do frigorífico. Foram entrevistados,

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Gestão de acidentes de trabalho em uma empresa frigorífica: um estudo de caso

com a anuência do frigorífico, 10 econômica (CNAE) 15.11.-3 – D –


trabalhadores (nível operacional), Indústria de Transformação, abate
envolvidos em atividades de de reses, preparação de produtos de
desossa. As entrevistas, de cerca de car ne. Nota-se que, segundo o
15 minutos cada, foram gravadas e CNAE, o “grau de risco da atividade”
depois transcritas. No entanto, é 3, em uma escala que varia de 1
enfatiza-se que as entrevistas foram (pouco risco, como por exemplo,
apenas conduzidas para triangular atividades jurídicas, contábeis e
os resultados encontrados pela assessoria empresarial) até 4 (alto
análise de dados secundários, ou risco, como por exemplo, indústrias
seja, não constituem a fonte extrativas de minério).
principal de dados da presente
pesquisa. Resultados e discussão
A empresa frigorífica
pesquisada encontra-se no Estado As atividades envolvidas na
de Minas Gerais, na região produção exigem, dos operários,
metropolitana de Belo Horizonte, rapidez e destreza na execução das
pertencendo a um grupo industrial tarefas. A fase primária do
fundado em 1949. Tem capacidade recebimento das carcaças com
de produção média de 4700t/ano descarga manual é a primeira etapa
(bovino e suíno). A empresa atende que envolve esforço excessivo e
grande parte da demanda do estado, inadequado dos funcionários. Na
atingindo parcela significativa do seqüência da descarga, as carcaças
mercado nacional. Na época da são colocadas pelos funcionários em
pesquisa, o frigorífico preparava-se trilhos horizontais deslizantes até
para entrar no mercado atingirem a pesagem. Em seguida,
internacional e tinha 220 empre- novamente é necessária grande
gados, com turno fixo de trabalho. agilidade para redirecionar a
A empresa conta com Comissão matéria prima para o congelamento
Interna de Prevenção de Acidentes ou para a desossa. Após a desossa,
(CIPA) legalmente constituída, com seguem-se atividades simultâneas
quatro titulares e quatro suplentes. que exigem agilidade para envio do
Confor me a Nor ma Regula- produto à área de sobras, corte
mentadora NR-4 (SEGURANÇA E nor mal ou especial e retirada
MEDICINA DO TRABALHO, 2007), mecanizada de membrana. A Tabela
o ramo de atividade enquadra-se no 3 descreve as áreas e os processo de
código nacional de atividade produção.

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TABELA 3
ÁREAS E PROCESSO DE PRODUÇÃO

Fonte: Elaborado pelos autores.

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Gestão de acidentes de trabalho em uma empresa frigorífica: um estudo de caso

Verifica-se o registro de aci- das atividades. A Figura 1 indica um


dentes ocor rido na empresa aparente paradoxo, ou seja, perce-
pesquisada, depois de avaliadas as be-se que, em termos relativos, se a
CATs, destacando que, das 48 ocor- produção está em alta, a ocorrência
rências de acidentes, 36 foram lesões de acidente é menor do que quando
nas mãos dos empregados. As 36 a produção está baixa. É possível
ocorrências representaram um índi- que o cansaço mental e físico do pe-
ce alto de afastamento, isso prova- ríodo da alta produtividade esteja
velmente devido à utilização das fer- sendo projetado para os meses se-
ramentas cortantes para a execução guintes.

Fonte: CATs digitalizadas.

FIGURA 1
ACIDENTES X PRODUÇÃO EM 2006

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Gilberto Cifuentes Dias Araújo, Marlusa Gosling

A Figura 2 revela que as treinamento, ferramentas inade-


ocorrências de acidentes concen- quadas (mal afiadas), sobrecarga de
tram-se basicamente na área de trabalho e falta de orientação da
produção conhecida como DESOSSA. chefia. Esses fatores podem estar
Em entrevistas semi-estruturadas
associados ao índice alto de
com os funcionários dessa função,
acidentes nessa função.
os mesmos relataram a falta de

Fonte: CATs digitalizadas.

FIGURA 2
ACIDENTES X PRODUÇÃO EM 2006

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Gestão de acidentes de trabalho em uma empresa frigorífica: um estudo de caso

Na Figura 3, constata-se carga de trabalho. Na opinião dos


que, durante a jornada de trabalho, empregados entrevistados, falta
a ocorrência de acidentes esteve orientação da chefia hierárquica,
pois no primeiro horário de trabalho
concentrada no período da manhã.
não existe sequer um momento de
Provavelmente, isso ocorre devido
reflexão (reuniões de segurança)
ao horário corresponder à chegada para alertar os empregados e verifi-
de matéria-prima para a preparação, car as condições emocionais dos
havendo, nesse período, uma sobre- mesmos.

Fonte: CATs digitalizadas.

FIGURA 3
OCORRÊNCIA DE ACIDENTES DURANTE A JORNADA DE
TRABALHO

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Considerações finais lidade táctil, aumentam a


resistência do produto e diminuem
Os processos de produção a destreza manual. Isso acentua os
utilizados nas empresas de abate e riscos de DORT e de acidentes. O
processamento de carnes são presente trabalho investigou
organizados de tal maneira que as acidentes com as mãos em um
atividades de trabalho desen- frigorífico de Minas Gerais. A partir
volvidas apresentam potencial risco da análise das CATs digitalizadas
à saúde e à segurança dos pode-se inferir que a empresa não
trabalhadores. Segundo a nota tem uma política de segurança
técnica do MINISTÉRIO DO eficaz: procedimentos, normas,
TRABALHO E EMPREGO (2004) treinamentos para a formação de
algumas atividades de trabalho em seus empregados não são efetivos e
frigoríficos exigem força no não se consegue evitar a ocorrência
manuseio de produtos e/ou no uso de acidentes com afastamento.
de ferramentas. O esforço depende Segundo os dados coletados,
da posição do objeto em relação ao em termos de análise das atividades
corpo e, portanto, o manuseio de e depoimentos dos trabalhadores
produtos ou equipamentos, mesmo durante coleta no frigorífico, é
de peso leve, pode exigir esforços recomendada a elaboração de um
importantes. Para as mãos, o esforço plano de ação, que leve em conta as
pode ser aumentado ainda pela ocorrências já existentes, visando a
forma do objeto que é manipulado, proteção dos membros superiores e
pelo uso de luvas e por baixas bem estar psicológico, reduzindo,
temperaturas do ambiente e do assim, a probabilidade novos
produto, que reduzem a sensibi- infortúnios aos trabalhadores.

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Gestão de acidentes de trabalho em uma empresa frigorífica: um estudo de caso

PINTO, N. M. C. Antropometria crânio -facial: uma


crânio-facial:
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MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. M. Fundamentos
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acidentes entre trabalhadores de uma industria
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aulo
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Dissertação (Mestrado em Enfermagem) – Manuais de Legislação. São Paulo: Atlas, 2007.
Universidade de São Paulo – USP, São Paulo, 2006.

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abatedouros. 2003, 159f. Dissertação
(Mestrado em engenharia de Produção) – Gilberto Cifuentes Dias Araújo
Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC, Mestre em Engenharia Agrícola – Universidade
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Pós-Graduado em Engenharia de Segurança do
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FERNANDES, M. A. Avaliação de desempenho de Professor do Instituto Federal de Educação, Ciência
um frigorífico avícola quanto aos princípios da e Tecnologia do Rio de Janeiro, Brasil
produção sustentável
sustentável. 2004, 120f. Dissertação Endereço para contato
(Mestrado em Administração) – Universidade Federal Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
do Rio Grande do Sul - UFRGS, Porto Alegre, 2004. do Rio de Janeiro.
Rua Oliveira Botelho, s/nº Neves
GALLOIS, N. S. P. Análise das Condições de Stress 24425-005 - Sao Goncalo, RJ - Brasil
Telefone: (21) 26280099
e Conforto Térmico Sob Baixas T emperaturas em
Temperaturas
URL da Homepage: www.ifrj.edu.br
Indústrias FFrigoríficas
rigoríficas de Santa Catarina
Catarina. 2002, 140f.
gcda79@yahoo.com.br
Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção)
–UFSC. Florianópolis.
Marlusa Gosling
MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E Doutora em Administração pela Universidade
ABASTECIMENTO. Disponível em: Federal de Minas Gerais - UFMG
<www.agricultura.gov.br>. Acesso em: 13 fev. 2007. Professora da Universidade Federal de Minas Gerais
na área de Estratégia e Marketing
Endereço para contato
MINISTÉRIO DA PREVIDENCIA SOCIAL. Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade
Disponível em: <www.mpas.gov.br>. Acesso em: de Ciências Econômicas, Departamento de
13 fev. 2007. Ciências Administrativas.
Av. Antonio Carlos, 6627 - Edificio FACE - Campus
MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO. Brasília. UFMG - Pampulha
30123-970 - Belo Horizonte, MG - Brasil
Nota técnica: medidas para controle de riscos
Telefone: (31) 34097042
ocupacionais na indústria de abate e processamento
mg.ufmg@gmail.com
de carnes
carnes. Brasília, 2004.

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