Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Introdução
relações, papéis, afetos, costumes, crenças e valores, sem muitas vezes articular Mas afinal, de quais fami
a temática com a macroestrutura do sistema social vigente. No entanto,
apesar de esse não ser o objetivo deste debate, não podemos desconsiderar a
importância desses estudos no aprofundamento da temática. Nesse universo,
De um modo geral, a ~
encontramos ainda estudos que publicizam, por meio de resultados de
social como fato cultural, hisrori
pesquisas, os perfis das famílias empobrecidas, beneficiárias de programas
relações sociais. Um grupo que p
sociais, principalmente após a implementação e expansão do Pro,grama Bolsa
(MIOTO, 1997), uma \-ez que
Família, o que evidencia o recorte de classe desse grupo social. E preciso, no
é dada naturalmente, mas COIlS'""'"
entanto, avançar em análises que contemplem a discussão a partir da ótica
suas negociações cotidianas .
da totalidade das relações sociais e, principalmente, da correlação de forças
reconhecemos a familia como es
presehre no âmbito institucional.
atravessado por contradições.
Este artigo se propõe a dialogar sobre a família contemporânea.e acerca
Outrossim, entendemos
da intervenção dos profissionais de saúde no trato com esse grupo a partir da como realidade intrin eca às dÍI;
ótica dos deveres e direitos sociais. O fio condutor desta proposta de trabalho pr~ssupõe a compreeo ão da est
surge de inquietações teóricas e da prática profissional, como assistentes Isso porque, assim como o DlOI
sociais inseridas na equipe multiprofissional de uma unidade de saúde de alta' desenvolvimento da \ida social
complexidade, sediada na cidade do Rio de Janeiro. da subsistência familiar inrerfeI1
Nossa proposta é problematizar tal temática a partir dos direitos a experiência familiar pode ser 1
sociais consubstanciados na Constituição brasileira, tendo como referência além de ser marcada pela hisl
as legislações que se seguiram e como pano de fundo o contexto da atenção diferenças e desigualdade sOO.
em saúde. Tal exercício teórico exige, necessariamente, uma visão crítica da família é, sobretudo, "remetê-Ia:
realidade social na qual a família brasileira está submersa e das expressões de tudo, família é realidade hisuj
da questão social1 presentes no seio da família e que refletem no contexto Partindo desse pre suposi
institucional das unidades de saúde. Entendemos que as demandas das famílias contemporâneas têJ
colocadas pelas famílias no contexto institucional são saturações das sociedade. No modo de produçi
expressões da questão social presentes na sociedade capitalista. Isso implica relações entre capital e trabalho
.J
problematizarmos a atenção ~m saúde tendo como horizonte o rompimento classes sociais que os con riruerr
com os paradigmas instituidos nos padrões da família burguesa, reconhecendo "o núcleo familiar não é uma ilha
a familia como "fenômeno plural"2 dentro do contexto de luta de classes, de permanentes tensõe e dis...c;e
Assim, pretendemos levantar alguns elementos que subsidiem o debate acerca família em sua totalidade. Essas
da temática da família no cotidiano da atenção em saúde e em particular no mais fortemente sentidas na soe
contexto hospitalar. questão social se manifestam
Tal condição se reprod
de produção e reprodução da
capitalistas de produção. Segtlfll
1. Questão social entendjda aqui, conforme define lamamoto (2005), como "o conjunto das expressões das dcsih'1Jaldaclcs sociedade brasileira se coo rrói
sociais da sociedade capitalist:l madura que tem lima raiz comum: a produção social é cada ve7. mais colctiva, o trabalho
torna-se amplamente social. enquanto a apropriação dos seus frutos mantém-se privada, monopolizada por uma parte da
da vida social, pois grande p
sfJCicebdc" (p. 27). padrões de ,produção, consumo
2. E:-.prcss:io utilizada por Pereira (2004). Assim, el1tel1de~seque fcnôml:l1o plural rl:fcre-sc à variedade de formas e arranjos,
trabalhistas jamais se generaliz:l
assoclada:ls significativas mudanças.dcmográficas, das determinações econômicas c políticas que atravessam c conformam
a UI\n"llbuc da din:imica da famHia na colltcmporancidalk.
"
141
•
143
•
;::.
Dados do IBGE, consolidados a partir do censo 2010, revelam que a
de cuidado para com a nec
tradicional formação nuclear de casais com Elhos representa hoje apenas 49,9%
separados, denominados po
dos domicílios, constatando-se um declinio paulatino desde 1980, quando essa
função dos Elhos havidos de
constituição representava 75% dos domicílios. Assim, as demais configurações
constantes de f1exibilizações
já representam a maioria, perfazendo um total de 50,1 %. Dentre as famílias
monoparentais, as chefiadas por mulheres são a maioria. A nova organização Nesse aspecto, cump
Civil, que ensaia urna 00'
familiar brasileira está assim distribuida: 66,2% de famílias nucleares (dentre
igualdade de direitos e de>eI
essas, as monoparentais femininas representam 15,1%, as masculinas 2,3%,
(expressa, por exemplo nas
os casais sem Elhos 20,7% e os casais com Elhos 61,9%); 12,2% de famílias
reconhecimento da união e
unipessoais; 19% de famílias estendidas (formadas por pelo menos uma
criação de mecanismo para 4
pessoa e outro parente que não seja filho ou pais); 2,5% de famílias compostas.
dos direitos das crianças e 2(
Ressalta-se, ainda, nesse contexto a existência de 60 mil uniões homossexuais e
reconhecimento da igualdadt
de 400 mil domicílios em que grupos de amigos coabitam e dividem despesas,
casamento ou por adoção; dt
convivendo debaixo do mesmo teto como se fossem uma farm1ia, sem, no
entanto, terem laços de sangue. Compreendendo a f:o
prosseguimento às reflexões
Tais configurações demonstram o que Mioto (1997) denominou de
relação entre família e poliô
"novos arranjos familiares". Para a autora não se pode falar de família, mas de
famílias. Nesse sentido, define-a da seguinte forma: várias são as dimensõe preso:
a semelhança entre a funçõ
Um núcleo de pessoas que convivem em determinado lugar, famílias, ou seja, a reproduç:àt:
durante um lapso de tempo mais ou menos longo e que se acham
unidas (ou não) por laços consanguíneos. Ele tem como tarefa , ... J O exercício n::
primordial o cuidado e a proteção de seus membros, e se encontra políticas soci:Us:
diaJeticamente articulado com a estrutura social na qual está social dos grupos '1
inserida. (MIOTO, 1997, p. 120). tradicionais, a &roi
funções, nas colIHlIli
Tal multiplicidade de configurações familiares aponta ainda para a o Estado pela na ~
necessidade de se ampliar a discussão sobre família para além do espaço de
convivência num mesmo domicílio, visto que os laços familiares acabam por se Nisso reside, a nosso n
estender também para fora deles6• Assim, não obstante conviverem em casas às famílias, em particular na '
separadas, ou terem sua própria família constituida, Elhos maiores têm deveres de programas que se seguiram à
assistência em relação aos pais idosos, bem como Elhos menores de pais separados direitos sociais, enfatizem o c
também têm direito à convivência com ambos, e estes, por sua vez, têm deveres reprodução e proteção ociaJ
7
tal função para a esfera prn-a.
que exclusivamente, para a ta.
6. Hú de se ressaltar que, em outra perspectiva de análise acerca da realidade da hlmiJia brasileira, Saro (2007) c Frcitas el aI. (2004), diante da retracão do
(2011, p. 27) também discutem a cxtcns;o da famllia para fora do domicílio' Freitas el "I. (2011) chamam atenção para
a família para além .das relações de parentesco c Sarti (2007), dentre outros autores, para a necessidade de se entender discursos e as práticas de' re>al
a famílü em rede. Essa compreensão é fundamental, pois caminha na contramão da concepção de t~m111iatmbalhada
concepção de cunho conserrac
pelos próprios órgãos oficiais de pesquisa, que geralmcnte assochm famflia c domjdlio, ~lssim como a que é assimibda
pc.lo sensu comum, que é dada nas sebrWn1cs definições: "pessoas apa_rent..'ldas que vivem, em geral, na mL'Sma casa, que a família é a grande respons.
particuhrmcntc o pai, a màe e os filhos", Ou Hpessoas do mesmo sanbYltc"ou "comunidade constituída por um homem c
uma mulher, unidos por laço matrimonial, e pelos filhos nascidos dessa união" ou "grupo formado por indivíduos que são
(ALENCAR, 2004, p. 63).
ou se consideram consan!:,1'llíncosuns dos outros, ou por dcsccnderem dum tronco ancestral comum c estranhos admjtidos Tal concepção invade o (
por odoção". (NOVO DlCIONÁHIO AUHI~1.I0 DA LíNGUA PORTUGUI::SA, 1986).
politicas sociais, em que ão
de cuidado para com as necessidades desses filhos menores, o que obriga casais
separados, denominados por Sierra (2011) de coparentais, a manter vínculos em
função dos @hos havidos de suas relações conjugais, a despeito das necessidades
gurações constantes de flexibilizações e negociações que tais relações implicam.
famílias Nesse aspecto, cumpre ressaltar os inegáveis avanços do novo Código
anização Civil, que ensaia uma nova visão do conceito de família, ao instituir a
(dentre igualdade de direitos e deveres entre homens e mulheres na sociedade conjugal
(expressa, por exemplo, nas alterações das regras de concessão de pensão); o
reconhecimento da união estável; a consagração do divórcio; a previsão de
criação de mecanismos para coibir a violência no interior da família; a afirmação
dos direitos das crianças e adolescentes à convivência familiar e comunitária; o
reconhecimento da igualdade de diretos dos filhos havidos ou não da relação do
casamento ou por adoção; dentre outros.
no Compreendendo a família sob a perspectiva aqui discutida, damos
prosseguimento às reflexões deste texto, buscando destacar nesse cenário a
ou de relação entre farru1ia e politicas públicas. Conforme afirma Carvalho (2007),
várias são as dimensões presentes nessa relação, mas dentre elas merece destaque
a semelhança entre as funções das politicas sociais e aquelas exercidas pelas
famílias, ou seja, a reprodução e a proteção social. De acordo com a autora:
145
conseguem dar conta da proteção de seus membros. Particularmente quando que a família passou a [er
idosos, crianças, adolescentes, pessoas com deficiência e doenças crôrucas, Assim, atualmente,
dentre outros segmentos considerados socialmente "vulneráveis" pela sua uma dinâmica bem sir:nili
condição de dependência de cuidados de terceiros e de pouca autonomia - que relação dos direitos socia
os tornam detentores de direitos sociais específicos - são direcionados como postura mais interventi\a
uma atribuição de "cuidar" centralizada na família. -, seja ancorada no camp
Assim, a partir das indagações feitas por Freitas (2000) acerca do lugar ações beneficentes da oc]
que a família ocupa na sociedade contemporânea e qual o seu significado hoje, Para um melhor e
para nós, profissionais. da saúde, torna-se pertinente avaliar a centralidade da sociais e as família na c
família e sua relação com o Estado sob a ótica da legislação referente a esse conceito de seguridade
segmento, tomando as seguintes questões como norteadoras dessa reflexão: das politicas públicas
Como a família pode dar proteção aos seus membros se são insuficientes as pública se deu a partir fi
ações destinadas, por parte das politicas sociais, ao grupo familiar? Em que e funções do Estado aq
medida a família brasileira tem hoje condições de cumprir as suas funções, que inaugurou os cha.rru;
socialmente atribuidas e legitimadas pelo Estado, no que se refere à reprodução modelo apresentou difere
social, tendo em vista a realidade brasileira contemporânea, profundamente O Welfare State, ou E rado
marcada pelo acirramento da questão social e regressão desse mesmo Estado pelos países desem"olndc
no campo dos direitos sociais? Esses questionamentos traduzem, de modo país, o sociólogo Francis4
geral, a complexidade e a profundidade da temática. Tais problematizações experiência chegou mm
constituem-se como caminhos para pensarmos as diversas formas institucionais "Estado de mal-e tar_OO
de assistência na saúde, a que são submetidas tais famílias.
Embora alguns Ul
conseguiu construir um "
- que marcou as sociedad
Família, estado e políticas sociais públicas: proteção social, de proteção social foi cor
corresponsabização ou responsabilização e transferência de fruto das reivindicações ci
papéis e funções? estava atrelado à conces àc
categorias profissionai o ~
- expressão cunhada por
Mioto (2004 p. ..,.,
Ao se estudar a literatura sobre as politicas sociais na contemporaneidade,
Estado nas famílias OCorre
verifica-se que a família tem tido centralidade nessa discussão, principalmente,
7 a partir da década de 1990 - após a aprovação da Constituição brasileira e as
8. Esta é uma gucstão que demanc:h
legislações 7 que a ela se seguiram. Legislações que estabelecem como princípios I
8. EstJ é uma questão que demanda uma reflexão critica acerca do pape.1 do Estado no âmbito da pro[cçào soa..al. pois sc, 7
por um lado, verificamos uma ação diTeta do Estado na implcmenração dos direitos socnJ.S.. FK>T oauo. identificamos
sua p,rticipação indircta, por meio do cofinanciamcnto das açõcs das ONGs. OCulte: d2 aarrada dcsJgu2lcbdc soaaI,
vcrjfica-sc o :Iumcnto da participação do "terceiro sctor" nas expressões da questão soc::iaLAcc:n::a dessas n:bções Estado
c sociedade civil c a funcionalidade d:ls ONGs, vide o filme Quanto vale ou é por quilo?, com ~ e rott:1IO de rgio
Bianchi, ano 2005. Para um aprofundarncnto sobre o tema, conferir, dentre outros, MONTAl'\:O, 2Ol2.
9. 1\ criação. do.s Lnsrituto.s de Apo.sentadorias c Pensões (lAPs) instirucio.naliza o. seguro. SCJ<:ttlfr2gmc::nado às classes
assal:trjadas urbanas do.s selares de arividadc cconômica. Scmrcs esses compostos por marítimos, Inncãrios., comerciános,
~ndustriaisentre outra~ catcgorüs organizadas e regulamentadas. 'Intercssante ressaltar gue todas as categorias profissionais
Incorporadas a esse Sistema de sChruro social estavam atreladas ao mcrcado dc trabalho forma] e com uma cenrralJdadc
na nasccntl: sociedade brasilcira capitalista, rc~lfirmando, assim, a concepção. definida por Samos de cidadarua rcgu1ada
(Santos, 1987).
147
•
definição e regulação das relações familiares - por exemplo, o casamento, dentre coletivas do conjunto dos trabal
outras; das políticas demográftcas - nas quais se ressalta a questão da natalidade; dos movimentos sociais da déau
da difusão de uma cultura de especialista no aparato policia/esco e assistencia/ do Estado civis e politicos à totalidade da s
destinados especialmente às c/assespopulares - podemos exemplificar aqui o caso das proteção social específico - bas
assistências à saúde. afirmação de direitos sociais e df
A autora também aponta que estudos demonstram duas linhas de Historicamente, a Con rir
interpretação da relação entre Estado e família. Uma ancorada na perspectiva institucionalizada, e somente a
da família como agente passivo, com redução de funções ou autonomia perante direitos específicos para dererrn
a ação do Estado - visão na qual o Estado se configura como ente regulador "vulneráveis"!! em alguns a.spe:crr
da vida privada. A outra linha de interpretação tem indicado que a interferência como sinalizado anteriormenre
do Estado na família tem se realizado mediante uma redução de funções, numa Estatuto da Criança e Adolesco
perspectiva de sobrecarga de funções dada à família - unidade econômica e de Politica Nacional do Ido o, na
serviços (MIOTO, 2004, p. 48). Observa-se assim uma evidente diferenciação do Idoso, na Lei 7.853/89 da Pc:
de concepções de família, a primeira como família mais homogênea e a regulamentou a Lei Orgânica de
segunda mais heterogênea, em termos de classes sociais e dos membros em posteriormente, a Politica ::\"ari01J
suas relações. De acordo com essa última concepção, entende-se que o Estado Há que se ressaltar, contudo que·
não deve restringir-se à garantia dos direitos individuais, mas sim incorporar legislações supracitadas, enfaciza c
nas discussões das politicas sociais e nas agendas políticas de modo geral, e politicas que os garantam, po o
instrumentos de sustentação dessas famílias. seus membros !2,colocando-a COll
O problem3; nessa visão é que o atendimento a essas famílias decorre, A despeito do a\anç05 i
por parte do Estado, de ações focadas na responsabilização da família. à Constituição de 198 ainda
Entretanto, quando os papéis socialmente atribuidos aos membros da família expressões da questão ocial qm
(como exemplos, à mulher, o cuidado; ao homem, ser o provedor da casa) não determinando a organização m
são correspondidos ou cumpridos, há uma culpabilização dos membros desse necessidades dos segmento r:
grupo social por parte da sociedade e do Estado, sem considerar a realidade dentre outros. Assim a I~
macroestrutural na qual essa família está inserida.
aproximação com a totalidade •
De acordo com Behring (2004), o governo, a partir da década de 1990,
arranjos e configuraçõe nào do
mostrou-se preocupado em direcionar as politicas sociais de forma focalizada na
investimento na promoção da i.aJ
extrema pobreza, dando destaque à área da assistência social para os programas
há a necessidade de melhorar _
de transferência de renda. Reflexões trazidas por Bravo e Menezes (2011)
de implementação da legi Iação_
revelam, contudo, que, apesar dos avanços nas condições de vida de milhões
de brasileiros, os programas de transferência de renda não constituem um
7
direito. Trata-se de uma política de governo, e não de uma politica de Estado, 10. A Seguridade Social inclui as politiC2s doe.......:..
podendo, portanto, ser extintos a qualquer momento. Desse modo, defendem 11. São considerados nesse COntexto: ~ e ~
doenças crôniGls. como exemplos o cina:r c .a•
ainda as autoras que "o combate à pobreza não se Qá somente por políticas de
12. Acerca dessa afirmativa, consulmT o capírulo \ U
tran~erência de renda. Essa questão deveria ser articulada às outras políticas do Idoso, observamos que ~1ntO na l...cido Idao
da sociedade c do Estado amparar as pessoas I
sociais, no contexto de universalização da proteção social, assim a garantia de
dif,'niJadc c bl:m-cstar c garantindo-Ihcs O m:t::.
renda seria compreendida como direito" (BRAVO e MENEZES, 2011, p. 17). Criança c Adoksccntl: determina em seu an. •
poder público assegurar, com absoluta pnoodad
Não obstante tais questões, a Constituição Federal de 1988 - chamada
educação, ao esporte, ao Jazer, :1profission:alizx::i
de "Constituição Cidadã" - ampliou os direitos de cidadania. A partir das lutas e comunitária" (Lei 8.069/90, ~rts. 40 e 22. gnli:
inf:incia,:\ adolescência, à velhice e à pessoa com
coletivas do conjunto dos trabalhadores, principalmente com o protagonismo
dos movimentos sociais da década de 1980, buscou expanclir os clireitos sociais,
civis e políticos à totalidade da sociedade brasileira e inaugurou um padrão de
proteção social específico - baseado no tripé da Seguridade SocialJO -, como
afirmação de clireitos sociais e deveres do Estado.
Historicamente, a Constituição de 1988 foi o marco da proteção social
institucionalizada, e somente a partir dessa legislação que surgem alguns
clireitos específicos para determinados segmentos da sociedade considerados
"vulneráveis" I I em alguns aspectos da vida social. Tais clireitos se materializaram,
como sinalizado anteriormente nas Legislações a seguir: Lei 8.069/90 do
Estatuto da Criança e Adolescente (ECA), na Lei 8.842/1994 que instituiu a
Política Nacional do Idoso, na Lei 10.741/03 que regulamentou o Estatuto
do Idoso, na Lei 7.853/89 da Pessoa com Deficiência, e na Lei 8.742/93 que
regulamentou a Lei Orgânica de Assistência Social (IDAS) - que fundamentou,
posteriormente, a Política Nacional de Assistência Social (PNAS), dentre outras.
Há que se ressaltar, contudo, que se, a Constituição Federal, assim como todas as
legislações supracitadas, enfatiza o dever do Estado na implementação de clireitos
e políticas que os garantam, por outro lado, transfere para a família o cuidado de
seus membros 12, colocando-a como a responsável no âmbito da proteção social.
A despeito dos avanços identificadós nas legislações que se seguiram
à Constituição de 1988, ainda se observa uma fragmentação no trato das
expressões da questão social que se mantém focado no inclividuo, o que vem
determinando a organização da agenda das políticas sociais, centrada nas
necessidades dos segmentos priorizados - idosos, crianças e adolescentes,
dentre outros. Assim, as legislações não conseguiram contemplar uma
aproximação com a totalidade do universo familiar, em sua pluralidade de
arranjos e configurações, não determinando, portanto, ao Estado o efetivo
investimento na promoção da família. Nessa perspectiva, Costa identifica que
há a necessidade de melhorar substancialmente a posição da família na agenda
de implementação da legislação social já existente, a partir do entenclimento da
10. A Scguridadc Social inclui as políticas de assistência social, saúde c previdência social. 7
11. São considerados nesse contexto: crianças c adolescentes, idosos, pessoas com defioêncta e pessoas acometidas por
doenças crônicas, como exemplos o câncer c a insuficiência renal crônica - no rr.munento dW.ícico.
•
12. Acerca dessa afirmativa, consultar o capítulo VT1,artigos 227, 229 c 230 da Consricuição FetIa2i. Com rd3çio.o Estatuto
do ldoso, observamos que tanto na T...cido Idoso quanto na Constituição, a lei determina que seja <Je"n cb "famlli.a,
da sociedade c do Estado amparar as pessoas idosas, asscgurJ.odo sua participação rul corIl1lJlkbdc, defendendo sua
dignidade.: c bem-estar c garantindo-lhes o direito à vida" (Constituição FedcrnJ, an. 230, grifo nosso). O Esl:3tu[Q da
Criança c Adolescente determina em seu art. 40 que "é dever da família, da cornunidack., da sc:>aed:a.ckem geral e do
poder públjco assegurar, com absoluta prioricl:.Jdc,a efetivação dos dircitos rcferentes à \-kb, à S200t; à alimentação, à
educação, ao esporte, ao Jazer,ú profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respclto, à liberdade e:i convivência familiar
e comunitária" (Lei 8.069/90, arts. 40 c 22, grifo nosso). A LOAS, por sua vez. estabelece a proteção â maternidade, à
infância, à adolescência, à velhice c ~i
pessoa COI11 deficiência, rendo por objctivo a protcção à familJ.a.
149
•
família como ponto de confluência das realidades da criança, do adolescente, todo individuo nas suas reh
do jovem, da mulher, do homem, do deficiente e do idoso (COSTA, 2011, p. A atenção em saúd(
23-4). O atendimento focalizado em um membro da família contrapõe-se à fundamentam as relações er
concepção ampliada desse grupo social. considerando nessa interlo
Nesse sentido, a centralidade da família nas politicas públicas deveria as fa111l1iascontemporânea:
enfatizar a promoção de ações a seu favor, sobretudo, na implementação das responsabilização e particip
leis. Caso contrário, corre-se o risco de reduzir o trato à família exclusivamente Uma primeira quesrii
ao seu papel de responsável pela proteção de seus membros, culpabilizando-a pelas famílias na cena conte
pela via dos discursos conservadores. De acordo com Pereira (2004), no em propostas como a des<J
Brasil a instituição familiar sempre fez parte integral dos arranjos de proteção para a questão da saúde mel
social, mas há de se considerar que coexiste uma dificuldade de readaptação do tempo de internaçào, o
das politicas sociais para as mudanças ocorridas nas últimas décadas no seio de pessoas acamada e em
da família brasileira. convocam a família à pacril
Ao mesmo tempo que o país avança com a promulgação da Constituição à formação de cuidadores
de 1988, consolidando o sistema de proteção social materializado no tripé da Programa de Estratégia de
Seguridade Social, a partir dos anos 1990 as politicas sociais públicas sofreram se hoje menos em inrerru
fortes ataques da perspectiva neoliberal de redução do Estado no campo das médico de família, cuidadOl
politicas sociais. O Estado brasileiro passa a promover a transferência de suas na área da saúde em todas .
responsabilidades para outras esferas da sociedade. complexidade quando es
Segundo Pereira (2004), "desde a crise econômica mundial dos no fim da vida no âmbiro
anos 1970, a família vem sendo redes coberta como um importante agente o valor da proximidade e
privado de proteção social" (p. 26). Nesse contexto, emerge o discurso da singular, bem como a imt
corresponsabilidade, solidariedade ou parceria entre Estado, sociedade, de cuidado, por outro con
mercado e as famílias na proteção social. Esse processo se configura como um contingente de família;
uma "estratégia de esvaziamento da politica social como direito de cidadania, já os membros da família em
que, com o 'desvanecimento das fronteiras entre as esferas pública e privada', para essa assistência em ru'
se alarga a possibilidade de privatização das responsabilidades públicas, com podemos desconsiderar que
a consequente quebra da garantia de direitos" (PEREIRA, 2004, p. 33). No das doenças, dos proble
entendimento de Pereira (2004), após as mudanças estruturais da sociedade e âmbitos da convivência farr
do Estado, assistiu-se à formação de um modelo misto ou plural de proteção Esse quadro em CJUl
social, denominado de "pluralismo de bem-estar", o qual paulatinamente foi institucional ao domiciliar re
colocando a familia na "berlinda" (PEREIRA, 2004, p. 25). frente aos seus membro ru!
7
Assim, concluímos que o papel do Estado deveria ser não o de substituto, cumprimento de seu papel
mas o de um grande aliado e fortalecedor desse grupo, proporcionando participação da família no pl
condições concretas para que as familias possam se reorganizar na construção o que aqui se discute é.a tra.r
de sua cidadania e no desempenho de suas responsabilidades e funções frustram diante de uma real
socialmente construídas. Ou seja, ancorada em condições materiais de
eyjstência que lhe garanta suprir as necessidades básicas de seus membros, a
13. Segundo" Organiz"ç:io M undi:li de
familia poderia exercer seu papel primário, primordial e precípuo de proteção, dos pacientes c seus famiJjarcs no en.fra:J
educação, cuidado e aporte afetivo e emocional - mediações fundamentais a do sofrimento. 'Isso significa a idenci6caç
c cspirirual. Fonte: <http://w\V\óno._gf!
todo indivíduo nas suas relações sociais cotidianas.
A atenção em saúde nos convoca a refletir sobre quais os pilares que
fundamentam as relações entre instituição, profissionais e usuários dos serviços,
considerando nessa interlocução os principais limites e desafios de lidar com
as famílias contemporâneas, incorporando ao debate os aspectos inerentes à
responsabilização e participação no cuidado em saúde.
Uma primeira questão a pontuar é que a evidente centralidade adquirida
pelas famílias na cena contemporânea das políticas sociais se expressa na saúde
em propostas como a desospitalização dos doentes crônicos - com destaque
para a questão da saúde mental e mais recentemente da hanseruase -, a redução
do tempo de internação, o incentivo ao tratamento domiciliar nas situações
de pessoas acamadas e em cuidados paliativos 13, dentre outras situações que
convocam a família à participação no cuidado dos seus membros, o fomento
à formação de cuidadores de idosos e, emblematicamente, a implantação do
Programa de Estratégia de Saúde da Família. Segundo Carvalho (2007), "fala-
se hoje menos em internação hospitalar e mais em internação domiciliar,
médico de família, cuidador" (p. 270). Essa tem sido uma perspectiva utilizada
na área da saúde em todas as esferas de atenção, e de forma particular na alta
complexidade quando esta se remete à assistência em cuidados paliativos ou
no fim da vida no âmbito doméstico. Se por um lado essa proposta ressalta
o valor da proximidade e do convívio com os familiares nesse momento
singular, bem como a importância da participação da família no processo
de cuidado, por outro, considerando-se a realidade brasileira - formada por
um contingente de famílias empobrecidas economicamente -, sobrecarrega
os membros da família em virtude da falta de suporte por parte do Estado
para essa assistência em nível domiciliar, como o home care. Além disso, não
podemos desconsiderar que, dependendo da família, muitas vezes é este o lócus
das doenças, dos problemas sociais e até da ausência de cuidados, em todos os
âmbitos da convivência familiar.
Esse quadro, em que se ensaia o deslocamento da lógica do cuidado
institucional ao domiciliar responde por uma maior responsabilização da família
frente aos seus membros na mesma proporção em que o Estado se ausenta do
cumprimento de seu papel. Em que pese o reconhecimento da importância de 7
participação da família no processo de recuperação da aúde de seus membros,
o que aqui se discute é a transferência'de atribuições e re pon abilidades que se
frustram diante de uma realidade social adversa. Acena- e para o cuidado em
13. Segundo a Organjzação Mundial dI..: Saúde, cuidados paUativos consistem na abordagc:m p:;lG mclhor.u a qualJd3de de lida
dos pacientes c seus f.,milürcs no cnfrcntamcnto de doenças que oferecem asco de \,ch, p>r moo da Prr\'cnção c ali\-io
do sofrimento. ]sso significa a idcntit1cação precoce c o tratamento da dor c outto~9monus de ordem fiSlca, psicossocia!
c espiritual. Fonte: <http://w\Vw.inca.gov.br/contcudo_dc\t:asp?id=26>.
151
•
153
•
são fundamentadas nas expectativas sobre as tarefas e funções que lhe são critica e qualificação con tame
historicamente atribuídas a partir da ótica burguesa e conservadora. que tange à concepção da fam
° risco dessa visão é reproduzir na saúde as mesmas expectativas suas relações com seus membJ
identificadas por Mioto (2004) no complexo judiciário, no qual se espera "um Se o profissional julga
mesmo padrão de funcionalidade das familias, independente do lugar em necessário aos seus membro
que estão localizadas na linha de estratificação social, padrão este calcado em e realiza ações policiale cas,
postulações culturais tradicionais" (MIOTO, 200115 aptld MIOTO, 2004, p. 4). desconsideram as realidades s
De acordo com a autora, os serviços, de um modo geral, continuam entendendo caráter plural das configuraçi
a família a partir de uma visão de papéis típicos de uma concepção fechada e Nessa discussão, colocam-se e
limitada de familia, em que a mulher é responsável pelo cuidado e educação sociais definidos nas I
dos filhos e o homem é aquele que se responsabiliza pelo sustento e autoridade participação, frente às respons:
frente à sua familia. Dessa forma o termo "familia desestruturada" é ainda às familias, o que e consri .
comum ente utilizado nos espaços institucionais para caracterizar aquela familia intervenção com farnilias na aJ
que apresenta sinais de pobreza, alcoolismo, violência e abandono, ou seja, Uma concepção fech
aquelas que contrariam as expectativas sociais quanto ao seu papel e funções no familia pode produzir recorre
que tange as normas socialmente definidas. equipe no processo de arençã
Tais considerações iniciais apontam para a necessidade de se entender à saúde produzem longo pel
e incorporar a familia como unidade de trabalho do setor saúde, no intuito continuados, como ocorre o
de possibilitar a qualificação dos profissionais acerca da temática desde sua o cotidiano dos usuário em
formação acadêmica. Marsiglia (2007) aponta para essa mesma perspectiva ao necessidade de interação enrn:
analisar o Programa de Saúde da Farrulia (pSF). Afirma a autora que pouco tem Essas questõe pode::r
sido feito para preparar os profissionais de saúde para abordagens de familia, tantas outras que se prodU2el
como se tal processo fosse decorrente de capacidade inata e não objeto de particular em período de hos
conhecimento especializado16• Essa é uma discussão fundamental no sentido
de desconstruir a visão normativa, que nos parece comum nos serviços de julgar a recusa ao traI
saúde, de que algumas profissões específicas, notadamente o serviço social e a escolhas e deci õe :u
psicologia, é que são depositárias da habilidade de lidar com as familias. dos indivíduo denrr
,- Embora o impacto das mudanças nas relações, padrões e concepções de atribuir falta de alem
familia perpassem o cotidiano dos profissionais de saúde, sua compreensão ainda familia em 1e\3I de 1
é atravessada pelas impressões e modelos internalizados e idealizados de familia se tornou dependem
burguesa. Tal concepção pode provocar conflitos acerca do entendimento que A ocorrência d
compartilhamos de família a partir das nossas experiências e os modelos de adoecimento produzi
7
familias com as quais trabalhamos. Nesse sentido, há necessidade de capacitação consequenternenn; Ín
se o usuário é idoso, (
transformar unilarera
15. MIOTO, R. C. T. Novas propostas c velhos princípios: subsídios para a discussão da assistência às famílias no contexto do idoso ou pessoa
de programas de odcntação c apoio sócio-familiar, Rel'isla Fronleras, Montcvidco, 11. 4, 2001, p. 93-102.
acompanhante em de
16. Acerca do PSF, l: preciso destacar ainda, fi não incorp~ão de assistentes socia.is na cCjuipc de saúde - pro~lssionais
tl'órica c tecnicamente clualiiicados no trato das expressões da questão social postas no cotidiano da saúdc -, ficando como negligente a fa
o agente comunitúrjo num exercício rncsshinico constante de dirccionar as demandas apresentadas pela família nessa
realidade multifacctada. Conforme supracitado, identificamos, no ccrnc dessa questão, uma lacuna na formação dos
o recorte de gênero
prolissionais de s3úde acerca da discussão da tcm:ítica da família nas grades curricularcs.
lhe são crítica e qualificação constante dos cliversos profissionais da equipe de saúde no
que tange à concepção da família contemporânea e das legislações que regulam
suas relações com seus membros, com o Estado e com a sociedade.
Se o profissional julga a família como incapaz de exercer o cuidado
necessário aos seus membros, imprime posturas de regulação da vida privada
e realiza ações policialescas, estabelecendo normas e condutas, nas quais
desconsideram as realidades sociais e econômicas da farru1ia em questão e o
caráter plural das configurações familiares presentes na contemporaneidade.
Nessa cliscussão, colocam-se em choque o direito à proteção social, os clireitos
sociais definidos nas legislações, o clireito à privacidade, à autonomia e à
participação, frente às responsabilidades ou funções atribuidas traclicionalmente
às famílias, o que se constitui num desafio a ser enfrentado no cotidiano da
intervenção com famílias na atenção em saúde.
Uma concepção fechada, limitada, idealizada e pré-concebida de
familia pode produzir recorrentemente uma série de conflitos entre família e
equipe no processo de atenção em saúde, particularmente quando os agravos
à saúde produzem longos períodos de hospitalização ou exigem tratamentos
continuados, como ocorre nos casos de doenças crônicas que centralizam
o coticliano dos usuários em torno dos serviços de saúde, intensificando a
necessidade de interação entre equ.ipes de saúde e família.
Essas questões podem ser ilustradas pelas seguintes situações, entre
tantas ou.tras que se produzem coticlianamente nas instituições de saúde, em
particular em períodos de hospitalização:
155
•
157
•
do grupo familiar, ação em que não se problematiza, por exemplo, a possível pública, com a consagraçãe
fragilidade de vínculos socioafetivos, bem como o possível envol:-imento da constituição dos direiros
dos demais membros da família extensa (interna e externa ao dOln1cílio) com contexto da saúde oferece ü
questões pertinentes à sua própria sobrevivência/cotidiano. Tendência que e estudiosos da área, princip
gera condutas em que subjaz uma concepção de família idealizada e não uma curriculares de todos o pro
compreensão acerca da realidade concreta em suas múltiplas determinações. família na problematização (
Essa mesma ideia perpassa a discussão da permanência de Neste texto tivemos
acompanhantes nos espaços das enfermarias, mais especificam~nte o fundamentais para pensarm
acompanhamento por familiares do sexo masculino. As legislações eXistentes ela, frente às políticas e pro
(para crianças, adolescentes, idosos, pessoas com deficiências) são claras das configurações que se apl
no que diz respeito à garantia de um acompanhante, e não há distinção de que são inerente aos
generol'. A rentativa de se impedir a permanência de acompanhante do sexo impõe, determina o lugar q
masculino pode implicar, inclusive, desdobramentos jurídicos, uma vez que
bem como delineia as m ti)
a negati,-a requer a justificativa, por escrito, por parte da equipe de saúde.
e aos profissionais de saúde
A incorporação desses aspectos no cotidiano da saúde e o reconhecimento
Como observamo b
desse direito a partir dos interesses dos usuários também vão ao encontro da
um modo geral, em tratar a J
Política Nacional de Humanização e da necessária construção de uma nova
que lhe é atribuído pela ocia
cultura, que identifique o homem como cuidador, não restringindo essa função
membros. Identificamo qut
apenas ao sexo feminino. Postura que coaduna com o reconhecimento das
cotidiano da politica de
transformações ocorridas no âmbito da vida cotidiana das famílias no que
diferentes formas de mrern=:
se refere às alterações nos tradicionais papéis socialmente estabelecidos,
dos usuários do sistema de s
desempenhados antes pelo homem e pela mulher.
Contudo, é nec
Essas e outras questões, que emergem conflitantes no cotidiano da
sobre a temática da família Il
atenção em saúde, posto que atravessadas pelas concepções dos profissionais
saúde para que possamo ic
de saúde, ratificam a necessidade de se buscar o entendimento da família na
mais próximas às realidades
ótica de sua produção e reprodução material.
fanu1ia em suas particularieb
Desse modo cabe u
Como a politica de sa - e'
Considerações
atenção? Como e dá a
nas unidades de saúde:- Q1
Quais as repercussõe de:s!
7 o
estudo sobre família mostra sua relevância principalmente a partir Tais questionamento abre
da década de 1990, quando seus membros começaram a ter visibilidade enriquecimento do debare '
saúde. Que as várias caregt:
este estudo, no sentido de 1
18. Nesse aspecto, cumpre ressaltar que a Carta dos Direitos dos usuários da saudc tem por püncípio que lodo cidadão tem direito
ao atendil/Jento h/IJIJtJlJiif1do, acolhedor e lúre de IjllalqmT discrilllinação. Todo cidadão tem direilo a tJlendillJeJJlo Ijlle respEite a I/la pessoa, das famílias contemporânea
sem l!uloreJ e seus direitos. Assim define o quarto artigo do referido documento IV. O direito ao acompanhamento por
atendimento aos usuário di
pessoa de sua livre escolha nas consultas, exames e internações, no momento do pré-parto, parto c pós-parto
c cln todas as situaçõcs previstas em lei (criança, adolescente, pessoas vivendo com deficiências ou idoso).
Nas demais situações, ter direito a acompanhante c/ou visim diária, não inferior a duas horas duranre as irucrnações,
ressalvadas as situações técnjcas n~o indicaebs (Carta dos Di.reitos dos usuários da saüde; gritos nossos).
pública, com a consagração das leis que protagonizaram os SUjeItos a partir
da constituição dos direitos sociais. Estudar esse tema em sua relação com o
contexto da saúde oferece inúmeros desafios e caminhos para os profissionais
e estudiosos da área, principalmente pelo fato de não encontrarmos nas grades
curriculares de todos os profissionais da equipe multiprofissional a temática da
família na problematização do processo de saúde/doença.
Neste texto tivemos a preocupação de indicar alguns aspectos que são
fundamentais para pensarmos a família contemporânea. A centralidade dada a
ela, frente às políticas e programas é palco de uma análise mais sucinta diante
das configurações que se apresentam no cotidiano público. Pensar nas questões)
que são inerentes aos reflexos das mudanças que o sistema capitalista nos
impõe, determina o lugar que a família ocupa na agenda das políticas sociais,
bem como delineia as multiplicidades de ações que são demandadas ao Estado
e aos profissionais de saúde no cotidiano institucional.
Como observamos, há uma tendência nas discussões conservadoras, de
um modo geral, em tratar a família como foco central no que se refere ao dever
que lhe é atribuido pela socialização, cuidado e provisão das necessidades de seus
membros. Identificamos que as questões, até aqui explicitJtdas, se espraiam pelo
cotidiano da política de saúde, determinando diferentes visões e imprimindo
diferentes formas de intervenção nas relações dos profissionais com as famílias
dos usuários do sistema de saúde.
Contudo, é necessário ainda proporcionar reflexões mais aprofundadas
sobre a temática da família na formação acadêmica e no espaço de trabalho em
saúde para que possamos identificar e qualificar as intervenções profissionais
mais próximas às realidades dos usuários da saúde, a partir da compreensão da
família em suas particularidades, sem desconsiderar a totalidade dessas relações.
Desse modo, cabe uma incursão sobre as questões aqui apontadas:
Como a política de saúde vem incorporando a família no seu processo de
atenção? Como se dá a relação entre os profissionais e as famílias assistidas
nas unidades de saúde? Qual a visão de farru1ia subjacente a essas ações?
Quais as repercussões dessa visão no cotidiano da assistência em saúde?
Tais questionamentos abrem um caminho possível de im"e tigação para o 7
enriquecimento do debate sobre o tema família e as práticas na política de
saúde. Que as várias categorias profissioqais na aúde po sam se \"oltar para'
este estudo, no sentido de tornar plural o conhecimento acerca da realidade
das famílias contemporâneas e a partir desta análise bu car a qualificação do
atendimento aos usuários dos serviços.
159
•
BEHRlNG, E. R. Política social no capitalismo tardio. 2. ed., São Paulo: GIOVANELLA, L; FLEL'R1
Cortez, 2002. como categoria de Análise.In:
o público e o privado. Rio df
___ Brasil em contra-reforma. Desestruturação
o do Estado e perda
de direitos. São Paulo: Cortez, 2003. GUEIROS, D. A.. Família e
solidariedade familiar, Rellit:
___ .. Políticas sociais no governo Lula: uma reflexão. Revista Inscrita. p.102-21.
Conselho Federal de Serviço Social,ano VI, n. IX, p. 10-14, novembro de 2004.
IAMAMOTO, M. \~ Pro'ero I
Brasil, Ministério da Saúde. VIII Conferência de Saúde. Brasilia: Ministério assistente socialna arualidade.
da Saúde, 1986. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/ social, Em Questão, Brasilia:
publicacoes/8conf_nac_anais.pdf>. Acesso em 24 jul. 2008.
___ . O Serviço Social n
BRAVO, M. L S.; MENEZES, J. S. B. A saúde nos governos Lula e Dilma: profissional. 9. ed. São Paulo:
algumas reflexões. In: BRAVO,M. L S. et aL (orgs.).Saúde na atualidade: por
um sistema de saúde estatal, universal, gratuito e de qualidade. Rio de ___ . As dimen ões ét::iro
Janeiro: EDUFRJ, 2011. p. 15-28. Social contemporâneo. lrr .-\n
formação e trabalho pro
CARVALHO,M. do C. B. de. A priorização da família na agenda política. In:
7 KALOUSTIAN, S. M. (org.).Família brasileira, a base de tudo. 10. ed. São MIOTO, R. C. T. Cuidados
Paulo: Cortez, Brasilia,UNICEF, 2011. vulneráveis. In: Novos esp
Programa de CapacitaçãJ
___ o ° lugar da failll1iana política social. 1n: (org.). A família Capacitação em Serviço
assistente social e as p~litia
contemporânea em debate. 6. ed., São Paulo: EDUC Cortez, 2005. p. 15-22.
CEAD/NED _ UnB, 2000. P.
___ . Famílias e políticas públicas In: COSTA, A. R.; VITALE, M. A. F.
Família, redes, laços e políticas públicas. 2. ed., São Paulo: Cortez, IEE/ ___ Trabalho com f~
'O
___ ,' Trabalho com familias. Um desafio para os assistentes sociais, Revista
textos e Contextos, n. 3, ano lU, dez. 2004.
161
•
. 2. ed.
I1
'I
1987.
A. F.
lEE/
163