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De onde vem o conhecimento espírita?

Olá? Tudo bem? De onde vem o conhecimento espírita?

Qual é a fonte das informações espíritas que são disponibilizadas ao público?

Antes de responder essa pergunta eu vou lembrar você uma coisa que eu disse algumas vezes
lá no meu outro canal: eu já vi muitas vezes alguns católicos e evangélicos criticando o
espiritismo. Como resposta a eles, os espíritas criticam o fato de que eles: católicos e
evangélicos, eles se apegam a um único livro, que a bíblia e fazem desse livro a fonte de todas
as suas verdades e os espíritas completam a sua crítica lembrando as inúmeras contradições
presentes na Bíblia. Claro que na verdade a Bíblia não é apenas um livro, hoje ela tem a forma
de um volume único, um livro, então não é errado dizer que a Bíblia é um livro, mas na
verdade a Bíblia é uma coleção de livros, uma coletânea de livros. A própria palavra Bíblia quer
dizer isso: livros! A maior parte das contradições presentes na Bíblia se deve a isso: ela é
tratada como se fosse um único livro e o seu autor para os fundamentalistas bíblicos é Deus, o
próprio Deus que eles consideram como o criador do universo, criador da terra, mas a Bíblia é
um conjunto de livros escritos em épocas diferentes, em lugares diferentes, sob culturas
diferentes, com objetivos diferentes e evidentemente por autores diferentes.

Os espíritas então comparando a Bíblia e a literatura espírita eles sentem-se numa posição
muito confortável, pois a literatura espírita lhes parece tão certinha, tão bem costurada, tão
coesa, há explicações para isso e é sobre isso que eu vou falar. Eu sei que vai ter gente
querendo me corrigir, fiquem à vontade, mas o que o povo (povo, a massa) conhece como
espiritismo se baseia em duas fontes, apenas duas fontes, simples assim: a primeira fonte:
Allan Kardec. Allan Kardec foi supostamente informado pelos Espíritos da codificação que se
realmente existiram não são muitos, mas na real mesmo eu acho hoje que não teve espírito
nenhum, isso foi todo produzido pelo subconsciente dos supostos médiuns.

Ah! Lá vem o Morel com os seus achismos! Prova! Prova para mim que não teve espírito na
codificação!

Eu não tenho que provar nada! Por que eu deveria provar que não existe uma coisa que nunca
foi provada que existe?

Os espíritas acham que foram milhares de Espíritos que deram mensagens para Allan Kardec
então Kardec selecionou todas essas mensagens, todas elas ou quase todas elas concordando
entre si e assim ele obtinha as respostas às suas perguntas. Não tem nada a ver! Eu vou tratar
isso com detalhes daqui alguns meses, mas a primeira edição do Livro dos Espíritos ela foi
elaborada a partir das comunicações obtidas através de três médiuns adolescentes. é verdade
que Kardec chega a mencionar que recebeu comunicações de mais de mil lugares diferentes,
mas a essa altura quando ele fala isso os pilares do espiritismo já estavam firmemente
assentados, todas as questões importantes com as quais nós nos debatemos até hoje já
estavam estabelecidas como doutrina.

Kardec fala no controle universal do ensino dos Espíritos que seria um meio de controlar a
veracidade e a credibilidade das comunicações. Esse método consistiria em obter
comunicações através de médiuns diferentes, desconhecidos uns dos outros (para um não
influenciar o outro) ao mesmo tempo e em lugares diferentes tempo e em lugares diferentes.
Esse seria um meio de ter certeza de que as comunicações são de fato dos Espíritos e não dos
próprios médiuns ou supostos médiuns, mas mesmo assim nada disso teria valor de prova
absoluta, pois essas comunicações poderiam ser de Espíritos, mas os Espíritos poderiam dar
comunicações iguais e essas comunicações embora iguais poderiam não condizer com a
verdade, mas acontece que esse método nunca! Nunca, nunca foi seguido, mas a primeira
fonte do espiritismo então nós vimos que é Allan Kardec.

A segunda fonte do espiritismo é Chico Xavier. Depois do Chico tem dezenas, talvez centenas
de outros supostos médiuns, médiuns escritores. O principal deles é o Divaldo, mas tudo é
repetição, tudo é mais do mesmo! Joanna de Angelis e Manoel Philomeno de Miranda para
citar dois que eu considero heterônimos do Divaldo (e, por favor entenda que isso não é uma
crítica, é um elogio, estou elogiando o Divaldo, acho o Divaldo extremamente inteligente e
capaz) eles podem trazer algumas novas conotações, podem para trazer informações
específicas a respeito de determinados pontos, mas as grandes questões são apenas repetidas,
em nenhum momento algum grande suposto médium escritor e seus heterônimos mentores,
em nenhum momento eles desmentem Chico e Kardec, pelo menos não escancaradamente,

Você prestou atenção? nenhum grande médium ou seus mentores desmentem Chico e
Kardec! Isso para os espíritas é prova de que os ensinamentos estão certos.

Se todo mundo concorda então tudo o que eles dizem é verdade, cara!

Essa conclusão é confortável, mas é muito passiva. Os espíritas, claro que não são todos, mas
eles simplesmente acolhem aquilo que os supostos Espíritos dizem. Não questionam, não
colocam à prova, nenhuma informação nova que chega é testada, provada por eles e porque
sim, há muitas novas informações. Todo dublê de médium traz uma ou duas informaçõezinhas
novas, só que essas informaçõezinhas não chamam muita atenção porque eles repetem 400
informações daquelas que todo espírita está careca de saber e aproveitam para trazer umas
novas revelaçõezinhas. Você acredita no que dizem todos esses caras?

Eu já acreditei em muita coisa! Eu acreditei porque eu quis acreditar ou porque eu sentia


intimamente que certas informações eram dignas de crédito e em alguns casos eu tenho
minhas próprias experiências que estão de acordo com essas informações, mas tem muita!
Muita fantasia no meio, talvez até mentira escancarada! Mentira mesmo. Eu digo talvez
porque eu acho que essas supostas psicografias são produto de uma autoilusão e os espíritas
comprando livro de capa chocante, capa espalhafatosa, dourada, vermelha e contando as
novidades dos Espíritos no centro espírita. É muita ingenuidade! Muita ingenuidade.

Preste atenção! Tudo começou com o Kardec, Kardec é a primeira fonte. Aqui no Brasil surgiu
uma segunda fonte: a dupla Chico Xavier e seu alter ego Emannuel. Emannuel diz que se
houver alguma discordância entre o que ele diz e o que Kardec diz, os espíritas devem ficar
com Kardec, mas dizer isso e não dizer nada foi a mesma coisa! Os espíritas acreditam em
todas as teorias de Emannuel como se fossem revelações do próprio Deus! E eu tenho que
avisar novamente que eu estou generalizando quando eu digo os espíritas. Têm alguns que
não acreditam. Depois de Emannuel surgem muitos outros Espíritos ou pelo menos muitos
outros médiuns que atribuem as suas ideias aos Espíritos.

O que eles fazem?


 Eles repetem ensinamentos que todos conhecem
 Eles citam várias vezes Kardec e Emannuel para dar credibilidade e conquistar a
confiança do eleitor e aí eles dão de brinde uma ou duas novas teoriazinhas que fazem
os espíritas mais curiosos vibrarem de contentamento: Óh! New Revelations! Mais
conhecimento pa nóis! Como nós somos privilegiados por termos uma doutrina que nos
fornece tantas revelações do mundo espiritual!

É uma pena isso! Nós nos damos conta que isso vai acontecendo (eu digo nós porque eu fui
espírita até bem pouco tempo atrás), mas você percebe que não há nenhum controle, nem
uma prova de que aquilo que os supostos médiuns estão dizendo seja verdade? Pode até ser
que não haja espírito nenhum se comunicando através deles que é isso que eu penso hoje,
pode ser que eles tenham experiências anímicas e pensem que estão manifestando Espíritos,
pode ser que eles tenham as suas próprias ideias, acreditem cegamente nessas suas ideias
bem-intencionados evidentemente e não vejam outro modo de fazer com que essas ideias
sejam aceitas pelo grande público a não ser atribuí-las a algum espírito.

Se existem realmente comunicações mediúnicas, eu não acredito mais, mas pode ser que
exista, pode ser que eles estejam também sendo ludibriados por espíritos ignorantes ou
mesmo mal intencionadas ou pode ser simplesmente que eles estejam mentindo, porque não?
Tem gente mentirosa em toda parte porque não haveria no meio espírita? Que que o
espiritismo tem de especial assim que as pessoas são né, mas que los otros? Né.

Muitos dos novos dublês de médium são terapeutas, atendem pessoas com terapias de
alguma forma ligados à espiritualidade e cobram por isso. É importante que fique claro que eu
não tenho nada contra isso, absolutamente nada, mas se uma pessoa dessas não tem muitos
escrúpulos, ela mente que tem um mentor grandão, ela escreve algum romance e fica famosa
rapidinho! Você acha que eu não teria criatividade suficiente para escrever um bom de um
romancezinho espírita? Metia aí:

 Meia dúzia de mago negro


 Meia dúzia de mago branco
 Meia dúzia de mago japonês
 Um ou dois dragõezinhos, os dragõezinhos bem malvadinhos
 chamava o Bezerra! O Bezerra está em tudo que é livro, de tudo que é médium,
Bezerra dá uma (?) neles, terminava tudo com uma oração bem chorosa

Ia vender mais do que disco da Xuxa nos anos 80! Não existe nenhum controle sobre os
médiuns ou sobre as obras psicografadas! Os espíritas de um modo geral atribuem
superpoderes aos Espíritos! Eles acham que os Espíritos superiores supervisionam todo o
movimento espírita e que se algum livro psicografado está sendo publicado é porque a alta
espiritualidade autorizou. Por favor!
Quem está acostumado a ler livros espíritas pode ter a impressão de que tudo fecha, de que
todas as informações se encaixam direitinho e que então a doutrina é muito sólida! Isso não é
verdade.

Daqui a alguns meses eu vou começar a analisar a obra do professor Hippolyte. Nem os
fundamentos da doutrina não são sólidos. Quando se entra em pormenores então abre-se o
espaço para todo o tipo de fantasias.

Não fique aborrecido, apenas reflita!

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Muita força e paz para você!

KARDEC e seu projeto de UNIFICAÇÃO RELIGIOSA

Olá! tudo bem? com este vídeo eu começo a apresentar uma pequena análise da obra
Kardequiana. A minha análise vai se centrar preferencialmente nas duas edições do livro dos
espíritos: a primeira edição de 1857 e a segunda edição de 1860. O Livro dos Espíritos é a base
da doutrina, é o alicerce sobre o qual se construiu o edifício torto no qual sea brigam
aproximadamente 4 milhões de pessoas (mais ou menos isso) então nada melhor para
conhecer o espiritismo do que estudar justamente a sua base, os seus fundamentos e as ideias
iniciais que levaram Allan Kardec conceber a doutrina. desde já, eu deixo claro que eu
considero a doutrina como sendo de Kardec, não dos Espíritos, primeiro porque eu acho hoje
que não houve comunicação dos Espíritos. Segundo porque caso tenha havido comunicações
dos espíritos a interferência de Kardec foi tão grande que não se pode negar a ele o título de
fundador da doutrina.

Eu fui espírita durante 20 anos, pouco mais de 20 anos e parte do público que me assiste é
formado por espíritas então eu sei que pode causar estranheza a um espírita ouvir alguém se
referindo à obra Kardequiana da maneira como eu vou me referir ao longo desse trabalho.
Desde já eu sou ciente de que muitos apressados vão me mandar estudar Kardec ou se eles se
se convencerem com o tempo de que eu realmente estudei Kardec, não apenas li, mas estudei
porque são coisas diferentes, vão dizer então que eu estudei, mas que eu não entendi! A essas
coisas fofas do senhor Jesus, eu devo dizer que primeiro eu li Kardec e me deixei convencer
pela argumentação lógica de Kardec. Depois eu comecei a estudar Kardec e esse estudo durou
muitos anos e esse estudo levou inevitavelmente a notar muitos furos na aparentemente
sólida obra de Kardec, mas nada ainda naquele momento, nada que balançasse a minha
crença, mas por fim, juntando uma série de outras informações de outros conhecimentos, eu
ousei duvidar de Kardec e a partir daí, toda a sua argumentação lógica de repente deixou ver
as suas fragilidades. Algumas delas tão evidentes que só mesmo o apego a um conjunto de
crenças bem estabelecido pode explicar como é que não foram notadas antes.

Para compreender alguns dos argumentos que serão utilizados por mim ao longo dessa análise
é preciso que nós visitemos rapidamente algumas das principais influências que agiram sobre
Kardec. Entenda isso: quem fez a doutrina foi Kardec, mas mesmo que você considere que a
doutrina não é de Kardec, que a doutrina é dos Espíritos e Kardec foi apenas como dizem com
o codificador da doutrina, mesmo assim você deve reconhecer que a doutrina espírita não
seria essa que você conhece se não fosse por Kardec. Se não existisse Kardec, não existiria a
doutrina espírita, existiriam isso sim, aliás como já existiam antes de Kardec, contemporâneas
a ele, mas pouco antes dele, existiam algumas correntes espiritualistas mais ou menos
semelhantes a doutrina espírita que nós conhecemos, mas não existiria uma obra como a obra
de Kardec e isso por um motivo muito simples: todos nós somos diferentes! Se cada um de
nós: espíritas ou não espíritas, se cada um de nós precisar escrever duas páginas sobre a
doutrina, cada um de nós escreverá coisas bem diferentes, mas bem diferente porque embora
o tema seja o mesmo, todos nós somos diferentes! Kardec assim como você, assim como eu,
ele era um ser humano único e para entender um pouco melhor o pensamento de Kardec,
para entender os fatores que levaram Kardec a conceber a doutrina espírita, nós precisamos
conhecer algumas influências que agiram sobre Kardec.

1. A primeira e decisiva influência que agiu sobre Kardec foi a do seu mestre Pestalozzi. A
partir do convívio do menino Hippolyte, futuro Allan Kardec né, mais tarde chamado
Allan Kardec, com o seu mestre Pestalozzi, Kardec concebeu um projeto de unificação
religiosa (e esse será o tema desse vídeo) e a partir daí ele desenvolveu uma grande
capacidade didática, a partir do seu convívio, do seu aprendizado com Pestalozzi.
Kardec escrevia com clareza e método o que foi fundamental para que houvesse a
popularização do espiritismo do modo como realmente aconteceu. Se ele tivesse
escrito numa linguagem erudita como era costume na sua época a doutrina
certamente não teria chegado até nós.
2. A segunda e não menos decisiva influência que agiu sobre Kardec foi o magnetismo. O
magnetismo. Kardec estudar e praticava o magnetismo há mais de 30 anos quando ele
tomou conhecimento do fenômeno das mesas falantes. Infelizmente pouquíssimas
pessoas sabem do que se trata quando se fala em magnetismo ou magnetismo animal
ou mesmerismo no tempo de Kardec. As comunicações atribuídas aos espíritos podem
ser perfeitamente explicadas pelo magnetismo! O próprio Kardec fez isso como nós
vamos ver mais tarde outra.
3. Outra influência que agiu sobre Kardec e que determinou o modo como Kardec
concebeu a doutrina tentando fazer da doutrina uma ciência foi o positivismo de
Augusto Comte. Nós vamos abordar esse assunto quando tratarmos do método
utilizado por Kardec.
4. E por fim há uma influência que parece não ter agido diretamente sobre Kardec, pelo
menos não de maneira consciente, mas que foi determinante para a concepção de
ideias reencarnacionistas na doutrina. Eu estou falando de alguns socialistas utópicos
que acreditavam na reencarnação de forma compulsória e dentro de um contexto de
evolução. A mesma ideia que vai ser adotada por Kardec pouco depois.

Eu vou tratar de cada uma dessas influências em um vídeo começando neste vídeo com a
influência de Pestalozzi.

Na biografia intitulada Allan Kardec de autoria de Zeus Vantuil e Francisco Tizen, no capítulo
11 - esse capítulo se chama o pensamento religioso de Pestalozzi na formação de Rivail, nós
vemos que Kardec presenciou desde cedo no instituto de Pestalozzi, presenciou grandes
conflitos a respeito de religião por que participavam do instituto naquele momento que Kardec
estudou lá, tanto professores quanto alunos de várias partes da Europa então havia uma
grande diversidade de pensamentos cristãos: tinha católicos, tinha ortodoxos e tinha
protestantes de diferentes denominações. Pestalozzi embora fosse cercado de professores
calvinistas e luteranos né, os protestantes mais tradicionais, ele não se envolvia em paixões e
disputas religiosas. Pestalozzi achava que a Bíblia possuía um valor apenas relativo, não
absoluto, ele não era favorável ao catecismo, ele não acreditava no ministério da trindade
como os religiosos da época acreditavam e a respeito de Jesus ele achava que Jesus era o filho
de Deus e o maior dos homens, mas sem grandes delongas teológicas. Pestalozzi era acusado
de pregar a revolta e a aversão ao cristianismo pelo simples fato dele não aceitar dogmas
como o pecado original, como a graça, como a redenção. Pestalozzi acreditava no amor e na
moral e ele era reconhecido pela tolerância para com as crenças alheias. Pestalozzi acreditava
que o dogmatismo era prejudicial ao sentimento religioso da criança. Kardec ingressou no
instituto aos 10 anos de idade e ainda muito cedo ele percebeu as divergências em torno da
religião e que essas divergências acabavam levando os homens a se desentender. Kardec
presenciou no dia de Pentecostes lá em 1817, presenciou um grupo de professores
protestantes anunciarem na frente de todos em público, anunciarem que estava deixando o
instituto por causa do posicionamento religioso de Pestalozzi, isso ocorreu numa data festiva:
estavam todos ali comemorando o dia de Pentecostes isso então causou um grande
desconforto a Pestalozzi na frente de todos os seus alunos. Uma coisa assim muito
constrangedora!

Nós temos que ter em mente que o instituto funcionava em regime de internato. Ele era o lar
daqueles alunos durante alguns anos. Todas as referências que aqueles alunos recebiam,
aqueles jovens, crianças recebiam durante os seus anos de estudo, todas as referências
proviam daquele local e das pessoas e dos fatos que aconteciam, que ocorriam naquele local.
Todas as referências que eu ouvi e a respeito de Pestalozzi, tudo que eu li a respeito dele,
retratam ele como um homem amoroso e bom então é de se esperar evidentemente que o
menino Hippolyte, mais tarde chamado Allan Kardec, é de se esperar que ele nutrisse pelo seu
mestre um grande afeto, até uma certa reverência então o fato como esse de um grupo de
professores deixaram o instituto intempestivamente né, constrangedoramente num dia de
festividade religiosa e de forma desaforada para com o mestre, isso certamente calou fundo
na alma do menino Hippolyte e implantou nessa alma o desejo ardente de ver um mundo sem
divergências religiosas!

Temos que compreender que o pensamento protestante da época exigia a adesão total aos
dogmas cristãos. Em algumas ramificações protestantes é assim até hoje e assim como hoje
ainda existe a doutrina da graça, eles achavam naquele tempo (muitos acham ainda hoje) que
o homem por mais que se esforçasse ele não teria condições jamais de se salvar por si mesmo.
Se o homem não pode salvar a si mesmo é porque ele é pecador por natureza e isso também
vale para uma criança: uma criança é um homem em miniatura né, naquela visão. Então
imagine como essas questões afetaram Kardec: o pensamento protestante, dominante né,
pregando que a criança não poderia despertar dentro de si nenhum sentimento elevado, pois
ela é pecadora por natureza. Isso de um lado. De outro lado Pestalozzi incentivando o amor, a
moral e a tolerância religiosa.
Maurice Lachâtre ele escreveu uma pequena biografia sobre Kardec no seu novo dicionário
universal. Nessa biografia ele afirma que desde os 15 anos de idade Kardec concebeu a ideia
de uma reforma religiosa que tinha o objetivo de unificar as crenças. De acordo com Lachâtre o
que levou Kardec a essa ideia foi justamente o fato de ele que era católico, de família católica
(Kardec) o fato dele ter convivido por alguns anos no instituto de Pestalozzi com a intolerância
religiosa por parte de protestantes em relação aos católicos e vice-versa. Esse Maurice
Lachâtre é o mesmo que encomendou 300 livros de Kardec em Barcelona (ele vivia em
Barcelona) e que teve esses livros apreendidos por ordem da igreja local motivando o
conhecido auto de fé de Barcelona. Todo espírita razoavelmente estudioso conhece essa
história. nessa ocasião esses 300 livros foram queimados em praça pública por ordem da igreja
local.

Kardec viu pessoas boas se desentenderem por causa de suas crenças religiosas então ele
buscava um elemento né, algum elemento essencial que fosse capaz de unir todas as crenças.
Esse elemento essencial Kardec vai encontrar mais tarde no espiritismo. Nós podemos ter uma
noção dessa busca de Kardec se nós observarmos o primeiro diálogo de Kardec com o
chamado espírito de verdade. Isso está no livro obras póstumas no item minha primeira
iniciação:

A resposta do suposto espírito não ajuda muito. Ele não diz que sim nem não, ele diz que
talvez, mas nós vimos que Kardec procurava a sua verdade. Isso está aqui, foi ele que escreveu
e a verdade que ele procurava era esse elemento essencial que fosse capaz de unir as diversas
crenças religiosas. Ainda nesse livro obras póstumas Kardec confirma isso que eu estou
dizendo: que ele tinha um ideal desde a juventude ainda naquele item, naquele título minha
primeira iniciação no espiritismo. Diz ele:

Compreendi, antes de tudo, a gravidade da exploração que ia empreender; percebi, naqueles


fenômenos, a chave do problema tão obscuro e tão controvertido do passado e do futuro da
Humanidade, a solução que eu procurara em toda a minha vida.

Esse ideal de Kardec ele o manteve até o fim da vida. Na sua última obra publicada a Gênese,
isso foi um ano antes dele morrer, ele disse assim (isso está o título as predições, capítulo 18:
são chegados os tempos, sinais dos tempos):
A unidade de crença será o laço mais forte, o fundamento mais sólido da fraternidade universal,
obstada, desde todos os tempos pelos antagonismos religiosos que dividem os povos e as
famílias, que fazem sejam uns, os dissidentes, vistos, pelos outros, como inimigos a serem
evitados, combatidos, exterminados, em vez de irmãos a serem amados.

Kardec acreditava que o primeiro ponto a unir as diferentes crenças seria a certeza em relação
ao destino futuro das almas e ele achava que estava suficientemente aclarado e comprovado
pelo espiritismo. Isso está no livro o céu e o inferno na primeira parte: doutrina, capítulo I- o
futuro e o nada. diz assim:

14. - O homem tem instintivamente a crença no futuro; mas não tendo até hoje nenhuma base
segura para defini-lo, sua imaginação criou os sistemas que trouxeram a diversidade nas
crenças. Não sendo a doutrina espírita sobre o futuro uma obra de imaginação mais ou menos
engenhosamente concebida, e sim o resultado da observação dos fatos materiais que ocorrem
hoje sob nossos olhos, ela reunirá, como já faz agora, as opiniões divergentes ou flutuantes, e
levará pouco a pouco, e pela força das coisas, à unidade na crença sobre esse ponto, crença que
não será mais baseada numa hipótese, mas numa certeza. A unificação, feita no que concerne ao
destino futuro das almas, será o primeiro ponto de aproximação entre os diferentes cultos, um
passo imenso rumo à tolerância religiosa primeiramente, e mais tarde rumo à fusão.

Algum tempo atrás, não faz muito tempo, quando eu ainda era espírita, eu gravei um vídeo
chamado o fracasso do movimento espírita e muita gente na ocasião achou que eu estava
errado. é evidente que Kardec se enganou! Se enganou não só em relação ao futuro do
espiritismo, mas mesmo em relação ao seu tempo. você prestou atenção ao que Kardec disse?
A doutrina espírita reunirá como já faz agora as opiniões divergentes. Kardec observava o que
acontecia no seu pequeno mundinho e acreditava que estava observando uma grande
mudança na sociedade! você precisa ter em mente que Kardec vivia para o espiritismo. A partir
do momento que ele entrou em contato com aqueles fenômenos ditos espíritas ele passou a
vida para o espiritismo.

o Kardec cuidava pessoalmente da revista espírita


o Cuidava dos seus livros
o Cuidava da correspondência
o Participava de reuniões

Os últimos 12, 13 anos da sua vida ele os dedicou inteiramente ao espiritismo. Isso
evidentemente tirou dele a capacidade de analisar imparcialmente o que acontecia na
sociedade. Ele via algumas mudanças nas pessoas próximas, pessoas que conviviam ou que
eram apresentadas a ele, as pessoas que se comunicavam com ele e acreditava que essas
pessoas representavam a sociedade, acreditava que a sociedade estava mudando.

Eu vivi algum tempo atrás alguma coisa semelhante. Eu trabalhava de três a cinco dias por
semana em centros espíritas, escrevia para o site espírito imortal, gravava vídeos para o meu
antigo canal no Youtube, respondia dezenas de comentários e e-mails por dia. Durante um
período não tão longo como esse período espírita de Kardec, mas um período considerável
alguns anos, durante esse período eu resumi a minha visão de mundo, a minha visão da
sociedade, das pessoas, resumi praticamente ao universo espírita. Com uma diferença: a
diferença de que eu tenho trabalho e tenho família. Kardec desde que passou a se dedicar ao
espiritismo não teve outra atividade profissional. A atividade profissional de Kardec passou a
ser o espiritismo, ou seja, Kardec passou a viver com a renda da revista espírita e dos seus
livros e como nós sabemos, Kardec não tinha filhos, e além disso, Kardec era casado com uma
mulher dez anos mais velha do que ele então pode-se dizer que ele não tinha família né, uma
família que exigisse um envolvimento maior né, Kardec sendo um homem já maduro, casado
com uma mulher dez anos mais velha, certamente já não tinha uma vida conjugal que lhe
ocupasse o tempo né.

a afirmação seguinte confirma os pontos que Kardec achava que iriam reunir as crenças! Isso
está na Gênese: capítulo um - caráter da revelação espírita. Diz assim:

... dia virá em que todas essas crenças tão diversas na forma, mas que repousam realmente sobre
um mesmo princípio fundamental — Deus e a imortalidade da alma, se fundirão numa grande e
vasta unidade, logo que a razão triunfe dos preconceitos.

Apenas mais uma passagem para deixar bem claro que Kardec acreditava que as crenças
religiosas seriam realmente unificadas pelo espiritismo. Isso também está na Gênese no
capítulo 17 - previsões do Evangelho no item um só rebanho e um só pastor. Diz Kardec:

...a unidade se fará em religião, como já tende a fazer-se socialmente, politicamente,


comercialmente, pela queda das barreiras que separam os povos, pela assimilação dos costumes,
dos usos, da linguagem. Os povos do mundo inteiro já confraternizam, como os das províncias
de um mesmo império. Pressente-se essa unidade e todos a desejam. 

Fica muito evidente que Kardec estava equivocado! O que Kardec previu né, foi apenas fruto
dos seus anseios pessoais! vamos recapitular:

- Kardec passou alguns anos no instituto de Pestalozzi. Eu digo alguns anos porque não há
unanimidade entre os seus biógrafos, mas sem dúvida alguma Kardec foi fortemente
influenciado por Pestalozzi, isso não resta dúvida em relação a isso, tanto é verdade que
Kardec seguiu os passos do seu mestre escrevendo mais de 20 livros didáticos né, antes de se
chamar Allan Kardec e escreveu esses livros boa parte deles de acordo com o método de
Pestalozzi. Né. Chegou a abrir a escola chamada de instituto e principalmente tendo uma
preocupação premente com a moral cristã. Isso Kardec aprendeu, herdou de Pestalozzi. Essa
questão da moral cristã foi talvez o ponto principal da influência de Pestalozzi sobre Kardec.

Pestalozzi ele não seguia nenhuma, doutrina, ele não acreditava em nenhum dogma, mas ele
aceitava, ele admirava e praticava a moral cristã. Isso era uma coisa muito rara naquela época
e muito malvisto né, pela sociedade religiosa. Kardec adotou esse mesmo posicionamento em
relação à moral cristã, tanto é verdade que o Evangelho Segundo o Espiritismo elaborado por
ele no mais absoluto segredo, no Evangelho Segundo o Espiritismo ele ateve-se apenas aos
aspectos morais dos Evangelhos, deixou de lado quaisquer questões dogmáticas ou questões
que dessem margem a interpretações conflitantes. Influenciado então por Pestalozzi, Kardec
desejou desde os 15 anos de idade, desejou que as crenças religiosas fossem unificadas por
um denominador comum. Esse denominador comum, Kardec encontrou no espiritismo e isso
se tornou a partir daí o seu projeto de vida!
No próximo vídeo nós vamos ver uma influência muito importante que agiu sobre Kardec: o
magnetismo. Aliás, Kardec sabia muito bem que os fenômenos a que ele assistia e que ele
atribuiu aos Espíritos podiam ser atribuídos ao magnetismo.

Muita força e paz para você!

A relação de Kardec com o magnetismo

Olá? tudo bem? no vídeo anterior eu tratei de uma importante influência que agiu sobre
Kardec: o seu mestre Pestalozzi. A partir da influência de Pestalozzi e assistindo desde muito
jovem acirradas polêmicas por causa de diferenças religiosas Kardec concebeu aos 15 anos de
idade com um projeto de unificação religiosa.

Neste vídeo eu vou tratar de uma outra importante influência que agiu sobre Kardec: o
magnetismo. Quem está familiarizado coma obra de Kardec a começar pelo livro dos espíritos
sabe que Kardec se refere muitas vezes ao magnetismo e chega a tratar espiritismo e
magnetismo como ciências irmãs. O que poucos sabem é que quando Kardec tomou
conhecimento do fenômeno das mesas falantes, quando ele começou a se envolver com
espiritismo naquele momento ele já se dedicava ao magnetismo há mais de 30 anos! Nós
vemos na revista espírita no mês de junho de 1858 no título os banquetes magnéticos . Ele diz
assim:

Em nossa opinião, a ciência magnética, que nós mesmo professamos faz 35


anos...

Segundo o amigo pessoal e discípulo de Kardec que foi quem mais tarde deu continuidade à
revista espírita, o Pierre Gaetan Leymarie, na revista espírita de 1871, segundo ele Kardec foi
experimentado magnetizador. Na revista espírita de 1886, o mesmo Leymarie, diz que
conheceu que Kardec conheceu as pesquisas do padre português José Custódio Faria que foi o
precursor do hipnotismo desenvolvido mais tarde por James Braid. De acordo com Anna
Blackwell no prefácio da tradução do livro dos espíritos para o inglês que foi feito por ela, de
acordo com ela Kardec participava ativamente dos trabalhos da sociedade de magnetismo de
paris. Kardec convivia com o organizador Fortier que foi quem mais tarde falou à Kardec a
respeito do fenômeno das mesas falantes.

Nós vemos então que Kardec dominava o assunto pelo menos até onde ia o conhecimento do
assunto naquela época e mais do que isso Kardec era ele mesmo um magnetizador experiente
e isso deve ficar bem claro! Como magnetizador experiente Kardec certamente exercia grande
influência sobre os médiuns ou sonâmbulos (eu vou deixar aqui embaixo na descrição do vídeo
um link para o canal de um magnetizador: o Ricardo Denysard que inclusive assiste o nosso
canal. Se você nunca viu um magnetizador em ação eu recomendo que você assista alguns
vídeos. Visite o canal dele e assistia alguns vídeos para você ver mais ou menos como
funciona). Por que eu estou chamando a atenção para o fato de que Kardec era um
magnetizador experiente? Eu não tenho a menor dúvida de que Kardec influenciava e muito as
respostas dadas pelos médiuns. a primeira edição do livro dos espíritos foi produzida através
das comunicações de três médiuns adolescentes e a única ideia presente no livro dos espíritos
que parece! parece ter contrariado Kardec a princípio é a teoria da reencarnação. O resto,
tudo estava bem de acordo com o pensamento de Kardec. Nós vamos tratar desse assunto no
próximo vídeo: a influência direta ou indireta que alguns socialistas utópicos e outros
pensadores da época exerceram sobre Kardec. Eles acreditavam na reencarnação de maneira
compulsória e de modo a promover a evolução do ser humano como indivíduo e da
humanidade.Eu hoje acredito que toda a doutrina é fruto do subconsciente tanto dos médiuns
quanto de Kardec e possivelmente de outros assistentes. Eu acredito hoje que nós
compartilhamos uma mesma mente: cada um de nós é uma diferente manifestação da mente,
mas nós só nos individualizamos na superfície e nas proximidades da superfície da consciência.
Nas profundezas do subconsciente todos nós compartilhamos informações.

Vamos pegar apenas o exemplo da senhorita Japhet que tinha em torno de 16 anos (eu digo
em torno porque há alguma mudança de opinião em relação às fotos), mas tinha 16 anos na
época que foi a sonâmbula através da qual a primeira edição do Livro dos Espíritos foi
revisada! Todo o conteúdo ou quase todo o conteúdo da primeira edição do Livro dos Espíritos
foi produzido a partir das supostas médiuns Julie e Caroline Baudin: duas meninas que tinham
respectivamente 12 e 14 anos quando Kardec começou a frequentar as sessões que ocorriam
na casa da família delas, do senhor Baudin. A senhorita Japhet era sonâmbula! desde a infância
conforme ela mesma relatou à Alexandre Aksakof. Ela tornou-se uma sonâmbula profissional
sob o comando do senhor Roustaing na casa do qual, mais tarde Kardec frequentou reuniões
espíritas. Em 1846 ela, senhorita Japhtet recebeu mensagens atribuídas ao espírito do seu avô
que havia sido médico do espírito de Santa Teresa e de outros Espíritos que afirmavam haver
reencarnação. Eles diziam através dela que existe reencarnação, além disso, o próprio senhor
Roustaing acreditava em reencarnação. É natural, portanto que ela acreditasse em
reencarnação, que ela tivesse a reencarnação como um fato inquestionável! Ela entrava em
estado de sonambulismo provocado, ou seja, através da magnetização. Tanto o senhor
Roustaing (que era uma espécie de pai emprestado dela, tutor dela) quanto Kardec eram
magnetizadores. Um dos dois provavelmente a induzia ao estado sonambúlico para que ela
então supostamente entrasse em comunicação com os Espíritos. É importante nós termos em
mente que ao entrar em estado sonambúlico, a pessoa está adentrando na zona
subconsciente (assista alguns vídeos do Ricardo Denysard. Você vai perceber isso com mais
clareza).A pessoa se afasta da superfície da consciência, afasta-se da sua personalidade atual e
alcança um nível mais ou menos profundo (de acordo com a pessoa) um da sua
subconsciência. A pessoa geralmente não perde totalmente a consciência de si mesmo.
Geralmente, pode perder e ela sofre, portanto, influência da sua própria personalidade,
incluindo o seu conjunto de crenças. Isso é explicado por vários autores, mas como não é
minha intenção tratar do sonambulismo provocado ou entrar em detalhes a respeito do
magnetismo, não é o foco do nosso trabalho então eu não vou citar outros autores, mas tem
vários, mas nós vamos ficar apenas com Kardec, é suficiente! É Kardec quem vai nos explicar
como isso acontece.

Para começar nós vamos ouvir uma breve descrição de Kardec sobre o que acontece no estado
de sonambulismo.

Revista espírita do mês de outubro de 1858 ( o magnetismo e o sonambulismo ensinados pela


igreja)
Diz assim:

as uma verdade consagrada e reconhecida que o magnetismo existe; que produz


o sonambulismo; que o sonâmbulo goza de faculdades especiais, em cujo número
está a de ver sem o concurso dos olhos, mesmo a distância; de ouvir sem o
concurso dos ouvidos; de manifestar conhecimentos que não possui em estado
normal; de indicar remédios que lhe são salutares.

Você pode perceber que Kardec não está tratando de mediunidade! Não há Espíritos
envolvidos, o que Kardec relata são faculdades ou características inerentes ao próprio
sonâmbulo, sem a participação de Espíritos! O próprio espiritismo reconhece e ensina que
existem fenômenos anímicos, ou seja, fenômenos produzidos pelo espírito do próprio médium
sem a participação de espíritos. O que Kardec menciona aqui: a faculdade de ver sem o
concurso dos olhos mesmo à distância! Preste atenção! Ver sem os olhos né? Com a mente
mesmo à distância! Só isso já é capaz de explicar quase todos os fenômenos atribuídos a
Espíritos! As cartas psicografadas, por exemplo. É preciso dizer antes de mais nada que essas
cartas podem ser produzidas com o auxílio de informações passadas ao suposto médium
através de outras pessoas como familiares, amigos ou vizinhos da pessoa que vai ao centro
espírita para buscar uma carta psicografada. O próprio Waldo Vieira afirmou que isso
acontecia com o Chico Xavier: existia uma rede de pessoas trabalhando ao redor do Chico.
Alguém fornecia o nome de algum familiar desconhecido ou apelido familiar de alguém e isso
para quem está ansioso em busca de notícias de algum ente falecido geralmente é mais do que
suficiente para convencer, mas admitindo que não haja sempre essa falcatrua bem-
intencionada né? Na hipótese de que não haja isso, as informações presentes em algumas
cartas psicografadas podem perfeitamente ser explicadas através de recursos do próprio
suposto médium. Poderíamos chamá-lo de paranormal. Kardec fala aqui na faculdade de ver
sem o concurso dos olhos, ou seja, sem a participação dos olhos mesmo à distância! Mesmo à
distância. Hoje parece que está na moda nesse mundo das cartas psicografadas, está na moda
o suposto espírito comunicante fornecer o número do CPF de algumas pessoas. Ora, vamos
admitir por um instante que exista mesmo um espírito se comunicando. Quase sempre quem
busca uma carta psicografada, pelo menos esse é o padrão, é uma mãe que perdeu um filho.
Qual é o filho que sabe o CPF da mãe? Você sabe o CPF da sua mãe? Eu não sei o CPF da minha
mãe. Quer dizer que se eu morrer e a minha mãe for num centro espírita buscar uma carta
psicografada, eu não vou poder provar que eu sou eu dando o número do CPF da minha mãe!
Mas se nós acreditarmos em Kardec no que se relaciona ao sonambulismo é perfeitamente
possível ao sonâmbulo ou ao suposto médium obter essas informações através da vidência à
distância! Não há menor necessidade de recorrermos a artifícios espíritas para resolvermos
essa questão.

Kardec também menciona a faculdade de ouvir sem o concurso dos ouvidos que têm
aplicações semelhantes. Eu já ouvi vozes dizendo coisas importantes para mim como avisos
sobre determinadas situações. É claro que um espírita vai dizer que eram Espíritos se
comunicando comigo.

 Mas por que deveriam ser Espíritos?


 Por que essas vozes não podem provir de mim mesmo de um outro nível de
consciência? De um nível de consciência mais afastado da superfície e, portanto,
menos sujeito a ilusão?

A verdade está dentro de nós! E isso eu digo há muito tempo, já dizia quando era espírita. A
verdade que nós buscamos está dentro de nós. Nós não somos (como dizem as religiões
cristãs) seres imperfeitos que estão aqui para apagar pecados. A verdade o sagrado, Deus, a
sabedoria, ou seja como for que você prefira chamar, isso está dentro de nós. Nós vivemos
hoje praticamente hipnotizadas por um mundo cheio de informações, cheio de atividades,
cheio de agitação de todos os tipos, mas se você consegue aquietar a sua mente você percebe
que há um mundo de paz e verdade e esse mundo está dentro de você. Nas profundezas do
nosso ser nós compartilhamos informações. Dependendo de quão profundo nós adentramos
em nós mesmos, nós temos acesso (como diz Kardec) a conhecimentos! Conhecimentos que
não possuímos em estado normal.

Kardec também cita a faculdade de indicar remédios salutares. O nosso ser real (que Moisés
chamou de eu sou. Javé quer dizer eu sou e que foi confundido com um Deus) sabe o que é
melhor para nós. O Bagavadeguitá ele faz uma perfeita distinção entre o eu e o ego. O ego é o
Morel, o eu é o meu ser real, eterno, sem princípio nem fim. Se esse ser real mantém a
individualidade como nós entendemos a individualidade isso é outra coisa, é outro assunto e
na verdade isso não tem importância, o importante é que não há nada a temer e que a vida é
bela. Isso é que é importante. Todas as antigas religiões que nós chamamos de religiões
porque elas não tinham essa proposta como nós entendemos hoje, todas elas conheciam a
verdade, mas alguns grandes líderes usaram a religião como instrumento de poder e o povo
que é burro para aquilo que você quiser, o povo aceita o cabresto e agradece!

Eu vou ler aqui um artigo escrito por Kardec na revista espírita de novembro de 1858:
independência sonâmbula. Este artigo ele vem corroborar tudo o que eu disse até aqui e ele
vem acrescentar argumentos novos. O artigo é um pouco longo, mas se eu o resumisse ele
perderia um pouco da sua força argumentativa.

Vamos lá!

Há muitas pessoas que, aceitando hoje perfeitamente o magnetismo, durante


muito tempo contestaram a lucidez sonambúlica. É que, na verdade, essa
faculdade veio derrubar todas as noções que tínhamos a respeito da percepção
das coisas do mundo exterior.

O que é essa percepção do mundo exterior a que se refere Kardec? É a ilusão provocada pela
mente secundada pelos sentidos físicos, é aquilo que os hinduístas chamam de maiá! Todo o
mundo material que nós conhecemos é uma projeção da mente. Muitos ocidentais quando se
interessam pela sabedoria oriental querem traduzir obras hinduístas, eles tentam explicar o
conceito de maiá como ilusão. O conceito na verdade é muito mais complexo. Na verdade, ele
não pode ser explicado com palavras porque ele foge ao alcance do intelecto, ele está além do
domínio do intelecto, mas o fato é que tudo o que nós percebemos como sendo real, material,
tudo isso é provocado pela mente e secundado pelos nossos sentidos físicos que obedecem a
uma complexa programação da mente. Uma pessoa no estado de lucidez sonambúlica como
está relatando Kardec aqui, essa pessoa está parcialmente liberta da ilusão dos sentidos
físicos, ela está mais próxima do nosso ser real, do eu sou e consegue exercer as faculdades
que são inerentes a todos nós com mais liberdade, sem estar presa às limitações dos sentidos
físicos. O estado de lucidez sonambúlica é um estado alterado de consciência. Há várias
maneiras, muitas mesmo de se induzir um estado alterado de consciência: meditação,
concentração, projeção consciente, respiração holotrópica, a dança ritmada com o uso de
tambores, por exemplo, como se faz nas religiões de nação africana, a repetição de mantras, o
uso de substâncias psicoativas ou enteogênicas, a oração profunda e sentida, o jejum. De
todas essas maneiras e de muitas outras maneiras nós rompemos parcialmente e
momentaneamente o véu da ilusão provocada pela mente e secundada pelos sentidos físicos.
Kardec está reconhecendo aqui que o estado de lucidez sonambúlica que é um estado
induzido, ou seja, provocado, esse estado nos leva a perceber as coisas do mundo exterior de
outra maneira.

Vamos prosseguir:

Entretanto (é Kardec quem está falando) Entretanto, de há muito (ou seja, há muito
tempo) tínhamos o exemplo dos sonâmbulos naturais, gozando de faculdades
análogas que, por um contraste bizarro, jamais foram aprofundadas. Hoje a
clarividência sonambúlica é um fato estabelecido, e se ainda é contestado por
algumas pessoas, é que as ideias novas custam a lançar raízes, principalmente
quando é preciso renunciar às que embalamos durante muito tempo.

É verdade! É muito difícil se desfazer de um conjunto de crenças! É muito difícil reconhecer


que aquilo a que nós nos dedicamos, dedicamos grande parte de nossas vidas, reconhecer que
aquilo não condiz com a verdade, não é?

Continua Kardec:

Muita gente acreditou, como o faz ainda hoje com as manifestações espíritas, que
o sonambulismo pudesse ser experimentado como uma máquina, sem que se
levasse em conta as condições especiais do fenômeno. Eis por que, não tendo
obtido resultados satisfatórios no momento oportuno, concluíram pela negação.
Fenômenos tão delicados exigem uma observação longa, assídua e perseverante,
a fim de se lhes captarem as nuanças, por vezes fugidias. 

Muita gente (gente que não me conhece evidentemente) acha que eu me desiludi com o
espiritismo porque eu não consegui vivenciar ou provocar nenhum fenômeno ou porque eu
nunca presenciei nenhum fenômeno. Como tem gente metida a adivinho né? Porque não vão
chupar uma meia suja para ver que gosto tem? Mas não, não foi nada disso que aconteceu
comigo, pelo contrário:

o Eu já experimentei muitos fenômenos e também já presenciei muitos fenômenos!


o Eu já vi praticamente todos os tipos de manifestações supostamente mediúnicas, seja
em centros kardecistas, seja em terreiro de umbanda ou em casas de nação africana
o Eu já vi supostos médiuns ver coisas na casa dos consulentes, dos pacientes: as
pessoas que estão ali, ver com tanta clareza como se eles estivessem lá e tudo isso foi
comprovado por mim
o Eu já vi casos de curas inclusive à distância (é importante que se diga que foi à
distância porque a cura presencial ela pode ser atribuída a sugestão, mas se a cura
ocorre à distância sem que o paciente nem mesmo tenha conhecimento do
atendimento é porque alguma coisa ocorre)

Mas nada do que eu vi precisa ser atribuído à ação de Espíritos! Tudo pode ser explicado pelo
subconsciente.

Continua Kardec:

É igualmente em consequência da incompleta observação dos fatos que certas


pessoas admitem a clarividência dos sonâmbulos, mas contestam a sua
independência. Para eles, sua visão não vai além do pensamento dos que os
interrogam. Alguns até chegam a admitir que não há visão, mas simples intuição e
transmissão do pensamento, e citam numerosos exemplos em apoio a essas
ideias.

O que Kardec está dizendo aqui e que ele vai admitir logo adiante é que o que acontece muitas
vezes é que certas pessoas achavam que o sonâmbulo ele só percebe, só é capaz de perceber
aquilo que está no pensamento da pessoa que o está interrogando então Kardec vai contestar
a generalização dessa afirmação. Vai contestar a generalização, mas vai admitir que é isso
justamente o que ocorre muitas vezes: o sonâmbulo como que lê o pensamento e capta as
ideias do seu interrogador e responde então de acordo com as ideias do seu interrogador. Se o
próprio Kardec admite isso, como nós vamos ver em seguida, é evidente que isso aconteceu
com ele muitas vezes, talvez na maioria dos seus diálogos com supostos Espíritos.

Continua Kardec:

Ninguém duvida que o sonâmbulo, captando o pensamento, possa traduzi-lo e por


vezes ser-lhe o próprio eco. Também não contestamos que, em certos casos, o
pensamento possa influenciá-lo. Admitindo que no fenômeno houvesse apenas
isso, já não seria um fato curioso e digno de observação? O problema não é, pois,
saber se o sonâmbulo é ou pode ser influenciado por um pensamento estranho, o
que não é posto em dúvida ( ou seja, não há dúvidas de que isso acontece: de que o
sonâmbulo é influenciado por quem o está interrogando), mas se é sempre influenciado,
e isto é resultado de experiências.

Nós vimos aqui o próprio Kardec dizer com todas as letras que não há dúvidas de que o
sonâmbulo é ou pode ser influenciado por um pensamento estranho, como seja o pensamento
do seu interrogador.

Vamos adiante:

Se o sonâmbulo nunca diz senão aquilo que sabeis, é incontestável que traduz o
vosso pensamento. Mas se, em certos casos, diz aquilo que não sabeis; se
contraria a vossa opinião e vossa maneira de ver, torna-se evidente a sua
independência e que apenas segue seu próprio impulso. Nesse gênero, um único
fato bem caracterizado seria suficiente para provar que a sujeição do sonâmbulo
ao pensamento alheio não é coisa absoluta. Ora, há milhares de exemplos, e
dentre aqueles que são de nosso conhecimento citaremos os dois seguintes:

O Sr. Marillon, que morava em Bercy, na Rua Charenton, 43, desapareceu em 13


de janeiro último. Foram infrutíferas todas as pesquisas para descobrir traços seus.
Nenhuma das pessoas que ele costumava frequentar habitualmente o tinham
visto. Nenhum negócio podia motivar uma ausência prolongada. Por outro lado, o
seu caráter, a sua posição e o seu estado mental afastavam qualquer ideia de
suicídio. Restava a hipótese de que tivesse sido vítima de um crime ou de um
acidente. Mas, neste último caso, poderia ter sido facilmente identificado e
reconduzido ao seu domicílio ou, pelo menos, levado ao necrotério. Todas as
probabilidades apontavam, pois, para um crime. Foi sobre essa ideia que se
detiveram, tanto mais por acreditarem que ele havia saído para fazer um
pagamento. Mas onde e como teria sido cometido o crime? É o que todos
ignoravam. Então sua filha recorreu a uma sonâmbula, a Sra. Roger, que em
muitas outras circunstâncias idênticas havia dado provas de uma lucidez notável,
que nós mesmos tivemos ocasião de constatar.

Na revista espírita do mês de agosto de 1872 por Kardec narra a parcial perda de visão que ele
sofreu e a cura que ele obteve através de uma sonâmbula. Deve ser então a esta sonâmbula, a
senhora Roger que Kardec está se referindo.

Vamos continuar:

Sra. Roger seguiu o Sr. Marillon desde que ele saiu de casa (saiu, ela seguiu ele
com a visão à distância, né?) às três horas da tarde, até cerca de sete horas da noite,
momento em que se dispunha a regressar; viu-o descer às margens do Sena, para
uma necessidade imperiosa (foi fazer cocô); aí foi acometido de um ataque de
apoplexia e, disse ela, vi-o cair sobre uma pedra, abrir uma brecha na fronte,
depois rolar para a água. Não houve, pois, nem suicídio, nem crime. Vejo ainda o
seu dinheiro e uma chave no bolso do paletó. Indicou o local do acidente, mas
declarou que o corpo lá não mais estava, pois tinha sido arrastado pela correnteza;
que seria encontrado num determinado lugar.

Realmente isto se deu. Ele tinha a ferida indicada na fronte; a chave e o


dinheiro estavam no bolso e a posição das roupas indicava claramente que a
sonâmbula não se havia enganado quanto ao motivo que o levara à barranca do
rio.

Diante de tantos detalhes, perguntamos onde pode ser encontrada a


transmissão de um pensamento qualquer!

Você pode ver que Kardec não cogita a hipótese de que a senhora Roger tenha sido auxiliada
por algum espírito. Kardec sabia que não havia necessidade da intervenção de nenhum espírito
para que um fenômeno como esse ocorresse, mas eu sou obrigado aqui a chamar atenção
para uma característica que nós vamos votar ao longo da obra de Kardec e que essa
característica foi seguida por muitos renomados estudiosos do espiritismo. Eu acredito nesses
relatos. Por que que eu acredito? Talvez porque eu queira acreditar, talvez porque me convém
acreditar, mas se eu não quiser acreditar porque isso iria contrariar as minhas crenças eu
poderia argumentar e com toda a razão que nós só temos aqui a palavra de um homem:
Kardec!

Kardec:

o Nunca divulgou nenhuma mensagem original


o Nunca publicou os escritos produzidos supostamente pelos próprios Espíritos

E tudo o que ele conta são causos que ele diz ter presenciado ou dos quais ouviu falar. Ora,
isso é válido para uma conversa entre amigos, mas isso não pode de maneira alguma ser
considerado ciência, por favor! Eu não tenho pretensões de cientistas e não pretendo fazer
nenhum esforço para que as minhas ideias sejam aceitas por alguém, mas Kardec dizia que
espiritismo é ciência! Como assim ciência? Ciência na base do diz que me disse? Mas como eu
disse eu acredito nesse caso relatado por Kardec porque me convém acreditar nele. Se Kardec
atribuísse esse fenômeno a algum espírito eu não acreditaria porque hoje eu prefiro me abster
desse tipo de crença. Você pode me acusar de parcialidade e com toda a razão, acontece que
todos nós somos parciais! Todos nós consciente ou inconscientemente acreditamos naquilo
que se coaduna com o nosso conjunto de crenças. A imensa maioria das pessoas não
reconhece isso ou não reconhece ou nem mesmo sabe que isso pode existir, não cogita essa
possibilidade. Isso é pura falta de autoconhecimento! Uma pessoa que não conhece a si
mesma e as suas características humanas ela está fadada a ser escrava de ideias alheias, mas
quando um fato qualquer encontra guarida em nosso conjunto de crenças, esse fato então ele
é facilmente assimilável independentemente de ser verdade ou não. Um conjunto de crenças
não tem nada a ver com a verdade. A crença pela sua natureza não tem compromisso com a
verdade. Você pode achar que o céu é vermelho, mas isso não vai mudar o fato de que o céu
visto da terra, é azul. O céu não vai mudar de cor porque você acha que ele é vermelho ou
porque você acha que ele não é azul, mas se você acha que ele é vermelho você vai continuar
encontrando motivos que corroborem a sua crença, vai encontrar!

Nossa capacidade de auto ilusão é potencialmente infinita! Uma situação que é muito fácil
perceber isso é numa sessão mediúnica. Eu trabalhei num centro espírita em que os seus
trabalhadores acreditam que esse centro espírita esteja ligado a um hospital no plano astral.
Hoje em dia muitos centros espíritas têm essa crença: acreditam que o centro espírita está
ligado a um hospital no plano astral ou uma colônia astral. Para os trabalhadores desse centro
espírita é algo corriqueiro o deslocamento, né? Ou desdobramento até esse hospital localizado
no plano astral, mas se alguém perguntar a diferentes médiuns como é o hospital, surgiram
diferentes definições, uma nada a ver com a outra. Os espíritas são doutrinados em livros
como nos domínios da mediunidade de André Luís atribuir essas diferentes visões por parte
dos médiuns as diferentes capacidades de cada um, ou seja, cada um vai perceber aquilo que
está de acordo com a sua capacidade. Num primeiro momento esse argumento convence, mas
não é possível, não é crível que diferentes médiuns vejam coisas tão diferentes! Se é dito, por
exemplo, que um prédio tem uma torre, uma só num dos lados, esse lado só pode ser o direito
ou esquerdo, não há outra opção: lado só existe o direito e esquerdo. Se um diz que a torre
fica do lado direito, outro diz que a torre fica do lado esquerdo, alguma coisa está errada e
muito errada! O mesmo vale para descrição dos Espíritos: se você perguntar a diferentes
médiuns, receberá diferentes descrições. É claro que pode haver concordância, por exemplo,
no caso da descrição de sintomas de pacientes, né? Descrição daquilo que o paciente está
sentindo, está experimentando, mas isso não tem nada a ver com Espíritos, isso é resultado da
percepção por parte nos médiuns ou sensitivos, a percepção deles a respeito das influências
que estão agindo sobre o consulente ou paciente, mas como eu disse há pouco você pode ver
que Kardec não cogita a hipótese de que a senhora Roger (de novo ela) de que a senhora
Roger tenha sido auxiliada por algum espírito. Kardec sabia que não havia necessidade da
intervenção de nenhum espírito para que um fenômeno como esse ocorresse. Por que então
Kardec acreditava em comunicações de Espíritos?

Isso nós vamos tratar ao longo do tempo, mas podemos adiantar aproveitando esse exemplo
que eu citei agora há pouco que depois que uma premissa básica é aceita, toda e qualquer
informação que confirme aquela premissa básica é aceita sem dificuldades! Kardec passou a
conviver com pessoas que acreditavam em comunicações de Espíritos. A primeira edição do
Livro dos Espíritos que é a base de toda a doutrina espírita, ela foi produzida a partir das
comunicações das médias Julie e Caroline Baudin, duas meninas que tinham respectivamente
12 e 14 anos quando Kardec começou a frequentar as sessões que ocorriam na casa da família
Baudin e também das comunicações e a posterior revisão de todo o trabalho que deu origem
ao Livro dos Espíritos pela senhorita Japhet, isso na casa do senhor Roustan. Ele era o
preceptor (lembrei agora do termo: é tutor, é preceptor da senhorita Japhet) então nessas
duas casas aconteciam sessões espíritas, as pessoas que participavam dessas sessões
acreditavam em Espíritos, essas pessoas estavam todas elas convencidas de que as
comunicações eram dos Espíritos. Kardec então mesmo que relutante a princípio ele acatou
essas ideias. A partir dessa base, a partir desse alicerce, ele construiu um edifício de crenças
que ao invés de acabar com a superstição como ele imaginava, institucionalizou e codificou a
superstição! Foi isso que aconteceu!

Continua Kardec:

Eis outro fato no qual não é menos evidente a independência sonambúlica.

O casal Belhomme, chacareiros em Rueil, na Rua Saint-Denis, 19, tinha uma


economia de cerca de 800 a 900 francos. Para maior segurança, a Sra. Belhomme
os guardou num armário, do qual uma parte era reservada para as roupas velhas e
outra para a roupa nova. Foi neste último que o dinheiro foi colocado. Nesse
momento entrou alguém e a Sra. Belhomme apressou-se em fechar o armário.
Algum tempo depois, necessitando de dinheiro, estava certa de que o havia posto
entre a roupa velha, pois tal havia sido a sua intenção, admitindo que essas
tentariam menos os ladrões. Mas, na sua precipitação, com a chegada da visita, o
havia posto no outro compartimento. De tal modo estava convencida de havê-lo
posto entre os trapos, que nem lhe ocorreu procurar noutro lugar. Achando o lugar
vazio e recordando-se da visita, acreditou que tinha sido vista e roubada e, assim
persuadida, suas suspeitas recaiam naturalmente sobre o visitante.

Que velha desconfiada!


Acontece que a Sra. Belhomme conhecia a Srta. Marillon, de quem falamos
acima, e lhe contou seu infortúnio. Ela lhe disse como seu pai foi encontrado e
aconselhou-a a procurar a mesma sonâmbula, antes de tomar qualquer outra
providência. O casal Belhomme procurou a Sra. Roger, convencidos ambos de
que tinham sido roubados e na esperança de que lhes fosse indicado o ladrão que,
em sua opinião, não podia deixar de ser a visita. Tal era, pois, seu único
pensamento.

Ora, depois de minuciosa descrição do local, a sonâmbula lhes disse: “Não


fostes roubados; vosso dinheiro está intacto em vosso armário; apenas pensais tê-
lo posto entre a roupa velha, quando o pusestes entre a roupa nova. Ide para casa,
que o encontrareis”. Foi realmente o que aconteceu.

Relatando estes dois casos, ─ e poderíamos aduzir muitos outros ─ nosso


objetivo foi provar que a clarividência sonambúlica nem sempre é reflexo de um
pensamento estranho. Assim, o sonâmbulo pode ter uma lucidez própria,
absolutamente independente. Disso decorrem consequências de alta significação
do ponto de vista psicológico. Aqui temos a chave de mais de um problema que
examinaremos ulteriormente, quando tratarmos das relações que existem entre o
sonambulismo e o Espiritismo, as quais lançam uma luz inteiramente nova sobre a
questão.

Muito bem! O sonâmbulo... Kardec diz aqui: o sonâmbulo também pode ter uma lucidez
própria absolutamente independente. Se o fato como esse que foi relatado aqui por Kardec, se
um fato como esse acontece hoje num centro espírita qualquer, sem dúvida alguma esse
resultado iria ser atribuído aos Espíritos! Os Espíritos revelaram onde estava o dinheiro, aliás o
livro nos domínios da mediunidade atribuído ao espírito André Luiz ao tratar da psiquiatria, ele
ignora Kardec e mesmo reconhecendo e explicando a faculdade anímica, não mediúnica, a
faculdade anímica que possibilita a psicometria acaba atribuindo o trabalho aos Espíritos! Tudo
é espírito! Tudo tem espírito envolvido! Uma grande bobagem! Um erro de gravíssimas
proporções! Nós deixamos de estudar um assunto sério sobre a nossa própria natureza para
enchermos a mente de superstições!

Eu mencionei agora pouco casos de cura ocorridos a partir do atendimento espiritual no


centro espírita. Essas curas são atribuídas aos Espíritos. Não existe nenhum papel exercido
pelos Espíritos nessas curas! O próprio Kardec trata desse tema atribuindo curas ao
magnetismo. Nós vemos no Evangelho Segundo o Espiritismo:

CAPÍTULO XIX
A FÉ TRANSPORTA MONTANHAS

Diz assim Kardec:

5. O poder da fé se demonstra, de modo direto e especial, na ação magnética; por seu


intermédio, o homem atua sobre o fluido, agente universal, modifica-lhe as qualidades e lhe dá
uma impulsão por assim dizer irresistível. Daí decorre que aquele que a um grande poder
fluídico normal junta ardente fé pode, só pela força da sua vontade dirigida para o bem, operar
esses singulares fenômenos de cura e outros, tidos antigamente por prodígios, mas que não
passam de efeito de uma lei natural. Tal o motivo por que Jesus disse a seus apóstolos: se não o
curastes, foi porque não tínheis fé.
Você viu só? Um grande poder fluídico e uma fé ardente! Esses são os dois ingredientes para
que haja a cura segundo Kardec. não há a participação de Espíritos! não é necessária a
participação de Espíritos. Muito provavelmente não é possível a participação de Espíritos!
Kardec escreveu um artigo na revista espírita do mês de março de 1858 e nesse artigo ele
sustenta que magnetismo e espiritismo estão interligados e que todos os adeptos do
espiritismo são partidários do magnetismo. Claro que isso naquela época. Se nós
perguntarmos a um grupo de espíritas hoje o que é o magnetismo a imensa maioria não faz
nem ideia!

Eu vou ler o começo do artigo (revista espírita de março de 1858. O título é: magnetismo e
espiritismo).

Fala Kardec:

Até hoje eu não conheço essa discussão de Kardec. em parte alguma da obra de Kardec eu vi
qualquer explicação convincente sobre porque de não se poder atribuir todos os fenômenos
ao magnetismo que eu diria subconsciente. Eu atribuo os fenômenos ao subconsciente. O
magnetismo é um meio de alcançar o subconsciente. Segundo o método utilizado por Kardec.
A explicação mais completa que eu conheço está no livro o que é o espiritismo, mas ela é tão
fraca que não parece digna de Kardec ou quem sabe Kardec realmente não é tudo aquilo que
um espírita pensa que ele é! Eu devo lembrar que eu fui espírita por mais de 20 anos e que eu
era espírita até alguns meses atrás. No meio espírita Kardec ainda é usado, louvado
engrandecido, elogiado pela sua lógica, pelo seu poder de argumentação. Realmente Kardec se
dava muito bem com as palavras, mas revendo a obra Kardequiana hoje mesmo reconhecendo
que nós mudamos nossa opinião conforme nós vamos adquirindo conhecimentos e
experiências, eu me surpreendo por ter sido tão facilmente convencido por Kardec.

Tudo indica que ele passou a acreditar que eram Espíritos que se comunicavam por que alguns
sonâmbulos ou médiuns diziam isso: afirmavam que as comunicações eram de Espíritos, as
mensagens vinham assinadas com nomes quase sempre ilustres de pessoas que já tinham
morrido, pessoas famosas, famosíssimas que já tinha morrido, mas se Kardec sabia que todos
somos sugestionáveis, se Kardec sabia que o sonâmbulo capita pensamentos das pessoas
presentes (ele sabia isso), se Kardec sabia que as crenças dos próprios médiuns e sonâmbulos
influenciavam nas comunicações e ele sabia isso como então ele se rendeu tão facilmente a
essa teoria?

Vamos ver que Kardec fala sobre o sonambulismo no seu resumo teórico do sonambulismo, do
êxtase e da dupla vista. É a questão 455 do Livro dos Espíritos.

diz assim:

Eu vou repetir o trecho que mais nos interessa. preste atenção!


Ele sente os pensamentos alheios e adivinha os pensamentos alheios.

Eu preciso dizer mais alguma coisa? Você pode alegar que Kardec acabou de dizer aqui que o
sonâmbulo entra em comunicação com os Espíritos desencarnados e que eu só estou
selecionando a parte que me serve no texto. não é bem assim, fofura! Ao falar do
sonambulismo provocado Kardec está tratando de um tema que ele conhece bem, afinal de
contas ele era (nas palavras do seu seguidor lá, o Leymarie) um experimentado magnetizador
há mais de 35 anos! Isso ao falar do sonambulismo provocado. Ao falar de Espíritos, no
entanto Kardec está apenas teorizando sobre uma crença nova! Mas o fato é que o próprio
Kardec dá a explicação do que ocorre.

Diz assim:

Se o sonâmbulo está num meio em que se acredita em Espíritos ele será influenciado por essa
crença e vai dar comunicações atribuídas aos Espíritos! Lembre-se de que as primeiras
comunicações que deram origem ao Livro dos Espíritos se deram através de três adolescentes,
três meninas adolescentes. Você há de convir se você não for muito teimoso que um
adolescente ele é mais facilmente influenciável do que um adulto experiente, além disso essas
três adolescentes conviviam há tempo ou talvez durante toda a sua vida conviviam com
pessoas que acreditavam em Espíritos, que acreditavam em comunicações de Espíritos. Kardec
entrou naquele meio sem acreditar em comunicações de Espíritos, mas o ambiente já estava
formado para aquele pequeno mundo em que Kardec passou a viver, onde Kardec caiu de
paraquedas. As comunicações com os Espíritos eram uma realidade, para eles aquilo era uma
realidade.
Não se esqueça de conferir aqui embaixo na descrição do vídeo o link que eu vou colocar para
você visitar o canal de um magnetizador o Ricardo organizar que aliás como eu disse que
assiste o nosso canal.

No próximo vídeo nós vamos ver como as ideias reencarnacionistas que estavam em voga em
Paris no tempo de Kardec e como Kardec se deixou influenciar por essas ideias, se deixou
influenciar a ponto de fazer da teoria da reencarnação um dogma espírita. Isso é palavra dele,
não minha!

Muita força e paz para você!

Por que Kardec pregou a reencarnação

Olá? Tudo bem? A ideia central da doutrina de Kardec a meu ver é a reencarnação! Outros
pilares da doutrina podem ser apontados como

 A existência de Deus
 A imortalidade da alma
 A possibilidade de comunicação entre encarnados e desencarnados

Mas nenhum pilar da doutrina de Kardec tem a força argumentativa e as consequências


práticas e morais como a reencarnação. Se você observar os comentários aos meus vídeos
mais recentes desde que eu deixei de ser espírita você vai ver que muitos espíritas não
defendem a reencarnação como uma verdade! Muitos espíritas defendem a reencarnação
como uma boa explicação para as desigualdades da vida. O próprio Kardec que sabia muito
bem que a reencarnação é apenas uma teoria e que não há como provar que existe
reencarnação o próprio Kardec argumentava que a reencarnação é o melhor meio de explicar
as desigualdades que nós vemos todos os dias entre as pessoas. Isso de acordo com a ideia de
justiça que nós atribuímos a Deus. Nós atribuímos a Deus e o problema todo é esse: Kardec e
os espíritas acreditam no mesmo Deus cristão da bíblia. Há pequenos retoques do Deus de
Moisés para o Deus de Jesus e do Deus de Jesus para o Deus de Kardec. Pequenos retoques,
mas fundamentalmente é o mesmo Deus antropomórfico, ornado, né? Enfeitado com as
melhores qualidades humanas. Eu preciso deixar claro que eu estou me referindo a imagem
popular de Deus. Eu acredito que tanto Moisés quanto Jesus tivessem intimamente um
entendimento bem superior de Deus, mas o modo como o povo entende é a imagem
antropomórfica.

Kardec atribui a Deus as melhores características humanas como a bondade e a justiça. Por se
tratar de Deus, essas características são elevadas ao infinito, logo, né? Por consequência o
Deus apresentado por Kardec é infinitamente bom e infinitamente justo. Quem acredita num
Deus infinitamente bom e justo não pode aceitar que haja desigualdades inexplicadas! Se há
desigualdades, é preciso explica-las! Se não é possível explicar as desigualdades tendo em vista
apenas a existência atual, é preciso se reportar a outra causa! Se a causa não está na existência
atual temos que encontrar outra causa. Kardec encontrou essa causa em outras existências,
outras reencarnações.
Assim:

o Se um homem é são e outro é doente, a explicação está na reencarnação


o Se um homem inteligente e outro é burro, a explicação está na reencarnação
o Se um homem é bom e o outro é mau, a explicação está na reclamação

Hoje para o imaginário popular espírita, a reencarnação explica tudo! Eu gostaria muito de
tratar do tema reencarnação desde já assoprando o castelo de cartas habilmente construído
por Kardec. Os argumentos de Kardec para defender a ideia reencarnacionista são frágeis!
muito frágeis, mas eu vou tratar desse tema quando chegar o momento apropriado. Por
enquanto nós vamos ver apenas as influências que agiram sobre Kardec e nós vamos ver que
mesmo que Kardec, mesmo que ele afirme que não acreditava em reencarnação porque ele
afirma isso, as ideias reencarnacionistas certamente exerceram grande influência sobre
Kardec. Que ele não acreditasse tudo bem, ele diz, eu acredito, mas que essas ideias
exerceram influência sobre ele, quanto a isso não há dúvida!

Kardec diz na revista espírita de novembro de 1858 que a doutrina ensinada pelos Espíritos o
surpreendeu (é a doutrina em relação à reencarnação). Está na revista espírito do mês de
novembro de 1858 no título pluralidade das existências corpóreas. Kardec diz assim:

foi ensinada pelos Espíritos, ela estava tão longe de nosso pensamento, que
havíamos construído um sistema completamente diferente sobre os antecedentes
da alma, sistema aliás partilhado por muitas pessoas. Sobre este ponto, a doutrina
dos Espíritos nos surpreendeu. Diremos mais: ela nos contrariou, porque derrubou
as nossas próprias ideias. Como se vê, estava longe de ser um reflexo delas.

Isto não é tudo. Nós não cedemos ao primeiro choque. Combatemos;


defendemos a nossa opinião; levantamos objeções e só nos rendemos ante a
evidência e quando notamos a insuficiência de nosso sistema para resolver todas
as questões relativas a esse problema.

Kardec diz para início de conversa que a doutrina da reencarnação foi ensinada pelos Espíritos.
Um exagero de Kardec. Eu diria até uma leviandade de Kardec! A verdade é que alguns
espíritos diziam que existe reencarnação e outros Espíritos diziam que não existe
reencarnação. Nós vamos ver isso oportunamente. O que deve ficar bem claro desde já é que
em momento algum a reencarnação foi apresentada ou considerada como uma ideia unânime
entre as comunicações atribuídas aos Espíritos. Ao afirmar enfaticamente que o ensino sobre a
reencarnação o surpreendeu e mais do que isso: o contrariou, segundo Kardec por derrubar as
suas próprias ideias, ao afirmar isso Kardec está se defendendo. Do que ele está se
defendendo? Muitos opositores do espiritismo sustentavam que as comunicações apenas
refletiam o pensamento do interrogador: aquele que interroga, né? Os supostos Espíritos. Eu
explico. O fenômeno das mesas girantes e falantes e mais tarde as reuniões espíritas atraíam
muitos curiosos e muitos pesquisadores. Alguns acreditavam que as comunicações não
provinham de Espíritos! Acreditavam que essas comunicações eram apenas reflexo dos
pensamentos ou do interrogador ou do próprio médium ou sonâmbulo. Lembre-se de que
Kardec era um experimentado magnetizador há mais de 35 anos! (nós vimos isso no vídeo
anterior). Muitos magnetizadores não acataram a teoria espírita e continuaram pensando
como pensavam antes que o sonâmbulo de algum modo tinha acesso a informações e
conhecimentos os quais no estado normal lhe eram desconhecidos. Kardec responde a essas
críticas no livro o que é o espiritismo e é disso que Kardec está se defendendo agora quando
ele diz:

Sob esse aspecto, portanto, a Doutrina dos Espíritos nos surpreendeu profundamente;
diremos mais: contrariou-nos, porquanto derrubou as nossas próprias ideias.

E depois ele diz assim:

Como se pode ver, estava longe de refleti-las.

Mas o que eu quero que você perceba não é isso! Isso nós vamos ver com detalhes mais
adiante. O que eu quero que você perceba agora é algo muito importante e que passa batido
pela esmagadora maioria dos espíritas! Kardec não adota a teoria reencarnacionista por
acreditar que ela esteja de acordo com a verdade! Kardec adota a teoria reencarnacionista
porque essa teoria é a teoria que contem a melhor explicação, não é uma questão de verdade,
é uma questão de aparência! Pessoas como Kardec precisam achar explicação para tudo! O
importante para essas pessoas não é realmente a verdade, o importante para essas pessoas é
a explicação.

Kardec termina o parágrafo dizendo que:

...só nos rendemos à evidência quando percebemos a insuficiência de nosso sistema para
resolver todas as dificuldades levantadas por essa questão.

Kardec tinha um sistema, Kardec acreditava nesse sistema, mas Kardec percebeu que esse
sistema não explica tudo. Como ele encontrou um sistema capaz de explicar tudo o que ele
queria, ele mudou de sistema! Como você pode ver Kardec admite sem nenhum pudor que ele
acatou a teoria reencarnacionista apenas porque o sistema em que ele acreditava até então
não era capaz de explicar tudo o que ele queria que fosse explicado! Como Kardec encontrou
explicações razoavelmente convincentes para essas questões na teoria reencarnacionista ele
prontamente adotou a teoria reencarnacionista! Isso não teria problema nenhum se ela
adotasse essa teoria em caráter pessoal, o problema é que essa ideia com todas as
consequências que ela encerra acabou sendo comprada por alguns milhões de pessoas que
assim como Kardec são pessoas que precisam de explicações para as aparentes injustiças.

Nesse mesmo artigo Kardec afirma que a reencarnação foi ensinada em vários países antes
mesmo da publicação do Livro dos Espíritos. Quando Kardec conheceu o fenômeno das mesas
falantes as ideias reencarnacionistas já estavam em voga em alguns círculos intelectuais e
espiritualistas da Europa! Essa ideia estava na moda! Eu acredito em Kardec quando ele diz
que ele, ele não acreditava em reencarnação, quando ele diz que ele foi surpreendido pela
teoria reencarnacionista, mas os médiuns de Kardec não têm nada a ver com isso! As três
médiuns adolescentes que deram comunicações para a confecção da primeira edição do Livro
dos Espíritos acreditavam em reencarnação! Kardec ainda diz nesse mesmo artigo que ele
obteve comunicações através de mais de 50 médiuns e que todos eles confirmaram a teoria
reencarnacionista. Esse argumento o próprio Kardec reconhece que não tem muito valor, pois
ele sabia muito bem que muitos outros Espíritos principalmente na Inglaterra, nos Estados
Unidos afirmavam que não existe reencarnação, mas vamos atentar para esses mais de 50
médiuns de Kardec: todos eles muito provavelmente pertenciam ao círculo de influência de
Kardec! Todos eles partilhavam do mesmo conjunto de crenças! Faça uma experiência você: se
você fizer perguntas em vários centros espíritas hoje, é evidente, é claro como a água que as
respostas obtidas obedecerão ao padrão da doutrina espírita! Você pode achar que eu estou
sendo parcial ao afirmar que todos esses médiuns muito provavelmente pertenciam ao círculo
de influência de Kardec. Ora, eu só posso supor isso, já que Kardec nunca deu detalhes sobre
quem eram seus médiuns, quais eram as crenças dos seus médiuns, que testes haviam sido
feitos com os seus médiuns para provar que eles eram realmente médiuns! Kardec nunca
informou nada sobre isso, muito menos! Muito menos mostrou ao seu público leitor qualquer
comunicação original. Tudo o que nós temos é palavra de Kardec e ele ainda quer que nós
acreditemos que isso é ciência! Por favor! No tempo de Kardec estava em voga o chamado
socialismo utópico. O socialismo utópico surgiu como uma resposta aos abusos e as
desigualdades provocadas pelo liberalismo e pelo capitalismo durante a revolução industrial.
Isso é matéria de ensino médio! No auge da revolução industrial a jornada de trabalho chegava
a ser de 16 horas por dia. Trabalho infantil era uma coisa absolutamente comum. Mais tarde o
socialismo utópico vai ser criticado por Marx que não acreditava que pudesse haver uma
tomada de consciência por parte dos indivíduos das classes dominantes e isso seria necessária:
essa tomada de consciência por parte dos indivíduos das classes dominantes seria necessário
para que os objetivos do socialismo fossem alcançados. Os socialistas utópicos acreditaram
que o sistema socialista seria alcançado de forma lenta e gradual, de forma pacífica, não
revolucionário contando com a conscientização e com a boa vontade da burguesia.

Os principais nomes do socialismo utópico: Saint-Simon (1760-1825), Charles Fourier (1772-


1837), Louis Blanc (1811-1882) e Robert Owen (1771-1858).

Atenção! Todos eles reencarnacionistas! Robert Owen (1771-1858) mais tarde se tornou
espírita e Saint-Simon (1760-1825) e Charles Fourier (1772-1837) são citados mais de uma vez
pelo próprio Kardec na revista espírita. Eu vou ler aqui um artigo da revista espírita do mês de
dezembro de 1862. O título é assim: Robert Owen, Saint-Simon e Charles Fourier

Diz Kardec:

Diz a carta:

Quem está escrevendo isso é um leitor da revista espírita. Está escrevendo para Kardec.
Agora vamos ver o que Kardec diz a respeito dessa carta ele recebeu de um leitor da revista
espírita. Você vai ver que Kardec concorda plenamente com as ideias de Fourier e não apenas
isso! Kardec demonstra que conhece as ideias de Fourier.

Agora é Kardec que está falando:

Que coincidência!
Vou repetir essa última frase para você fixar bem, principalmente se você for kardecista de
carteirinha:

Ora, se Kardec afirma isso com


tanta convicção é porque certamente ele conhecia as ideias reencarnacionistas e os trabalhos
em que os autores externavam essas ideias. Um deles Kardec vai citar agora. Vamos ver então
um trecho que Kardec faz essa citação:

Ainda em 1862 na revista espírita do mês de agosto Kardec vai mencionar mais um autor
reencarnacionista que o precedeu.

Revista espírita do mês de agosto de 1862: carta do senhor Jean Reynaud ao jornal de debates.
Kardec transcreve uma carta de Jean Renault e logo após ele assim se manifesta.

Diz Kardec:
Kardec tem uma obra pouco conhecida dos espíritas: é o catálogo racional de obras para ser
fundar uma biblioteca espírita. É um livrinho escrito por Kardec. Nesse catálogo Kardec sugere
o chamado livro da humanidade. O título é da humanidade. é de Pierre Leroux, é um outro
filósofo socialista que também pregava a reencarnação

Que nós vimos até aqui?

Kardec reconhece claramente que autores anteriores a ele, mas seus contemporâneos haviam
ensinado sobre a reencarnação. É importante salientar que esses autores mencionados não
são espíritas nem espiritualistas. Fourier e Leroux assim como Saint-Simon e Robert Owen eles
eram socialistas e Jean Reynaud era filósofo. Essas ideias estavam entranhadas na sociedade
parisiense da época, era um pensamento comum vigente na época. Kardec conhecia essas
ideias. As pessoas que introduziram Kardec nesse meio de reuniões espíritas conheciam essas
ideias e não só as conheciam como comungavam dessas ideias! Os médiuns de Kardec
provavelmente as conheciam. As suas primeiras médiuns certamente as conheciam e
comungavam dessas ideias. Você pode ver como eu citei no começo que Kardec se defendia da
acusação de que os supostos ensino dos Espíritos apenas refletiam as suas próprias ideias.
Alguns diziam isso, né? Que os ensinos dos Espíritos, supostamente dos Espíritos refletiam as
suas ideias, ele se defende disso. No vídeo anterior em que tratei da influência do magnetismo
sobre Kardec, nós vimos que Kardec sabia, não só sabia como ensinava que o sonâmbulo capta
pensamento das pessoas presentes além de externar também as suas próprias ideias.

É muito fácil constatar que as ideias de reencarnação supostamente ensinadas pelos Espíritos
são apenas o produto do seu meio e da sua época! São apenas uma questão de influência
espaço/tempo. Nos Estados Unidos quando os fenômenos atribuídos aos Espíritos tiveram
origem a reencarnação não era ensinada pelos supostos Espíritos. Grande parte dos cientistas
e dos médiuns famosos que são exaustivamente citados pelos espíritas para dar mais
credibilidade ao espiritismo como:

 Andrew Jackson Davis


 William Crookes (o William Crookes é muito citado pelos espíritas)
 Alexandre Aksakof
 Fredrich William Henry Myers
 Daniel Dunglas Home

Entre tantos outros eles não eram espíritas! não eram espíritas, eles eram espiritualistas eram
partidários do chamado novo espiritualismo ou espiritualismo anglo americano. Eles não
acreditavam em reencarnação e não acreditavam por um motivo muito simples! Os supostos
Espíritos que se comunicavam em suas reuniões não ensinavam sobre a reencarnação e em
alguns casos diziam claramente que não existe reencarnação e porque as comunicações nos
Estados Unidos não ensinavam a reencarnação?

Novamente por um motivo muito simples! Diferentemente dos círculos parisienses


frequentados por Kardec, nos Estados Unidos não havia a crença na reencarnação! A origem
dos fenômenos atribuídos aos Espíritos nos Estados Unidos prende-se a outras influências. A
sua origem são as dissidências protestantes como os shakers e outras que deram origem aos
mórmons, aos adventistas do sétimo dia. Aquele meio nos Estados Unidos em que as
manifestações supostamente mediúnicas aconteceram nos Estados Unidos era um meio de
origem protestante com forte presença da Bíblia, uma situação bem diferente do que
aconteceu na França em que a tradição religiosa já não tinha o mesmo vigor de antes do
iluminismo e antes da revolução francesa. Lembre-se de que o centro cultural do mundo, a
vanguarda do pensamento mundial na época de Kardec era Paris, não os Estados Unidos. Era
em Paris que se concentravam as novidades. Basta você ler Machado de Assis para você
chegar a essa conclusão: as influências que chegavam ao Brasil eram todas as francesas! Como
não é difícil de concluir uma sociedade baseada na Bíblia, como era o caso dos protestantes
norte-americanos não acreditavam em reencarnação, a reencarnação não é um ensino bíblico.
É possível perceber alguns indícios! Indícios de crença em reencarnação na bíblia, mas de
forma alguma ela é ensinada. A proposta da Bíblia não é e nenhum dos livros que a compõem,
não é ensinar a reencarnação.

Ora, se as pessoas não acreditavam em reencarnação, se a reencarnação não fazia parte das
suas cogitações, é evidente que nenhuma comunicação atribuída aos Espíritos tenha pregado a
reencarnação! Já no meio parisiense em que as ideias reencarnacionistas dos socialistas
utópicos e de outros filósofos eram ideias correntes, a reencarnação foi pregada nas
comunicações! Simples, não é verdade, Joãozinho? Kardec tenta explicar isso da maneira mais
tosca possível! Tosca, alegando que os americanos não estavam preparados para receber o
ensino da reencarnação. Ô, kardequinho! Ele diz isso na revista espírita do mês de fevereiro de
1862. O título é: a reencarnação na américa.

Fala Kardec:

Com frequência as pessoas se admiram que a doutrina da


reencarnação não tenha sido ensinada na América e os incrédulos
não deixam de aproveitar a circunstância para acusarem os Espíritos
de contradição.
Kardequinho! Ô, Kardequinho, não é preciso ser incrédulo para contestar, basta ser atento! Se
os Espíritos estão supostamente revelando verdades porque é isso que o kardequinho dizia:
eles estão revelando verdades: o espiritismo é a terceira geração e uns dizem uma coisa,
outros dizem outra coisa, algo está errado!

Continua Kardec:
Não repetiremos aqui as explicações que nos foram dadas e que
publicamos a respeito. Limitar-nos-emos a lembrar que nisto os
Espíritos mostraram a sua prudência habitual. Eles quiseram que o
Espiritismo surgisse num país de liberdade absoluta quanto à emissão
de opiniões. O ponto essencial era a adoção do princípio, e para isso
não quiseram ser perturbados em coisa alguma.

O mesmo não se dava com todas as consequências, sobretudo com a


reencarnação, que se teria chocado com os preconceitos de
escravidão e de cor. A ideia de que um negro poderia tornar-se um
branco; de que um branco poderia ter sido um negro; de que um
senhor poderia ter sido escravo parecia de tal modo monstruosa que
era suficiente para que o todo fosse rejeitado.

Kardec escreveu esse artigo em 1862 em plena guerra da secessão nos Estados Unidos que
durou de 1861 a 1865. O principal motivo da guerra era a luta pela manutenção da escravidão
por parte de alguns estados do sul dos Estados Unidos. As notícias da guerra que chegavam à
Europa, que chegavam a Kardec, certamente essas notícias eram notícias de caráter oficial, de
caráter legalista por parte dos estados da união presididos por Abraham Lincoln.
Evidentemente para justificar a guerra contra os estados confederados do Sul a imprensa fazia
as piores acusações possíveis aos escravagistas. É compreensível, portanto, a ideia que Kardec
fazia dos americanos, mas é um erro primário achar que todos os americanos eram racistas ou
que esse motivo fosse suficiente para que os supostos Espíritos deixassem de revelar o que
havia de ser revelado. Eu não posso deixar de lembrar que em termos de preconceito Kardec
não é, digamos assim, merecedor de elogio algum. Para ter uma ideia dos preconceitos de raça
de Kardec basta ler os seus artigos: perfectibilidade da raça negra (na revista espírita do mês
de abril de 1862) e a teoria do belo (que está nas obras póstumas). O preconceito Kardec
também se estendia aos povos indígenas das américas como nós vamos ver com detalhes
oportunamente.

Continua Kardec:

Assim, os Espíritos preferiram sacrificar momentaneamente o


acessório ao principal e sempre nos disseram que, mais tarde, seria
estabelecida a unanimidade sobre este, como sobre outros pontos.
Com efeito, é o que começa a se dar. Várias pessoas daquele país
nos disseram que essa doutrina lá encontra atualmente numerosos
partidários; que certos Espíritos, depois de tê-la dado a pressentir,
vêm confirmá-la.
Eu confesso! Eu confesso admitindo a minha vaidade intelectual e porque não haveria de
admitir, eu confesso que me dá uma certa vergonha o fato de eu ter levado a sério um
fanfarão como Kardec. Novamente eu lembro aqui um vídeo que gravei quando eu ainda era
espírita: o fracasso do movimento espírita (está lá no meu antigo canal). Os Chiquistas e os
Kardecistas tiveram frenesis de indignaçãozinha cristã. Tudo com muito amor. Sempre com
muito amor, né? Dizendo que eu estava me precipitando, que Kardec nunca havia feito
previsões! Ora, ora! Se eu juntar todas as previsões, todas as pretensas profecias de Kardec, eu
faço um livro! Isso não é uma figura de linguagem, realmente há material suficiente para um
livro. Kardec está dizendo aqui que a unidade se faria sobre este ponto como sobre todos os
outros pontos. Ele está se referindo à reencarnação. Meia dúzia de gatos pingados das
américas disseram para ele que acreditava em reencarnação e ele já achou que em breve todo
o mundo ia se render à sua robusta e inquestionável lógica!

Depois de dizer isso Kardec transcreve parte de uma carta de alguém que passou a acreditar
em reencarnação e depois da carta veja o que Kardec disse:

Kardec diz assim:

Assim, foi a lógica, a força do raciocínio, que os levou a essa doutrina,


porque nela encontraram a única chave que podia resolver problemas
até então insolúveis.
Sempre o mesmo papinho furado! Sempre a lógica! Aqui ele fala em lógica e raciocínio. O
raciocínio de Kardec é que fazia ele ter meia dúzia de depoimentos e acreditar que em breve
todo mundo se renderia a sua lógica? Mudou alguma coisa em mais de 150 anos? Todos os
americanos acredita em reencarnação hoje? Fora 2% da população do Brasil que é o maior país
espírita do mundo, quase ninguém mais se deixou convencer pela lógica e raciocínio de
Kardec, mas o que eu quero que você perceba novamente é que Kardec não defende a
verdade! Kardec não está argumentando em favor da verdade, o que Kardec está defendendo
é a... Um pirulito para quem acertar!

A lógica! Kardec está defendendo a lógica, não a verdade. Não importa se a teoria da
reencarnação é verdadeira ou não. Não é isso que está em jogo, o que importa é se essa teoria
favorece a lógica: se for capaz de convencer pela lógica e explicar superficialmente algumas
dúvidas primárias está tudo certo.

Essa pessoa que escreveu para Kardec dizendo que agora acreditava em reencarnação atribui a
teoria da reencarnação a Kardec. Veja como ele responde a isso.

Kardec falando:

Contudo, o nosso honrado correspondente engana-se quanto a um


fato importante, ao atribuir-nos a iniciativa dessa doutrina, que chama
de filha do nosso pensamento. É uma honra que não nos cabe, pois a
reencarnação foi ensinada pelos Espíritos a outros, que não a nós,
antes da publicação de O Livro dos Espíritos.
Além disso, o princípio foi claramente exposto em várias outras obras
anteriores, não somente nas nossas, mas à época do aparecimento
das mesas girantes, entre outras em Céu e Terra de Jean Reynaud e
no encantador livrinho do Sr. Louis Jourdan, intitulado Preces de
Ludovico, publicado em 1849, sem contar que esse princípio era
professado pelos Druidas, aos quais, certamente, nós não
ensinamos *.
Aqui nós vemos mais uma vez que no tempo de Kardec e no ambiente em que Kardec vivia a
teoria da reencarnação estava em voga, era moda nos círculos intelectuais e espiritualistas.

Kardec continua:

Quando ele nos foi revelado, ficamos surpresos, e o acolhemos com


hesitação e desconfiança. Nós até mesmo o combatemos, durante
algum tempo.
Kardec faz questão de insistir em que ele ficou surpreso com a teoria da reencarnação e aqui
ele chega a dizer que ele até combateu a teoria da reencarnação. se ele combateu mesmo,
nada disso ficou registrado. Não existe nenhum livro, nenhum escrito de Kardec em que
apareça isso e se ele ficou realmente surpreso como ele faz questão de dizer, essa surpresa
durou pouco tempo, muito pouco tempo. Em menos de um ano de observações Kardec
começou a observar os fenômenos das mesas falantes, né? Em algumas casas de famílias onde
aconteciam reuniões. Em menos de um ano de observações em reuniões espíritas, Kardec já
estava ansioso por publicar = um livro a respeito.

Vamos à Kardec:

Nós até mesmo o combatemos, durante algum tempo, até que a


evidência nos foi demonstrada. Assim, nós ACEITAMOS esse dogma
e não o INVENTAMOS, o que é muito diferente.

Isso responde à objeção de um dos nossos assinantes, o Sr. Salgues,


de Angers, que é um dos antagonistas confessos da reencarnação e
que pretende que os Espíritos e os médiuns que a ensinam sofram a
nossa influência, de vez que os que se comunicam com ele dizem o
contrário. Aliás, o Sr. Salgues alega contra a reencarnação objeções
especiais, das quais um dia desses faremos objeto de um exame
particular. Enquanto esperamos, constatamos um fato: o número de
seus partidários cresce sem cessar, ao passo que o dos oponentes
diminui. (está se referindo evidentemente a reencarnação) Se tal resultado é
devido a nossa influência, atribuem-nos uma muito grande, pois se
estende da Europa à América, à Ásia, à África e até à Oceania. Se a
opinião contrária é verdadeira, como é que não prepondera? Seria o
erro mais poderoso que a verdade?
Esse é o nível de argumentação de Kardec! Se uma teoria prevalece é porque ela é verdadeira.
Como Kardec? Se for assim, a verdade está na igreja católica, sem sombra de dúvida porque a
igreja católica ainda é a maior organização religiosa do mundo então são as suas ideias que
estão prevalecendo até hoje.

Eu vou ler mais um trecho de um artigo publicado por Kardec. Isso está na revista espírita do
mês de maio de 1864. o título: a escola espírita americana.

De todos os princípios da doutrina, o que encontrou mais oposição na América, e


por América devemos entender apenas os Estados Unidos, é o da reencarnação.
Pode mesmo dizer-se que é a única divergência capital, pois as outras dizem
respeito mais à forma do que ao fundo, e isto porque lá os Espíritos ainda não a
ensinaram, e já explicamos as razões disto.

Veja só o nível de pretensão de Kardec! Os Espíritos ensinam uma coisa aqui e outra coisa
diferente ali, né? Mas Kardec vai explicar, né?

Ele disse assim, ó:

Os Espíritos procedem em toda parte com sabedoria e prudência.

Presta atenção!

Os Espíritos procedem em toda parte com sabedoria e prudência.

Para aí! Para tudo! Como é que é?

Os Espíritos procedem em toda parte com sabedoria e prudência?

 Como assim?
 Que Espíritos?
 Quais Espíritos?
 Quer dizer que todos os espíritos procedem da mesma forma?

Eu vou ler aqui só um trechinho de uma explicação de Kardec muito, mas muito repetida pelos
espíritas para evidenciar o bom senso de Kardec. Está nas obras póstumas no título minha
primeira iniciação ao espiritismo.

Diz assim Kardec:

Um dos primeiros resultados que colhi das minhas observações foi que os Espíritos,
nada mais sendo do que as almas dos homens, não possuíam nem a plena sabedoria,
nem a ciência integral; que o saber de que dispunham se circunscrevia ao grau, que
haviam alcançado, de adiantamento, e que a opinião deles só tinha o valor de uma
opinião pessoal. Reconhecida desde o princípio, esta verdade me preservou do grave
escolho de crer na infalibilidade dos Espíritos e me impediu de formular teorias
prematuras, tendo por base o que fora dito por um ou alguns deles.

Não! Não! Mas aí fica difícil kardecão! Qual é o Kardec que é para levar a sério? O Kardec que
diz que a opinião dos Espíritos só tem o valor de uma opinião pessoal ou o Kardec que diz que
os Espíritos procedem em toda a parte com sabedoria e prudência! Que papo é esse? Se os
Espíritos nada mais são do que as almas dos homens porque Kardec construiu uma doutrina
em cima dos seus ensinamentos? Por quê?

Ah! Porque o espírito de verdade revelou que Kardec tinha uma missão e porque Kardec
selecionou as mensagens, classificou essas mensagens de acordo com a sua linguagem e os
Espíritos superiores são facilmente identificáveis pela sua linguagem sóbria e pelos seus
ensinamentos elevadíssimos e piriri e pororó e pururu. Principalmente o pururu!

Mas como saber se nos Estados Unidos eles usavam algum critério para filtrar as mensagens
dos Espíritos? E quem diz que os Espíritos que se comunicavam nos Estados Unidos não eram
mais superiores do que os Espíritos superiores de Kardec? Ou então se os Espíritos nada mais
são do que as almas dos homens e sabendo que há homens maldosos porque alguns Espíritos
maldosos não ensinaram a reencarnação lá nos Estados Unidos só para ver o circo pegar fogo?

Kardec diz que os Espíritos não ensinaram a reencarnação lá porque eles procedem por toda
parte com sabedoria e prudência e não queriam ferir suscetibilidades dos americanos racistas!
Por que então alguns Espíritos maldosos não se infiltraram nas reuniões dos americanos e
ensinaram a reencarnação para ver a reação dos americanos racistas? Deve ser porque o
espírito de verdade não deixou, né? Deve ser!

Mas vamos adiante!

Os Espíritos procedem em toda parte com sabedoria e prudência. Para se fazerem


aceitar, evitam chocar muito bruscamente as ideias estabelecidas. Eles não irão
dizer inconsideradamente a um muçulmano que Maomé é um impostor.

Mas olha o descalabro do kardequistão! Chamando o Maomé de impostor! Acusa os


americanos de ter ideias pré-concebidas e chama Maomé de impostor! Será que o Kardecóide

 Leu o alcorão?
 Estudou o alcorão?
 Vivenciou o alcorão?

Para dizer com tanta naturalidade que Maomé é um impostor? Kardec sempre dizia aos
críticos do espiritismo que antes de criticar eles tinham que ler, eles tinham que estudar, eles
tinham que participar de reuniões, eles tinham que observar experiências para só então
poderem criticar! Será que o Kardec agiu assim em relação ao islamismo ou ele só está
demonstrando que ele é um falastrão e que o maior elogio que ele pode receber com alguma
boa vontade é de homem bem-intencionado. Sempre lembrando que de boas intenções o
inferno está cheio! No caso de bem-intencionados Chiquistas: de boas intenções, o umbral
está cheio! E no caso de bem-intencionados Kardequianos: de boas intenções, a erraticidade
está cheia! Mas a erraticidade é neutra, né? Então não valeu!
No final do artigo Kardec que mais tarde reencarnaria como mãe Diná ele faz uma das suas
previsões cheias de lógica e transbordando raciocínio!

Diz assim Kardec:

Portanto, não há dúvida que em pouco tempo o que hoje ainda se chama escola
americana fundir-se-á na grande unidade que se estabelece por toda parte.

Isso nunca aconteceu e nunca vai acontecer por um motivo muito simples: não existe mais
nenhuma escola americana! Acabou! E espiritismo de Kardec respira por aparelhos. Eu poderia
citar muitas outras abobrinhas Kardequianas para demonstrar que Kardec nunca se preocupou
em provar a reencarnação. Kardec enchia a boca para falar do controle universal do ensino dos
Espíritos, mas ele mesmo nunca aplicou controle nenhum! O único controle de Kardec era a
sua lógica e o seu raciocínio e como nós vimos não são nem um pouco confiáveis! Kardec era
um homem cheio de preconceitos. todos somos, mas ele tinha bastante.

Mas o que eu mostrei neste vídeo é suficiente para nós termos certeza de que a reencarnação
nunca foi unanimidade entre os Espíritos. Isso se você acredita ainda que houve comunicações
de Espíritos. Isso é uma questão de crença! Eu hoje não acredito. Mais um detalhe: no vídeo
anterior em que eu tratei da influência do magnetismo sobre Kardec eu demonstrei que a
sonâmbula senhorita Japhet acreditava em reencarnação antes de conhecer Kardec. É
importante que isso fique claro! Toda a doutrina espírita, tudo o que você conhece sobre
espiritismo teve início com a primeira edição do Livro dos Espíritos. Este livro é a base de tudo!
Depois que as bases brasileiras por esse livro estavam assentadas, o resto foi apenas
consequência! Depois que a doutrina já estava estabelecida na cabeça de Kardec ele jamais iria
contrariá-la! O seu desenvolvimento aconteceu naturalmente e a primeira edição do Livro dos
Espíritos foi produzida a partir das comunicações de três médiuns adolescentes e as três
acreditavam em reencarnação! Se você não assistiu ao vídeo anterior, assista! Eu estou
convencido de que as supostas comunicações de Espíritos na verdade eram manifestações do
subconsciente das próprias médiuns de Kardec e dos assistentes.

Alexandre Aksakof muito citado pelos espíritas pelo seu famoso livro editado pela FEB:
animismo espiritismo, Aksakof faz duras críticas à Kardec pelo fato de Kardec ter introduzido a
reencarnação em sua doutrina como se fosse assunto de consenso entre os Espíritos! Aksakof
pouco depois da morte de Kardec ele visitou a senhorita Japhet que foi a sonâmbula que
corrigiu toda a primeira edição do Livro dos Espíritos e ele afirma, Aksakof afirma a partir da
sua conversa com a senhorita Japhet que ela acreditava em reencarnação desde muito antes
de conhecer Kardec. Isso estava originalmente na revista chamada o espiritualista no dia 13 de
agosto de 1875. Tinha um site na internet com todo esse teor, não tem mais, mas eu vou
colocar um link em que aparece esse artigo, essa carta Aksakof.

Diz assim Alexandre Aksakof:

... em 1846 a doutrina da reencarnação foi dada a ela pelos espíritos


de seu avô, Santa Teresa e outros. (Como os poderes sonambúlicos
da senhora Japhet foram desenvolvidos sob a influência magnética do
senhor Roustan, é interessante observar aqui que ele próprio
acreditava na pluralidade das existências terrestres. Veja Sanctuaire
du Spiritualisme de Cahagnet - Paris, 1850 - página 164: datado em
24 de agosto de 1848.)
Ou seja, a senhorita Japhet desde criança acreditava encarnação e convivia com pessoas que
acreditavam em reencarnação. O senhor Roustan mencionado aqui ele era para ela uma
espécie de pai adotivo. A senhorita Japhet vivia na casa do senhor Roustan

No livro o Livro dos Espíritos e sua tradição histórica e lendária de autoria de Canuto Abreu
que foi um tradutor do Livro dos Espíritos, tradutor de Kardec, no capítulo 10 nós ficamos
sabendo que a família Baudin incluindo obviamente a senhorita Julie e Caroline Baudin, as
duas médiuns que forneceram quase todo o material que deu origem ao Livro dos Espíritos,
essa família acreditava em reencarnação pelo menos, pelo menos com certeza desde 1853
quando eles ainda viviam na África, portanto antes de conhecer Kardec. Viviam numa colônia
francesa na África. Nas suas reuniões espíritas familiares ainda na África manifestava-se o
espírito Zéfiro que, aliás ganhou esse apelido da própria família, dessa família Baudiin em
referência a um vento local: tem um vento que sopra naquela região da África que se chama
Zéfero. De acordo com o livro, Zéfero previu que a família se mudaria para a França e que lá
eles encontrariam Allan Kardec, seu antigo companheiro em outra reencarnação! É possível
que Kardec não acreditassem em reencarnação, é possível. Que ele conhecia a teoria da
reencarnação que estava em voga na sua época, ele mesmo nos conta, mas assim que ele
passou a frequentar os ambientes espíritas, ele se viu cercado de pessoas que tinham a
reencarnação como uma coisa certa assim como os espíritas hoje tem a reencarnação como
uma coisa certa. Kardec rapidamente se viu influenciado por essas pessoas pelas
comunicações dos supostos Espíritos e descobriu que a reencarnação resolvia uma série de
questões que o seu antigo sistema de crenças não resolvia! foi assim que Kardec adotou a
reencarnação e foi assim que Kardec passou a pregar a reencarnação como se fosse uma
revelação dos Espíritos e um pouco mais tarde quando Kardec enfiou Jesus no espiritismo
como se fosse uma revelação do próprio Jesus. Ensina a reencarnação como se a reencarnação
fosse uma revelação do próprio Jesus!

Resumindo: a teoria da reencarnação era bastante difundida em Paris quando Kardec começou
a frequentar o meio espírita. As primeiras médiuns de Kardec que forneceram as
comunicações a partir das quais Kardec confeccionou a primeira edição do Livro dos Espíritos,
essas médiuns acreditavam em reencarnação. A rencarnação para elas era uma realidade
assim como é uma realidade para os espíritas de hoje. Kardec acatou a teoria da reencarnação
e começou a pregá-la como se fosse uma verdade inquestionável. Alguns Espíritos diziam que
existe reencarnação e outros Espíritos diziam que não existe reencarnação. Os Espíritos que
diziam que existe reencarnação se manifestavam em lugares em que se acreditava em
reencarnação. Os Espíritos que diziam que não existe reencarnação se manifestavam em
lugares em que não se acreditava em reencarnação.

Pense sobre isso: Kardec antes de frequentar reuniões espíritas tinha o seu próprio sistema de
crenças e ele não esclarece qual era! Quando Kardec descobriu que a reencarnação explicava
algumas coisas como as desigualdades entre as pessoas, por exemplo, explicava essas coisas
melhor do que o sistema que ele tinha, o sistema que ele adotava, a partir desse momento ele
acatou a reencarnação! A preocupação de Kardec não foi saber se realmente existia
reencarnação ou não. Kardec não teve essa preocupação. Você não vai encontrar menção a
essa preocupação em parte alguma! A preocupação de Kardec era apresentar um sistema de
crenças coeso, fechadinho, com explicações lógicas, mesmo que superficiais porque são
lógicas, mas são superficiais e com alcance popular, algo que muitos espiritualistas famosos
não alcançaram por não conseguir falar uma linguagem simples e facilmente assimilável como
conseguiu falar Kardec. Entre outros méritos Kardec tem principalmente esse: a capacidade de
se comunicar com clareza alcançando um grande público.

Devo dizer que eu respeito Kardec. As brincadeiras aqui é porque fazem parte do contexto,
né? Tem coisas tão absurdas que só brincando, mas continuo respeitando Kardec: uma pessoa
certamente digna de respeito.

Dito isso: muita força e faz para você!

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Kardec acreditou que era um missionário!

Olá? Tudo bem? Uma coisa que deve ser imediatamente desmistificada é aquela ideia
romântica de que Kardec foi um predestinado, um missionário, um espírito superior que
reencarnou para receber a terceira revelação. Isso além de ser uma crendice primária, é uma
noção facilmente desmentidas pelos fatos. Embora nós não tenhamos muitas informações a
respeito da vida de Kardec antes do seu envolvimento com o espiritismo e se nós não temos
essas informações é justamente pelo fato de Kardec não ter sido um homem destacado na
sociedade, o que nós sabemos através das biografias é suficiente para jogar um balde de água
fria no ânimo dos Kardecistas mais entusiastas.

Kardec parece ter sido um homem comum, com tentativas profissionais frustradas e com
alguns reveses em seus empreendimentos. No capítulo 29 do livro Allan Kardec: uma biografia
de Allan Kardec, nós vemos que todas as vezes que se falava em alterar a lei do ensino, ele saía
a campo para expor suas ideias, seus planos e projetos levado apenas pelo interesse de servir a
obra da educação. Nenhum desses projetos de Kardec foi aceito. Talvez não tenham sequer
sido analisados! O fato é que quando Kardec tomou conhecimento do fenômeno das mesas
falantes ele já não atuava no magistério há muitos anos, sobrevivendo nessa época à custa de
outros trabalhos, principalmente como contador. No artigo chamado a minha primeira
iniciação no espiritismo (está no livro obras póstumas), Kardec conta a maneira como ele
conheceu o espiritismo.

Kardec ouviu falar pela primeira vez no fenômeno das mesas falantes em 1854 através do
senhor Fortier. É importante lembrar que tanto o senhor Fortier quanto Kardec eram
magnetizadores. Nessa época Kardec se dedicava ao magnetismo há mais de 30 anos! No ano
seguinte: 1855, o senhor Fortier levou Kardec até a casa da senhora Roger que era sonâmbula,
magnetizada pelo senhor Fortier, ou seja, ela entrava em transe sonambúlico provocado pelo
senhor Fortier. Na casa da senhora Roger Kardec conheceu a senhora Plainemaison na casa da
qual se realizavam algumas experiências espíritas e então Kardec passou a frequentar a sua
casa e Kardec nos diz que ele considerava as reuniões que se faziam na casa da senhora
Plainemaison, considerava essas reuniões muito fúteis, mas na casa dela ele teve
oportunidade de conhecer a família Baudin e logo ele começou a participar das reuniões que
se realizavam na casa do senhor Baudin. As primeiras médiuns de Kardec foram justamente as
filhas do senhor Baudin: as adolescentes Julie e Caroline Baudin com 12 e 14 anos
respectivamente.

A primeira reunião na casa da senhora Roger assistida por Kardec, foi em maio de 1855 (isso
tudo é Kardec que narra nas obras póstumas). Essa foi a primeira sessão espírita assistida por
Kardec. Em dezembro de 1855 (ele foi a primeira vez em maio) Kardec já estava recebendo
comunicações de suposta autoria do seu espírito protetor que mais tarde iria se identificar
como a verdade, ficando conhecido como espírito de verdade. Kardec recebe outras
comunicações atribuídas ao espírito de verdade em maio e abril de 1856. Nessas três
comunicações Kardec já é tratado como um missionário! Kardec já passa a ser tratado como
alguém que estava habilitado para levar adiante a missão que consistia em fundar uma
doutrina, mas a primeira mensagem que trata abertamente do assunto é de 30 de abril de
1856, portanto menos de um ano depois de ele ter assistido a uma sessão espírita pela
primeira vez. É interessante notar que essas três mensagens mencionadas, né? Essas
mensagens atribuídas ao espírito de verdade foram psicografadas pela senhorita Baudin. O
Kardec não menciona, ele não especifica qual das senhoritas Baudin: se Julie ou Caroline. As
mensagens que se referem abertamente a missão de Kardec são da senhorita Japhet. Nós
devemos lembrar que a quase totalidade da primeira edição do Livro dos Espíritos se deu
através das comunicações obtidas pela senhorita Júlia e Caroline Baudin e a revisão do livro foi
feita pelos supostos Espíritos através da senhorita Japhet.

Eu vou ler aqui uma mensagem que Kardec considerou como a primeira revelação da sua
missão.

Primeira Revelação da minha Missão:


30 de abril de 1856 – (Em casa do Sr. Roustan; médium: Srta. Japhet)
Eu assistia, desde algum tempo, às sessões que se realizavam em casa do Sr. Roustan e
começara aí a revisão do meu trabalho, que posteriormente formaria O Livro dos Espíritos.
(Veja-se a Introdução.)
Numa dessas sessões, muito íntima, a que apenas assistiam sete ou oito pessoas, falavam
estas de diferentes coisas relativas aos acontecimentos capazes de acarretar uma
transformação social, quando o médium, tomando da cesta, espontaneamente escreveu isto:
«Quando o bordão soar, abandoná-lo-eis; apenas aliviareis o vosso semelhante;
individualmente o magnetizareis, a fim de curá-lo. Depois, cada um no posto que lhe foi
preparado, porque de tudo se fará mister, pois que tudo será destruído, ao menos
temporariamente. Deixará de haver religião e uma se fará necessária, mas verdadeira, grande,
bela e digna do Criador... Seus primeiros alicerces já foram colocados... Quanto a ti, Rivail
(Rivail é o nome de batismo de Allan Kardec), a tua missão é aí. Então o Kardec coloca entre
parênteses: (Livre, a cesta se voltou rapidamente para o meu lado (a cesta através da qual os
supostos Espíritos se comunicavam), como o teria feito uma pessoa que me apontasse com o
dedo.) A ti, M..., (que era outra pessoa presente) a espada que não fere, porém, mata; contra
tudo o que é, serás tu o primeiro a vir. Ele, Rivail, virá em segundo lugar: é o obreiro que
reconstrói o que foi demolido.»
E aí Kardec coloca uma nota: NOTA: Foi essa a primeira revelação positiva da minha missão e
confesso que, quando vi a cesta voltar-se bruscamente para o meu lado e designar-me
nominativamente, não me pude forrar a certa emoção.

Outra comunicação sobre a sua missão foi dada alguns dias depois. Vou ler essa comunicação
também.

É Kardec que está fazendo uma pergunta ao suposto espírito de hanneman que se manifestava
através da senhorita Japhet já bastante tempo antes de Kardec conhecer o fenômeno das
mesmas falantes.

Pergunta Kardec:

No dia 12 de junho de 1956 através da médium Aline Carlotti que era filha de um grande amigo
de Kardec, talvez o principal responsável por Kardec ter levado adiante as suas experiências
com o espiritismo, Kardec pergunta ao espírito de verdade, pergunta a respeito da sua missão,
né, da sua missão que lhe havia sido revelada por outros Espíritos. O espírito de verdade
confirma a sua missão e diz que essa missão só depende dele: Kardec. A oração de
agradecimento e louvor que Kardec faz em seguida demonstra o quanto ele levou a sério essas
comunicações. Kardec apesar de se considerar e ser considerado, né, hoje em dia, um homem
grave, um homem movido pela lógica e pelo raciocínio, ele acreditou piamente que ele era um
missionário, que reencarnou com uma missão delegada pelo próprio Jesus. Eu vou ler a oração
que Kardec fez por ocasião dessa revelação do espírito de verdade.

Fala Kardec:
Eu disse há pouco que Kardec acreditou piamente que ele era um missionário que reencarnou
com uma missão delegada pelo próprio Jesus. Kardec acreditou em pouco tempo que o
espírito de verdade era o próprio Jesus. Perceba o nível de credulidade do homem: acreditar
que o próprio Jesus era o seu espírito protetor e que evidentemente só podia ser ele a lhe
delegar essa missão.

Como é que eu sei que Kardec acreditou que o espírito de verdade fosse Jesus?

Eu já mencionei isso num vídeo no meu antigo canal, mas eu vou repetir. Tem uma mensagem
que aparece no Livro dos Médiuns, no capítulo 31, item 9 e que aparece novamente, né, no
Evangelho Segundo o Espiritismo, no capítulo 6, item 5 e que se chama advento do espírito de
verdade. No Evangelho Segundo o Espiritismo, né, onde essa mensagem aparece pela segunda
vez, essa mensagem aparece assinada pelo espírito de verdade, mas no Livro dos Médiuns
onde essa mensagem foi publicada pela primeira vez, logo abaixo da mensagem tem uma nota
de Kardec dizendo que a mensagem foi assinada por Jesus de Nazaré, o espírito que... O
suposto espírito que que deu essa comunicação, assinou como Jesus de Nazaré, se identificou
como jesus de Nazaré, mas por cautela Kardec então deixava sem assinatura e então cada um
devia julgar por si. Essa é a nota que Kardec deixa. Você vê então que a mensagem foi
originalmente assinada por Jesus de Nazaré, mas Allan Kardec achou melhor depois, né, no
Evangelho Segundo o Espiritismo, achou melhor atribuir essa mensagem ao espírito de
verdade, pois foi assim que ele colocou mais tarde no Evangelho Segundo o Espiritismo. Como
é que é esse negócio? Como é que a mensagem vem com uma assinatura e Kardec atribui a
mensagem a outro espírito? Simples! Simples. Para Kardec o espírito de verdade e Jesus são o
mesmo espírito! E o pior é que essa mensagem não é uma exceção. Kardec modificava a
supostas respostas dos Espíritos sempre que lhe convinha. nós vamos ver isso com detalhes ao
longo do nosso estudo.

Mesmo que você acredite que houve realmente comunicações de Espíritos, coisa que eu não
acredito mais, mas você pode acreditar, não dá para saber nunca se as mensagens ou as
respostas dos supostos Espíritos, se elas são de fato dos Espíritos ou não. Se elas são originais
ou se elas foram mexidas por Kardec. Aliás, nunca, nunca ninguém teve acesso às mensagens
originais dos supostos Espíritos. Kardec nunca divulgou nenhuma mensagenzinha original
escrita diretamente pelos supostos espíritos. Agora vamos atentar para o conteúdo da
mensagem que Kardec trocou a assinatura. A mensagem foi vergonhosamente modificada, ela
sofreu graves modificações que distorcem o seu sentido original.

Esta é a mensagem:
“Venho, eu, vosso Salvador e vosso juiz...

Essa parte: ... eu, vosso Salvador e vosso juiz, foi retirada.

...Venho, como outrora, aos filhos transviados de Israel; venho trazer


a verdade e dissipar as trevas. Escutai-me. O Espiritismo, como
outrora a minha palavra, tem que lembrar aos materialistas.
Materialistas foi trocado para incrédulos:

...tem que lembrar aos materialistas que acima deles reina a imutável
verdade: o Deus bom, o Deus grande, que faz germinar a planta e que
levanta as ondas. Revelei a Doutrina Divina; como o ceifeiro, atei em
feixes o bem esparso na Humanidade e disse: Vinde a mim, vós todos
que sofreis! Mas, ingratos, os homens se desviaram do caminho reto e
largo que conduz ao reino de meu Pai e se perderam nas ásperas
veredas da impiedade. Meu Pai não quer aniquilar a raça humana;
quer, não mais por meio de profetas, não mais por meio de apóstolos,
porém, que, ajudando-vos uns aos outros, mortos e vivos, isto é,
mortos segundo a carne, porquanto a morte não existe, vos socorrais
e que a voz dos que já não existem ainda se faça ouvir, clamando-vos:
Orai e crede! por isso que a morte é a ressurreição, e a vida - a prova
escolhida, durante a qual, cultivadas, as vossas virtudes têm que
crescer e desenvolver-se como o cedro. 
Agora vem o parágrafo que todo ele foi retirado na segunda vez que Kardec publicou essa
mensagem, todo o parágrafo que eu vou ler agora:

Crede nas vozes que vos respondem: são as próprias almas dos que
evocais. Só muito raramente me comunico. Meus amigos, os que hão
assistido à minha vida e à minha morte são os intérpretes divinos das
vontades de meu Pai. 
Todo esse parágrafo foi retirado!

Homens fracos, que acreditais no erro das vossas inteligências


obscuras, não apagueis...
Essa parte foi alterada para:
Mais uma parte que foi retirada:

Em verdade vos digo: crede na diversidade, na multiplicidade dos


Espíritos que vos cercam.
Isso foi tirado!

Estou infinitamente tocado de compaixão pelas vossas misérias, pela


vossa imensa fraqueza, para deixar de estender mão protetora aos
infelizes transviados que, vendo o céu, caem no abismo do erro.
Crede, amai, compreendei as verdades que vos são reveladas.
Compreender as verdades foi trocado para meditei sobre as coisas:

Crede, amai, compreendei as verdades que vos são reveladas; não


mistureis o joio com o bom grão, os sistemas com as verdades. 
Os “sistemas” foi trocado por as utopias:

Espíritas! amai-vos, eis o primeiro ensino; instruí-vos, eis o segundo.


Todo espírita conhece esse suposto segundo mandamento de Jesus, né? Amai-vos e instruí-
vos.

Todas as verdades se encontram no Cristianismo; são de origem


humana os erros que nele se enraizaram. Eis que do além-túmulo, que
julgais o nada, vos clamam vozes: Irmãos! Nada perece; Jesus Cristo é
o vencedor do mal, sede os vencedores da impiedade.” 
Tem algumas outras pequenas alterações no texto. Eu não vou citar todas porque tornaria isso
muito longo, eu vou citar só mais um: é um deslocamento de texto que muda completamente
o sentido da mensagem.

Na mensagem original diz assim:


Meu pai não quer aniquilar a raça humana, quer não mais por meio de profetas, não mais por
meio de apóstolos, quer que ajudando-vos uns aos outros, mortos e vivos, isto é, mortos
segundo a carne, porquanto a morte não existe, vos socorrais e que a voz dos que já não
existem ainda se faça ouvir.

O que a mensagem está dizendo aqui é que nós devemos nos socorrer com uns aos outros e
para isso os profetas e apóstolos estão dispensados porque essa tarefa de nos ajudar uns os
aos outros compete a nós. Esse é o sentido da mensagem como ela foi publicada pela primeira
vez no livro dos médiuns.

Veja agora como ficou a mensagem alterada no Evangelho Segundo o Espiritismo:

Meu Pai não quer aniquilar a raça humana; quer que, ajudando-vos uns aos outros, mortos e
vivos, isto é, mortos segundo a carne, porquanto não existe a morte, vos socorrais
mutuamente, e que se faça ouvir não mais a voz dos profetas e dos apóstolos, mas a dos que já
não vivem na Terra...

Foi apenas um deslocamento de texto, mas o sentido da frase muda completamente! Aqui já é
bem diferente, não é mais para ouvirmos a voz dos profetas e dos apóstolos que está contida
na Bíblia, né? Mas é para ouvirmos a voz dos Espíritos desencarnados, ou seja, do jeito que
ficou, do jeito como ficou a mensagem está nos dizendo que nós devemos ser espíritas porque
o que nós devemos ouvir são os Espíritos, não os profetas e apóstolos que estão presentes na
Bíblia. Se eu sou de uma religião que tem como base a Bíblia e consequentemente segue a voz
dos profetas e dos apóstolos que está presente na Bíblia então eu devo trocar de religião com
urgência porque não é mais para seguir a voz dos profetas e dos apóstolos, é para seguir a voz
dos Espíritos! E qual vai ser a minha religião então? O espiritismo porque o espiritismo segue a
voz dos Espíritos.

No capítulo 4 do livro dos médiuns tem um capítulo chamado dos sistemas, é o nome do
capítulo, um subtítulo. Nele Kardec faz um resumo de alguns sistemas que tentavam explicar
os fenômenos atribuídos aos Espíritos. muitos pesquisadores observavam os fenômenos e
explicavam esses fenômenos de maneira diferente. Kardec resolveu concordar com as pessoas
cujas casas ele frequentava como o senhor Roustan, o senhor Baudin e o senhor Carlote e
atribui os fenômenos aos Espíritos, mas havia outras tentativas de explicação para os
fenômenos e Kardec lista nesse subtítulo do livro dos médiuns algumas dessas explicações
nesse capítulo do livro dos médiuns.

No item 48 Kardec escreveu o seguinte:

Uniespírito ou Monoespírito:

Como variedade do sistema otimista (que é um sistema que ele explica imediatamente antes
desse sistema uno espírita ou mono espírita)

 48. Sistema Uniespírito ou Monoespírito: Uma variedade do sistema otimista é a crença de que
um único Espírito se comunica com os homens e que esse Espírito é o Cristo, protetor da Terra.
Quando as comunicações são da mais baixa trivialidade, de uma grosseria revoltante, cheias
de malevolência e de maldade, seria impiedade e profanação supor que que pudessem provir
do espírito do bem por excelência. Ainda se poderia admitir a ilusão, se os que assim creem só
tivessem obtido comunicações excelentes. Mas a maioria deles declara ter recebido
comunicações muito más, explicando tratar-se de uma prova a que o Espírito bom os submete
ao ditar-lhes coisas absurdas. Assim, enquanto uns atribuem todas as comunicações ao
Diabo, (havia um sistema que acreditava que todas as comunicações eram do diabo) que
pode fazer bons ditados para tentá-los, outros pensam que Jesus é o único a se manifestar e
que pode fazer maus ditados para experimentá-los. Entre essas duas opiniões tão diversas,
quem decidirá? O bom senso e a experiência. E citamos a experiência, porque é impossível que
os que adotam essas idéias tenham verificado tudo suficientemente.

Quando lhes advertimos com os casos de identificação, que atestam a presença de


parentes, amigos ou conhecidos pelas comunicações escritas, visuais e outras, respondem que
é sempre o mesmo Espírito: o Diabo, segundo uns, o Cristo, segundo outros, que tomam
aquelas formas. Mas não dizem por que razão os outros Espíritos não podem comunicar-se,
com que fim o espírito da Verdade viria nos enganar sob falsas aparências, abusar de uma
pobre mãe ao fingir-se o filho por ela chorado. A razão se recusa a admitir que o Espírito mais
santo de todos venha a representar semelhante comédia.

Eu li todo esse texto apenas para que não fique nenhuma dúvida de que Kardec pensava que o
espírito de verdade e jesus fossem o mesmo espírito. Kardec está comentando um sistema,
né? Uma tentativa de explicação dos fenômenos das mesmas falantes, das comunicações
atribuídas aos Espíritos, um sistema que achava que um só espírito dava todas as
comunicações e que esse espírito é Jesus e Kardec se refere a Jesus como o espírito de
verdade. O espírito de verdade, né? Ele diz assim: com que fim o espírito de verdade nos viria
enganar?

Nas obras póstumas no mesmo capítulo: minha primeira iniciação do espiritismo quando
transcreve a comunicação do espírito de verdade do dia 9 de abril de 1856, Kardec comenta
depois da mensagem.

A proteção desse espírito cuja superioridade eu então estava longe de imaginar, jamais de fato
me faltou.

Aqui Kardec está dando a entender que na época ele não sabia que o espírito de verdade é
Jesus. Na revista espírita do mês de dezembro de 1864 há uma mensagem assinada pelo
espírito de verdade a propósito da publicação do Evangelho Segundo o Espiritismo que na
época era chamado de a imitação do evangelho. Mais tarde numa outra edição Kardec colocou
apenas o Evangelho Segundo o Espiritismo. A mensagem começa assim:

Acaba de aparecer um novo livro; é uma luz mais brilhante que vem clarear a vossa marcha. Há
dezoito séculos, por ordem de meu Pai, vim trazer a palavra de Deus aos homens de boa
vontade.

Quem é que tinha vindo a 18 séculos por ordem do pai trazer a palavra de deus aos homens de
boa vontade? Jesus, é evidente. Quem acredita em Kardec, quem acredita no espiritismo ao pé
da letra, quem acredita que existem comunicações de Espíritos e acredita na veracidade
dessas comunicações, conclui sem dúvida alguma, que Jesus era íntimo de Kardec! A que
ponto chega à credulidade de um homem!

Kardec é tido pelos Kardecistas como um homem racional. Como é que um homem racional
acredita que Jesus é o seu espírito protetor? Que Jesus se comunica com ele com a maior
naturalidade e que Jesus escolheu ele para fundar uma nova doutrina e não uma doutrina
qualquer, mas uma doutrina que iria mudar a humanidade! Quer dizer: Jesus estaria aqui
admitindo abertamente que ele falhou quando esteve entre nós e que agora, né, no século 19,
finalmente o mundo estava preparado para entender a sua mensagem e o grande difusor e
organizador dessa mensagem era o Kaká! Grande Kaká!

Hoje acordei disposto a fazer caridade então aproveite que eu vou dar uma ajudazinha para os
seus neurónios, vou falar mais claramente: Kardec caiu de paraquedas num ambiente em que
todos acreditavam em Espíritos, em comunicações de Espíritos e em reencarnação e todas as
consequências que a crença na reencarnação encerra como a existência de missões. Kardec
apesar de conhecer o magnetismo e consequentemente os fenômenos sonambúlicos há mais
de 30 anos, Kardec se deixou convencer de que eram realmente Espíritos que se comunicavam
nessas seções que ele frequentava. Todas as primeiras comunicações as quais Kardec teve
acesso e as comunicações que ele mesmo recebeu quando ele passou a elaborar perguntas
aos supostos Espíritos, essas comunicações que deram origem ao LDE, todas elas foram
produzidas por três médiuns adolescentes. Em pouco tempo o LDE se propagou e a doutrina se
tornou um sucesso. Pouco mais de meio ano depois da publicação do LDE Kardec começa a
publicar a revista espírita. Kardec rapidamente amealha em torno de si um grande círculo de
pessoas crédulas como ele, pessoas que comungavam das mesmas crenças que ele. A partir
daí é evidente que todas as comunicações tendiam a confirmar o que já era considerado como
doutrina! Não houve controle por parte de Kardec. Em outro vídeo eu vou tratar do método
utilizado por Kardec. O método de Kardec é simplesmente risível! O controle universal do
ensino os Espíritos ele propagandeou, mas nunca usou e o sistema que ele usou foi analisar a
linguagem dos Espíritos! Dá vontade de chorar ectoplasma de tão absurdo!

Você que sabe que eu fui espírita até bem pouco tempo atrás e que sabe que eu fui espírita
por mais de 20 anos, que estudei, que trabalhei em centros espíritas, você pode se perguntar:

Como é que o Morel não se deu conta disso antes? Se o Morel acha tudo tão absurdo, como é
que ele não notou isso antes?

Por um motivo muito simples! Enquanto nós estamos inseridos dentro de um sistema de
crenças bem costurado, nós não cogitamos quase nada que não faça parte desse sistema de
crenças, nós ficamos como que hipnotizados, impedidos de usar uma análise livre porque a
nossa capacidade de análise está temporariamente presa dentro do sistema de crenças. A
nossa capacidade de análise fica circunscrita aos limites impostos pelo nosso sistema de
crenças. Isso certamente aconteceu com o próprio Kardec e com muitos dos que faziam parte
do seu círculo de convívio e influência. Kardec analisava a veracidade das comunicações dos
Espíritos pelo teor das mensagens. Se a linguagem fosse nobre ou o que ele considerava nobre
e o teor da mensagem fosse elevado, não havia mais o que discutir: vai para o livro.
Batatinha quando nasce, se esparrama pelo chão! Menininha quando dorme, põe a mão no
coração!

Análise de Kardec: o conteúdo da mensagem apesar de nos emprestar uma bela imagem dos
anos infantis, peca pela rudeza da sua disposição. Ora, todos sabemos que a batata, esse
substancioso tubérculo não se esparrama, e sim cresce sob a superfície da terra!

Batatinha quando nasce se esparrama pelo chão! O chuchu quando nasce, não se esparrama!

Análise de Kardec: essa mensagem semelhante anterior em sua forma deixa entrever,
entretanto a intenção mistificadora do espírito. Ora, comparar a batata com o chuchu é uma
tergiversação para iludir os incautos!

Batatinha quando nasce, espalha a rama pelo chão! Menininha quando dorme, põe a mão no
coração!

Análise de Kardec: já agora, todas as características da mensagem depõem a favor da


superioridade do espírito que o ditou. A pureza, o estilo, a correção da linguagem e o respeito
às idiossincrasias do referido tubérculo, nos dão a segurança necessária para classificar a
mensagem no rol das legítimas. Vai para o livro!

Você ainda tem dúvida de que Kardec estava convencido de que ele era realmente um
missionário predestinado?

O que nós vemos é que Kardec foi na pilha das médiuns adolescentes que disseram que ele era
um missionário e achou que a sua missão era delegada pelo próprio Jesus. Uma coisa que você
não deve esquecer, é que as três médiuns que deram mensagens a Kardec dizendo que ele era
um missionário, eram adolescentes que acreditavam em Espíritos e acreditavam em
reencarnação assim como às suas famílias. Elas provavelmente acreditavam nisso desde a mais
tenra infância. As três médiuns que deram mensagens a Kardec nesse sentido foram:

 A senhorita Baudin (Kardec não especifica se foi Julie ou Caroline Baudin)


 A senhorita Japhet
 A senhorita Carlotti: Aline carlotti.

Os seus pais, no caso da senhorita Japhet, o seu preceptor: o senhor Roustan, todos eles eram
espíritas, todos eles tinham interesse em que Kardec desenvolvesse uma doutrina. No caso do
senhor Carlotti, pai da médium que deu comunicação em que o espírito de verdade confirmou
a missão de Kardec e que levou Kardec fazer uma oração de louvor, Kardec e o senhor Carlotti
eles eram amigos há mais de 25 anos. Kardec se refere ao senhor Carlotti no mesmo capítulo
das suas obras póstumas, aquele capítulo chamado minha primeira iniciação no espiritismo.
Kardec se refere a ele dizendo o seguinte:

No ano seguinte, estávamos em começo de 1855, encontrei-me com o Sr. Carlotti, amigo de 25
anos, que me falou daqueles fenômenos durante cerca de uma hora, com o entusiasmo que
consagrava a todas as ideias novas. Ele era corso, de temperamento ardoroso e enérgico e eu
sempre lhe apreciara as qualidades que distinguem uma grande e bela alma, porém
desconfiava da sua exaltação. Foi o primeiro que me falou na intervenção dos Espíritos e me
contou tantas coisas surpreendentes que, longe de me convencer, aumentou-me as dúvidas.
Um dia, o senhor será dos nossos, concluiu. Não direi que não, respondi-lhe; veremos isso mais
tarde.

Na biografia de Kardec feita por Henri Sausse, o seu biógrafo ele afirma o seguinte, ele escreve
assim:

A princípio o Sr. Rivail (futuro Allan Kardec), longe de ser um entusiasta dessas manifestações e
absorvido por outras preocupações, esteve a ponto de as abandonar, o que talvez tivesse feito
se não fossem as instantes solicitações dos Senhores Carlotti, René Taillandier, membro da
Academia das Ciências, Tiedeman-Manthèse, Sardou, pai e filho, e Diddier, editor, que
acompanhavam havia cinco anos o estudo desses fenômenos e tinham reunido cinqüenta
cadernos de comunicações diversas, que não conseguiam pôr em ordem. Conhecendo as vastas
e raras aptidões de síntese do Sr. Rivail, (Vamos lembrar que Allan Kardec, né Senhor Rivail, ele
tinha publicado nessa época mais de 20 livros didáticos então ele tinha esse talento de
escrever com método e com clareza) esses senhores lhe enviaram os cadernos, pedindo-lhe
que deles tomasse conhecimento e os pusesse em termos -, os arranjasse. Este trabalho era
árduo e exigia muito tempo (devemos lembrar que Kardec nessa época passava por graves
dificuldades financeiras e já não atuava como professor há bastante tempo e tinha que atuar
em mais de um emprego principalmente como contador), em virtude das lacunas e
obscuridades dessas comunicações; e o sábio enciclopedista recusava-se a essa tarefa
enfadonha e absorvente, em razão de outros trabalhos.

Diz a lenda que esses 50 cadernos foram parar com Canuto Abreu, né, um dos tradutores do
LDE, mas eles nunca vieram a público. Se acreditarmos nesse relato e na existência desses 50
cadernos, nós temos que concluir que o senhor Carlotti exercia grande influência sobre Kardec
a ponto de convencê-lo não só a frequentar reuniões espíritas, como convencer Kardec a levar
a cabo um trabalho a qual Kardec não parecia disposto e surge ainda uma outra questão: se
isso realmente aconteceu foi antes de Kardec começar a elaborar perguntas, ele mesmo
elaborar perguntas para levar as sessões que ocorriam na casa da família Baudin, ou seja,
antes de Kardec perceber algo de útil e instrutivo nas sessões espíritas.

Nós concluímos com isso que quando Kardec começou a formular questões para os supostos
Espíritos, quando Kardec começou ele mesmo a fazer perguntas aos Espíritos, ele já havia lido
os 50 cadernos com comunicações de Espíritos. Ele já estava em então familiarizado com as
ideias dos supostos Espíritos, a começar pela própria possibilidade de comunicação dos
Espíritos e pela teoria da reencarnação. Tudo indica que Kardec foi fortemente influenciado
por um conjunto de ideias já consolidado (aqui está dizendo que essas pessoas já tinham essas
ideias, já faziam esses estudos há mais de cinco anos ou há cinco anos) e Kardec encontrou
então ali um sentido maior para a sua própria vida, foi isso o que aconteceu. Lembre-se de que
Kardec era o que em termos materialistas nós podemos considerar como um fracassado:

 Seus projetos educacionais não foram levados a sério


 A escola ou instituto (na época chamado de instituto) que ele abriu foi à falência
 E Kardec tinha que se submeter a trabalhos menos valorizados como trabalhar como
contador ou até como ajudante num teatro (isso está na biografia chamada Allan
Kardec de Zêus Wantuil e Francisco Thiesen)
Temos que lembrar ainda que na famosa carta em que Aksakof faz duras críticas à Kardec, ele
diz que a senhorita Japhet acusou Kardec de levar seus manuscritos elaborados pelos Espíritos
e não lhe devolver. Se é verdade que existiram esses 50 cadernos, é bem provável que seja a
esses cadernos que a senhorita Japhet se referia quando reclamou que Kardec levou os seus
manuscritos e não lhe devolveu. Todas essas comunicações que Kardec recebeu a respeito da
sua missão e que ele zelosamente guardou sendo publicadas pela sua viúva depois da sua
morte nas suas obras póstumas, elas foram elaboradas dentro de um estreito círculo de
pessoas muito próximas umas das outras que frequentavam as casas umas das outras e que
comungavam das mesmas ideias, comungavam das mesmas crenças: tanto o senhor Roustan,
preceptor da senhorita Japhet, quanto o senhor Baudin, pai das senhoritas Julie e Caroline
quanto o senhor Carlotti pai da senhorita Aline, todos eles eram espíritas, todos eles faziam
sessões espíritas há vários anos (aqui diz que é pelo menos cinco anos), mas no caso da família
Baudin já faziam há bem mais tempo numa colônia francesa na África onde eles moravam.
Todos eles acreditavam em reencarnação e talvez já acreditassem em tudo o que hoje os
espíritas acham que é revelação da doutrina espírita. Essas três famílias com as quais Kardec se
viu estreitamente envolvido já tinham o seu sistema de crenças, faltava formatar essas crenças
ou na linguagem adotada pelos espíritas faltava codificar.

Os Espíritos costumam pensar e Kardec deu ensejo a que se pense isso que em Paris ocorriam
reuniões muito fúteis em que havia fenômenos de mesas que giravam e davam pancadas, que
ninguém jamais havia suspeitado que esses fenômenos pudessem ser causados por Espíritos,
que Kardec então pesquisou, experimentou e inquiriu tudo o que foi possível e depois de
muito relutar, chegou à conclusão de que aqueles fenômenos eram produzidos por Espíritos e
que então a partir daí ele interrogou os Espíritos e coletou respostas para as questões que
mais tarde formaram a doutrina espírita. Nada a ver! nada a ver. Kardec foi convidado a assistir
sessões espíritas e foi parar num meio em que já havia certezas, já havia uma larga
experiência, já havia teorias prontas e aceitas pelos seus frequentadores e Kardec foi engolido
por esse meio.

Eu entendo perfeitamente que para um espírita fervoroso, principalmente para um kardecista


é difícil acreditar nisso, pois eles têm a imagem de um Kardec forte, impávido colosso, cético,
meticuloso, absolutamente racional. Kardec até pode ter sido racional em algum momento,
mas logo ele se deixou convencer de que era um missionário e se afundou num lamaçal de
crenças supersticiosas travestidas de revelação, aliás, a própria escolha do pseudônimo Allan
Kardec é uma clara demonstração de credulidade exagerada (existe mais de uma versão para
esse fato, mas o que elas têm em comum é que os Espíritos revelaram que numa reencarnação
anterior ele havia sido um druida e se chamara Allan Kardec e ele muito racional, não só
acreditou prontamente como o adotou como seu novo nome).

No mesmo capítulo das obras póstumas nós encontramos mais uma demonstração de que
Kardec se achava realmente um missionário: no dia 6 de maio de 1857 Kardec foi à casa da
senhora Cardone que era conhecida por ler as mãos. Lendo as mãos de Kardec entre uma série
de referências elogiosas a Kardec, ela diz que ele tinha o sinal da tiara espiritual que segundo
ela significa autoridade moral e religiosa.

Kardec comenta o seguinte. Ele escreve assim:


Quanto à tiara espiritual, “O Livro dos Espíritos” acabava de aparecer; a Doutrina estava em
seus primórdios e não podia ainda prejulgar dos resultados que ulteriormente daria. Nenhuma
importância, pois, liguei a essa revelação e me limitei a anotá-la a título informativo.

No ano seguinte a Sr.a de Cardone deixou Paris e não tornei a vê-la, senão oito anos depois, em
1868 quando as coisas já tinham caminhado bastante. Disse-me ela: Lembra-se da minha
predição acerca da tiara espiritual? Aí a tem realizada. — Como realizada? Que eu o saiba, não
me acho no trono de S. Pedro.  — Não, decerto; mas, também, não foi isso o que lhe anunciei.
O senhor não é, de fato, o chefe da Doutrina, reconhecido pelos espíritas do mundo inteiro?
Não são os seus escritos que fazem lei? Não se contam por milhões os seus correligionários?
Em matéria de Espiritismo, haverá alguém cujo nome tenha mais autoridade do que o seu?
Os títulos de sumo-sacerdote, de pontífice, mesmo de papa, não lhe são dados
espontaneamente? São-no, sobretudo, pelos seus adversários e por ironia, bem o sei, mas nem
por isso o fato deixa de indicar de que gênero é a influência que eles lhe reconhecem, porque
pressentem qual o papel que lhe cabe. Assim, esses títulos lhe ficarão.

Em suma, o senhor conquistou, sem a buscar, uma posição moral que ninguém lhe pode tirar,
dado que, sejam quais forem os trabalhos que se elaborem depois dos seus, ou
concomitantemente com eles, o senhor será sempre o proclamado fundador da Doutrina.
Logo, em realidade, está com a tiara espiritual, isto é, com a supremacia moral. Reconheça,
portanto, que eu disse a verdade.

Eu devo lembrar que é estranho que alguém lembre exatamente de todo o teor das palavras
ditas por alguém num momento qualquer, mas tudo bem, vamos acreditar que o que foi dito
foi exatamente assim ou pelo menos mais ou menos assim. você deve ter notado que Kardec
também se referiu a esse fato como uma revelação, né. Ele diz assim:

Nenhuma importância, pois, liguei a essa revelação e me limitei a anotá-la a título informativo.

Trata, portanto como uma revelação.

No dia 17 de janeiro de 1857 (você pode ver que isso foi antes da publicação da primeira
edição do LDE) Kardec recebe pela primeira vez notícia da sua próxima reencarnação. Kardec
convenceu-se assim não só de que ele era um missionário não, né, de que ele era um espírito
que havia reencarnado com uma missão, como acreditou também que teria que reencarnar de
novo para completar a sua missão.

No dia 24 de janeiro de 1860 Kardec recebeu uma mensagem a respeito da duração dos seus
trabalhos. Kardec achava que os seus trabalhos deveriam ainda dez anos para se completar e
essa impressão foi confirmada. Nessa mensagem, mas eu quero chamar a atenção para um
detalhe no comentário de Kardec. Kardec publica uma nota e coloca assim: escrita em
dezembro de 1866.

Kardec diz o seguinte:


Isso nos leva a mais cedo a 1870, isto é, em torno de 10 anos. Kardec menciona que as
perturbações, o período da grande perturbação e a forte tormenta (eu não sei exatamente a
que Kardec se referia), mas você pode notar que Kardec se tornou um homem supersticioso,
que acreditava em qualquer coisa que os supostos Espíritos lhe dissessem desde que não
contrariassem as suas opiniões pessoais. Aqui ele está mostrando que passou a acreditar em
previsões apocalípticas (puxa), perturbações, grande perturbação e forte tormenta!

Tem uma comunicação do dia 9 de outubro de 1863 quando Kardec se preparava para a
publicação do Evangelho Segundo Espiritismo. Eu vou destacar apenas um trecho da
mensagem que deixa ver o nível de fanatismo e prepotência que passaram despercebidos por
Kardec.

A mensagem diz assim:

Aproxima-se a hora em que te será necessário apresentar o Espiritismo qual ele é, mostrando a
todos onde se encontra a verdadeira doutrina ensinada pelo Cristo. Aproxima-se a hora em que, à
face do céu e da Terra, terás de proclamar que o Espiritismo é a única tradição verdadeiramente
cristã e a única instituição verdadeiramente divina e humana. Ao te escolherem, os Espíritos
conheciam a solidez das tuas convicções e sabiam que a tua fé, qual muro de aço, resistiria a todos
os ataques.

Se você nunca esteve envolvido com as atividades internas de um grande centro espírita, com
os bastidores de um grande centro espírita, talvez você não compreenda como a mentalidade
das pessoas funciona lá dentro. É um mundo à parte.

 Uma pessoa pode ter uma vida profissional bem-sucedida ou malsucedida


 A pessoa pode ter uma vida familiar boa ou má
 A pessoa pode ter uma vida social importante ou não

Mas lá, dentro do centro espírita essas coisas ficam de fora, como se não existisse. Essas coisas
não têm importância lá dentro. Por um lado, isso é bom evidentemente. Lá dentro imperam
outros valores, há um esforço para ser bom. Se não for possível ser bom, há um esforço para
parecer bom. Há uma grande, às vezes tão grande que chega a ser desmedida, valorização da
mediunidade e há também por parte de alguns membros alguma sede poder como em toda
parte evidentemente. Assim como no ambiente universitário ou no ambiente profissional,
dentro do centro espírita há algumas competições e comparações. Tudo muito sutil, tudo
muito controlado, afinal estamos tratando de pessoas boas, mas há! Nos centros espíritas há
vários palestrantes (centros espíritas grandes) e é natural que um ou outro desses palestrantes
queira se destacar. Nos grandes centros espíritas há vários médiuns e os médiuns com mais
recursos eles são admirados e às vezes até um pouquinho invejados ou até malquistos. A
inveja faz essas coisas. Nos centros espíritas trabalham pessoas, pessoas como quaisquer
outras que sentem o mesmo que todas as pessoas sentem.

Por que eu estou relatando isso

Por causa dessa mensagem em que Kardec recebe rasgados elogios né?

...os Espíritos conheciam a solidez das tuas convicções e sabiam que a tua fé, qual muro de aço,
resistiria a todos os ataques.

Eu não tenho dúvidas que esse elogio partiu do suposto médium, não tem nada de espírito.
Mesmo que exista espírito, mesmo que exista comunicação de espírito, isso aqui partiu do
médium. Assim como em qualquer sociedade humana, há estruturas de poder dentro dos
centros espíritas. Se um suposto médium rasga um elogio bem vistoso a alguém de destaque
dentro do centro espírita: um líder e esse elogio é atribuído a um espírito, forma-se uma
cumplicidade, né, “cumplicidade” entre o elogiador e o elogiado. Todos saberão do centro
espírita que o espírito tal elogiou o grande líder e o grande líder passa a ter uma espécie de
compromisso moral com o suposto médium, pois esse suposto médium foi o responsável por
essa aquisição de status.

Eu reconheço que a esmagadora maioria das pessoas que trabalham em centros espíritas são
pessoas boas, são pessoas pelo menos bem intencionadas, que querem dar o melhor de si, que
querem ajudar o próximo. As pessoas com quem eu convivi nos centros espíritas em que eu
trabalhei são pessoas maravilhosas, mas eu não posso deixar de dizer que tem muita sem
vergonhice embutida no processo, por favor!

Um suposto médium revela, né (revela: “revelacion”, “new revelacion”), para um suposto


trabalhador, né, para um trabalhador, revela que ele foi um francês porque 99% dos Espíritas
foram franceses e revela que ele foi decapitado na revolução francesa. Quem nunca foi espírita
não vai entender esse tipo de loucura, é loucura particular do espírita porque existem tipos de
loucura muito diferentes, né, veja a loucura coletiva de uma torcida de futebol, por exemplo,
as pessoas individualmente são pessoas normais, mas coletivamente ficam loucas numa
torcida de futebol, mas essa revelação faz um bem incrível ao trabalhador espírita, ele fica
mais faceiro que gordo de camisa nova. Puxa, ele morreu decapitado na revolução francesa!
Não foi uma morte chinela qualquer, foi decapitado e na revolução francesa! (?).

Tem perfil de trabalhador espírita que é um pouco diferente. Ele não tem nada a ver com o
jeito manso de um Chico Xavier da vida, ele é alguém mais forte, ele tem alguma coisa de
bélico. É o tipo de pessoa que quase foi ruim e resolveu ser boa, na última hora resolveu ser
boa.

o Se o suposto médium diz para um trabalhador destes que ele foi um mago poderoso
numa outra vida, ele chora de emoção. Chora! Chora, chora de verdade, correr lágrima
o Se disser que ele foi iniciado na antiga Atlântida, que passou pelo antigo Egito, que
jogou pedra na cruz de Jesus, foi inquisidor, né, torturou pessoas na inquisição e agora
se arrependeu e vai viver para o evangelho, ele tem um orgasmo ectoplasmástico
Vai entender o ser humano né. Essa mensagem que Kardec recebeu é nesse sentido. Kardec
não publicou essa mensagem talvez para manter a postura de modéstia, mas guardou essa
mensagem com muito zelo, mas nem sempre Kardec teve esse cuidado com a modéstia.
Kardec se convenceu de que era um missionário e não contestava quando lhe chamavam de
chefe espírita.

 Na revista espírita do mês de junho de 1861, Kardec pública uma carta enviada a ele
por Roustaing. O famoso, né, o famoso advogado tão detestado pelos kardecistas
brasileiros. Nessa carta ele chama Kardec de seu chefe espírita e Kardec não contesta
nada, quer dizer: ele se acha realmente chefe espírita
 Na revista espírita do mês de outubro de 1861, Kardec é chamado de chefe bem-
amado e também não contesta nada
 Na revista espírita de novembro de 1861 é chamado pelo senhor Sabo de amado e
venerado chefe. Também não contesta nada
 nessa mesma edição o espírito Ferdinand se refere à Kardec como o chefe dos
Espíritos que estavam presentes a uma reunião

Em outras ocasiões Kardec também é chamado de chefe espírita e ele nunca contesta esse
título, ou seja, ele realmente se considerava como chefe espírita.

Kardec se achava um missionário, se achava o chefão dos espíritas e o fundador da doutrina.


Eu sei que muitos espíritas vão lembrar que Kardec defendia do começo que a doutrina não
era sua, mas dos Espíritos. Ele fazia questão de salientar isso, mas nas suas obras póstumas no
capítulo chamado projeto 1868, Kardec está tratando de um projeto de consolidação da
doutrina e ele escreve assim:

Ora, creio fora conveniente que aquele que fundou a teoria pudesse ao mesmo tempo
impulsioná-la, porque então haveria mais unidade. Aquele que fundou a teoria.

Kardec é o fundador da teoria espírita nas suas próprias palavras. É verdade que essa teoria já
existia quando Kardec começou a assistir sessões espíritas. Kardec não trouxe nenhuma
novidade, ele divulgou sim, publicou coisas que não eram muito publicadas, não era de
conhecimento público, mas quem desenvolveu a teoria foi Kardec: o grande missionário!

No próximo vídeo nós vamos ver uma mostra dos Espíritos superiores de Kardec! Você vai se
surpreender!

Muita força e paz para você!

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Kardec e os "espíritos superiores" - parte 1


Olá? Tudo bem? Qual era o método utilizado por Kardec? Que método o Kardec utilizava para
se certificar

- Em primeiro lugar que as comunicações atribuídas aos Espíritos eram realmente dos Espíritos
- E em segundo lugar para se certificar de que determinadas mensagens deviam ser
consideradas legítimas e verdadeiras podendo fazer parte da doutrina e que outras não
deviam ser levadas em consideração

Kardec nos apresenta dois mecanismos de controle:

- Um deles até interessante que Kardec nunca usou e que, aliás, nunca ninguém usou

- E outro tão ridículo, mas tão medonhamente ridículo que não dá para entender como isso foi
levado a sério por tanto tempo, inclusive por mim mesmo.

Eu não vou tratar do método de Kardec nesse vídeo. Antes disso eu vou analisar alguns dos
Espíritos superiores de Kardec. O assunto é longo então eu vou dividi-lo em dois vídeos. Depois
disso então vamos ver com detalhes os mecanismos de controle utilizados por Kardec.

Antes de nós vermos os mecanismos de controle utilizados por Kardec, é bom nós darmos uma
breve analisada na tão falada lógica de Kardec, no tão propalado raciocínio de Kardec. Kardec
diz que o LDE foi escrito por ordem dos Espíritos superiores. Será que Kardec tinha condições
de julgar se um espírito era realmente superior ou não?

Algumas falas de Kardec são tão repetidas pelos palestrantes, aqueles palestrantes que gostam
de usar Power Point, que mesmo os espíritas que nunca leram Kardec conhecem essas
passagens, essas falas de Kardec e repetem elas sem parar.

Ah! E antes que você kardecista de carteirinha, antes que você tente me corrigir alegando que
não existe espírita que não leu Kardec, você que faz questão de diferenciar kardecismo e
movimento espírita, eu devo dizer que essa distinção é uma tentativa inútil de purismo. Os
mesmos que idolatram Kardec e criticam Chico e Divaldo fazendo distinção entre doutrina
espírita e movimento espírita, são os mesmos que gostam de citar os cientistas do final do
século 19 como se fossem espíritas quando na verdade eles eram espiritualistas, seguidores do
chamado moderno espiritualismo, não eram espíritas.

para não me alongar muito eu vou citar só três dessas falas de Kardec. A primeira é da
introdução do ESE quando Kardec está tratando do controle universal do ensino dos Espíritos.
Kardec diz assim:

Na posição em que nos encontramos, a receber comunicações de perto de mil


centros espíritas sérios, disseminados pelos mais diversos pontos da Terra,
achamo-nos em condições de observar sobre que princípio se estabelece a
concordância. Essa observação é que nos tem guiado até hoje e é a que nos
guiará em novos campos que o Espiritismo terá de explorar.

Essa afirmação de Kardec (sem querer ofender a memória de Kardec e sem querer ofender a
nenhum dos kardecistas) é uma patacoada e uma mentira.

 É uma patacoada porque em primeiro lugar só o que nós temos aqui é a palavra de
Kardec. Lembre-se de Kardec nunca, em momento algum, Kardec apresentou ao
público uma, umazinha sequer mensagem original de algum espírito, um manuscrito
original de algum espírito
 E em segundo lugar: porque sabendo que Kardec trabalhava praticamente sozinho e
para quem não sabe disso, uma prova disso é o próprio ESE que foi publicado sem que
ninguém, nem o editor de Kardec soubesse que ele estava preparando esse livro
porque ele trabalhava sozinho. É bem difícil acreditar que Kardec tivesse condições de
examinar a correspondência de mil centros espíritas!
 E terceiro lugar: eu duvido com veemência que houvesse naquele tempo mil centros
espíritas. O que podia haver, no máximo eram pessoas que faziam sessões espíritas em
casa, como aliás acontecia quando Kardec iniciou os seus estudos sobre os fenômenos,
né, quando ele passou a observar os fenômenos das mesas falantes
 Em quarto lugar: mesmo que houvesse mil centros espíritas, mesmo que todos esses
mil centros espíritas mandassem correspondência a Kardec e mesmo que Kardec
tivesse condições de ler, que ele lesse todas essas mil correspondências não haveria de
modo algum como Kardec julgar sobre a seriedade desses centros espíritas, a não ser
que seriedade para Kardec se referisse a quem concordava com ele: ah, ele concorda
comigo, é uma pessoa séria! Um exemplo: este canal tem hoje cerca de 10 mil
inscritos, pouco mais de 10 mil inscritos. Eu não posso de modo algum julgar sobre a
seriedade das pessoas que me acompanham. não é muito fácil julgar a seriedade das
pessoas com quem nós convivemos intimamente, muito menos das pessoas que nós
conhecemos a distância ou que nós não conhecemos em absoluto.
 Em quinto lugar: Kardec afirma não só ter lido todas essas correspondências e julgado
que sua procedência é séria, como ainda deixa subentendido que analisou elas com
muito cuidado: uma a uma para verificar a concordância entre elas. Outra coisa que é
preciso lembrar: nesse momento que Kardec escreve isso (1864), a doutrina já estava
pronta! O LDE e o LM já estavam circulando pelo mundo. As outras três obras básicas:
ESE, GNS e o CEOI são obras em que Kardec tenta fundamentar a doutrina no
cristianismo, elas não têm nada de novo em termos de doutrina então em 1864 nessa
época quem se correspondia com Kardec a essa altura é porque tinha lido os livros
Kardec e concordado com o teor desses livros. É evidente, portanto, que qualquer
suposta comunicação de espírito de Kardec recebesse iria necessariamente concordar
com ele, seria apenas mais do mesmo

Por isso é que essa afirmação de Kardec é uma pactuada e é uma mentira quando ele diz que a
observação da concordância do ensino dos Espíritos é algo que ele tinha praticado sempre!
Nós já vimos que o LDE foi produzido a partir das comunicações de três médiuns adolescentes,
na verdade duas, né, porque uma, né, a senhorita Japhet tratou de corrigir a obra. Kardec não
utilizou o controle universal de ensino dos Espíritos para fazer a doutrina!

A outra fala de Kardec está no capítulo a minha primeira iniciação no espiritismo nas suas
obras póstumas. Kardec diz assim:
Kardec afirma que nunca elaborou teorias pré-concebidas. Em consideração aos meus 20 anos
de espiritismo eu vou até acreditar que Kardec não elaborou teorias pré-concebidas
conscientemente, ou seja, eu acredito que Kardec não tinha uma teoria pronta na sua cabeça e
que buscasse por meio da experimentação comprovar essa sua teoria, mas o que Kardec omite
aqui é que os ambientes que ele passou a frequentar, né, quando ele começou a se envolver
com espiritismo, com o fenômeno das mesas girantes e falantes, as casas das famílias que
passou a frequentar para assistir às sessões espíritas eram casas de espíritas, eram famílias
que acreditavam nas comunicações com os Espíritos, eram pessoas que acreditavam que eram
médiuns, acreditaram que recebiam comunicações de Espíritos e essas pessoas formavam um
sistema de crenças a partir dessas comunicações, inclusive sobre a reencarnação.

Kardec acreditava no indutivismo, né, ele acreditava que observando fatos particulares ele
poderia chegar a conclusões gerais e também acreditava, pelo menos é o que ele diz,
acreditava que não tinha teorias preconcebidas. Ora, é absolutamente impossível uma pessoa
não ter algumas teoriazinhas a respeito de um fenômeno qualquer que passa a observar.
Kardec tinha uma razoável cultura e ele estava sob a influência de pessoas com ideias prontas
a respeito do que se passava naquelas reuniões espíritas, além disso, ao pregar a teoria da
reencarnação Kardec defende a existência de ideias e inatas, ou seja, Kardec passa a defender
a existência de ideias (...)... Kardec acreditava que os Espíritos traziam ideias de existências
anteriores e logo adiante então Kardec solta essa pérola ectoplasmas tica. ele diz assim:

Um dos primeiros resultados que colhi das minhas observações foi que os Espíritos, nada mais
sendo do que as almas dos homens, não possuíam nem a plena sabedoria, nem a ciência
integral; que o saber de que dispunham se circunscrevia ao grau, que haviam alcançado, de
adiantamento, e que a opinião deles só tinha o valor de uma opinião pessoal. Reconhecida
desde o princípio, esta verdade me preservou do grave escolho de crer na infalibilidade dos
Espíritos e me impediu de formular teorias prematuras, tendo por base o que fora dito por um
ou alguns deles.

Essa afirmação de Kardec é mais conhecida que feijão preto e é uma das maiores mentiras já
contadas pelo mestre lionês! Sou obrigado a chamar isso de mentira. Poderia enfeitar, usar
uma palavra mais amena, mas é isso mesmo. Eu não estou dizendo que Kardec tenha mentido
de propósito, vamos dizer que Kardec mentiu sem querer querendo porque uma pessoa
dominada por um sistema de crenças fechado ela se torna cega para algumas coisas. Isso
aconteceu comigo até pouco tempo atrás, é assim mesmo que acontece. Você percebe isso
nos comentários dos meus vídeos mais recentes.

Como é que Kardec tem a coragem de dizer que para ele a opinião dos Espíritos só tinha o
valor de uma opinião pessoal? Mal fazia um ano, não fazia nenhum ano em que Kardec
observava as sessões espíritas na casa dos seus amigos quando ele recebeu a primeira
revelação da sua missão e ele acreditou em tudo, palavra por palavra, ou seja, a opinião dos
Espíritos só tinha o valor de uma opinião pessoal, é o Kardec diz aqui, mas quando essa opinião
dava uma lambida no seu ego, essa opinião era muito digna de crédito ou então quando a
opinião vinha de um espírito muito brother de Kardec como era o caso de Erasto, por exemplo,
né, Erasto parece ter conquistado a simpatia de Kardec ou quem sabe mais provavelmente é o
que eu penso, essa simpatia de Kardec por Erasto, isso talvez tenha se dado por influência do
suposto médium através do qual Erasto se manifestava, né. Kardec gostava do médium,
respeitava o médium, consequência passou a gostar e respeitar o espírito Erasto.

No ESE há várias mensagens atribuídas ao espírito Erasto. Numa delas chamada a missão dos
espíritas, se não me engano está no capítulo 20, Kardec esclarece que Erasto é o anjo da
guarda do médium e que o médium é o senhor Danbel. É possível que esse médium

E que o médium é o senhor Danbel. É possível que esse médium fosse muito amigo de Kardec
ou pelo menos muito considerado por Kardec o que fez com que Kardec desce tanta
autoridade ao suposto espírito Erasto. No LM no capítulo chamado das manifestações físicas
espontâneas no título fenômeno de transporte, Kardec pública uma dissertação sobre o tema
assinada pelo suposto espírito Erasto. Depois Kardec interroga um espírito que teria produzido
alguns fenômenos de transporte. Antes do interrogatório Kardec esclarece.

Kardec diz assim:

As perguntas que se seguem foram dirigidas ao Espírito que os operara, mas as respostas se
ressentem por vezes da deficiência dos seus conhecimentos. Submetemo-las ao Espírito Erasto,
muito mais instruído do ponto de vista teórico, e ele as completou, aditando-lhes notas muito
judiciosas. Um é o artista, o outro o sábio, constituindo a própria comparação dessas
inteligências um estudo instrutivo, porquanto prova que não basta ser Espírito para tudo saber.

Kardec começa a interrogar o espírito e conforme o espírito responde às perguntas de Kardec


Erasto vai dando pitaco, né, vai ”corrigindo” as explicações do espírito. Eu vou ler algumas
dessas perguntas.

11.ª. A produção do fenômeno dos transportes não é de alguma forma penosa, não te causa
qualquer embaraço?

“Não nos é penosa em nada, quando temos permissão para operá-los. Poderia ser-nos
grandemente penosa, se quiséssemos produzir efeitos para os quais não estivéssemos
autorizados.”

Kardec pergunta ao espírito se a produção desses fenômenos de transporte é penosa, ou seja,


se provoca algum sofrimento, algum desconforto e o espírito responde que não, mas o Erasto
vai dar o pitaco dele! Olha o que diz o Erasto:

Nota de Erasto. Ele não quer convir em que isso lhe é penoso, embora o seja realmente, pois que
se vê forçado a executar uma operação por assim dizer material.

Não dá para entender! Embora o próprio espírito tenha dito que não é penosa para ele a
produção desse fenômeno, Erasto diz que é!

18.ª. Como conseguiste outro dia introduzir aqueles objetos, estando fechado o aposento?

“Fi-los entrar comigo, envoltos, por assim dizer, na minha substância. Nada mais posso dizer,
por não ser explicável o fato.”
Um objeto foi introduzido dentro de um aposento estando esse aposento fechado, esse
fenômeno foi atribuído ao espírito e o suposto espírito, né, ele está dizendo que envolveu o
objeto na sua própria substância. Foi assim que ele fez o objeto penetrar no aposento

19.ª. Como fizeste para tornar visíveis estes objetos que, um momento antes, eram invisíveis?

“Tirei a matéria que os envolvia.”

Observe que é o próprio espírito que teria produzido o fenômeno e está explicando como se
deu o fenômeno, mas Erasto acha que sabe mais do que ele.

Nota de Erasto. O que os envolve não é matéria propriamente dita, mas um fluido tirado,
metade, do perispírito do médium, e, metade, do Espírito que opera.

20.ª. (A Erasto.) (pergunta de Kardec para Erasto) Pode um objeto ser trazido a um lugar
inteiramente fechado? Numa palavra: pode o Espírito espiritualizar um objeto material, de
maneira que se torne capaz de penetrar a matéria?

O espírito disse que envolveu o objeto na sua própria substância e entrou no aposento
carregando o objeto consigo. Kardec está perguntando a Erasto se isso é possível. Erasto
responde:

É complexa esta questão. O Espírito pode tornar invisíveis, porém, não penetráveis, os objetos
que ele transporte; não pode quebrar a agregação da matéria, porque seria a destruição do
objeto.

O espírito supostamente produzia um fenômeno de transporte e explica para Kardec como o


fez, explica para Kardec como que ele produziu esse fenômeno de transporte, né, envolvendo-
o na sua substância, é isso que ele diz. Foi o espírito que fez, não foi Erasto, mas Erasto
desmente o espírito e afirma que o espírito não pode tornar penetráveis os objetos que ele
transporte! Um produz o fenômeno e diz como produz, o outro simplesmente diz que isso não
é possível e Kardec deixa por isso mesmo! Kardec não tece mais nenhum comentário, deixa
tudo como está, ou seja, nada fica explicado, mas mesmo assim Kardec é constantemente
elogiado por Kardec. Erasto é o autor daquela famosa frase tão repetida pelos espíritas:
melhor é repelir 10 verdade do que admitir uma única falsidade, uma só teoria errônea
(essa frase é de Erasto). Você pode ficar com a impressão de que se Kardec confiava dessa
forma, confiava assim em Erasto é porque Erasto tinha demonstrado de algum modo que
merecia essa confiança toda por parte de Kardec. Pode até ser, pode ser que ele tenha
conquistado a confiança de Kardec, mas pelo fato deles terem ideias muito parecidas. Os dois
inclusive defendiam ideias racistas.

Eu vou ler uma matéria da revista espírita do mês de agosto de 1864. Essa matéria se chama
destruição dos aborígenes do México. Kardec escreve assim:

“Lendo no Civilisateur (né, foi um leitor da revista espírita está escrevendo para Kardec), de
Lamartine, as cartas de Cristóvão Colombo sobre o estado do México no momento da
descoberta, chamou-nos particularmente a atenção a seguinte passagem:
E agora vem uma carta escrita por Colombo, né.

‘A natureza’, diz Colombo, ‘ali é tão pródiga que a propriedade não criou o sentimento de
avareza ou de cupidez. Esses homens parecem viver numa idade de ouro, felizes e tranquilos
em meio de jardins abertos e sem limites, que não são nem cercados por fossos, nem divididos
por paliçadas, nem defendidos por muros. Agem lealmente um para com o outro, sem lei, sem
livros, sem juízes. Olham como um homem mau aquele que se compraz em prejudicar o outro.
Este horror dos bons contra os maus parece ser toda a sua legislação.

‘Sua religião é apenas o sentimento de inferioridade, de reconhecimento e de amor ao Ser


Invisível que lhes havia prodigalizado a vida e a felicidade.

‘Não há no Universo melhor nação nem melhor país; amam seus vizinhos como a si mesmos;
têm sempre uma linguagem suave e graciosa e o sorriso da ternura nos lábios. Andam nus, é
verdade, mas vestidos de candura e de inocência.’

Até aqui o leitor de Kardec está lendo uma carta de Colombo, né. Agora esse leitor de Kardec
passa a comentar:

Conforme este quadro, esses povos eram infinitamente superiores, não só aos seus invasores,
mas o seriam ainda hoje, em comparação aos povos dos países mais civilizados. Os espanhóis
nada tomaram de suas virtudes e os contaminaram com os seus vícios; em troca de sua boa
acolhida, não lhes trouxeram senão a escravidão e a morte. Esses infelizes foram, em grande
parte, exterminados, e o pouco que deles resta perverteu-se ao contato dos conquistadores.

Diante desses resultados, pergunta-se:

Onde está o progresso, e que benefício moral colheu a Humanidade de tanto sangue
derramado? Não teria sido melhor que a velha Europa ignorasse o Novo Mundo, tão feliz antes
dessa descoberta?

(Kardec então mostra ali a resposta, né, por parte de um espírito dada a essa carta do leitor da
RE).

Eis a resposta obtida na sociedade de Paris (8 de julho de 1864 – Médium: Sr. d’Ambel).

Médium do espírito Erasto

Diz assim (é o Erasto que está falando):

“Sob as aparências de certa bondade natural, e com costumes mais suaves que virtuosos, os
incas viviam indolentemente, sem progredir nem se elevar.

Incas? Que incas? Desde quando houve incas no México? Qualquer estudante de ensino médio
sabe que os incas habitaram a América do Sul e que chinelagem é essa de julgar os povos
antigos que ele certamente não conhecia? Se ele achava que os incas habitavam o México é
porque não sabia nada, absolutamente nada a respeito do assunto! Como é que alguém que
não sabe absolutamente nada do assunto vai julgar o caráter de um povo? Quem esse espírito
para dizer que aquele povo vivia numa bondade apenas aparente? Da onde que tira isso? Para
dizer que os seus costumes eram mais suaves do que virtuosa e que viviam indolentemente e
Kardec cheio de salamaleques intelectualóides (né): ó, um espírito que já provou muitas vezes
a sua superioridade!

Superioridade? Tem certeza?

Continua o Erasto:

Faltava a luta a essas raças primitivas; e se batalhas sangrentas não os dizimavam; se uma
ambição individual aí não exercia uma pressão soberana para lançar aquelas populações a
guerras de conquistas, nem por isso eram menos atingidas pelo perigoso vírus que levava sua
raça à extinção. Era preciso retemperar as fontes vitais desses incas degenerados, dos quais os
astecas representavam a decadência fatal, que deveria ferir todos aqueles povos.

Faltava a luta a essas raças primitivas. Se eu acreditar nisso, se eu acreditar que esses povos
que Erasto chama de raças primitivas, se eu acreditar que eles precisavam de luta, então eu
vou acabar aceitando a ideia do livro brasil: coração do mundo, pátria do evangelho. Se eu
acreditar que os povos precisavam de luta eu posso chegar à conclusão de que a violência que
impera no Brasil, isso está tudo nos planos do Ismael, né, deve ser por isso então que o Brasil é
um dos países mais violentos do mundo, responsável por 10% dos homicídios do mundo todo,
né, quem sabe faltava a luta ao Brasil. Deve ser isso, né.

Continua Erasto:

A essas causas inteiramente fisiológicas, se juntarmos as causas morais, notaremos que o nível
das Ciências e das Artes ali tinha igualmente ficado em prolongada infância. Havia, pois,
utilidade de pôr essas regiões pacíficas no mesmo nível das raças ocidentais. Hoje se julga a
raça desaparecida, porque se fundiu com a família dos conquistadores espanhóis. Dessa raça
cruzada surgiu uma nação nova e vivaz que, por um vigoroso impulso, não tardará a alcançar
os povos do velho continente.

Você percebe que o único parâmetro desses supostos Espíritos (que não são Espíritos coisa
nenhuma, isso aí é comunicação do próprio médium) é o europeu contemporâneo. Aquela
gente era tão prepotente, se achavam tão adiantados, tão inteligentes, tão donos da verdade
que qualquer coisa que se distanciasse deles era necessariamente inferior, né, nada poderia
ser melhor, mais elevado e nem apenas diferente, era inferior. É claro que nós temos que levar
em consideração que essas eram as ideias vigentes na época e que eles não eram pessoas más
pelo fato de nutrirem essas crenças equivocadas, eram as crenças na época daquele lugar, mas
isso prova que nós não estamos tratando de Espíritos superiores, né, nem encarnados que é o
caso do Kardec e nem desencarnados que é o caso do Erasto. Se eles fossem Espíritos
superiores eles não estariam sujeitos aos preconceitos da época. para mim, pelo menos é mais
do que claro, é cristalino que nunca houve comunicação de Espíritos! Essas opiniões eram as
opiniões vigentes na época. Kardec era racista, não há a menor dúvida a esse respeito, mas
não se pode acusar Kardec de racismo como se isso fosse uma característica pessoal sua, esse
era o pensamento vigente naquele tempo, naquele lugar. Todas as ideias atribuídas aos
supostos Espíritos nos livros de Kardec e na revista espírita são opiniões vigentes na Europa da
época. Se houvesse qualquer coisa de revelação, se houvesse qualquer coisa de efetivamente
superior no ensino dos supostos Espíritos, isso seria atemporal, isso seria algo que não iria se
circunscrever aos modismos intelectualóides da época.

Depois do comentário de Erasto Kardec escreve assim (preste atenção):

A essa judiciosa explicação acrescentaremos algumas reflexões: (judiciosa explicação! Você vê


que nem Kardec sabia quem eram os incas ou quais povos habitavam o México. Ora, evidente
que ninguém é obrigado a saber isso, né, ninguém é capaz de dominar todos os assuntos, mas
então Kardec não poderia se referir ao comentário de Erasto como judiciosa a explicação. Qual
é o critério que ele usa para chamar esse comentário absurdo de Erasto como judiciosa
explicação? Tudo bem que Kardec não soubesse que as considerações de Erasto estavam
erradas. Kardec não era obrigado a saber tudo, mas como então ele considera o comentário de
Erasto como judiciosa explicação? Você percebe que Kardec está redondamente equivocado
na sua análise do espírito Erasto? Percebe? Você percebe que Kardec não demonstra
condições de fazer uma análise fria e criteriosa a respeito das opiniões dos Espíritos? Percebe?
Você percebe que a classificação que Kardec dá aos Espíritos fica completamente
comprometida, né.

 Espírito bom
 Espírito minha boca
 Espírito mais bonzinho
 Espírito superior

Você percebe que um erro escancarado como esse de dizer que os incas habitavam o México
ele só é notado por nós porque nós conhecemos esse ponto da história. Eu particularmente
estudei história, mas que todas as opiniões e teorias dos Espíritos que nós não temos como
averiguar se é verdade ou não, todas elas podem estar tão distantes da verdade como esse
comentário de Erasto? Um espírito como Erasto que faz um comentário errado e
preconceituoso é o mesmo espírito que traz revelações do mundo espiritual e que prega
teorias como a reencarnação.

Depois disso então Kardec faz um longo comentário em que despeja as suas teorias
preconcebidas que ele tinha sim, teorias preconcebidas e o seu racismo.

Entre outras coisas ele afirma que:

A raça branca caucásica é, sem contradita, a que ocupa o primeiro lugar na Terra.

Ou então ele diz assim:

Sabe-se que da raça negra e da raça branca saiu uma raça intermediária, muito superior à
primeira, e que é como que um degrau para os Espíritos desta.

O que Kardec está dizendo é que de uma pessoa pertencente à raça superior branca e uma
pessoa pertencente à raça inferior negra, nasce uma pessoa da raça intermediária mulata! E
que essa pessoa mulata está a um degrau da raça superior branca. os defensores de Kardec
vão dizer e com razão que esse preconceito não era exclusivo de Kardec (já chamei a atenção
para isso) que isso era o que pregava a ciência da época. A ciência na verdade uma
pseudociência na qual Kardec se baseava para o seu discurso racista era a frenologia. A
frenologia foi desenvolvida pelo médico Franz Joseph Gall (isso em torno de 1800) e se
baseava nas medidas do crânio humano afirmando que o cérebro seria um órgão da mente e
que o cérebro possuiria áreas específicas ou módulos que determinam o caráter e a moral das
pessoas a Anna Blackwell no prefácio da tradução que ela fez do LDE para o inglês ela afirma
que Kardec foi por vários anos secretário da sociedade fenológica de Paris. O que os
defensores de Kardec não notam (talvez por medo da verdade, afinal eles teriam que
reconhecer que estiveram errado talvez por muitos anos, isso realmente é doloroso, sei disso),
o que eles não sabem é que assim como a frenologia levou Kardec ao desenvolver teorias
racistas e a frenologia é hoje considerada uma pseudociência, do mesmo modo o espiritismo
tentou obter foros de ciência, mas nunca provou a manifestação de Espíritos. Tanto a
frenologia quanto o espiritismo são fruto de uma época, são tentativas de obter explicações
sobre determinadas coisas, são sistemas que apresentam alguma lógica, mas essa lógica é
baseada em premissas falsas, logo são sofismas!

Erasto era um dos guias espirituais da sociedade parisiense de estudos espíritas. Aí você vê o
nível dos Espíritos superiores de Kardec.

No livro dos médiuns no item 98 Kardec se refere assim a Erasto. Ele diz assim, ó:

um Espírito, cujas comunicações todas trazem o cunho incontestável de profundeza e lógica.


Com muitas delas deparará o leitor no curso desta obra. Ele se dá a conhecer pelo nome de
Erasto, discípulo de Paulo, e como protetor do médium que lhe serviu de instrumento (como
nós já vimos é o senhor Danbel)

Mais adiante no item 225 Kardec se refere assim a Erasto:

um Espírito superior, que se revelou mediante comunicações de ordem elevadíssima.

Você vê então por essas afirmações que Kardec faz a respeito de Erasto que Kardec
considerasse um espírito superior que dava comunicações de ordem elevadíssima e que todas
essas comunicações trazem o cunho incontestável de profundeza e lógica. São palavras de
Kardec. É bom lembrar que grande parte do livro dos médiuns foi produzida com
comunicações desse espírito superior. Depois das comunicações que nós vimos

 Será que dá para considerar que era Erasto seja realmente um espírito superior?
 Será que um espírito superior pode cometer erros tão grosseiros

Mesmo reconhecendo que os Espíritos só dizem aquilo que ele sabe e que eles não progridem
em todas as áreas de conhecimento ao mesmo tempo, não é uma leviandade dar opiniões tão
taxativas a respeito de assuntos que não se conhece?

E se por um descuido esse espírito tivesse se enganado somente essas duas vezes não seria o
caso de um outro espírito chamar a atenção para esses erros, afinal não havia uma plêiade
(que palavra bonita, né: plêiade) de Espíritos comandados pelo espírito de verdade? Não
poderia, aliás, o próprio espírito de verdade, né, que se dizia ser o espírito protetor de Kardec,
espírito familiar de Kardec que dava pancadas na casa de Kardec para chamar a atenção de
Kardec para os erros que o Kardec estava escrevendo, né. Não poderia o próprio espírito de
verdade corrigir esses erros de Erasto? Não! Não! Sabe por que não? Porque não havia espírito
nenhum, muito menos Espíritos superiores. Todas as comunicações atribuídas aos Espíritos
sem exceção tratavam de assuntos dominados pela elite intelectual da época! Não há nada,
nada, nada, nada de revelação, não há nada de novo nas supostas revelações, o que há é uma
série de teorias, né, alguns conhecimentos de ponta da época e muitos erros grosseiros como
esse referente aos incas que eu apontei aqui.

Quando um espírita estuda o livro dos médiuns ele acha que ali estão contidos os
ensinamentos dos Espíritos superiores, não é? Você confia num espírito que comete um erro
tão grosseiro e que dá pitaco em tudo que é assunto como se fosse autoridade? E você vê que
Kardec confia inteiramente em Erasto. Você acha que Kardec tinha realmente condições de
fazer um julgamento sobre a superioridade ou inferioridade de um espírito?

Kardec apresenta a doutrina como sendo dos Espíritos superiores.

 Você confia em Espíritos superiores que falam besteiras como essa de Erasto?

É verdade que esse é apenas um dos Espíritos superiores de Kardec, né, e um estudo
pormenorizado sobre cada um deles e dos seus respectivos médiuns isso exigiria um tempo
considerável e só isso já daria um livro.

Mas no próximo vídeo eu vou dar mais algumas amostras do nível dos Espíritos superiores de
Kardec.

Até lá! Muita força e paz para você!

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