Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ISSN: 1415-711X
academia@appsico.org.br
Academia Paulista de Psicologia
Brasil
1
Trabalho realizado juntamente com o Serviço de Genética do Instituto da Criança do HCFMUSP
e o Laboratório de Distúrbios do Desenvolvimento do IPUSP
2
Psicóloga IPUSP. Contato: R. Perucaia, 291, Butantã; São Paulo-SP; CEP 05578-070.
carolina.padovani@usp.br
3
Geneticista; professora Livre Docente pela FMUSP, responsável pelo Serviço de Genética do
ICrHCFMUSP.
4
Psiquiatra Infantil, Professor Livre Docente pela FMUSP; professor Associado do IPUSP,
responsável pelo Projeto Distúrbios do Desenvolvimento do Laboratório de Distúrbios do
Desenvolvimento do IPUSP. Contato: R. Otonis 697, V. Clementino; São Paulo-SP; CEP04025-
002. cassiterides@bol.com.br 231
Bol. Acad. Paulista de Psicologia, São Paulo, Brasil - V. 80, no 01/11, p. 231-239
1. Introdução
232
Bol. Acad. Paulista de Psicologia, São Paulo, Brasil - V. 80, no 01/11, p. 231-239
1.2. Sociabilidade
Caracterizada como um dos aspectos mais importantes da evolução
humana, uma vez que, por questões, inclusive, de sobrevivência, o homem
enquanto ser social teve que construir sistemas de regras que lhe permitissem
sobreviver como ser humano, perpetuar a espécie e marcar, de maneira
particular, seu próprio status diante do grupo. Para essa sociabilidade, habilidades
mentais específicas fazem-se necessárias saber como o conhecimento social
do outro e a capacidade de inferir estados mentais próprios e de cada um desses
indivíduos (Assumpção-Junior, 2008).
Dificuldades no âmbito da socialização definem quadros específicos como
o autismo e principalmente afetam o desenvolvimento e a expressão de outras
habilidades (Klin, Jones, Schultz, Volkmar & Cohen, 2002). A necessidade da
caracterização das disfunções sociais em diferentes quadros sindrômicos
implicam na busca por observar elementos essenciais da sociabilidade que
podem estar deficitários, diferindo em graus, e em indivíduos afetados por
determinada condição.
2. Objetivo
Considerando o que diferentes autores (Berg, 1995; Kotzot, 1995; Lowery
e outros, 1995; Joyce e outros, 1996; Perez-Jurado, Carrio, Sanchez, Gomez,
Jimeneis, Estivill & Ballesta (1996; 2000), 1996; Elçoglu e outros, 1998; Beust e
outros, 2000; Mila e outros, 2000; Sugayama, 2001; Souza, 2003), na descrição
233
Bol. Acad. Paulista de Psicologia, São Paulo, Brasil - V. 80, no 01/11, p. 231-239
3. População e Métodos
234
Bol. Acad. Paulista de Psicologia, São Paulo, Brasil - V. 80, no 01/11, p. 231-239
4. Resultados
A população estudada apresentou idade média de 15,97 ± 2,55 anos e,
considerando-se a metodologia apresentada, pudemos verificar que seu nível
de desenvolvimento, mostrou-se bastante prejudicado. Assim, o QD total, obtido
através da escala Vineland, foi de 28,46±14,82, com escores parciais de QDC =
30,38±23,92, QDAVD = 23,23±10,50 e QDS = 36,69±23,83.
No que se refere à aplicação do IHS, obtivemos os resultados apresentados
nas tabelas abaixo:
235
Bol. Acad. Paulista de Psicologia, São Paulo, Brasil - V. 80, no 01/11, p. 231-239
5. Discussão
O nível de desenvolvimento observado na população estudada
correspondeu ao citado por outros autores (Martens; Wilson & Reutens; 2008)
que referem um déficit cognitivo que coloca a população em estudo na faixa de
deficiência mental leve ou moderada embora o prejuízo por nós observado seja
maior, situando-os na faixa de deficiência mental grave com um
comprometimento marcado na área da sociabilidade (Vineland
QDS=36,69±23,83).
Os resultados obtidos ao IHS mostraram sociabilidade normal
(Ftotal=98,31) porém, considerando o comportamento avaliado em cada fator,
observamos que os portadores avaliados apresentaram elevados percentis em
F1 (enfrentamento e auto-afirmação com risco) e F4 (auto-exposição na
expressão de afeto positivo), além de pontuação rebaixada em F5 (autocontrole
da agressividade).
Isso nos leva a questão de que a sociabilidade descrita na literatura pode
ser representada através dos altos índices de desenvoltura social obtidos em
F1 e F4 porém, esses representam somente comportamentos descritos que
não conseguem predizer uma avaliação ou julgamento acerca de sua adequação
e de seu efeito em determinadas situações. No entanto, ao se verificar o prejuízo
em F5, representativos de autocontrole da agressividade, podemos considerar
que somente na aparência temos habilidades sociais, posto que não se
observaram os comportamentos verbais e não-verbais necessários à
236
Bol. Acad. Paulista de Psicologia, São Paulo, Brasil - V. 80, no 01/11, p. 231-239
6. Conclusão
Em concordância com as descrições da literatura recente, os portadores
da SWB avaliados mostraram escores de habilidades sociais dentro da média
de percentil abordada pelo instrumento (percentil entre 30 e 70) – o que pode ser
observado pelo fator total (com média 98,31) -, revelando portanto, em seu
fenótipo comportamental, sociabilidade normal, não definindo nenhuma
característica específica da síndrome no que se refere a ela. No entanto,
destacam-se escores elevados de F1 e F4, ao lado de escores rebaixados de
mostraram boa sociabilidade F5. Pode-se assim concluir que, apesar da
aparente, boa desenvoltura social, os pacientes avaliados refletiram
comportamentos sociais despidos de crítica no que se refere ao trato de suas
relações inter-pessoais.
Assim, a despeito da descrição de um comportamento hipersocial e loquaz,
os pacientes avaliados neste trabalho apresentaram déficits no julgamento de
situações de risco e tendência à auto-exposição no contato social com outros
indivíduos, sem que tal fato caracterize comportamento hipersocial como descrito
na literatura.
Referências
• Assumpção-Junior, F.B. (2007) Psicopatologia Evolutiva. Porto Alegre:
Artmed, 2006.
• Ayres,M.; Ayres Jr.,M.; Ayres,D.L.; Santos, A.S. (2007) Bio Estat 5.0:aplicações
estatísticas nas áreas das ciências biológicas e médicas. Belém. IDSM/MCT/
CNPq. 2007
• Bandeira, M.; Costa, M.N.; Del Prette, A.; Del Prette, Z.A.P. & Gerk-Carneiro,
E. (2000) Psychometric qualities of a Social Skills Inventory (IHS): a study of
its temporal stability and concomitant validity. Estud. Psicol. (Natal) Natal,
v.5, n.2.
• Beust, A. J.; Laccone, F. A.; Del Pilar, A. M. & Wessel, A. (2000) Clinical aspects
and genetics of Williams-Beuren syndrome. Klin Padiatr., Stuttgart, v. 212, n.
2, p. 299-307.
237
Bol. Acad. Paulista de Psicologia, São Paulo, Brasil - V. 80, no 01/11, p. 231-239
238
Bol. Acad. Paulista de Psicologia, São Paulo, Brasil - V. 80, no 01/11, p. 231-239
• Martens, M.A.; Wilson, S.J. & Reutens, D.C. (2008) Research review: Williams
syndrome: a critical review of the cognitive, behavioral, and neuroanatomical
phenotype. Journal of Child Psychology and Psychiatry. 49:6 p.576-608.
• Mila, M.; Carrio, A.; Sanchez, A.; Gomez, D.; Jimenez, D.; Estivill, X. & Ballesta,
F. (2000) Clinical characterization, molecular and Fish studies in 80 patients
with clinical suspicion of Williams-Beuren syndrome. Med. Clin., Barcelona,
v. 113, n. 2, p. 46-49.
• Morris, C.A.; Dilts, C.; Dempsey, C.A.; Leonard, C.O. & Blackburn, B. (1988)
Natural history of Williams sundrome: physical characteristics. Journal
Pediatria. 113 (2): 318-26.
• Osborne, L. R.; Joseph-George, A. M. & Scherer, S. W. (2006) Williams-
Beuren syndrome diagnosis using fluorescence in situ hybridization. Methods
Mol Med; 126: 113-28.
• Perez-Jurado, L. A.; Peoples, R.; Kaplan, P.; Hamel, B. C. J. & Francke, U.
(1996) Molecular definition of the chromosome 7 deletion in Williams syndrome
and parent-of-origin effects on growth. Am. J. Hum. Genet., Chicago, v. 59,
n. 4, p. 781-792.
• Rossi, N. F.; Moretti-Ferreira, D. & Giacheti, C.M. (2006) Genética e linguagem
na síndrome de Williams-Beuren: uma condição neuro-cognitiva peculiar.
• Scheiber, D.; Fekete, G.; Urban, Z.; Tarjan, I.; Balaton, G.; Kosa, L.; Nagy, K. &
Vajo, Z. (2006) Echocardiographic findings in patients with Williams-Beuren
syndrome. Wien Klin Wochenschr, 118 (17-18): 538-42.
• Souza, D. H. (2003) Estudo citogenético da região 7q11.23: a síndrome de
Williams-Beuren. 150 f. Tese (Doutorado em Pediatria) - Faculdade de
Medicina, Universidade Estadual Paulista, São Paulo.
• Sparrow, S. S.; Balla, D. A. & Cicchetti, D. V. (1984) Vineland Adaptive Behavior
Scales: Interview Edition, expanded form manual. Minnesota: American
Guidance Service.
• Stromme, P.; Bjornstad, P.G. & Ramstad, K. (2002) Prevalence estimation of
Williams syndrome. J Child Neurol.;17:269-71.
• Sugayama, S. M. M. (2001) Estudo genético-clínico e citogenética molecular
pela técnica da hibridação in situ por fluorescência (FISH) em pacientes
com síndrome de Williams-Beuren. 153 f. Tese (Doutorado em Pediatria) -
Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo, São Paulo.
• Udwin, O.; Yule, W. (1990) Expressive language of children with Williams
syndrome. Am. J. Med. Geneti., New York, v. 6, p. 108-114. suppl. 1.
• Udwin, O.; Yule, W. & Martin, N. (1987) Cognitive abilities and behavioral
characteristics of children with idiopathic infantile hypercalcemia. J. Child.
Psychol. Psychiatry. London, v. 28, n. 2, p. 297-309.
• Wilson, G. N. & Cooley, W.C. (2000) Preventive Management of Children with
Congenital Anomalies and Syndromes. Cambrigde University Press.
Recebido em: 20/02/2011 / Aceito em: 25/04/2011.
239