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Conexões metafóricas, sonoras e semânticas nos discursos 1

Nome: Jhôncio Ramiro Almeida de Souza2

Profª Thami Amarilis Straiotto Moreira3

Este trabalho visa analisar a estrutura do meu discurso sobre o poema


"Pneumotórax" de Manuel Bandeira e "A Escola das Cozinhas" de João Cabral de
Melo Neto. Os tópicos apresentados dizem respeito a conceitos de linguagem,
conceitos de palavras e sons e implicações para o significado que envolve o texto,
apresentando interpretações subjetivas dos tópicos revelados na fala. Em primeiro
lugar, para esses dois poemas, vou analisá-los do ponto de vista temático,
sintetizando o que entendo da leitura, e depois expondo o significado das palavras
em cada texto. Fontes sonoras e pontuação também serão expostas nesta análise
em busca de uma compreensão global da obra.

O poema de Manuel Bandeira retrata uma cena de uma consulta medica, com
uma conversa entre o médico e o paciente. O poema inicia com a enunciação dos
sintomas patológicos do paciente que demonstra a sua temática, e segue com um
verso que, na minha perspectiva, causa um drama por referir-se a vida com certa
lamentação. O dialogo posterior é um procedimento dos médicos que visa averiguar
as condições do coração e dos pulmões de seus pacientes, permitindo que
obtenhamos mais informações sobre a especialidade do médico e sobre os motivos
do desolamento do paciente.

No entanto, os dois últimos versos apresentam construções narrativas que


nos levam a uma reflexão não óbvia do desfecho do diálogo, nos direcionando para
um fim trágico e até irônico por conta que o autor faz essa brincadeira com a ironia
em forma não só de brincar no poema, mas também como uma mensagem a todos
aqueles que leem suas poesias, pois Manuel Bandeira assim como o personagem
do poema sofria com tuberculose. Então, esse poema seria uma forma de expressão
do seu sofrimento e quanto à disposição das palavras, pontuação e esquemas
expressivos - relacionados à forma como o conteúdo é apresentado - acho que o
autor parece ter exercido um efeito específico. Através da lista de sintomas
1
Ensaio produzido para a disciplina de Português Instrumental, de 2022.1, como requisito para
obtenção parcial da nota.
2
Aluno do 1 semestre do curso de direito da Universidade Federal de Roraima.
3
Professora da Universidade Federal de Roraima, ministrante e responsável pela disciplina de
Português instrumental.
mencionados acima e do uso do período na primeira estrofe, seguido de uma
declaração particularmente impactante, somos atingidos por um sentimento de
lamentação e drama.

Essas sensações são reafirmadas pela repetição da palavra "tosse", que


também se refere ao efeito repetitivo de reforçar o aparecimento dos sintomas. No
início do diálogo, o som de "-tr...-tr...-tr..." é repetido, o procedimento realizado pelo
médico pode ser identificado e as reticências utilizadas, o que cria o efeito de
hesitação e tensão ao longo do texto. A aproximação de palavras como
“pneumotórax”, “pulmão” e “tango” nos causa estranhamento e eventualmente, certo
humor. Levando em consideração o plano de conteúdo em si e as construções
semânticas, posso concluir o que foi entendido por mim após a análise do poema de
Bandeira. O discurso pôde ser interpretado com a exaltação do efeito de sentido
dramático percorrido por todo o texto - como já explicitei acima – por meio do uso de
conceitos relacionados à saúde, doenças, mal-estar e falta de qualidade de vida. Os
três últimos versos contam com um diagnóstico por parte do médico acerca de uma
doença nos pulmões do paciente, que indaga ao médico a possibilidade de se tentar
um pneumotórax.

O termo “pneumotórax” é utilizado como se dissesse respeito a um


procedimento que trataria a doença referida, sendo seu real significado – uma
condição patológica dos pulmões – aparentemente desconhecido pelo doente. O
doutor, então, no último verso, nega a possibilidade de se fazer algo para reverter a
situação, afirmando que a única coisa que se possa fazer é tocar um tango
argentino, referindo-se, dessa vez, à morte. A conclusão da morte é extraída do
interdiscurso presente na interpretação do drama e da tragédia que circundam a
temática do tango, resgatado pela minha memória como um ritmo musical que faz
alusão a essas emoções tão fortes e pesarosas. O referido interdiscurso relaciona-
se com a ideia de que nenhum discurso é original do enunciador, ou seja, tudo o que
é enunciado conta com uma série de referências e conceitos anteriormente
construídos.

Nesse caso, o termo “tango” carrega consigo certas referências, que nos
remetem aos sentimentos citados acima. Portanto, para o poema de Manuel
Bandeira, a minha compreensão foi composta pela correlação da sonoridade, da
semântica e da pontuação utilizadas no texto, que me direcionaram para a
assimilação de emoções, progressão e desfecho inesperado. O discurso se mostrou
para mim construído de uma forma muito peculiar, permitindo a visualização de
muitos recursos e conceitos da língua. Partindo para a análise do segundo poema,
“A escola das facas”, de João Cabral de Melo Neto, percebo de imediato, que o texto
é voltado para uma temática nordestina. Consigo extrair uma progressão de ideias
ao longo do texto. A primeira estrofe refere-se à ocorrência de ventos naquela
região, que por meio de metáforas – recursos linguísticos que transferem o
significado de um vocábulo para outro –, são relacionados a facas. Na estrofe
seguinte, os ventos modificam-se conforme encontram diferentes circunstâncias em
seu caminho. Já a terceira e última estrofe conclui o texto com a correlação entre
cortes e o vento nas diferentes regiões do nordeste.

A sequência apresentada do texto de Cabral revela um campo semântico


peculiar, ao reunir palavras que se referem à temática regional. Logo de início, há o
uso substantivado de “alísio”, geralmente utilizado qualificando a palavra “vento”,
tornando possível a compreensão do termo, apesar da supressão. A referência a
plantas nos permite identificar que o curso dos ventos alísios segue pela vegetação
do litoral e depois, do interior do nordeste e atinge as suas folhas, aqui comparadas
a lâminas, referindo-se a ferocidade que a força dos ventos vai adquirindo pelo
percurso, reafirmada pela utilização de hipônimos – signos de menor abrangência
que possuem um equivalente mais geral – de facas: “peixeiras” e “punhais”. Há, em
seguida, uma metaforização e animalização do ser inanimado vento, que ganha
“mãos”, entendidas como a forma com que esses ventos atingem os objetos e a
vegetação, o modo como eles se apresentam. “Fêmeas” e “redondas” aludem à
ideia de maciez, docilidade, reservadas ao litoral, enquanto “fome”, “dente da faca”
expressam ferocidade, hostilidade, destinadas ao interior, ao sertão nordestino.

A conclusão do poema utiliza, mais uma vez, metáforas, ao relacionar


“pedra-mó” a um processo simplificado e rápido e “faca a faca” a um processo lento
e dividido em etapas, e a atribuição de qualidades humanas a seres inanimados, a
personificação de “cana” e “coqueiro”, ao impor-lhes a função de “ensinar”. O uso da
expressão “mão cortante e desembainhada” reafirma o caráter feroz e hostil com
que os ventos atingem a região do agreste e sertão nordestinos. O poema parece-
me fazer referência às diferentes vidas encontradas nessas regiões. No litoral, assim
como os ventos, a vida humana apresenta-se de modo gentil, doce e calmo, ou seja,
as pessoas que moram ali têm mais oportunidades, melhor condição financeira,
melhor qualidade de vida. Já no interior dos estados nordestinos, a vida encontra
mais dureza, rigidez e insensibilidade, causadas pelas circunstâncias que rodeiam
os interioranos, como a falta de oportunidades, ausência de escolaridade, seca e
fome. O “cortante” desse contexto foi entendido por mim como o sofrimento e os
percalços enfrentados por aqueles que vivem no sertão ou no agreste nordestino.
Os versos do poema de João Cabral constroem uma narrativa que parece se repetir,
diferente dos de Bandeira, que narra um fato pontual com início e fim. “A escola das
facas” parece-me mais voltado para um viés social, expressando um regionalismo
que esteve muito presente em outras obras do autor, enquanto que em
“Pneumotórax”, Manuel Bandeira mistura emoções opostas, ora com enfoque no
drama, ora na comédia.

A análise que realizei se baseia em conceitos da linguística como


interdiscurso, hiperonímia, plano de expressão e conteúdo, entre outros. Além disso,
tentei esmiuçar os efeitos sonoros e semânticos inseridos por entre os versos dos
dois textos, buscando captar os sentidos ali presentes, se não percebendo todas as
intenções dos autores, ao menos expressando o que foi entendido por mim com a
leitura detalhada e reflexiva dos poemas.
REFERÊNCIAS

Disponivel em: Poema Pneumotorax de Manuel Bandeira (com análise) - Cultura Genial

Disponivel em: ANÁLISE DO POEMA DE MANUEL BANDEIRA - PNEUMOTÓRAX


(recantodasletras.com.br)

Disponivel em: Resumo de A Escola Das Facas - João Cabral de Melo Neto (netsaber.com.br)

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