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Desde a sua fundação até os dias atuais é visto que, os testes psicológicos tiveram uma

grande propagação, não apenas na Europa ou Estados Unidos, mas também no Brasil.
Segundo Pereira e Neto (2003) os testes já rodavam o Brasil antes mesmo da
profissionalização da psicologia, o que foi imprescindível para conferir um estatuto científico
a nova disciplina, e inegavelmente marca e liga a origem e história com o próprio
desenvolvimento da psicologia.
Firmou-se como ciência e profissão no Brasil nas décadas de 20 e 30. Alchieri e Cruz
(2003) retratar a sua experiência no desenvolvimento dos testes psicológicos e estabeleceram
5 grandes períodos:
1: A Produção médico-científica acadêmica (1836 - 1830); 2: O estabelecimento e difusão
da psicologia no ensino das universidades (1930 - 1962); 3: A criação dos cursos de
graduação em Psicologia (1962 - 1970); 4: A implantação dos cursos de pós-graduação
(1970 - 1990); 5: A criação dos laboratórios de pesquisa em avaliação psicológica (1990 -
atual). Esses períodos devem ser vistos como divisões didáticas ajudando a orientar as
atividades que predominaram em suas épocas e fornecer um panorama de desenvolvimento.
Os primeiros estudos de Psicologia no país são da metade do séc. XIX, encontrados na
Bahia e no Rio de Janeiro. Nesse primeiro estágio, o que realmente contribuiu para o
desenvolvimento da utilização dos instrumentos psicológicos foram: a ciência psicológica,
apresentada como um novo campo de estudo nas universidades de medicina, os métodos e
recursos serem utilizados em escolas normais, e o surgimento dos centros de pesquisa
psicobiológica junto aos laboratórios de instituições relacionadas a área de saúde (Alchieri &
Cruz, 2003).
No período 2, o ensino de psicologia foi restrito a escolas normais, mas com a criação das
universidades, houve um movimento maior de organização relacionado a profissão, ensino e
pesquisa. O início do ensino da disciplina nas universidades impulsionou as investigações da
pesquisa psicológica nas áreas da Psicologia social e relações humanas, a educação e
problemas de aprendizagem e aos problemas normais e patológicos (Pasquali & Alchieri,
2001/2011). Os autores destacam um grande crescimento entre os anos 30 e 60 da utilização
de testes, porém sem grandes preocupações com as propriedades psicométricas.
Um marco significativo nesse período foi a criação do (ISOP), Instituto de Seleção e
Orientação profissional, em 1947 no Rio de Janeiro. A instituição recebeu auxílio
governamental, para o desenvolvimento de técnicas e treinamento de pessoal em processos de
seleção baseados na ciência, onde o teste era a principal ou única fonte de destaque e de
informação para a constituição da avaliação (Noronha & Reppold, 2010).
Essa prática era alinhada ao que ocorria em outras partes do mundo, na ideia de que seria
possível e até desejável (pela imparcialidade), que os processos seletivos (profissionais para
os esforços de guerra etc.) fossem realizados somente com base nos testes. O que levou a
muitas decisões incorretas, pois os testes não captavam todas as informações necessárias e
diagnóstico psicológico mais completo. Que devem vir de técnicas de observação e
entrevistas.
No período 3, segundo Alchieri e Cruz (2003), os anos de 1960 se caracterizam pela
regulamentação dos cursos de formação em Psicologia e a consequente expansão do seu
ensino no país. O que ocorreu graças a regulamentação em 1962 da Psicologia como
disciplina e profissão, pela Lei n. 4.119, resultando na Criação do Conselho Federal de
Psicologia (CFP) e dos conselhos regionais em 1974, pela Lei n. 5.766. O artigo 13, da Lei n.
4.199 deixa claro a importância da avaliação psicológica para a profissão do Psicólogo, ao
incluir nas suas funções privativas a utilização dos métodos e técnicas psicológicas para fins
de diagnóstico psicológico, orientação e seleção profissional, orientação psicopedagógica e
solução de problemas de ajustamento. Os autores chamam atenção para o grande crescimento
e expansão do curso o que resultou numa necessidade de professores numa demanda que não
conseguiu ser suprida , o que afetou a qualificação dos Psicólogos, e em especial na avaliação
psicológica, o que gerou desinteresse pela aprendizagem de medidas psicológicas e o
descrédito em relação ao uso de instrumentos psicométricos.
Esse declínio também foi observado em outros países, bem como no Brasil o que com o
advento do Humanismo e da dialética representou um movimento cultural de reação a
quantificação, ao positivismo e suas manifestações (Pasquali & Alchieri, 2001/2011). O
movimento teve grande significado para a avaliação Psicológica. Ocampo et. Al.
(1979/1955), atribuem por exemplo o emprego de testes como única fonte de informação, a
adoção do modelo médico de diagnóstico. Outro grupo atacou tanto a avaliação Psicológica
quanto a psicometria, atribuindo a utilização de testes a culpa pela exclusão/rotulação no
ambiente escolar (Patto, 1997). Esse grupo entendemos testes com uma visão tecnicista do
homem e da sociedade, cujo único objetivo seria o de conferir cientificidade e justificativa
aos processos de marginalização e exclusão social. Segundo eles a causa do fracasso escolar
deve ser procurada em fatores socioculturais, que a Psicologia, se desfaça da avaliação, sendo
a favor de processos mais abertos como observar entrevista, ignorando os avanços da área e
tentando reconduzir a psicologia a um período ultrapassado de avaliação puramente
subjetivas, o que compromete o compromisso da psicologia com a sociedade (Noronha et. al.,
2002).Entretanto essas críticas trouxeram certa estigmatização da própria avaliação
psicológica. Gouveia (2009), destaca a estagnação na construção, adaptação e padronização
de instrumentos psicológicos, o que se manteve até início da década de 80.
As críticas tiveram importante papel no desenvolvimento da avaliação psicológica, como
o que pode compor ou não processo de avaliação, uso de técnicas. A compreensão da
qualidade da psicometria dos testes e sua relação com o processo mais global da avaliação,
tem sido apontada em congressos com a problemática de dificuldade atual de formação do
psicólogo.
Alchieri e Cruz (2003) localizam esse problema no 4º período, mesmo esse período sendo
caracterizado com a introdução de cursos de pós-graduação, mais qualificação profissional,
aumento do número de pesquisas, o período foi desastroso em relação aos testes psicológicos
(Pasquali e Alchieri, 2001/2011), ao ter sua distribuição e comercialização das editoras
brasileiras, que tiveram pouco cuidado com a qualidade do material publicado, bem como
sem nenhuma fiscalização, tornando-se comum o uso de testes internacionais, que
simplesmente eram traduzidos para o português sem nenhuma preocupação com adaptação a
cultura tão pouco a qualidade psicométrica.
O 5° período é marcado por uma preocupação por parte dos conselhos reguladores,
profissionais, pesquisadores em especial o CFP em relação a depreciação que os testes
psicológicos se encontravam e dos inúmeros processos judiciais resultantes de avaliações
realizadas por profissionais despreparados. No final de 1990 e início de 2000, são
inaugurados vários laboratórios voltados a ensino e desenvolvimento de instrumentos de
avaliação Psicológica, vinculados às principais universidades brasileiras (Pasquali e Alchieri,
2001/2011).
Paralelamente a criação dos centros de pesquisa, a área de avaliação Psicológica
organizou-se em associações científicas por meio das quais passou a influenciar os
movimentos políticos da Psicologia.As associaçoes funcionam até hoje e tem o objetivo de
promover o desenvolvimento da área e colaborar com importantes decisões que envolvem a
Psicologia no país (Noronha & Reppold, 2010).
Além disso como estratégia para lidar com a situação de precariedade dos testes
psicológicos comercializados no Brasil e tentar reduzir os processos éticos relacionados a
avaliação psicológica, o CFP publicou em 2001 a Resolução 25/2001, que define teste como
um método de avaliação privativo do Psicólogo e regulamenta sua elaboração,
comercialização e uso (CFP, 2001). No mesmo ano foi implantado o Sistema de Avaliação
dos Testes Psicológicos (SATEPSI), o que resultou na elaboração de critérios de avaliação
qualidade dos testes e uma iniciativa de revisão dos testes comercializados no Brasil pela
comissão Consultiva em Avaliação Psicológica (CFP, 2010).
Segundo Nakano (2013), a medida tomada pelo CFP, teve grande impacto para reverter a
imagem negativa, o descrédito da avaliação psicológica no país. Destacando que o SATEPSI
trata apenas um lado do problema, o da qualidade do instrumento. O lado da fiscalização e
orientação ainda precisa ser visto, e nesse sentido, o CFP avançou nas técnicas
reconhecidamente fundamentadas na ciência psicológica, assim como recomenda o artigo do
Código de Ética Profissional dos Psicólogos (CFP, 2005).
Dessa forma, mesmo com as críticas e dificuldades históricas que persistem, pode se afirmar
que a área de testes no Brasil está sendo abordada de maneira científica, o que possibilita a
retomada do seu devido valor, nos mais diversos campos. Nesse sentido, Gouveia (2009)
aponta que o uso de testes fornece contribuições tanto no campo teórico, de pesquisas básicas
e aplicadas, quanto no campo prático onde se constituem em ferramentas importantes para a
realização do psicodiagnósticos, em processos seletivos, orientações e treinamentos.

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