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Capítulo 3

FUNÇÕES VETORIAIS

Neste capítulo introduzimos as funções vetoriais. As funções vetoriais são uma grande
fonte de aplicações em diversas Ciências. Por exemplo, as curvas parametrizadas e os
campos de vetores são funções vetoriais importantes.

3.1 Funções Vetoriais


Seja n ≥ 1, denotemos o espaço vetorial euclidiano de dimensão n, por;

Rn = R × R × . . . . . . R, n-vezes

e por:

{⃗e1 , e⃗2 , . . . . . . , ⃗en−1 , ⃗en }

a base canônica de Rn .

Observação 3.1. Lembrando que:

⃗e1 = (1, 0, 0, 0, . . . , 0)
⃗e2 = (0, 1, 0, 0, . . . , 0)
⃗e3 = (0, 0, 1, 0, . . . , 0)
..
.
⃗en = (0, 0, 0, . . . , 0, 1)

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50 CAPÍTULO 3. FUNÇÕES VETORIAIS

Definição 3.1. Sejam n ≥ 1 e m ≥ 1. Uma função vetorial:

F : A ⊂ Rn −→ Rm

é uma regra que associa a cada ponto u ∈ A um único vetor F (u) ∈ Rm .

Observação 3.2. A definição é análoga ao caso de uma variável:

1. O conjunto A ⊂ Rn onde F é definida é chamado domínio de F e é denotado por


Dom(F ).

2. O conjunto {F (u) / u ∈ Dom(F )} ⊂ Rm é chamado imagem de F e é denotado


por F (A).

Definição 3.2. Seja F : A ⊂ Rn −→ Rm uma função vetorial:

1. A função F define m funções reais

Fi : A ⊂ Rn −→ R

tais que:


F (u) = F1 (u), F2 (u), . . . . . . , Fm (u) , ∀ u ∈ A.

2. Equivalentemente:

F (u) = F1 (u) ⃗e1 + F2 (u) ⃗e2 + . . . . . . + Fm (u) ⃗em , ∀ u ∈ A.

3. As Fi são chamadas funções coordenadas de F e denotamos:

F = (F1 , F2 , ........, Fm ).
3.1. FUNÇÕES VETORIAIS 51

Observação 3.3. Para as funções vetoriais:



F (u) = F1 (u), F2 (u), . . . . . . , Fm (u) ,

utilizaremos a seguinte notação:





 x1 (u) = F1 (u)

 x (u) = F2 (u)
 2


..
.

 ..
.





x (u) = F (u).
m m

1. Em particular, para n = 2 e m = 3:


x(u, v) = F1 (u, v)

y(u, v) = F2 (u, v)

z(u, v) = F3 (u, v).

2. Analogamente, para n = 1 e m = 2.

(
x(t) = F1 (t)
y(t) = F2 (t).

Exemplo 3.1.

[1] Seja F : R2 −→ R3 , tal que:


F (u, v) = (u, v, u2 + v 2 ).

F é uma função vetorial.


Como Don(F ) = R2 , por exemplo F (0, 0) = (0, 0, 0), F (1, 1) = (−1, 1, 1), etc. As funções
coordenadas coordenadas são:
52 CAPÍTULO 3. FUNÇÕES VETORIAIS

 
F1 (u, v) = u
 x(u, v) = u

F2 (u, v) = v ⇐⇒ y(u, v) = v
 √ 2
 √
F3 (u, v) = u2 + v 2 , (u, v) ∈ R z(u, v) = u2 + v 2 , (u, v) ∈ R2 .
 

[2] Seja a função vetorial:

1 √
F (t) = (cos(π t2 ), , 1 − t2 ).
ln(t)

As funções coordenadas coordenadas são:

 

 F1 (t) = cos(π t2 ) 
 x(t) = cos(π t2 )
 1  1
F2 (t) = ⇐⇒ y(t) =

 ln(t)
√ 
 ln(t)

F3 (t) = 1 − t2 , t ∈ R. z(t) = 1 − t2 , t ∈ R.
 

Note que:

Dom(F1 ) = R

Dom(F2 ) = (0, 1) ∪ (1, +∞)

Dom(F3 ) = [−1, 1].

Logo, Dom(F ) = (0, 1), e :

F : (0, 1) −→ R3 .

3.2 Propriedades
Se A ⊂ Rn um conjunto aberto.

Definição 3.3. A função F : A ⊂ Rn −→ Rm é contínua, diferenciável ou de classe C k


em u ∈ A, se cada uma de suas componentes Fi , é função contínua, diferenciável ou
de classe C k em u ∈ A, respectivamente.

Por exemplo, se A ⊂ Rn um conjunto aberto e F : A ⊂ Rn −→ Rm , então:


3.2. PROPRIEDADES 53

1. Seja a ∈ U tal que A ⊂ U :


lim F (u) = lim F1 (u), lim F2 (u), . . . , lim Fm (u) ,
u→a u→a u→a u→a

se os limites lim Fi (u) existem, para todo i = 1, . . . , m.


u→a

2. Denotamos por F (n) a n-ésima derivada de F , se existir e:

(n) (n)
F (n) (u) = (F1 (u), F2 (u), . . . , Fm(n) (u)).

(n)
Isto é, F (n) existe se, e somente se cada Fm existe, onde enotamos F (0) = F .

Exemplo 3.2.
[1] Seja a função vetorial:

sen(t) √
F (t) = (t2 , , t),
t
calcule lim F (t).
t→0

sen(t) √
lim F (t) = (lim t2 , lim , lim t) = (0, 1, 0).
t→0 t→0 t→0 t t→0

Proposição 3.1. Sejam A ⊂ Rn um conjunto aberto, F, G : A ⊂ Rn −→ Rm funções


vetoriais e f, g : A ⊂ Rn −→ R funções . Se F , G, f e g são contínuas, diferenciáveis ou
de classe C k em u ∈ A, respectivamente. Então:
 
1. f F ± g G (u) = f (u) F (u) ± g(u) G(u), para todo u ∈ A.
 
2. F · G (u) = F (u) · G(u), para todo u ∈ A.
 
3. F × G (u) = F (u) × G(u), para todo u ∈ A e m = 3.

São contínuas, diferenciáveis ou de classe C k em u ∈ A, respectivamente.


Prova: Exercício.
54 CAPÍTULO 3. FUNÇÕES VETORIAIS

3.3 Exemplos
[1] Seja F : R2 −→ R2 tal que:

F (x, y) = (k x, k y), k ∈ R, k ̸= 0.

1. A função F , tem como funções coordenadas:

F1 , F2 : R2 −→ R,

tal que F1 (x, y) = k x e F2 (x, y) = k y.

2. As funções coordenadas F1 e F2 são de classe C k ; logo, a função vetorial F é de


classe C k , k ≥ 1.

3. Consideremos o disco:

A = {(x, y) ∈ R2 / x2 + y 2 ≤ 1} ⊂ R2 .

Figura 3.1: O disco A

4. E restrição de F , para A:

F : A ⊂ R2 −→ R2 .
3.3. EXEMPLOS 55

5. Para cada (x, y) ∈ A, escrevemos:

(
u = kx
v = k y,

6. Logo, para cada (u, v) ∈ A, temos que :

u2 + v 2 ≤ k 2 .

7. Então:

F (A) = {(u, v) / u2 + v 2 ≤ k 2 },

8. F (A) é um disco fechado de raio k.

9. Se k > 1, este tipo de função é chamada de dilatação de fator k.

10. Se 0 < k < 1, este tipo de função é chamada de contração de fator k.

Figura 3.2: A região A para diferentes k

[2] Seja F : R2 −→ R3 tal que:


56 CAPÍTULO 3. FUNÇÕES VETORIAIS

F (x, y) = (x, y, 0).

Esta função é chamada de inclusão e é tal que F (R2 ) é o plano xy em R3 .

[3] Seja F : R3 −→ R2 tal que:

F (x, y, z) = (x, y).

Esta função é chamada projeção e é tal que F (R3 ) = R2 .

Figura 3.3: Projeção

[4] Seja A = [0, +∞) × [0, 6 π] e definamos F : A ⊂ R2 −→ R3 tal que:

F (x, y) = (x cos(y), x sen(y), y),

A imagem por F do segmento de reta x = a, a ∈ [0, +∞) para 0 ≤ y ≤ 6 π é a curva:



u = a cos(y)

v = a sen(y)

w = y; 0 ≤ y ≤ 6 π.

3.3. EXEMPLOS 57

Figura 3.4: Exemplo [5]

[5] Seja o quadrado D∗ = [0, 1] × [0, 1] e:

T : D∗ −→ R2
(u, v) −→ (u + v, u − v).

Determinemos T (D∗ ).

Figura 3.5: A região D∗


58 CAPÍTULO 3. FUNÇÕES VETORIAIS

1. Fazendo:

(
x =u+v
y = u − v.

2. Então:



 u=0 =⇒ y = −x

v = 0 =⇒ y =x


 u=1 =⇒ y =2−x
= x − 1.

v=1 =⇒ y

3. A região D = T (D∗ ) é a região do plano xy limitada pelas curvas

y = x, y = −x, y =x−2 e y = 2 − x.

Figura 3.6: A região D

[6] Seja D∗ a região limitada pelas curvas:

u2 − v 2 = 1, u2 − v 2 = 9, uv = 1 e uv = 4
3.3. EXEMPLOS 59

no primeiro quadrante e:

T : D∗ −→ R2
(u, v) −→ (u2 − v 2 , u v).

Determinemos T (D∗ ) = D.

1 3

Figura 3.7: A região D∗

1. Fazendo:

(
x = u2 − v 2
y = u v.

2. Então:

 2

 u − v2 = 1 =⇒ x=1
u2 − v 2 = 9

=⇒ x=9


 uv = 1 =⇒ y=1

uv = 4 =⇒ y = 4.
60 CAPÍTULO 3. FUNÇÕES VETORIAIS

3. D é a região limitada por estas retas (T é injetiva):

1 9

Figura 3.8: A região D

[7] A mudança linear é definida por:

T (u, v) = (a1 u + b1 v, a2 u + b2 v),

onde, a1 b2 − a2 b1 ̸= 0. Equivalentemente:

(
x = x(u, v) = a1 u + b1 v
y = y(u, v) = a2 u + b2 v;

Por exemplo, seja A a região limitada pelas retas:

y − 2 x = 2, y + 2 x = 2, y − 2x = 1 e y + 2 x = 1.
3.3. EXEMPLOS 61

-1 -0.5 0.5 1

Figura 3.9: Região D

A presença dos termos y + 2 x e y − 2 x sugerem a seguinte mudança:


(
u = y + 2x
v = y − 2 x.
A∗ é a região limitada pelas seguintes curvas: u = 1, u = 2, v = 1 e v = 2.

1 2

Figura 3.10: Região D∗

Observação 3.4. Nosso interesse nestas notas é estudar com alguma profundidade as
funções de R em Rn e de Rn em Rn .
62 CAPÍTULO 3. FUNÇÕES VETORIAIS

3.4 Exercícios
√ 1
1. Seja F (t) = ( 1 − t2 , cos(t − 1), ):
t3 −t

(a) Determine o domínio de F

(b) Calcule: lim F (t)


t→1

(c) Calcule: F ′′ (1)

(d) Calcule: ∥F ′ (1)∥ e ∥F ′′ (1)∥.

√ p
2. Seja F (x, y, z) = ( x − 1, e2yz , ln(x2 + y 2 + z)):

(a) Determine o domínio de F

(b) Calcule: lim F (x, y, z)


(x,y,z)→(1,0,1)

(c) Calcule: F ′′ (1, 1, 1)

(d) Calcule: ∥F ′ (1, 1, 1)∥ e ∥F ′′ (1, 1, 1)∥.

3. Verifique que:

′
(a) F ± G (u) = f (u) F ′ (u) ± g(u) G′ (u)


′
(b) F · G (u) = F ′ (u) · G(u) + F (u) · G′ (u)


′
(c) F × G (u) = F ′ (u) × G(u) + F (u) × G′ (u)


4. Verifique que:

′
(a) F ± G (u) = f (u) F ′ (u) ± g(u) G′ (u)


′
(b) F · G (u) = F ′ (u) · G(u) + F (u) · G′ (u)


′
(c) F × G (u) = F ′ (u) × G(u) + F (u) × G′ (u)

3.4. EXERCÍCIOS 63

5. Sejam F (t) = (t4 + 3 t2 , 5 t3 − t, 8 t5 − 5 t) e G(t) = (t2 + 2 t, t2 − t, t3 − 3 t), calule:

′
(a) F · G′ (t)


′
(b) F × F ′ (t)


′
(c) F ′ × G′ (t)


′
(d) ∥ F × F ′ (t)∥


′
(e) ∥ F ′ × G′ (t)∥


6. Seja o quadrado A∗ = [0, 1] × [0, 1] e:

T : A∗ −→ R2
(u, v) −→ (2 u − v, u + 2 v).

Determine T (A∗ ).

7. Seja D a região limitada pelas curvas y = 2 x, y = x, y = 2 x − 2 e y = x + 1.


Utilzando coordenadas lineares, determine T (A∗ ).

8. Seja D a região limitada pelas curvas y + x = 1, y + x = 4, x − y = −1 e x − y = 1.


Utilzando coordenadas lineares, determine T (A∗ ).

9. A lemniscata de Bernoulli é uma curva de equação cartesiana:


(x2 +y 2 )2 = a2 (x2 −y 2 ). Verifique que em coordenadas polares fica r2 = a2 cos(2θ).

10. Seja cilindro C circular reto de raio a, em coordenadas cartesianas determine C


em coordenadas polares.

11. Determine em coodenadas polares:

(a) A região D, limitada por (x − a)2 + y 2 ≤ a2

(b) A região D, limitada por x2 + (y − a)2 ≤ a2


64 CAPÍTULO 3. FUNÇÕES VETORIAIS

12. Utilize coordenadas cilíndricas para descrever o sólido W é limitado superior-


mente por z = 4 e inferiormente por z = x2 + y 2 , tal que x = 0 e y = 0.

13. Utilize coordenadas cilíndricas para descrever o sólido W limitado por x2 + y 2 =


1,
z = 1 − x2 − y 2 abaixo do plano z = 4.

14. Utilize coordenadas esféricas para descreve o sólido limitado por x2 + y 2 + z 2 ≥ 1


e x2 + y 2 + z 2 ≤ 4

15. Utilize coordenadas esféricas para descreve o sólido limitado inferiormente por
p 1 1
z = x2 + y 2 e superiormente por x2 + y 2 + (z − )2 = .
2 4

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