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DEFICIÊNCIAS E/OU

TRANSTORNOS DO
DESENVOLVIMENTO:
ENFOQUE
MULTIDISCIPLINAR E
NEUROFUNCIONAL
Elaboração

Elisia Maria de Jesus Santos

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO....................................................................................................................................................................................... 4

ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA.................................................................................................. 5

INTRODUÇÃO.............................................................................................................................................................................................. 7

UNIDADE I
DESENVOLVIMENTO NEUROPSICOMOTOR.............................................................................................................................................................. 9

CAPÍTULO 1
DESENVOLVIMENTO NEUROPSICOMOTOR NORMAL.......................................................................................................................... 9

CAPÍTULO 2
DESENVOLVIMENTO SOCIAL.......................................................................................................................................................................... 15

CAPÍTULO 3
DESENVOLVIMENTO MOTOR.......................................................................................................................................................................... 19

UNIDADE II
INDICADORES COMPORTAMENTAIS DE DESENVOLVIMENTO E SEUS SINAIS DE ALERTA............................................................. 27

CAPÍTULO 1
MOTORES................................................................................................................................................................................................................ 27

CAPÍTULO 2
SENSORIAIS........................................................................................................................................................................................................... 32

CAPÍTULO 3
COGNITIVOS E LINGUÍSTICOS....................................................................................................................................................................... 35

UNIDADE III
DEFICIÊNCIAS E TRANSTORNOS DO DESENVOLVIMENTO............................................................................................................................. 42

CAPÍTULO 1
ATUAÇÃO FONOAUDIOLÓGICA NOS TRANSTORNOS GLOBAIS DO DESENVOLVIMENTO................................................ 42

CAPÍTULO 2
SINTOMATOLOGIA GERAL E ESPECÍFICA................................................................................................................................................ 49

CAPÍTULO 3
COMORBIDADES E CAUSAS.......................................................................................................................................................................... 58

UNIDADE IV
AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA E CLASSIFICAÇÃO...................................................................................................................................................... 62

CAPÍTULO 1
AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA.............................................................................................................................................................................. 62

CAPÍTULO 2
ENFOQUE MULTIDISCIPLINAR....................................................................................................................................................................... 66

CAPÍTULO 3
FERRAMENTAS DE AVALIAÇÃO NEUROFUNCIONAL.......................................................................................................................... 70

REFERÊNCIAS.......................................................................................................................................................................................... 91
APRESENTAÇÃO

Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se


entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade.
Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como
pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia
da Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos


conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos
da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional
que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-
tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de


modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal
quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

4
ORGANIZAÇÃO DO CADERNO
DE ESTUDOS E PESQUISA

Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas


em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio
de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que
visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes
de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares.

A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos
Cadernos de Estudos e Pesquisa.

Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto
antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente
para o autor conteudista.

Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma
pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em
seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas
experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida
para a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar


Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do
estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o
caso.

Atenção
Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam
para a síntese/conclusão do assunto abordado.

5
Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa

Saiba mais
Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/
conclusões sobre o assunto abordado.

Sintetizando
Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo,
facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Para (não) finalizar


Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar
a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o
módulo estudado.

6
INTRODUÇÃO

O ser humano é definido como biopsicossocial na recepção e troca com o


meio, como a completude dessas influências e interações. Sofre mudanças
e se desenvolve a cada etapa da vida, comemorando cada habilidade, cada
processo evolutivo, cada descoberta. Teóricos do desenvolvimento acreditam
que o recém-nascido responde de forma automática e reflexiva aos estímulos
recebidos, atuando com o mundo ao seu redor de forma bidirecional.

No desenvolvimento, um passo leva a outro inevitavelmente. Essa mudança é


o resultado de interações do indivíduo com o meio ambiente. Todos os seres
humanos passam por padrões esperáveis de desenvolvimento, o que resulta em
um grupo de indivíduos únicos, que agem em diversos cenários, como físico,
cognitivo, social, psicológico.

Na Unidade 1, estudaremos o desenvolvimento neuropsicomotor, abordando


sobre as fases do desenvolvimento típico, social, motor e linguístico, bem
como conceitos gerais, nomenclaturas, principais teóricos e teorias do
desenvolvimento e seus cenários.

Na Unidade 2, analisaremos indicadores e sinais de alerta ao desenvolvimento,


com destaque para as principais mudanças no comportamento inicial da criança
nos aspectos motores, sensoriais, cognitivos e linguísticos. Nesse tópico, cada
aspecto está acompanhado de um quadro que contém sinais e alertas sobre as
mudanças no desenvolvimento.

Na Unidade 3, especificamente, trataremos das principais deficiências e


transtornos do desenvolvimento, com ênfase na atuação fonoaudiológica nos
transtornos globais do desenvolvimento, as sintomatologias gerais e específicas,
suas comorbidades e causas.

Ao fim deste módulo, na Unidade 4, trataremos da avaliação diagnóstica, da


classificação e das ferramentas de avaliação neurofuncional utilizadas, bem
como abordaremos a importância e o papel dos pais e/ou cuidadores.

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Introdução

Objetivos
» Compreender o desenvolvimento neuropsicomotor e suas etapas em
crianças nos padrões da normalidade; o desenvolvimento social, motor e
linguístico.

» Identificar os sinais de alerta comportamentais nos aspectos motores,


sensoriais, cognitivos e linguísticos.

» Analisar os principais transtornos do desenvolvimento, com enfoque


fonoaudilógico.

» Entender a avaliação diagnóstica e a classificação, bem como a


participação dos pais e cuidadores.

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DESENVOLVIMENTO
NEUROPSICOMOTOR UNIDADE I

CAPÍTULO 1
Desenvolvimento neuropsicomotor
normal

Figura 1. Desenvolvimento do bebê.

Fonte: https://osprimeirosanosdevida.com/2018/06/13/desenvolvimento-do-bebe-7-12-meses/.

O que é desenvolvimento neuropsicomotor?


Desenvolver é um processo crescente de mudanças na capacidade funcional do ser
humano; existir, viver, crescer locomover-se no mundo; processo contínuo. Os
seres humanos estão sempre em desenvolvimento, com quantidades de mudanças
mais ou menos observáveis ao longo da vida.

O desenvolvimento está relacionado à idade, mas não depende dela. À medida


que o desenvolvimento acontece, a idade avança. Todavia ele pode ser lento ou
mais rápido em períodos diferentes. O desenvolvimento é sequencial, continua
ao longo da vida. Ou seja, os sujeitos não avançam em desenvolvimento e idade
na mesma proporção.

O nome neuropsicomotor possui aspectos neurobiológicos, aspectos psicológicos


ligados ao afeto, às emoções e motivações que guiam ao aprendizado do ato
9
Unidade i | Desenvolvimento neuropsicomotor

motor. Ou seja, deve haver amadurecimento nas estruturas do sistema nervoso


para que haja desenvolvimento. Para Willrich et al. (2009), o desenvolvimento
possui o próprio aspecto motor, que diz respeito às especificidades do movimento
humano.

O desenvolvimento neuropsicomotor (DNPM) é a dinâmica em que, a partir de


estimulações, a criança aprende determinadas habilidades. Pela apresentação de
caráter progressivo, é esperado que a criança adquira a capacidade de executar
funções desafiadoras. Em exemplo, um bebê avista um objeto distante, logo,
impulsionará seu corpo na direção do objeto, locomoverá seus membros para
alcançá-los. Em uma etapa avançada do desenvolvimento, ele se interessará por
objetos que estejam no alto, logo o bebê usará objetos e esticará seu corpo para
pegá-los. Todo esse esforço e aprimoramento de habilidade acontecerão em
diversas áreas: motora, linguagem, social.

O desenvolvimento motor depende de questões neuromaturacionais, genéticas


e ambientais; uma relação bidirecional, interagindo e sofrendo modificações
físicas e do ambiente. Portanto, para o melhor desenvolvimento das crianças,
essas características também devem ser consideradas (SHUMWAY-COOK;
WOOLLACOTT, 2001; PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2000; NEWELL, 1991).

O que é desenvolvimento neuropsicomotor normal?

Por que o nome desenvolvimento neuropsicomotor normal?

Você irá encontrar algumas nomenclaturas como: desenvolvimento


neuropsicomotor, desenvolvimento neurosensóriomotor, desenvolvimento
motor típico, desenvolvimento neuropsicomotor normal. A nomenclatura
normal ou típica designa o desenvolvimento esperado, usado como guia
para que se avaliem alterações apresentadas por crianças com distúrbios
neurológicos.

Papalia (2000) acredita que o desenvolvimento na infância sofre influência da


tríade de Newell, que considera o papel do indivíduo, do ambiente e da tarefa.

10
Desenvolvimento neuropsicomotor | Unidade i

Figura 2. Tríade de Newell.

Tarefa Indivíduo

Ambiente

Fonte: Elaborado pela autora.

As modificações marcantes no desenvolvimento típico podem ser percebidas e


relatadas a cada mês, podendo, assim, ser usadas para classificar as crianças como
pertencentes a uma determinada faixa etária motora. Para determinar a faixa
etária motora, é importante considerar algumas terminologias que compõem o
desenvolvimento motor típico:

Figura 3. Terminologias que compõe o desenvolvimento motor típico.

Reflexo

Habildiade Plano de Reações


motora movimento

Padrões de
movimento

Fonte: Elaborado pela autora.

» Reflexo: é considerado como a resposta motora por movimentos


simples; o controle motor é realizado principalmente pela medula.

» Reações: são movimentos automáticos, que incluem padrões aprendidos,


como mastigar e marchar.

» Padrões de movimento: são as posturas usadas na execução das


habilidades motoras, como sentar ou ficar em pé. Esses fatores
permitem os ajustes de acordo com o contexto de cada criança.
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Unidade i | Desenvolvimento neuropsicomotor

» Habilidades motoras: são os movimentos controlados pelo córtex


cerebral. Requer maior controle e aprendizado motor.

» Planos de movimento: se refere à aquisição de movimentos no plano


sagital, coronal e transversal.

Domínios do comportamento

Na tentativa de estabelecer um esquema de classificação sobre os domínios


do comportamento e da aprendizagem, nos estudos iniciais de Bloom (1956),
Masia e Krathwohl (2002), o modo de separação dos domínios psicomotor,
cognitivo e afetivo deu vasão para que novos estudiosos tratassem cada
domínio como entidades independentes do desenvolvimento humano. Para
melhor compreensão do sujeito, deve-se considerar o ser em desenvolvimento
na totalidade dos três domínios do comportamento humano, de forma
inter-relacionada.

Figura 4. Domínios do comportamento humano.

Domínio
Domínio Cognitivo Domínio Afetivo
Psicomotor
(Comportamento ( Comportamento
(Comportamento
Intelectual) Socioemocional)
Motor)

Fonte: Elaborado pela autora.

O domínio psicomotor envolve todas as mudanças físicas e fisiológicas ocorridas


ao longo da vida. O domínio cognitivo, em relação ao estudo do comportamento
motor, está relacionado à função e à interação entre o corpo e a mente. Domínio
afetivo envolve a aplicação das emoções e dos sentimentos do sujeito para outro
por meio do movimento. O comportamento cognitivo está além do sentido
afetivo no âmbito emocional, transversaliza a palavra afetivo com troca, cuidado,
confiança, resposta, interação.

Durante o desenvolvimento neuropsicomotor, a aquisição de habilidade ocorre


em diferentes áreas, exemplo, no desenvolvimento motor ou físico, a criança
aprende a sentar, engatinhar, andar. No desenvolvimento da linguagem ou
cognitivo, adquire a habilidade de chorar, sorrir, falar. Já no desenvolvimento
social ou psicossocial, começa a estranhar, interagir, adquirir independência.
Ainda que alguns teóricos do desenvolvimento tenham estudado cada fase
separadamente, todas essas habilidades interagem no desenvolvimento
neuropsicomotor de forma contínua e progressiva. É o que veremos na tabela 1,
sobre a descrição geral e as características de cada um desses períodos de vida.
12
Desenvolvimento neuropsicomotor | Unidade i

Tabela 1. Etapas do desenvolvimento.

Período pré-natal
Desenvolvimento
Etapa germinal, embrionário e fetal. Período de formação dos órgãos.
motor
Desenvolvimento
Existem evidências no sentido de um desenvolvimento rudimentar da memória e da percepção.
da linguagem
Desenvolvimento
Primordialidade na comunicação mãe-filho durante a gestação.
emocional
Primeira infância
Desenvolvimento
Adaptação do organismo, alimentação, choro, ritmos de sono.
motor
Desenvolvimento Nesse período, os bebês reagem ao mundo de forma reflexa, posteriormente simbólicas.
da linguagem Desenvolvimento da linguagem.
Desenvolvimento
O temperamento da criança começa a se manifestar.
emocional
Segunda infância
Desenvolvimento A necessidade de descobrir o mundo através dos pés e das mãos, riscos de acidente devido à
motor impetuosidade motora.
Desenvolvimento Fala individual, amigo imaginário, pouco discernimento cognitivo; a linguagem nessa fase é
da linguagem aprimorada.
Desenvolvimento Compartilhamento dos brinquedos, percepção de suas habilidades e de si próprio. Consegue
emocional distinguir o gênero.
Terceira infância
Desenvolvimento
Desenvolvimento motor mais lento, perda e ganhos de peso. Intensificação na atividade motora.
motor
Desenvolvimento Desenvolvimento do raciocínio. Habilidades para as operações matemáticas, somar, multiplicar,
da linguagem subtrair, dividir. Repertório da linguagem mais ampla.
Desenvolvimento Evolução do autoconceito. Essa etapa se classifica pelo controle dos pais na participação efetiva e
emocional afetiva na negociação de tarefas e acordos.
Adolescência
Desenvolvimento Também conhecido como puberdade, esse período é registrado pela agressividade da mudança
motor corporal, pelo crescimento de músculos, seios, amadurecimento reprodutor.
Desenvolvimento O adolescente aprende a lidar com as ideias, a pensar de forma metódica, uso de linguagem própria,
da linguagem gírias. Momento de evidência quando há a presença de déficit intelectual.
Desenvolvimento Período marcado pela confusão de papeis, crises, desejo de independência. Início da atividade
emocional sexual, aptidão vocacional. Estabelecimento de crises nas relações sociais.
Idade adulta
Desenvolvimento Completo desenvolvimento das funções corporais. Necessidade de dieta e atividades físicas para o
motor melhor desenvolvimento motor.
Desenvolvimento Período marcado pela capacidade de viver com as contradições morais. Sentidos acentuados.
da linguagem Flexibilidade da cognição, cobranças pessoais, conquistas financeiras, independência.
Desenvolvimento Casamento, divórcio, relações relativas que refletem a interação social, desejo de conquistas
emocional pessoais.

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Unidade i | Desenvolvimento neuropsicomotor

Velhice
Envelhecimento, transformações físicas; o desenvolvimento motor nesse período está diretamente
Desenvolvimento
ligado ao estilo de vida do sujeito. Período de muitas alterações físicas, na pele, nos ossos, nos
motor cabelos, todo corpo sofre mudanças. Redução das atividades físicas, cautela nos movimentos.
Desenvolvimento Modificações frequentes no desenvolvimento cognitivo. Esquecimento de palavras. Pode aparentar
da linguagem dificuldades em recordar eventos recentes. Fala solta, conversas individuais.
Período registrado pelas lembranças, necessidade da atenção familiar. A depender da forma como o
Desenvolvimento
adulto chegou à velhice, esse caminho determinará segurança, fuga ou medo do idoso nos seus dias
emocional de vida.
Fonte: Elaborado pela autora.

Discutiremos, a seguir, alguns estudos e teorias relevantes que versam sobre o


desenvolvimento em múltiplas perspectivas.

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CAPÍTULO 2
Desenvolvimento social

Figura 5. Saltos de desenvolvimento do bebê.

Fonte: https://quindim.com.br/blog/saltos-de-desenvolvimento-do-bebe/.

Também conhecido por desenvolvimento afetivo, desenvolvimento social ou


psicossocial, o primeiro contato social da criança se inicia com a família, através
da interação com os membros familiares. Essa socialização se estende ao espaço
escolar e continua a crescer na juventude para alcançar a vida adulta. O contato
social se aprimora ao longo da vida.

A principal instituição social para a criança é a família, portanto este grupo


deve receber condições básicas para a formação das crianças. É também muito
influenciada pelo meio social e cultural em que se situa. Lá acontece uma
espécie de condicionamento. Se o relacionamento com os membros da família,
particularmente com a mãe, não for positivo, haverá uma generalização de
resposta, e a criança passará a perceber todos os demais como fonte de satisfação,
com confiança.

É comum ouvir que nos primeiros anos de vida, a criança tem maior necessidade
da mãe, do vínculo materno. Mas e o pai? Alguns autores enfatizam a
importância da figura paterna no desenvolvimento da criança, principalmente
nos comportamentos relacionados aos papeis sexuais, tanto do sexo masculino
como do feminino. Pesquisas têm concluído que a ausência do pai afeta o
desenvolvimento cognitivo, especialmente dos filhos do sexo masculino.

O desenvolvimento de uma criança, desde a concepção, é compartilhado. Logo,


a concepção e o desenvolver devem seguir o mesmo ritmo de partilha. Todo
ser humano está disposto na sociedade. Para que haja uma interação sadia, um
desenvolvimento típico, com espaço para a apresentação subjetiva de cada um, se
faz indispensável a presença paterna.

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Unidade i | Desenvolvimento neuropsicomotor

Para Vygotsky (1996), o aprendizado das crianças acontece por meio da


acumulação de conhecimentos, da criação de hipóteses, de experiências vividas.
Possuidoras de características próprias, as crianças observam o universo e o
comportamento das pessoas que as cercam de maneira eminente.

A base, sempre estará na família. Eles aprendem a distinguir o sim do não, o errado
do certo. O autoconceito desenvolve-se com rapidez. Uma orientação sensata,
participativa, explicada, reforçada positivamente quando convém é primordial no
desenvolvimento social da criança, aliás, do ser humano em todas as suas fases de
desenvolvimento.

Wallon (1953/1979) propôs estágios do desenvolvimento que têm início durante


a gestação (vida intrauterina), caracterizada por interação orgânica. Depois
do nascimento, apresenta-se o estágio impulsivo emocional na prevalência da
emoção, caracterizado como o período da interação social afetiva.

Os estágios de desenvolvimento propostos por Wallon (1953/1979) são


semelhantes aos estágios propostos por Piaget, porém Wallon acredita que cada
estágio possui uma forma de interagir com o outro. Ou seja, um adulto, aprendeu
a lidar com seus conflitos internos da adolescência e assim chegou à fase adulta.

O psicanalista Erik Erickson criou umas das teorias do desenvolvimento


psicossocial mais relevantes. Para Erik, à medida que crescem, os indivíduos
enfrentam diferentes tarefas sociais psicológicas. Com as exigências feitas
pela sociedade, o sujeito cria novas formas de reagir. Erickson apresenta oito
estágios de desenvolvimento psicossocial que o homem enfrenta (Tabela 2).

A personalidade de cada sujeito será determinada de acordo com a maneira


que cada um resolver os desafios propostos por cada estágio. Erik torna a crise
indispensável ao desenvolvimento humano, pois somente vencendo as crises de
cada idade se formará a identidade, a segurança de suas emoções, a confiança, o
autocontrole, a forma como se relacionar bem com outros etc.

Os oito estágios apresentado por Erik Erickson são dependentes um do outro.


Um se constrói sobre o outro. Assim, se um estágio não estiver bem resolvido, os
problemas dele serão deslocados para a fase seguinte. Importante ressaltar que o
desfecho de cada crise pode ser negativo ou positivo.

Para melhor entendimento conceitual, na tabela 2, estruturamos os estágios


desenvolvidos por Erik Erickson, definidos por Braghirolli (2002) no livro
“Psicologia Geral”.

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Desenvolvimento neuropsicomotor | Unidade i

Tabela 2. Estágios do desenvolvimento psicossocial.

0-1 ano Confiança X Desconfiança


1-3 anos Autonomia X Vergonha e dúvida
3-6 anos Iniciativa X Sentimento de culpa
6-11 anos Atividade X Inferioridade
12-18 anos Identidade X Confusão de papéis
18-45 anos Intimidade X Isolamento
45-75 anos Produtividade X Estagnação
+ 75 anos Integridade X Desespero
Fonte: Elaborado pela autora.

No estágio de 0 a 1 ano, a criança tem a figura da mãe como a própria sociedade,


por a mãe ser a figura que supre as necessidades primordiais da criança. Nesse
estágio, a mãe atenciosa, que alimenta e cuida devidamente da criança faz com
que o infante se torne seguro; se essa relação com a mãe for negligenciada, a
criança se desenvolverá desconfiada e insegura.

No estágio de 1 a 3 anos, a criança vive em constante movimento, correndo,


pulando, na idade da descoberta do mundo através dos pés. Cada caminhada é
uma conquista, uma descoberta, e assim se desenvolve a autonomia. Caso os
pais exagerem na disciplina e na exigência, com reclamações e muitos castigos, a
criança desenvolverá a dúvida, vergonha.

De 3 a 6 anos, a atenção da criança está na necessidade de conhecer tudo sobre o


mundo, tudo sobre todos. Idade marcada pelas perguntas e porquês, com muita
curiosidade, quer brincar e se comunicar com todos, desenvolvendo assim a
iniciativa. Caso os pais sejam repreensivos, a criança ficará à espera de comandos,
ordens para fazer qualquer atividade, por medo e sentimento de culpa.

Na idade dos 6 a 12 anos, a atenção da criança está voltada para a relação com os
coleguinhas, a escola, as tarefas escolares. Quando os professores e pais mostram
interesse em partilhar cada avanço intelectual da criança, ela se desenvolve
realizada. Caso contrário, a criança se sentirá inferior.

O estágio seguinte é muito interessante, tanto quanto os outros. Porém requer uma
atenção maior por se tratar da tão temida adolescência. Se a criança venceu cada
crise dos estágios anteriores, teremos nesse momento um jovem de identidade
bem definida. Caso não, o jovem viverá em crises de papéis, dificuldade de se

17
Unidade i | Desenvolvimento neuropsicomotor

identificar, se conhecer, assim seguirão os comportamentos de quem consideram


como ídolos, tornando-se dependentes de multidões, ou se excluindo do ambiente
familiar por não se identificar com ele e optar por outros grupos.

Dos 18 aos 45 anos, a busca agora é pela realização nas esferas sociais. Realizações
pessoais, familiares, íntimas. Esse estágio é marcado pelas relações pessoais,
pela intimidade. Caso não encontrem, fugirão das relações pessoais e íntimas, se
isolando dos laços de união.

A idade adulta se caracteriza pelo sentimento de realização pessoal, em que iniciou


e/ou aprimorou a busca pelas realizações pessoais, pelo desejo de realizar algo
pelo social, para a comunidade, idade marcada pela produção. Caso não tenha
conquistado isso, surgirá a estagnação, o sujeito não se considera válido, se sentirá
inútil e haverá desvalorização pessoal.

No estágio da velhice, vive-se o senso da velhice, o idoso que reconhece suas


vitórias e fracassos. Aceitam-se as transformações corpóreas e a passagem do
tempo. Reaprende-se a viver diante das limitações físicas, tornando essa fase na
melhor idade; caso contrário, os idosos passam o tempo a se lamentar do que
poderiam ter feito, das oportunidades que não criaram e não aceitaram, negam
momentos da vida e não aceitam a passagem do tempo, entrando em estado de
desespero.

Existem muitos filmes que retratam crianças, adolescentes e adultos em sua


pluralidade e desenvolvimento. Um desses filmes é o “Crianças invisíveis”,
direção de Mehdi Charef, (Itália – 2005). Retrata o drama familiar, a pobreza,
a realidade e a diversidade cultural de crianças e adolescentes em sete
países.

18
CAPÍTULO 3
Desenvolvimento motor

Figura 6. Marcos do desenvolvimento infantil.

Fonte: https://blog.estrela.com.br/marcos-desenvolvimento-infantil/.

Terminologias usadas no desenvolvimento motor


Nos primeiros meses de vida, toda a evolução da criança está interligada ao
sistema nervoso central (SNC). Se inicia com movimentos reflexos evoluindo para
ações mais coordenadas. São muitos os aprendizados e ganhos, principalmente
nos primeiros anos de idade. De forma gradativa e organizada, a criança vai
evoluindo músculos, coordenação, suas performances motoras para descobrir o
mundo – primeiramente com o contato da mãe e, de forma individual, por meio
dos próprios pés, podendo realizar seus primeiros passos a partir dos nove meses
de vida.

Gallahue (2013) define desenvolvimento motor como a modificação constante


no comportamento motor no decorrer da vida. É estudado como um processo
– por envolver implicações ambientais, biológicas e de tarefa – que influencia
diretamente as mudanças do comportamento motor, da infância à velhice.

Como vimos anteriormente, existem conceitos importantes para o entendimento


do desenvolvimento motor. Kathleen Haywood (2016) abordou mais alguns,
constantes na figura seguinte:

Figura 7. Conceitos fundamentais do desenvolvimento motor.

Desenvolvimento
Aprendizagem motora
Motor

Crescimento Maturação
Controle Motor Físico Fisiológica

Envelhecimento Performance
Motora

Aprendizado Motor

Fonte: Elaborado pela autora com base em Haywood (2016).

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Unidade i | Desenvolvimento neuropsicomotor

» Desenvolvimento motor: pode ser entendido como processo de


modificações no movimento crescente relacionado a idade, ambiente,
fatores do sujeito e insígnias que induzem mudanças.

» Aprendizagem motora: são as gratificações persistentes relativas às


habilidades motoras. Está diretamente ligada à experiência e prática.

» Controle motor: estuda os fatos físicos neurobiológicos e


comportamentais do movimento.

» Crescimento físico: é um aumento nas partes completas e formadas;


está relacionado à massa corpórea, ao tamanho.

» Maturação fisiológica: está relacionada à qualitatividade na constituição


biológica, se refere ao avanço do órgão, não necessariamente somente
ao tamanho.

» Envelhecimento: tem relação com o passar do tempo. Perda gradual


das funções e adaptação até o momento da morte.

» Performance motora: é a ação, a exibição do movimento, ato de colocar


em prática uma habilidade de movimento, podendo o resultado de tal
desempenho ser medido de alguma forma.

» Aprendizado motor: momento de aprendizado do movimento para


desenvolver a principal tarefa.

Fases do desenvolvimento motor

Para entender melhor o que ocorre, e porque ocorre, Gallahue (2005) criou
um modelo descritivo abrangente do desenvolvimento motor: a teoria das
fases-estágios para entender através de figuras visuais como o desenvolvimento
motor decorre ao longo da vida.

Assim, Gallahue (2005) propôs quatro estágios: fase motora reflexa, fase motora
rudimentar, fase mora fundamental e fase motora especializada.

Fase do movimento reflexo

Os movimentos reflexos são a base das fases seguintes do desenvolvimento


motor. São os primeiros movimentos do feto, os movimentos involuntários na

20
Desenvolvimento neuropsicomotor | Unidade i

barriga da mãe. Por meio dessa atividade reflexa involuntária os bebês captam
informações imediatas do ambiente. Esses movimentos podem ser primitivos e
posturais.

Movimento de reflexos primitivos são reflexos de sobrevivência, respostas na


busca de nutrir-se, informar-se e proteger-se. Essa coleta ajuda na atividade de
desenvolvimento diretamente. Sem esse tipo de reflexo, não há nutrição.

Movimentos de reflexos posturais atuam de forma secundária ao movimento


involuntário. São a segunda forma de movimento involuntário. Aparentemente
é notável a similaridade aos comportamentos voluntários, porém são todos
involuntários.

A fase reflexa do desenvolvimento motor pode ser dividida em dois estágios


sobrepostos:

» Estágio de codificação de informação: coleta de informações


caracterizada na atividade do movimento involuntário visível do feto.

» Estágio de decodificação de informação: o processamento de


informações da fase reflexa que tem início a partir do quarto mês de
vida.

Figura 8. Fase do movimento reflexo.

Fase do movimento reflexo

Reflexos primitivos e posturais

Estágio de codificação Estágio de decodificação

Fonte: Elaborado pela autora.

Fase do movimento rudimentar

As primeiras formas do movimento voluntário são as rudimentares. Elas são


observadas no bebê desde o nascimento até cerca de 2 anos. Os movimentos
rudimentares são resistentes a mudança, são definidos pela maturação e
apresentam características previsíveis. Essa fase está dividida em dois estágios:

21
Unidade i | Desenvolvimento neuropsicomotor

» Estágio de inibição do reflexo: marcado pela substituição dos


reflexos primitivos por comportamentos do movimento voluntário.
Os movimentos propositais se apresentam de maneira rudimentar,
descontrolados.

» Estágio pré-controle: acontecem por volta de 1 ano, quando o bebê


apresenta maior precisão no controle dos movimentos. Esse é o estágio
do aprender a manter o equilíbrio, andar no ambiente.

Figura 9. Fase do movimento rudimentar.

Fase do movimento
rudimentar

Estágio de inibição do
Estágio pré-controle
reflexo

Fonte: Elaborado pela autora.

Fase do movimento fundamental

É a fase da experimentação dos movimentos potenciais de cada corpo. Nessa fase,


a criança se concentra em como executar, primeiramente isolada, uma série de
movimentos de locomoção, manipulação e estabilidade. Logo após, essas séries de
movimentos serão combinadas com outros.

No estágio inicial de movimentos da criança, elas estão direcionadas a alguma


habilidade fundamental que representa as primeiras tentativas dos movimentos de
estabilidade, manipulação e locomoção.

O estágio elementar emergente requer maior coordenação e controle, as


crianças avançam no processo de maturação.

Estágio proficiente, na fase do movimento fundamental, é caracterizado pelas


performances eficazes, maduras, com oportunidade contínua de prática.

Figura 10. Fase do movimento fundamental.

Fase do movimento
fundamental

Estágio elementar Estágio


Estágio inicial
emergente proficiente

Fonte: Elaborado pela autora.

22
Desenvolvimento neuropsicomotor | Unidade i

Fase do movimento especializado

As habilidades do movimento especializado é a produção da fase anterior. As


habilidades são refinadas e reprogramadas para uso em situações de crescente
demanda. O desenvolvimento das habilidades nessa fase depende de fatores
como cultura, corpo, altura, hábitos, relação com os pares, emocional. A fase dos
movimentos especializados tem três estágios:

» Estágio de transição, entre 7 e 8 anos: estágio da habilidade de


movimento de transição, habilidades desenvolvidas no estágio anterior
passam a ser aplicadas nas situações da vida, nas brincadeiras.

» Estágio de aplicação, dos 11 aos 13 anos: interessantes mudanças


acontecem no desenvolvimento das habilidades. Nesse estágio, os
indivíduos buscam evitar realizar algumas atividades.

» Estágio de utilização ao longo da vida, começa por volta dos


14 anos, seguindo por toda a vida adulta: esse estágio é o auge do
desenvolvimento motor por apresentar um repertório de movimentos
adquiridos durante toda a vida. Representa um estágio de continuação.

Figura 11. Fase do movimento especializado.

Fase do movimento
especializado

Estágio de utilização
Estágio de transição Estágio de aplicação
ao longo da vida

Fonte: Elaborado pela autora.

Os reflexos são os primeiros movimentos humanos, não são aprendidos. Por


isso os reflexos são considerados como habilidade.

23
Unidade i | Desenvolvimento neuropsicomotor

Desenvolvimento da linguagem

Figura 12. Linguagem oral de crianças da educação infantil.

Fonte: https://cliapsicologia.com.br/caracteristicas-da-linguagem-oral-de-criancas-da-educacao-infantil-2/.

O desenvolvimento da criança é marcado por descobertas, aquisições,


aprendizagens, execuções. Através da formação de palavras o ser humano
pode estabelecer comunicações e criar conceitos. Nos primeiros meses de vida,
o balbucio representa uma das primeiras interações na relação social do bebê,
registrando, de maneira involuntária, o desejo de se comunicar com o mundo.

A linguagem está relacionada à aprendizagem, habilidade, compreensão e criação


de conceitos. O desenvolvimento da linguagem é responsável por registrar e
expor a maneira como cada um se identifica. Tudo isso, interligado a funções
neuromotoras, como reafirma Levin (2003), ao registrar que as marcas da
linguagem se imprimem sobre a realidade neuromotora do corpo.

No desenvolvimento da linguagem, deve-se entender que cada criança apresenta


suas subjetividades. Entretanto, em um desenvolvimento típico da fala, existem
etapas em comum no desenvolvimento da linguagem de todas as crianças.

Sobre o desenvolvimento fonológico, nos primeiros meses de vida, o bebê se


comunica por meio de choros, gritos e ruídos. Por volta dos 3 meses de vida,
já consegue indicar quando sente fome, cólica, sono. A partir do 4o mês, a
frequência de sons emitidos pela criança aumenta, e já se apresentam variações
no tom da voz. Dos 7 aos 12 meses, consoantes como “m”, “b”, “p”, ecoam com
frequência pela boca dos pequeninos. Nessa idade, ao ser chamada pelo seu
nome, a criança já interage.

24
Desenvolvimento neuropsicomotor | Unidade i

Sobre teorias e estágios, Jean Piaget trouxe grandes contribuições ao estudo do


desenvolvimento infantil, dedicando-se a explicar como o homem constrói
as estruturas do pensamento ao longo da vida. Na teoria de Piaget (1966), o
egocentrismo tem lugar de destaque, por acreditar que esse conceito interliga
características da lógica infantil.

Piaget (1966) em sua teoria interacionista, considera o aparecimento do


pensamento antes da linguagem. O pensador dividiu em quatro estágios sua teoria
do desenvolvimento.

Figura 13. Estágios do desenvolvimento cognitivo de Piaget.

7 a 11 anos:
Adolescência em diante:
0 a 2 anos: 2 a 7 anos: Pensamento Pensamento
Sensório-motor Pré-operacional operacional-concreto operacional-formal

Fonte: Elaborado pela autora.

» Sensório-motor: é a relação que o bebê constrói com o mundo através


de experiências sensoriais das ações físicas.

» Pré-operacional: a criança representa seu universo com imagens e


palavras.

» Operacional-concreto: a criança pode agora raciocinar logicamente


sobre eventos concretos e classificar os objetos em diferentes conjuntos.

» Operacional-formal: maior habilidade na atenção seletiva, maior


capacidade de memória. A atenção seletiva torna-se mais habilidosamente
distribuída. A capacidade de memória se amplia.

Para Vygotsky (1996), cada palavra representa o mundo de cada pessoa, com
vivências e relações interpessoais. Para se entender a fala, deve-se primeiro
compreender o pensamento da pessoa. Vygotsky considera a linguagem por
dinamizadora e organizadora do pensamento; este à medida que se torna
complexo, interfere qualitativamente na estruturação dessa linguagem.

25
Unidade i | Desenvolvimento neuropsicomotor

Figura 14. Esquema ilustrativo do pensamento e da linguagem.

Linguagem

Pensamento

Fonte: Xavier (2015).

Para Vygotsky, o claro entendimento das relações entre pensamento e língua


é necessário para que se entenda o processo de desenvolvimento intelectual.
Linguagem não é apenas uma expressão do conhecimento adquirido pela criança.
Existe uma inter-relação fundamental entre pensamento e linguagem, um
proporcionando recursos ao outro. Dessa forma, a linguagem tem papel essencial
na formação do pensamento e do caráter do indivíduo.

Embora tenha se referido mais a linguagem verbal, Vygotsky chama atenção


para a importância da escrita como forma de linguagem mais complexa e
fundamental na aquisição dos conhecimentos sistematizados pela cultura.

Na teoria cognitivista de Piaget (1961) faz-se consideração à aquisição do


conhecimento a partir da interação da criança com o ambiente. Já a perspectiva
interacionista de Vygotsky (1984) considera a aquisição da linguagem através da
troca e da comunicação estabelecida entre adultos e crianças.

Muitos teóricos costumam dividir o estágio inicial da aquisição de linguagem


em duas fases: pré-linguística e linguística. A partir dos seis meses, é sinalizado o
começo da aquisição da linguagem.

Chomsky (1928) e Del Ré (2006) trazem contribuições necessárias sobre


aquisição da linguagem.

CHOMSKY, Noam. 7. A Base Lógica da Teoria Linguística. In: Oito décadas de


linguística geral. Brill, 2013. pp. 123-236.

DEL RÉ, Alessandra et al. Aquisição da linguagem. São Paulo: Contexto, 2006.

26
INDICADORES
COMPORTAMENTAIS
DE DESENVOLVIMENTO UNIDADE II
E SEUS SINAIS DE
ALERTA

CAPÍTULO 1
Motores

Figura 15. Desenvolvimento motor de 0 a 24 meses.

Fonte: https://maemequer.sapo.pt/desenvolvimento-infantil/desenvolvimento-fase-a-fase/fases-desenvolvimento/desenvolvimento-motor/.

O termo “normal” em relação ao processo evolutivo da humanidade, como dito no


Capítulo 1, não deve estar embasado sobre juízos de valores entre são e doente,
ruim ou bom, mas como medida comparativa, avaliativa, as diversas formas de
se desenvolver. Em concordância com Foucault (1989), muito se utiliza a ideia
de normalidade para ter o domínio social, domínios esses que ficam à disposição
de certas camadas da sociedade para definir comportamentos, crenças, políticas
públicas, pensamentos considerados adequados para toda uma população – em
referência à ideia de ajuste e enquadre.

É considerável a tenuidade entre o que é normal ou não. Em algum momento, o


comportamento considerado atípico em uma fase da vida pode aparecer em uma
outra fase e se normalizar. Tudo isso para nos alertar de que, em alguns aspectos,
o desenvolvimento pode ser visto por normal ou patológico. Exemplificando, a
criança pode demorar para andar, mas, nos aspectos cognitivos, está respondendo
perfeitamente aos padrões da normalidade.

27
Unidade ii | Indicadores Comportamentais De Desenvolvimento E seus Sinais De Alerta

Figura 16. Tenuidade entre normal e o patológico.

Normal

Patológico

Fonte: Elaborado pela autora.

Dois fatores básicos dos quais o desenvolvimento motor depende são a maturação
e o ambiente.

Figura 17. Fatores básicos do desenvolvimento.

Maturação Ambiente

Fonte: Elaborado pela autora.

Maturação é um aspecto inato do desenvolvimento biológico que está relacionado


ao crescimento dos tecidos e dos órgãos. Para as crianças se locomoverem, é
preciso que os órgãos amadureçam e permitam tal ação. Tal desenvolvimento
não pode ser adiantado.

Ambiente, por sua vez, envolve todas as experiências do meio circundante


da criança. Os dois aspectos podem sofrer interferências, o ambiente pode
interferir na maturação, por exemplo, por meio de doenças que podem afetar o
crescimento, dentre outras formas.

A puerilidade é uma das etapas da vida em que ocorrem as maiores mudanças


psicológicas e físicas do corpo. Essas modificações caracterizam o desenvolvimento
infantil e o crescimento, daí uma grande necessidade de acompanhamento para
delimitar a vida da criança e suas condições de saúde, com vistas a intervir em
fatores que possam comprometer o estado de saúde saudável. Para acompanhar
o desempenho psicomotor, é necessário ter conhecimento adequado sobre o
processo dinâmico de cada fase evolutiva do desenvolvimento típico da criança e
sempre estar atento aos diferente dados de estágio evolutivo.

28
Indicadores Comportamentais De Desenvolvimento E seus Sinais De Alerta | Unidade ii

O desenvolvimento motor que foge à normalidade, ou crianças que apresentam


maiores riscos de atrasos, merecem ações especificas para que esses atrasados não
se prolonguem e venham a acometer o controle dos movimentos e a coordenação
até a vida adulta. O atraso motor frequente pode desencadear prejuízos sociais
e psicológicos, como hiperatividade, baixa autoestima, isolamento, entre outras
adversidades ao bom funcionamento da vida.

A identificação de anormalidades no desenvolvimento motor e a aquisição das


habilidades motoras são aspectos frequentemente destacados em várias pesquisas
que buscam avaliar o desenvolvimento contínuo e integral da criança. Essas
pesquisas tentam estabelecer o prognóstico e o diagnóstico de crianças que
desenvolvem algum distúrbio ou alguma dificuldade no desempenho, antecipando
a intervenção precoce necessária. Entretanto, são mais frequentes pesquisas sobre
o crescimento físico do que pesquisas referentes ao desenvolvimento.

Para Burns e MacDonald (1999), a criança pode manifestar características do


seu desenvolvimento motor em qualquer idade de acordo com as experiências,
influências e hereditariedade.

O desenvolvimento não é mensurado pela existência de uma idade absoluta


de aquisição de habilidades. Podem ocorrer diferenças na aquisição de
determinadas habilidades, e essas variações estão ligadas à singularidade de
cada indivíduo.

A observação é um dos meios básicos para acompanhar o desenvolvimento motor,


um meio para acompanhar o comportamento dos movimentos observáveis do
indivíduo e, assim, podermos obter pistas sobre os processos motores subjacentes.
Esta é mais uma explicativa para entender por que falamos de fases e estágios no
desenvolvimento. Pode-se agrupar o movimento observável em três categorias
funcionais, ao longo de todas as fases do desenvolvimento motor, conforme a
figura 18 e explicitadas nos tópicos seguintes.

Figura 18. Três categorias do movimento.

Movimento de Movimento de Movimento de


estabilidade locomoção manipulação

Fonte: Elaborado pela autora.

Quando não se observa alteração no desenvolvimento da criança, isso não é


suficiente para assegurar um prognóstico definitivo quanto à normalidade
29
Unidade ii | Indicadores Comportamentais De Desenvolvimento E seus Sinais De Alerta

(SILVA; FERREIRA, 2001). Deve-se avaliá-la anualmente para verificar a


evolução de seu desenvolvimento. Assim se confirma o perfeito desempenho
ou se observa alguma irregularidade que venha a surgir durante o período entre
uma avaliação e outra; a partir daí se estabelece a intervenção para ajustá-la
(ZILKE et al., 2009).

Em muitos casos, a identificação de problemas no desenvolvimento neurológico


ou de distúrbios de aprendizagem e de comportamento ocorre quando a criança
ingressa na escola. Portanto, recomenda-se que todas as crianças tenham
acompanhamento do seu desenvolvimento motor desde seu nascimento, a fim
de se verificarem precocemente alterações e, se necessário, realizar a intervenção
precoce. Isso evita danos futuros e a identificação tardia, já em idade escolar
(SANTOS et al., 2009).

Movimento de estabilidade
O movimento de estabilidade, como o próprio nome sugere, abrange grau de
postura ou equilíbrio. Engloba movimentos como torcer, virar, puxar, empurrar.

Movimento de locomoção

Envolve a mudança de localização do corpo em relação a um ponto fixo na


superfície. Exemplo, se locomover de um ponto a outro, rolar para frente e para
trás, saltitar, andar. Movimento de locomoção também envolve movimento de
estabilidade.

Movimento de manipulação

Também pode ser definido como combinações das três tarefas: estabilidade,
locomoção e/ou manipulação. A manipulação motora ampla envolve receber
objetos ou aplicar força neles, como lançar uma bola, correr para pegá-la ou
chutá-la.

Avaliação do desenvolvimento motor

Na avaliação do desenvolvimento motor, não se deve apenas investigar em que


idade a criança adquiriu uma habilidade. É preciso avaliar a qualidade dessas
habilidades e observar a integração e a síntese das respostas de vários testes

30
Indicadores Comportamentais De Desenvolvimento E seus Sinais De Alerta | Unidade ii

para a validação do resultado. Um comportamento isolado não é suficiente para


que se possa chegar a um diagnóstico. As crianças podem reagir de diferentes
maneiras em diferentes momentos ao enfrentar o solicitado pelo avaliador.

Tabela 3. Indicadores comportamentais e sinais de alerta.

Indicadores comportamentais Sinais de alerta


Recém-nascido (RN)
Reprodução constante de reflexos primitivos; o RN sentado Hiper ou hipotonia (redução ou perda do tono muscular),
mantém o dorso em arco. que pode indicar alguma patologia.
3 meses
Bebê já eleva a cabeça se apoiando nos antebraços, estica Pobreza de movimentos. Não tem sustentação cefálica.
as pernas e dá pontapés de forma ritmada. Inicia os apoios
nos pés.
6 meses
Faz apoio nas mãos. Eleva a cabeça e movimenta com Rigidez dos membros inferiores ao tentar sentar, revelando
frequência os membros inferiores; descoberta dos pés, leva- alertas ao sistema nervoso.
os à boca.
9 meses
Fica sentado por alguns minutos sem apoio. Fica em pé com Permanece imóvel, não se senta. Não muda de posição.
apoio. Engatinha.
12 meses
Engatinha com frequência. Bom equilíbrio sentado. Utiliza as Não aguenta o peso nas pernas, por hipotonia; não se
mãos como apoio para abaixar e se levantar. senta. Permanece imóvel e não tenta mudar de posição.
15 meses
De base alargada e rápida, inicia o domínio da marcha. Ausência de tentativa em se deslocar e explorar o
ambiente.
18 meses
Anda com facilidade, inicia corridas pequenas, atira e pega Não se põe em pé ou se apoia nas pontas dos pés, ou até
brinquedos do chão. mesmo não anda.
2 anos
Grande interesse em objetos distantes para exercitar a Pequenos passos apoiado nas pontas dos pés ou não anda.
aventura da corrida, interesse em objetos altos. Pouca movimentação dos membros.
Fonte: Elaborado pela autora.

31
CAPÍTULO 2
Sensoriais

Figura 19. Exame do olhinho: para que serve e quando é realizado.

Fonte: https://maemequer.sapo.pt/desenvolvimento-infantil/saude-infantil/exame-do-olhinho/.

São muitas condições associadas ao atraso do desenvolvimento na infância,


desde a concepção, a gravidez e o parto, passando por subnutrição, agravos
neurológicos e até paralisia cerebral. O atraso pode ser também uma condição
transitória, não sendo possível definir qual será o desfecho do desenvolvimento
da criança, o que pressupõe o acompanhamento com avaliações periódicas.

As alterações sensoriais das crianças, a exemplo das crianças com o Transtorno


do Espectro Autista, podem interferir nas atividades familiares no cotidiano,
como o comportamento das crianças nas atividades diárias, comer e rotinas
de sono; fora de casa, essas alterações podem criar problemas, por exemplo,
ao viajar e participar de eventos na comunidade. Consequentemente, as
intervenções do autismo também devem incluir estratégias específicas de
manejo de comportamentos sensoriais para melhorar as atividades diárias
familiares e a participação em eventos na comunidade.

Assim, resumimos as principais características da reatividade sensorial anormal


e suas implicações para a interpretação de vários sinais e sintomas do autismo e,
portanto, para o tratamento.

Para Gallahue (2013), é preciso fornecer ampla variedade de atividades que


exijam manipulação de objetos e coordenação olho-mão.

32
Indicadores Comportamentais De Desenvolvimento E seus Sinais De Alerta | Unidade ii

Tabela 4. Indicadores comportamentais e sinais de alerta sensoriais.

Indicadores comportamentais Sinais de alerta


Recém-nascido (RN)
O RN fica com as mãos fechadas, a visão encoberta por Bebê com olhos grandes que não seguem os movimentos
membrana, vendo apenas formas redondas e contrastes. humanos, o que é conhecido por “olho de boi”.
3 meses
O bebê já brinca com as mãos, abrindo-as e fechando-as, levam Mesmo com estímulos, o bebê não abre as mãos. Não olha
as mãos à boca. Encara rostos e objetos. Reconhecimento para sons nem rostos. Não sorri.
familiar com certa distância.
6 meses
Nessa fase, o bebê já faz pressão com as mãos. Pega objetos, Não têm interesse em olhar, não pegam objetos, podendo
manipula-o de um lado para outro. Todos os objetos são levados alertar para um déficit tanto sensorial quanto motor. Os
à boca. Enxergam claramente. bebês não reagem ao som.
9 meses
Usa o dedo para apontar. A exploração nesse momento Não explora os objetos com as mãos, não realiza pressão
está muito ligada aos dedos, como imprimir botões, apertar palmar ou movimentos motores.
cavidades. Fase em que o bebê explora o ambiente para
observar seus limites corporais.
12 meses
O grande interesse nessa fase é encontrar objetos escondidos. Um dos maiores sinais de alerta do primeiro ano de vida é
Abrir caixas, destampar vasilhas, desmontar peças. Nesse a falta de mastigação, o bebê não demonstra autonomia
momento, já enxerga de longe e de perto. Mastigação em estado ou domínio inicial em nenhum movimento, ainda que
inicial. involuntário.
15 meses
Início da definição lateral (destro ou canhoto), usando uma mão Exploração tardia (após 1 ano) dos objetos através da
com maior frequência e a outra como apoio. Gritos, mordidas, boca. Não produzem sons.
ação de arranhar, reagir de forma primitiva a sensações
desconfortáveis.
18 meses
Já tem nesse momento a definição da lateralidade, produz Pouca apresentação ou até mesmo nenhuma apresentação
rabiscos em lugares que acham interessantes, folheia páginas funcional. Presença constante do estrabismo. Fixa o olhar
de livros. Consegue beber água sem derramar. em objetos.
2 anos
Os rabiscos agora são mais elaborados e circulares, nomeia seus Não demonstra compreender o que lhe dizem. Presença de
desenhos. Tem entendimento sobre as cores. comportamentos que aparentam desinteresse.
Fonte: Elaborado pela autora.

Processamento sensorial
Estar atento às características do processamento sensorial é de extrema importância
para a análise do desenvolvimento da criança, então vejamos os motivos:

Podemos entender por processamento sensorial as respostas do indivíduo


ao meio, o que escolhemos para dedicar nossa atenção. Como exemplo, estar

33
Unidade ii | Indicadores Comportamentais De Desenvolvimento E seus Sinais De Alerta

em estado de alerta, estar concentrado numa leitura quando existem ruídos


no ambiente. Outro exemplo de processamento sensorial é a criança brincar
de estátua e logo em seguida se movimentar, podendo parar novamente ou
realizar outras atividades. São as respostas ao ambiente. Por abranger todos os
sentidos – paladar, visão, olfato, tato, audição –, o processamento sensorial é
importante para a manutenção do equilíbrio do corpo, por estar relacionado às
respostas que o corpo produz em relação ao ambiente.

34
CAPÍTULO 3
Cognitivos e linguísticos

Figura 20. Como reconhecer atraso cognitivo e social de crianças.

Fonte: https://brasil.babycenter.com/a25010085/como-reconhecer-atraso-cognitivo-e-social-de-crian%C3%A7as.

Por meio das brincadeira as crianças descobrem o mundo. O brincar é a forma


primária por intermédio da qual elas aprendem sobre seus corpos, o mundo, os
movimentos [...] O ato de brincar possibilita o crescimento, agindo como um
reforçador do desenvolvimento cognitivo, motor e afetivo.

As crianças mais novas ficam ativamente envolvidas no incremento de suas


habilidades cognitivas de várias maneiras. Esses primeiros anos são período de
desenvolvimento cognitivo importante e foram chamados por Piaget (1966) de
estágio do pensamento pré-operacional.

A autonomia é expressa por um senso crescente de independência, que pode ser


observado no prazer com que a criança responde “não” a quase todas as perguntas
diretas. Por exemplo, mesmo que queira brincar fora de casa, a criança com
frequência vai dizer “não” a um convite direto para fazê-lo. Isso pode ser visto
como expressão de novo senso de independência e como capacidade de manipular
alguns fatores do ambiente, e não como expressão de pura desobediência.

Por meio da brincadeira, a criança mais nova desenvolve uma série de capacidades
de locomoção, manipulação e estabilidade fundamentais.

Por Gallahue (2013), uma das principais características do desenvolvimento


cognitivo é a constância e acrescente capacidade de expressar ideias e pensamentos
de forma verbal.

Deve-se começar a incorporar atividades bilaterais e cruzadas, como galopar, depois


que movimentos unilaterais, como os do saltitar, estiverem bem-estabelecidos.

35
Unidade ii | Indicadores Comportamentais De Desenvolvimento E seus Sinais De Alerta

Tabela 5. Indicadores comportamentais e sinais de alerta cognitivos.

Indicadores comportamentais Sinais de alerta


Recém-nascido (RN)
Encara o rosto da mãe quando está se alimentando. Apresenta irritabilidade na dificuldade em se
manter alerta.
3 meses
Muito expressivo, a criança se comunica com corpo e rosto, antecipando Reage com muito choro ao seu próprio toque, não
movimentos quando vão toca-la. reage a aproximação humana.
6 meses
Grande interesse nas brincadeiras, chora quando elas terminam ou sorri com Os reflexos primitivos são constantes, apresenta
frequência, demonstrando gosto pelas atividades lúdicas. Imita expressões estrabismo e/ou tremores quando se tocam ou
faciais de familiares que interagem com o bebê com frequência. alguém os toca.
9 meses
Reconhece familiares. Leva alimentos à boca e demonstram grande Vocabulário vazio ou de ruídos, ou deixa de
interesse em catar as migalhas dos alimentos para comê-las. vocalizar. Apresentam soluços e se engasgam
com facilidade.
12 meses
Necessidade de fazer suas atividades de forma autônoma, segura a colher, Não segue o apontar dos pais, não brinca nem
ajuda a se vestir, se expressa com as mãos ao se despedir, imita adultos com estabelece contato, não reage ao nome, podendo
maior frequência. Gosta de interagir. estes ser sinais de alerta para possibilidade de
perturbação da empatia.
15 meses
Interage com frequência e demonstra gostar de interagir. Mostra gosto pelas Não demonstra esforço para realizar imitações,
brincadeiras, sorri para o espelho se tocando. não entende nem cumpre ordens simples.
18 meses
Momento marcado pela imitação. A criança fala com os pais, brinca da Não estabelece contatos.
mesma forma como observa os outros, reproduz gestos que observa.
2 anos
O bebê calça os sapatos, pede o que deseja, interage diretamente, sorrindo Não demonstra motivos aparentes a interação,
ou chorando. Momento da individualidade nos brinquedos e objetos de que apresenta birras, choros por objetos, permanece
gosta, para ser somente dele, assim como os familiares, demonstrando em silêncio e distantes.
pouco ou até mesmo nenhum interesse em dividir.
Fonte: Elaborado pela autora.

Linguísticos
Figura 21. Pequeno dicionário amoroso da inclusão.

Fonte: https://novaescola.org.br/conteudo/14258/pequeno-dicionario-amoroso-da-inclusao.

36
Indicadores Comportamentais De Desenvolvimento E seus Sinais De Alerta | Unidade ii

O normal desenvolvimento da fala e da linguagem depende da capacidade da


criança de ouvir, ver, compreender e lembrar. Igualmente importantes são
as aptidões oro-motoras e as de sociabilidade e interação com os seus pares.
Para a maioria das crianças, apreender a comunicar na língua materna é uma
competência adquirida naturalmente de forma sequencial através da exposição a
outros falantes.

A aquisição de competências linguísticas ocorre desde o nascimento, sendo


usual a emissão de sons roucos entre o 2o e o 4o mês de vida e sílabas simples
entre o 7o e o 9o mês (da-da, pa-pa, ma-ma); reconhecimento do próprio nome
entre o 10o e o 15o mês; produção de aproximadamente 50 palavras, mas com
compreensão de mais de 200 palavras até o 18o mês; combinação de duas ou
mais palavras entre o 18o e o 24o mês; construção de frases simples e descrição
das atividades da escola aos 3 anos.

Os atrasos na linguagem são relativamente frequentes, afetando aproximadamente


8% de todas as crianças pré-escolares, e os fatores genéticos desempenham um
papel importante nessa questão. Entre as causas mais frequentes, encontram-se
o déficit de audição, o atraso cognitivo, a prematuridade, deficit neurológico
específico, perturbações motoras da fala e fonológicas, privação social,
perturbações emocionais e ambientais, e do espectro do autismo.

Tabela 6. Indicadores comportamentais e sinais de alerta linguísticos.

Indicadores comportamentais Sinais de alerta


Recém-nascido (RN)
O RN apresenta reflexos primitivos no movimento do corpo como já foi Não esboça reação a voz.
citado. Em relação aos sons e ruídos, reage com olhar atento, tenta se
voltar para o som.
3 meses
O bebê vira a cabeça na direção do som. Disposição de sorrisos à voz da Reage com choros ao toque. Não gosta
mãe. Imitação de alguns sons. de contato ao seu corpo.
6 meses
Produção de diversos sons primitivos e aleatórios, gosta de interagir, A criança se apresenta de forma
conversar, ainda que não apresente nenhuma palavra formada. Início da silenciosa.
percepção do não, grandes reações a sons.
9 meses
Fase marcante na produção da fala, pois a criança inicia a produção das Deixa de vocalizar, apatia.
palavras (da-da, pa-pa, ma-ma).

37
Unidade ii | Indicadores Comportamentais De Desenvolvimento E seus Sinais De Alerta

Indicadores comportamentais Sinais de alerta


Recém-nascido (RN)
12 meses
Responde quando chamam seu nome. Pode reproduzir até quatro palavras, Se apresenta de forma totalmente
aplicadas com intenção. silenciosa, não responde a chamados ou
vozes.
15 meses
Interage com os pais na fala. Já participa das conversas realizando, assim, Não se expressa de forma alguma, não
uma conversa triangular; e no momento das falas, a criança olha com usa gestos.
atenção.
18 meses
Tem 4 ou 5 palavras, mas compreende muito mais e identifica objetos a Não responde àvoz. As palavras não são
pedido. Aponta para pedir e depois para mostrar, como forma de interação perceptíveis.
social. Gosta de cantar e ver livros.
2 anos
Nos seus 24 meses de vida, a criança fala seu nome. Enquanto brinca, Não apresenta falas ou ruídos. Caso
realiza pequenos diálogos, fala monólogos enquanto brinca. Junta palavras esboce algum som, são inteligíveis. Não
que expressam seus pedidos, exemplo, pai-rua (para sair), mãe-água (para imita ou reproduz o que adultos fazem, se
beber água) etc. esse momento é muito marcado também pela repetição do apresenta quieto.
que escuta.
Fonte: Elaborado pela autora.

Fator de risco biológico no atraso do desenvolvimento

São consideradas crianças com alto risco de desenvolver atrasos no processo do


desenvolvimento as crianças expostas a aspectos perinatal, pós e pré-natais.

Populações sob risco biológico têm grande possibilidade de apresentar algum


tipo de deficiência. Destacamos como alguns desses fatores o baixo peso, crianças
prematuras, mães dispostas ao uso de drogas, anomalias reprodutivas, má
formação congênita, infecções, doenças sexualmente transmissíveis, entre outras
que citaremos nas próximas páginas.

A aparição de anomalias patológicas no nascimento envolve um grupo


composto por vários distúrbios de origem pré-natal, oriundos de defeitos
como transtorno nos cromossomos, deficiências de micronutrientes, herança
multifatorial; tudo isso pode ocasionar modificações adversas na estrutura e
na funcionalidade de componentes celulares e orgânicos. Esses fatores podem
ocorrer em qualquer fase do desenvolvimento do feto. Lembrando que doenças
consideradas maternas, como a exposição à radiação, diabetes, deficiência de
vitamina D, de ácido fólico, traumas etc. têm relação com a prematuridade e
podem contribuir para alterações congênitas.

38
Indicadores Comportamentais De Desenvolvimento E seus Sinais De Alerta | Unidade ii

Alguns fatores de risco biológico são: leucomalácia periventricular (LPV), uma


lesão cerebral no lactante prematuro; hemorragia peri-intraventricular (HPIV),
lesão cerebral mais comum em bebês prematuros com baixo peso; infecção por
vírus Zika, transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, que pode causar microcefalia
no bebê durante a gravidez; síndromes causadas por herpes, toxoplasmose, sífilis,
citomegalovírus, rubéola, patógenos mais comumente relacionados às infecções
intrauterinas.

Figura 22. Alguns dos fatores de risco biológico.

Síndromes
causadas por
herpes,
toxoplasmose Leocomalácia Hemorragia Infecção pelo
sifílis periventricular peri-intraventricular Zica vírus
citomegalovírus
rubéola

Fonte: Elaborado pela autora.

Fatores de risco sociais no atraso do desenvolvimento

Aspectos biológicos, nascimento prematuro, desnutrição e outros também estão


associados também a outros a fatores de risco econômicos e sociais. Estes são
responsáveis por grande mortalidade e altos índices de crianças com atrasos no
desenvolvimento. Uma criança que sofre adversidades econômicas e sociais está
suscetível a influências negativas no desenvolver emocional, social, cognitivo,
motor e biológico.

Tais riscos estão interligados e associados diretamente à pobreza, à desigualdade


social, à ausência de políticas públicas, bem como à falta de ações preventivas,
informativos e dispositivos de saúde de apoio à família. Devido à dificuldade
no acesso a hospitais, unidades de saúde da família e em não conseguir

39
Unidade ii | Indicadores Comportamentais De Desenvolvimento E seus Sinais De Alerta

acompanhamento aos primeiros sinais de alerta no desenvolvimento do bebê, há


pouca representação estatística da relação desses fatores com o surgimento desses
sinais de alerta.

Considerando a grande interferência do aspecto econômico e das desigualdades


sociais, que configura a vulnerabilidade social, um grande fator também
determinante no âmbito saúde-doença são as fragilidades nos afetos, que envolve
a relação cuidador-filho.

À inadequada relação pais-filhos corresponde a risco familiar/ambiental. Para


melhor compreender essa afirmação, citamos as interferências que o processo
de separação conjugal podem causar nos primeiros anos de vida da criança. A
separação familiar provoca atraso no desenvolvimento neurológico e motor da
criança, junto a aparições das carências afetiva da presença materna ou paterna,
devolvida com silêncio, revolta ou apatia no ambiente social em que convive.

Fatores ambientais no atraso do desenvolvimento

São tidas por um dos fatores ambientais que mais influenciam no desenvolvimento
motor da criança: as práticas maternas. Essas práticas, por ocuparem um papel
muito importante na aquisição das habilidades motoras, para além de atuarem
como facilitadoras, atuam como estimuladoras do desenvolvimento do bebê.
Entretanto, quando os bebês são expostos a fatores de risco, como a negligência
ou práticas maternas inadequadas, surgem negativas repercussões durante o
desenvolvimento da criança.

Assim, para evitar as surpresas do surgimento de atrasos no desenvolvimento


neuropsicomotor, principalmente o motor, os cuidadores e pais, que são as
pessoas responsáveis pela realização das práticas maternas (abordaremos
melhor na Unidade IV), primeiramente devem se interessar pelas etapas do
desenvolvimento típico no início da vida e buscar informações e conhecimento
para estimular o desenvolvimento do bebê. Na percepção de qualquer atraso,
deve-se acompanhar de forma mais atenciosa tal desenvolvimento.

O fator de risco sociofamiliar não deve ser desconsiderado, esta é a variável de


risco com ativação direta à morbidade e à mortalidade perinatal. Como tido em
linhas anteriores, algumas vezes, esses fatores interagem entre si, podendo ser
considerado um único grupo de fatores de risco para o atraso no desenvolvimento
infantil.

40
Indicadores Comportamentais De Desenvolvimento E seus Sinais De Alerta | Unidade ii

É de total importância a não reprodução de estigmas e rotulações com


pessoas que apresentam suas subjetividades e diferenças no processo
do desenvolvimento. A consideração pela família, pela cultura, pelo local
onde o sujeito vive é de fundamental importância para o entendimento do
desenvolvimento da criança, suas posturas, e formas de interagir com o
mundo. Sempre bom estar atento à importância do reforço e das atividades
que estimulam o desenvolvimento infantil. Toda e qualquer atividade
requer aprendizagem; a interação é fundamental em qualquer aspecto do
desenvolvimento. Se faz necessário enxergar as patologias para além das
associações pejorativas, de anormalidade, de doenças e de estigmas.

41
DEFICIÊNCIAS E
TRANSTORNOS DO UNIDADE III
DESENVOLVIMENTO

Figura 23. Autismo: é crime dificultar ou impedir o acesso a serviços de educação e saúde às pessoas com deficiência.

Fonte: https://www.renatoroseno.com.br/noticias/autismo-e-crime-dificultar-ou-impedir-as-pessoas-com-deficiencia-o-acesso-a-servicos-
de-educacao-e-saude.

CAPÍTULO 1
Atuação fonoaudiológica nos
transtornos globais do desenvolvimento

Com os saberes da fonoaudiologia, os fonoaudiólogos podem trabalhar


diversos aspectos. Por exemplo, com um paciente com deficiência intelectual,
o fonoaudiólogo pode auxiliar trabalhando a linguagem e a comunicação, junto
com a motricidade orofacial. Com estimulação clínica, esses profissionais podem
trabalhar o processo de associação funcional do som ao significado. Algumas
crianças com transtorno intelectual podem apresentar dificuldades para engolir e
deglutir os alimentos. Os profissionais em fonoaudiologia podem atuar com uma
intervenção clínica nesses casos.

42
Deficiências E Transtornos Do Desenvolvimento | Unidade iii

Figura 24. Fonoaudiologia infantil e criatividade nos tratamentos.

Fonte: https://www.dentrodahistoria.com.br/blog/familia/desenvolvimento-infantil/fonoaudiologia-infantil-criatividade/.

Em busca de aperfeiçoar a atuação do fonoaudiólogo, vem sendo discutidos


diversos aspectos, e destacamos a seguinte pergunta: como a intervenção clínica
pode favorecer a inserção do indivíduo em sua família e na sociedade? Essa
pergunta tem bastante relevância em se tratando de pacientes com necessidades
especiais, e tal apontamento encontra-se no “Manual diagnóstico e estatístico de
transtornos mentais” (ASSOCIAÇÃO, 1994).

Distúrbio de comportamento é uma categoria definida pela American Psychiatry


Association no “Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais” –
quinta edição, o conhecido como DSM-V –, que inclui diversos quadros, entre
os quais estão o Autismo, o Transtorno Invasivo do Desenvolvimento (TID) e o
Transtorno Global do Desenvolvimento (TGD).

É avaliado nesses casos que o desenvolvimento se encontra intensamente


alterado em três principais áreas: interação social, comunicação e repertório
restrito de atividades e interesses. As manifestações clínicas nessas áreas
devem ser observadas antes do terceiro ano de vida, e o quadro não envolve,
necessariamente, todas as áreas do comportamento na mesma proporção.

Algumas pesquisas indicaram maior prevalência no gênero masculino. No entanto,


não existe consenso para esse quadro, alguns argumentos apontam para critérios
díspares frequentes, dessa forma não existe concordância entre pesquisadores da
área quanto ao que pode ser o determinante orgânico (genético e/ou hereditário)
para esse dado. (BRAGA, 2004).

43
Unidade iii | Deficiências E Transtornos Do Desenvolvimento

Quanto à atuação dos profissionais da fonoaudiologia, devemos apresentar


as dificuldades encontradas para realizar diagnóstico precoce, não só os
fonoaudiólogos, mas todos os profissionais da saúde que têm contato com
as crianças e suas famílias. Essa responsabilidade fica por inúmeras vezes com
os familiares; como disse Braga (2004), é a família quem percebe as primeiras
características do autismo ou outras síndromes e transtornos apresentados pela
criança.

Mesmo quando os pais registram determinadas queixas perante o profissional,


essas adversidades estão presentes. Entre os pontos importantes para
compreendermos esse quadro está a variedade no grau de severidade do
transtorno associado com escuta sensível para acolherem com maior cuidado
as informações e preocupações trazidas pela família da criança e, por último e
nem por isso menos importante, a capacitação contínua desses profissionais.
Com essas significativas mudanças, o sistema de saúde poderá aumentar a
porcentagem de diagnósticos antes do terceiro ano de vida da criança.

Figura 25. Consulta fonoaudiológica contínua.

Fonte: https://pestalozzi.edu.br/cursos/graduacao/fonoaudiologia/.

No Brasil, existem diversas literaturas que analisam e destacam a importância no


diagnóstico e na intervenção cada vez mais precoce nesses casos. Essas produções
também mostram experiências com resultados positivos, com abordagens
terapêuticas baseadas e sustentadas teoricamente, com crianças em quadro de
distúrbio do comportamento. Todos os esforços caminham para que no final
haja melhoras nas habilidades linguísticas, sociais e cognitivas dos pacientes,
contribuindo para a inserção social, escolar e familiar da criança.

44
Deficiências E Transtornos Do Desenvolvimento | Unidade iii

A produção de conhecimento em determinada área carece de pesquisas divulgadas


para ampliar o debate e só assim desenvolver novos métodos para melhorar as
vidas humanas. Na literatura fonoaudiológica, existem poucos trabalhos que
desenvolvam a discussão sobre a relação da linguagem com a socialização. Esses
dois componentes são intrinsecamente importantes. Eles se desenvolvem em
paralelo e mutuamente interferem um no outro. Somados a isso, o diagnóstico
e a intervenção precoce são fundamentais para que a criança seja inserida
socialmente. Como já disse Aristóteles (384-322 a.c) sobre a capacidade de quem
vive nas pólis: somente o homem é um animal político, isto é, social e cívico,
porque somente ele é dotado de linguagem. A linguagem permite ao homem
exprimir-se, e é isso que torna possível a vida social, segundo. O filósofo definiu
assim, para o homem que vive na cidade, a importante capacidade que o mantém
em sociedade: a linguagem como expressão dinâmica e criativa.

Figura 26. Processo de comunicação.

Assunto

Meio utilizado Processo de


Código
comunicação

Ambiente
espaço-temporal

Fonte: Elaborado pela autora.

Um passo importante passo que está sendo dado tem relação com a aparição
frequente na literatura científica dos profissionais da fonoaudiologia interessados
cada vez mais em aspectos subjetivos imbricados na comunicação. Isso significa
que a escuta sobre demandas e queixas trazidas pelos pacientes tem ocorrido
e gerado demanda cada vez maior, e o auxílio da psicologia tem dado bastante
suporte.

O fonoaudiólogo, por meio de entrevistas, conduz melhor o processo terapêutico


fonoaudiológico, seguindo preceitos de abordagens básicas clínicas, buscando
descobrir a melhor forma de acolhimento, compreendendo as necessidades que
atravessam a vida do paciente.
45
Unidade iii | Deficiências E Transtornos Do Desenvolvimento

Ao escolher esse método de acolhimento, inicia-se uma descoberta das necessidades


fundamentais das pessoas, seja ela criança ou adulto, prioriza a busca de si mesmo.
Acredita-se que valorizando essa parte do ser num atendimento com a mãe, há
maior probabilidade de uma relação mais rica dela com o bebê e com seus pares.
(WINNICOTT, 1983, 1999).

Sendo assim, o processo de construir-se não tem data final e é baseado por meio
das relações sociais que cada indivíduo estabelece ao longo de sua vivência. Nesse
sentido, o trabalho terapêutico baseia-se em conceber sua prática clínica com
vistas a favorecer o acontecer humano daquele que procura atendimento.

A família no processo terapêutico


A ênfase que você, estudante, percebe neste capítulo sobre a importância de
o terapeuta valorizar as características de cada família – sua origem, história
e sua herança cultural – é de como elas podem contribuir na condução das
estratégias terapêuticas fonoaudiológicas. Muitos profissionais concordam que é
imprescindível a inclusão da família no processo terapêutico, mas não existe um
consenso quanto a métodos de aplicação (SAFRA, 2004; GERTEL, 2008).

No geral, há trabalhos e pesquisas muito bons que elevam a metodologia sobre


a utilização de dados e/ou informações trazidas pela família na anamnese, na
entrevista ou em contatos periódicos, para que o terapeuta possa acompanhar
avaliando o desenvolvimento e identificando falhas no processo terapêutico,
essencialmente no que se refere às habilidades sociocomunicativas de crianças
com distúrbios do comportamento.

Importante salientar que a direção dada pelo terapeuta ao atendimento com


foco na família e suas singularidades não significa que se deve interpretar o
que foi coletado (ARANTES, 2003). Esse não é nosso trabalho, mas sim aplicar
os procedimentos técnicos fonoaudiológicos de acordo com as necessidades
da família e do paciente, e o espaço terapêutico coloca-se como facilitador de
desenvolvimento e de evolução, visando sempre ao respeito a essas formas ou
características do paciente e de seu seio familiar (TAHAN, 2005; GERTEL, 2008).

Em estudo de caso realizado pelas pesquisadoras Gertel e Maia publicado em 2010,


elas destacam, entre muitos pontos, um bastante relevante no caso apresentado
como M., a saber, a ruim propensão de minimizar comportamentos na criança,

46
Deficiências E Transtornos Do Desenvolvimento | Unidade iii

indica a necessidade de investigação da existência ou não do Transtorno Global


do Desenvolvimento (TGD). Essa atitude compartilhada por vários profissionais
da saúde e da educação (pediatra, professora e coordenadora) que acompanhavam
M. em determinada parte de sua vida – como creditar os comportamentos da
criança ao jeito dele, ou à queimadura grave que ele tem ou, ainda, ao fato de a
mãe se comunicar com ele em uma segunda língua – constitui grave entrave para
o diagnóstico precoce em crianças com distúrbio do comportamento.

Figura 27. O papel da família na vida dos filhos.

Fonte: https://bairrodeideiascentrodeestudos.wordpress.com/2020/05/15/o-papel-da-familia-na-vida-dos-filhos/.

O papel que o fonoaudiólogo desempenha no atendimento a pacientes com TGD


é importantíssimo, pois, na maioria dos casos, ele é o primeiro profissional
procurado pela família depois de ela notar que a criança está com alguma
dificuldade de comunicação e interação social. Esse primeiro notar pode partir
até mesmo de outros pares, e daí começa o processo de diagnóstico e terapia.

Segundo Winnicott (1941), se criada em torno da criança com TGD uma rede
onde ela se sinta segura e estabeleça sentimento de confiança nas experiências,
pode ocorrer então o fortalecimento das fundações do desenvolvimento
emocional, promovendo a integração corpo e mente, dando à criança a sensação de
unidade. Compreende-se que não é tarefa fácil, pois não há como envolver todas
as pessoas da escola ou do ambiente religioso, por exemplo, porque infelizmente
não há por parte das pessoas a compreensão do que seja TGD, confundindo
muitas vezes o transtorno com um simples mau comportamento infantil. No
entanto, é preciso todo esforço para garantir uma atmosfera de cuidados.

Sobre esses caminhos, o fonoaudiólogo atua como mediador entre a família e


a criança, na posição de facilitador da descoberta de oportunidades para viver
bem. É sempre bom lembrar que muitas vezes debruça-se sobre o profissional a

47
Unidade iii | Deficiências E Transtornos Do Desenvolvimento

dificuldade de aceitação das patologias, e familiares ou tutores tentam transferir


aos profissionais a obrigatoriedade na busca da cura, ou até mesmo a solução
daquilo que também pode ser visto como um problema. Não há fórmula ou
receita pronta para padronizar uma criança que foge os padrões da normalidade.

48
CAPÍTULO 2
Sintomatologia geral e específica

Figura 28. Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD).

Fonte: novaescola.org.br/conteudo/51/o-que-sao-os-transtornos-globais-do-desenvolvimento-tgd.

No capítulo anterior, apresentamos a importância clínica e terapêutica da atuação


do fonoaudiólogo em casos de TGD, entre elas, inserção familiar, compreensão
do ambiente de convívio da criança, caminhos e experiências na tentativa de
melhorar a qualidade de vida do paciente.

No Capítulo 2, iremos estudar Sintomatologia Geral e Específica, compreender


como se define a área dos sintomas em Transtornos Globais do Desenvolvimento
(TGD) quanto a conceitos e novos delineamentos dos quadros clínicos que
a compõe, a partir da publicação do “Diagnostic and Statistical Manual of Mental
Disorders” (DSM-V) – 2013. Objetiva-se também conhecer, a partir da literatura
especializada, os estudos sobre a conceituação e as características dos quadros
clínicos que compõem os Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD).

Na literatura médica, sintoma é toda e qualquer alteração do “normal” que uma


pessoa tem em seu próprio corpo, suas sensações, seu metabolismo, e pode ou
não representar o começo de doença.

Os Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD) integra categoria que


faz parte de um grupo de transtornos que têm em comum as funções do
desenvolvimento afetadas (BRASIL, 2010). Apesar de existir atenção, como
políticas educacionais que prevê trabalhos específicos para crianças com alguma
diferença intelectual, por se tratar de grupo amplo, nem todas as crianças com
TGD estão incluídas nessas políticas.

49
Unidade iii | Deficiências E Transtornos Do Desenvolvimento

Os motivos podem ser diversos, tanto que não trataremos com profundidade
neste capítulo. Mesmo diagnosticados com Autismo, síndrome do espectro
autista (Asperger), Transtorno Desintegrativo da Infância (psicose) e Transtorno
Invasivo de Desenvolvimento – sem outra especificação, alguns alunos não estão
em turmas especiais na escola nem na atenção à saúde, o que é uma preocupante
realidade.

É bastante comum conhecer os TGDs por síndrome ou simplesmente transtorno.


Pessoas que não convivem ou não trabalham com essas categorias podem nunca
saber diferenciá-las. Por isso, veremos, a seguir, uma definição básica para melhor
compreensão desses conceitos:

» Síndrome – conjunto de sintomas, não específicos de uma só doença,


que ocorre no indivíduo.

» Transtorno – conjunto de sintomas ou comportamentos que ocorrem


no transcorrer da infância, com comprometimento ou atraso no
desenvolvimento e na maturação do sistema nervoso central.

Segundo Franzin (2014), o transtorno indica uma desordem neurológica e tem


origem em anormalidades no processo cognitivo derivado de disfunção biológica.
Ele não pode ser associado, por exemplo, a resultado de traumatismo ou doença
cerebral adquirida.

Entre outros, são também denominados TGD a síndrome de Asperger e o


autismo, que apontam desvios nos campos da socialização e da comunicação.
Outros dois termos são associados a esses TGD, em inglês “pervasive developmental
disorder”, que traduzido significa transtornos invasivos do desenvolvimento e
transtornos abrangentes do desenvolvimento. O termo “pervasive” é oriundo do
latim e – talvez por isso – não há consenso na tradução, razão pela qual existem
muitas nomenclaturas. No entanto a literatura é precisa quando Mercadante e
Rosário (2009) diz sobre a similaridade apresentada por um grupo restrito de
interesses, ao nomear um conjunto de pessoas que apresentam de desvio a atraso
no desenvolver de habilidades.

Vamos ver, a seguir, com mais detalhes cada TGD que citamos acima.

50
Deficiências E Transtornos Do Desenvolvimento | Unidade iii

Autismo

É amplamente referido como grupo de transtornos com características de danos


qualitativos quanto a comunicação, interação social e comportamentos, os quais
variam em menor ou maior agravamento.

A palavra autismo é de origem grega (autós), que significa por si mesmo. Essa
nomenclatura vem sendo utilizada pela medicina psiquiátrica para conceituar
comportamentos humanos que se centralizam em si mesmos. Associados a
essa centralização estão os seguintes sintomas que Bleuler (1919) definiu como
autismo: perda de contato com o real, ou seja, criação de realidades paralelas e, por
consequência, dificuldade de comunicação e contato com o outro. São alterações
bastante significativas na vida da criança que começam a se manifestar antes do
terceiro ano de idade.

Um caso bastante interessante ocorreu em 1799. Um menino foi encontrado


por camponeses em Aveyron, na França. Como havia sido criado na floresta e
longe da sociedade, ele não adquiriu linguagem nem comportamento humanos,
vivia sem roupas e seu corpo era adaptado ao lugar onde crescerá. Apesar do
termo “autismo” não ter sido aplicado nessa oportunidade, a descrição feita pelo
médico Jean Itard, em 1799, do menino selvagem de Aveyron – retratado no
filme de François Truffaut – lembra a descrição do quadro clínico que, algum
tempo depois, Kanner diagnosticou em algumas crianças autistas.

O garoto passou a se chamar Victor Aveyron depois de um tempo convivendo


com Jean Itard e Madame Guérin, governanta que cuidava dele. A história de
Victor foi a oportunidade de se entender muito sobre socialização, papel da
cultura, da inteligência, dos instintos etc. Ele era descrito pela indiferença a
estímulos cognitivos, não demonstrava sentimentos e não tinha observação. Ele
viveu até os 40 anos sem muito sucesso em seu processo de socialização, falava
com dificuldade. Alguns pesquisadores chamam a atenção para o fato de Itard
ter oferecido somente métodos, enquanto Madame Guerin, deu afeto. O amor e
os cuidados particulares poderiam ter melhores resultados com o Victor.

51
Unidade iii | Deficiências E Transtornos Do Desenvolvimento

Figura 29. A história de Aveyron.

Fonte: https://visoessociologicas.blogspot.com/2011/02/.

Somente na década de 1940, o autismo foi apresentado por Leo Kanner –


psiquiatra austríaco, residente nos Estados Unidos – e foi descrito no artigo
Distúrbios Autísticos do Contato Afetivo (“Autistic Disturbances of Affective
Contact”, 1943). O estudo baseou-se na observação de 11 crianças, que, segundo
o autor, demonstravam comportamentos estranhos e inatos, tipificados por
estereotipias (repetição de gestos) e por outros sintomas associados a uma
grande dificuldade para estabelecer relações interpessoais.

Para Kanner (1943), o autismo é um distúrbio infantil marcado pela inabilidade


particular de construir e demonstrar ligações afetivas com outras pessoas.
Crianças com essas características tendem a desejar obsessivo isolamento,
além de terem resistência a mudanças. Alguns pais e mães relatam que suas
crianças ficam mais satisfeitas quando deixadas sozinhas, mais do que quando
acompanhadas e, quando acontecia, não interagiam e permaneciam voltados a
si mesmos.

Ainda para esse autor, o comportamento de um autista envolve falta de


consciência social, indiferença ao contato físico direto, assim como todo barulho
ou movimento que ameace atrapalhar o isolamento. É bem afligidor para elas
toda tentativa de interferência externa: o toque e a insistência em comunicação
(KANNER, 1943).

As décadas 1970 e 1980 marcam o crescente interesse da ciência pelo autismo


de forma multidisciplinar. Foram desenvolvidas pesquisas tanto nos campos
neurobiológico e cognitivo quanto psicanalítico, em países como França por
exemplo. Os pesquisadores se empenhavam em encontrar quadro descritivo
(nosográfico) adequado ao autismo a seus respectivos espectros, promovendo
grandes e importantes debates acerca desse tema.

52
Deficiências E Transtornos Do Desenvolvimento | Unidade iii

Os estudos realizados sobre o autismo até a década de 1970 não chegaram a explicar
os sintomas do transtorno, principalmente as dificuldades de relacionamento
social. Porém os caminhos percorridos contribuíram para a evolução do que hoje
sabemos e continuamos a nos aprofundar em busca do tratamento eficaz.

Vale relembrar que as alterações sensoriais das crianças (com o Transtorno do


Espectro Autista, por exemplo) no cotidiano podem interferir nas atividades
familiares, no comportamento delas ao realizar atividades diárias como comer
dormir. Fora de casa, essas alterações podem criar problemas, por exemplo,
ao viajar e participar de eventos na comunidade. Consequentemente, as
intervenções do autismo também devem incluir estratégias específicas de manejo
de comportamentos sensoriais para melhorar as atividades diárias familiares e a
participação em eventos na comunidade.

Etiologia (causa)

Uma sequência de estudos a respeito de fatores neurobiológicos (CHARDAVOIGNE,


2003) bem como genéticos (BAILEY et al., 1995; GILLBERG, 1990) tem sido
ampliada, conquistando apoio e aceitação. Como exemplo, podem-se citar as
pesquisas relacionadas aos cromossomos 2, 7, 15 com o quadro clínico do autismo
(ASHLEY-KOCH, 1999; TALEBIZADEH et al., 2002).

Entre os avanços científicos sobre o autismo, destaque-se a pesquisa realizada com


grupo de criança que constatou aumento de serotonina em plaquetas relacionado
a neurodesenvolvimento e autismo, mas ainda são muito recentes e não há muita
informação (ZAMPIROLI; SOUZA, 2012).

Sabemos que a Psicologia, Psicanálise, Neuropsicologia e Genética têm trazido


grande cooperação, mas não há, ainda, uma resposta definitiva quanto à
etiologia. O diagnóstico realizado por especialistas baseia-se em observações
de comportamento, ou seja, na observação da comunicação, da existência de
distúrbios na interação social, e nos padrões restritos de comportamento e no
interesse ou a na falta deles. Contudo, para que a equipe de saúde confirme o
diagnóstico de autismo, é necessário que haja alteração no desenvolvimento entre
os três primeiros anos, no mínimo em um dos seguintes aspectos: linguagem,
social, comunicação ou brincadeiras simbólicas.
53
Unidade iii | Deficiências E Transtornos Do Desenvolvimento

De acordo com os critérios do DSM-V (2013), as pessoas diagnosticadas com


Transtorno do Espectro Autista manifestam sintomas desde a primeira infância,
ainda que não sejam identificados precocemente. Se há algo preservado na
memória dos pares, como histórico de saúde, isso permite que o indivíduo cujos
sintomas não tenham sido plenamente identificados até a idade das demandas
sociais, tenham condições de receber diagnóstico, mesmo que tardio.

É preciso atenção ao número considerável de diagnósticos equivocados, uma vez


que a identificação se baseia em níveis comportamentais, não deve ser confundido
com as diferentes formas de ser, inclusive nos níveis de funcionamento intelectual.
A orientação para se buscar o diagnóstico segue o critério de observação da
família, de cuidadores, para que busque quando a criança, entre um ano e um ano
e meio, não desenvolve linguagem, não responde às abordagens, mas reage de
forma dramática aos sons e objetos inanimados, por exemplo, o som do aspirador
de pó ligado.

Figura 30. Etiologia.

Fator Genético

Ambiental

Bioquímico

Enfermidade médica

Fonte: Elaborado pela autora.

Síndrome de Asperger

Figura 31. Como saber se seu filho tem Asperger.

Fonte: https://planodesaude.net.br/blog/como-saber-se-seu-filho-tem-sindrome-de-asperger/.

54
Deficiências E Transtornos Do Desenvolvimento | Unidade iii

A Síndrome de Asperger é classificada como um transtorno neurobiológico, que


altera o desenvolvimento. Ele está enquadrado entre os TGD. Crianças com essa
síndrome podem apresentar inteligência normal e, particularmente, apresentarem
inteligência verbal desenvolvida mais do que a não verbal. Isso é comum porque
os sintomas são considerados leves, mesmo que não apesentem prejuízos nas
habilidades verbais como em outras diagnosticadas como autista, elas também, e
em alto grau, apresentam profundas dificuldades sociais e de semântica.

Após estudos de Kanner (1943), o médico vienense Hans Asperger (1944)


descreveu o caso de crianças atendidas na Clínica Psiquiátrica Universitária
de Viena. Asperger não conhecia o trabalho de Kanner, e, por seus próprios
resultados, constatou o autismo de forma independente. Suas observações foram
publicadas em alemão em 1944, sob o título “A psicopatia autista na infância”.
Seus estudos ficaram desconhecidos até a década de 1980, o motivo pode ter sido
a demora de suas obras serem traduzidas para outro idioma.

Teixeira (2006) afirma que o desenvolvimento inicial da criança parece normal,


contudo, no decorrer dos anos, seu discurso se torna diferente, monótono,
peculiar e há, com frequência, presença de preocupações obsessivas. É um
transtorno de múltiplas funções do psiquismo, com afetação principal nas
áreas do relacionamento interpessoal e da comunicação, embora a fala seja
relativamente normal.

A interação da criança com Síndrome de Asperger com outras crianças se


torna difícil, pois aquela demonstra pouca empatia e apresenta comportamento
excêntrico, Sua vestimenta pode se apresentar estranhamente alinhada e a
dificuldade de socialização pode torná-la solitária. É inflexível, ou seja, tem
dificuldades de lidar com mudanças. É emocionalmente vulnerável e instável,
ingênua e eminentemente carente de senso comum. Há prejuízo na coordenação
motora e na percepção visoespacial.

Frequentemente, apresenta interesses peculiares em determinadas áreas do


conhecimento, e podem passar horas assistindo ao canal da previsão do tempo na
televisão ou estudando exaustivamente sobre temas ou assuntos preferidos, como
dinossauros, Egito, carros, aviões, mapas de ruas, planetas, missões espaciais, entre
outros.

55
Unidade iii | Deficiências E Transtornos Do Desenvolvimento

Transtorno desintegrativo da infância (psicose infantil)

Figura 32. Transtorno desintegrativo da infância.

Fonte: https://amenteemaravilhosa.com.br/transtorno-desintegrativo-da-infancia/.

Este transtorno foi inicialmente retratado por Theodore, educador austríaco que
explicitou o caso de seis crianças que, após um desenvolvimento aparentemente
normal nos quatro primeiros anos de vida, apresentaram grave perda das
habilidades de interação social e comunicação.

Segundo o “Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais” (DSM-V)


da Associação Americana de Psiquiatria, o Transtorno Desintegrativo da Infância
é também conhecido como Síndrome de Heller, demência infantil ou psicose
desintegrativa.

Não se pode negar a legitimidade do DSM, porém é válido acrescentar a


importante contribuição da psicanálise no entendimento do campo psíquico. Ao
passo que o diagnóstico psiquiátrico é realizado pela observação e classificação
dos sintomas, o diagnóstico na psicanálise é desencadeado por hipóteses que se
constroem durante o processo psicanalítico, de modo que os sintomas são lidos
e traduzidos.

Esses sintomas, para a medicina, podem significar uma doença orgânica, para
os psicanalistas é a expressão de um conflito inconsciente (LIMA, 2000). “Para a
psicanálise, a causalidade no campo psíquico não opera segundo a lógica de causa
e efeito [...]”, assim, o efeito traumático acarretado é diferente para cada um dos
sujeitos, mesmo sendo um evento igual (KUPFER; VOLTOLINI, 2008, p. 96). A
psicanálise particulariza a escuta e a compreensão do sujeito, numa situação de
transferência.

56
Deficiências E Transtornos Do Desenvolvimento | Unidade iii

Transtorno invasivo do desenvolvimento – sem outra


especificação

Os Transtornos Invasivos do Desenvolvimento são um grupo de transtornos


caracterizados por importante atraso no desenvolvimento, em diferentes áreas, o
que inclui a socialização, a comunicação e o relacionamento interpessoal.

O Transtorno Invasivo do Desenvolvimento – sem outra especificação é


composto por um grupo heterogêneo de crianças com tendência a apresentar
comportamento inflexível, intolerância à mudança e explosão de raiva e birra
quando submetidas às exigências do ambiente ou, até mesmo, às mudanças de
rotina.

Essa categoria diagnóstica é utilizada (DSM-V) quando há prejuízo severo e


invasivo no desenvolvimento da interação social e são excluídas as hipóteses de
autismo, Síndrome de Asperger e Psicose Infantil.

» Autismo – Meu lindo Mundo Azul; direção Jair Oliveira – Ano 2018.

» Meu Lindo Mundo AZUL – A vida de um Autista – YouTube.

» Aspeger – Papo de Mãe/YouTube: no programa, Mariana Kotscho e


Roberta Manreza entrevistam famílias e especialistas sobre a síndrome
de Asperger ou “autismo leve”. O diagnóstico precoce do TEA, transtorno
do espectro autista, é superimportante.

» ASPERGER (ou autismo leve) | TEA | TRANSTORNO DO ESPECTRO


AUTISTA | PAPO DE MÃE - YouTube.

» Visões sociológicas: caso de Victor de Aveyron, disponível em: http://


visoessociologicas.blogspot.com/2011/02/caso-de-victor-de-aveyron.html.

57
CAPÍTULO 3
Comorbidades e causas

Figura 33. Comorbidades do autismo: epilepsia, hiperatividade e outras.

Fonte: https://superafarma.com.br/comorbidades-do-autismo-epilepsia-hiperatividade-e-outras/.

Comorbidades e causas
A palavra comorbidade reflete a junção de doenças, ou seja, uma doença pode
desencadear outras. Porque a comorbidade é a regra, se faz necessário considerar
a possibilidade de mais de um transtorno, principalmente no processo de
desenvolvimento neuropsicomotor. A figura 34 exemplifica alguns dos diversos
transtornos comórbidos no desenvolvimento neuropsicomotor classificados
pelo DSM-V. Para além dos citados anteriormente, entre eles estão TDAH e
transtornos específicos da aprendizagem etc.

Figura 34. Comorbidades nos transtornos do neurodesenvolvimento.

Transtorno do
Neurodesenvolvimento

Transtornos Transtornos de Deficiências


Motores Comunicação Intelectuais

Transtorno do Transtorno do Transtorno da


Transorno da Deficiência Atraso Global do
Desenvolvimento Movimento Comunicação
Linguagem Intelectual Desenvolvimento
da Coordenação Esteriotipado Social

Fonte: Elaborado pela autora.

58
Deficiências E Transtornos Do Desenvolvimento | Unidade iii

A taxa de comorbidade em crianças com autismo e outros transtornos tem


aumentado consideravelmente. É preciso reconhecer o fato de que certos
comportamentos, provavelmente, são por causa da presença de um transtorno
psiquiátrico comórbido. Caminhar nessa direção é importante para se pensar
ações de intervenção ou tratamento adequado.

Sabe-se no ambiente clínico que intervenções mais específicas são mais


eficazes do que as não específicas. Pensando em saúde pública, o diagnóstico de
transtornos comórbidos no autismo é uma consideração notável no planejamento
da provisão de serviços. Possíveis benefícios em pesquisa [dentre muitos] seria
fazer subgrupos de indivíduos com os mesmos transtornos comórbidos, e, ao
fazer isso, ajudar na identificação de genes que aumentam o risco de autismo.

Muitos dos instrumentos mencionados foram elaborados com a finalidade de


rastreamento. No entanto muitos não utilizaram indivíduos com autismo como
sua amostra principal e alguns podem até excluí-lo devido a características que
são inerentes ao autismo.

Consequentemente, com a variedade de critérios, as taxas/a incidência de


transtornos comórbidos em autismo também variam significativamente. Mesmo
assim, relatam-se de modo geral índices altos de transtornos comórbidos em
indivíduos com autismo.

Comorbidade psiquiátrica em crianças com autismo

Em pesquisa realizada, foi confirmada a frequência de coocorrência de autismo


com outros transtornos psiquiátricos. Das crianças que participaram, 71%
tinham ao menos um transtorno psiquiátrico [de acordo com o DSM-V] além
do autismo. Ademais, o estudo demonstra que é possível que crianças com
autismo comumente atinjam o critério não somente para um, mas para vários
transtornos psiquiátricos comórbidos.

59
Unidade iii | Deficiências E Transtornos Do Desenvolvimento

Tabela 7. Classificação.

CLASSIFICAÇÃO DO ESPECTRO AUTISTA


DSM-V CID 10 DSM-V
Transtornos Globais de Transtornos Globais de Desenvolvimentos –
Transtorno do Espectro Autista
Desenvolvimentos F84
Transtorno autista Autismo infantil – F84.0
Transtorno de Rett Autismo atípico F84.1
Transtorno Desintegrativo da Grau leve
Infância (Síndrome de Heller,
Síndrome de Rett F84.2
demência infantil, psicose
desintegrativa)
Transtorno de Asperger Outro Transtorno Desintegrativo da Infância – F84.3
Transtorno invasivo do Grau moderado
Transtorno com Hipercinesia Associada a retardo
desenvolvimento sem outra
mental e a movimentos estereotipados – F84.4
especificação TID_SOE
Síndrome de Asperger F84.5
Outros Transtornos Globais de desenvolvimento
F84.8
Grau severo
Transtornos Globais não especificados do
Desenvolvimento
(TID-SOE) F84.9
Fonte: Elaborado pela própria autora.

A prevalência atual dos TEA é de 1:160 indivíduos, número muito superior


aos registrados em décadas anteriores. Tal variação poderia suscitar a hipótese
de que haveria algo como uma epidemia de autismo, o que, naturalmente, não
procede. A explicação mais plausível para o aumento das pessoas identificadas
no espectro autista é o maior (re)conhecimento dessa condição, acima de tudo a
maior abrangência do conceito de “transtornos globais do desenvolvimento”.

As comorbidades de que trata a pesquisa são analisadas separadamente, por meio


de quatro grandes categorias, em função dos conteúdos presentes na literatura
pesquisada:

» condições físicas;

» condições mentais;

» comportamentos desafiadores;

» deficiência intelectual (DI).

60
Deficiências E Transtornos Do Desenvolvimento | Unidade iii

Segundo os autores, a investigação sobre cada uma dessas categorias está


evoluindo rapidamente. As comorbidades mais encontradas foram epilepsia,
distúrbio do sono, transtorno de atenção e hiperatividade (TDAH), ansiedade,
estereotipia, comportamento infrator e DI. Também foi encontrado, em alguns
artigos, a comorbidade da deficiência auditiva. Nos resultados, referem que DI
é a comorbidade mais encontrada, e alertam para o fato de que ela é um agravo
relevante e derivado de variados fatores causais. Além disso, lembram que a
deficiência intelectual é bastante debilitante e desafiadora aos profissionais da
saúde, que ainda não possuem respostas suficientemente eficazes na reabilitação
da gama de quadros que a configuram.

Destaco aqui duas comorbidades mais diretamente ligadas à Fonoaudiologia:


DI e deficiência auditiva. A DI foi a mais prevalente entre as comorbidades e os
transtornos de linguagem e cognição presentes na DI e em vários quadros de TEA
fazem parte do campo de atuação do fonoaudiólogo, daí também o interesse desse
tipo de estudo para a Fonoaudiologia. Do mesmo modo, o fonoaudiólogo é o
profissional responsável pela reabilitação da deficiência auditiva. Essa comorbidade
do autismo envolve a perda de uma fonte sensorial importante, sobretudo nos
períodos de socialização, aquisição e desenvolvimento da linguagem, processos
também ligados diretamente ao trabalho fonoaudiológico.

61
AVALIAÇÃO
DIAGNÓSTICA E UNIDADE IV
CLASSIFICAÇÃO

CAPÍTULO 1
Avaliação diagnóstica

Figura 35. Projeto Colmeia Literária promove círculos de leitura para crianças e idosos.

Fonte: https://ww2.uft.edu.br/index.php/ultimas-noticias/21567-projeto-colmeia-literaria-promove-circulos-de-leitura-para-criancas-e-idosos.

Avaliar é investigar! Diante das patologias, a avaliação desvenda sinais e


sintomas do paciente com alguma doença. A avaliação é também conhecida
como diagnóstico. Por conseguinte, vem o tratamento que também pode ser
chamado de acompanhamento terapêutico. É de suma importância entender
essas terminologias para a boa compreensão dos conteúdos e assuntos em torno
da saúde.

O profissional da medicina deve ser o primeiro a ser consultado para o


diagnóstico e acompanhamento dos transtornos do neurodesenvolvimento.
Em casos com adultos, deve-se procurar o neurologista ou psiquiatra; e com
crianças e adolescentes, o neuropediatra ou psiquiatra infantil.

Na avaliação médica, a investigação se dará a partir das queixas e dos relatos


dos sintomas e sinais (são as alterações fisiológicas), buscando descobrir qual a
patologia que acomete o paciente e a presença das comorbidades. O processo de
62
Avaliação Diagnóstica E Classificação | Unidade iv

diagnosticar é acompanhado de exames em suas diversas classificações (mentais,


imagens, físicos, laboratoriais), para dar seguimento a mais adequada indicação
terapêutica.

O processo de avaliação diagnóstica é uma grande necessidade na sequência do


desenvolvimento, por auxiliar na construção sistemática de uma abordagem que,
por meio da observação, pode acompanhar os progressos graduais da criança,
sem queimar nenhuma etapa do desenvolvimento. Todo esse acompanhamento
forma a base primordial de uma avaliação instrumental do desenvolvimento.

A condução desses instrumentos requer total sensibilidade e participação


direta do paciente, uma vez que o método é baseado na observação. Por ter a
estrutura baseada na observação, é possível diagnosticar atrasos e fazer alertas
no desenvolvimento da criança como um todo.

É importante frisar o que temos abordado até aqui: em qualquer fase ou idade a
criança pode apresentar de forma manifesta características do desenvolvimento
cognitivo, social, motor, variando de um sujeito a outro em razão de experiências,
vivências e hereditariedade. Não existe mensuração precisa ou regra absoluta no
momento da aquisição da habilidade, esse momento do desenvolvimento tem
ligação com a singularidade de cada ser humano.

Na avaliação do desenvolvimento motor, é preciso avaliar a qualidade das


habilidades e observar a integração e a síntese das respostas de vários testes
para a validação do resultado. A apresentação de um comportamento isolado
não é o bastante para que se possa chegar a um diagnóstico preciso sobre a
normalidade ou anormalidade de uma criança. Reafirmar é importante:

» As crianças podem reagir de diferentes maneiras, em diferentes


momentos. A avaliação do desenvolvimento neuropsicomotor de
modo proposital, estabelece análises longitudinais, exatamente por
esses fatores.

Em muitos casos, a identificação de problemas no desenvolvimento neurológico


ou de distúrbios de aprendizagem e de comportamento ocorre quando a criança
ingressa na escola. Portanto é recomendável que todas as crianças sejam
acompanhadas em seu desenvolvimento motor desde o nascimento. Reforço,
o acompanhamento nas apresentações das habilidades, essas que se iniciam de
forma primitiva e com o reforço, vão se aprimorando.

63
Unidade iv | Avaliação Diagnóstica E Classificação

Esse acompanhamento para além de multidisciplinar ou médico, inicia-se no seio


familiar a fim de se verificar de maneira precoce alterações e, se necessário, já dar
início à intervenção. Essa postura e agilidade evitam o maior comprometimento
das funções da criança.

Avaliação evolutiva

Na primeira infância é que são iniciados e estabelecidos os padrões de


comportamento, competências e aprendizagem. Qualquer interferência nessa fase
pode comprometer os estágios do desenvolvimento e causar danos irreversíveis nas
estruturas do SNC. A ciência da neurologia registra a importância dos primeiros
meses e anos de vida na constituição do sistema nervoso da criança. O cérebro
sofre mudanças severas e constate caracterizadas pela plasticidade.

A criança segue em processo dinâmico de desenvolvimento, saltando de uma


etapa da evolução para outra (figura 35), sendo que, em cada uma, encontramos
dados semióticos diferentes e com diferentes significações. Assim, podemos
entender quão necessária é a avaliação adequada a criança. É de suma importância
a caracterização do conceito de normalidade em cada etapa evolutiva. A claridade
nas informações sobre a história completa desde a gestação, a concepção, o parto
e o desenvolvimento até a idade em que se encontra no momento do exame.

A possibilidade de o exame neurológico avaliar o SN já no período neonatal


viabiliza a vigilância clínica do desenvolvimento neuropsicológico (DNP), que,
por meio de técnicas que permitem realizar medições exatas das dimensões de
um corpo, na avaliação do crescimento, tornam-se tarefas essenciais para os
profissionais encarregados da saúde da criança.

Várias avaliações do DNP têm sido recomendadas, das quais o Teste de Denver
II é o mais conhecido entre os profissionais da pediatria, pois possui boa
sensibilidade para detectar Distúrbios do Desenvolvimento Neuropsicológico
(DDNP), mas só os evidencia quando a função neurológica esperada para a
respectiva idade não se estabelece.

64
Avaliação Diagnóstica E Classificação | Unidade iv

Figura 36. Sequência do controle motor voluntário pós-natal.

Fixa olhar Firma Usa a mão Senta Caminha Controla


e sorri pescoço esfíncteres

Fonte: https://wp.ufpel.edu.br/pediatria/files/2010/08/Desenvolvimento_neurologico_2012_11.pdf.

65
CAPÍTULO 2
Enfoque multidisciplinar

Para facilitar o desenvolvimento da criança e a relação familiar, um fluxo contínuo


de mútua participação e intercâmbio de experiências são definidos com a equipe
interdisciplinar.

Com a constância nos surgimentos de patologias e os impactos gerados


pelos problemas neonatais, surgiu a necessidade de nova abordagem pelos
profissionais de saúde no que se refere ao acompanhamento do desenvolvimento
neuropsicomotor do recém-nascido de risco e investigação específica de suas
condições clínicas. Esses esforços se traduzem em uma atuação preventiva mediante
a detecção precoce de alguma anormalidade e o apropriado encaminhamento para
tratamento específico.

No Brasil, pode-se considerar recente o surgimento de programas e práticas


de cuidado ao bebê de risco. Na década de 1980, a partir da iniciativa de
alguns pediatras e neonatologistas, surgiram propostas como programas de
acompanhamento do desenvolvimento e crescimento da criança de risco.
Atualmente, o acompanhamento se dá não somente à criança, mas à família.
As famílias e seus bebês são atendidos por equipe multi e interdisciplinar para
a avaliação de muitos aspectos – saúde, condições físicas, comportamentais e
psíquicas da criança.

Tudo isso possibilita a colheita de informações que, organizadas, auxiliam no


planejamento e na implantação de tratamento eficaz. É necessário entender que
cada tratamento requer atenção focal e diferenciada. Vale lembrar-se de que,
no cuidado com outro, não cabe generalização, ainda que muitos apresentem
similaridades, cada corpo é um mundo e cada mundo é envolto em suas próprias
subjetividades. A afirmação anterior não cancela a aplicação de instrumentos
padronizados. Os instrumentos têm grande serventia na identificação dos riscos
e desvios, que servem também para a verificação e utilização na prática clínica.
As escalas e os testes de desenvolvimento auxiliam e facilitam na triagem e no
diagnóstico, como também, caso seja detectada alguma anormalidade, auxilia no
avanço do tratamento.

Pode parecer redundante frisar a cada capítulo a importância do cuidado e da


atenção individual a cada criança e sua família. No entanto, tal postura é o que
66
Avaliação Diagnóstica E Classificação | Unidade iv

torna o atendimento individualizado, dedicado e, ainda, tem relação com o


crescimento para além de profissional, mas pessoal de cada profissional da saúde,
dentro de seus saberes específicos.

O enfoque multidisciplinar na fisioterapia, requer do profissional maior


conhecimento sobre os processos de aquisições típicas no desenvolvimento da
criança, o que inclui, a postura, os reflexos, a arcada do corpo sobre flexões,
os movimentos espontâneos, a organização sensório-motora entre outras
apresentações de movimento. Diante de tudo isso e ainda de outros aspectos nos
quais a prática do fisioterapeuta está embasada, o seu papel é de fundamental
importância no tratamento e diagnóstico de desvios do desenvolvimento,
atuante no encontro e na avaliação referente a qualquer alteração no quadro de
desenvolvimento neuropsicomotor normal.

A intervenção de um profissional da fisioterapia pode auxiliar a família em como


estimular o desenvolvimento diante das especificidades apresentadas pela criança
com atraso no desenvolvimento neuropsicomotor. Promover experiências
motoras nesses casos possibilita tanto ao profissional quanto à família – e à
própria criança – a descoberta de novos caminhos a novas habilidades e ganhos
físicos que repercutirão no mental e social.

O acompanhamento multiprofissional é primordial no desenvolvimento


da criança. Principalmente por crianças acometidas por transtornos do
neurodesenvolvimento. O acompanhamento multidisciplinar nesses casos pode
auxiliar na melhora da audição, no desenvolvimento da fala, na estimulação
motora, entre outras possibilidades do apoio profissional.

Profissionais como pediatras, fonoaudiólogos, psicólogos, fisioterapeutas,


ortopedistas, pedagogos, neuropsicopedagogos e psicopedagogos, por meio
da potencialidade de seus saberes acadêmicos, promovem a multiplicação dos
saberes para além das possibilidades de melhoras nos quadros clínicos de cada
criança acometida por certo tipo de transtorno de neurodesenvolvimento e suas
especificidades. Um enfoque multidisciplinar traz maiores possibilidades de
reconhecimento, mostra como lidar com a patologia e, principalmente, como
inserir a criança com suas especificidades na sociedade.

O profissional de psicologia é aquele que se dedica a questões da subjetivação


humana, seus comportamentos, a relação e as interferências de questões da

67
Unidade iv | Avaliação Diagnóstica E Classificação

mente ao corpo. Importa salientar que numa intervenção clínica, terapêutica, o


psicólogo é psicólogo e não um profissional de uma abordagem específica. Com
essa afirmação quero dizer que, por gostar de determinada escola de psicologia,
durante o atendimento, o psicólogo se restringe somente à abordagem psicanalítica
(por exemplo). Logo, com essa escolha o profissional acaba desconsiderando a
multiplicidade dos saberes da psicologia com sua interação entre as escolas.

Os pediatras são de fundamental importância para a identificação da patologia,


uma vez que eles são os profissionais que acompanham as crianças desde
os primeiros dias de vida. Assim, no surgimento de algum transtorno do
neurodesenvolvimento, eles podem encaminhar os pacientes aos profissionais de
acordo com os saberes da medicina, podendo evitar, desse modo, a evolução do
transtorno.

As crianças que vivem em países em desenvolvimento enfrentam duplo


desafio: estão mais sujeitas a nascerem com baixo peso, por parto pré-termo
e/ou retardo de crescimento intrauterino, além de, frequentemente, viverem
em ambientes familiares desfavoráveis, onde a estimulação e o suporte social
são inadequados. Essa sequência de eventos aumenta o risco de atraso no
desenvolvimento cognitivo, físico e social.

Apesar de a maioria dos estudos sobre desenvolvimento ser realizada em


populações selecionadas de países desenvolvidos, pesquisas realizadas em países
em desenvolvimento têm mostrado importante associação entre o DNPM da
criança, seu estado nutricional e a situação socioeconômica da família.

Podemos considerar a desnutrição como um risco ao desenvolvimento


neuropsicomotor do bebê. Por isso, a importância de avaliar o estado nutricional
do bebê. Essa avaliação possibilitará a identificação de qualquer alteração na
criança, o que permitirá a intervenção precoce.

A relação do profissional com os instrumentos de avaliação deve ser próxima, isto


é, o profissional deve conhecer os instrumentos aplicados. Essa relação deve ser
baseada no melhor instrumento para o paciente e também do conhecimento do
profissional. Por falar em instrumentalização avaliativa em saúde, tocamos numa
carência no processo de avaliação brasileiro para crianças e adultos. Por usar
em geral instrumentos, escalas e testes internacionais – na maioria americanos

68
Avaliação Diagnóstica E Classificação | Unidade iv

–, as instruções e os manuais são publicados na língua inglesa. Outra questão


que reflete essa necessidade brasileira é que a aplicação de testes americanos
desconsidera a pluralidade tropical e afro-brasileira. Ainda que um instrumento
de avaliação atue na medição ou no encontro de algo, a população para a qual
foi desenvolvido o teste é completamente diferente da população brasileira. Essa
fraqueza reflete a longa discussão elitista sobre a atuação da medicina em todos
seus ramos.

69
CAPÍTULO 3
Ferramentas de avaliação
neurofuncional

As ferramentas aqui dispostas seguem a ordem cronológica de publicação


dos instrumentos. Na descrição de cada instrumento, consta as seguintes
informações: objetivo do teste ou escala, comportamentos ou itens avaliados,
faixa etária avaliada, propriedades psicométricas e limitações quanto à aplicação
do instrumento.
Apresentaremos, a seguir, instrumentos de avaliação do desenvolvimento de
crianças de zero a dois anos de idade. Considerado o mais antigo, o Teste de
Gesell foi publicado em 1947.

Teste de Gesell
O teste de Gesell é um teste de referência, envolvendo a avaliação direta e a
observação da qualidade e da integração de comportamentos. Pode ser aplicado
em crianças de 4 semanas até 36 meses de idade cronológica. As categorias de
análise dessa escala referem-se às seguintes áreas:
» comportamento adaptativo (organização e adaptação sensório-motora,
cognição);
» comportamento motor grosseiro e delicado (sustentação da cabeça,
sentar, engatinhar, andar, manipulação de objetos com as mãos);
» comportamento de linguagem (expressiva ou receptiva);

» comportamento pessoal-social (relação com o meio-ambiente).

Figura 37. Categorias de análise do teste Gesell.

Comportamento
Comportamento Comportamento Comportamento
motor delicado e
adaptativo de linguagem pessoal-social
grosseiro

Fonte: Elaborado pela própria autora.

O teste de Gesell é considerado bom, o resultado é quantitativo e expresso como


quociente de desenvolvimento (QD); dados desse resultado serão comparados
a uma escala elaborada a partir dos comportamentos padrão apresentados por
crianças em determinadas faixas etárias

70
Avaliação Diagnóstica E Classificação | Unidade iv

Escala de desenvolvimento infantil de Bayley

Criada em 1953, hoje conhecida por Bayley II que consiste em uma escala
do desenvolvimento, passou por diversas modificações. É uma avaliação
padronizada das habilidades mentais e motoras de crianças entre dois meses e
três anos de idade. A Bayley recebe o “II”, por ser a segunda edição. Essa nova
roupagem está composta de três subescalas com o objetivo de detectar atrasos
no desenvolvimento. Os principais aspectos avaliados por cada subescala são:

» subescala mental (funcionamento das capacidades sensoriais e


perceptivas);

» subescala motora (motricidade fina e ampla); e

» subescala comportamental (avaliação qualitativa da interação da criança


com objetos e pessoas).

Figura 38. Subescalas do Teste Bayley II.

Subescala Subescala Subescala


mental motora comportamental

Fonte: Elaborado pela autora.

Quanto às propriedades psicométricas da Escala Bayley II, verificou-se alta


sensibilidade (principalmente no exame de oito meses) e alta especificidade,
assim como seus valores preditivos negativo e positivo. A utilização dessa escala
no Brasil é possível, porém com limitações, pois ainda não se dispõe de validação
para nossa população e cultura. Outras limitações importantes são: a escala só
pode ser aplicada por psicólogos e o examinador deve ser cauteloso na aplicação
em bebês pré-termo.

Exame neurológico do bebê a termo

Exame elaborado por Prechtl e Beintema em 1964 com a finalidade de identificar


sinais neurológicos anormais no período neonatal. Foi o primeiro a utilizar
os cinco estados comportamentais (sono quieto, sono ativo, despertar quieto,
despertar ativo e choro) como parte integrante da avaliação neurológica do
recém-nascido a termo, mostrando a importância da sua relação com vários
reflexos do neonato.

71
Unidade iv | Avaliação Diagnóstica E Classificação

O Exame Neurológico do bebê a termo pode ser utilizado como um instrumento


clínico ou de pesquisa, sendo extenso e bastante detalhado. Deve ser utilizado
em bebês a termo (38 a 42 semanas de idade gestacional), e de preferência após
o terceiro dia de vida. A avaliação de prematuros só poderá ser realizada após a
trigésima oitava semana de idade pós-concepcional.

O padrão de exame inclui período de observação e outro de análise. É realizado


exame geral de 10 minutos para determinar se é necessária a avaliação completa
de 30 minutos com 63 itens ao total, os quais avaliam a postura, o tono, os
reflexos e os movimentos espontâneos.

Teste de Denver

Em concordância com Halpern et al., o teste de Denver é o instrumento


mais utilizado para triagem de população assintomática, pois permite fácil
treinamento e rápida administração. Foi desenvolvido por Frankenburg e
Dodds em 1967 com o objetivo de direcionar o cuidado dos adultos para as
crianças com riscos e não de diagnosticar atrasos no desenvolvimento. Seu uso
foi difundido em muitos países, sofrendo adaptações, o que incitou em revisão
e repadronização do teste, o que resultou no Teste Denver II em 1992.

O teste pode ser aplicado por vários profissionais da saúde em crianças de zero a
seis anos, classificando-as dicotomicamente em risco ou normal. Composto por
125 itens distribuídos na avaliação de quatro áreas distintas do desenvolvimento
neuropsicomotor:

» motricidade ampla;

» motricidade fina-adaptativa;

» comportamento pessoal-social;

» linguagem.

Esses itens são registrados mediante observação direta da criança e, para alguns
deles, solicita-se que a mãe informe se o filho realiza ou não determinada tarefa.

Figura 39. Motricidade avaliada pelo teste de Denver.

Motricidade Motricidade Comportamento


Linguagem
ampla fina-adaptativa social-pessoal

Fonte: Elaborado pela autora.

72
Avaliação Diagnóstica E Classificação | Unidade iv

O teste Denver II apresenta bons índices de validade e confiabilidade é, portanto,


largamente utilizado tanto em pesquisas quanto na prática clínica. Sendo que a
validade do Denver II se fundamenta na padronização e não na correlação com
outros testes, uma vez que todos os outros testes são constituídos de modos
ligeiramente diferentes, como afirma Brenneman (2002).

O teste Denver II, apesar das mudanças e adaptações desde a primeira versão,
apresenta as seguintes limitações:

» Não tem validação no Brasil.

» Oferece resultados com pouco valor prognóstico.

» Parece insuficiente para avaliar mudanças qualitativas ao longo do


tempo e detectar precocemente alterações psicomotoras sutis.

Teste de triagem sobre o desenvolvimento de Milani-


Comparetti

Em 1967, os neurologistas italianos Milani-Comparetti e Gidoni desenvolveram


o Teste Seletivo de Desenvolvimento de Milani-Comparetti. É um teste de
critério de referência, que fornece dados normativos. O objetivo do teste é
avaliar o nível funcional da criança e detectar precocemente algum atraso ou
déficit neuromotor.

Esse exame de triagem avalia o desenvolvimento motor desde o nascimento até


24 meses. Pode ser administrado de quatro a oito minutos. Observa-se tanto
comportamentos espontâneos (controle postural e padrões de movimentos ativos)
quanto respostas evocadas (reflexos primitivos, reações de endireitamento e
equilíbrio). Portanto o desenvolvimento motor é avaliado com base na correlação
entre as aquisições funcionais motoras da criança e as estruturas reflexas.

A construção do teste depende de observações objetivas além de declarações


dos pais, o que constitui em alguns casos prejuízo quanto à fidedignidade das
informações. Tal avaliação apresenta melhores resultados quando consideradas
alterações motoras.

Gráfico do desenvolvimento motor de Zdanska Brincken

Em 1969, Maria Zdanska-Brincken e Napoleon Wolanski publicaram na Polônia


um artigo que teve como objetivo avaliar o controle postural dos bebês no

73
Unidade iv | Avaliação Diagnóstica E Classificação

primeiro ano de vida como subsídio para o monitoramento do desenvolvimento


da criança. Nesse trabalho, os autores propuseram um gráfico a partir de um
estudo longitudinal, de 1960 a 1964, com 212 crianças avaliadas de 4 semanas de
idade até a marcha. Foram criadas quatro grades para detalhar as mudanças do
desenvolvimento a respeito de:

» movimentos da cabeça e do tronco;

» postura sentada;

» postura bípede;

» locomoção.

Finalmente, foi construído o gráfico do desenvolvimento motor com os objetivos


principais de:

» Obter o percentual de crianças que adquirem certos comportamentos.

» Avaliar o desenvolvimento de acordo com a idade e o grau de aceleração


ou retardo.

» Obter um gráfico final da representação total da avaliação nas áreas


analisadas.

» Identificar diferenças entre desenvolvimento motor e físico.

Inventário Portage Operacionalizado (IPO)

O objetivo do IPO é a elaboração de proposta de intervenção no ambiente natural


de crianças a partir da detecção do atraso no desenvolvimento, por meio de
treinamento específico dado aos pais, com vistas à aceleração do desempenho
dessas crianças durante a idade pré-escolar. Constitui guia de descrição de
comportamentos de crianças de zero a seis anos de idade.

O IPO é composto de 580 itens que abrangem 5 áreas do desenvolvimento


(socialização, cognição, linguagem, autocuidado e desenvolvimento motor) e
ainda inclui uma área de estimulação infantil, destinada a bebês recém-nascidos
até os quatro meses de vida. O inventário foi adaptado por duas psicólogas
brasileiras, Williams e Aiello, que traduziram o instrumento para o português
e operacionalizaram cada um dos itens, propondo-lhes definições e critérios,
especificando as condições de avaliação e descrevendo o material a ser utilizado.

74
Avaliação Diagnóstica E Classificação | Unidade iv

Figura 40. Áreas do desenvolvimento abrangentes ao IPO.

Socialização

Linguagem

Cognição

Autocuidado

Desenvolvimento motor

Fonte: Elaborado pela própria autora.

Entretanto, o guia apresenta limitações, pois deve ser usado em combinação com
escalas de desenvolvimento padronizadas, porque serve apenas como método
de avaliação não padronizado e informal. Portanto deve ser usado com cautela e
criteriosamente em estudos, realizando-se a verificação da fidedignidade para
adequada aplicação.

Escala de Avaliação do Comportamento do Neonato


(NBAS)

É um instrumento de análise do comportamento neuromotor, desenvolvido


para distinguir diferenças individuais, especialmente as relacionadas ao
comportamento social interativo, entre bebês sadios. De acordo com Brenneman
(2002), a NBAS é apropriada para testes em recém-nascidos de três dias até um
mês de idade.

O exame consiste em avaliar, analisar e graduar 28 itens comportamentais


(capacidade interativa, comportamento motor, organização do estado
comportamental e organização fisiológica) e 18 itens de reflexos, delineando,
ainda, o estado comportamental da criança.

A NBAS, portanto, avalia a relação entre o comportamento do neonato em


diferentes estados de consciência e a performance reflexa. A NBAS é um preditor
efetivo de problemas neurológicos, assim como um instrumento efetivo de
ensino aos pais sobre o manejo do bebê. Consiste em uma técnica valiosa que
serve para diferenciar características comportamentais de recém-nascidos
normais com propostos clínicos e de pesquisa.

75
Unidade iv | Avaliação Diagnóstica E Classificação

Avaliação dos Movimentos da Criança (MAI)

Figura 41. O ritmo de crescimento do bebê e as visitas ao pediatra.

Fonte: https://www.desenvolvimentodobebe.com.br/o-ritmo-de-crescimento-do-bebe-e-as-visitas-ao-pediatra/.

Tem o objetivo de identificar o lactente com risco de sofrimento e/ou lesão do


sistema nervoso central e monitorar as alterações do bebê após a realização de
intervenções, possibilitando descrever os efeitos. A MAI destina-se a avaliar o
desenvolvimento motor de crianças de até um ano de idade. A aplicação adequada
e eficiente desse exame exige examinador com experiência em desenvolvimento
infantil e com habilidades específicas no manuseio da criança.

O teste é composto por 65 itens distribuídos em 4 aspectos:

» tono;

» reflexos primitivos;

» reações automáticas; e

» movimentos voluntários eliciados.

O teste não tem escore normativo, mas foram criados perfis de desempenho para
quatro, seis e oito meses.

As limitações da MAI são:

» Não há validação no Brasil.

» Ausência de uma base psicométrica segura (baixa confiabilidade e


muitos registros falso-positivos).

76
Avaliação Diagnóstica E Classificação | Unidade iv

» Dificuldade na generalização para outras populações ou países, pois


a maioria das pesquisas com a MAI são realizadas em populações
específicas;

» É uma avaliação baseada na teoria neuromaturacional com pouca ênfase


na observação de movimentação espontânea.

» Alguns itens são testados desnecessariamente em algumas idades.

Avaliação neurológica de bebês prematuros e a termo

Figura 42. Desenvolvimento normal da criança e a importância da avaliação fisioterapêutica na neuropediatria.

Fonte: https://interfisio.com.br/desenvolvimento-normal-da-crianca-e-a-importancia-da-avaliacao- fisioterapeutica-na-neuropediatria/.

É uma avaliação neurológica e neurocomportamental formulada e elaborada por


Dubowitz em 1981. Consiste em exame sistemático e rapidamente administrado
(10 a 15 minutos), tanto para prematuros como para bebês a termo, com a
finalidade de detectar precocemente anormalidades neurológicas. Pode ser
aplicado em crianças de zero a 12 meses, pois os criadores não possuem dados de
acompanhamento por um tempo de mais de um ano.

O teste é composto de 9 itens de neurocomportamento, 15 itens que avaliam


o tônus muscular e 6 itens que verificam os reflexos primitivos e profundos.
Durante a aplicação também são acompanhadas as seis categorias do estado
comportamental. Os bebês são classificados, como normais, limítrofes ou
anormais.

Peabody Developmental Motor Scale (Escala PDMS)

De acordo com Brenneman, a escala PDMS foi desenvolvida por Folio e Fewell
entre 1969 e 1982. Revisada e atualizada em 2000, deu origem a PDMS – segunda
edição e tem como objetivo:

77
Unidade iv | Avaliação Diagnóstica E Classificação

» Identificar lactentes com atraso no desenvolvimento motor e suas


necessidades.

» Avaliar o desenvolvimento motor ao longo do tempo ou em resposta a


intervenção.

» Identificar os objetivos motores e as estratégias de intervenção.

A PDMS apresenta grande amostra de dados normativos e é padronizada para


mensurar habilidades motoras grossas e finas de crianças desde o nascimento até
cinco anos de idade. Tanto a escala motora grossa quanto a escala motora fina
podem ser administradas em 45 a 60 minutos.

No entanto a escala PDMS apresenta algumas limitações:

» Não é dada ênfase aos aspectos qualitativos do movimento que


diferenciaria os padrões de movimentos normais e anormais,

» A avaliação não fornece todos os itens necessários para a administração


da escala motora fina e a escala motora ampla, o que ameaça sua
padronização.

Avaliação neurológica do recém-nascido e do bebê

Esta avaliação foi desenvolvida em 1985 com os objetivos de avaliar o


comportamento neuromotor de bebês a termo e descrever padrões de
desenvolvimento a partir da 28ª semana de gestação até o final do primeiro ano
de vida.

O exame deve ser feito no terceiro dia de vida e no final da primeira semana,
em caso de anormalidades. A faixa etária avaliada é de 0 a 12 meses. A avaliação
inclui exame do crânio, avaliação do tônus, reflexos primários e a observação da
postura e movimento.

Os marcos do desenvolvimento e habilidades funcionais não são avaliados.


Ademais, a criança é classificada em normal, anormal ou suspeita. E quando a
anormalidade é detectada esta pode ser designada como leve, moderada ou grave.

A avaliação neurológica tem um procedimento padronizado, mas não proporciona


dados normativos. A confiabilidade entre avaliações apresenta-se disponível
apenas para os itens de tônus passivo.

78
Avaliação Diagnóstica E Classificação | Unidade iv

Medida de Função Motora Ampla (GMFM)

A GMFM foi desenvolvida em 1989 por Russel et al. com o objetivo de avaliar
a função motora ou o ponto máximo de desenvolvimento motor que a criança
é capaz de atingir. É um teste padronizado desenvolvido para quantificar a
função motora grossa de crianças portadoras de distúrbios neuromotores,
particularmente, a paralisia cerebral.

O teste é constituído de medidas observacionais as quais avaliam a função motora


em cinco dimensões:

» deitado e rolando;

» sentado;

» engatinhando e ajoelhando;

» ficando em pé e andando;

» correndo e pulando.

Considera-se importante determinar se a criança poderia completar a tarefa de


forma independente.

Os itens são agrupados no formulário de classificação pela posição do teste e


arranjos em uma sequência de desenvolvimento.

“Test of Infant Motor Performance” (TIMP)

O TIMP (Test of Infant Motor Performance) é um teste de função motora do


comportamento usado por profissionais da saúde que trabalham na intervenção
precoce de bebês. Foi idealizado por Campbell e colaboradores em 1993, para ser
aplicado em crianças pré-termo e a termo de 32 semanas pós-concepcionais até
a idade de 4 meses. Ele busca avaliar a qualidade de movimento, o controle e o
alinhamento postural, o equilíbrio e a coordenação de acordo com a evolução e
habilidades funcionais. Foi criado, portanto, com o objetivo de identificar atraso
ou déficits motores de crianças de risco e auxiliar no planejamento das metas de
intervenção nesses bebês.

A avaliação é composta de 27 itens pontuados com base na observação da


atividade espontânea do bebê em presente ou ausente e mais 25 itens eliciados

79
Unidade iv | Avaliação Diagnóstica E Classificação

avaliados pelo examinador de acordo com formato padronizado em uma escala


de cinco ou seis pontos que descrevem comportamentos específicos a serem
notados, variando de menos maduro a com resposta completa.

Os itens do teste enfatizam o desenvolvimento do controle de cabeça e tronco, o uso


de técnicas de manuseio para emissão precoce de controle postural e a observação
de comportamentos emitidos espontaneamente sem que haja estimulação do
observador. A confiabilidade e sensibilidade foram verificadas na validação e
evidenciaram excelentes resultados no terceiro mês.

Escala Motora Infantil de Alberta (AIMS)

Tem como objetivo avaliar o desenvolvimento motor amplo, ao longo do


tempo, de recém-nascidos a termo e dos pré-termos de 0 a 18 meses de idade,
identificando assim os bebês cujo desempenho motor esteja atrasado ou anormal
em relação ao grupo normativo. É medida observacional da performance motora
infantil que aborda conceitos do desenvolvimento motor, tais como:

» neuromaturação;

» perspectiva da dinâmica motora;

» avaliação da sequência do desenvolvimento motor.

Os 58 itens avaliam os padrões motores e as posturas por meio de três critérios:

» Alinhamento postural.

» Movimentos antigravitacionais;

» Superfície de contato (sustentação de peso), como visto no trabalho


de Formiga et al.

As subescalas são determinadas por cada postura: prona, supina, sentada e em pé.
A pontuação é anotada como passou/falhou. Ao final, os pontos em cada postura
são somados em uma pontuação total de itens observados.

Quanto às propriedades psicométricas, a AIMS apresenta alta confiabilidade


interobservadores (0,96-0,99) e de teste-reteste (0,86-0,99): a sensibilidade
varia de 77,3 a 86,4% aos 4 meses, a especificidade é de 65,5% aos 8 meses e
32,5% após os 8 meses. É um teste de critério de referência, com classificação

80
Avaliação Diagnóstica E Classificação | Unidade iv

percentual normatizada para permitir a determinação de onde o indivíduo se


encontra em uma medida de habilidade ou traço comparado com aqueles do
grupo referente. Porém, o uso da classificação percentil deve ser feito com
cautela, pois uma pequena mudança na pontuação bruta pode resultar em
grande mudança no percentil da classificação. Cumpre ressaltar que a AIMS
ainda não foi traduzida oficialmente para a língua portuguesa e padronizada
para a população de bebês brasileiros.

Neurobehavioral Assessment of the Preterm Infant


(NAPI)

Figura 43. Sobre o temperamento do bebê.

Fonte: https://www.sobrematernidade.com.br/teste-descubra-o-temperamento-do-seu-bebe/.

A Avaliação Neurocomportamental do Bebê Pré-Termo (traduzida do inglês


“Neurobehavioral Assessment of the Preterm Infant”) foi criada por um grupo de
pesquisadores das áreas médica, psicológica e fisioterápica e se destina a avaliar
a maturidade e o comportamento do bebê com idade gestacional de 32 a 40
semanas. A avaliação completa envolve 71 itens, incluindo-se a observação do
lactente em relação aos seguintes aspectos:

» estado comportamental;

» tônus muscular e força;

» movimentação espontânea;

» orientação a estímulo visual e auditivo;

» qualidade do choro da criança;

» sinais fisiológicos do bebê (coloração, padrão de choro, presença de


apneia).

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Unidade iv | Avaliação Diagnóstica E Classificação

O NAPI apresenta bons índices de confiabilidade. Os autores verificaram


que os bebês que apresentaram características clínicas graves na avaliação
do Índice Médico Neonatal tiveram baixos escores quando avaliados pelo
NAPI, especialmente nos itens que requerem da criança força e vigor, como
desenvolvimento motor e força, irritabilidade e intensidade do choro.

Entrevista com os pais ou cuidadores

Figura 44. Incluindo alunos com síndrome de Down na escola.

Fonte: https://institutoinclusaobrasil.com.br/incluindo-alunos-com-sindrome-de-down-na-escola/.

O momento de aceitação do diagnóstico tem sido apontado como extremamente


difícil para a família. Entender as limitações e todas as implicações do processo
impactou negativamente, na maioria dos relatos. Essa aceitação traz para os
cuidadores a liberdade de compartilhar com outras pessoas sobre o assunto e
descobrir que outras famílias enfrentam dificuldades semelhantes. Isso facilita
na descoberta e na aceitação dessa nova condição de vida, o que pode ser
comprovado nos relatos a seguir:

São nítidas as implicações do processo de descoberta da doença pelos familiares


e cuidadores, podendo ser percebido nos primeiros meses da criança. É uma
fase de tentativa de descoberta do transtorno, em que todos foram em busca
de respostas para características desiguais, de crianças tidas como típicas,
fazendo com que já de imediato desconfiassem de possível diagnostico de
TEA. Todavia, percebe-se que não foi simples assim o processo de ida aos
neuropediatras, pois, para o diagnóstico ser fechado, leva-se um longo período e
descarta-se outros distúrbios e diagnósticos possíveis.

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Avaliação Diagnóstica E Classificação | Unidade iv

Os familiares de criança com TEA acabam despertando habilidade para detectar


os sintomas característicos do autismo, mesmo sem o diagnóstico fechado, o que
faz com que o familiar seja encorajado a buscar a concretude do diagnóstico e
dar início aos tratamentos adequados, os quais atendam a demanda da criança e
proporcionem a ela qualidade de vida (EBERT; LORENZINI; SILVA, 2015).

Os familiares, diante do diagnóstico de TEA, vivenciam diversos sentimentos,


pois, muitas vezes, o sonho do filho esperado é interrompido pelo diagnóstico,
o que pode os levar a um desequilíbrio emocional e os fazer experimentar
sentimentos negativos como vergonha, revolta, raiva, insegurança, medo e culpa
– sentimentos caracterizados como a fase do luto pós-descoberta (KIQUIO;
GOMES, 2018). Quando se encontra no âmbito familiar uma criança com
TEA, surge um aumento dos níveis de estresse dos cuidadores, ocasionando
perturbação na dinâmica familiar (GALVÃO; LEONARDO, 2016).

Quando o familiar se depara com um diagnóstico de TEA, a deficiência dessa


criança se torna um fator de grande potencial para o desenvolvimento da
família, uma vez que terão que se adaptar e fazer mudanças no cotidiano de
vida: mudanças longas, dolorosas e estressantes (PIZARRO, 2001).

Romper vínculos sociais e familiares faz parte do período de adaptação da família


à realidade do autismo. O enfrentamento da nova realidade requer exceções
às regras e valores sociais rotineiros. Os familiares cuidadores passam a viver
nova realidade, que exige saída da rotina normal para fazer parte de uma nova
rotina, de um novo pensar e de um agir fora dos padrões impostos socialmente
(SPROVIERI; ASSUNÇÃO, 2000).

O comportamento das crianças em seu processo de desenvolvimento apresenta


ações peculiares que as diferenciam das outras crianças, por exemplo, dar função
aos brinquedos de forma atípica ou pelo simples fato de não ter contato visual,
gerando preocupação em torno dos cuidadores, os quais se veem em busca de
resposta para esses comportamentos inadequados que causam desconforto, o que
leva o familiar à uma busca incessante de resposta (MAPELLI et al., 2018).

Diante da nova realidade de vida familiar, surge a necessidade de busca por


informações, o desejo de ampliar os conhecimentos acerca do assunto, o momento
de troca de experiências com pessoas que já passaram ou passam por momentos
semelhantes, o que dá início ao processo de nova vinculação social, pois os

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Unidade iv | Avaliação Diagnóstica E Classificação

círculos de amizades já são outros. É momento de buscar tratamentos que irão


auxiliar na adequação de rotina de vida. É nesse momento que imaginam como
e quais serão as dificuldades daqui pra frente, e quando se deparam com a cruel
realidade se sentem desamparados.

Junto com essa nova realidade de vida da família com uma criança com TEA,
vem o processo de fragilidade social, em que aqueles que se denominavam
amigos já não convidam mais para festas, e ambientes reservados já não se
enquadram mais para a sua família; espaços públicos não são adequados, sem
contar a busca incessante pelos direitos e pela inclusão.

Cuidadores e as demandas

Figura 45. Tudo para escolher bem o pediatra do seu bebê.

Fonte: https://blog.kidsbrasil.com.br/tudo-para-escolher-bem-o-pediatra-do-seu-bebe/.

Como experienciamos no decorrer da pesquisa, a demanda de cuidados voltados


para a criança com TEA exige um comprometimento integral de seu cuidador.
Se adequar às necessidades e à rotina da criança, é necessário, mas não é tarefa
fácil. O cansaço físico e psicológico é muito grande, na maioria das vezes,
abrir mão de uma carreira profissional, por exemplo, é a primeira decisão a
ser tomada. Algumas adequações podem facilitar a vida, fazendo com que, de
forma prática, a criança tenha os cuidados necessários para se desenvolver e o
cuidador tenha qualidade de vida.

Hábitos simples como alimentação, organização, higiene dentro do ambiente


familiar tornam-se um desafio diário, pois, para que esses hábitos passem a
integrar a vida de uma criança com TEA, é necessário muita insistência, isto
é, repetir várias vezes, adotar estratégias que facilitem a memorização, que

84
Avaliação Diagnóstica E Classificação | Unidade iv

possibilitem o diálogo e a comunicação, seja ela verbal ou não verbal, hábitos de


locomoção: tudo requer atenção diferenciada e grande persistência.

O cuidador tem papel fundamental no desenvolvimento da criança com TEA,


a qual necessita de auxílio especializado – fisioterapeutas, fonoaudiólogos,
psicólogos, entre outros profissionais que irão integrar a vida da família para a
promoção do desenvolvimento da criança. Para tanto, os cuidadores precisam
de grande dispêndio de tempo para o acompanhamento da criança em atividades
terapêuticas, pedagógicas, escolas, centros especializados e ainda para atender às
necessidades da família e da criança com TEA.

Avaliando a sobrecarga dos cuidadores por meio de seus relatos, é possível


entender o real impacto causado em suas vidas, e que os cuidados especiais
que demandam a criança com TEA merecem, por parte dos profissionais de
saúde e da educação, atenção particular, com orientações adequadas e suporte
individualizado, o que pode promover ou resgatar a qualidade de vida desses
cuidadores. (MISQUIATTI, et al. 2015)

O adoecimento dos pais ou cuidadores de crianças com TEA pode estar relacionado
com o isolamento social que a família acaba desenvolvendo. Esse adoecimento
pode ser físico, mental e em razão dos afetos negativos que a sociedade transmite
a esses cuidadores apontando, muitas vezes, essas crianças como incapazes. Isso
leva a família a um grande enfrentamento dos preconceitos por meio da superação
bem como ao desgaste e à sobrecarga em busca de autonomia e independência
dessas crianças, custe o preço que custar (DIAS, 2017).

Caminhos e desafios

Figura 46. Família Oliveira Guedes.

Fonte: https://empathiae.org/familia-oliveira-guedes/.

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Unidade iv | Avaliação Diagnóstica E Classificação

Uma das condições ambientais que mais influenciam no Desenvolvimento


Motor (DM) são as práticas maternas/parenterais no cuidado das crianças,
principalmente nos primeiros meses de vida (SANTOS; GABBARD;
GONÇALVES, 2001; MAJNEMER; BARR, 2005). Essas ações exercem papel
importante no ambiente familiar e no desenvolvimento de prematuros, atuando
não apenas como facilitadoras, mas como promotoras do desenvolvimento
infantil, em especial o motor (LINHARES, 2003; FORMIGA; PEDRAZZANI;
TUDELA, 2010).

Com isso, uma vez estabelecido o diagnóstico de atraso do desenvolvimento


neuropsicomotor ou constatado o estabelecimento de fator de risco, profissionais
de saúde devem se aliar aos familiares para potencializar o programa de EMP
(BRAGA et al., 2010; ANDERSON et al., 2001).

A força tarefa de cuidar de uma criança com fatores de riscos potenciais


gera sobrecarga de trabalho e, à medida que a criança cresce, conforme o
desenvolvimento acontece, a família precisa ir mudando as estratégias e se
adaptando às novas demandas (BRASIL, 2016a).

Nesse sentido, em especial nos casos de crianças de risco, os familiares precisam


ser inseridos em redes e ações de apoio de programas de EMP (BRASIL, 2016a),
visto que são fundamentais para a assistência à família, diminuindo a ansiedade,
o estresse e outros sentimentos. Nesses programas, a família tem o suporte da
equipe para lidar com sua criança, para qualificar as interações que sejam mais
sincrônicas e recíprocas (PEREIRA et al., 2014), para acompanhar, estimular e
perceber precocemente qualquer atraso, alteração ou desvio no DM, podendo
agir de forma educativa, preventiva e interventiva (CARVALHO; BARRETO,
2011).

Ao contrário de algumas especulações entre os profissionais, a capacitação


da família quanto à estimulação domiciliar não significa transformá-la em
terapeuta, mas encorajá-la e empoderá-la com conhecimento para que seja capaz
de enriquecer as interações e o contexto, tornando o ambiente familiar favorável
para a aquisição das habilidades motoras, cognitivas e de linguagem (BRASIL,
2016b).

Além do empoderamento da família no que se refere aos conhecimentos básicos


da condição de saúde da criança, é necessário que os profissionais da equipe

86
Avaliação Diagnóstica E Classificação | Unidade iv

proporcionem às famílias apoio psicossocial sempre que necessário, acolhendo


angústias, dúvidas e medos por meio de escuta qualificada (BRASIL, 2016a).

Em razão de serem tidas como frágeis e indefesas devido ao transtorno incurável,


deve ser ainda maior a dedicação dos familiares/cuidadores em tornar suas
crianças independentes para conquistarem espaço na sociedade.

Classificação

Figura 47. Neurodesenvolvimento infantil.

Fonte: https://neurologistainfantil.com/neurodesenvolvimento-infantil/.

Os transtornos de neurodesenvolvimento abrangem mudanças dos processos


primários do desenvolvimento cerebral e seguem presentes ao longo da
vida. Originados no período gestacional ou na infância, os transtornos do
neurodesenvolvimento englobam déficits nas habilidades de comunicação e
interação social, e podem causar de deficiências intelectuais a transtornos motores.

Não apenas fatores genéticos podem favorecer a ocorrência dos transtornos,


fatores ambientais durante a gestação também, tais como: exposição a estresse,
toxinas, determinados medicamentos, prejuízos no período perinatal, baixo peso
ao nascimento e prematuridade.

Autismo infantil

Apesar dos primeiros sinais do Transtorno do Espectro Autista (TEA) se


apresentarem antes dos três anos de idade, um diagnóstico seguro e preciso deve
ser feito a partir dessa idade, para não haver o risco de identificação equivocada
(o chamado falso-positivo), quando esses riscos são menores. Na 10ª edição
da Classificação Estatística de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde, da
Organização Mundial da Saúde (CID-10/F84 OMS), e na 4ª edição do Manual
87
Unidade iv | Avaliação Diagnóstica E Classificação

Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSNAPA), o grupo dos


“Transtornos Invasivos (ou globais) de Desenvolvimento” abrangem as seguintes
categorias diagnósticas, a seguir, relacionadas (BRASIL, 2015).

Prevalente, em sua maioria, em meninos (quatro meninos pra uma menina),


manifesta-se antes dos três anos de idade. Os critérios de diagnóstico atuais são:

» Interação social recíproca: a criança com interação social recíproca


evita o contato visual e o contato físico; quase nunca demonstra
iniciativa para se aproximar das outras pessoas; prefere se manter
isolada nos momentos de interação social e não responde pelo próprio
nome. Pode acontecer casos em que a criança cria vínculo social
com determinadas pessoas, podendo ser elas pai, mãe, babá ou, até
mesmo, o irmão; esse vínculo pode se tornar exagerado fazendo com
que o afastamento desse contato cause transtorno a criança (BRASIL,
2015).

» Comunicação verbal e não verbal: fazem parte das comunicações


verbais e não verbais práticas da linguagem e expressões faciais ou
gestos pretendendo a comunicação; ausentes as habilidades de ecolalia
ou prejudicadas. O aparecimento da fala pode ficar atrasado na maioria
das crianças ou nem mesmo chegam a desenvolver fala funcional,
somente proferem ou sussurram poucas palavras. Assim, se a fala
não aparece até os cinco anos de idade, muito provável que isso não
ocorra mais tarde. Quando desenvolvem a fala, costumam não usar a
primeira pessoa “eu”, citando a si mesma na terceira pessoa. A repetição
involuntária de frases e palavras é comum e fora do contexto, como
diálogos de desenhos animados ou comerciais de TV (BRASIL, 2015).

» Repertório de interesses e atividades: é individual e inalterável. Com


jogos e brincadeiras de imitações, por exemplo, estão geralmente
retirados. Essas crianças têm o interesse focado a um objeto ou
uma atividade específica, podendo ter apego e manejo do objeto
selecionado, que pode não ser um brinquedo e parece não ser
usado simbolicamente. Ocorre preocupação com a manutenção de
rotinas, rituais e ordenação de brinquedos ou qualquer outro objeto,
ocorrendo angústia se algo se altera. Crianças mais graves conseguem
ter vocalizações e movimentos corporais repetitivos, como balançar
o tronco da cabeça, girar o corpo, bater palmas (BRASIL, 2015).

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Avaliação Diagnóstica E Classificação | Unidade iv

Síndrome de Asperger

Assim denominada em homenagem à descrição feita por Hans Asperger em 1944.


Trata-se de transtorno neurobiológico e de neurodesenvolvimento, de acordo
com o “Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais” (DSM-V). São
crianças com características autistas – salvo quanto à linguagem, esta é presente
–, seguidas por bom nível cognitivo. Crianças com essa síndrome usam o modo
de falar orgulhosa ou com entonação de um adulto, conseguindo usar palavras
aprimoradas e insistir em assuntos específicos e particulares sem perceber se o
interlocutor está empenhado em escutá-las (BRASIL, 2015).

Por saberem as delicadezas táticas na comunicação, essas crianças têm pouco


senso de humor ou interpretação restrita do que escutam. Não têm jeito para
o contato social, necessitando de empatia, o que as leva a preferir atividades
isoladas. Podem ainda apresentar apego e interesse por algumas figuras que
comumente são familiares (BRASIL, 2015).

Nos últimos anos, o diagnóstico da síndrome de Asperger teve aumento


considerável. Na antiguidade, esses indivíduos eram considerados apenas pessoas
estranhas, que demonstravam evitar contato social, muitas vezes, com algumas
habilidades específicas muito bem desenvolvidas. Hoje, com a visibilidade da
síndrome provocada pelo aumento do diagnóstico, já se nota efeitos diferentes,
como o caso da organização dos portadores adolescentes ou adultos, que se
autodenominam “Aspies”, requerendo que não sejam tratados como portadores
de uma patologia, e sim com organização mental e cerebral diferente (BRASIL,
2015).

Transtorno desintegrativo

O transtorno desintegrativo retrata a exceção de que no autismo, geralmente,


há alguns sinais antes dos três anos de idade. O transtorno demonstra que existe
o desenvolvimento normal da criança até dois ou mesmo seis anos de idade,
com perda definitiva e rápida, no decorrer de alguns meses, das habilidades já
adquiridas como da fala, da brincadeira, da interação social e de sua autonomia
associada a maneirismos e estereotipias motoras, não conseguindo mais ter
controle da urina e das fezes. Como consequência, tem-se um misto quadro de
autismo e retardo mental (BRASIL, 2015).

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Unidade iv | Avaliação Diagnóstica E Classificação

Autismo atípico

Esse tipo de autismo é reservado para indivíduos portadores do espectro autista,


no qual não é possível expor a presença de prejuízos nas três áreas de destaque
quanto ao diagnóstico de autismo, sendo essas áreas as relacionadas à interação
social recíproca, à comunicação verbal e não verbal e ao repertório de interesses
e atividades ou nos casos em que o início do quadro ocorre após os três anos de
idade.

Diversas vezes, refere-se a pessoas com retardo mental significativo, apresentando


aspectos autistas. Recebe nomeação pelo DSM-IV de transtorno global do
desenvolvimento sem outra especificação (BRASIL, 2015).

Síndrome de Rett

Tem causa genética definida por mutação no gene MECP2, localizado no


cromossomo X, sendo nos últimos tempos estudada como categoria específica,
sem o espectro do autismo, apesar de próxima a ele. Essa síndrome ocorre em
meninas e é assim denominada em homenagem ao médico austríaco Anares Rett.

A criança pode ter desenvolvimento normal dos 7 aos 24 meses. Em consecutivo,


há perda dos movimentos voluntários das mãos, estereotipias manuais, das
quais a mais comum é o movimento repetitivo de lavagem das mãos, com os
braços flexionados e as mãos se esfregando na altura do tórax, risos que não são
provocados, hiperventilação e diminuição do crescimento do crânio.

Lentamente, o prejuízo motor vai alcançando o tronco e os membros


inferiores, gerando no paciente a incapacidade de andar, isso por volta do fim
da adolescência, levando ao óbito antes dos 30 anos de idade. Essa síndrome
apresenta características autistas, mas a paciente sustenta certo grau de contato
social e visual (BRASIL, 2015).

Pesquisas afirmam que crianças do sexo masculino são mais frequentemente


acometidas por transtornos de neurodesenvolvimento, mas podem ocorrer
também em meninas.

90
REFERÊNCIAS

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