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Português 11º ano

Betty Fernandes
2020-2021
Índice
Apontamento de Aula/ Gramática………………………………………………………………………………………………………………………1
Tipos de Autores…………………………………………………………………………………………………………………………………………….1

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Apontamentos de Aula/Gramática:
Processos fonológicos:
Tipos de Autores: Inserção de segmentos (+ PEP):
 Autor autodiegético- conta a sua própria  Prótese- inicio
história; -stare > estar
 Autor homodiegénico- conta uma história onde  Epêntese- meio
aparece, mas não como personagem principal; -humile> humilde
 Autor heterodiegético- conta uma história e  Paragoge- fim
não faz parte dela -ante> antes
Supressão de segmentos (- ASA):
 Aférese -início
Analise das palavras: -avantagem> vantagem
 Síncope- meio
-Auto – o próprio; -opera> obra
-Hemo- semelhante/igual;  Apócope – fim
-salutem > saúde
-Hetero- a outra pessoa
-Diegético-história Alteração de segmentos:
 Vocalização- Transformação de uma consoante numa
Idade Média- Classicismo (Renascimento)- Barroco- vogal.
Romantismo- Realismo -delectare> deleitar
 Classicismo (Renascimento)- os clássicos
sentiam-se aprisionados às regras; Camões- -Análise sintática: ver como as palavras estão colocadas
regras restritas; na frase e que função desempenham;
 Barroco: a beleza vem em 1ºlugar; exagero na -Análise morfológica: onde a palavra se encontra.
estética e adjetivações; Sermão- seduz através
das alegorias e metáforas;
 Romantismo- o individuo quer paz, libertando aAnalise
alma; de palavras:
Poesia- menos figuras de estilo e menos rimas. -docere- Ensinar (conduzir alguém a algum lado);
-Docente:
Recursos expressivos: -ente- aquele que.
Figuras semânticas ou de pensamento: Ex: estudante – aquele que estuda;
 Alegoria- expressão de uma ideia abstrata através Lente- aquele que lê;
da sua materialização. Amante- aquele que ama;
 Antítese- apresentação de uma ideia através do -Amante- sofreu uma evolução semântica porque amar
contraste entre 2 entidades. estava normalmente fora do casamento quebrando a
 Apóstrofe- interpelação de uma entidade com palavra de Deus.
recurso ao vocativo.
Figuras de sintaxe:
 Anáfora- Repetição de 1 ou mais palavras no inicio
de versos/frases, para intensificar a ideia por ela
(s) expressa.
 Paralelismo- repetição de uma
frase/ideia/construção frásica.
 Interrogação retórica- enunciação de uma
pergunta para enfatizar o assunto e não para
obter uma resposta
 Metáfora: aproximação de 2
conceitos/realidades, que partilham entre si
uma mesma característica. Ex: “bicho da terra
tão pequeno”3 (=Homem);
Textos argumentativos/expositivo
Texto que expressa uma opinião ou tese
fundamentada por diversos argumentos sólidos e
válidos: Sermão de Santo António aos Peixes.

Estrutura:
 Introdução/Tese – apresentação clara da
ideia/opinião que se quer defender
 Desenvolvimento/Corpo argumentativo –
apresentação das razões que justificam e
sustentam a tese.
 Conclusão – demonstração clara da tese
defendida.

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Sermão de Santo António aos Peixes
Antes de regressar a Lisboa, lança O Sermão de Santo
O século XVII é uma época de grandes crises a nível António, denunciando os comportamentos corruptos
europeu e nas terras colonizadas: dos colonos do Maranhão.
 Europa- tempo de crise generalizada; poder
da Inquisição; lutas religiosas. Não sendo bem aceite em Portugal nem no Brasil parte
 Portugal- progressivo aumento do poder da para Itália e morre aos 89 anos cego e quase surdo, mas
Inquisição. isso não o impedira de escrever os seus sermões.
 Brasil- Exploração dos Índios brasileiros,
vítimas de ganância por parte dos colonos  Objetivos da eloquência (docere, delectare,
brancos; obtenção de medidas favoráveis aos movere)
jesuítas e aos Índios.
O objetivo principal do sermão é levar os fiéis a
O final do século XVI foi marcado, a nível religioso, reconhecerem os seus erros e a alterarem os
pela reação violenta da Igreja Católica à Reforma comportamentos.
Protestante.
Deu-se o aparecimento de um fulgurante estilo Objetivos do Sermão:
arquitetónico destinado a impressionar os católicos  Docere (educar/ensinar) - conseguida através de
indecisos, o Barroco- a arte barroca está ao serviço citações bíblicas e de autores da Igreja ou de
dos ritos da Igreja. obras clássicas: Fazer a “divulgação do Evangelho”
As Igrejas tornam-se assim locais de fausto e de luxo, e expor “alguns conceitos doutrinais”.
ricamente ornadas.  Delectare (agradar)- Fascinar, dar prazer-
A arte Barroca é conhecida pela elegância e exagero. concretizado através de um discurso ricos em
recursos expressivos (alegoria, metáfora,
comparação, antítese, enumeração, gradação,
 Biografia da vida de Padre António Vieira: interjeição);
 Movere (persuadir, levar à adoção de
Padre António Vieira nasceu em Lisboa tendo ido determinados comportamentos) - função critica e
para o Brasil, com os pais, aos 6 anos de idade, onde moralizada, baseada na argumentação bem
ser tornou o “pai grande” dos Índios, definiu este construída, recorrendo a elementos de
povo como difícil e defendeu os seus direitos. autoridade, como exemplos bíblicos, e um
O contato direto com os Índios nos sertões discurso apelativo, repleto de recursos como a
brasileiros e o seu fundamentado conhecimento apóstrofe, interrogação retórica e frases
proporcionaram-se uma nova visão do ser humano, exclamativas e imperativas.
que determinará a sua ação empenhada na defesa
dos direitos dos índios e que lhe trará muitos Padre António Vieira vai censurar o comportamento
desgostos com os colonos. dos colonos portugueses no Maranhão e defender os
Aprendeu a ler e a escrever no Colégio do Jesuítas e direitos dos Índios.
em 1633 estreou o Pulpito.
Tornou-se conselheiro do rei D.João V e aos 73 anos
ficou livre da Aquisição.
Foi um homem muito culto, escrevendo 200 sermões
e 500 cantos e gostava muito de viajar, explorando
diversos países da Europa.

Inquisição- rupo de instituições dentro do sistema


jurídico da Igreja Católica Romana cujo objetivo era
combater a heresia,
5 blasfémia, bruxaria e costumes
considerados desviantes.
seus pecados expostos, optou por pregar aos peixes, que
A critica social é feita através de uma alegoria,o escutaram, dando origem a um dos seus milagres.
recorrendo ao exemplo de Santo António, que face à Vieira dirige, alegoricamente, o seu sermão aos
revolta dos habitantes de Itália, que não queriam ver os peixes, servindo-se dos seus defeitos e virtudes para
denunciar os pecados dos homens.

Hino de louvor a Deus (repetição anafórica “Louvai


Estrutura do Sermão a Deus”)

 Exórdio (Introdução)- apresentação/introdução do


tema e captação da atenção do publico do ponto de
vista do pregador e da forma como irá defendê-lo.
-Capítulo I;
-Conteúdo Temático:
Conceito predicável “Vois estis sal Terrae” (Vós sois o
sal da terra)
Exploração do tema a partir da metáfora do sal.
Elogio de Santo António como modelo a seguir. Análise do conceito predicável
Invocação à Virgem Maria no final do capítulo “Ave
Maria” - introdução de uma figura divina
Vos estis sal terae
 Exposição e Confirmação (Desenvolvimento)-
Apresentação pormenorizada da matéria a desenvolver Vos sois o sal da Terra:
e defesa da tese através de argumentos inquestionáveis.  Vós- pregadores, função: louvar o bem e impedir o
-Exposição- expõem o assunto do Sermão; mal;
-Capítulo II: louvores aos peixes em geral;  Sal- doutrina, função: evitar a corrupção e conservar
-Capítulo IV: repreensões aos peixes em geral: a mensagem bíblica;
denuncia de casos de antropofagia social;  Terral- homens (auditório).
-Confirmação- Apresentar “considerações morais
destinadas a comover os presentes e a fazer nascer O conceito predicável introduz o sermão e repete-se ao
deles o desejo de se emendar” longo deste, para que os pregadores que estão a ouvir o
-Capítulo III: Louvores aos peixes em particular: sermão não se esqueçam de conservar.
peixe de Tobias, Torpedo, Rémora, Quatro-olhos;
-Capítulo V: repreensões aos peixes em particular:  O sal serve para conservar e desinfetar- serve para
Roncadores, Voadores, Pegadores, Polvo; evitar a corrupção e evitar, assim, que os Índios
sejam afetados;
 Peroração (Conclusão)- síntese do que foi -A missão do sal (dos pregadores (associados à
desenvolvido e utilização de um desfecho forte para Igreja)) é conservar, passando a palavra de Deus para
impressionar o auditório; conclusão com uma última o Brasil.
advertência aos peixes, retrato do Padre António como
pecador e hino de louvor. Análise Capítulo I- P40 e 41
Enumeração dos melhores argumentos utilizados no
Sermão Padre António Vieira menciona Santo António na sua
-Capítulo VI: apelo aos ouvintes numa última obra, mais concretamente no exórdio, pelo facto de,
advertência aos peixes (“Peixes, dai muitas graças a naquele momento, se celebrar o dia de Santo António.
Deus de vos livrar deste perigo”) Por outro lado, tanto António Vieira como Santo
-Retrato dele próprio como pecador; António pretendem transmitir uma mensagem, dado
que ambos são pregadores. Porém, contrariamente a

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outros “santos doutores da Igreja”, SantoQue
António
se há éde fazer aos pregadores que não
considerado não só o sal da terra,
pregam?
como também
Cristo dizo que
sal devem ser lançados fora e pisados
do mar, motivo pelo qual será elepelos
o escolhido
Homens, como
logo, é assim que deve ser.
exemplo para tornar a obra de Padre António Vieira o
mais plausível e fiável possível. L23-37: A corrupção não diminuiu, aumentou.
Qual a atitude dos Homens ao ouvir o sermão?
 “Pregado na cidade de S.Luís do Os pregadores chegam a S.Luís de Maranhão e tentam
Maranhão no ano de 1654 ”- Brasil (nordeste brasileiro) evitar a corrupção.
onde o Padre António Vieira observou tudo O povo está a ser corrompido.
 “alegórico” - tem muitas metáforas. Os clones portugueses vão para o Brasil com o objetivo de
ficarem lá e desenvolverem a região, mas quando chegam
Pregado a 7 de Junho - Dia de Santo António lá vêm que é uma terra rica e deixaram de lado os seus
Santo António ≠ Padre Santo António objetivos.
O Padre Santo António inspirou-se no Santo António Convertem-se em pessoas gananciosas (que vão atras da
para escrever o Sermão. riqueza), explorando os Índios (seres dóceis que não
tinham grande resistência, não tinham rendimento e não
-(L1-2)- “ (…) falando com os Pregadores, “sois o sal da eram trabalhadores).
terra” (…) quer que façam na terra o que faz o sal. Quando o Santo António fez o Sermão, o povo virou-se
O Padre António Vieira dirige-se aos pregadores e diz encontra ele, então ele deixa de se virar para os Homens
que são o sal da Terra pois estes não estão a cumprir o e fala com para os peixes (mar)- Padre António Vieira
seu dever nela. acha que é o melhor que se há de fazer, então segue o
exemplo.
-(L4-13) A causa da corrupção continua porque:
- “ou é porque o sal não salga” – ou é porque os Solução que Santo António arranja:
pregadores não estão a cumprir o seu trabalho (pregar);  Mudou de púlpito;
- “ou porque a terra se não deixa salgar” - ou porque o  Mudou de auditório.
povo não se deixa influenciar;
- “os Pregadores não pregam a verdadeira doutrina” “Deixa as praças, vai-se às praias; deixa a terra, vai-se ao
- “(…) os ouvintes, sendo verdadeira a doutrina, (…) a não mar, e começa a dizer a altas vozes: Já que não me querem
querem receber- o povo (ouvintes) não querem receber a ouvir os Homens, ouçam-me os peixes. (…) António
verdadeira doutrina; pregava e eles ouviam”.
- “os Pregadores dizem uma coisa e fazem outra” - os
pregadores não dão o exemplo; Padre António Vieira, no seu Sermão, faz com que os
-“os ouvintes querem antes imitar o que eles fazem que homens não pensem que são eles os criticados, mas sim os
fazer o que dizem”- os ouvintes preferem fazer o que eles peixes. Fala das qualidades dos peixes, que são as
fazem do que ouvir o que eles dizem; qualidades que os Homens não possuem e dos defeitos
-“os Pregadores se pregam a si, e não a Cristo”- os dos peixes que são os defeitos dos Homens.
pregadores inspiram-se na sua própria vida e esquecem-
se dos ideais cristãos- Pregam-se a si mesmos e não a Insípido- sem sabor
Cristo
L38-47: O sermão faz parte do Barroco, pois apresenta
“ou é porque o sal (sujeito) não salga, ou porque a terra excesso de figuras de estilo, preocupa-se pela estética e
não se deixa salgar, Ou porque….” pela beleza.

L13- “Não é tudo isto verdade?” - pergunta retórica. -L44/45: “Oh, maravilhas do Altíssimo! Oh, poderes do
que criou o mar, e a terra!” – Anáfora (figura de estilo) -
recurso expressivo que sugere que apesar da situação

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estar má é necessário a intervenção divina. Dirige-se
-L44: “Oh”
a - interjeição (figura de estilo)
Deus. -L45: “(…) Altíssimo!” - Frase exclamativa.

-L47- “António pregava, e eles ouviam” - O Padre


“necessária” - caracteriza a doutrina. reforço à dupla
adjetivação sugere as virtudes que deve ter cada
António Vieira pregava para os peixes e estes ouviam-
lho. doutrina: clareza, solidez, verdade, necessidade,
-L59: “Doutores! - doutores da Igreja. importante.

-L63: “Senhora do mar” – o Exórdio (Introdução) 5.Pretende evidenciar algumas situações interpelando o
termina com a exposição de uma figura divina. público, de modo a que este reflita, ao salientar
questões retoricas. Relaciona o lema: docere (ensinar),
Resolução Página 42 do Manual: delectare (deleitar) e movere (influenciar).
2.
a) Homens; 6.No exórdio é apresentado o tema a tratar e apresenta-
b) Evitar a corrupção; se as personagens principais: o emissor, Padre António
c) Expressão que comprova que objetivo do sal falhou: Vieira e o recetor, os peixes.
“mas quando a terra se vê tão corrupta como está a
nossa” (L3); 7. O autor anuncia no início que o sal são os pregadores
d) O sal não salga; e que os peixes são os homens. As alegorias são logo no
e) A terra não se deixa salgar; início defeitos uma vez que ele próprio se refere a eles e
f) Os pregadores não pregarem a verdadeira doutrina; por isso não deixa dúvidas que se refere aos homens.
g) Os pregadores dizem uma coisa e fazem outra;
8.
2.1. A resposta dada na interrogação retórica surge de
uma repetição estrutural (l4/l5). Os recursos expressivos
são: Metáfora (l1), Interrupção e Paralelismo;3.1: Como
Santo António fez, o Padre António Vieira passou a falar
com os peixes em vez de falar como os Homens.

3.2. Ele considera que também seja o mar, pois eles


pregam tanto na terra como no mar.

4. Santo António, como consequência de ter sido


apedrejado por ter pregado aos homens foi pregar aos a)6;
peixes, tal como o Padre António Vieira. b)2: merecedor- adjetivo- função sintética:
O Padre António Vieira estava descontente, pois apesar predicativo do sujeito (vem a seguir a um verbo
de haver pessoas a tentar diminuir a corrupção, esta copulativo (ser));
estava a aumentar cada vez mais. . Então, Padre, tal como desprezo- relaciona-se ao adjetivo;
Santo António foi pregar para os peixes. c) 5: Nosso Senhor Cristo não resolveu este ponto.
d) 1: encontra-se entre virgulas e refere-se ao nome
4.1 que está atrás, acrescentando.
a) (L55-59) “nesta (indica proximidade) , noutra (indica
distanciamento), esta, deste” – Padre António andou a 9.
pregar em todo o lado; a)1º apócope do “m”; 2º sonorização;
b) (L55) “manhã, tarde, noite”- a pregação era repetitiva b)1º apócope do “m”; 2º sonorização;
e constante; c)1º apócope do “m”; 2º vocalização do “l”;
c)(L56-57) “clara, sólida, verdadeira” – tripla d)1º apócope do “m”; 2º apócope do “l”; 3º
adjetivação; palatalização.

8
L31: “Aristóteles” - para dar credibilidade ao sermão,
Análise Capítulo II- P45-46 Padre António Vieira usa exemplos bíblicos, neste caso,
usa a opinião de um grego filosofo.
A partir deste capítulo, todo o Sermão é uma
porque os peixes são uma metáfora L32-33: “não domam, nem domesticam” - os peixes são
ou personificação
dos Homens. Assim, as virtudes dosos únicos
peixesanimais
serveminteligentes,
de pois fogem do Homens; os
Homens são
contraste aos comportamentos humanos, maso maior
os perigo
vícios dos peixes coincidem com os vícios humanos
Os peixes fogem aos homens para não serem
Será neste capítulo que o pregador se dirige aos peixes, domesticados.
tendo como principal alvo não estes, mas o Homem.
Assim, ao apresentar os louvores em geral, demonstra L34-41: Argumento para dar credibilidade.
que os peixes são melhores que os Homens, pelo que,
quanto mais longe destes estiverem, melhor. Os homens são piores que os peixes.

Deste modo, os peixes: Análise Capítulo IV- P49 a 51


 São um bom auditório: ouvem e não falam
Neste capítulo são apresentadas as repreensões dos
 Foram os primeiros animais a serem criados por
vícios em geral, de modo a criticar os vícios
Deus
semelhantes ou superiores dos Homens.
 São obedientes a Deus e atentos à sua palavra
 Não são domáveis ou domesticáveis; são livres
 Os peixes comem-se uns aos outros (ictiofagia)
 Escaparam todos do dilúvio porque não tinham
 Os maiores comem os mais pequenos, pelo que
pecado
são precisos muitos pequenos para um grande
 Também os Homens se comem uns aos outros
L1: “Então, que havemos de pregar hoje aos peixes?” - (e fazem-no enquanto estes estão vivos!).
Alegoria: os peixes representam os homens  Os peixes são ignorantes e cegos
 Também o Homem é ignorante e cego, não
L2: “Ao menos” (…) “ouvem e não falam” - os Homens
conseguindo resistir à tentação e à vaidade.
não ouvem, mas falam do que não sabem.
L3: “Vos estis sal terrae”- conceito predicável: dirige-se O Padre pede, finalmente, aos peixes para que pensem
aos pregadores. se, de facto, não existirá outro meio de sustentação,
dado que o ato de se comerem uns aos outros não é
L4/5: “conservar o são, e preserva-lo” - característica
estatuto da natureza, mas sim pecado físico e sevícia.
dos pregadores: conservar e preservar.
L9: “peixes” - Apóstrofe; uso do vocativo para prender o L3-5: “peixes (..) vos comeis uns aos outros. (…) Não só
público. vos comeis uns aos outros, senão que os grandes
comem os pequenos” – Circunstância agravante; Padre
L3: “irmãos” - Vocativo, Apostrofe.
António Vieira critica os peixes de se comerem uns aos
L13-17: “obediência (…) quietação” (calmos/tranquilos) outros, mesmo sendo irmão- os Homens comem-se uns
“(..) atenção” - As qualidades dos peixes são as aos outros.
qualidades que os homens não têm.
L8-13: “Homines pravis, praeversisque cupiditatibus
L16/17: “Seu servo António” - Santo António facti sunt veluti pisces invicem se devorantes: “Os
L20-25: Os Homens não são civilizados. homens com suas más, e perversas cobiças vêm a
ser como os peixes, que se comem uns aos outros” -
L28-30: “os peixes irracionais se tinham convertido em Argumento.
homens, e os homens não em peixes, mas em feras” - o
Homem é muito selvagem, e a verdadeira selva é a
humanidade.

9
L16/17: “Para cá, para cá” - os Homens
L64: “Maranhão”
olham para o– Brasil
Sertão, onde se comem uns aos outros, em vez de
olharem para a cidade (para eles).
L17: “para a Cidade é que haveis de olhar.” - critica aos
clonos.
L17: “Tapuias” - vivem nos Sertões, são caneáveis.

L18: “açougue” - matança;


Análise Capítulo V- P57 a 64 0
L20: “subir, e descer (…) entrar, e sair” - Antíteses-
sugerem muita circulação. Neste capítulo são apresentadas as repreensões aos
L20/21: “quietação nem sossego? - Reforça a ideia de vícios em particular.
não pararem; pergunta retórica- pretende a reflexão.
 Roncadores – são pequenos, mas têm muita língua e
L21/22: “é andarem buscando os homens como hão de
facilmente são pescados, representando o orgulho, a
comer (…) - objetivo: enriquecer.
vaidade e a arrogância.
 Pegadores – vivem na dependência dos grandes e
L24: “comem-no” - Anáfora: expressividade - sugere a
morrem sem ter comido, dado que são pescados
exploração
juntamente com os grandes. Representam o
L25: “acredores” - aqueles a quem ele devia algo.
parasitismo, o oportunismo e a bajulação
L24/25: “comem-no os testamenteiros, comem-no os
 Voadores – foram criados peixes e não aves, mas
legatários, comem-no os acredores, comem-no os
insistem em voar, sendo mortos pelos pescadores ou
oficiais dos órfãos” – Enumeração- valor expressivo:
pelos caçadores. Representam a ambição e
mostra a diversidade de pessoas que se aproveitam de
presunção.
um só.
 Polvo – é o maior traidor do mar, porque se esconde
e ataca às escuras, de emboscada, as suas vítimas
L29: “ainda ao pobre defunto o não comeu a terra”
desacauteladas. Representa a traição, a hipocrisia e
(sepultura) “e já o tem comido toda a terra” (pessoas)-
o disfarce. Aparentemente são santos (capelo –
“Terra” tem 2 significados (2 valores polissémicos), ou
monge), belos (raio – estrela) e bondosos (ausência
seja, difere no valor semântico; situação agravante:
de ossos). É realizada uma comparação com Judas,
Ainda mal o Homem acabou de morrer e já lhe foram
que abraçou cristo e traiu-o às claras (sendo menos
buscar todos os pedaços.
traidor do que o polvo)
L37-41: Outro exemplo, pior! Aqui são comidos vivos. O Sermão começa por falar dos peixes em geral e depois
L41: “ainda não está executado nem sentenciado, e já descreve especificamente cada um.
está comido” - situação agravante.

Padre Santo António, primeiro argumenta e depois L3/4: “Roncadores” - peixes muito pequenos que fazem
mostra exemplos que comprovem a sua muito barulho.
argumentação. L4: “roncas do mar” - fazem muito barulho.
L4-6: “Se com uma linha de coser, e um alfinete torcido
L42-54: Alegoria: há muita maldade. Os Homens vos pode pescar um aleijado, porque haveis de roncar
comem-se uns aos outros, todos os dias, a toda a hora, tanto? Mas por isso roncais.” – Falam muito, mas são
como se fossem pão. insignificantes.
L51: “São o pão” (índios) “quotidiano dos grandes (ricos,
colonos)” L6: “Espadarte” - peixe grande
L6/7: “Porque, ordinariamente, quem tem muita espada
Padre António Vieira defendo os Índios, os mais fracos. tem pouca língua” - Argumento: Quem age não precisa de
falar.

10
: Os pegadores são as pessoas que se
L6-24: Exemplo para provar que o argumento
deslocaméde Portugal para o Brasil e que se
verdadeiro- Pedro teve muita língua,instalam
pois disse
lá que era posteriormente, pessoas a viver
e levam
muito valente e seria o último a morrer, mas,
à custa no entanto,
deles.
foi o primeiro a ser morto.
L55: “Vizo-Rei ou Governador” - aproveitam-se dos
L19/20: “Vós, Pedro, sois o valente que havíeis de outros e vão sempre com os pegadores.
morrer por mim, e não pudeste uma hora vigiar
comigo?” – Pedro adormeceu. L56: “cá” - Cidade de Luís de Maranhão (Brasil).
L57: “lá” - Portugal.
L24/25: “Medi-vos” – modo: presente do conjuntivo
com valor de imperativo (é um apelo), 3º pessoa do
L57: “os menos ignorantes” - os mais espertos.
plural- Padre António Vieira apela a que as pessoas
reflitam e vejam que não têm motivos para falar tanto.
L58: “e buscam a vida por outra via” – vão por outro
caminho- vão apegados, mas chegam ao Brasil e
O imperativo só tem 2 pessoas.
Nas pessoas, tu e vós, usamos o presente do largam.
conjuntivo (com valor de imperativo).
L66: “Herodes” - Padre António Vieira faz referência
L26: “roncaram” - Pretérito mais-que-perfeito. a Herodes (e frases bíblicas) para dar credibilidade,
pois ele quis matar Jesus por que se sentiu
L28/29: “O que é a Baleia entre os peixes era o gigante ameaçado.
Golias entre os homens” - A baleia é comparada a
Golias- lá pelos Homens pensarem que são muito ricos, L69: “Defuncti sunt enim qui quaerebant animan
muito fortes, não significa que sejam invencíveis. Pueri” - exemplo de autoridade.
L31: “Gigante” - Golias.
L101: “O Tubarão morre porque comeu” - morre
porque come de mais”.
L37-40: Exemplo de Pilatos e Caifás- Padre António
Vieira vais buscar exemplos bíblicos para ser mais
credível. L108: “pouca água” - a água benta livra-nos de todo o
L39: “Caifás” - falava muito sem saber e ordenou a mal do pecado de Adão e Eva.
morte de Jesus. L103-109: Pecado de Adão e Eva.
L39/40: “Pilatos” - não quis saber e deixou que
Cristo fosse condenado à morte. L110: “Voadores” - peixes com a capacidade de voar
devido à enormidade das suas barbatanas- armam-se
L41-43: Exemplo de Cristo. em maiores.
L42: “ninguém houve jamais que o ouvisse falar em L110-140: Os voadores representam as pessoas que
saber (…) deu tamanho brado” - ficou em silêncio e se acham mais que os outros. Acabam por se encher
sabia muito, tendo um melhor resultado. de dívidas, ficando sem o que sempre quiseram
adquirir e perdendo tudo o que já tinham devido aos
L46: “Pegadores” – peixes que se pegam aos juros serem elevadíssimos.
outros- representam os indivíduos que se tentam
pegar às pessoas mais fortes para tirar proveito L126-130: os Voadores já corriam o risco de ser
delas. Estas pessoas são os Parasitas Sociais e pescados, mas agora corriam ainda mais, pois
vivem à custa dos outros. queriam ser aves.

11
L181: “capelo” -cabelo. L216/217: “bastava antigamente ser Português, não era
necessário ser Santo” - Antigamente tudo o que os
L181: “Monge” -vive privado da felicidade.
Portugueses faziam era pelo bem, pois espalhavam a fé.
L182: “raios estendidos” -tentáculos.
Ser Português já não era um orgulho, pois, com os
L182: “parece uma estrela” - a Estrela
representa luz e felicidade. descobrimentos os portugueses tornaram se cobiçados e
à busca de dinheiro, escravizando o Índios.
L182: “não ter osso, nem ter espinha” - movimenta-se
Enquanto que antes, tínhamos apenas o objetivo de
suavemente.
combater os infiéis à Igreja e expandir, assim, a Fé
Cristã- O enriquecimento muda as pessoas.
Características boas do Polvo:
 Parece um Monge;
L128/129: “Mandou Cristo a São Pedro que fosse
 tem raios estendidos;
pescar, e que na boca do primeiro peixe, que tomasse,
 parece uma estrela;
acharia uma moeda, com que pagar certo tributo”- a
 não tem osso nem espinha, movimenta-se
moeda não seria suficiente para pagar o tributo, então
suavemente.
Cristo ordenou que o 1° peixe a aparecer com a moeda
seria o 1° a morrer.
Características más do Polvo:
Essa moeda simboliza a cobiça e os mais tratos das
 é falso.
pessoas que eram roubadas pelos piratas. O peixe que
vinha com a moeda na boca merece a morte pois
L184: “hipocrisia” - falsidade;
simboliza o pecado e a exploração.
L184: “santa” – o que é bom é inofensivo.
L184: “hipocrisia tão santa” - Antítese: fisicamente ele é
L143-145: Os Homens não conseguem fugir à
inofensivo (representa tudo o que há de bom) mas na
condensação.
realidade ele é o pior de todos, finge ser quem não é.

Fim da Exposição (desenvolvimento).


L185: “traição do Polvo” -falsidade do Polvo.
 1°Exórdio;
L186: “se vestir, ou pintar das mesmas cores de todas
 2° Exposição.
aquelas cores, a que está pegado” - O Polvo, com a sua
falsidade pretende confundir-se com quem está ao seu
Análise do Capítulo VI, página 70
redor. 0

L187: “Camaleão são gala, no Polvo são malícia” - o Neste último capítulo o Padre António Vieira despede-se
Camaleão fica colorido quando quer seduzir ou está dos peixes.
feliz, enquanto que o Polvo ganha cores com más Os peixes não falam (só escutam), não entendem, não
intenções. Disfarçar-se para conseguir agir em qualquer desejam e atingem sempre o fim que lhes foi destinado
momento e conseguir casar a presa. (servir o Homem).
Com isto, o Padre apresenta um retrato de si próprio
L194-199: Padre António Vieira dá um exemplo bíblico como pecador
para comprovar o seu argumento: Judas entregou Cristo Os peixes podem apresentar-se a Deus porque não
a mostrou isso a toda a gente, ou seja, não se escondeu, pecaram e o Padre é pecador e não poderia apresentar-se
entregou-o à vista de todos, enquanto que Judas (o a Deus.
Polvo) finge e entrega (cassa) sem que ninguém dê Por último, o orador faz um apelo aos peixes (Homens)
conta ( “O Polvo escurecendo-se a si tira a vista aos para que louvem e respeitem Deus, seu criador.
outros”), logo o Polvo, consegue ser ainda mais traidor.
L1: “despido”- despedir.
L198: “aleivoso” - traidor.
L2/3: “A vossa bruteza é melhor que a minha razão, e o
L201: “Água” - o céu é azul e é refletido na água. vosso instinto melhor que o meu alvedrio” - os peixes
são brutos (ignorantes) vão pelo instinto, enquanto que

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os Homens são racionais. É essa racionalidade que torna
os Homens más pessoas.

L3- “alvedrio” - livre arbítrio, capacidade de escola.

L24-32: “louvai da Deus” - Paralelismo: louvai a Deus


as qualidades dos peixes que são as qualidades que os
Homens não têm e os defeitos que são os que Homens
têm.

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