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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA CÍVEL DO FÓRUM

REGIONAL DE JACAREPAGUÁ - COMARCA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO.

LUCIA HELENA DOS SANTOS DE CARVALHO, filha de ALMEIRINDA MOURA DOS


SANTOS, nascida em 02/08/1970, brasileiro, estado civil casada, profissão do lar,
natural do Rio de Janeiro - Capital, portadora do RG nº 09147239-9 – DETRAN/RJ,
expedida em 13/03/2015, inscrita no CPF nº 020.439.827-45, residente e domiciliada
Rua E, 600, Casa 7 – Taquara – Rio de Janeiro-RJ, CEP 22.710-070, endereço eletrônico
gilson.carvalho@itavema.com.br, Tel (21) 97636-0794, por sua advogada, procuração
anexa, com escritório profissional localizado na Rua Retiro dos Artistas, 1931 – bloco
3/402 – Pechincha – Rio de Janeiro/RJ, local onde receberá as comunicações judiciais,
com endereço eletrônico bdpachequinho@yahoo.com.br, perante Vossa Excelência
propor a presente, pelo rito especial da Lei nº. 9.099/95,

AÇÃO INDENIZATÓRIA POR DANOS MORAIS COM PEDIDO DE INEXIGIBILIDADE DE


DÍVIDA

em face da LIGHT - Serviços de Eletricidade S.A, inscrita no CNPJ sob o nº.


60444437000146, com endereço na Avenida Marechal Floriano, 168 – Centro – Rio de
Janeiro – RJ, CEP 20.080-002 – Rio de Janeiro/RJ, pelos fatos e de direito que passa a
expor:

DAS PRELIMINARES
1) DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA

Inicialmente, pugna a parte Autora pela concessão do benefício da gratuidade de


justiça, nos termos dos artigos 98 e 99 do NCPC, por não possuir condições financeiras
de arcar com custas judiciais e emolumentos, sem comprometer o seu sustento e de
seus familiares.

Deve-se ressaltar que os citados artigos da lei nº. 13.105/2015 regulam a assistência
judiciária relativa à isenção de taxas, custas e demais despesas processuais, e o inciso
LXXIV do art. 5º. da Constituição Federal regula a assistência jurídica integral e gratuita.

Feitas estas aduções, invoca a requerente o princípio constitucional da inafastabilidade


do poder jurisdicional, previsto no art. 5º. inciso XXXV de nossa Carta Magna e requer
a concessão da Assistência Judiciária, com todos os instrumentos a ela inerentes, na
forma do § 1º. art. 98 do NCPC juntando, para tanto, a Declarações de Hipossuficiência
e demais documentos que corroborem o alegado, os quais seguem em anexo.

Caso não seja possível a concessão da Gratuidade de Justiça, requer a parte autora o
parcelamento das custas e taxas judiciárias, ou o seu recolhimento ao final da ação,
com fundamento no enunciado nº. 27 do Aviso 57/2010:
"Considera-se conforme ao princípio da acessibilidade ao Poder Judiciário ( CF/88, art.
5º, XXXV) a possibilidade, ao critério do Juízo em face da prova que ministre a parte
autora acerca da possibilidade de recolhimento das custas e a taxa judiciária ao final
do processo, ou de recolhimento em parcelas no curso do processo, desde, em ambas
as situações, que o faça antes da sentença, como hipótese de singular exceção ao
princípio da antecipação das despesas judiciais, incumbindo à serventia do Juízo a
fiscalização quanto ao correto recolhimento das respectivas parcelas." (NOVA
REDAÇÃO)

2) DA JUSTIÇA COMUM

A Autora informa que ingressou com o referido pedido na Justiça Especial Civel, donde o
processo foi extinto SEM JULGAMENTO DO MÉRITO pelo fato daquele magistrado entender
que o caso devesse ser analisado minuciosa e tecnicamente, tendo a sentença transitada em
julgado em 24/08/2022, cujo o teor está contido na figura abaixo (Processo nº 0809766-
46.2022.8.19.0203):
É o pedido para receber e julgar o aludido processo nessa esfera.

I - DOS FATOS
Inicialmente cabe informar que, a parte Autora é cliente da Ré através da prestação de
serviço de energia elétrica sob o código de cliente nº. 21265175e código de instalação
nº. 412963764, tipo de fornecimento MONOFÁSICO, conforme se verifica em
documentos anexados.

Alega a Autora que sempre pagou suas contas em dia, cujo valor de suas contas
variava entre R$ 70 a R$ 200,00, até o mês de JULHO 2021, quando a Requerida,
trocou o Medidor para modernização, como se verifica nas contas em anexo e no
quadro abaixo:

COMPETÊNCIA VALOR VENCIMENTO

FEV 2021 147,80 24/02/2021

MAR 2021 165,56 25/03/2021

ABR 2021 185,27 27/04/2021

MAI 2021 197,76 25/05/2021


JUNHO 2021 153,24 24/06/2021

JULHO 2021 76,85 23/07/2021

*AGOSTO 2021 704,51 31/08/2021

*SETEMBRO 2021 734,40 24/09/2021 - AVISO DE CORTE

*OUTUBRO 2021 854,09 26/10/2021 - AVISO DE CORTE

*NOVEMBRO 2021 791,34 25/11/2021 - AVISO DE CORTE

*DEZEMBRO 2021 783,86 24/12/2021 - AVISO DE CORTE

*JANEIRO 2022 822,79 25/01/2022 - AVISO DE CORTE

*FEVEREIRO 2022 862,24 22/02/2022 - AVISO DE CORTE

*MARÇO 2022 743,75 25/03/2022 - AVISO DE CORTE

*MÊS DE AGOSTO EM DIANTE - VALOR DA CONTA AUMENTOU ABSURDAMENTE,


APÓS A TROCA DO MEDIDOR PELOS TÉCNICOS DA LIGHT
Aduz a Autora que no dia 20/07/2021 compareceu em sua residencia uma equipe
técnica da LIGHT, para efetuar troca do Medidor, o que pode ser comprovado pelo
TOI, cuja ordem de inspeção é 11170630699. Em JULHO 2021 a Autora, que reside com
seu esposo no imóvel, viajara com sua família e a conta veio no valor de R$ 76,85
(metade do valor), e, segundo prepostos, a troca do Medidor era uma inspeção de
rotina.
LACRE ANTIGO
NOVO LACRE

Naquela visita técnica prepostos relacionaram os aparelhos eletrodomésticos


existentes na residência da Autora, composta de sala, quarto, cozinha e banheiro: 01
geladeira, 1 TV 32”, 1 máquina de lavar, 1 micro-ondas, 1 chuveiro elétrico, 1
carregador de celular.

Ocorre que no mês seguinte à troca do Medidor, ao analisar sua fatura do mês de
AGOSTO 2021 percebeu uma elevação abrupta e injustificável no valor de sua conta,
de R$ 862,24. A Autora levou um susto, pois sua a média que pagava era em torno de
R$ 150,00 a R$ 200,00.

Muito abalada, ligou para o SAC da empresa, contestando a conta, no que ficou
garantido por prepostos, que, em cinco dias o problema seria resolvido, com o envio
de uma equipe técnica e, se fosse o caso, recálculo da conta emitida, sem resultado.
O fato é que mesmo diante das várias reclamações junto à LIGHT e solicitações de
visitas junto à loja virtual, a fim de comparecimento de um técnico da LIGHT no local, a
fim de verificar irregularidade no Medidor ou mesmo na ligação daquele, assim
vistoriar as instalações elétricas, é com pesar que a Autora alega, que, mesmo
insistindo nas ligações etc, ninguém compareceu.... E assim continuou nos meses
subsequentes, de AGOSTO 2021 até MARÇO de 2022 com o pesadelo de contas com
valores elevadíssimos, com AVISO DE CORTE e o pior, sem que a Autora tivesse
condições financeiras de pagá-las.

Em 11/02/2022, uma equipe compareceu no local, onde constatou que o Medidor


estava funcionando normalmente, sem qualquer defeito, como comprova o TOI
juntado a estes autos.
O pior de toda essa situação constrangedora abalou profundamente em suas emoções
literalmente, ultrapassando o mero aborrecimento, pois não tinha condições
financeiras para pagar as respectivas faturas, que a cada mês vinham mais altas, além
dos AVISOS DE CORTE que abalavam sua estrutura. Como informação, a Autora é
portadora de câncer no intestino e vive às expensas do marido, que é autônomo e
ganha aproximadamente R$ 1.800,00 (um mil e oitocentos reais) mensais. A Autora
denominou aqueles dias como “Dia de Terror!”. Cada vez que via o carro da LIGHT
próximo a sua residência, ficava muito abalada, pois achava que sua luz seria cortada a
qualquer momento.

O fato era que o Medidor não apresentava problema algum...... Mas, certo dia, o
esposo da Autora resolveu fazer um teste: Desligou todos os aparelhos, inclusive o
disjuntor do Relógio e aproximou o multímetro. Através daquele aparelho visualizou
fuga de energia, pois o aparelho marcou 108w, quando deveria dar 0 (zero) no seu
Relógio, já que todos os aparelhos estavam desligados, fora da tomada.

Diante dessa descoberta, imediatamente comunicou o ocorrido para a Ré, que enviou,
novamente, uma equipe técnica até sua residência, que, finalmente RESOLVEU O
PROBLEMA, depois de 08 (oito) longos meses de espera e de angústia, como
comprova nos Links de gravação em anexo. No ato da instalação do Medidor, um fio
ficou solto, o que causou a “fuga” de energia.
DA INEXIGIBILIDADE DE DÉBITO

A Autora está sendo cobrada por contas indevidas, devido ao erro técnico de
prepostos da Requerida. Ao realizar a mudança no relógio não fizeram o serviço
corretamente, deixando “escapar energia” por conta de um fio que ficou solto, o que
causou dano à Autora, com o aumento absurdo de sua conta de energia elétrica. A
Autora está sendo cobrada pelas contas dos meses de AGOSTO 2021 (quando houve a
mudança do relógio, em 20/07/2021) até março 2022 (quando, enfim, resolveram o
problema de “fuga” de energia, que nada tinha a ver com problema no Medidor do
Relógio), que juntas dão um montante de R$ 6.296,98 (seis mil, duzentos noventa e
seis reais e noventa e oito centavos).

Foram necessários 8 (oito) longos meses de espera, aviso de corte por falta de
pagamento de contas altíssimas, para que o problema fosse resolvido.

Evidentemente que trata-se de falha humana quando da mudança do medidor, posto


que mesmo com todos os aparelhos desligados inclusive o disjuntor, o relógio
continuava funcionando como se alguma energia estivesse sendo utilizada..... havia
fuga de energia elétrica. O problema não era no relógio, mas na instalação realizada
pelo preposto, que não a fez adequadamente.

O fato é que nada justifica a cobrança tão expressiva, devendo ser revista, além do
fato de que a Autora e seu esposo, numa casa de, aproximadamente 60m2, de posse
dos aparelhos eletrodomésticos discriminados no TOI da Ré, jamais conseguiriam
consumir, aproximadamente, R$ 1.000,00 de conta de luz mensalmente.

Requer, desde já requer:


- INEXIGIBILIDADE DA DÍVIDA DOS MESES DE AGOSTO 2021 A MARÇO 2022 de R$
6.296,98 (seis mil, duzentos noventa e seis reais e noventa e oito centavos), assim
como a supressão de todo juro e correção incidentes por motivo de atraso no
pagamento;
- recálculo das contas dos meses AGOSTO 2021 a MARÇO 2022, levando-se em
consideração a média dos 12 últimos meses antes da troca do Medidor, cujo valor
mensal era, aproximadamente, de R$ 160,00.

III - DO ENQUADRAMENTO NO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR


A norma que rege a proteção dos direitos do consumidor, define, de forma cristalina,
que o consumidor de produtos e serviços deve ser abrigado das condutas abusivas de
todo e qualquer fornecedor, nos termos do art 3º do referido Código.

Com esse postulado, a Ré não pode eximir-se das responsabilidades inerentes à sua
atividade, dentre as quais prestar esclarecimentos e retificar sua conduta, visto que se
trata de um fornecedor de produtos que, independentemente de culpa, causou danos
efetivos à Autora.

Inicialmente, há que se consignar que, no presente caso, estamos diante de uma


relação de consumo, previstos nos artigos 2º. e 3º. da Lei nº. 8.078/90, uma vez que a
parte Autora utiliza na qualidade de destinatário final e a Ré, por sua vez, é empresa
que faz a prestação dos serviços.

Vale destacar o princípio da boa-fé objetiva prevista no art. 4º. III do Código de Defesa
do Consumidor e traduz a lealdade que as partes devem ter na realização do negócio
jurídico. Portanto, a boa-fé passa a ser elemento objetivo, ou seja, de apuração
obrigatória na formação dessas relações jurídicas, no caso em questão, esta mais do
que comprovada à boa-fé da parte Autora.

Nesse sentindo o CDC, que traz a responsabilidade objetiva da Ré, uma vez que
responderá independente da existência de culpa pela reparação dos danos causados
aos consumidores, a saber:

"Art. 14 - O fornecedor de serviços responde independentemente da existência de


culpa , pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à
prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre
sua fruição e riscos."

Traz-se a lume fundamento do ato ilícito previsto no Art. 186 do Código Civil, nesse
sentindo é importante observar que toda pessoa tem um patrimônio jurídico,
constituído por seus bens materiais e morais. Estes se constituem de todos os
atributos físicos ou imateriais inerentes à pessoa, aqui incluídos seus dotes,
intelectuais, sua honra, sua própria imagem, seu direito de ter paz e privacidade. A
ofensa a qualquer desses direitos constitui o que se convencionou chamar dano moral,
hoje indenizável, em face dos preceitos constitucionais, conforme a redação do art.
5º., X da CF, in verbis:

"Art. 5º. - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do
direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:
(...)

X - São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,


assegurado o direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua
violação."
A única conclusão a que se pode chegar é a de que a reparabilidade do dano moral não
mais se questiona no direito brasileiro, porquanto uma série de dispositivos
constitucionais e infraconstitucionais garante a sua tutela legal.

A presença do nexo de causalidade entre as partes está presente, sendo indiscutível o


vínculo jurídico existente, assim sendo os danos morais pleiteados, objeto também
desta ação.

O dano moral é o causado injustamente a outrem, atingindo ou não o patrimônio, a


dor, a mágoa, a tristeza infligida, com reflexo perante a sociedade.

Nessa linha de raciocínio observa-se a redação prevista no art. 927 do CC, a seguir
exposta:

"Art. 927 - Aquele que, por ato ilícito, causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo."

Pelo Código de Defesa do Consumidor, no que se refere aos direitos básicos do


consumidor.
"Art. 6º. - São direitos básicos do consumidor:
(...)
VI -" A efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais,
coletivos e difusos. "

Ao tratar do dano moral MARIA HELENA DINIZ (Curso de Direito Civil Brasileiro, 7º.
vol., 9a. ed., Saraiva), ressalva que a reparação tem sua dupla função, a penal"
constituindo uma sanção imposta ao ofensor, visando à diminuição de seu patrimônio,
pela indenização paga ao ofendido, visto que o bem jurídico da pessoa (integridade
física, moral e intelectual) não poderá ser violado impunemente ", e a função
satisfatória ou compensatória, pois" como o dano moral constitui um menoscabo a
interesses jurídicos extrapatrimoniais, provocando sentimentos que não têm preço, a
reparação pecuniária visa a proporcionar ao prejudicado uma satisfação que atenue a
ofensa causada. "Daí, a necessidade de observar às condições de ambas as partes.
Na maioria das relações de consumo há uma desigualdade de fato entre os
contratantes e no caso em questão não é diferente. Desta forma, o legislador procura
proteger os mais fracos contra os mais poderosos, os leigos contra os mais informados.

O Código de Defesa do Consumidor consagrou, reconhecendo assim o consumidor


como parte mais fraca da relação de consumo, parte frágil, razão da tutela. Pela norma
do consumidor, chega a elencar como prática abusiva o fato de prevalecer-se da
fraqueza ou ignorância do consumidor art. 39, IV do Código de Defesa do Consumidor.

E no caso tipificado a doutrina torna-se majoritária, segue abaixo as opiniões dos


mestres mais conceituados:

"Embora a doutrina não seja uniforme na conceituação da responsabilidade civil, é


unânime na afirmação de que este instituto jurídico firma-se no dever de"reparar o
dano" , explicando-o por meio de seu resultado, já que a idéia de reparação tem maior
amplitude do que a de ato ilícito, por conter hipóteses de ressarcimento de prejuízo
sem que se cogite da ilicitude da ação." (v. Caio Mário da Silva Pereira,
Responsabilidade Civil, 9. ed., Rio de Janeiro, Forense, 1998, p. 7-1 1).

" Na atualidade, a teoria da responsabilidade civil, mesmo que conserve seu nomen
juris, transcendeu os limites da culpa e "trata-se, com efeito, de reparação do dano"
(cf. José de Aguiar Dias, Da responsabilidade Civil, cit., p. 16).

"Na teoria do risco não se cogita da intenção ou do modo de atuação do agente, mas
apenas da relação de causalidade entre a ação lesiva e o dano" (v. Carlos Alberto
Bittar, Responsabilidade Civil nas atividades nucleares, São Paulo, Revista dos
Tribunais, 1985)

Neste sentido é o entendimento do jurista e desembargador Sérgio Cavalieri Filho :

"A gravidade do dano - pondera Antunes Varela - há de medir-se por um padrão


objetivo (conquanto a apreciação deva ter em linha de conta as circunstâncias de cada
caso), e não à luz de fatores subjetivos (de uma sensibilidade particularmente
embotada ou especialmente requintada)." Por outro lado, a gravidade apreciar-se-á
em função da tutela do direito: o dano deve ser de tal modo grave que justifique a
concessão de uma satisfação de ordem pecuniária ao lesado. "Nessa linha de princípio,
só deve ser reputado como dano moral a dor, vexame, sofrimento ou humilhação que,
fugindo à normalidade, interfira intensamente no comportamento psicológico do
indivíduo, causando-lhes aflições, angústia ou desequilíbrio em seu bem estar.
(Programa de Responsabilidade Civil, São Paulo, Malheiros, 1999, p. 77/78). (grifo
nosso)

O mesmo entendimento tem o Emérito Des. Roberto Wider da 5a Câmara Cível do


TJ/RJ, em entrevista a Tribuna do Advogado, exemplar de Março/98, pág. 13, in verbis:

"Sou favorável à tese de que o ressarcimento deve ser sério, não só para recompor os
danos sofridos, mas para que as pessoas passem a tomar mais cuidado com o direito
dos outros. A medida teria efeito educativo: se o custo doer no bolso do ofensor, ele
ficará inibido de praticar no futuro atos que possam vir a prejudicar alguém".

O dano moral neste caso se configura como dano in re ipsa, pois a conduta ilícita da ré
afetou os direitos de personalidade da Autora, além dos direitos protetivos do
consumidor.

De acordo com a Constituição Federal de 1988, o Código do Consumidor, a ré tem


responsabilidade objetiva, motivo pelo qual devem responder pelos danos causados
independente de culpa.

Valendo-se desta indenização, a sentença condenatória deverá ser aplicada visando o


caráter punitivo-pedagógico, para que torne um balizador da conduta abusiva
praticada pelas empresas e para que estas não cometam mais atos ilícitos como os que
foram descritos nessa exordial.

Portanto, ao entender que é cabível o pleito indenizatório urge que para a fixação do
montante indenizatório, deverá levar em consideração a atribuição de um valor
compatível com o dano efetivamente sofrido e a situação financeira exercida pela ré.

Na maioria das relações de consumo há uma desigualdade de fato entre os


contratantes e no caso em questão não é diferente. Desta forma, o legislador procura
proteger os mais fracos contra os mais poderosos, os leigos contra os mais informados.
O Código de Defesa do Consumidor consagrou, reconhecendo assim o consumidor
como parte mais fraca da relação de consumo, parte frágil, razão da tutela. Pela norma
do consumidor, chega a elencar como prática abusiva o fato de prevalecer-se da
fraqueza ou ignorância do consumidor art. 39, IV do Código de Defesa do Consumidor.
Por fim, observa-se, conforme visto, a parte Autora fez jus a uma conduta amigável
com a Ré e procurou resolver administrativamente o seu direito. Sendo que a falta de
eficiência para resolução do conflito, somente gerou mais perturbação e desgaste
emocional, em face de inúmeros contatos tentando resolver o problema, que veio a
ser solucionado somente 08 (OITO) meses após o primeiro contato.

Trata-se de dano moral inequívoco, conforme precedentes sobre o tema:


DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO E DANOS MORAIS. CELESC. CORTE
ENERGIA ELÉTRICA E INSCRIÇÃO NOS ÓRGÃOS DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO.
FATURAMENTO EQUIVOCADO. APLICAÇÃO MÉDIA DE CONSUMOS ANTERIORES.
RECURSO DA PARTE AUTORA. PEDIDO DE MAJORAÇÃO DOS DANOS MORAIS, ESTES
FIXADOS NA SENTENÇA EM R$2.500,00. INSCRIÇÃO NOS CADASTROS RESTRITIVOS DE
CRÉDITO POR SUPOSTO DÉBITO DE 2011. CONSULTA EFETUADA EM 2015.
MAJORAÇÃO DEVIDA. FIXAÇÃO EM R$15.000,00. VALOR CONDIZENTE COM O TEMPO
DE RESTRIÇÃO CREDITÍCIA EM DESFAVOR DA REQUERENTE. RECURSO PROVIDO. (TJSC,
Recurso Inominado n. 0326412-55.2015.8.24.0023, da Capital - Eduardo Luz, rel.
Des.Janine Stiehler Martins, Primeira Turma de Recursos - Capital, j. 12-04-2018)

Requer indenização por danos morais de R$ 10.000,00 (dez mil reais).

IV - DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA


Demonstrada a relação de consumo, resta consubstanciada a configuração da
necessária inversão do ônus da prova, conforme disposição expressa do Código de
Defesa do Consumidor:

Art. 6º. São direitos básicos do consumidor: (...) VIII - a facilitação da defesa de seus
direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil,
quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente,
segundo as regras ordinárias de experiências

A inversão do ônus da prova é consubstanciada na impossibilidade ou grande


dificuldade na obtenção de prova indispensável por parte do Autor, sendo amparada
pelo princípio da distribuição dinâmica do ônus da prova implementada pelo Novo
Código de Processo Civil:

Art. 373. O ônus da prova incumbe:


I - ao autor, quanto ao fato constitutivo de seu direito;

II - ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito


do autor.

§ 1º Nos casos previstos em lei ou diante de peculiaridades da causa relacionadas à


impossibilidade ou à excessiva dificuldade de cumprir o encargo nos termos do caput
ou à maior facilidade de obtenção da prova do fato contrário, poderá o juiz atribuir o
ônus da prova de modo diverso, desde que o faça por decisão fundamentada, caso em
que deverá dar à parte a oportunidade de se desincumbir do ônus que lhe foi
atribuído.

Trata-se da efetiva aplicação do Princípio da Isonomia, segundo o qual, todos devem


ser tratados de forma igual perante a lei, observados os limites de sua desigualdade.
Nesse sentido, a jurisprudência orienta a inversão do ônus da prova para viabilizar o
acesso à justiça:

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. DISTRIBUIÇÃO DINÂMICA DO ÔNUS DA PROVA. PARTE


COM MAIOR CONDIÇÃO DE PRODUÇÃO. (..) DECISÃO FUNDAMENTADA.
POSSIBILIDADE. O § 1º do art. 373 do CPC consagrou a teoria da distribuição dinâmica
do ônus da prova ao permitir que o juiz altere a distribuição do encargo se verificar,
diante da peculiaridade do caso ou acaso previsto em lei, a impossibilidade ou
excessiva dificuldade de produção pela parte, desde que o faça por decisão
fundamentada, concedendo à parte contrária a AÇÃO DECLARATÓRIA DE
INEXISTÊNCIA DE DÉBITO. ENERGIA ELÉTRICA. CONSUMIDOR. COBRANÇA
EXORBITANTE E PONTUAL. AUSÊNCIA DE JUSTIFICATIVA. ACÚMULO DE CONSUMO
NÃO DEMONSTRADO. DESCONSTITUIÇÃO E RECÁLCULO CONFORME A MÉDIA.
MANUTENÇÃO DA DECISÃO. RECURSO DESPROVIDO. (Recurso Cível Nº 71007229925,
Terceira Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator: Cleber Augusto Tonial,
Julgado em 23/11/2017). (TJ-RS - Recurso Cível: 71007229925 RS, Relator: Cleber
Augusto Tonial, Data de Julgamento: 23/11/2017, Terceira Turma Recursal Cível, Data
de Publicação: Diário da Justiça do dia 30/11/2017)
Assim, diante da inequívoca e presumida hipossuficiência, uma vez que disputa a lide
com uma empresa de grande porte, indisponível concessão do direito à inversão do
ônus da prova, que desde já requer.

IV - DO PEDIDO
Diante do exposto, requer a Vossa Excelência o seguinte:
1. A concessão da gratuidade de justiça;

2. A inversão do ônus da prova, de acordo com o art. 6º, VIII do Código de Defesa do
Consumidor;

3. A condenação a título de danos morais no valor de R$ 10.000,00, pelos transtornos


causados;

4. INEXIGIBILIDADE DA DÍVIDA DOS MESES DE AGOSTO 2021 A MARÇO 2022 de R$


6.296,98 (seis mil, duzentos noventa e seis reais e noventa e oito centavos), assim
como a supressão de todo juro e correção incidentes por motivo de atraso no
pagamento;

5. recálculo das contas dos meses AGOSTO 2021 a MARÇO 2022, levando-se em
consideração a média dos 12 últimos meses antes da troca do Medidor, cujo valor
mensal é, aproximadamente, de R$ 160,00.

6. A produção de provas na amplitude do artigo 32 da Lei nº. 9.099/95, em especial


documental, testemunhal pericial e depoimento pessoal das partes, sob pena de
confissão.

Face ao exposto, juntando a presente os documentos em que fundamenta o seu


pedido, requer a citação da Ré, na pessoa de seu representante legal, para comparecer
a audiência de Conciliação, que poderá ser imediatamente convolada em Audiência de
Instrução e Julgamento, caso não cheguem às partes a um acordo, a ser designada por
este juízo, querendo deverá oferecer sua defesa, para responder aos termos desta
ação, sob pena de revelia e confissão, quanto à matéria de fato de acordo com o art.
20 da Lei nº. 9.099/95 para ao final, ser julgado o pedido PROCEDENTE formulados
nesta, condenando a Ré ao pagamento das verbas e obrigações requeridas, acrescidas
de juros, correção monetária, desde a sua citação e custas processuais e honorários
advocatícios de 20%, a serem apurados em liquidação de sentença.
Dá-se o valor da causa à importância de R$16.296,98.
Nesses termos, pede e aguarda deferimento.

Rio de Janeiro, RJ, 24 de agosto de 2022

BEATRIZ DUARTE DE ARAUJO – OAB/RJ 074.699

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