Você está na página 1de 9

UNIVERSIDADE CATÓLICA DO SALVADOR

DIREITO PROCESSUAL CIVIL II

DAVID BITENCOURT MOURA DE ARAUJO

COISA JULGADA

SALVADOR
2018
DAVID BITENCOURT MOURA DE ARAUJO

COISA JULGADA

Trabalho apresentado como requisito


parcial para obtenção de aprovação na
disciplina DIREITO PROCESSUAL
CIVIL II no Curso de DIREITO, na
Universidade Católica do Salvador.
Prof.o Aleksandro de Mesquita
Brasileiro.

SALVADOR
2018
RESUMO

A partir da sentença proferida em uma ação, teremos sempre uma decisão


transitado em julgado, por qualquer tempo que leve para acontecer e em
quaisquer das instâncias. É o ato final de um processo, o juiz tem a obrigação
de decidir o caso em questão. No caso da Coisa Julgada, essa é a última decisão
que se pode tomar em um processo. A partir daí não caberá recursos, será
determinado o fim, a questão estará decidida e será imutável.

Essa previsão final do processo, consiste numa segurança jurídica, de que


de fato uma decisão será tomada e não será mais discutida aquela ação. Será a
proteção do bem jurídico de intermináveis recursos e extensões desse mesmo
processo. Como traz Marcus Vinicius Rios Gonçalves:

“Ora, a coisa julgada não é um dos efeitos da sentença, mas uma


qualidade deles: a sua imutabilidade e indiscutibilidade. Foi a partir dos
estudos de Liebman que se delineou com maior clareza a distinção entre
a eficácia da sentença e a imutabilidade de seus efeitos. O trânsito em
julgado está associado à impossibilidade de novos recursos contra a
decisão, o que faz com que ela se torne definitiva, não podendo mais ser
modificada. Há casos em que ela já produz efeitos, pode ser executada,
mas não há ainda o trânsito em julgado, pois eventuais recursos ainda
pendentes não são dotados de eficácia suspensiva. A eficácia da
decisão ou sentença não está necessariamente condicionada ao trânsito
em julgado, mas à inexistência de recursos dotados de efeito
suspensivo” (GONÇALVES, 2015, p. 541).

Ainda sobre definições da Coisa Julgada, em artigo, as professoras Gisele


Leite e Denise Heuseler apontam a importância para que não se confunda essa,
com o ato da sentença por exemplo, quando explicam:
“Mas esse elemento declaratório não pode ser confundido com o efeito
declaratório da sentença. E, é através do trânsito em julgada que se
verifica a indiscutibilidade e a imutabilidade do elemento declaratório da
sentença. O momento em que se dá a impossibilidade de modificação
da sentença ocorre é o chamado “trânsito em julgado". Tornando a
decisão judicial imutável e indiscutível. Quando afinal, a decisão deixa
de ser instável e passa a ser estável, dá-se o nome de coisa julgada.
Refere-se, portanto a uma nova situação jurídica caracterizada por ser
imutável e indiscutível” (LEITE, HEUSELER, 2015).

Com isso, avançamos para duas distinções, onde se tem se a Coisa Julgada
Formal, quando essa impossibilidade de recurso e de alteração do resultado é
proferida, em qualquer tipo de ação que esteja sendo movida, é a determinação
do final processo. Já a Coisa Julgada Material, é vista como o além das decisões
tomadas com a Coisa Julgada Formal, é como se gerasse efeitos
extraprocessuais, é consequência do que já foi decidido. Logo, existe a
dependência da Coisa Julgada Formal para que a Coisa Julgada Material seja
aplicada e tenha finalidade no processo.

O autor Daniel Amorim Assumpção Neves, traz em seu livro o conceito e a


natureza jurídica da Coisa Julgada. Ele explica que para a doutrina, é geral a
concordância na questão da Coisa Julgada Material, e seus efeitos em tornar a
decisão imodificável por recursos pedidos:

“A doutrina é unânime em associar a coisa julgada material à


imutabilidade da decisão judicial de mérito que não pode ser mais
modificada por recursos ou pela remessa necessária, na específica
hipótese prevista pelo art. 496 do Novo do CPC. Existe, entretanto,
robusta polêmica a respeito do que exatamente se torna imutável em
razão do fenômeno da coisa julgada material, sendo possível destacar
três correntes doutrinárias” (NEVES, 2016, p. 1445).
Ele explica nesses três entendimentos da doutrina, sobre a natureza dessa
última prática comentada. Para a primeira, a majoritária, citando Liebman, ele
aponta a questão da qualidade da sentença, que torna assim a decisão
indiscutível, definitivamente como um ponto final. Esse entendimento preza pelo
fim absoluto, onde nada poderá ser discutido novamente nem por parte
interessada ou até mesmo o magistrado, se fecha o processo e se resolve o
assunto. Essa imutabilidade é o principal foco quando se fala na Coisa Julgada
Material. Mas, para parte da doutrina, esses efeitos seriam sim mutáveis. Nos
casos de fatos novos que pudessem ocorrer posteriormente a coisa julgada,
sobretudo a partir das partes do processo, teriam assim a validade de alterar
aquela decisão que foi tomada mesmo em caso de Coisa Julgada Material. No
entanto, seriam esses casos excepcionais nesse entendimento, como por
exemplo um novo casamento judicial entre pessoas divorciadas.

Pode se considerar uma nova situação em que a inicial não teria influência
no resultado posterior, mas de fato existiria o vínculo, por ser uma consequência
e ter a volta da situação anterior estabelecida. No terceiro e último entendimento
apresentado, com base no direito alemão, parte dessa doutrina afirma existir os
efeitos da Coisa Julgada Material, como na doutrina majoritária, mas entende-se
também nesse caso sobre uma possível mudança a partir da mudança na
aplicação da norma no caso concreto, também a partir de fatos posteriores a
decisão. Pode-se notar maior as semelhanças entre os doutrinadores nos três
casos apresentados, quando é observado fatos de comum acordo, como a livre
disposição do direito material, quando direitos disponíveis, através da parte do
processo. Também é comum o entendimento de elemento declaratório presente
na decisão, a geração dos fatos extraprocessuais e a possibilidade de alteração
salvo em decorrência de eventos futuros a decisão de mérito (NEVES, 2016).

Já para Fredie Didier Jr., coisa julgada é a indiscutibilidade das decisões


judiciais, o que significa que a coisa julgada impede o reexame de alguma
matéria. Segundo autor, a indiscutibilidade se dá também em duas dimensões,
em efeito negativo e efeito positivo, sendo que o efeito negativo quando ocorre
de uma questão já decidida for colocada novamente para apreciação
jurisdicional, a parte poderá afirmar de que há coisa julgada sobre o assunto, a
impedir o reexame do que já foi decidido, gerando uma defesa ao demandado.
Ainda, segundo Didier, o efeito positivo da coisa julgada é quando utilizada como
fundamento em outra demanda: “o efeito positivo da coisa julgada determina que
a questão indiscutível pela coisa julgada, uma vez retornando como fundamento
de uma pretensão tenha de ser observada, não podendo ser resolvida de modo
distinto”. Mas ele ainda traz uma possibilidade mais especifica quanto ao
ordenamento jurídico e a relação com a Coisa julgada:

“A coisa julgada é situação jurídica que diz respeito exclusivamente às


decisões jurisdicionais. Somente uma decisão judicial pode tornar-se
indiscutível e imutável pela coisa julgada. Isso não quer dizer que só
haverá jurisdição se houver coisa julgada. A existência de coisa julgada
é uma opção política do Estado; nada impede que o legislador, em certas
hipóteses, retire de algumas decisões a aptidão de ficar submetida à
coisa julgada; ao fazer isso, não lhes tira a "jurisdicionalidade". A coisa
julgada é situação posterior à decisão, não podendo dela ser sua
característica ou elemento de existência: não se condiciona o "ser" por
algo que, no tempo, lhe é posterior. De fato, a característica que é
exclusiva da jurisdição é a aptidão para a definitividade. Só os atos
jurisdicionais podem adquirir essa especial estabilidade, que recebe o
nome de coisa julgada” (DIDIER JR, 2015, p. 163).

Para ele é algo restrito a decisão judicial, não abordado nesse ponto pelos
autores citados anteriormente. Ele apresenta um viés de aptidão ao legislador
em aplicar a coisa julgada numa questão política do Estado em um movimento
posterior a decisão tomada pelo magistrado.

Quanto a função negativa da Coisa Julgada, o autor Daniel Amorim


Assumpção Neves explica que com a imutabilidade determinada na Coisa
Julgada Material, fica impossibilitado assim uma nova ação com mesma causa
do processo julgado. Fica subentendido que aquele mesmo assunto já foi
decidido. Mesmo que a novo processo tenha as mesmas partes em polos
invertidos, sendo a causa e pedidos idênticos anteriormente, e já tendo a
sentença de mérito transitada em julgado (levando assim a coisa julgada
material), essa nova ação fica impedida. O autor Humberto Theodoro Júnior,
versando sobre a sentença, traz definição recorrente a essa “reproposição” de
ação comentada:

“Não importa de que modo se posicione o juiz. Se o ato tem como fim
encerrar o debate acerca da pretensão que constitui o objeto da causa,
tem se sentença. No entanto, há consequências, inclusive no bojo do
próprio Código, decorrentes da diversidade de natureza jurídica
registrada entre a sentença definitiva e a terminativa. Assim é que, ao
cuidar da coisa julgada, dispõe que diante da sentença de mérito ficam
as partes inibidas de repropor a demanda (art. 502),105 enquanto tal não
se passa com a sentença terminativa (art. 486). ” (THEODORO JÚNIOR,
2017, p. 641).

Também pode ser notado a questão da repetição desses fatores levar a ser
considerado uma afronta a economia processual e um risco a “harmonização
dos julgados”, como aponta Neves. Sendo esse impedimento de um novo
julgamento então, o efeito negativo da coisa julgada, obedecendo o caso de
mesma causa. Assim, entende também a doutrina e jurisprudência, a partir da
teoria da tríplice identidade, o juiz deve extinguir o processo sem a decisão de
mérito. Na existência desse fato, uma vez que o juiz pode não ter o conhecimento
prévio de processo já transitado em julgado, cabe ao réu da nova ação
apresentar o acontecimento passado e contestar com o pedido pela extinção do
processo sem julgamento de mérito.

Por fim, também temos a função positiva da coisa julgada. Sendo a função
negativa uma proteção contrária a má-fé ou ao desconhecimento por parte de
uma mesma demanda já resolvida, a função positiva consiste numa demanda
diferente, mas tendo a obrigação do vínculo com a coisa julgada material anterior
por possuir relação direta com o fato antecedente. É o caso por exemplo, de uma
ação por paternidade, que foi deferido e posteriormente se ajuíza uma nova ação
com pedido de alimentos. A coisa julgada material anterior fará parte nesse novo
processo de forma positiva, trazendo a obrigação de uma conexão dos fatos
anteriores aos novos fatos dessa demanda distinta (NEVES, 2016).
Uma ação terá total importância para que se decida também o novo pedido,
como no exemplo citado. Assim como a função positiva também protege a
imutabilidade da coisa julgada, nessa nova demanda, não permitindo que se
discuta os fatos anteriores novamente no novo processo, já que não é esse o
objetivo.
REFERÊNCIAS

NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil.


Volume único. Salvador: Jus Podivm, 2016.

GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito Processual Civil Esquematizado.


7 ed. São Paulo: Saraiva, 2016.

DIDIER JR., Fredie. Curso de direito processual civil: introdução ao direito


processual civil, parte geral e processo de conhecimento I - 17. ed. -
Salvador: Ed. Jus Podivm, 2015.

THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil – Teoria


geral do direito processual civil, processo de conhecimento e
procedimento comum – vol. I – Rio de Janeiro: Forense, 2017.

LEITE, Gisele e HEUSELER, Denise. A coisa julgada e o Novo Código de


Processo Civil Brasileiro. 28 de março de 2015. Disponível em:
https://professoragiseleleite.jusbrasil.com.br/artigos/177525505/a-coisa-julgada-
e-o-novo-codigo-de-processo-civil-brasileiro. Acesso em: 11 de novembro de
2018.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. NBR 10719:


apresentação de relatórios técnico-científicos. Rio de Janeiro, 1989. 9 p.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. NBR 14724:


informação e documentação: trabalhos acadêmicos: apresentação. Rio de
Janeiro, 2005. 9 p.

Você também pode gostar