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SALVADOR
2018
ARISTON REIS PRAZERES
DAVID BITENCOURT MOURA DE ARAUJO
SALVADOR
2018
RESUMO
A distinção diretora
Parece-nos importante afirmar que subjaz à nossa observação sobre as
teorias de pena uma distinção diretora diferente daquela que caracterizou os
debates em filosofia e doutrina penal ao longo dos dois últimos séculos. A
distinção fundamental com o qual os operadores do sistema de direito criminal
estão habituados opõe os defensores do retributivismo penal aos defensores das
diferentes formas utilitaristas (sobre tudo a dissuasão).
A distinção que orienta a observação que permite inferir a existência da
RPM é de outro tipo. Pires (2008a) fala de teorias indiferentes à inclusão social
do infrator” em oposição as teorias que se preocupam com essa inclusão. Essa
distinção diretora, que podemos representar de forma resumida com os termos
inclusão/exclusão.
É possível ver que outras possibilidades de justificações teóricas para as
penas existirem, mas elas não chegam a exercer um papel fundamental nas
operações do sistema de direito criminal uma vez que elas se opõem à
racionalidade dominante. Ainda nas ideias que foram uma teoria da reabilitação
mais recente e que se opõem à exclusão do infrator antes de defender a ideia
de sua inclusão.
Podemos assim compreender por que o sistema penal se vê de uma
forma tão radicalmente diferente em matéria de penas com relação a outros
ramos do direito: a “ontologização” da distinção entre direito civil e o direito penal
está inscrita no coração da RPM, em cada ponto em comum das teorias da pena
“indiferentes à inclusão social”.
Podemos dizer que a RPM torna tão “natural” a atribuição de um retrato
punitivo ao sistema de direito criminal que temos dificuldade em ver atualmente
que a representação que este sistema faz da pena é apenas uma possibilidade
entre várias possíveis para se responder às transgressões consideradas
criminas. A RPM não é uma consequência natural do processo de diferenciação
dos sistemas do direito criminal.
Notas conclusivas
O objetivo aqui foi mostrar empiricamente como um sistema de
pensamento dominante limita as possibilidades de agir e de pensar em matéria
de penas criminais. Parece claro que a criatividade no penal é amplamente
deficiente, pois os limites da ação e do pensamento são definidos de forma
bastante rígida: uma obrigação de impor um sofrimento, uma impossibilidade de
considerar soluções alternativas, uma impossibilidade de ouvir as partes
implicadas no conflito (e mesmo de considerar que vítima possa ser parte do
conflito).
Os juízes são pelo direito penal mínimo; a OAB é pelo direito penal
mínimo; as donas de casa e os homossexuais também; “mas apenas quando o
comportamento criminal não atinge esses grupos: (...) são grupos de direito
penal mínimo, mas que, no entanto, são radicalmente a favor do endurecimento
das penas para a criminalização dos comportamentos quando esses
comportamentos afetam esses grupos específicos: isso é um outro paradoxo da
modernidade no campo do direito penal”.
REFERÊNCIAS