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Recursos no

Processo Penal

Professor Matheus Castro


Email: matheusdcastro.edu@gmail.com
REVISÃO CRIMINAL

Artigo 621 do CPP.


- A revisão criminal, ainda que tratada pelo Código de Processo
Penal juntamente com os recursos, é uma ação de impugnação,
de competência originária dos tribunais, não é recurso.

- Trata-se de um meio extraordinário de impugnação, não


submetida a prazos, que se destina a rescindir uma sentença
transitada em julgado, exercendo por vezes papel similar ao de
uma ação de anulação, ou constitutiva negativa no léxico
ponteano, sem se ver obstaculizada pela coisa julgada.

- A revisão criminal situa-se numa linha de tensão entre a


“segurança jurídica” instituída pela imutabilidade da coisa julgada
e a necessidade de desconstituí-la em nome do valor justiça.

- Se de um lado estão os fundamentos jurídicos, políticos e sociais


da coisa julgada, de outro está a necessidade de relativização
deste mito em nome das exigências da liberdade individual.
Atenção!!!

- A Revisão Criminal é a última análise, o legislador


se viu obrigado a solucionar o terrível problema que
supõe considerar que um mecanismo como o da
coisa julgada, que está pensado como meio de
segurança apto a conseguir a justiça, pode, em
outras ocasiões, ser um elemento que proporcione
situações clamorosamente injustas.

- Por tudo isso, a revisão criminal é uma medida


excepcional, cujos casos de cabimento estão
expressamente previstos em lei.
Conceito e Natureza Jurídica

- É uma ação penal de natureza constitutiva e sui generis, de


competência originária dos tribunais, destinada a rever decisão
condenatória, com trânsito em julgado, quando ocorreu erro judiciário.

- Trata-se de autêntica ação rescisória na esfera criminal,


indevidamente colocada como recurso neste Título do Código de
Processo Penal.

- Tem alcance maior do que o previsto na legislação ordinária,


adquirindo, igualmente, o contorno de garantia fundamental do
indivíduo, na forma de remédio constitucional contra injustas
condenações.

- Eis porque é uma ação sui generis, onde não há parte contrária, mas
somente o autor, questionando um erro judiciário que o vitimou.
- Tais conclusões são porque a Constituição Federal (art. 5.º,
LXXV) preceitua que “o Estado indenizará o condenado por erro
judiciário”, além do que no § 2.º do mesmo art. 5.º, menciona-se
que outros direitos e garantias podem ser admitidos, ainda que
não estejam expressamente previstos no texto constitucional,
desde que sejam compatíveis com os princípios nele adotados.

É justamente essa a função da revisão criminal: sanar o erro


judiciário, que é indesejado e expressamente repudiado pela
Constituição Federal.

- Esse entendimento, elevando a revisão à categoria de garantia


fundamental, é prestigiado por Frederico Marques, que
argumenta estar previsto expressamente o direito a essa ação na
Constituição, no contexto da competência do Supremo Tribunal
Federal (art. 102, I, j).
- Assim, se os condenados pela Suprema Corte têm direito constitucional
à utilização desse instrumento, é natural que os demais, sentenciados por
instâncias inferiores, também o possuam, o que lhes garante a isonomia
contra o erro judiciário (Frederico Marques).

- Contrário, sustentando tratar-se de um recurso, embora de caráter misto


e sui generis (Magalhães Noronha).

Atenção: (NUCCI, 2020, p. 1967) “Entendendo cuidar-se de ação penal


e não de mero recurso, está a posição da maioria da doutrina e da
jurisprudência”. Sérgio de Oliveira Médici, no entanto, propõe outra
conceituação, sem adotar o difundido caráter de ação, nem acolher ser a
revisão criminal um mero recurso, merecendo registro: “Em nosso
entendimento, a revisão constitui meio de impugnação do julgado que
se aparta tanto dos recursos como das ações, pois a coisa julgada exclui
a possibilidade de interposição de recurso, e, ao requerer a revista da
sentença, o condenado não está propriamente agindo, mas reagindo
contra o julgamento, com o argumento da configuração de erro judiciário.
A ação penal anteriormente vista é então revista por meio da revisão que,
entretanto, não implica inversão das partes (em sentido processual)”.
Cabimento - Análise do Art. 621 do CPP (JR. 2020, p. 1719)

- Seguimos vendo as situações previstas no art. 621 do CPP,


esclarecendo que a revisão criminal pode ser proposta para
desconstituir sentenças de juízes singulares ou do Tribunal do
Júri, bem como acórdãos proferidos pelos tribunais.

- Durante muito tempo se discutiu o cabimento da revisão criminal em


relação às decisões proferidas pelo Tribunal do Júri, diante da
soberania desta decisão, mas atualmente a questão corretamente se
pacificou no sentido da plena possibilidade da revisão criminal.

- A revisão pode ter como objeto uma sentença condenatória (ou


absolutória imprópria) ou acórdão condenatório (ou absolutório
impróprio), isso porque, quando o réu é absolvido em primeiro grau e
o Ministério Público apela, sendo acolhido o recurso, a decisão
condenatória objeto da revisão criminal é o acórdão proferido pelo
tribunal, e não a sentença (absolutória) do juiz.
Art. 621. A revisão dos processos findos será admitida:

- A expressão processos findos deve ser interpretada no sentido de


existência de uma sentença ou acórdão penal condenatório transitado
em julgado.

- São dois os pressupostos da revisão criminal:

• existência de uma sentença penal condenatória ou


absolutória imprópria (art. 386, parágrafo único, III, do CPP);
• e que esta sentença tenha transitado em julgado.

- A sentença a qual se pretende revisar deve ser condenatória ou


absolutória imprópria, aquela em que se aplica medida de
segurança ao réu inimputável, que inegavelmente possui um caráter
“condenatório”. Inclusive, a situação gerada pela medida de
segurança é, em geral, mais grave até do que a daquele submetido à
pena privativa de liberdade, diante da situação de incerteza e
indeterminação inerente à medida de segurança. Tampouco existe
progressão de regime, trabalho externo etc.
- Mas não se admite a revisão criminal quando a sentença é
absolutória, propriamente dita, ou absolvição sumária, não havendo
um interesse juridicamente tutelável nestes casos, ainda que se
argumente em torno da “mudança do fundamento da absolvição”.

- A excepcionalidade da revisão criminal faz com que os casos em que


ela é admitida sejam taxativamente previstos, sem possibilidade de
ampliação deste rol (no qual não se encaixam as situações de
absolvição).

- Contribui ainda para essa entendimento o disposto no art. 625, § 1º,


do CPP, de que o requerimento será instruído com a certidão de
haver passado em julgado a sentença condenatória e com as
peças necessárias à comprovação dos fatos arguidos.

- O modelo brasileiro não admite a chamada revisão criminal pro


societate, ou seja, a revisão das sentenças absolutórias, o que
constituiria uma autêntica reformatio in pejus.
I – quando a sentença condenatória for contrária ao texto
expresso da lei penal ou à evidência dos autos;

- São duas as situações previstas aqui, em que a sentença


condenatória (ou absolutória imprópria) é contrária:

a) Ao texto expresso da lei penal: o que significa uma


contrariedade em relação à lei penal, mas também processual
penal, à Constituição ou qualquer outro ato normativo que tenha
sido empregado como fundamento da sentença condenatória
(como as leis completivas empregadas na aplicação de uma lei
penal em branco, portarias etc).

OBS 1: Incorre no mesmo fundamento a sentença penal que


incidir em erro na subsunção dos fatos à lei penal, ou seja, na
tipificação legal, como pode ser a condenação por peculato de
alguém que não era funcionário público.
OBS 2: As nulidades absolutas também podem ser conhecidas
na revisão criminal por imposição do art. 626 do CPP, que, ao
permitir ao tribunal “anular” a sentença ou acórdão, está
reconhecendo expressamente a existência de mais de uma
causa para sua impetração.

- Portanto, é possível a revisão criminal sob o argumento de


nulidade, pois significa dizer que a decisão judicial é contrária
ao texto expresso da lei e com esse fundamento deve ser
ajuizada.

- Não se pode esquecer que o art. 626 estabelece que


julgando procedente a revisão, o tribunal poderá alterar a
classificação da infração, absolver o réu, modificar a pena ou
anular o processo.

- Portanto, é a existência de nulidade um fundamento jurídico


válido para a revisão criminal.
b) À evidência dos autos: atuando na dimensão da contrariedade
entre a decisão condenatória e o contexto probatório.

- Destaca-se que aqui, a reabertura da discussão situa-se na


dimensão probatória, e não apenas jurídica, como no caso anterior.

- Ainda que o senso comum teórico e jurisprudencial costume


afirmar que a contrariedade deve ser “frontal”, completamente
divorciada dos elementos probatórios do processo, para evitar uma
nova valoração da prova enfraquecendo o livre convencimento do
juiz, pensamos que a questão exige uma leitura mais ampla.

- Portanto, quando o tribunal julga uma revisão criminal, está,


inevitavelmente, revalorando a prova e comparando-a com a
decisão do juiz. E, neste momento, é ingenuidade desconsiderar
que cada desembargador acaba (re)julgando o caso penal e se não
concordar com a valoração feita pelo juiz bastará uma boa retórica
para transformar uma divergência de sentire em uma “contrariedade
frontal entre a sentença e o contexto probatório”.
II – quando a sentença condenatória se fundar em depoimentos, exames ou
documentos comprovadamente falsos;

- É uma situação típica de caso judicial penalmente viciado, ou seja, a decisão


acerca do caso penal está contaminada, pois se baseou em depoimentos,
exames ou documentos falsos (portanto, o vício é de natureza penal, na
medida em que essas falsidades constituem crimes autônomos).

- Essa prova penalmente viciada acaba por contaminar a sentença, que deve
ser rescindida.

- Destaca-se a comparação com outras legislações, como a Ley de


Enjuiciamiento Criminal espanhola, cujo art. 954.3 estabelece como caso de
revisión a “condenação fundada em provas obtidas mediante delito cuja
prática se comprove posteriormente, mediante sentença irrecorrível”.

- No modelo brasileiro, o legislador empregou a expressão comprovadamente


falsos, dando maior flexibilidade, na medida em que não exige que o crime de
falsidade tenha sido criminalmente punido.

- Claro que, se isto tiver ocorrido, maior probabilidade de êxito terá a revisão.
Atenção!!!

- A comprovação do falso poderá ser feita no curso da própria


revisão criminal, ainda que os tribunais brasileiros, em geral,
não admitam uma cognição plenária no curso desta ação,
exigindo uma prova pré-constituída.

- Mas a falsidade poderá ser feita através da ação declaratória


da falsidade documental, na esfera cível e, eventualmente,
pela via da produção antecipada da prova (fundada nos arts.
381-383 do CPC), mas distribuída e julgada numa vara
criminal.
III – quando, após a sentença, se descobrirem novas provas de
inocência do condenado ou de circunstância que determine ou
autorize diminuição especial da pena.

- Sobre o conceito de novas provas, esclarece: “são novas porque


não haviam sido introduzidas no processo, sejam preexistentes
ou supervenientes; também consideramos novas as provas as
que tenham sido aduzidas, mas que tenha ficado de fora da
decisão, como às vezes ocorre.

- Portanto, numa interpretação mais ampla, o conceito de novas


provas não pode ficar limitado àquelas desconhecidas e que
surgiram depois do processo.

- Também é considerada “prova nova” a preexistente não


introduzida no processo ou mesmo aquela que ingressou nos
autos, mas que não foi valorada.
Destaques:

- O conceito de novas provas abarca o fato novo, na medida em que esse fato
novo se processualize através de uma atividade probatória e com isso influa
decisivamente no julgamento.

- Essa prova nova não precisa, necessariamente, ser apta a produzir a


absolvição, havendo a possibilidade de ela influir na redução da pena
aplicada.

- E como se judicializa essa prova nova?


Em tese é possível fazê-lo no curso da revisão, ainda que os
tribunais não costumem ter “boa vontade” em produzir essa prova,
de modo que o melhor caminho é produzir judicialmente essa prova
em primeiro grau, através da produção antecipada da prova,
prevista nos arts. 381-383 do CPC, distribuída (sem prevenção)
entre as varas criminais da comarca onde se pretende sua
produção.

- Por fim, prevalece o entendimento de que a prova nova “deve ter valor
decisivo, não bastando aquela que só debilite a prova do processo revidendo
ou que cause dúvida no espírito dos julgadores”.
Polo ativo na revisão criminal: art. 623. A revisão poderá ser pedida pelo
próprio réu ou por procurador legalmente habilitado ou, no caso de morte
do réu, pelo cônjuge, ascendente, descendente ou irmão.

Polo passivo na revisão criminal: embora se trate de ação, como


defendemos na nota anterior, é uma modalidade sui generis de ação, pois
traz consigo o caráter de garantia constitucional instrumentalizada, de
modo que não possui parte passiva.

- A revisão criminal tem por fim sanar um erro judiciário, razão pela qual, ao
menos em tese, não teria o MP de 2º grau interesse em contrariar o
pedido, como se fosse autêntica parte passiva.

- Há divergência na análise da natureza jurídica da revisão criminal, motivo


pelo qual as opiniões não coincidem. Defendem Ada, Magalhães e
Scarance que “legitimado passivo na ação é o Estado, representado pelo
Ministério Público, sendo certo que, no sistema brasileiro, não se prevê, na
revisão, a assistência do ofendido”.

- Eles criticam, inclusive, a exclusão da parte ofendida do polo passivo,


pois a decisão na revisão pode afetar seus interesses.
O que entendo por ser correto!!! Entendimento predominante

- Em relação ao papel do MP, e ou, figuração no polo passivo,


seguimos o entendimento sustentado por Sérgio de Oliveira
Médici:

“O Ministério Público, chamado a opinar na revisão criminal, não


representa o Estado ou a União. Manifesta-se livremente, a favor
ou contra o pedido, não intervindo na revisão como parte contrária
ao condenado. Conforme dispõe o art. 625, § 5.º, do Código de
Processo Penal, se o requerimento não for indeferido in limine,
abrir-se-á vista dos autos ao Procurador- Geral, que dará parecer
no prazo de dez dias.

- Esta regra indica, claramente, que a função ministerial será de


custos legis, propiciando ao oficiante opinar a respeito do
cabimento do pedido e, no mérito, pronunciar-se favorável ou
contrariamente à rescisão do julgado.
Prazo

- No que diz respeito ao prazo, determina o art. 622, “a revisão


poderá ser requerida em qualquer tempo, antes da extinção da
pena ou após”. Portanto, não há prazo para interposição da revisão
criminal.

- A revisão pode ser postulada durante o cumprimento da pena ou


até mesmo após o seu término, ou seja, após a extinção da pena.
Contudo, há que se atentar para a impossibilidade de revisão
criminal quando há extinção da punibilidade antes da sentença, pois
nesse caso não existe uma sentença penal condenatória para ser
revisada.

- Portanto, se no curso do processo é extinta a punibilidade pela


prescrição (ou qualquer outra causa), a decisão proferida é
declaratória da extinção da punibilidade e não condenatória.
Inviável a revisão criminal nesse caso.
- Então, poderá o acusado peticionar requerendo a atribuição
de efeito suspensivo ao RExt ou REsp, atentando para o
endereçamento dessa petição conforme o estágio em que se
encontrar a tramitação do recurso interposto.

- Não afastamos a possibilidade de, caso negado efeito


suspensivo postulado, que o acusado interponha habeas
corpus no STJ, caso negado o efeito no TJ ou TRF; e no STF
se a negativa fora dada no âmbito do STJ.
Procedimento

- Antes de analisar o procedimento, é necessário esclarecer que a


competência para o julgamento da revisão criminal é sempre dos
tribunais, mais especificamente do próprio tribunal que proferiu a
última decisão naquele processo, mas sempre por outro órgão.

- Assim, podem ocorrer as seguintes situações:

a) O réu é condenado e da sentença não há recurso, transitando


em julgado. A revisão criminal será julgada pelo respectivo
Tribunal de Justiça ou Tribunal Regional Federal (Justiça Federal)
que seria competente para o julgamento de uma eventual
apelação.

b) O réu é condenado e apela, tendo o tribunal mantido a


condenação. Com o trânsito em julgado, a revisão criminal será
ajuizada no mesmo tribunal que julgou a apelação, mas pelo
Grupo Criminal (TJ) ou Seção Criminal (TRF), e não pela Câmara
ou Turma Criminal que julgou a apelação.
c) O réu é absolvido, tendo o Ministério Público apelado. O tribunal
acolhe o recurso e condena o réu. Com o trânsito em julgado, a
revisão criminal será distribuída no mesmo tribunal que proferiu o
acórdão condenatório (mas para outro órgão).

d) A revisão criminal será julgada no STF ou no STJ, quando buscar a


desconstituição das decisões proferidas por esses tribunais. Mas
cuidado: o fato de ter havido RESP ou REXT não significa que a
revisão será para o STJ ou o STF. Isso só ocorrerá quando o
fundamento da revisão criminal coincidir com aquele discutido em
sede de recurso extraordinário ou especial, porque nesse caso a
decisão sobre a matéria revisada foi decidida por eles. Portanto,
quando o objeto do recurso especial (não acolhido), por exemplo, foi
a alegação de que a decisão violou lei federal, e a revisão criminal
está fundada na existência de novas provas da inocência do réu, a
competência para o julgamento será do Tribunal de Justiça ou
Tribunal Regional Federal que julgou a apelação (ou seja, quem por
último se manifestou sobre o caso penal [mérito]).
- Mas, nesta matéria, além do art. 624 do CPP, é fundamental
consultar o Regimento Interno do respectivo tribunal, pois lá também
se encontram regras da organização interna que afetam a
competência.

- E quem julgará uma revisão criminal interposta contra decisão da


Turma Recursal? Existe uma imensa lacuna legal neste tema,
agravada pela peculiar estrutura recursal dos Juizados Especiais
Criminais. Respeitando a regra da hierarquia jurisdicional, onde a
revisão criminal é sempre julgada por um órgão jurisdicional
hierarquicamente superior àquele que proferiu a última decisão,
sustentamos que a competência será do Supremo Tribunal Federal.

- Fortalece esse entendimento o fato de as Súmulas n. 203 do STJ e


n. 640 do STF definirem que das decisões das Turmas Recursais
somente será admitido recurso extraordinário para o STF. Mas o tema
não é pacífico. Encontramos julgados do próprio STF no sentido de
que só cabe revisão criminal na corte suprema quando a matéria já
tiver sido decidida pelo STF anteriormente – ou seja, contra a própria
decisão do STF.
- Em qualquer caso, determina o art. 625 que a revisão criminal não
poderá ter como relator o mesmo (relator) que anteriormente tenha
atuado no julgamento da apelação ou outro recurso.

- Importante, neste ponto, é a leitura do art. 625 do CPP.

- A revisão criminal deve ser instruída com a certidão de haver passado


em julgado a sentença condenatória e com as peças necessárias para a
comprovação do alegado. Sugere-se, sempre, que seja anexada cópia
integral do processo ou que se solicite o apensamento dos autos
originais, pois isso é fundamental para o julgamento da revisão.

- Não sendo anexada cópia do processo, o relator poderá determinar o


apensamento dos autos originais, mas é claro que isso gera um atraso
no julgamento que pode ser evitado pela parte.

- Não há que se falar em “efeito devolutivo ou suspensivo”, pois


revisão criminal não é recurso. Obviamente, estando o réu em
liberdade, não é necessário recolher-se à prisão para ingressar com a
revisão.
- Em situações excepcionais, estando o réu preso e sendo fortes os
elementos contidos na inicial, poderá o relator conceder habeas
corpus de ofício (art. 654, § 2º), para que o condenado aguarde em
liberdade o julgamento da revisão criminal.

- Noutra dimensão, também já se admitiu a conversão de habeas


corpus em revisão criminal, na medida em que o writ pretendia
desconstituir uma sentença transitada em julgado e exigia uma
cognição ampla, que excedia os limites do habeas corpus.

- Neste sentido consulte-se o REsp 158.028, Rel. Min. Luiz Vicente


Cernicchiaro, j. 19/03/1998, em que se lê que “a fungibilidade dos
recursos é admissível. Resulta da natureza instrumental do processo.
Nada impede, outrossim, uma ação ser escolhida como outra. O HC
é uma ação constitucionalizada: visa a fazer cessar ou impedir que
ocorra ofensa ao direito de liberdade. A revisão criminal também é
ação, não obstante a colocação no CPP”.
Limites da Decisão Proferida na Revisão Criminal - Da Indenização

- Acolhida a revisão criminal, o tribunal poderá:

Art. 626. Julgando procedente a revisão, o tribunal poderá alterar a


classificação da infração, absolver o réu, modificar a pena ou anular
o processo.
Parágrafo único. De qualquer maneira, não poderá ser agravada a
pena imposta pela decisão revista.
Art. 627. A absolvição implicará o restabelecimento de todos os
direitos perdidos em virtude da condenação, devendo o tribunal, se
for caso, impor a medida de segurança cabível.

- Considerando que a revisão criminal é uma ação de impugnação de


caráter excepcional, somente admissível em favor do réu, nada impede
que se produza uma decisão ultra petita, ou seja, não se aplicam aqui os
rigores do princípio da congruência anteriormente estudado, de modo
que o tribunal pode absolver o réu ainda que o pedido tenha sido de
anulação do processo ou apenas uma diminuição da pena.
- O único limite intransponível é o da vedação da reformatio in pejus,
contido no parágrafo único do art. 626, de modo que em nenhuma
hipótese poderá ser agravada a situação jurídica do autor.

- Quando a decisão for de anulação, o feito com defeito deverá ser


refeito, de modo que o processo (a extensão dependerá da
contaminação) terá nova tramitação e decisão. Não poderá, esta
nova decisão, ser mais grave que a anterior, sob pena de constituir
uma reformatio in pejus indireta. Deve-se considerar também a
possível ocorrência da prescrição, pois a sentença condenatória
desaparece como marco interruptivo e, dependendo da
contaminação, até o recebimento da denúncia poderá ser
desconstituído.

- Por “alterar a classificação da infração” entenda-se a aplicação do


art. 383 do CPP, ou seja, a emendatio libelli, uma mera correção da
tipificação legal desde que não seja prejudicial à defesa (vedação da
reformatio in pejus).
- Por fim, havendo pedido expresso na revisão criminal, o tribunal,
acolhendo-a, poderá reconhecer o direito a uma indenização pelos
prejuízos sofridos, como estabelece o art. 630.

- A responsabilidade do Estado é objetiva, como define o art. 37, § 6º,


da Constituição, sendo (também) indenizável o erro judiciário, como
estabelece o art. 5º, LXXV.

- Como explica a doutrina, a responsabilidade objetiva do Estado


exige três requisitos para sua configuração:

• ação atribuível ao Estado;


• dano causado a terceiro;
• nexo de causalidade entre eles.

- Como ocorre em outras atividades do Estado, em que às vezes o


conceito de nexo causal é alargado ao extremo, gerando uma
banalização e indevida aplicação da teoria da responsabilidade
objetiva, a situação aqui exige uma análise à luz do caso concreto.

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