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Dilema do Abrigo Subterrâneo

Dilema do Abrigo Subterrâneo


Imaginem que a Humanidade foi devastada por uma guerra nuclear global
e que há 15 sobreviventes no mundo inteiro que precisam de se abrigar da
radiação. Existe um abrigo subterrâneo que pode albergar apenas 6
pessoas durante 2 anos (com comida, água e oxigénio) até os efeitos da
radiação se dissiparem.
Quais seriam as 6 pessoas a seleccionar e que repovoariam o planeta
passados dois anos? Eis a lista dos sobreviventes:

Um Agricultor Uma Professora


Um Médico Uma menina de 7 anos
Uma Engenheira civil Um Agente imobiliário
Um Carpinteiro Um Electricista
Um Astronauta Um Provador de vinhos
Um Padre Uma estudante de Física
Uma Designer de moda Uma Violinista
Uma Psicoterapeuta
Dilema do Abrigo Subterrâneo
Imaginem que a Humanidade foi devastada por uma guerra nuclear global
e que há 15 sobreviventes no mundo inteiro que precisam de se abrigar da
radiação. Existe um abrigo subterrâneo que pode albergar apenas 6
pessoas durante 2 anos (com comida, água e oxigénio) até os efeitos da
radiação se dissiparem.
Quais seriam as 6 pessoas a seleccionar e que repovoariam o planeta
passados dois anos? Eis a lista dos sobreviventes:
Um Agricultor com cancro terminal Uma Professora
Um Médico pedófilo Uma menina de 7 anos com deficiência
Uma Engenheira civil mental profunda
Um Carpinteiro inválido Um Agente imobiliário
Um Astronauta Um Electricista
Um Padre Um Provador de vinhos
Uma Designer de moda Uma estudante de Física com voto de
Uma Psicoterapeuta com 95 anos castidade
Uma Violinista com doutoramento em
Informática
Dilema do Abrigo Subterrâneo
Problemas que este exercício levanta:

•Há vidas humanas mais valiosas que outras?


•Que características deve possuir alguém para “valer
a pena” salvar?
•Como escolher entre salvar A ou salvar B?
• Que razões (argumentos) podemos usar para
escolher A ou B?
•Por que razão é difícil fazer estas escolhas?
•É possível fazer escolhas imparciais?
Dilema do Abrigo Subterrâneo
Discutir dilemas destes é a essência do trabalho filosófico:
Problematizar: Há vidas humanas mais valiosas que outras?
Que critérios permitem decidir quem vale mais?
(levantar o problema ou cerne da questão)

Conceptualizar: O que se entende por “valor da vida humana”?


(clarificar conceitos a trabalhar)

Argumentar:
tese 1 - Sim, há vidas mais valiosas.
tese 2 - Não, todas as vidas são igualmente importantes.
(defender a tese ou resposta ao problema filosófico,
apresentando argumentos ou razões a seu favor)
Como se trabalha filosoficamente?
Todos têm valor. Os idosos possuem
Sim, há vidas mais experiência de vida, conhecimento
valiosas! O jovem tem sem o qual a vida dos jovens seria
mais anos de vida, ainda mais difícil!
tem muito para viver.
Como se trabalha filosoficamente?
E como julgas que esses jovens
Só posso salvar 6
vão sobreviver sem conhecerem
pessoas! Se salvar os
nada do mundo? Agricultura?
mais velhos, como vou
Saúde? Engenharia?
repovoar o planeta??
Como se trabalha filosoficamente?

Sacrificar jovens para deixar entrar Todas as vidas valem por si, todos
idosos que podem morrer logo temos dignidade humana, todos
depois no abrigo é um desperdício merecemos ser felizes.
de oportunidade.
Essência do trabalho filosófico:
Problematizar: Há sentido para a vida sem acreditar em Deus?
Saberemos distinguir o Bem do Mal sem Deus?
(levantar o problema ou cerne da questão)
Conceptualizar: O que se entende por “Sentido da Vida”?
O que são o “Bem” e o “Mal”?
(clarificar conceitos a trabalhar)
Argumentar:
tese 1 – Há sentido para a vida sem Deus. É possível ser moral
sem precisar de Deus.
tese 2 - Não, sem Deus há um vazio por preencher. Não
somos capazes de agir moralmente.
(defender a tese ou resposta ao problema filosófico, apresentando
argumentos ou razões a seu favor)
O que é, então, a Filosofia?

O que é Filosofia?: Crash Course Filosofia #1


https://www.youtube.com/watch?v=1A_CAkYt3GY
O que é, então, a Filosofia?
Actividade conceptual e crítica que se debruça
sobre problemas fundamentais acerca da
natureza da realidade (Metafísica), do conhecimento
(Epistemologia) e do valor (Ética e Estética).
Disciplinas Filosóficas
Metafísica – estuda problemas relacionados com a natureza da
realidade: Existirá algo para lá do conteúdo da minha mente? Se
as coisas que existem poderiam não existir, haverá algo que não
pudesse não existir? Os números, os valores, os conceitos têm uma
existência em si mesma ou só existem na mente?
Lógica filosófica – ocupa-se em estabelecer regras de estruturação
do pensamento e do discurso (argumentação): Será possível
persuadir sem cometer erros ou falácias? Somos mais facilmente
persuadidos pelas emoções ou pela razão? Como definir
correctamente um conceito?
Epistemologia – estuda problemas relacionados com a natureza
do conhecimento: Como podemos ter a certeza de que
conhecemos algo? Como saber se estamos perante uma crença
verdadeira? O que é o conhecimento?
Disciplinas Filosóficas
Axiologia (Ética e Estética) – estuda problemas relacionados com a
natureza dos valores e da apreciação que fazemos do mundo: O
que são os valores (Justiça, Bem, Beleza)? Existem
independentemente de nós? São subjectivos ou objectivos?
Filosofia da Linguagem - estuda problemas relacionados com o
uso da linguagem, o seu significado e contexto social, (sintaxe,
semântica e pragmática): O que fazemos com a linguagem, como a
usamos socialmente? Qual a sua finalidade? Como é que a
linguagem se relaciona com a mente do falante, do intérprete, com
o mundo?
Filosofia Política – estuda problemas relacionados com a vida
social e política do ser humano: Como se define uma sociedade
justa? Qual a melhor forma de distribuir a riqueza? Igualdade é o
mesmo que Justiça? Igualdade é o mesmo que equidade?
Disciplinas Filosóficas
Filosofia da Informação – estuda problemas relacionados com a
natureza da informação e dos dados que possuímos e com a
noção de Verdade que construímos a partir dessa informação e
desses dados: Como podemos ter a certeza de que a informação
que possuímos é verdadeira? Possuir informação/dados é igual a
conhecer a Verdade?
Filosofia da Religião – estuda problemas associados à natureza do
conceito de Deus e à relação do Homem com o Divino: Poderemos
provar que Deus existe? Deus pode ser simultaneamente
omnisciente e sumamente bom? Se Deus for omnipresente e
omnisciente, poderemos ter livre-arbítrio?
Filosofia da Acção – estuda problemas associados com o livre-
arbítrio: Seremos livres ou estaremos determinados? A Liberdade é
uma ilusão? Até que ponto as nossas escolhas são, de facto,
nossas?
O que é, então, a Filosofia?
Os problemas da Filosofia,
tal como os problemas da Física ou da Biologia, não
são problemas empíricos, isto é, não se
resolvem com base na observação e na experiência,
mas sim pelo pensamento apenas.

Assim, para encontrar respostas aos problemas de


que se ocupam, os filósofos recorrem,
sobretudo, à discussão crítica e à argumentação.
O que é, então, a Filosofia?
Assim, podemos concluir que a filosofia envolve as
seguintes atividades:
•Formular problemas (Problematizar)
•Analisar conceitos fundamentais (Conceptualizar)
•Propor teorias/teses - respostas para os problemas
de que se ocupa (Argumentar)
•Argumentar a favor dessas teorias e imaginar
possíveis críticas em relação às mesmas
(Argumentar).
Como se trabalha filosoficamente?
Problematizando
Identificar o problema – indicar o problema em causa num discurso
argumentativo. Ex.: o autor discute o problema da censura em Democracia.

Formular o problema – enunciá-lo, geralmente sob a forma de uma questão. Ex.:


Será correcto censurar discursos de ódio?

Esclarecer o problema – explicitar o conteúdo e relevância do mesmo. Ex.: É


importante falar da censura porque….

Relacionar o problema com outros – estabelecer ligação do problema para o


contextualizar. Ex.: Falar da liberdade de expressão está relacionado com o risco
da tolerância em Democracia.
Como se trabalha filosoficamente?
Conceptualizando
Identificar conceitos – reconhecer que determinados conceitos são referidos. Ex.:
o autor discute o conceito de censura.

Esclarecer conceitos – clarificar o seu significado/defini-los explicitamente.


Ex: A censura é a limitação da liberdade de expressão.

Aplicar conceitos – saber usá-los correctamente. Para tal, é preciso conhecer o


seu significado de antemão.

Relacionar conceitos – estabelecer ligações entre ideias, formulando


proposições. Ex.: Em Democracia, o conceito de liberdade de expressão é
incompatível com o conceito de censura.
Como se trabalha filosoficamente?
 Definição explícita de um conceito
Apresentação das características comuns que se aplicam a um
conceito: condições necessárias e suficientes.
Ex.: Se aquilo é um peixe, então aquilo é um animal.
Ser animal é uma condição necessária para se ser peixe. É
indispensável ser animal para se ser peixe. Não se pode ser peixe sem
ser também animal. Porém, ser animal não é uma condição suficiente
para ser peixe. Pode ser-se animal e mesmo assim não se ser peixe.
Ser peixe é uma condição suficiente para ser animal: basta ser peixe
para ser animal, aquilo que é peixe é automaticamente animal.
Porém, ser peixe não é uma condição necessária para se ser animal.
pois há outros seres que não são peixes e são animais.
Como se trabalha filosoficamente?
Definição explícita de um conceito

Ex.: Se Björn é sueco, Björn é europeu


Ser europeu é uma condição necessária para se ser sueco. É
indispensável ser europeu para se ser sueco. Não se pode ser sueco
sem ser também europeu.
Ser sueco é uma condição suficiente para ser europeu: basta ser
sueco para ser europeu, aquele que é sueco é automaticamente
europeu. Mas não é suficiente ser europeu para ser sueco.
Como se trabalha filosoficamente?
Definição explícita de um conceito
A definição perfeita é a que não é:
•demasiado abrangente (“Um peixe é um animal” – há mais animais
que não são peixes);
•demasiado restritiva (“um peixe é um salmão” – há mais peixes
sem ser salmões);
•circular (“Um acto justo é aquele que é praticado por uma pessoa
justa”).

Definir algo deve incluir condições suficientes e necessárias “se e


só se” – Trata-se de água, se e só se, for H20 (ser água é condição
necessária e suficiente para ser H20 - nada mais é H20 que não seja
água e vice-versa).
Como se trabalha filosoficamente?
Argumentando
Formular a tese – indicar qual a posição/ideia a defender. Ex.: Em Democracia, o
conceito de liberdade de expressão é incompatível com o conceito de censura.

Avaliar a tese – responde ao problema filosófico? Faz sentido?

Apresentar argumentos – formular razões que sustentem a tese defendida. Ex.:


Se a Democracia depender da liberdade de expressão, não pode haver censura.
A Democracia depende da liberdade de expressão.
Logo, não pode haver censura.

Refutar/contra-argumentar – prever argumentos contrários/contrariá-los.


Teses e Argumentos
No contexto da discussão filosófica, chamamos
teses às respostas que os filósofos dão aos
problemas de que ocupam.

As teses são expressas sob a forma de proposições –


frases declarativas. Ex.:
•Alguns refugiados não são sírios.
•Todos os refugiados são sírios.
Teses e Argumentos

Só frases declarativas servem para expressar


proposições – só elas assumem valor de verdade
(posso confirmar se o conteúdo está conforme a
realidade – se são V ou F)

•Alguns refugiados não são sírios - V


•Todos os refugiados são sírios – F
Teses e Argumentos

a) O João estuda Filosofia?


b) João, estuda Filosofia!
c) Espero que o João decida estudar Filosofia….
d) O João estuda Filosofia.

Qual destas frases pode assumir valor de verdade


(V/F)?
Teses e Argumentos

a) O João estuda Filosofia?


b) João, estuda Filosofia!
c) Espero que o João decida estudar Filosofia….
d) O João estuda Filosofia.

As frases interrogativas, exclamativas e imperativas


não expressam conteúdo susceptível de ser V ou F
– logo, só a d) é uma proposição!
Teses e Argumentos
E a frase “Os esponjosos líquidos são gasosamente
tristes”, é uma proposição?
Teses e Argumentos
“Os esponjosos líquidos são gasosamente tristes”,
não é uma proposição porque é absurda, não
expressa um pensamento passível de ser analisado
como V ou F.
Teses e Argumentos

Existem mais tipos de proposições:


• categóricas – afirmam ou negam algo sem
alternativas ou condições. Ex.: A Mona Lisa é uma
obra de Da Vinci.
As proposições categóricas podem ser
representadas como S é P – ao Sujeito é atribuído
um Predicado ( S - Mona Lisa; é; P – obra de Da
Vinci).
Teses e Argumentos
As proposições categóricas podem ser:
Universais Afirmativas (A) Todas as pessoas são criativas
Universais Negativas (E) Nenhuma pessoa é criativa
Particulares Afirmativas (I) Algumas pessoas são criativas
Particulares Negativas (O) Algumas pessoas não são criativas
Singulares Afirmativas* Da Vinci é criativo
Singulares Negativas* Da Vinci não é criativo
* Nas proposições singulares, o que se afirma ou nega é em relação a um indivíduo.
Teses e Argumentos

• condicionais – estabelecem relações de


consequência entre proposições – a 1.ª implica a 2.ª
(a 2.ª é consequência da 1.ª).
Se estou no Porto, estou em Portugal.
Proposição 1 (antecedente) – Estou no Porto(P)
Proposição 2 (consequente) – Estou em Portugal (Q)

Se P, então Q
Teses e Argumentos

Se estou no Porto, estou em Portugal.


Proposição 1 V Proposição 2 V
Estar no Porto é (condição) suficiente para estar em
Portugal (basta estar no Porto).
Estar em Portugal é (condição) necessária para estar
no Porto (não posso estar no Porto sem estar em
Portugal).
Teses e Argumentos
Muito diferente é dizer:
Se estou em Portugal, estou no Porto.
Proposição 1 V Proposição 2 F

Para se estar em Portugal, não é necessário estar no


Porto (posso estar noutra cidade como Bragança ou
Paredes).
Teses e Argumentos

Há outras formas de expressar proposições condicionais:

• Estou em Portugal, se estou no Porto;


• Sempre que estiver no Porto, estou em Portugal;
• Somente se estiver em Portugal, estou no Porto;
• Apenas estou no Porto se estiver em Portugal, etc…
Teses e Argumentos
As teses que defendemos implicam a verdade de um
determinado conjunto de proposições – para avaliarmos
teses, temos de verificar a sua consistência:

• Um conjunto de proposições é consistente quando todas


as suas proposições são verdadeiras.

•Um conjunto de proposições é inconsistente quando não
é possível que todas sejam verdadeiras ao mesmo tempo.
Teses e Argumentos

Um conjunto de proposições é inconsistente quando não é


possível que todas sejam verdadeiras ao mesmo tempo.

Ex.: Não é consistente sustentar simultaneamente que


Se Deus existe, não pode haver mal no mundo.
Há mal no mundo.
Logo, Deus existe.

Detecta-se aqui logo uma incoerência lógica.


Teses e Argumentos
Se Deus existe, não pode haver mal no mundo.
Há mal no mundo.
Logo, Deus existe.

Pelo menos 1 destas proposições é errada:


Ou é falso que a existência de Deus é incompatível com o
mal;
Ou é falso que há mal no mundo;
Ou é falso que Deus existe.
Ou todas são falsas – não podem é ser todas verdadeiras.
Teses e Argumentos
Se Deus existe, não pode haver mal no mundo.
Há mal no mundo.
Logo, Deus existe.

Uma teoria inconsistente nunca pode ser verdadeira –


deve ser assim reformulada ou rejeitada (não posso
concluir ou defender a tese de que Deus existe baseando-
me na relação lógica das proposições acima – neste
argumento.
Teses e Argumentos
P1.Se Deus existe, não pode haver mal no mundo. (premissa
1)
P2. Há mal no mundo.(premissa 2)
C. Logo, Deus existe. (conclusão/tese defendida)

Argumento
Um argumento é um conjunto de proposições (premissas)
que pretendem justificar ou apoiar uma tese (conclusão).
Teses e Argumentos
P1. Todo o acto de acabar com a vida é repugnante.
P2. A eutanásia é um acto de acabar com a vida.(premissa
2)
C. Logo, a eutanásia é repugnante. (conclusão/tese
defendida)

What is an Argument?
https://www.youtube.com/watch?v=Nq8-w2BAJkU 4’17’’
Teses e Argumentos
Alguns indicadores de premissa e de conclusão mais
comuns num argumento:
Indicadores de premissas Indicadores de conclusão
Pois… Portanto De modo que…

Supondo / admitindo / assumindo / Do que se conclui / O que tem por /


sabendo que.. segue / infere / deduz como consequência
que… que…
Sendo que / o que… Logo… O que mostra que…

Porque… Assim… Por isso…

Como resultado / em consequência O que prova…. Decorre que…


de….
Teses e Argumentos
Nem todos os argumentos se apresentam formalizados
em premissas e conclusão, como neste exemplo:
“É claro que Deus não existe! Deus não permitiria que
existisse mal no mundo, por isso Deus não existe.”
Onde estão as premissas e a conclusão (tese defendida)?
Teses e Argumentos
Como formalizar um argumento?

1.º - Identificar a conclusão – Qual é a ideia que o autor


do argumento quer defender?

“É claro que Deus não existe! Deus não permitiria que


existisse mal no mundo, por isso Deus não existe.”

O autor quer convencer-nos que Deus não existe (tese


defendida)
Teses e Argumentos
Como formalizar um argumento?
2. º - Identificar as premissas do argumento – Que razões
apresenta o autor para defender a sua conclusão?
“É claro que Deus não existe! Deus não permitiria que
existisse mal no mundo, por isso Deus não existe.”
O autor defende que a existência de Deus é incompatível
com a existência do mal – a existência de Deus é
condição suficiente para não haver mal:
P1 – Se Deus existe, não há mal no mundo.
Teses e Argumentos
Como formalizar um argumento?
3. º - Identificar premissas não explícitas do argumento –
ideias que não estão claras mas que contribuem para a
conclusão:
“É claro que Deus não existe! Deus não permitiria que
existisse mal no mundo, por isso Deus não existe.”

O autor defende implicitamente que existe mal no


mundo:
P2 – Existe mal no mundo.
Teses e Argumentos
Como formalizar um argumento?
4. º - Formalizar o argumento com premissas e
conclusão:
P1 - Se Deus existe, não há mal no mundo.
P2 – Existe mal no mundo.
C – Logo, Deus não existe.
Teses e Argumentos
Como formalizar um argumento?
Nem sempre os argumentos apresentam todas as
premissas. Apresentam sempre a conclusão porque sem
conclusão não há argumento.
Mas, muitas vezes, há uma premissa que não é
explicitamente apresentada, está implícita, omitida.
Estes argumentos têm o nome de entimemas. Ex.:

Todos os crimes são moralmente inadmissíveis e, por isso,


o aborto é moralmente inadmissível.
Teses e Argumentos
O indicador Por isso revela-nos a conclusão:
C - O aborto é moralmente inadmissível.
A proposição que temos é a premissa apresentada:
P1 - Todos os crimes são moralmente inadmissíveis.
Basta raciocinar um pouco para trazer à luz a premissa
omitida. Ela é
P2 - O aborto é um crime. (Se todos os crimes são
moralmente admissíveis, o aborto só será moralmente
inadmissível no caso de ser um crime)
P1 - Todos os crimes são moralmente inadmissíveis.
P2 - O aborto é um crime (premissa omitida).
C - Logo, o aborto é moralmente inadmissível.
Teses e Argumentos
Exercícios de formalização de argumentos
a) A pena de morte é inaceitável. Matar um ser humano
só é aceitável se não houver alternativa moralmente
válida. Sabemos que há alternativa moralmente válida
à pena de morte.
b) Sei que vou morrer porque sou um ser vivo.
c) Há uma causa de todas as coisas, porque todas as
coisas têm um criador.
d) Os filósofos querem ser justos, pois são pessoas
bondosas, e todas as pessoas bondosas querem ser
justas.
Teses e Argumentos
Exercícios de formalização de argumentos
a) A pena de morte é inaceitável. Matar um ser humano
só é aceitável se não houver alternativa moralmente
válida. Sabemos que há alternativa moralmente válida
à pena de morte.
Formalização

P1 - Se há alternativa moralmente válida, então não é


justo matar um ser humano.
P2 - Há alternativa moralmente válida à pena de morte.
C - Logo, a pena de morte é inaceitável.
Teses e Argumentos
Exercícios de formalização de argumentos

b) Sei que vou morrer porque sou um ser vivo.

Formalização
P1 – Todos os seres vivos morrem.
P2 – Eu sou um ser vivo.
C – Logo, eu vou morrer.
Teses e Argumentos
Exercícios de formalização de argumentos

c) Há uma causa de todas as coisas, porque todas as


coisas têm um criador.

Formalização
P – Todas as coisas têm um criador.
C – Logo, há uma causa de todas as coisas.
Teses e Argumentos
Exercícios de formalização de argumentos

d) Os filósofos querem ser justos, pois são pessoas


bondosas, e todas as pessoas bondosas querem ser
justas.

Formalização
P1 - Todas as pessoas bondosas querem ser justas.
P2 – Os filósofos são pessoas bondosas.
C – Os filósofos querem ser justos.
Teses e Argumentos
Exercícios de identificação de teses

Identifica a tese defendida em cada um dos textos:

1. “A filosofia é diferente da ciência e da matemática. Ao


contrário da ciência, não assenta em experimentações
nem na observação, mas apenas no pensamento. E, ao
contrário da matemática, não tem métodos formais de
prova.”
Nagel, T. (1997). Que quer dizer tudo isto?
Teses e Argumentos
Exercícios de identificação de teses

1. “A filosofia é diferente da ciência e da matemática. Ao


contrário da ciência, não assenta em experimentações
nem na observação, mas apenas no pensamento. E, ao
contrário da matemática, não tem métodos formais de
prova.”
Teses e Argumentos
Exercícios de identificação de teses

1. “A filosofia é diferente da ciência e da matemática. Ao


contrário da ciência, não assenta em experimentações
nem na observação, mas apenas no pensamento. E, ao
contrário da matemática, não tem métodos formais de
prova.”
Tese defendida:
A filosofia é diferente da ciência e da matemática
Teses e Argumentos
Exercícios de identificação de teses
2. “Uma vez que o universo existe e não pode ter sido
criado a partir do nada, teve de ser criado por uma
força inteligente.”
Teses e Argumentos
Exercícios de identificação de teses
2. “Uma vez que o universo existe e não pode ter sido
criado a partir do nada, teve de ser criado por uma
força inteligente.”
Tese defendida:
O universo foi criado por uma força inteligente
Teses e Argumentos
Exercícios de identificação de teses

3. “Temos que apoiar e acolher os refugiados, porque a


situação deles é uma consequência de uma ação
injusta, ainda que existam guerras justas.”
Teses e Argumentos
Exercícios de identificação de teses

3. “Temos que apoiar e acolher os refugiados, porque a


situação deles é uma consequência de uma ação
injusta, ainda que existam guerras justas.”
Tese defendida:
Temos que apoiar e acolher os refugiados
Teses e Argumentos
Em suma…
Para extrair argumentos de textos e chegar à sua
formalização (expressão canónica), é preciso:
1. Localizar as premissas e as conclusões, recorrendo aos
indicadores de premissa e de conclusão (se os houver),
eliminando o resto.
2. Explicita-se a conclusão (tese) e as premissas.
3. Acrescenta-se qualquer premissa (ou mesmo a
conclusão) que esteja omissa ou não explícita.
4. Apresenta-se as premissas separadamente, com a
conclusão no fim.
Avaliação de Argumentos
Para que um argumento seja bom, é necessário que as
premissas se relacionem de tal modo que seja
improvável que a conclusão seja falsa, sendo as
premissas verdadeiras

Estamos perante um argumento válido

P1 - Se chover, o chão fica molhado.


P2 - Choveu.
C - Logo, o chão ficou molhado.
Avaliação de Argumentos
Argumento 1 Argumento 2
P1 - Se chover, o chão fica P1 - Se chover, o chão fica
molhado. molhado.
P2 - Choveu. P2 - O chão ficou molhado.
C - Logo, o chão ficou C - Logo, choveu.
molhado.
Avaliação de Argumentos
Argumento 1 Argumento 2
P1 - Se chover, o chão fica P1 - Se chover, o chão fica
molhado. molhado.
P2 - Choveu. P2 - O chão ficou molhado.
C - Logo, o chão ficou C - Logo, choveu.
molhado.
Avaliação de Argumentos
Argumento 1 Argumento 2
P1 - Se chover, o chão fica P1 - Se chover, o chão fica
molhado. molhado.
P2 - Choveu. P2 - O chão ficou molhado.
C - Logo, o chão ficou C - Logo, choveu.
molhado.

Válido – a verdade das P1 e


P2 garante a verdade da C.
(a conclusão deriva
logicamente das premissas)
Avaliação de Argumentos
Argumento 1 Argumento 2
P1 - Se chover, o chão fica P1 - Se chover, o chão fica
molhado. molhado.
P2 - Choveu. P2 - O chão ficou molhado.
C - Logo, o chão ficou C - Logo, choveu.
molhado.

Válido – a verdade das P1 e


P2 garante a verdade da C.
(a conclusão deriva
logicamente das premissas)
Avaliação de Argumentos
Argumento 1 Argumento 2
P1 - Se chover, o chão fica P1 - Se chover, o chão fica
molhado. molhado.
P2 - Choveu. P2 - O chão ficou molhado.
C - Logo, o chão ficou C - Logo, choveu.
molhado.
Inválido – a verdade das P1 e
Válido – a verdade das P1 e P2 não garante a verdade de C
P2 garante a verdade da C. (o chão pode ter ficado
(a conclusão deriva molhado sem ser pela chuva)
logicamente das premissas) As premissas podem ser
ambas verdadeiras, apesar de
não ter chovido (conclusão
falsa).
Avaliação de Argumentos

Lembrar que a validade é uma propriedade dos


argumentos (e não das proposições), concretamente,
é uma relação entre os valores de verdade, reais ou
hipotéticos, das premissas e da conclusão dos
argumentos.
Ao passo que a verdade é uma propriedade das
proposições (e não dos argumentos), porque apenas
estas podem ser verdadeiras ou falsas.
Avaliação de Argumentos
O facto de um argumento ser válido não é suficiente
para nos convencer da verdade da sua conclusão.

Se Donald Trump é chinês, então o monte Everest é


nos EUA.
Donald Trump é chinês.
Logo, o monte Everest é nos EUA.
Avaliação de Argumentos

Este argumento tem exatamente a mesma estrutura que


o argumento anterior e também é válido
(Se A, então B.
A,
Logo, B)

No entanto, uma vez que as suas premissas são


claramente falsas, não é suficiente para nos convencer
da verdade da sua conclusão.
Avaliação de Argumentos
Depois de se verificar que o argumento é válido, é
preciso determinar se as suas premissas são
verdadeiras, ou seja, se o argumento é sólido.

Diz-se que um argumento é sólido quando é válido e


só tem premissas verdadeiras.
Se um argumento for válido, a verdade das premissas
garante (ou suporta) a verdade da conclusão, isto é, se
aceitarmos que as premissas de um argumento válido
são verdadeiras temos boas razões para pensar que a
conclusão também o é.
Avaliação de Argumentos
Contudo, a solidez também não é suficiente para que
um argumento seja persuasivo.
Depois de constatarmos que um argumento é sólido,
precisamos de verificar se as suas premissas são, à
partida, mais plausíveis (ou aceitáveis) do que a
conclusão. A esta propriedade dos argumentos dá-se o
nome de “cogência”.
Diz-se que um argumento é cogente quando, além de
ser sólido, tem premissas mais plausíveis (ou aceitáveis)
do que a conclusão – é um argumento convincente.
Contra-Argumentação

Uma das últimas tarefas do trabalho filosófico é contra-


argumentar – mostrar o que há de errado numa tese ou
argumento que nos apresentam. Como?
•Negando teses (proposições);
•Reduzindo ao absurdo;
•Refutando argumentos (mostrando que não são bons).
Contra-Argumentação por negação de teses

1. Negação de Proposições

A negação inverte o valor de verdade de uma


proposição: se é V, passa a F; se é F passa a V.

Se conseguirmos provar que a negação da tese do nosso


interlocutor é verdadeira, então aquilo que ele
defende perde força.
Contra-Argumentação por negação de teses

Vamos recordar os tipos de proposições:

Tipo Forma Nome


A Todo S é P Universal Afirmativa
E Nenhum S é P Universal Negativa
I Algum S é P Particular Afirmativa
O Algum S não é P Particular Negativa
Contra-Argumentação por negação de teses
Para facilitar a negação de proposições, usa-se o Quadrado
Lógico da Oposição – diagrama que representa as
relações entre proposições:
Contra-Argumentação por negação de teses

As proposições categóricas
negam-se pelas linhas
diagonais, pela relação de
contraditoriedade.
2 proposições contraditórias
não podem ter o mesmo
valor de verdade – se uma
é V, a outra é F e vice-
versa.
Contra-Argumentação por negação de teses

Exemplos:

A – Todos refugiados são perigosos.


Negação – Alguns refugiados não são perigosos (O).

Para negar a tese de que “todos os refugiados são


perigosos”, basta apontar que alguns não são (o que é V)
e se O é V, A tem de ser F.
Contra-Argumentação por negação de teses

Exemplos:

E – Nenhuma mulher é loura.


Negação – Algumas mulheres são louras (I).

Para negar a tese de que “nenhuma mulher é loura”,


basta apontar que algumas são (o que é V) e se I é V, E
tem de ser F.
Contra-Argumentação por negação de teses

Exemplos:

I – Alguns cães são répteis.


Negação – Nenhum cão é réptil (E)

A negação de uma proposição I é mostrar que nenhum


predicado se aplica ao sujeito (mostrar que não há cães
que sejam répteis. Se provar que E é V, então I tem de
ser F)
Contra-Argumentação por negação de teses

Exemplos:

O – Nem todas as pessoas querem ser felizes.


Negação – Todas as pessoas querem ser felizes (A)

A negação de uma proposição O é mostrar que todo o


predicado se aplica ao sujeito (mostrar que todas as
pessoas desejam ser felizes. Se provar que A é V, então O
tem de ser F)
Contra-Argumentação por negação de teses

Exercícios:
Nega as teses seguintes:

a) Toda a pena de morte é justa.


b) Nem todas as penas de prisão são justas.
c) Ninguém é livre.
d) Algumas penas de prisão não são injustas.
e) Donald Trump é um bom presidente.
f) As aulas de Filosofia são muito interessantes.
g) Certas mães são pouco carinhosas.
Contra-Argumentação por negação de teses

Exercícios:
Nega as teses seguintes:

a) Toda a pena de morte é justa - A


Negação – Algumas penas de morte não são justas (O)
Contra-Argumentação por negação de teses

Exercícios:
Nega as teses seguintes:

b) Nem todas as penas de prisão são justas - O


Negação – Todas as penas de prisão são injustas (A)
Contra-Argumentação por negação de teses

Exercícios:
Nega as teses seguintes:

c) Ninguém é livre - E
Negação – Algumas pessoas são livres (I)
Contra-Argumentação por negação de teses

Exercícios:
Nega as teses seguintes:

d) Algumas penas de prisão não são injustas (O)


Negação – Todas as penas de prisão são injustas (A)
Contra-Argumentação por negação de teses

Exercícios:
Nega as teses seguintes:

e) Donald Trump é um bom presidente (singular)


Negação – Donald Trump não é um bom presidente

(nas proposições singulares, basta afirmar o contrário


pois não se pode ser bom e mau presidente ao
mesmo tempo).
Contra-Argumentação por negação de teses

Exercícios:
Nega as teses seguintes:

f) As aulas de filosofia são muito interessantes (A)


Negação – Algumas aulas de filosofia não são muito
interessantes (O)
Contra-Argumentação por negação de teses

Exercícios:
Nega as teses seguintes:

g) Certas mães são pouco carinhosas (I)


Negação – Nenhuma mãe é carinhosa (E)
Contra-Argumentação por redução ao
absurdo
Para mostrar que uma tese é falsa, podemos imaginar as
consequências absurdas da aceitação dessa tese:
Ex.: tese - Toda a mentira é inaceitável
Que aconteceria se aceitássemos esta tese?
• Mentir para salvar vidas seria moralmente errado?
(esconder fugitivos de regimes fascistas)
• Mentir para não fazer sofrer alguém, seria inaceitável?
(médico que sabe que a verdade destroçaria alguém)
Contra-Argumentação por refutação de
argumentos
Em vez de atacar a tese, atacar os argumentos usados
para a defender, apontando que não são bons
argumentos. Como?

1. Mostrar que a conclusão não deriva logicamente das


premissas – não é válido;
2. Mostrar que pelo menos uma das premissas não é
verdadeira (o argumento deixa de ser sólido);
3. Mostrar que a premissas não são mais plausíveis que a
conclusão, que não convencem.

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