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Estamos no núcleo de uma célula: aqui, o ADN tem informação genética e, para que ela seja lida e interpretada, é
necessário que seja transcrito e passe para ARN. Durante esse processo, podem formar-se estruturas atípicas que
envolvem o ADN e o ARN. No fundo, a molécula de ARN enrola-se na de ADN e formam-se nós que podem causar lesões
e determinar o destino das células – que pode não ser bom. Agora, uma equipa de cientistas em Portugal descobriu
sinais que permitem identificar as regiões do ADN onde esses nós se formam com mais facilidade. A descoberta é
apresentada na revista científica eLife.

Tudo aconteceu no laboratório de Sérgio de Almeida, cientista no Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes
(IMM). Aqui, num tubo de ensaio, reconstituíram-se as condições necessárias para que fosse possível mimetizar a
expressão de genes. Para confirmar os resultados nos tubos de ensaio, fizeram-se ainda experiências em células
estaminais embrionárias, que têm o potencial de originar todo o tipo de células.

Acabou por se ver que, ao se copiarem informações do ADN para moléculas de ARN-mensageiro, através do processo
de transcrição, a nova molécula de ARN que está a ser formada pode unir-se ao ADN. A partir dessa “parceria” formam-
se estruturas chamadas “R-loops”, que se assemelham a nós. “Estes R-loops têm papéis de regulação importantes, mas
podem danificar o ADN se as células não conseguirem resolvê-los”, explica Sérgio de Almeida, num comunicado sobre
o trabalho.

Até agora, já se sabia que o ARN se podia enrolar com o ADN e que se formavam nós. Contudo, não se sabia que havia
sítios do genoma privilegiados para a formação desses nós. No fundo, são regiões do ADN onde é mais provável que
essa formação de nós ocorra. Agora, a equipa de Sérgio de Almeida identificou sinais nas tais regiões do ADN onde isso
ocorre com mais facilidade.

Ao longo do estudo, observou-se que os tais R-loops acontecem de forma mais frequente em regiões específicas do
ADN que têm uma alteração normalmente ligada a níveis mais altos de transcrição, esclarece também no comunicado
João Sabino, aluno de doutoramento no IMM e primeiro autor do artigo científico. “Os R-loops são mais comuns em
sequências de ADN que são lidas activamente e originam proteínas, as máquinas que actuam dentro das células e que
definem a identidade da célula”, complementa.

Nas experiências em células, viu-se ainda que os R-loops são cruciais para regular os genes que são expressos e que a
sua formação nessas regiões pode ser importante para determinar o tipo de célula que cada célula vai originar, ou seja,
o destino de células. “Vimos que os R-loops estão implicados no processo pelo qual uma célula acaba por se tornar uma
célula cardíaca, um neurónio, um músculo ou qualquer outro tipo de célula! Além da regulação do destino das células,
os R-loops também podem estar envolvidos em outros processos”, explica Sérgio de Almeida.

Dentro do núcleo de uma célula

1 Texto adaptado, publicado no jornal Público, a 6 de jun. de 2022. https://www.publico.pt/2022/06/06/ciencia/noticia/arn-


adn-formam-determinam-destino-celulas-2008904
Como é que tudo isto acontece? Estamos numa célula, mais propriamente no núcleo dessa célula. É lá que está todo o
nosso ADN, que tem informação genética necessária para codificar proteínas que exercem todas as funções vitais na
célula. Para que a informação genética seja lida, interpretada e dê origem às proteínas, é necessário que o ADN seja
transcrito. Nessa transcrição, há uma passagem de ADN para ARN.

“Durante este processo de transcrição do ADN, podem formar-se estruturas atípicas que envolvem a própria molécula
do ADN e a do ARN que está a ser sintetizada”, descreve Sérgio de Almeida. “Aquilo que acontece é que a molécula de
ARN que está a ser sintetizada enrola-se na molécula de ADN e forma-se uma espécie de nó.” Esses nós podem causar
lesões no ADN e podem fazer com que o ADN se parta.

A maioria dessas lesões no ADN pode ter um papel negativo. “Muito provavelmente, se não forem resolvidas de forma
correcta, [essas lesões] podem fazer com que haja introduções de mutações no ADN”, indica o cientista. “As mutações
no ADN são aceleradoras de processos como o cancro, envelhecimento e alterações de processos fisiológicos.”

Atividade
Elaborem, a duplas, o resumo desta notícia. Devem seguir as orientações sobre o género resumo estudados nesta aula.
O resumo deverá ter, no máximo, 200 palavras. Submissão pelo Moodle.

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