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As emoções são importantes porque nos indicam aquilo a que precisamos de prestar

atenção e a que precisamos de responder. Para reconhecer emoções necessitamos de ser


capazes de interpretar linguagem corporal, expressões faciais e discurso verbal. Para
compreender as emoções é necessário perceber o que as causa e porque estão a ser
expressas daquela forma. Posteriormente, é necessário gerir as emoções para responder
de forma apropriada às situações e aos outros. Assim, a regulação emocional consiste
num processo complexo que determina a forma como resolvemos os conflitos,
controlamos os impulsos e como nos relacionamos com os outros.

Entende-se por regulação emocional um conjunto de processos ativos (comportamentos,


competências e estratégias) pelos quais se tenta gerir os estados emocionais. Nos
primeiros anos de vida, a regulação é externa, sendo os cuidadores a realizar esta gestão.
Ao longo do crescimento, os cuidadores fornecem ajuda e suporte quando a criança
precisa de se regular, começando esta a interiorizar o modelo do cuidador e sendo depois
capaz de se autorregular sozinha, pondo em prática as estratégias e os comportamentos
aprendidos.

No primeiro ano de vida, as crianças não são capazes de se regular, necessitando dos
cuidadores para o fazer por si. A qualidade das relações precoces medeia o processo da
regulação emocional, ao longo do primeiro ano de vida. É através da relação que os
cuidadores conseguem acalmar a criança e ajudar a que esta se regule. O que é iniciado
pelos cuidadores, em breve passa a ser uma ação conjunta. A partir do primeiro/segundo
ano de vida, a regulação emocional é realizada com a ajuda dos cuidadores, começando
a criança a ter um papel ativo neste processo.

Em situações em que a criança necessita de se regular, os cuidadores fornecem suporte


para que ela seja capaz de começar a pôr alguns comportamentos em prática, existindo
uma corregulação. A partir dos três anos, a criança começa a ser capaz de se regular
sozinha, pondo em prática algumas competências e estratégias que aprendeu ao longo
dos primeiros anos do seu desenvolvimento. Contudo, os cuidadores continuam a ser
essenciais neste processo, fornecendo carinho e limites para que ela continue a aprender
e crescer. Em situações de stress e maior dificuldade poderá ser ainda necessário a
intervenção e ajuda dos cuidadores. Com o crescimento e até à adolescência é esperado
que as crianças comecem a ser cada vez mais autónomas e eficazes na gestão emocional.

Como podemos ajudar?

Ao longo dos anos, a investigação na área do desenvolvimento infantil demonstra-nos


e confere-nos conhecimentos sobre os fatores que intercedem num desenvolvimento
positivo, nomeadamente o fator relacional cuidador-criança. Cuidadores sensíveis,
disponíveis e que proporcionam aos seus filhos experiências positivas e gratificantes,
são internalizados como um refúgio a quem a criança pode recorrer quando não se é
capaz de lidar com emoções negativas ou intensas.

Ao envolverem-se em interações diárias mais positivas com os seus cuidadores e outros


significativos, as crianças experienciam um ciclo de emoções positivas. A qualidade das
relações precoces é crucial para o desenvolvimento e aquisição de estratégias de
regulação emocional, competências sociais e crenças sobre o próprio, influenciando
consequentemente o bem-estar psicológico e a saúde mental infantil.

Também a construção de diálogos organizados, coerentes e emocionalmente


integrativos ajudam a criança a desenvolver representações coerentes e consistentes
sobre si mesmas e sobre o mundo que as rodeia. Falar de eventos negativos e positivos
estimula a capacidade das crianças para integrar emoções positivas e negativas,
contribuindo para um repertório emocional mais rico e completo.

Quando os cuidadores ajudam a criança a dar significado às situações experienciadas


através do diálogo, estes contribuem para a integração da experiência vivida no cérebro
infantil e para a capacidade das crianças de lidarem com eventos semelhantes no futuro,
dotando-as de ferramentas e competências. Ao guiarem as crianças através do diálogo,
reciprocidade e responsividade no reconhecimento e gestão das emoções, os cuidadores
estão a contribuir para o desenvolvimento da regulação emocional infantil e de
competências sociais.

Adaptado do jornal Público. https://www.publico.pt/2023/05/14/impar/opiniao/vamos-


falar-emocoes-2049165

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