O primeiro relato na literatura sobre terapia breve com
crianças foi feito por Allen (1942), concomitantemente com o interesse na terapia breve com adultos. Concentrou-se no significado da produção da criança no aqui-agora, evitando explorações do passado. Objetivo era ajudar a criança a suportar ligações patológicas com os pais e aceitar seu papel como indivíduo diferenciado. O processo breve com crianças traz a tona a importância do trabalho com os pais e um papel mais ativo do terapeuta. Psicoterapia Breve Infantil O período de maior desenvolvimento da terapia breve infantil ocorreu nas décadas de 60 e 70 (Mackay, Lester e Proskauer). Estudos muito escassos para esta população. Na década de 80, o grupo de Genebra, foca na intervenção da relação pais-criança, considerando a transmissão transgeracional. Atualmente tem-se procurado integrar todos os conhecimentos desenvolvidos (norte-americanos e europeus). Na América do sul a contribuição surge com Aberastury (1951) – técnicas de preparação para cirurgias infantis. Modelo de Psicoterapia Breve Infantil Foco na relação pais-criança – modificação da visão que os pais tem da criança e da sua relação com ela, favorecendo a discriminação de identidades. Uso do modelo integrativo no atendimento com crianças – cada caso é um caso podendo-se utilizar várias técnicas de acordo com a demanda. Proskauer (1971) dá menos importância à interpretação na TBI, valorizando a relação terapêutica e ao que é vivido nesta relação, respeitando as possibilidades de comunicação com a criança. O foco e as intervenções não precisam ser verbalizadas mas podem ser compartilhadas no nível da comunicação simbólica. Modelo de Psicoterapia Breve Infantil Messer e Warren (1995) – criticam transpor o modelo adulto para o atendimento às crianças: interpretações muito complexas e intelectualizadas, confrontação das defesas, limitação de tempo (cça ainda não tem este conceito bem estabelecido). Deve-se levar em conta as possibilidades da criança, em termos de compreensão e comunicação e valorizar a atividade criativa e a brincadeira expressiva, a expressão de afetos e emoções, mais do que a tentativa de torná-los conscientes. O foco na TBI é considerado mais um guia para o terapeuta deve incorporar aspectos do desenvolvimento, psicodinâmicos, ambientais e referentes à crise imediata. Modelo Integrativo de Psicoterapia Breve Infantil Além da integração entre psicanálise e as teorias de desenvolvimento considera-se também a proposta de Knobel com ênfase nos aspectos cognitivos. Na Psicoterapia Breve os aspectos cognitivos tem uma participação maior na elaboração do processo do que os aspectos afetivos. Busca alterar a distorções cognitivas mudando os vínculos objetais. Uso de ferramentas de outras abordagens se isso for ajudar na abreviação do processo. Modelo Integrativo TBI Busca-se a compreensão biopsicossocial do caso, incluindo aspectos psicodinâmicos, a dimensão do desenvolvimento, a adaptação ao meio, o referencial transgeracional e padrões de relacionamento interpessoal.
A partir dessa compreensão, o planejamento
terapêutico é adaptado à cada caso. Critérios de Indicação Modelo pulsional/estrutural – Malan e Lester – excluem casos mais graves, casos com melhores recursos psíquicos, critérios rigorosos. Já superada esta visão para Terapia Breve.
Palacio-Espasa (1984) – afirma que o sucesso
terapêutico não tem relação com a sintomatologia da criança ou com um quadro clínico específico, mas sim, com a configuração dinâmica com a relação pais- criança que corresponde a transferência que os pais estabelecem com o terapeuta. Critérios de Indicação O grupo italiano de Muratori segue também a indicação baseada na relação pais-criança: esta relação deve estar no nível da neurose e existe uma pré- transferência boa entre pais e terapeuta. Contra- indicia casos com relações psicóticas com relação transferencial hostil e persecutória.
Na proposta atual, os critérios não devem ser
estabelecidos de acordo com o paciente e sim deve-se adaptar a terapia para as possibilidades de cada caso. PBI E O REFERENCIAL DO DESENVOVIMENTO Iniciar o atendimento com uma investigação clínica a fim de obter o foco e objetivos. O conhecimento das fases do desenvolvimento da criança é importante no estabelecimento do foco. Entender os padrões relacionais do ambiente no qual a criança passa cada fase. Área de “mutualidade psíquica” – área de funcionamento comum entre pais e criança fruto das identificações e projeções mútuas. Pode gerar uma “regulação mútua” saudável ou uma “área de conflito mútua”quando os pais revivem seus próprios conflitos mal elaborados referentes à fase em que a criança está. PBI E O REFERENCIAL DO DESENVOVIMENTO Os conflitos da criança mobilizam os conflitos correspondentes dos pais, que não foram bem resolvidos,e geram neles alta ansiedade. Ao invés de ajudar a criança eles a sobrecarregam com suas projeções.
A “regulação mútua” está diretamente ligada à
possibilidade que os pais possuem de permitir que a criança se desenvolva independentemente ou que ela permaneça dependente para satisfazer suas próprias necessidades. PBI E O REFERENCIAL DO DESENVOVIMENTO Na análise dos casos infantis é necessário observar os seguintes pontos:
O funcionamento psíquico da criança e seu processo de
desenvolvimento. O funcionamento psíquico dos pais. As características da relação que se estabelece entre pais-criança e como ela se articula com as dificuldades da criança. Fases da Infância de Erikson: aspectos para o diagnóstico Primeiro estágio: o bebê Conflito central entre confiança e desconfiança é que estabelece o equilíbrio entre dependência e independência. O terapeuta deve perceber como a criança vive esta relação, principalmente com a mãe. Perceber como a criança aceita o que lhe é dado, como pede o que necessita e como faz com que o outro lhe dê (tomar), como reage diante da separação, qual o equilíbrio entre sentimentos de confiança e desconfiança, expectativas com relação ao encontro. O BEBÊ Observar como os pais vivem sua própria dependência/independência, principalmente a mãe, equilíbrio entre confiança e desconfiança nas suas relações interpessoais, como lidam com o “dar” relacionado às necessidades da criança, capacidade de impor frustração, o quanto a mãe se sente apoiada para desenvolver seu papel. Transgeracionalidade sobre pertencer e afastar-se bem como da confiança. Questões particulares de cada relação: gravidez indesejada, dificuldade de engravidar, abortos anteriores, etc. O BEBÊ A avaliação destes aspectos está diretamente relacionada ao estabelecimento da relação terapêutica na TB.
Confiança, se permitir depender para aceitar
ajuda e movimento de independência para seguirem após o término da terapia.
Grau de projeção da mãe é fundamental para
saber se ela não vai “sabotar” o tratamento. 2º estágio: a infância inicial Esta fase tem relação com o desenvolvimento da autonomia. Deve-se observar na criança a capacidade de escolher, de explorar, de ter iniciativa e expressar sua vontade, a forma como lida com a agressividade e como a expressa, tentativas de controlar o outro e capacidade de autocontrole, capacidade de testar e se adaptar aos limites e reações diante da frustração. Observar se existe vergonha excessiva que leva a sentimentos de inferioridade. Infância Inicial Em relação aos pais, observar a capacidade de permitir iniciativa da criança, apoiando seu desejo de fazer coisas sozinha e ao mesmo tempo fornecer limites compatíveis com a idade e com a situação. Ajudar a criança a desenvolver autocontrole com relação a agressividade, possibilitar que a criança tenha vontade própria sem que se torne um tirano. Ensinar a diferença entre o bom e o mau, certo e errado, permitido e proibido. Observar se houve um controle muito rígido com respostas desadaptadas à idade. A intervenção terapêutica nesta fase deve incluir o controle da agressividade, trabalho com limites e tolerância à frustração tanto com a criança quanto com os pais. Terceiro estágio: a idade do brincar A brincadeira alcança maior importância. Desenvolvimento da iniciativa, ampliação das relações interpessoais.
Observar a capacidade de brincar de forma espontânea
com uso da imaginação, espaço e fantasia, ampliação do uso da linguagem como comunicação, relacionamento com outras crianças e adultos, como lida com ciúme e rivalidade (irmãos), percepção das diferenças entre os sexos e das idades, pensar em ser grande. Quarto estágio: a idade escolar Observar na criança: capacidade de disciplina para se adequar à escola, se desenvolve a produtividade e a auto- estima, relação com grupos mais amplos e pessoas diferentes, adaptação em diferentes contextos, busca da independência e percepção da necessidade de ajuda, aceitação da condição de criança, cooperação e competição com crianças da mesma idade. Em relação aos pais: se ajudam a criança a confiar em suas habilidades, se valorizam e incentivam a produção da criança, se exigem disciplina e compromisso com as obrigações, se aceitam o crescimento dos filhos, se as exigências são muito elevadas e não estão de acordo com a idade da criança, incentivo à competição exagerada. A idade escolar Nesta fase adquirem importância outros adultos como professores que também devem ser considerados na investigação do caso.
A queixa na TBI é o ponto de partida, mas a
relevância é o modo de funcionamento psíquico da criança, pais e da interação entre ambos.