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IMPRESSÃO DIGITAL

 O que é?

Impressão digital genética, ou DNA fingerprinting (em inglês), é um método de


genética molecular que permite diferenciar cada indivíduo, relacionado ou não, a
partir de cabelo, sangue ou outros fluidos ou, ainda, através de amostras biológicas. A
impressão digital de DNA é uma forma de identificar um indivíduo específico, em vez
de simplesmente identificar uma espécie ou algum traço particular.

 Como foi descoberta?


No início da revolução instaurada pela tecnologia do DNA recombinante, um
geneticista britânico, Alec Jeffreys, de forma quase acidental identificou uma
particularidade em sequências de nucleótidos (DNA). Jeffreys nos seus estudos
interessava-se pelas diferenças genéticas entre as espécies, as suas pesquisas na
Universidade de Leicester concentravam-se no gene da mioglobina e ele constatou
que um pequeno trecho de DNA se repetia continuamente. Bem como um fenômeno
similar havia sido observado, em 1980, por Ray Whinte e Arlene Wyman, que, ao
examinar “outro gene”, constataram que os números dessas repetições variam de
indivíduo para indivíduo. 

Em 1984, Jeffreys decidiu usar essa sequência como uma sonda marcada


radioativamente, dessa forma ele poderia captar a sequência por todo o genoma. A
partir deste estudo, foi observado que o curto trecho de DNA repetitivo aparecia não
somente no gene da mioglobina, mas espalhado por todo genoma. Embora a técnica
tivesse detetado muitas sequências similares em inúmeras amostras de DNA, ainda
restava tanta variação entre uma amostra e as demais que, mesmo naquelas extraídas
de membros da mesma família, era possível distinguir um indivíduo do outro.

 Como funciona?
É nos nossos cromossomas que se encontra todo o material genético. Dentro dessa
sequência de DNA que compõe cada indivíduo, existem certos loci que não são
codificadores de proteínas. Nestas regiões é bastante comum existirem porções que
possuam uma sequência de pares de bases (Adenina, Timina, Citosina, Guanina) que se
repitam, com algum padrão, um determinado número de vezes. Por exemplo, do
fragmento de DNA:
“ATGCTAGCTCGATCGATCTCTAGCTAGCTAGATCGATCGATCGATCGATATATCGATC
GATCGAGCTAGCTAATCTAATCTGCTATCTAGCCCTACTCACTACCCTACTCACTACCC
TACTCACTACCCTACTCACTACCCTACTCACTATCTATAGGCTGCTATC” é possível
notar que a sequência ‘’CCCTACTCACTA” aparece repetida 5 vezes.
Essas regiões de repetição são chamadas de microssatélites, (que não
contribuem para as funções genes) ou STRs (em inglês, short tandem repeats).
Os loci que contém esses STRs são comuns em todos seres humanos, no
entanto a sequência de pares de bases e a quantidade de vezes que se repetem
é variável o suficiente para ser única para cada indivíduo. É nessa porção dos
microssatélites que encontramos as ‘impressões digitais’ do nosso código
genético. Jeffreys reconheceu que cada indivíduo tem um padrão único de
minissatélites (as únicas exceções são vários indivíduos de um único zigoto ,
como gêmeos idênticos).
Iremos agora mostrar-vos um vídeo que explica como é que este processo é
realizado em laboratório: Nesta experiência está a ser comparada uma amostra de
DNA recolhida de uma cena do crime a duas amostras de dois suspeitos. Existem,
portanto, 3 tubos: 1 para a amostra de DNA da cena do crime e 1 para cada suspeito.
Utiliza-se uma micropipeta para cada transferência contendo um tipo de enzima que é
colocada em cada amostra, e de seguida fecha-se o tubo com uma tampa própria para
que a amostra esteja protegida. Dá-se batidinhas leves para misturar o conteúdo e
deixamos que o mesmo se deposite no fundo do tubo. Os tubos são inseridos numa
incubadora a 37ºC por, pelo menos, 30 minutos.
Quando prontas, as amostras são colocadas num gel de eletroforese com o
objetivo de separar moléculas de acordo com o seu tamanho e carga elétrica para que
as 3 amostras possam serem comparadas. Ficam posicionadas apenas de um lado. As
moléculas do DNA têm uma forte carga negativa, logo se for aplicado um campo
elétrico na bandeja estas vão deslocar-se em direção à carga positiva. O gel contém
poros microscópicos que atuam como um filtro para a passagem das moléculas através
dele. As partículas mais pequenas movem-se mais rapidamente do que as maiores.
Logo, as partículas mais perto da carga positiva são as mais pequenas, enquanto que as
que se encontram mais longe são as maiores. Aqui podemos observar a preparação do
gel que é uma mistura de água, pó de agarose e buffer e seguidamente ferve-se para
não formar aglomerados. Quando ferve tem uma consistência muito parecida a água e
deixa-se arrefecer. Pode ser adicionada água destilada para compensar pela
evaporação que possa ter ocorrido.
Coloca-se o gel neste suporte transparente e dispõem-se as partes laterais destas
peças de plásticos brancas por cima para criar espaços idênticos quando o gel
arrefecer. São necessários 20 minutos para solidificar. Quando o gel solidifica
removem-se as peças de plástico e novamente com uma pipeta coloca-se uma solução
de glicerol que ajuda a solução permanecer no espaço criado e ETHINUM BROMIDE
que é uma substância que brilha no processo de transiluminação, que é onde é
utilizada luz ultravioleta para se visionarem as sequências de DNA. O tempo da última
etapa deste processo que é a revelação das combinações do DNA de cada amostra,
demora por volta de 30 minutos. Como podemos observar, as enzimas separaram as
amostras de DNA de cada pessoa convertendo as mesmas numa combinação única de
espaços iluminados. Por isso, se a combinação destes espaços fosse a mesma quando
comparados lado a lado saberíamos que pertencem à mesma pessoa.

 Em que é utilizada?

- Assim como todo conteúdo genético, estes loci são herdados dos pais e, portanto,
através deste padrão de repetição também é possível determinar se há parentesco
entre dois indivíduos quaisquer. É através de técnicas que utilizam deste princípio que
são feitos os testes de paternidade por DNA. A impressão digital de DNA pode
responder à questão da existência de um vínculo genético com outra pessoa de forma
rápida e precisa, por isso, além da possibilidade de crianças adotadas encontrarem os
seus pais biológicos ou resolverem processos de paternidade, a impressão digital de
DNA tem sido usada para estabelecer um relacionamento em casos de herança.

A impressão digital genética pode ser usada em investigações criminais forenses. Uma


quantidade muito pequena de DNA é confiável o suficiente para identificar indivíduos
envolvidos num crime, ajudando investigadores a decidir se amostras de DNA de
suspeitos e as encontradas no local do mesmo, proveem do mesmo indivíduo.
Da mesma forma, a impressão digital de DNA pode, realmente, provar a inocência de
pessoas que estão ligadas ao crime, por vezes cometidos há anos atrás. A impressão
digital de DNA também pode ser usada para identificar um corpo em decomposição.
Atualmente, com os avanços tecnológicos, os testes de identificação de DNA podem
dar resultados com praticamente 100% de certeza, o que em casos jurídicos, pode ser
essencial para resolver os casos criminais.
- A impressão digital de DNA também tem vários usos na medicina. Um exemplo
importante é a identificação de boas combinações genéticas para doação de órgãos ou
medula óssea. Os médicos começaram a usar impressões digitais de DNA como uma
ferramenta para projetar tratamentos médicos personalizados para pacientes com
cancro. Além disso, o processo foi usado para garantir que uma amostra de tecido foi
corretamente rotulada com o nome do paciente.

 Questões éticas

Apesar de todos estes benefícios, este método levanta algumas questões éticas. O
acesso à informação genética por parte das identidades patronais pode pôr em causa o
despedimento ou seleção de contratos de um trabalhador. Já o acesso à informação
genética por parte das seguradoras (em alguns países) pode levar à exclusão de alguns
grupos de pessoas ou mesmo elevar o prémio do seguro proporcionalmente ao risco,
fazendo o sujeito pagar mais. Também os diagnósticos pré sintomáticos estão aqui
incluídos uma vez que podem causar um impacto desastroso no indivíduo e na família
do mesmo quando este é, por exemplo, condenado desde jovem a uma doença
incurável que aparecerá por volta dos 40. Por fim, em casos criminais, muitos dados
genéticos são descobertos e podem vir a ser usados contra o indivíduo naquela ou
numa posterior acusação.

 Curiosidade: Porque é que gémeos não tem a mesma impressão digital?


Curiosamente, não. Os gêmeos verdadeiros/idênticos (ou univitelinos) têm o
mesmo DNA, e por isso são clones perfeitos. Estes, são formados quando um
único óvulo fecundado por um espermatozóide, se divide em dois embriões.
Em princípio, esses irmãos deveriam ser idênticos/iguais. Mesmo assim, a
papiloscopia – ciência que estuda as linhas das mãos e dos pés – diz que as
impressões digitais dos univitelinos podem até seguir a mesma fórmula, mas
nunca serão iguais. “A digital muda de dedo para dedo, de mão para mão.
Assim como não existem duas zebras com o mesmo desenho, não existem duas
pessoas com a mesma impressão digital”.
 
Como explicar este mistério então? A chave está no contacto dos dedos dos
fetos com o ambiente intra-uterino. Como estão em posições ligeiramente
diferentes na barriga da mãe, eles encontram-se em contacto com ambientes
distintos. É por isso também que, na hipótese da existência de clones no futuro,
estes também teriam impressões digitais diferentes das da pessoa clonada. A
diversidade das digitais está nas papilas, aqueles minúsculos sulcos e relevos
que formam desenhinhos na camada mais externa da pele, a epiderme. São,
em média, 36 por milímetro quadrado. Elas dividem-se em inúmeras
ramificações, bifurcações, desvios, interrupções e orifícios. Tal complexidade
faz com que muitos peritos considerem o método de identificação pelas digitais
até mais preciso do que o exame de DNA, pois esse teste não funcionaria para
separar um gêmeo idêntico do outro.

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