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VET3225 – Microbiologia Clínica

Vacinas víricas
Introdução

 Século XVIII: epidemia mundial de Varíola

 “Variolação”
 Originária da China
 Exposição a lesões cutâneas causadas pela varíola

 Edward Jenner (1786)


 Ordenhadores de vacas com varíola bovina → sem doença

 Vacina (Vaccinia → Vaca)


 Termo em homenagem a Jenner, usado por Louis Pasteur
 Administração patógenos a indivíduos sadios para adquirir RI
Introdução
 Vacinas
 MO ou frações destes que quando administrados induzem RI
 Proteção frente ao contato posterior com o agente original
 Desenvolvimento de células efetoras e de memória

 Vacinação
 Estratégia mais efetiva na prevenção e controle de enfermidades virais
 Varíola: erradicada do mundo há três décadas
 Poliomielite e sarampo: em vias de erradicação
 Aftosa, peste suína clássica e doença de Aujezki erradicadas de países e continentes
inteiros
Introdução

Formas de imunização
 Passiva
 Natural (placenta, colostro ou gema)
 Artificial (soro hiperimune)

 Ativa
 Exposição natural (infecção)
 Vacinação
Objetivo das vacinas
 Induzir a formação de uma RI específica e capaz de combater um agente frente a uma
nova exposição
 Devem ser efetivas e seguras
Característica Replicativas Não-replicativas
Imunidade mediada por Sim Não
linfócitos T CD8+

Duração da imunidade Longa Curta

Necessidade de adjuvante Não Sim

Quantidade de antígeno Pequena Grande


por dose
Número de doses Uma (geralmente) Várias
Via de administração Injetável ou oral Injetável
Estabilidade térmica Lábil Estável
Reversão à forma Raro Não
virulenta
Uso em fêmeas em Não recomendado Sim
gestação
1. Vacinas replicativas
 Contém o vírus viável

 Replicação do agente no organismo do hospedeiro

 Aumento na quantidade de Ag apresentado ao SI

 Comportam-se semelhante aos vírus em infecções naturais


1. Vacinas replicativas
1.1. Vacinas com o vírus patogênico

 Próprio vírus com potencial patogênico, sem tratamento prévio

 Ex.: Vacinação contra o ectima contagioso


 Face interna da coxa
 Local onde o vírus não causa problemas

 PPV *
1. Vacinas replicativas
1.2. Vacinas com vírus de espécie heteróloga

 Alguns vírus são antigenicamente relacionados

 Podem ser utilizados para induzir imunidade em espécies que não


causam doença

 Ex: vírus da varíola bovina X varíola humana


1. Vacinas replicativas
1.3. Vacinas com o vírus atenuado
 Vírus mais patogênico e virulentos precisam ser submetidos a procedimentos
específicos para diminuir sua patogenicidade

 Evitar produzir doença e/ou mortalidade

 Preservar características antigênicas e replicativas

 Replicação local com pouca ou nenhuma disseminação sistêmica


 Por isso, não produzem doença nos animais vacinados

 Geralmente de maior magnitude, amplitude (resposta celular e humoral) e duração


do que a induzida pelas vacinas com vírus inativado

 Mutações ao acaso: não se sabe quando pode retomar virulência


 ILTV
 Não administrar em indivíduos imunodeprimidos
 BoHV-1 e BVDV
1. Vacinas replicativas

1.3. Vacinas com o vírus atenuado


1.3.1. Vírus naturalmente atenuado

 Algumas cepas virais são pouco patogênicas e podem ser utilizadas como
vacinas sem atenuação prévia

 Ex.: Vacinação contra a Doença de Marek


 Sorotipo 1: oncogênico
 Sorotipos 2 e 3: apatogênicos → capazes de proteger frente ao sorotipo 1
1. Vacinas replicativas

1.3. Vacinas com o vírus atenuado


1.3.2. Atenuação por passagens em cultivo celular

 Propagação em cultivo celular para adaptar o vírus a ambiente diferente do


encontrado no hospedeiro natural, sem eliminar a capacidade de replicação viral

 Passagens em células de órgãos diferentes ao onde induz doença ou de espécies


diferentes

 Ex.: vacina contra o CDV


 CDV geralmente infecta células de origem linfóides
 Vacina: passagem em células de linhagem de rim canino
1. Vacinas replicativas

1.3. Vacinas com o vírus atenuado


1.3.3. Atenuação por passagens em ovo embrionado

 Múltiplas passagens em embriões de galinha

 Não só para vírus de aves


 Aves: influenza e IBV
 Mamíferos: influenza de mamíferos (suínos e equinos), CDV, BTV, RabV

 Redução da virulência deve ser confirmada através de ensaios laboratoriais


e pela inoculação na espécie de interesse
1. Vacinas replicativas

1.3. Vacinas com o vírus atenuado


1.3.4. Atenuação por passagens em espécie heteróloga

 Geralmente animais de laboratório (coelhos, camundongos, cobaios, etc)

 Pouco prático quando comparado ao CC


 Mais adequado para atenuação de RabV e alguns arbovírus

 Ex.: Vacina contra o CDV


 Passagens em furões

 Ex: vacina contra o CSFV (cepa chinesa)


 Passagens em coelhos
 Erradicação em muitos países com seu uso
1. Vacinas replicativas

1.3. Vacinas com o vírus atenuado


1.3.5. Vírus temperatura-sensíveis

 Seleção de variantes virais que replicam a T inferiores a T corporal

 Obtidos de células cultivadas a T mais baixas

 Como não replicam a T corporal, não causam infecção sistêmica

 Ex.: Vacina contra o BoHV-1 (IBR)


 Não causa infecção sistêmica → não causa aborto
1. Vacinas replicativas

1.3. Vacinas com o vírus atenuado


1.3.6. Vírus atenuados por deleção de genes

 Conhecimento dos genes envolvidos na virulência de um vírus


 Deleção ou inativação
 Técnicas de DNA recombinante

 Mutantes preservam capacidade de replicação e imunogenicidade


 Não causam doença

 Vírus deve se manter viável após a manipulação genética


1. Vacinas replicativas

1.3. Vacinas com o vírus atenuado


1.3.7. Vírus com marcadores antigênicos (vacinas diferenciais)

 Resposta sorológica de vacinados ≠ infecção natural

 Úteis em programas de controle e erradicação de infecções víricas que


produzem infecções persistentes ou latentes
 Identificação e eliminação dos animais portadores
 Diferenciar vacinados de portadores
SuHV-1: causador da
doença de Aujeszki
1. Vacinas replicativas

1.4. Vetores vacinais

 Alguns vírus atenuados podem carrear genes que codificam Ag de outros


vírus
 Inserção do gene de interesse em outro vírus por manipulação genética
 Resultado: MO recombinante que expressa os seus Ag e o de outro vírus

 Vetores de eleição:
 Possuir capacidade replicativa
 Pouco ou não patogênico
 Se replicar e estimar a RI em sítios equivalentes ao vírus de interesse
2. Vacinas não-replicativas
 Não contém o agente viável
 Mais seguras que as vacinas replicativas
 Impossibilidade de reversão à virulência e de causar doença

 Menor efetividade que as vacinas replicativas


 Ausência de amplificação do agente
 Não induz RI mediada por linfócitos Tc (resposta celular)
2. Vacinas não-replicativas
2.1. Vacinas com vírus inativado (“mortas”)
 Vírus efetivo original → amplificação → inativação (irreversível)

 Partículas virais íntegras, porém inerentes e sem capacidade replicativa

 Impossibilidade de retorno da virulência

 Seguras e estáveis a T ambiente

 Necessidade de grande quantidade de Ag

 Necessidade de adjuvantes
 Aumento do custo e risco de efeitos colaterais

 Ainda, a única opção no combate contra algumas doenças


 Impossibilidade de atenuação de alguns agentes
 Impossibilidade de usar o vírus replicativo → fêmeas prenhes ou áreas livres
2. Vacinas não-replicativas
2.2. Vacinas de subunidades virais

 O SI não reconhece o vírus inteiro

 Apenas algumas porções do vírus → epítopos

 EPÍTOPOS MAIS IMUNOGÊNICOS


 Porções do vírus selecionadas como as mais imunogênicas
 Adição de adjuvante
Ex.: Produção da vacina contra a
influenza humana

Ainda não há no mercado vacinas de


subunidades de uso veterinário
2. Vacinas não-replicativas
2.3. Vacinas de proteínas recombinantes
 Proteína não extraída do vírion, mas de organismo recombinante
 Gene para proteína imunoprotetora obtida do vírus
 Inserido em bactéria, levedura ou vírus
 Produção da proteína em grande quantidade
 Purificação e administração na forma de vacina
Ex.: Produção da vacina contra o FeLV
2. Vacinas não-replicativas
2.4. Vacinas de peptídeos sintéticos
 Sequências de alguns Aa sintetizados e utilizados como vacinas
??
 Maioria não dispõe de estrutura terciária e quaternária

 Nível de estimulação baixo e insatisfatório

 Metodologia já usada como pesquisa para estimular produção de Ac


netralizantes contra RabV, FMDV e CPV
3. Vacinas de DNA e RNA
 Inoculação de um DNA plasmideal contendo gene de interesse sob a
regulação de um promotor

 DNA transportado até o núcleo das células locais

 Codificação da proteína e apresentação ao SI

 Ainda não obteve-se a aplicação prevista

 Apenas uma vacina de uso veterinário disponível (EUA)


 Proteger equinos contra o vírus do Nilo Ocidental
Vacinas monovalentes
e polivalentes

Monovalentes: um único antígeno viral ou bactérias

Polivalentes: vários antígenos; facilitam o manejo da


vacinação, imunizam-se animais contra vários patógenos
em apenas uma ocasião
Restrições
 Exigem a resposta simultânea do sistema imunológico contra um
número muito grande de antígenos;

 Mesclam antígenos imunodominantes com antígenos menos


dominantes;

 Incluem agentes imunodepressores em algumas delas;

 Unificam a ocasião da aplicação, que pode não ser ótima para vários
dos antígenos presentes;

 Algumas mesclam vírus vivo com vírus inativado;


Adjuvantes
 Potencializam a resposta imunológica induzida por
vacinas não-replicativas → vírus inativados, subunidades
ou proteínas recombinantes → são pouco imunogênicos
exemplos: hidróxido de alumínio, adjuvante completo e
incompleto de Freund, lipopolissacarídeos (LPS)
bacterianos, lipossomos, etc.
Controle de qualidade
Potência avalia a capacidade da vacina de induzir uma
resposta imunológica adequada.

Testes vacinais
Capacidade imunogênica: pode ser avaliada pela detecção
e quantificação dos anticorpos produzidos em resposta à
imunização ou por testes de desafio.

Quantificação da resposta sorológica induzida é o


método mais utilizado para se avaliar o potencial
imunogênico de antígenos vacinais SN ou ELISA
vacinas não-replicativas – resposta humoral
O método mais objetivo de se avaliar a eficácia de
uma vacina é a vacinação seguida de desafio.

A eficácia da vacina é medida por sua capacidade


de reduzir a excreção viral (magnitude e duração) e,
sobretudo, por prevenir a ocorrência de doença nos
animais vacinados
Administração de vacinas
•Vacinas de aplicação intraprepucial e intravaginal também já foram
desenvolvidas para a doença genital causada pelo BoHV-1.

•A vacina contra o ectima contagioso de ovinos é aplicada em gotas,


após escarificação da pele da face interna da coxa.

Doença de Marek: vacinação in ovo é realizada de modo


automatizado – entre o 17 e 18 dias de incubação
Conservação das vacinas
 Vírus não-replicativos: maior estabilidade
 Temperaturas ideais: 4-6° C

 Evitar congelamento e descongelamento

 Vacinas liofilizadas podem ser congeladas (-20ºC)


Falhas vacinais

Falha da vacina Falhas na conservação/ Falhas


administração do animal
•cepa incorreta; •conservação inadequada; •imunidade passiva;
•pouco antigeno; •administração inadequada; •animal já infectado;
•antígeno não-protetor; •animal com imunidade passiva; •animal imunodeprimido;
•pouco adjuvante; •animal já infectado. •animal doente;
•adjuvante incorreto •variação individual.
Reações adversas
 Encefalite pós-vacinal – bovinos vacinados contra o
BoHV-1 e em cães vacinados contra o CDV
 Vacina da parvovirose canina pode causar
imunodepressão em filhotes
 Vacinas com vírus atenuados administradas a fêmeas
gestantes que não foram anteriormente imunizadas podem
prejudicar o desenvolvimento fetal e mesmo causar abortos,
como no caso do vírus da panleucopenia felina (FPLV),
BoHV-1 e BVDV.
Reações adversas
 Vacinas inativadas - potencialização da doença decorrente
de um contato posterior com o vírus de campo – crianças
previamente vacinadas contra o vírus respiratório sincicial
(HRSV) e em potros vacinados contra o vírus da encefalite
eqüina do leste (EEEV)
 Reações de hipersensibilidade - intensa reação
inflamatória local, até distúrbio vascular generalizado
 RabV - tratamento pós-exposição com soro anti-rábico
produzido em coelhos, com múltiplas aplicações
abdominais - reações de hipersensibilidade
 Granulomas – Reações de hipersensibilidade retardada -
adjuvante
Reações adversas
 Pessoas ou animais alérgicos a albumina do ovo - podem
apresentar hipersensibilidade imediata e choque anafilático

 Opacidade da córnea em cães - vacinação contra a


hepatite viral canina com o adenovírus canino tipo 1 (CAV-
1). Este problema tem sido evitado pela utilização do CAV-
2 na formulação vacinal, em vez do CAV-1.
2ª parte da Aula
 Bulas de vacinas de uso veterinário

 Citar todos os vírus presentes (bactérias presentes não


precisam ser citadas)

 Classificar como vacinas monovalentes ou polivalentes

 Classificar como vacinas replicativas ou não-replicativas,


conforme visto em aula

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