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Faculdade Santo Agostinho 2022.

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Clínica Integrada – CI II, Palestra

Mioma uterino

Ter um bom nível de conhecimento sobre o leiomioma uterino Os tipos 1 e 2 são submucosos com componente intramural,
é fundamental para todo ginecologista. Além de um sendo o tipo 1 com menos de 50% e o tipo 2 com mais de 50%
diagnóstico frequente no consultório, o mioma constitui uma de penetração no miométrio. Lesões do tipo 3 são totalmente
das principais indicações operatórias na prática do cirurgião intramurais, mas atingem o endométrio. Lesões do tipo 4 são
ginecológico. Com base em achados ultrassonográficos, cerca intramurais e estão completamente envoltas pelo miométrio,
de 50% das mulheres apresentam mioma, com predomínio sem extensão à serosa ou à superfície endometrial. Miomas
entre 35 e 50 anos de idade. Além disso, atualmente, a doença subserosos do tipo 5 têm mais de 50%, enquanto miomas do
corresponde a dois terços das indicações de histerectomia tipo 6 têm menos de 50% de componente intramural. Miomas
em mulheres nessa mesma faixa etária. Mais de 70% das do tipo 7 são subserosos pediculados. Por sua vez, lesões
histerectomias realizadas nos Estados Unidos são para transmurais são classificadas de acordo com sua relação com
tratamento de doenças benignas do útero e, entre essas, o o endométrio e, a seguir, de acordo com sua relação com a
leiomioma representa a principal indicação, com um número serosa (registram-se os dois valores, separados por hífen).
aproximado de 200.000 cirurgias por ano. Naquele país, Por fim, miomas do tipo 8 são aqueles sem nenhuma relação
estima-se uma taxa de histerectomia por leiomioma de 1,9 por com o miométrio, incluindo lesões cervicais e aquelas que
1.000 mulheres por ano, de acordo com o US National Hospital acometem o ligamento largo sem conexão direta com o útero,
Discharge Survey. Dessa forma, este capítulo tem como também chamados de miomas parasitas
objetivo revisar os diversos aspectos dos leiomiomas e suas
repercussões na saúde da mulher. Os miomas podem sofrer degenerações ao longo do tempo,
classificadas como: hialina, gordurosa, hemorrágica, cística,
necrobiose asséptica e calcificação. A necrobiose asséptica,
Conceito e classificação também conhecida como degeneração rubra ou vermelha,
corresponde ao infarto hemorrágico do leiomioma e pode ser
O leiomioma uterino é um tumor benigno, formado por fibras mais comumente observada no ciclo gravídico puerperal, na
musculares lisas, entrelaçadas por tecido conectivo. Em dois vigência de pílula anticoncepcional ou de análogos do hormônio
terços dos casos, os tumores são múltiplos. Podem ser liberador de gonadotrofina (GnRH). Outras variantes
classificados, de acordo com sua localização no útero, como histopatológicas são o leiomioma mitoticamente ativo, o
corporais, em 98% dos casos, ou cervicais. Os corporais leiomioma celular ou hipercelular, o leiomioma bizarro, o
podem ser subdivididos em subserosos, intramurais e tumor de musculatura lisa de potencial maligno indeterminado
submucosos. Uma situação mais rara é o desprendimento de (STUMP), a leiomiomatose peritoneal e a intravascular.
mioma submucoso pediculado, que se exterioriza pelo colo do
útero, sendo denominado mioma parido. Existem ainda os
miomas que perdem contato com o útero e recebem fluxo Etiopatogenia e fisiopatologia
sanguíneo de outros órgãos, chamados miomas parasitas.
Mutações somáticas no miométrio levam à perda de controle
do crescimento celular, culminando com um novo fenótipo. A
transformação neoplásica e o crescimento tumoral são
graduais e progressivos e os nódulos num mesmo útero têm
origem monoclonal independente e comportamento biológico
distinto. Tratam-se de tumores hormônio dependentes, nos
quais estradiol e progesterona promovem seu crescimento
durante a menacme. Em contrapartida, a diminuição dos níveis
circulantes deles promove sua regressão. Sabe-se que a
predisposição genética e a presença dos esteroides sexuais
estão intimamente envolvidas na formação e no crescimento
dos miomas e, cada vez mais, estudos têm buscado mostrar a
relação entre mutações somáticas, hormônios sexuais,
fatores de crescimento e citocinas na fisiopatologia dos
miomas. No entanto, até o momento ainda permanece incerto
se a ação dos esteroides sexuais estaria relacionada à
iniciação neoplásica ou se somente promove o crescimento do
Útero com nódulos de miomas subserosos, intramurais e submucosos.
tumor, que tem sua oncogênese desencadeada por outros
mecanismos.
A FIGO (Federação Internacional de Ginecologia e
Obstetrícia) propôs, em 2011, uma classificação para
padronizar investigações clínicas. Lesões submucosas
pediculadas, totalmente intracavitárias, são chamadas de tipo
0.
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Já se evidenciou maior expressão de receptores de estradiol Quadro clinico


e de progesterona no tecido tumoral quando comparado ao
miométrio adjacente e, apesar de o estrogênio ser Aproximadamente metade das pacientes são assintomáticas
classicamente apontado como o responsável pelo crescimento e, nesses casos, os leiomiomas são apenas achados de exame
do mioma, evidências bioquímicas, patológicas e clínicas ginecológico ou ultrassonográfico. Por outro lado, quando
demonstram que a progesterona tem papel fundamental na sintomáticos, os miomas podem trazer importante impacto na
proliferação tumoral. Enquanto o estradiol estimula a qualidade de vida. As queixas mais frequentes são
produção de componentes da matriz extracelular (colágeno, sangramento uterino anormal, dismenorreia secundária,
proteoglicanos e fibronectina), a progesterona aumenta a sintomas compressivos gerados pelo aumento do útero, dor
atividade mitótica e inibe a apoptose. Além disso, pélvica acíclica, dispareunia, sintomas urinários, sintomas
demonstrou-se que mulheres com expressão anômala dos gastrointestinais, infertilidade e abortamento
receptores de progesterona (RP-A e RP-B), por meio do
polimorfismo Progins, podem ter redução da capacidade de Os miomas submucosos são, em sua maioria, responsáveis por
ligação e transcrição hormônio-mediada, com consequente quadros de sangramento uterino irregular (metrorragia). As
menor ação da progesterona no miométrio e diminuição na erosões na superfície do nódulo, em decorrência do atrito com
incidência de miomas. Vê-se, dessa forma, o sinergismo entre a parede endometrial, e sua eventual isquemia geram tal
estradiol e progesterona no estímulo da proliferação celular sangramento. Já os subserosos, em sua maioria, não geram
e do crescimento tumoral sintomas.
Quando volumosos, podem cursar com dor pélvica e sintomas
Alguns fatores de crescimento são expressos de forma de compressão extrínseca, como lombossacralgia, aumento da
aumentada no leiomioma, quando comparados ao miométrio frequência urinária, noctúria, retenção ou incontinência
adjacente. Destacamos o EGF (fator de crescimento urinária e até compressão ureteral, com comprometimento da
epidermoide) e o VEGF (fator de crescimento endotelial função renal. Os miomas intramurais podem cursar com
vascular), cujas expressões no tumor são mediadas pelo aumento da intensidade e/ou duração do fluxo menstrual
estrogênio. A proteína Bcl-2, responsável pela inibição da (menorragia ou hipermenorragia). Tais achados podem ser
apoptose celular, encontra-se expressa no leiomioma, e não no explicados pelo aumento da cavidade uterina, pela menor
miométrio, enquanto o PCNA (antígeno nuclear de contratilidade das fibras miometriais, prejudicadas pela
proliferação celular) e o Ki-67 (antígeno associado à presença do tumor, pela estase venosa endometrial e pelo
proliferação celular) também têm sua expressão aumentada aumento das prostaciclinas no endométrio, que causam
no leiomioma e estão vinculados à presença da progesterona. vasodilatação e dificultam a formação de trombos.
A ação local dos esteroides sexuais, mediada pela ligação aos
seus receptores, leva à ativação de proto-oncogenes, de Ocasionalmente, os miomas podem sofrer degeneração ou
fatores de crescimento e de seus receptores. Alterações torção de nódulos pediculados, gerando dor pélvica aguda. As
estruturais e funcionais de antioncogenes e de genes pacientes podem cursar com anemia, fadiga, astenia,
reguladores do crescimento celular também são descritas e, taquicardia, dispneia, dor e edema de membros inferiores.
ao final de toda a cadeia, tem-se a formação e o crescimento Mais ainda, os miomas são causa de infertilidade em 5% dos
do leiomioma. Sabe-se, também, que aproximadamente 40% casos, em especial os submucosos, devido à distorção da
dos tumores apresentam anormalidades cromossômicas de cavidade uterina e à condição inflamatória hostil do
surgimento tardio, que são provavelmente desencadeadas endométrio. Também podem estar relacionados a
pela multiplicação celular exacerbada. intercorrências obstétricas, com aumento da incidência de
abortamento, trabalho de parto prematuro, restrição do
crescimento intrauterino e apresentação fetal anômala
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Diagnostico
O diagnóstico inicia-se na consulta médica, com base nos
sintomas presentes. No exame físico, a palpação de tumor no
hipogástrio, bocelado, de consistência fibroelástica e com
alguma mobilidade laterolateral pode ser observada mediante
massas volumosas. No toque vaginal, pode-se palpar o útero
com volume aumentado e, no toque bimanual, comfirma-se
tratar de tumor do corpo uterino quando os movimentos
realizados no colo do útero e no fórnice vaginal são
transmitidos ao tumor abdominal. Porém, deve-se lembrar que
às vezes é difícil diferenciar leiomiomas subserosos de
tumores ovarianos junto ao corpo do útero.

Ultrassonografia transvaginal mostrando o padrão de vascularização do leiomioma


O diagnóstico diferencial deve ser feito com outras afecções ao Doppler.
ginecológicas, tais como adenomiose, adenomioma, pólipo
endometrial, tumor anexial, endometriose, câncer de Outra modalidade que pode ser utilizada é a ultrassonografia
endométrio, sarcoma do útero e até gravidez. tridimensional, que consiste na realização de ultrassonografia
convencional, porém com uma tecnologia que permite aquisição
Quanto aos exames de imagem, é sabido que a multiplanar e volumétrica, possibilitando reconstruir as
ultrassonografia ocupa lugar de destaque. Sua utilização tem imagens adquiridas em diferentes planos anatômicos (axial,
grande valor para esclarecimento diagnóstico, seguimento e sagital e coronal). Essa tecnologia tem várias aplicações na
programação terapêutica. Ressonância nuclear magnética e ginecologia, sendo um método eficaz no diagnóstico das
histeroscopia também podem fornecer informações valiosas malformações müllerianas, avaliação de dispositivos
para a análise minuciosa, em especial quando se tem em mente intrauterinos e diagnóstico de pólipos endometriais. Pode-se
o tratamento conservador em suas diversas modalidades. lançar mão da reconstrução tridimensional para obter um
mapeamento dos miomas, bem como estudar a cavidade
Ultrassonografia uterina, com ótima sensibilidade quando comparada ao método
convencional. A histerossonografia é uma complementação
A ultrassonografia transvaginal ou transabdominal é o exame que pode ser usada para avaliação de doenças focais da
de imagem mais utilizado no estudo de miomas. Pode ser cavidade uterina, como pólipos e miomas submucosos, com
suficiente no acompanhamento de casos com conduta possibilidade de mensuração da sua extensão miometrial,
expectante, tratamento clínico ou mesmo para indicação e atingindo níveis de sensibilidade e especificidade próximos a
programação de tratamento cirúrgico definitivo, com 90%. Trata-se, entretanto, de técnica trabalhosa para o
histerectomia. O exame ultrassonográfico endovaginal tem realizador e com certo desconforto para a paciente. Por isso,
melhor acurácia para os miomas intramurais e submucosos. assim como pelo fato de outros exames fornecerem
Miomas subserosos, quando volumosos, podem ser melhor informações semelhantes, tem sido pouco utilizada
observados com associação da via transabdominal.
Histeroscopia
A ultrassonografia permite avaliar a morfologia e as
dimensões do útero e do endométrio, além de caracterizar É um exame que consiste na introdução de uma ótica fina pelo
nódulos, padrão de vascularização tecidual, pelo estudo canal cervical, para avaliação da cavidade uterina,
Doppler colorido, e análise espectral das artérias uterinas, possibilitando a visão direta dos miomas submucosos, assim
pelo estudo Doppler espectral como de outras lesões ali localizadas. De acordo com a
European Society of Gynecological Endoscopy (ESGE), os
Miomas geralmente se apresentam à ultrassonografia como miomas submucosos são classificados em G0 (totalmente
nódulos hipoecogênicos e podem apresentar calcificações ou intracavitário), G1 (≥ 50% intracavitário) e G2 (< 50%
tênues reforços acústicos, em casos de degeneração cística. intracavitário), que correspondem aos tipos 0, 1 e 2,
Os contornos, bem ou mal definidos, ficam na dependência da respectivamente, da FIGO. A histeroscopia deve ser
pseudocápsula, formada pelo edema e pela compressão do realizada, de preferência, na primeira fase do ciclo
miométrio adjacente. Os miomas apresentam vascularização menstrual, tendo elevada acurácia, com sensibilidade de 88%
predominantemente periférica, por serem compostos por a 100% e especificidade próxima a 100%. Possibilita uma
musculatura lisa, diferenciando-se dos adenomiomas excelente avaliação endocavitária e dos nódulos submucosos,
porém não permite a avaliação completa do eventual
componente intramural e da distância entre o nódulo e a
serosa, chamada de manto miometrial externo. Por isso, seus
achados devem somar-se aos de outros exames,
principalmente ultrassonografia ou ressonância magnética,
para a programação terapêutica.
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Nódulos com alto grau de celularidade apresentam sinal


hiperintenso nas sequências ponderadas em T2. Tais
características são decorrentes do menor conteúdo de
colágeno e maior acúmulo de líquido, com espaços intersticiais
abundantes

Visão histeroscópica de um leiomioma tipo 0 (totalmente intracavitário).

Ressonância nuclear magnética

Importante salientar que, quando se planeja tratamento


cirúrgico conservador, outros exames de imagem tornam-se
úteis, em especial a ressonância nuclear magnética.
Atualmente, a ressonância é o método que possui melhor
resolução, assim como a mais detalhada discriminação
anatômica da pelve feminina. Encontra, contudo, limitação de Ressonância magnética com corte coronal em T2, ilustrando nódulo uterino
uso devido, principalmente, o custo para execução do exame. heterogêneo, com áreas hiperintensas no seu interior.

Sua indicação, no momento, é para diferenciar tumores


pélvicos e para avaliação pré-miomectomia ou embolização das Já os sarcomas costumam apresentar-se na ressonância como
artérias uterinas (EAU). Permite distinguir o mioma de outras tumores volumosos, com limites mal definidos, áreas de tecido
afecções ginecológicas que por vezes coexistem, como hemorrágico e necrótico, com sinal heterogêneo em T1,
adenomiose e endometriose, além de topografar, dimensionar hipossinal em T2 e sem realce vascular após a infusão de
e mesmo sugerir informações histológicas com acurácia de contraste paramagnético nas áreas necróticas, porém com
até 69% realce vascular nas áreas de expansão tumoral, geralmente
periféricas. Seu aspecto se assemelha muito a um mioma com
É um método que apresenta sensibilidade de 85% a 99% e degeneração vermelha ou hemorrágica, podendo ter aspecto
especificidade de 91% a 94% no mapeamento e mensuração um pouco mais grosseiro. Outro dado será o crescimento
dos miomas, comparativamente a 69% e 87%, contínuo e constantemente caracterizado durante os exames
respectivamente, da ultrassonografia. Tem grande de controle
importância na avaliação de úteros volumosos (maiores que
375 cm3), miomas múltiplos (cinco ou mais) ou de grandes A sequência de difusão DWI consiste numa técnica funcional
dimensões, que geram sombra acústica posterior, dificultando capaz de mensurar, em escalas numéricas e de cor, os
a avaliação ultrassonográfica. Deve-se lembrar que todas movimentos randômicos e aleatórios das moléculas de água no
essas vantagens da ressonância só são de fato percebidas tecido analisado. Diante da alta celularidade, mais frequente
quando se trabalha com um equipamento operando em alto em tumor maligno, essas moléculas têm movimento reduzido e
campo magnético (1,5 Tesla ou mais), que obtém imagens com podem ser discriminadas e classificadas em diferentes
elevada resolução espacial durante um curto tempo, velocidades. Pode-se lançar mão dessa técnica na suspeita de
reduzindo eventuais artefatos e melhorando o detalhamento sarcoma uterino, observando-se graus mais acentuados de
da imagem. restrição à difusão. Porém, a falta de sinais patognomônicos
de sarcoma e a dificuldade em diferenciá-lo do mioma
Em 60% dos casos, os miomas possuem extensa hialinização, degenerado leva-nos a concluir que, no momento, não há
apresentando-se com baixo sinal em T2 e intensidade de sinal achados de imagem que contemplem simultaneamente alta
semelhante ou mais baixa que o miométrio nas sequências sensibilidade e alta especificidade no diagnóstico desse
ponderadas em T1. Os contornos podem ser regulares ou tumor maligno.
irregulares, variando de acordo com a rapidez de
crescimento. É possível, em alguns casos, identificar um halo
de hipersinal na periferia do nódulo, gerado pela combinação
de vasos linfáticos comprimidos, veias dilatadas e edema,
formando a chamada pseudocápsula do mioma.
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Tratamento
Tratamento clínico

A indicação do tratamento é individualizada e leva em Porém, como não mudam resultados a médio e longo prazo e
consideração inúmeros fatores, como: sintomas, idade da têm efeitos colaterais consideráveis, seu uso é pouco
paciente, número, tamanho e localização dos miomas, frequente e fica reservado à avaliação caso a caso,
expectativa em relação ao futuro reprodutivo e desejo de considerando prós e contras.
preservar o útero, tratamentos prévios, além da coexistência
de outras doenças. Habitualmente, as pacientes Tendo em vista o crescimento dos miomas estar relacionado
assintomáticas ou oligossintomáticas devem ser apenas à ação da progesterona, estudos recentes analisam o uso dos
acompanhadas clínica e ultrassonograficamente, para moduladores seletivos dos receptores de progesterona
monitorar o surgimento de queixas, além do volume e (SPRMs) no tratamento clínico dessa afecção. Dentre as
crescimento dos miomas substâncias estudadas, destaca-se o acetato de ulipristal,
que, além de agir nos receptores miometriais e endometriais,
O tratamento clínico pode ser indicado para controle do inibe a ovulação, sem efeito significativo nos níveis de
sangramento e da dor pélvica, como tratamento inicial ou estradiol. Ainda, os mecanismos relacionados à redução
mesmo a longo prazo, no caso de pacientes que têm risco volumétrica dos leiomiomas mediados por essa medicação
cirúrgico elevado ou que não desejam ser submetidas a estão relacionados à inibição da proliferação celular, indução
procedimentos. O tratamento medicamentoso pode ser da apoptose e facilitação da reorganização da matriz
dividido em não hormonal e hormonal. Entre a terapêutica não extracelular
hormonal, citamos os anti-inflamatórios não hormonais
(AINHs), que auxiliam no controle do sangramento menstrual, A administração oral do acetato de ulipristal, nas doses de 5
por inibir a síntese de prostaciclinas, diminuindo em cerca de ou 10 mg por dia, causa redução significativa no volume do
30% o sangramento uterino e aliviando muitas pacientes. mioma, bem como controle do sangramento excessivo, sem
Outro grupo a ser citado é o dos antifibrinolíticos, como o suprimir os níveis séricos de estradiol e, portanto, reduz a
ácido tranexâmico, que podem ser utilizados isoladamente ou incidência dos efeitos adversos observados com os a-GnRH.
associados aos AINHs, inibindo a fibrinólise na superfície Assim, o acetato de ulipristal mostrou-se eficaz para uso pré-
endometrial, com consequente redução do sangramento operatório. Dentre os efeitos colaterais observados,
menstrual. Entre os hormonais, podemos citar os destaca-se a elevação de creatinofosfoquinase (CPK), sem
anticoncepcionais combinados e os progestagênios isolados, eventos cardiovasculares associados e com regressão
que também podem ser usados para controle do fluxo espontânea no seguimento. Os SPRMs foram associados a
menstrual, com redução significativa do sangramento em boa mudanças no tecido endometrial, também com regressão
parcela dos casos. O dispositivo intrauterino liberador de espontânea após cessado o tratamento. No entanto, alerta
levonorgestrel (LNG-IUS) também pode ser de grande valia recente foi lançado por agência reguladora europeia, devido a
no tratamento clínico do mioma, reduzindo o fluxo menstrual, relatos de hepatotoxicidade grave, incluindo casos com
graças à ação do levonorgestrel sobre o endométrio. O LNG- necessidade de transplante hepático. Como tal medicação,
IUS pode melhorar a qualidade de vida e os parâmetros todavia, não se encontra disponível no Brasil, aguardamos mais
hematológicos, mas também pode ter resultados limitados ou informações em relação ao seu perfil de segurança.
ser mal posicionado ou deslocado, devido à distorção da
cavidade. Tratamento cirúrgico

Os análogos agonistas do GnRH (a-GnRH) levam à redução dos O tratamento cirúrgico é dividido em conservador ou
esteroides sexuais circulantes e podem causar amenorreia e definitivo. A miomectomia é o tratamento conservador,
reduzir temporariamente o volume dos nódulos e do útero em enquanto o definitivo é representado pela histerectomia.
até 50%. São administrados uma vez a cada quatro semanas
ou em doses trimestrais. Seu resultado máximo é atingido, em ● Histerectomia
geral, entre 8 e 12 semanas. No entanto, logo após sua
suspensão, os miomas retornam aos padrões prévios. Os A histerectomia é o tratamento definitivo para o leiomioma
efeitos adversos dos a-GnRH são provenientes do uterino, apresentando eficácia estabelecida e resultados
hipoestrogenismo, com sintomas vasomotores, alteração do favoráveis à qualidade de vida. Não afeta adversamente a
humor, ressecamento vaginal e redução da densidade mineral função sexual e, naquelas com queixas a respeito, melhora a
óssea, em especial se utilizados por mais de seis meses. Os a- satisfação sexual, por diminuição de sangramentos
GnRH podem ser indicados no pré-operatório de inadvertidos e dispareunia. A histerectomia costuma ser
miomectomias, em geral entre dois e três meses antes do acompanhada da remoção das tubas uterinas (salpingectomia
procedimento, buscando-se melhora dos níveis de oportuna).
hemoglobina e redução do volume tumoral, com diminuição do
sangramento intraoperatório.
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A remoção dos ovários é indicada eventualmente em situações Deve-se destacar também a necessidade de capacitação e
de doença ovariana associada ou situações claras de risco, treinamento da equipe cirúrgica em todas as modalidades e a
como histórico pessoal e familiar e/ou mutações BRCA1 e avaliação criteriosa de cada caso, buscando a melhor via
BRCA2, com risco elevado para câncer de ovário. Portanto, mediante particularidades eventuais de cada paciente.
preconiza-se histerectomia com salpingectomia bilateral, o Sempre que possível, a via menos invasiva deve ser indicada,
que reduz o risco de câncer de ovário, mesmo com a porém por vezes a laparotomia é imprescindível.
manutenção das gônadas.
● Miomectomia
Levando-se em consideração fatores como idade da paciente,
hábitos sexuais e histórico de rastreamento e/ou lesões Consiste na exérese cirúrgica dos miomas com manutenção do
cervicais, pode-se decidir com a paciente pela histerectomia útero, preservando a função menstrual e possibilitando,
total ou subtotal. Ensaios clínicos demonstram que, nas muitas vezes, gravidez futura. A miomectomia múltipla é um
cirurgias abertas (por laparotomia), a histerectomia subtotal procedimento complexo e de maior tempo cirúrgico do que a
associa-se a menor tempo cirúrgico, menor sangramento histerectomia, com maior potencial de sangramento, mais
intraoperatório, menor incidência de febre no pós-operatório formação de aderências e maior risco de complicações,
e alta precoce. Porém, até 7% das mulheres podem manter enquanto a retirada de nódulo único costuma ser mais simples
sangramento cíclico no período pós-operatório. Quanto à e tem menor chance de recidiva. Diferentes vias e técnicas
capacidade de suporte do assoalho pélvico, assim como função podem ser utilizadas para a realização da miomectomia. A
sexual, urinária e intestinal, não há diferenças entre a individualização de cada caso é fundamental, considerando-se
histerectomia total e a subtotal. A incidência de câncer a localização e o tamanho do mioma. A miomectomia
cervical em colo residual pós-histerectomia subtotal situa-se histeroscópica, por exemplo, costuma ser a opção para o
entre 0,3% e 1,9%, sendo raro naquelas que fazem exames tratamento do leiomioma submucoso. A miomectomia vaginal,
preventivos periódicos, devido à possibilidade de tratamento por sua vez, é reservada para a exérese de leiomioma parido,
das lesões displásicas. Por fim, a histerectomia subtotal pode pela torção do seu pedículo, assim como a retirada de nódulos
ser uma opção diante de dificuldade intraoperatória, com cervicais intravaginais. A laparotomia e a laparoscopia,
importantes aderências de bexiga ou intestinais, ou em convencional ou robô-assistida, são as vias de acesso para o
indicações com necessidade de procedimento rápido e tratamento dos miomas intramurais e/ou subserosos,
resolutivo, como em pacientes com valores de hemoglobina devendo-se proceder sempre com minuciosa avaliação e
limítrofes ou em obesas com pelve profunda. mapeamento do útero, para caracterização do número,
tamanho e localização dos nódulos, além da mobilidade uterina
A histerectomia pode ser realizada por via vaginal ou e das condições pélvicas eventualmente associadas, como a
abdominal, por técnica laparotômica, laparoscópica, presença de outras enfermidades.
laparoscópica robô-assistida ou, ainda, com associação de vias
e técnicas. As vias laparoscópica e laparoscópica robô- Devemos ressaltar que a miomectomia, assim como outros
assistida podem ser consideradas quando o útero é pouco tratamentos conservadores, nem sempre corresponde ao
móvel ou menos acessível por via vaginal ou se há fatores de tratamento definitivo, já que a taxa de recorrência se
risco, como doença inflamatória pélvica, endometriose, mantém ao redor de 25% em 10 anos, com indicação de
aderências densas, doença anexial ou importantes distorções histerectomia em 8% das pacientes
anatômicas. A laparoscopia oferece vantagens nítidas em
comparação à cirurgia aberta, tais como menor perda Os índices de gestação pós-miomectomia em pacientes
sanguínea, menor tempo de internação, menor tempo de previamente inférteis situam-se ao redor de 50%, com cerca
recuperação pós-operatória, menor taxa de infecção e maior de 70% para aquelas pacientes sem outros fatores de
satisfação da paciente. Vale destacar que caso o útero infertilidade e 33% a 45% para casais com outros fatores
necessite ser fragmentado para sua extração, realizada por associados, femininos ou masculinos, sendo 39% dessas
via laparoscópica ou vaginal, tal fragmentação deve ser feita gestações com o uso de reprodução assistida. A taxa de
dentro de sacos protetores e sem contato com a cavidade abortamento é de 20%, semelhante à da população geral
peritoneal, a fim de proteger a paciente do risco de
disseminação e implante tumoral. ● Miomectomia laparoscópica

A laparotomia está indicada em casos de úteros muito Estudo comparando a laparoscopia com a minilaparotomia
volumosos assim como quando há condições clínicas e quanto à viabilidade, segurança, morbidade e chance de
cardiovasculares da paciente que podem ser agravadas pelo gravidez, mostrou menores morbidade, perda sanguínea e
pneumoperitônio ou pela posição ginecológica ou de tempo de internação, com maior taxa de gravidez no grupo
Trendelemburg acentuado. Nesses casos, a via a céu aberto submetido à laparoscopia. O índice de complicações foi
possibilita dissecção adequada, com exploração de todo o semelhante e o tempo cirúrgico foi pouco maior na
abdome, e remoção rápida e eficaz da peça, evitando laparoscopia, comparativamente à laparotomia
prolongamento do tempo cirúrgico e complicações associadas.
O índice de complicações intraoperatórias da histerectomia, O número de nódulos e a sua localização são fatores na
como trauma de ureter, vesical ou de alças intestinais, é escolha do acesso laparoscópico.
baixo, cerca de 1% a 2%, independentemente da via cirúrgica.
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Tumores com maior diâmetro de até 7 a 10 cm, únicos ou ● Miomectomia histeroscópica


acompanhados de até quatro a seis nódulos menores,
provavelmente poderão ser tratados por laparoscopia. No Constitui a principal via de acesso para tratamento dos
entanto, tais características e limites não constituem uma nódulos submucosos. Há melhora dos sintomas em mais de
regra, de forma que a decisão vai depender também das 90% das pacientes, com recidiva abaixo de 5% em 36 meses.
condições da paciente, assim como da experiência da equipe Miomectomias incompletas podem ocorrer em casos de
cirúrgica e da disponibilidade de instrumentos adequados. O sobrecarga hídrica, sangramento excessivo ou quando o
advento da cirurgia robótica (laparoscopia robô-assistida) nódulo tem grandes dimensões e chega próximo à serosa, com
pode estender as indicações laparoscópicas, principalmente chance de perfuração uterina. Nessa situação, pode-se
pela facilitação da sutura endoscópica, com movimentos realizar o procedimento em dois tempos, com uma nova
intuitivos e articulados das pinças robóticas. histeroscopia em dois a três meses, para concluir a
miomectomia.
Preconiza-se restrição ao uso excessivo da eletrocoagulação,
para não prejudicar a cicatrização miometrial, preferindo-se A técnica usada para a realização da miomectomia
sempre a hemostasia com pontos de sutura, e recomenda-se histeroscópica envolve o fatiamento do mioma e sua
atenção reforçada à qualidade dessa sutura, com tensão enucleação, em que se usa o ressectoscópio com energia
adequada em quantos planos forem necessários, a fim de monopolar ou bipolar
reduzir o risco de rompimento de cicatriz cirúrgica em
gravidez futura e treinamento adequados em sutura Como complicações, deve-se apontar em primeiro lugar
laparoscópica se fazem fundamentais. Avanços tecnológicos, aquelas relacionadas à sobrecarga hídrica. Essa pode ocorrer
como a plataforma cirúrgica robótica e os fios de sutura quando o meio líquido de distensão da cavidade uterina é
farpados, podem auxiliar na execução dessa tarefa, que é absorvido em grande quantidade e entra no sistema vascular
tecnicamente complexa e trabalhosa e, ao mesmo tempo, rapidamente, em especial mediante cirurgias prolongadas ou
crucial para o bom resultado cirúrgico. Outra questão diz quando se utiliza meio hipotônico, como manitol, sorbitol ou
respeito ao uso do morcelador eletromecânico, que apresenta glicina, necessários para uso da corrente monopolar. Nessas
riscos inerentes à técnica. Um deles é a disseminação situações, há risco aumentado de hiponatremia, hipo-
inadvertida de células malignas na eventualidade de osmolaridade, insuficiência cardíaca congestiva, edema agudo
diagnóstico incidental de sarcoma em cirurgia para mioma, de pulmão, edema cerebral e arritmia cardíaca. A distensão
com risco de 0,3%. A fragmentação do mioma de maneira da cavidade uterina com soro fisiológico e a utilização de
desprotegida na cavidade também pode levar ao surgimento energia bipolar diminui o risco de sobrecarga hídrica, bem
de miomas parasitas, localizados no omento, intestino ou como de complicações osmóticas e desequilíbrios
peritônio. Por fim, há risco de lesões viscerais e vasculares hidroeletrolíticos, mas não os elimina. O controle do balanço
pela lâmina cortante e giratória do instrumento. Com o hídrico durante e após o procedimento é sempre importante
propósito de minimizar esses riscos, além do manuseio e o procedimento deve ser suspenso se o déficit estiver em
cuidadoso do morcelador, tem-se buscado alternativas mais 1.500 mL para meio hipotônico ou 2.500 mL para soro
seguras para a remoção de tecidos e peças cirúrgicas de fisiológico. Deve-se monitorar atentamente as condições
médias ou grandes dimensões. Nesse sentido, temos optado clínicas da paciente durante todo o transoperatório. O uso de
pelo uso de sacos protetores para o morcelamento dentro baixos níveis de pressão para distensão da cavidade (até 100
deles ou pela colpotomia mmHg) também é uma estratégia para diminuir o risco de
sobrecarga hídrica. Se detectada intoxicação, interrompe-se
● Miomectomia laparotômica o ato cirúrgico e inicia-se restrição hídrica, administração de
diurético de alça (furosemida), oxigenação e reversão do
A miomectomia por laparotomia tem sua indicação principal distúrbio hidroeletrolítico.
nos casos de nódulos muito grandes e/ou numerosos ou ainda
quando há limitação por experiência da equipe cirúrgica ou Outra possível complicação é a perfuração uterina e a
falta de equipamento adequado, com chance de sangramento passagem de corrente elétrica. Trata-se de uma complicação
excessivo, sutura inadequada e tempo cirúrgico muito longo, o grave, que pode ter repercussões sistêmicas importantes. É
que anula as vantagens da laparoscopia. mais frequente durante a ressecção de leiomioma do tipo 2.
Embora o eletrodo de corrente bipolar seja mais seguro que
Vale destacar que em casos complexos, independentemente o monopolar, não é isento de tal complicação e, mediante tal
da via de escolha, podemos lançar mão de técnicas para evento, pode haver lesões de alças intestinais ou bexiga.
reduzir o sangramento intra e pós-operatório, como infusão Nessa situação, deve-se realizar uma laparoscopia, para
de vasopressina intramiometrial, aplicação de misoprostol via avaliar a gravidade da lesão e repará-la adequadamente.
vaginal, garroteamento cervical, oclusão das artérias uterinas
e/ou ligamento útero-ovariano (temporária ou permanente) e Também pode ocorrer sangramento excessivo durante o
aplicação de hemostáticos. procedimento. Mediante a insuficiência da coagulação
histeroscópica do leito cirúrgico, pode-se lançar mão de um
cateter de Foley na cavidade uterina, inflando-o por 6 a 12
horas. Alternativamente, uma gaze impregnada com
vasoconstritor também pode ser utilizada para controle do
sangramento
Faculdade Santo Agostinho 2022.2
Clínica Integrada – CI II, Palestra

Embolização das artérias uterinas (EAU)


Trata-se de técnica radiointervencionista endovascular para Por essas razoes, em mulheres com desejo reprodutivo, a
tratamento conservador de leiomiomas sintomáticos e embolização ainda permanece motivo de controvérsia. Apesar
consiste na oclusão da irrigação sanguínea para os miomas, por de reduzir o volume tumoral, com a redução da vascularização
meio da injeção de micropartículas (microesferas, álcool uterina, a embolização pode, por outro lado, comprometer a
polivinílico ou esponjas), que tem como objetivo a obstrução irrigação endometrial, prejudicando a nidação e o
do fluxo sanguíneo arterial no leito tumoral, levando à necrose desenvolvimento da gestação. Além disso, complicações
e à redução volumétrica dos tumores. Apresenta resultados infecciosas e expulsão transcervical de miomas submucosos
positivos, com alívio de sintomas a curto prazo em 75% a 90% podem levar à endometrite, inclusive com necessidade de
dos casos, porém apresenta 25% de reintervenções por histerectomia, comprometendo definitivamente o futuro
recorrência em até 10 anos, que é maior quanto mais nova a reprodutivo da mulher. A migração de esferas para a
paciente circulação ovariana, por sua vez, pode gerar perda da reserva
ovariana pós-embolização, com eventual falência gonadal em
Como indicações da EAU, podemos citar a falha de casos extremos, embora haja autores que não encontraram
tratamentos prévios, recidivas, pacientes sem condições para evidências de prejuízo ovariano em mulheres com menos de
tratamentos cirúrgicos, assim como aquelas que optam pelo 40 anos
procedimento como primeira escolha. Em pacientes com
desejo reprodutivo, o procedimento pode ser indicado quando De toda forma, a miomectomia ainda é o padrão-ouro para
não for possível a realização da miomectomia. Na seleção de pacientes que desejam engravidar. A EAU pode ser uma
candidatas à embolização, é necessário levar em conta alguns alternativa para casos complexos, de difícil execução, com
aspectos. Miomas submucosos são mais propensos à expulsão anatomia comprometida e risco considerável de histerectomia
pós-procedimento, causando dor abdominal intensa, diante de outros procedimentos.
sangramento vaginal, risco de infecção na cavidade uterina e
risco de histerectomia. Miomas subserosos, por sua vez, têm
o risco de desprendimento do útero, além de provável Ligadura das artérias uterinas
formação de aderências abdominopélvicas, devido à necrose
em sua superfície. Falha de tratamento parece ocorrer mais Pode ser realizada por via vaginal, laparotômica ou
frequentemente nos casos com adenomiose associada. laparoscópica, associada ou não à ligadura do pedículo útero-
ovariano. Embora a ligadura das artérias uterinas, temporária
São contraindicações a presença de infecção geniturinária ou permanente, seja uma alternativa para reduzir o
ativa, a suspeita ou confirmação de neoplasia maligna sangramento em miomectomias, sua realização como
ginecológica, imunossupressão, arteriopatia grave, alergia ao procedimento exclusivo para tratamento conservador de
contraste iodado, doenças autoimunes ativas, nódulos miomas tem alguns resultados animadores mas ainda carece
pediculados (tipos 0 e 7), doença renal crônica, coagulopatias de mais estudos, com populações maiores e acompanhamento
ou uso de anticoagulantes e gravidez. As possíveis a médio e longo prazo, para que conheçamos o perfil de
complicações são aquelas relacionadas à arteriografia segurança e os resultados, a fim de saber sua real
(hematomas, lesão e trombose arterial, reação anafilática ao aplicabilidade.
contraste) ou à embolização (dor abdominal, endometrite,
piometra, necrose séptica, febre, mialgia, amenorreia e
falência ovariana prematura). Miolise por USG focalizado de alta intensidade guiado por
RM
A literatura mostra melhora significativa dos sintomas pós-
procedimento. A redução do sangramento uterino anormal Outra alternativa conservadora para o tratamento do mioma
acontece em 90% a 92% das pacientes depois de 12 meses de uterino é a aplicação de ultrassom focalizado guiado por
seguimento e os sintomas compressivos regridem em 88% a ressonância magnética, método que emprega feixes
96% nesse mesmo período. Estudos mostram taxas de ultrassônicos de alta intensidade (500 a 700 W/cm²)
gestação de até 40% após embolização, porém sem direcionados a um determinado ponto por poucos segundos,
diferenciar casais previamente férteis de inférteis, o que aumentando a temperatura no tecido-alvo (de 55 a 90 °C), com
compromete a interpretação dos resultados. A paciente deve consequente necrose de coagulação. Alguns autores
ser esclarecida de que há risco de amenorreia e também de demonstram melhora significativa dos sintomas em 50% até
falência ovariana prematura, assim como de histerectomia, um ano. Entretanto, há eventual necessidade de
diante de complicações do procedimento. Além disso, há complementação com tratamento cirúrgico em 21% das
aumento da taxa de abortamento em gestações pós- pacientes avaliadas. Os efeitos colaterais foram leves e
embolização. Já sua utilização como técnica adjuvante prévia giraram em torno de febre, dor abdominal, náusea, dor lombar
à miomectomia, reduzindo volume tumoral e sangramento ou em membros inferiores, infecção urinária ou genital, além
intraoperatório, pode ser útil, mas apenas em casos da possibilidade de queimaduras na pele, principalmente em
selecionados. cicatrizes.
Faculdade Santo Agostinho 2022.2
Clínica Integrada – CI II, Palestra

A proximidade com o intestino e a bexiga requer atenção


dobrada, pelo risco de lesão térmica. Até o momento, não se
sabe de maneira consistente se pode prejudicar o miométrio
adjacente, por isso seu uso não é indicado para mulheres com
desejo reprodutivo. Temos também que levar em conta o
tempo para a execução da miólise tumoral e a viabilidade em
tratar vários nódulos durante o mesmo procedimento sem
prolongá-lo demais, assim como a necessidade de múltiplas
sessões para o tratamento completo.

Febrasgo, . Febrasgo - Tratado de Ginecologia. Disponível em: Minha Biblioteca,


Grupo GEN, 2018.

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