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DESENVOLVIMENTO
DE MINA E LAVRA
VOLUME 1
SÉRIE MINERAÇÃO
DESENVOLVIMENTO
DE MINA E LAVRA
VOLUME 1
CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA – CNI
DESENVOLVIMENTO
DE MINA E LAVRA
VOLUME 1
© 2016. SENAI - Departamento Nacional
FICHA CATALOGRÁFICA
S474d
Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial. Departamento Nacional.
Desenvolvimento de mina e lavra: volume 1 / Serviço Nacional de
Aprendizagem Industrial. Departamento Nacional, Serviço Nacional de
Aprendizagem Industrial. Departamento Regional de Minas Gerais. Brasília:
SENAI/DN, 2017.
CDU: 622.22
SENAI Sede
Serviço Nacional de Setor Bancário Norte . Quadra 1 . Bloco C . Edifício Roberto
Aprendizagem Industrial Simonsen . 70040-903 . Brasília - DF . tel.: (0xx61) 3317-9001
Departamento Nacional Fax: (0xx61)3317-9190 . http://www.senai.br
Lista de ilustrações
Figura 1 - Aspersão de poeira por meio de caminhões pipa.............................................................................20
Figura 2 - Estação de tratamento de água em uma mineração.......................................................................21
Figura 3 - Recuperação de áreas degradadas de uma mineração..................................................................27
Figura 4 - Remoção e armazenamento do material orgânico proveniente do capeamento................28
Figura 5 - Recolocação da camada orgânica sobre a área a revegetar..........................................................29
Figura 6 - Divisão de blocos para a explotação mineral.....................................................................................37
Figura 7 - Fases da mineração em relação ao mercado consumidor.............................................................37
Figura 8 - Sequência de operações de lavra em uma mina subterrânea......................................................38
Figura 9 - Vegetação sobre o minério........................................................................................................................40
Figura 10 - Exemplo de material estéril junto ao corpo de minério...............................................................40
Figura 11 - Perfil esquemático dos indicadores de desempenho...................................................................42
Figura 12 - Esquema processo de reconciliação....................................................................................................43
Figura 13 - Exemplo de análise de um Plano mensal de lavra executado....................................................44
Figura 14 - Elementos de uma mina..........................................................................................................................53
Figura 15 - Paisagem........................................................................................................................................................55
Figura 16 - Trator de esteira...........................................................................................................................................55
Figura 17 - Uso de motosserras....................................................................................................................................56
Figura 18 - Condição das camadas de solo e rocha compacta.........................................................................57
Figura 19 - Composição de talude..............................................................................................................................62
Figura 20 - Parâmetros de geometria de minas a céu aberto...........................................................................62
Figura 21 - Poço de bombeamento interno e externo da cava........................................................................64
Figura 22 - Sistema poços de bombeamento e drenos......................................................................................65
Figura 23 - Ponteiras filtrantes, drenos horizontais, sistema de drenagem
e estação de bombeamento...................................................................................................................65
Figura 24 - Técnica passiva parede cut-off............................................................................................................. 66
Figura 25 - Sump (indicado pela seta vermelha) em mina a céu aberto.......................................................67
Figura 26 - Sump em mina subterrânea....................................................................................................................67
Figura 27 - Sistema de drenagem de estradas.......................................................................................................67
Figura 28 - Sistema de captação de água de telhados........................................................................................68
Figura 29 - Erosão em morros.......................................................................................................................................69
Figura 30 - Recuperação de encostas com pneus.................................................................................................70
Figura 31 - Recuperação com vegetação.................................................................................................................70
Figura 32 - Recuperação com grades e revegetação...........................................................................................70
Figura 33 - Recuperação com concreto....................................................................................................................70
Figura 34 - Uso de gabiões............................................................................................................................................70
Figura 35 - Caminhão pipa............................................................................................................................................74
Figura 36 - Aspersores no sistema de britagem.....................................................................................................74
Figura 37 - Sistema de lavagem do ar dos exaustores de mina subterrânea..............................................76
Figura 38 - Duto de ventilação de mina subterrânea..........................................................................................77
Figura 39 - Mina de cobre desativada e barragem de rejeito...........................................................................79
Figura 40 - Disposição de estéril em camadas de baixo para cima.................................................................80
Figura 41 - Poço de mina a céu aberto já lavrada.................................................................................................81
Figura 42 - Itabirito compacto......................................................................................................................................81
Figura 43 - Perfuratriz......................................................................................................................................................86
Figura 44 - Sistema de percussão................................................................................................................................87
Figura 45 - Perfuratriz percussiva manual................................................................................................................87
Figura 46 - Componentes de uma perfuratriz de percussão............................................................................88
Figura 47 - Perfuratrizes rotativas...............................................................................................................................88
Figura 48 - Brocas tricônicas.........................................................................................................................................89
Figura 49 - Perfuratriz rotativa-percussiva...............................................................................................................90
Figura 50 - Configuração de uma perfuratriz de furo-abaixo...........................................................................91
Figura 51 - Montagem de uma perfuratriz de furo-abaixo,
em virtude da profundidade do furo requerida..............................................................................91
Figura 52 - Visão geral para escolha de um tipo de perfuratriz........................................................................92
Figura 53 - Componentes da broca............................................................................................................................94
Figura 54 - Corte mostrando o orifício de passagem dos sistemas de limpeza.........................................95
Figura 55 - Ciclo das operações de perfuração......................................................................................................96
Figura 56 - Operação de perfuração..........................................................................................................................97
Figura 57 - Erros de perfuração....................................................................................................................................97
Figura 58 - Martelete pneumático..............................................................................................................................98
Figura 59 - Jumbo.............................................................................................................................................................99
Figura 60 - Desmonte com explosivos................................................................................................................... 100
Figura 61 - Desmonte mecânico a frio................................................................................................................... 101
Figura 62 - Minerador de superfície........................................................................................................................ 101
Figura 63 - Desmonte por meio de um Bulldozer.............................................................................................. 102
Figura 64 - Desmonte hidráulico.............................................................................................................................. 103
Figura 65 - Porosidade x permeabilidade de rochas......................................................................................... 106
Figura 66 - Ensaio de velocidade de onda em uma amostra de rocha....................................................... 107
Figura 67 - Tensão versus deformação de rocha................................................................................................. 109
Figura 68 - Esquema de ensaio de compressão uniaxial................................................................................. 110
Figura 69 - Ensaio de compressão triaxial............................................................................................................. 110
Figura 70 - Ensaio de resistência à tração direta................................................................................................. 111
Figura 71 - Esquema de ensaio de compressão a tração indireto................................................................ 111
Figura 72 - Esquema simplificado das forças que atuam em um maciço rochoso................................ 112
Figura 73 - Classificação dos movimentos em maciço rochoso.................................................................... 114
Figura 74 - Tipos de escorregamento..................................................................................................................... 115
Figura 75 - ANFO............................................................................................................................................................ 119
Figura 76 - Cartuchos de emulsão........................................................................................................................... 120
Figura 77 - Emulsão bombeada................................................................................................................................ 120
Figura 78 - Representação esquemática do estopim........................................................................................ 123
Figura 79 - Espoleta simples...................................................................................................................................... 124
Figura 80 - Amolgamento........................................................................................................................................... 124
Figura 81 - Esquema de uma espoleta elétrica................................................................................................... 125
Figura 82 - Espoleta elétrica instantânea.............................................................................................................. 125
Figura 83 - Esquema de uma espoleta de retardo............................................................................................. 125
Figura 84 - Esquema de um cordel detonante fixado com espoleta por meio de fita adesiva......... 126
Figura 85 - Cordel detonante..................................................................................................................................... 127
Figura 86 - Booster......................................................................................................................................................... 128
Figura 87 - Palete de madeira utilizado no armazenamento de explosivos............................................. 130
Figura 88 - Esquema de carregamento de um furo........................................................................................... 133
Figura 89 - Métodos de escorvamento de espoletas........................................................................................ 136
Figura 90 - Esquema de carregamento do cartucho escorvado................................................................... 136
Figura 91 - Exemplo de um carregamento de fogo com acionamento elétrico (ligação em série).137
Figura 92 - Amarração em linha com retardos nas pontas............................................................................. 139
Figura 93 - Amarração diagonal aberta................................................................................................................. 139
Figura 94 - Amarração para direcionar o lançamento de partículas........................................................... 140
Figura 95 - Esquema estrutural de funcionamento do desmonte............................................................... 141
Figura 96 - Primeiros estágios do processo de detonação – Interação rocha/explosivo..................... 141
Figura 97 - Processo de detonação.......................................................................................................................... 142
Figura 98 - Detonação secundária - Bloco perfurado....................................................................................... 142
Figura 99 - Detonação secundária – João de Barro........................................................................................... 143
Figura 100 - Detonação secundária – Buraco de cobra................................................................................... 143
Figura 101 - Dissipação de gases e lançamento de fragmentos rochosos............................................... 144
Figura 102 - Estruturas que compõem uma bancada...................................................................................... 146
Figura 103 - Elementos do desmonte de uma bancada.................................................................................. 146
Figura 104 - Altura da bancada versus altura inclinada................................................................................... 148
Figura 105 - Furo vertical (a); Furo inclinado (b)................................................................................................. 149
Figura 106 - Subfuração............................................................................................................................................... 150
Figura 107 - Exemplificação de alguns tipos de malhas.................................................................................. 153
Figura 108 - Modelo de plano de fogo................................................................................................................... 156
Quadro 1 - Etapas no registro, concessão de lavra e licenciamentos ambientais......................................17
Quadro 2 - Riscos e impactos ambientais mais comuns nas minerações......................................................24
Quadro 3 - Tipos de acessos em minas.......................................................................................................................59
Quadro 4 - Acessos ao corpo mineralizado em serviço subterrâneo..............................................................60
Quadro 5 - Tipos de ruptura de taludes.....................................................................................................................63
Quadro 6 - Compilado da NRM 12...............................................................................................................................71
Quadro 7 - Causas de instabilidade de maciço rochoso................................................................................... 113
Quadro 8 - Tipos de movimento relacionados com a velocidade................................................................. 114
Quadro 9 - Principais classificações dos cordéis.................................................................................................. 126
Quadro 10 - Relações de carga típicas de algumas rochas.............................................................................. 155
3 Planejamento de lavra..................................................................................................................................................33
3.1 Planejamento................................................................................................................................................34
3.1.1 Tipos de plano de lavra............................................................................................................35
3.2 Componentes da Lavra..............................................................................................................................39
3.2.1 Locais de supressão vegetal..................................................................................................39
3.2.2 Volume do estéril a ser movido............................................................................................40
3.2.3 Volume DE minério a ser desmontado...............................................................................41
3.2.4 Volume do minério a ser produzido....................................................................................41
3.2.5 Qualidade química do minério a ser produzido.............................................................41
3.2.6 Aderência mensal das áreas planejadas e realizadas....................................................41
3.2.7 Reconciliação mensal...............................................................................................................43
3.3 Acompanhamento sistemático da execução dos planos de lavra.............................................44
3.3.1 Relatório anual de lavra (RAL)...............................................................................................45
3.3.2 Agência Nacional de Mineração (ANM).............................................................................47
4 Desenvolvimento de Mina..........................................................................................................................................51
4.1 Conceitos gerais...........................................................................................................................................52
4.2 Supressão Vegetal........................................................................................................................................54
4.2.1 Supressão com tratores de esteira de grande ou médio porte.................................55
4.2.2 Supressão com motosserras..................................................................................................56
4.2.3 Destinação e aproveitamento da madeira útil................................................................56
4.3 Decapeamento e remoção de estéril....................................................................................................56
4.3.1 Remoção do capeamento e da cobertura vegetal........................................................57
4.4 Infraestrutura da mina...............................................................................................................................57
4.4.1 Abertura e manutenção de estradas..................................................................................57
4.4.2 Manutenção de galerias..........................................................................................................61
4.4.3 Construção de rampas.............................................................................................................61
4.4.4 Definição de taludes e bermas laterais..............................................................................61
4.4.5 Sistema de drenagem a céu aberto e subterrâneo.......................................................64
4.4.6 Alocação e construção de sumps com taludes estáveis..............................................67
4.4.7 Construção de leiras ou banquetas de proteção lateral nas estradas....................67
4.4.8 Aproveitamento e bombeamento de águas pluviais – água de processo...........68
4.4.9 Prevenção contra o início de processos erosivos ..........................................................69
4.4.10 Instalação e manutenção de sinalização de mina ......................................................71
4.4.11 Iluminação de praças de carga e descarga....................................................................72
4.5 Supressão de poeira (umidificação de pistas) e controle da qualidade do ar.......................72
4.5.1 Caminhões pipa E aspersores verticais e em leque.......................................................73
4.5.2 Aplicação de supressores orgânicos ou químicos de poeira ....................................74
4.5.3 Sistemas de exaustores de poeiras e gases em mina subterrânea..........................75
4.5.4 Sistema de oxigenação de galerias.....................................................................................76
4.5.5 Medição de fluxo de ar ............................................................................................................77
4.6 Descarte de estéril.......................................................................................................................................78
4.6.1 Disposição de bancadas de baixo para cima (“Bolo de noiva’’).................................80
4.6.2 Preenchimento de área já lavrada.......................................................................................80
4.6.3 Preenchimento de galerias já exauridas............................................................................81
4.6.4 Eventual presença de protominério
ou minério de baixo teor que deve ser estocado em separado para o futuro....81
5 Perfuração e desmonte................................................................................................................................................85
5.1 Perfuração......................................................................................................................................................86
5.1.1 Tipos de perfuratrizes...............................................................................................................87
5.1.2 Sistema de avanço.....................................................................................................................93
5.1.3 Componentes de uma perfuratriz.......................................................................................94
5.1.4 Ciclo de perfuração...................................................................................................................96
5.1.5 Tipos de equipamentos ..........................................................................................................98
5.2 Desmonte.......................................................................................................................................................99
5.2.1 Tipos de desmonte................................................................................................................. 100
5.3 Mecânica das Rochas............................................................................................................................... 104
5.3.1 Resistência................................................................................................................................. 108
5.3.2 Estabilidade de Maciços Rochosos................................................................................... 112
5.4 Explosivos.................................................................................................................................................... 115
5.4.1 Conceitos................................................................................................................................... 115
5.4.2 Tipos............................................................................................................................................. 116
5.4.3 Propriedades dos explosivos.............................................................................................. 121
5.4.4 Acessórios de detonação..................................................................................................... 123
5.5 Transporte e manuseio de explosivos............................................................................................... 128
5.6 Armazenamento de explosivos .......................................................................................................... 129
5.6.1 Depósitos específicos para explosivos e acessórios................................................... 130
5.7 Carregamento de fogo............................................................................................................................ 131
5.7.1 Distribuição dos explosivos por furo............................................................................... 131
5.7.2 Carregamento dos furos....................................................................................................... 132
5.7.3 Cargas de Fundo..................................................................................................................... 133
5.7.4 Carga de coluna....................................................................................................................... 134
5.7.5 Tamponamento dos furos.................................................................................................... 135
5.7.6 Ação de espoleta e estopim ou dispositivo elétrico.................................................. 135
5.7.7 Aplicação de retardos............................................................................................................ 137
5.7.8 Amarração de fogo................................................................................................................. 138
5.7.9 Detonação................................................................................................................................. 140
5.7.10 Dissipação de gases............................................................................................................. 144
5.7.11 Avaliação dos desmontes.................................................................................................. 144
5.7.12 Liberação da área desmontada....................................................................................... 145
5.8 Elementos de Plano de Fogo................................................................................................................ 145
5.8.1 Altura da bancada................................................................................................................... 147
5.8.2 Angulação do Furo................................................................................................................. 148
5.8.3 Diâmetro do furo..................................................................................................................... 149
5.8.4 Profundidade do furo............................................................................................................ 150
5.8.5 Afastamento............................................................................................................................. 151
5.8.6 Espaçamento............................................................................................................................ 152
5.8.7 Malha de perfuração.............................................................................................................. 152
5.8.8 Tipos de malha......................................................................................................................... 153
5.8.9 Volume de escavação............................................................................................................ 154
5.8.10 Razão de carga...................................................................................................................... 154
5.8.11 Razão linear de carga.......................................................................................................... 155
5.9 Segurança.................................................................................................................................................... 157
5.9.1 Normas do Ministério da Defesa....................................................................................... 157
5.9.2 Credenciamento do Blaster junto ao órgão responsável......................................... 157
5.9.3 Treinamento interno.............................................................................................................. 158
5.9.4 Procedimento de isolamento da área de influência de detonação...................... 159
5.9.5 Avaliação de influência de ondas sísmicas.................................................................... 160
5.9.6 Ultralançamento..................................................................................................................... 161
Referências......................................................................................................................................................................... 165
Índice................................................................................................................................................................................... 175
Introdução
Prezado aluno,
Seja bem-vindo à unidade curricular Desenvolvimento de Mina e Lavra!
Sabemos que a implantação de uma mina e o seu efetivo funcionamento englobam diver-
sas atividades que devem ser muito bem planejadas e executadas para o sucesso do negócio.
Não se pode simplesmente começar a lavrar um maciço rochoso; antes é indispensável todo
um planejamento para que se definam a infraestrutura, os recursos e os equipamentos neces-
sários para a real execução do projeto.
Esta nossa jornada de conhecimento nos permitirá entender toda a metodologia de elabo-
ração de um projeto de mina, bem como as principais atividades no desenvolvimento da lavra.
Iniciaremos nosso estudo compreendendo os principais aspectos legais referentes à ativi-
dade de mineração, como o registro obrigatório em órgão fiscal e as licenças ambientais essen-
ciais para a extração mineral.
Entenderemos a metodologia de elaboração de um projeto básico de mina e o conjunto de
fatores que são necessários para a implantação do negócio. Estudaremos sobre a importância
e as características de um planejamento a curto, médio e longo prazo.
Conheceremos as principais etapas do desenvolvimento de uma mina, como a abertura
das vias de acesso, a construção da infraestrutura necessária para a execução das atividades,
preparação do terreno para a lavra, determinação da disposição do estéril, abertura de galerias
e bancadas, execução dos sistemas de drenagem, entre outros.
Aprenderemos, ainda, sobre as operações de perfuração e desmonte. Analisaremos os dife-
rentes tipos de desmonte, dando ênfase para o desmonte com explosivos. Estudaremos todos
os elementos que são essenciais para um plano de fogo adequado e os parâmetros essenciais
para manter a segurança das operações. Então, está preparado?! Vamos lá!
Aspectos legais e ambientais
Você sabia que a CFEM arrecadada, é dividida para as três esferas governamentais:
CURIOSI municipal, estadual e federal? A parcela destinada ao Município corresponde a 65% da
DADES explotação mineral, ao Estado 23%, e à União 12%.
Fonte: Adaptado de REVISTA DO MINISTÉRIO PÚBLICO DE MINAS GERAIS, 2012.
Por fim, a desativação e o fechamento da mina, etapa conhecida também por descomissionamento
(prevista no PAE), deve atender todas as normas reguladoras da ANM e dos órgãos ambientais que sub-
sidiam o licenciamento do empreendimento.
O registro em órgão fiscal das atividades mineradoras depende diretamente do cumprimento das re-
soluções dos órgãos ambientais (setor ambiental), em conjunto com as normas e leis estabelecidas pelo
ANM (setor mineral). O Quadro 1 apresenta as principais etapas para o processo de concessão mineral e do
licenciamento ambiental que devem ser concomitantes.
2 ASPECTOS LEGAIS E AMBIENTAIS
17
Acompanhamento do
Relatórios de Acompanhamento dos
Relatórios Anuais de Lavra aproveitamento da jazida de
monitoramento, renovação efeitos ambientais do
(RAL) e fiscalizações acordo com as leis e normas
da LO, fiscalizações empreendimento
vigentes
Documento comprovando
Plano de Fechamento e Documento de
Solicitação de caducidade da a exaustão da jazida
(DESATIVAÇÃO)
concessão e inviabilidade do
Áreas Degradadas (PRAD) fechamento e PRAD
aproveitamento
Extingue a concessão
Comprovação do
Aprovação da caducidade da fornecida após a vistoria do Descomissionamento
cumprimento do plano de
concessão comprimento do PRAD e ambiental
fechamento e do PRAD
demais solicitações legais
É importante que você conheça também as responsabilidades e as funções de cada um dos órgãos que
estabelecem normas e diretrizes para as operações do desenvolvimento de lavra, tais como:
DESENVOLVIMENTO DE MINA E LAVRA
18
Você deverá ficar atento, pois esses órgãos competentes e suas normas e resoluções
FIQUE podem sofrer alterações. É importantíssimo que você se mantenha atualizado
ALERTA buscando sempre conhecer qual é a responsabilidade de cada órgão no setor de
mineração, bem como quais são as normas vigentes.
Você saberia definir exatamente o que é o licenciamento ambiental? Qual é o órgão responsável pelo
fornecimento da licença? Quais os tipos de licenciamento ambiental uma mineração deve possuir?
Pois bem! O licenciamento ambiental é definido como um procedimento administrativo por meio
do qual o órgão ambiental competente aprova a localização, instalação, ampliação e a operação do
empreendimento e atividades utilizadoras de recursos ambientais e/ou consideradas potencialmente
poluidoras ao meio ambiente, podendo causar qualquer tipo de degradação ambiental.
O primeiro passo para o requerimento do licenciamento ambiental é a execução de um prévio estu-
do dos impactos ambientais (EIA) e da apresentação do respectivo relatório de impactos sobre o meio
ambiente (RIMA) que aquela atividade poderá ocasionar.
A Resolução do CONAMA dispõe de normas, diretrizes e critérios básicos para a elaboração do EIA/
RIMA, itens obrigatórios para qualquer empreendimento minerário de toda e qualquer substância mineral.
2 ASPECTOS LEGAIS E AMBIENTAIS
19
O EIA, então, deve ser submetido e aprovado pelo órgão estadual responsável pelo meio ambiente, para
que, assim, a empresa possa pleitear o licenciamento ambiental do projeto de mineração.
Conforme notamos no Quadro 1, a primeira licença concedida é a Licença Prévia (LP). Essa licen-
ça é outorgada na fase inicial do projeto permitindo uma análise exploratória de pesquisa do terreno.
A LP deve aprovar também a localização e a concepção do negócio, atestando a viabilidade econômica
e ambiental do projeto.
A concessão da licença prévia só é fornecida após a aprovação do EIA, bem como a apresentação do Pla-
no de Aproveitamento Econômico da jazida (PAE) e o Plano de Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD).
Nessa etapa, todos os impactos ambientais das atividades que serão executadas devem ser conhecidos
e mensurados, não podendo ser concedida a licença caso sejam verificadas inconsistências ou omissões
relacionadas aos riscos ambientais presentes nas operações a serem desenvolvidas.
Depois da aprovação de todos os planos, projetos e medidas de controle ambiental, deve ser solicitada
a Licença de Instalação (LI). Essa licença autoriza o início da implementação das atividades de mineração
e as construções necessárias, de acordo com o plano de controle ambiental aprovado previamente.
Por fim, deve ser requerida a Licença de Operação (LO) que autoriza o início das atividades e funcio-
namento de todas as instalações e equipamentos. É importante ressaltar que a LO só é concedida após a
fiscalização e comprovação de todos os requisitos e medidas de controle ambientais descritos nos planos
e licenciamentos anteriores.
Os licenciamentos ambientais devem ser fornecidos por órgãos estaduais competentes. Porém quando
as atividades mineradoras têm um significativo impacto ambiental de âmbito regional ou nacional, a con-
cessão do licenciamento passa a ser de responsabilidade do IBAMA.
Sabemos que as atividades de mineração geram diversos impactos ambientais, por exemplo: a alte-
ração da fauna e flora local decorrente da supressão vegetal, a erosão, o levantamento de poeira devido
às operações de escavação e o transporte do minério, entre outros.
Por essa razão, o controle e o monitoramento ambiental nas minerações deve ser extremamente rigo-
roso, a fim de não permitir maiores impactos do que aqueles previstos nos planos e licenciamentos do
empreendimento inicial.
Atualmente, existem diversos sistemas automáticos e automatizados para a medição e monitoramento
da qualidade do ar, emissões atmosféricas, qualidade das águas e efluentes, que auxiliam as empresas na
execução desse controle ambiental.
DESENVOLVIMENTO DE MINA E LAVRA
20
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A utilização de sistemas de irrigação fixos e programáveis também pode ser empregada para esse con-
trole. O uso desses sistemas tem crescido muito nos últimos anos, principalmente em virtude da redução
do custo e da emissão de poluentes no ar, uma vez que não utilizam combustíveis.
A qualidade do ar deve estar de acordo com os parâmetros estabelecidos no Plano de Controle
Ambiental (PCA), sendo passíveis de multas e sanções as mineradoras que não cumprirem os valores
definidos.
O controle de poluição da água se faz predominante por meio das estações de tratamento de
efluentes (ETEs), substituindo as fossas sépticas que são pouco eficientes. As ETEs são cada vez mais
compactas e específicas para a remoção de determinadas substâncias. Observe na Figura 2, um exem-
plo de ETE na mineração.
2 ASPECTOS LEGAIS E AMBIENTAIS
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@istockphoto.com/BrainBrownImages
Figura 2 - Estação de tratamento de água em uma mineração
Assim como o controle de poluição das águas e do ar, o controle de poluição dos solos é de extrema
importância para a mineração. Os solos próximos às áreas de mineração podem ser afetados por poluen-
tes, como os rejeitos (lama), metais pesados, substâncias tóxicas oriundas de processos de tratamento de
minérios, óleos e graxas de equipamentos, entre outros; o que pode prejudicar a fauna e a flora locais.
A lavra de ouro, por exemplo, utiliza mercúrio em alta concentração, necessitando de um monitora-
mento rigoroso dos solos e rios próximos ao local. Outro exemplo são as lavras de chumbo, zinco e prata,
que, na maioria das vezes, possuem rejeitos ricos em arsênio. Para esses tipos de lavra, é fundamental
haver um mapeamento e um sistema de contenção eficiente dos rejeitos abandonados.
Em adição, como você sabe, a atividade de mineração implica a supressão vegetal e, muitas vezes, até
o impedimento da regeneração da vegetação biota local. O solo superficial de maior fertilidade é pratica-
mente removido, deixando os solos remanescentes expostos à erosão, podendo acarretar o assoreamento
de corpos, a obstrução dos leitos suplementares dos córregos e calhas de drenagem, compactação dos
solos e a vulnerabilidade da área, ou seja, a formação do deserto de pedra.
DESENVOLVIMENTO DE MINA E LAVRA
22
Existem diversas ações e métodos que podem ser adotados para minimizar a poluição dos solos e
reduzir os problemas associados, como:
• Monitoramento e controle constante dos rejeitos e poluentes químicos;
• Formação de bacias de contenção para a prevenção, caso ocorra algum acidente;
• Estocagem do solo decapeado em local plano, de forma a não compactá-lo e alterar suas proprie-
dades físico-químicas;
• Não deixar solos escavados por tempo prolongado, a fim de evitar a erosão e lixiviação;
• Recobrimento da pilha de rejeitos com solo possibilitando a cobertura vegetal;
• Implantação de cortinas de vegetação para atenuar o impacto paisagístico e compensação das áreas
degradadas na região, entre outros.
Como sabemos, os riscos e os impactos ambientais são inerentes às atividades de mineração. É impossível
extrair o mineral, sem alterar a paisagem original local.
Os riscos ambientais são definidos como a probabilidade de ocorrência de um impacto ambiental. Já os
impactos ambientais propriamente ditos, são alterações/mudanças concretas no meio ambiente devido a
uma atividade ou ação humana.
É fundamental que você conheça os principais riscos e impactos ambientais ocasionados pela
mineração, para que ao longo de suas atividades profissionais, você procure implementar medidas
que minimizem seus efeitos. No Quadro 2, notamos os principais riscos ambientais, bem como as
medidas mitigadoras mais comumente empregadas para cada um deles.
MEDIDA DE PREVENÇÃO
IMPACTO/RISCO DESCRIÇÃO
E/OU MINIMIZAÇÃO
• Plano de fogo adequado;
Gerado por várias atividades, tais como: • Uso de rompedores hidráulicos para quebra de
detonações, tráfego de veículos, operações de blocos;
Alteração acústica do ambiente
equipamentos de escavação, perfuração, entre • Sistemas de controle de emissão de ruídos nos
outros. equipamentos;
• Uso de barreiras físicas.
Ocorre devido ao emprego de explosivos e • Plano de fogo adequado;
Geração de vibrações
eventuais tráfegos de máquinas e veículos. • Uso de retardos.
2 ASPECTOS LEGAIS E AMBIENTAIS
23
• Molhamento de pista;
Provocado pelo levantamento de poeiras • Aspersão de água em pontos de
dos processos de escavação, manuseio e movimentação de material;
Alteração da qualidade do ar transporte do produto, bem como nos taludes • Cobertura ou aspersão de água nos caminhões
de pilhas de estéril, ação do vento, entre de transporte;
outros. • Planejamento adequado das pilhas de estéril,
taludes de mina e barragens.
• Definição de limites de proteção ao patrimônio
Gerado pela abertura de cavas, extração paisagístico;
Alteração da paisagem mineral, depósitos de estéril, barragens de • Recomposição topográfica, quando possível;
rejeitos, entre outros. • Reabilitação de áreas degradadas;
• Implantação de barreiras verdes e visuais.
• Sistemas de drenagem com bacias ou
Ocasionado devido ao carregamento de
barragens de sólidos;
Alteração da qualidade de sólidos em áreas operacionais, emissão de
• Sistemas de SAO (Sistema água-óleo);
águas superficiais efluentes de oficinas, e gerado também devido
• Estações de tratamento de efluentes;
à drenagem ácida.
• Drenagem ácida adequada.
Ocasionados pelo vazamento de combustíveis
Alteração da qualidade de • Sistemas de detecção de vazamentos;
ou produtos químicos, infiltração de esgotos
águas subterrâneas • Armazenamento de resíduos.
sem tratamento de fossas sépticas.
• Proteção das nascentes de água;
Redução das águas subterrâneas da mina,
Alteração da quantidade • Gestão e recirculação da água;
devido ao consumo no beneficiamento ou
de água • Reabilitação de áreas degradadas;
pelas alterações de cobertura do solo.
• Plantio de matas ciliares.
• Reabilitação de áreas degradadas;
Desmatamento para abertura das lavras e • Otimização do leiaute, de forma a minimizar o
Impactos sobre flora e fauna demais estruturas da mina; alterações no efeito das operações de mina;
habitat natural. • Programas de monitoramento e de proteção à
fauna e flora.
• Plano de segurança de barragens de rejeitos;
Impactos sobre ambientes Gerado devido à implantação de barragens
• Implantação de lavras menos agressivas
aquáticos de rejeito.
próximas aos cursos d’água.
• Delimitação de áreas de proteção próximas às
Gerado devido à destruição de cavernas cavidades naturais relevantes;
Impactos sobre cavernas
ou do ambiente próximo a elas. • Adequação dos limites da cava em função das
áreas protegidas.
Toda mineradora, antes de iniciar suas atividades, nas etapas de licenciamento de instalação e ope-
ração, deve realizar a Análise de Riscos (AR) de suas atividades, e, assim, gerar o “Plano de Gerencia-
mento de Riscos” (PGR).
O PGR visa prevenir e/ou mitigar algum impacto ambiental que possa ser gerado por determinada
atividade e divide-se em plano de ação para prevenção de riscos e plano de emergência.
Dependendo da gravidade do impacto ambiental que pode ser ocasionado, o risco se torna uma emer-
gência ambiental, como por exemplo: rompimento de uma barragem de rejeito, derramamento de gran-
des quantidades de óleo, entre outros. Programas de treinamentos internos e simulações para controle de
acidentes ambientais são ações que devem estar contempladas no plano de emergência.
2.3.5 METEOROLOGIA
Você sabe definir o que é Meteorologia? E qual é a sua importância para a mineração?
Mesmo não conhecendo a definição, como ciência meteorológica, provavelmente, você algum dia já
utilizou de seus benefícios verificando a previsão do tempo para realizar uma viagem, organizar uma festa,
entre outros eventos.
A meteorologia é a área responsável pelo estudo dos processos atmosféricos e da previsão do tempo.
Objetiva prever os fenômenos atmosféricos como tempestades, raios, ventanias, bem como as proprie-
dades atmosféricas que interagem afetando o clima de uma região, exemplos: temperatura, pressão,
velocidade do vento, umidade do ar.
Na mineração, principalmente para a redução dos impactos ambientais e para aumentar a segurança, é
muito importante conhecer e analisar a meteorologia local.
Em dias em que a umidade relativa do ar é muito baixa, por exemplo, o levantamento de poeiras é
maximizado, sendo necessária a aspersão de água nas pistas e/ou caminhões de transporte com maior
frequência.
Em previsões de tempestades, recomenda-se a suspensão das operações de mina, já que a elevada
possibilidade de descargas elétricas, perda de visibilidade pelos operadores de maquinários, riscos de tom-
bamentos de terra, são condições de alto risco para a vida e saúde dos trabalhadores.
2 ASPECTOS LEGAIS E AMBIENTAIS
25
Você já ouviu falar em arqueologia? Sabe dizer por que o levantamento arqueológico é tão importante
na mineração?
Bem, a arqueologia é a ciência que estuda os costumes e as culturas das sociedades antigas, objetivan-
do preservar artefatos e monumentos históricos para que sirvam de fonte de informação para o desenvol-
vimento de pesquisas e novos conhecimentos.
Como as atividades de mineração se baseiam na extração mineral, em consequência tem-se a in-
tervenção no subsolo e alteração do contexto original da deposição de vestígios. Assim a proteção
dos sítios arqueológicos e bens culturais é fundamental para a sustentabilidade socioambiental desse
empreendimento.
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e o Centro Nacional de Arqueologia são
os órgãos responsáveis pela fiscalização e análise do potencial impacto que as empresas podem causar ao
patrimônio cultural e histórico da nação.
De acordo com portaria do IPHAN, é obrigatório o levantamento arqueológico da região para a obten-
ção da licença ambiental prévia (LP). Esse levantamento deve consistir em duas etapas principais: pesqui-
sas de campo e revisão bibliográfica aprofundada sobre o histórico da área a ser lavrada.
A etapa da pesquisa e coleta de dados deve comtemplar pelo menos quatro aspectos distintos,
sendo eles:
• Contextualização histórica e etno-histórica da área de influência do empreendimento por meio de
pesquisas, denominadas sondagens;
• Descrição de todas as etapas que serão executadas em campo;
• Descrição antropológica1 e sociológica do patrimônio material identificado e que poderá ser influen-
ciado pelas atividades a serem desenvolvidas, ou seja, os impactos que poderão ser gerados.
• Avaliação dos impactos e medidas de mitigação que serão adotadas.
Com a avaliação do potencial arqueológico local, a licença prévia é concedida, entrando em vigor a
execução do Programa de Prospecção Arqueológica e de Educação Patrimonial para as etapas subse-
quentes do licenciamento ambiental (LI e LO).
Nessa etapa, os sítios arqueológicos são detalhados e quantificados. Ações de salvamento também
são desenvolvidas, visando ao resgate minucioso de peças ou informações importantes existentes nes-
ses sítios que poderão ser guardados em museus locais para posteriores consultas.
As mineradoras ainda devem desenvolver os conceitos de educação patrimonial entre seus colabora-
dores, ou seja, difundir conhecimentos sustentáveis e a fim de conscientizá-los da importância da preser-
vação dos sítios e salvamento do material arqueológico.
Nos últimos anos, diversas mineradoras, como forma de medida compensatória, estão assumindo a
proteção de sítios do patrimônio natural e cultural, existentes em áreas vizinhas do empreendimento.
1 Antropológica: a antropologia é a ciência que se dedica ao estudo do comportamento do ser humano e de seu conhecimento.
DESENVOLVIMENTO DE MINA E LAVRA
26
@istockphoto.com/Krugloff
2.5 RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS
O PRAD, Plano de Recuperação das Áreas Degradadas, é um documento que faz parte do Plano de
Fechamento da Mina, cujo principal objetivo é o estabelecimento de medidas a serem empregadas para
a recuperação de áreas que foram afetadas pelas atividades de implantação e operação de um empreen-
dimento de mineração.
Devemos ressaltar que, pelas tendências mundiais, o plano de fechamento da mina é mais completo do
que somente o PRAD. Normalmente, o plano de fechamento é caracterizado por parâmetros ambientais,
socioeconômicos, físicos e ecológicos, incluindo programas de comunicação social, minimização dos efei-
tos socioeconômicos adversos, recolocação do pessoal dispensado no fechamento da mina, estabilização
das áreas, entre outros.
A recuperação da área degradada e do respectivo ecossistema deve ser o mais próximo possível da
condição original do terreno. As áreas degradadas devem ser transformadas em terras produtivas e/ou
autossustentáveis.
2 ASPECTOS LEGAIS E AMBIENTAIS
27
O roteiro do PRAD, deve conter os seguintes aspectos fundamentais para o processo de recuperação:
• Caracterização da área degradada e suas proximidades;
• Agente causador da degradação;
• Proposta de recuperação;
• Definição de quais parâmetros serão recuperados ou controlados;
• Definição de um modelo de recuperação;
• Detalhamento minucioso das técnicas e ações que serão adotadas para a recuperação;
• Proposta de monitoramento e avaliação da efetividade da recuperação das áreas degradadas;
• Previsão dos insumos e custos que serão despendidos com o processo;
• Cronograma de execução e consolidação da área degradada.
Todo esse processo deve ser elaborado e acompanhado por um profissional habilitado e registrado no
conselho competente referente à atividade. Observe na Figura 3, um exemplo de área recuperada após o
fechamento de uma mina.
@istockphoto.com/saz1977
No PRAD, o processo de revegetação do solo pode ser natural ou artificial. Na revegetação natural,
não há interferência humana, as áreas degradadas permanecem sem intervenção para que a vegetação se
refaça naturalmente.
Já a implantação artificial de reflorestamento, apesar dos custos, inexistentes na revegetação natural, é
mais comum de ser aplicada nas minerações em função do nível de degradação. Nesse processo, é muito
importante que o solo seja previamente preparado para o recebimento da muda a ser plantada.
O sucesso da execução do PRAD é confirmado após a análise dos seguintes parâmetros:
• Eficiência dos sistemas de controle de erosão implementados;
• Controle e monitoramento da fertilidade dos solos nos locais revegetados;
• Cobertura rápida dos solos por meio de vegetação rasteira e arbustivo-arbórea;
• Adequação da compatibilidade das espécies escolhidas com a vegetação nativa regional;
DESENVOLVIMENTO DE MINA E LAVRA
28
• Evolução da cobertura vegetal, devendo ser superior a 70% da superfície do solo no fechamento
da mina;
• Adequação da vegetação implantada em função dos projetos futuros da região;
• Pertinência, vitalidade, autossuficiência das áreas alagadiças como lagoas, brejos, e matas alagadas,
remanescentes das atividades de mineração;
• Autossuficiência da vegetação implantada.
Provavelmente, você já deve saber que as áreas degradadas apresentam baixos níveis de nutrientes e
características físicas e químicas diferenciadas quando comparadas com a vegetação e solo originais.
O grande desafio das minerações é retornar as áreas explotadas, o mais próximo possível a sua condição
original, ou seja, restabelecer as espécies de vegetação local e características do solo, existentes antes do
início das atividades minerárias.
Uma forma de minimizar esses impactos provocados e restabelecer a vegetação local é por meio do
aproveitamento do solo orgânico. Como assim?
Você já parou para pensar que antes de dar início à extração mineral, é necessário remover completa-
mente o solo orgânico original? Para a retirada do minério e do estéril, a cobertura vegetal deve ser primei-
ramente decapeada, isto é, a capa orgânica do solo deve ser totalmente removida. Deve-se remover até
mesmo os materiais de valor econômico, como por exemplo, a madeira proveniente de árvores nativas.
O solo orgânico, então, rico em nutrientes, pode ser armazenado visando à futura recuperação da área
degradada (Figura 4).
É importante lembrar que, sempre que possível, o estéril deve ser depositado na mesma sequência em
que foi retirado, já definindo assim a paisagem futura e garantindo que o melhor material esteja deposita-
do na superfície.
O armazenamento do solo orgânico, normalmente, é realizado por meio de pilhas com camadas de
terra de até 1,5 metro de altura, 3 a 4 metros de largura e comprimento variável. A pilha deve ser coberta
de palhas secas a fim de manter a qualidade do material e protegê-lo dos raios solares.
2 ASPECTOS LEGAIS E AMBIENTAIS
29
Na etapa de recuperação das áreas degradadas, o material orgânico armazenado é, então, aplicado so-
bre a superfície das camadas de estéril escarificadas2. Observe esse processo na Figura 5.
Superfície a revegetar
Pìlha de estéril
Capeamento orgânico
O aproveitamento do solo orgânico é uma prática relevante para a recuperação de áreas degradadas,
uma vez que se aproximam as características do solo recuperado das originais, possibilitando o plantio
de gramíneas, arbustos e/ou árvores da mesma espécie ou espécies semelhantes àquelas que ali estavam
anteriormente.
Vimos que as atividades do desenvolvimento de mina ocasionam impactos não somente ao solo, mas
também afetam diretamente a fauna e a flora locais.
Os PRADs, embora tenham suas ações mais direcionadas para a reabilitação de solo e da vegetação,
interferem positivamente na recuperação da fauna, uma vez que tornam o ambiente mais propício para o
habitat animal.
O controle e o monitoramento da fauna e flora locais tendem a ser aplicados em conjunto com as
etapas de implantação do empreendimento. Muitas vezes, utilizam-se bioindicadores para a avaliação
da eficiência dos sistemas de controle e de recuperação ambiental, tais como:
• Uso de liquens3 para monitorar a qualidade do ar. Esses fungos são altamente sensíveis a compostos
com óxidos de nitrogênio e de enxofre (NOx e SOx), podendo incorporá-los facilmente;
• Emprego de musgos e de gramíneas para verificar a presença de metais pesados; os metais pesados
acumulam no tecido desses vegetais;
• Utilização de libélulas para verificar a conservação da qualidade dos ambientes aquáticos e úmidos;
libélulas são muito vulneráveis às alterações dos meios aquáticos, não se reproduzindo e nem se
desenvolvendo quando o meio é modificado;
• Uso de formigas para a análise de recuperação das áreas degradadas por meio de monitoramento de
suas quantidades e variedades.
A partir disso, percebemos a grande importância dos bioindicadores no monitoramento das ações
ambientais das mineradoras.
CASOS E RELATOS
RECAPITULANDO
3.1 PLANEJAMENTO
Você saberia definir com exatidão o que é o planejamento de lavra? Qual é a sua importância? Quais
parâmetros fundamentais devem estar contidos nos planos de lavra? Quais são os tipos de plano de
lavra existentes?
Tecnicamente, podemos definir o planejamento como um processo de tomada de decisões relativas ao
conjunto de elementos interdependentes, que devem conduzir a um estado final, ou seja, a uma situação
futura desejada.
Neste contexto, o planejamento de lavra é o resultado de diversas análises e decisões relativas às ope-
rações de uma mina, tais como: programação detalhada da extração de minério e estéril, determinação
do método de lavra, projeções de avanços da lavra, cronograma de atividades, mão de obra necessária,
programação dos equipamentos, determinação da infraestrutura e drenagem, entre outros, que formam o
que denominamos de plano de lavra.
O plano de lavra deve ser elaborado com o menor custo possível, de forma a maximizar a lucratividade
do empreendimento; mas ao mesmo tempo, também deve atender as necessidades do mercado e possi-
bilitar alterações ao longo da explotação mineral, caso seja necessário.
Um bom planejamento de lavra envolve profissionais de diversas áreas, como de mineração, geome-
cânica, geologia estrutural, engenharia e meio ambiente. Além disso, para que as ações planejadas sejam
alcançadas, isto é, se concretizem da maneira esperada, é fundamental no plano de lavra:
• Apresentar objetivos bem definidos em termos quantitativos e qualitativos de cada atividade;
• Exibir as formas de comunicação efetiva ao longo do processo entre as áreas;
• Assegurar a flexibilidade de mudanças de certas operações, pois, como sabemos, o mercado oscila
constantemente, necessitando, assim, adequar-nos aos possíveis cenários;
• Demonstrar a sequência lógica das operações no espaço e no tempo, ou seja, onde e quando serão
executadas as atividades propostas;
• Apresentar a sequência de remoção dos blocos de minério, bem como de estéril;
• Garantir o rendimento adequado dos equipamentos e tarefas.
• Leiaute geral: estabelecer os leiautes de escavação, da cava final, bem como das instalações e vias de
acesso.
• Programação da produção: garantir a produção exigida, tanto em qualidade como em quantidade
de minério e estéril; evitar, sempre que possível, picos de decapeamento e de extração do minério – a
produção deve ser balanceada.
• Sequenciamento de lavra: definir o contorno da reserva e o método de lavra a ser utilizado;
anualmente determinar o leiaute da cava intermediária e a sequência de extração dos blocos; garantir
a extração do minério para a próxima etapa; determinar os elementos de contenção após a extração.
• Infraestrutura: estabelecer o leiaute para operação, como praças, largura da estrada, acessos em
posições adequadas; assegurar a operação dos equipamentos nas frentes de lavra; providenciar
abertura de novos acessos, bem como acesso à energia elétrica; garantir a manutenção adequada
dos equipamentos.
• Programação dos equipamentos: assegurar a produção exigida em teor e qualidade do minério;
apresentar análise da capacidade de produção dos equipamentos; verificar o índice de utilização e
controlar os custos de produção e mão de obra.
@istockphoto.com/intst
Não só na mineração, mas como em qualquer outra área, os planejamentos devem ser em função do
objetivo que se almeja alcançar em um determinado tempo, isto é, em curto, médio ou longo prazo.
Ao planejar a construção da casa própria, por exemplo, é impossível pensar e executar a obra de um
dia para outro, nem sequer em uma semana, não é mesmo?! Inicialmente, temos que determinar a região
em que se quer morar, procurar um terreno disponível de acordo com o tamanho da casa que se deseja
construir, analisar se o preço é compatível com as condições econômicas, entre diversos outros fatores.
Esse seria o primeiro passo: o planejamento da compra do terreno, o planejamento em um curto espaço
de tempo.
DESENVOLVIMENTO DE MINA E LAVRA
36
Posteriormente, você teria que executar um planejamento em médio prazo para a efetiva construção
da casa, descrevendo todos os parâmetros relevantes como números de portas, janelas, localização das
tomadas e iluminação, custo com mão de obra e insumos, entre outros.
Concomitante a esse processo, você já deve ainda pensar em possíveis mudanças que poderão ocorrer
em um futuro mais distante, como a adição ou aumento de um ou mais cômodos, a construção de uma
piscina, ou de uma área de lazer, entre outros.
Todo esse planejamento deve ser realizado antes das obras serem iniciadas, já definindo o que será
executado nos próximos meses e reservando a área que poderá ser destinada a outro projeto no futuro
(planejamento em longo prazo).
Na mineração, o processo de planejamento não é diferente! Podemos também dividir o projeto de lavra
de uma mina em três fases: longo, médio e curto prazo, em que cada uma dessas fases recebe o nome de
plano de lavra.
Vamos adiante para entendê-las melhor!
Longo Prazo
Após a comprovação da viabilidade técnico-econômica do empreendimento, inicia-se o planejamento
em longo prazo. Como o próprio nome já diz, esse planejamento visa delimitar ações para os próximos 4 a 5
anos da mina.
Nesse primeiro planejamento, devem-se definir os métodos de lavra que serão utilizados, as etapas de
tratamento do minério, o ritmo de produção e vida útil da mina, os diversos custos envolvidos no processo,
os tipos e a quantidade de equipamentos a serem empregados em cada etapa.
Na execução desse planejamento, sempre se deve pensar nas diversas fases pelas quais a mina irá pas-
sar ao longo da sua vida, incluindo já as ações para o fechamento da mina e os limites finais da cava da área
que será explotada, denominado de ‘’pit’’.
Com esses limites determinados, pode-se, então, estabelecer as diversas áreas de construção perma-
nente, como edifícios administrativos, refeitórios, bem como definir o local de disposição do estéril e barra-
gens de rejeito. Com um bom planejamento, garantimos que não haverá o retrabalho de realocação desses
materiais ou demolições de obras, afetando diretamente o desenvolvimento da mina e gerando custos
adicionais.
Por meio de estudos geoestatísticos, que determinam as características do maciço rochoso, o corpo
mineral é divido em blocos para a explotação(Figura 6). À medida que a mina avança, novas amostras são
coletadas e analisadas, podendo assim, se necessário, realizar-se um novo planejamento de acordo com os
resultados amostrais obtidos (planejamento a médio prazo).
3 PLANEJAMENTO DE LAVRA
37
Desenvolvimento
Desenvolvimento
Extração
Estéril Minério
Bloco 1
Minério
Bloco 2
Estéril
Os planos de lavra devem conter os limites de lavra de cada nível e a previsão das quantidades de
retirada do minério e estéril, e seus respectivos teores. Não se deve esquecer, ainda, de determinar no
plano os acessos aos diversos pontos da mina.
É importantíssimo também lembrar que o planejamento deve ser elaborado de forma a atender
a planta de tratamento de minérios, bem como a demanda do mercado analisada para aquele
determinado período.
Claro que, em um planejamento de longo prazo, diversas alterações podem ocorrer no mercado, em
virtude, por exemplo, de mudanças tecnológicas, crescimento econômico, desenvolvimento industrial,
entre outros.
Assim, devemos ficar atentos a essas mudanças, e, sempre que necessário, realizar as correções nos pla-
nos de lavra de médio e curto prazo. Observe as fases da mineração em relação ao mercado consumidor,
na Figura 7.
Demanda pelo
bem mineral
Prospecção/
exploração Demanda pelo Mercado
bem mineral consumidor
-Mudanças
tecnológicas; $
-Crescimento Depósito
econômico; mineral/jazida Venda
- Desenvolvimento minério
industrial.
Lavra/beneficiamento
Desenvolvimeto da
mina e infraestrutura
Os planos de médio e curto prazo são desenvolvidos a partir do projeto básico da mina desenvolvido
no planejamento de longo prazo.
Por meio do detalhamento do plano de longo prazo, os planos de curto a médio prazo ditam as opera-
ções cotidianas da mina, como as atividades em mina subterrânea, estabelecendo as sequências operacio-
nais que anualmente, trimestralmente, mensalmente, e até diariamente serão executadas (Figura 8).
CARREGAMENTO DE MATERIAL
PERFURAÇÃO DE FRENTE
TRANSPORTE DE MATERIAL
DESCARREGAMENTO DE MATERIAL
ESCORAMENTO DE TETO
O plano em médio prazo, geralmente, é elaborado de ano em ano, analisando sempre as condições do
mercado, preços, e verificando se o que foi programado no plano de longo prazo está sendo cumprido.
Já o plano em curto prazo é realizado para um período de até, no máximo, três meses. O planejamento
deve ser minucioso, gerando um plano diário para as operações que serão executadas.
Com a ajuda de softwares desenvolvidos para esse fim, a equipe de planejamento determina aos diver-
sos setores envolvidos - qualidade, produção, logística, despacho, quais são as frentes a serem lavradas e,
quais e quantos equipamentos deverão operar nas determinadas atividades.
Nessa fase, analisam-se quantitativamente e qualitativamente todos os índices relacionados, indireta-
mente ou diretamente à extração mineral, de forma a reduzir significativamente as imprecisões relaciona-
das ao plano de longo prazo.
Avaliam-se os indicadores de desempenho, como os índices de utilização, disponibilidade física, rendi-
mentos, custos, produtividade operacional, entre outros, que serão abordados em capítulos posteriores, de
modo a traçar novas estratégias reformulando o plano em curto prazo, quando necessário.
3 PLANEJAMENTO DE LAVRA
39
Logo, torna-se fundamental estudar e averiguar todo o cenário da mina, bem como as inúmeras
variáveis que existem na real execução do projeto em curto/médio prazo, a fim de se atingirem as
metas propostas a longo prazo.
É importantíssimo lembrar que o planejamento em curto, médio, longo prazos, depende diretamente
do tipo de minério, do tamanho da jazida e método de lavra utilizado, dentre outros aspectos.
@istockphoto.com/Pong0402
Figura 9 - Vegetação sobre o minério
Além dessa alteração visual, há, ainda, impactos sobre a fauna local, bem como no microclima do
ambiente. No que tange ao meio físico, a partir da retirada da vegetação, haverá exposição do solo,
acarretando eventuais escorregamentos de terra de pequena proporção e carreamento de sedimentos.
Ações devem ser previstas no planejamento visando reduzir esses impactos, entre elas podemos citar:
• Medidas preventivas, mitigadoras e compensatórias em parceria com a comunidade local, pro-
movendo ações informativas quanto aos trabalhos que serão executados de supressão da vegeta-
ção, fauna e mineração que ocorrerão no local.
• Programas ambientais associados para a recuperação de área degradada, programa de reposição e
de compensação florestal e programa de compensação ambiental.
Além do material caracterizado como estéril, ou seja, material sem valor econômico, ainda deve ser con-
siderado como material a ser removido, o capeamento, perfazendo volumes consideráveis de material para
posterior disposição em locais adequados. Observe essas camadas de materiais na Figura 10.
Superfície do terreno
Rocha ou corpo
mineralizado compacto
que se deseja extrair
Saulo Boaventura Gontijo
O volume de estéril é relativo à jazida, à facilidade e à profundidade do acesso ao local onde se encontra
a jazida.
Uma das medidas mitigadoras para o impacto da retirada desse material é o adequado armazenamento
do estéril e sua utilização posterior como preenchimento das áreas já lavradas. Ainda podemos citar o uso
de tanques de decantação para retenção dos sedimentos provenientes da lavra visando à preservação da
hidrografia local.
Você percebeu que o volume de minério produzido final é diferente daquele extraído durante a lavra?
Após as etapas que se seguem à lavra, os volumes de material são reduzidos devido à concentração do mi-
nério desejado, ou seja, tem-se um volume inicial sempre maior que o final em função da retirada da ganga
e contaminantes nos processos de beneficiamento do minério.
PR
^PR + RNPh
IA = x 100
IC - Índice de cumprimento: mede a porcentagem da lavra programada que foi realizada em função do
que foi planejado, ou seja, representa quanto do total planejado foi efetivamente executado.
PR
^PR + PNRh
IC = x 100
^IA + ICh
IE = 2 x 100
Sendo:
PR: Planejado e realizado;
RNP: Realizado e não planejado;
PNR: Planejado e não realizado.
Observe na Figura 11, o perfil esquemático dos indicadores de desempenho.
Esses indicadores têm a finalidade de revelar as tendências das operações de lavra para a realização de
uma meta de desempenho, além de auxiliar a reconciliação da lavra.
A reconciliação pode ser definida como a comparação das estimativas de massa e teor, a partir de um
modelo de blocos5 e as medidas de produção efetivas advindas da produção da lavra. A reconciliação
tem como objetivos verificar o desempenho da operação, dar suporte aos cálculos de ativos, validar as
estimativas de recursos e reservas minerais, fornecer indicadores de desempenho para controle de pla-
nejamento de curto e longo prazo, entre outros.
Existem vários tipos de reconciliação, tais como: reconciliação de massas, reconciliação de teores, recon-
ciliação entre lavra e usina, entre outros, sendo oscitados, os mais utilizados na mineração.
As práticas de reconciliação resumem-se na comparação entre as massas e teores de minério planeja-
dos nos modelos da jazida e as massas e teores de minério lavrados e beneficiados. Analise o esquema do
processo de reconciliação na Figura 12.
Expedição
Estimativa de reservas - Coleta de amostras
- Como se compara o material
- Quanto da reserva está realmente lavrado com o
inclusa no plano de lavra? projeto, o controle de teor e a
expedição
- Rodar modelo com resultados
Controle de teor
Plano de Lavra
- Como se compara o projeto de
- Como se compara os controle de teor com o que a
resultados de controle de teor expedição diz ter sido lavrado?
com o projeto e o programa?
Para cada uma das perguntas apresentadas na Figura 12, há uma resposta que pode representar com-
ponentes favoráveis ou não, indicando a necessidade de realização de análises específicas para cada etapa,
a fim de compreender quais os fatores que podem ser melhorados ou otimizados nos processos.
Nem sempre o que é planejado consegue ser cumprido, pois, ocorrem divergências entre o planeja-
mento de lavra e a produção. A análise dos indicadores é uma ferramenta importante para o controle de
todo o planejamento e para posteriores ações de melhoria ou ajustes.
A reconciliação envolve a comparação entre massas e teores planejados e realizados dos seguintes itens:
5 Modelo de blocos: representação de corpos de minério por meio de divisão em blocos (ver Figura 6).
DESENVOLVIMENTO DE MINA E LAVRA
44
• Estimativa de recursos;
• Estimativa de reservas;
• Estimativas do controle de teores em médio prazo (para recursos in situ6 ou reservas lavráveis);
• Produção lavrada depositada em pilhas de minério (estoque) e/ou levada para a próxima etapa de
produção;
• Produção depois de lavrada e circuito do minério.
O sucesso da reconciliação está diretamente ligado à qualidade dos dados que são fornecidos, podendo
ser obtidos por meio de:
• Amostras de frente de lavra que suportam a qualidade dos modelos de recursos e reservas;
• Observações de levantamentos das atividades da mineração atuais;
• Fontes da planta de alimentação, como amostradores;
• Indicadores de desempenho da planta, como consumo de energia de britagem, descarga de ciclones;
• Balanço de massa da planta; entre outros.
5
Aderência
PR
PNR
2 RNP
3
6
7
1
Figura 13 - Exemplo de análise de um Plano mensal de lavra executado
Fonte: Adaptado de COSTA, 2015, p. 67.
6 In situ: no local.
3 PLANEJAMENTO DE LAVRA
45
Você percebeu que todo o controle do plano de lavra é fundamental para a eficiência de todo o em-
preendimento? Pois bem, mesmo com todo o controle interno para garantir a eficácia da produção, ainda
existem as obrigações legais desse monitoramento, o Relatório Anual de Lavra (RAL).
O Relatório Anual de Lavra – RAL é um documento com informações referentes à produção anual
de uma mineradora, representado em toneladas (t), com a finalidade de controlar a produção mineral
no país e realizar comparações referentes ao pagamento da CFEM - Compensação Financeira pela
Exploração de Recursos Minerais.
DESENVOLVIMENTO DE MINA E LAVRA
46
A composição básica desse relatório é, conforme a legislação mineral, apresentar as atividades realiza-
das no ano anterior. Dentre as exigências, têm-se os seguintes tópicos:
• Método de lavra, transporte e distribuição no mercado consumidor, das substâncias minerais
extraídas;
• Modificações verificadas nas reservas, características das substâncias minerais produzidas, inclusive o
teor mínimo economicamente compensador e a relação observada entre a substância útil e o estéril;
• Quadro mensal, em que figurem, pelo menos, os elementos de: produção, estoque, preço médio de
venda, destino do produto bruto e do beneficiado, recolhimento do Imposto Único e o pagamento
do Dízimo do proprietário;
• Número de trabalhadores da mina e do beneficiamento;
• Investimentos feitos na mina e nos trabalhos de pesquisa;
• Balanço anual da Empresa.
Em casos específicos, a ANM pode solicitar que o relatório seja complementado com plantas e mapas
das áreas.
A obrigatoriedade da elaboração é anual, sendo assinado por profissional Geólogo, Engenheiro Geólo-
go ou Engenheiro de Minas, legalmente habilitado pelo CREA (Conselho Regional de Engenharia e Agro-
nomia), junto à respectiva anotação de responsabilidade técnica - ART.
Os prazos de entrega do RAL são:
• Até o dia 15 de março de cada ano, relatório das atividades realizadas no ano anterior para o manifesto
de mina, decreto de lavra, portaria de lavra, grupamento mineiro, consórcio de mineração, registro de
licença com plano de aproveitamento econômico aprovado pela ANM, permissão de lavra garimpeira,
registro de extração e áreas tituladas com guia de utilização;
• Até o dia 31 de março de cada ano, relatório das atividades realizadas no ano anterior: Registro de
licença sem plano de aproveitamento econômico aprovado pela ANM.
Cabe ressaltar, que a entrega é obrigatória mesmo se as atividades estiverem suspensas.
Para conhecer mais sobre os tipos de atividades mineiras visite o site da ANM que
SAIBA aborda os principais regimes de outorga permitidos no Brasil. Disponível em: http://
MAIS outorga.dnpm.gov.br/SitePages/regimes.aspx
3 PLANEJAMENTO DE LAVRA
47
CASOS E RELATOS
Uma boa leitura sobre planejamento de mina e seus componentes está no livro CURI,
ADILSON. Minas a céu aberto: planejamento de lavra. São Paulo: Oficina de Textos,
SAIBA 2014. ISBN: 978-85-7975-149-3. e, se você gosta de inglês, leia o livro HUSTRULID
MAIS William; KUCHTA Mark; MARTIN R. Open Pit Mine Planning & Design. 3ed. Vol I.
Fundamentals. London: Balkema Book, 2013. Todos os conceitos e abordagens aqui
descritas são mais aprofundados nessas obras.
RECAPITULANDO
Você percebeu que todo o processo de planejamento de mina é bem interessante, não é
mesmo?
Agora é necessário que tudo o que foi planejado seja bem executado!
Veremos que, para que a operação de lavra seja iniciada, é preciso preparar a área. Essa
preparação ocorre na etapa de desenvolvimento de mina, que corresponde aos serviços
empreendidos para garantir o processo de lavra da jazida.
A etapa do desenvolvimento de mina é uma fase que envolve custos elevados e, por uma
questão de segurança econômica, a empresa só deve iniciar as operações de desenvolvimento
com a certeza de poder explotar, que está ligada também ao tipo de lavra a ser executada.
Ao final dos estudos deste capítulo, você será capaz de reconhecer as etapas de
desenvolvimento de mina, identificar elementos de infraestrutura da área de estéril, estabelecer
rotinas de ações de infraestrutura, identificar a evolução da infraestrutura e desenvolvimento
da mina, identificar os locais de escavação de sumps7 com bases topográficas, sistema de
drenagem de galerias e bancadas, aplicar as normas técnicas e regulamentadoras, ambientais e
de segurança do trabalho, pertinentes ao desenvolvimento da mina e identificar a necessidade
de preparação da área com o uso de equipamentos de terraplanagem.
Ficou curioso? Então vamos aprofundar nossos conhecimentos. Siga em frente!
7 Sump: Reservatório. Escavação na base do acesso principal, geralmente poço, feita para coletar a água que adentra a
mina e então bombeá-la para a superfície ou próximo dela.
DESENVOLVIMENTO DE MINA E LAVRA
52
O processo de abertura de uma mina, do ponto de vista físico, na etapa do desenvolvimento, tem como
propósito prover os acessos necessários para alcançar a jazida, permitindo a entrada dos trabalhadores,
suplementos, energia, equipamentos, sistemas de ventilação e exaustão, além de escoar o minério e o
estéril ali produzidos.
O desenvolvimento de uma mina tem suas limitações, antes de iniciar a fase de explotação propriamente
dita. A principal limitação consiste na construção de aberturas primárias ou principais para acesso à jazida.
No processo de lavra a céu aberto, há a necessidade de decapeamento para atingir o minério coberto pelo
estéril ou solo superficial.
Nos casos em que o corpo de minério não permite acesso a céu aberto, são feitas aberturas, a partir da
superfície, com tamanho suficiente para acesso de equipamentos e trabalhadores, com a finalidade de
interceptar a jazida de minério e, caso necessário, interligá-los por meio de grandes aberturas de explotação.
Outras atividades, relacionadas ao desenvolvimento da mina, apresentam caráter preparatório, ou seja,
estruturas, pessoal e serviços que deem suporte à etapa da lavra e processamento.
O desenvolvimento visa garantir, para a etapa da lavra, os seguintes serviços: rapidez e eficiência no
transporte do material lavrado, sistemas de ventilação, drenagem de água, destinação de estéril.
Os tipos de desenvolvimento de mina são agrupados como:
• A céu aberto ou subterrâneo: a execução está diretamente ligada ao tipo de lavra, podendo ocorrer
na superfície ou em profundidade na área a ser lavrada.
• Prévios ou simultâneos com a lavra: as atividades relacionadas ao desenvolvimento de mina po-
dem ocorrer antes do início das atividades da lavra, oferecendo condições adequadas para tal, ou
executados em caráter simultâneo à lavra.
• Sistemáticos ou supletivos: nesse tipo de desenvolvimento, a execução segue um plano geral, em
conjunto ao método de lavra, ou realizados de forma ocasional, atendendo as necessidades específi-
cas do local, como ventilação, esgotamento de água, saídas de emergências, dentre outros.
• Produtivos ou obras mortas: aqui o desenvolvimento é realizado segundo a condição de minério
útil ou do estéril, conforme a localização na jazida, a condição das rochas encaixantes ou em função
dos terrenos adjacentes. As obras mortas são em função do estéril, com menor custo de manutenção.
• Puros ou exploratórios: operação com finalidade de melhorar a exploração da jazida, fornecendo mais
informações do corpo mineralizado e das possibilidades de abertura de novas frentes de trabalho.
O desenvolvimento de mina é fundamental para que a lavra seja executada com eficiência e qualidade,
seguindo as características de cada tipo de lavra e dos elementos que compõem uma mina, conforme
exemplo observado na Figura14.
4 DESENVOLVIMENTO DE MINA
53
DEPÓSITO
USINA DE DE ESTÉRIL
CONCENTRAÇÃO MINA A CÉU
BARRAGEM
DE REJEITO ABERTO MEIA ENCOSTA
CAVA
MINA ESTÉRIL
SUBTERRÂNEA
MINÉRIO
Vale ressaltar que o investimento na etapa de desenvolvimento da mina é muito grande e impossibi-
lita sua realização de uma só vez sem o retorno financeiro proveniente da produção do minério. Ou seja,
é praticamente impossível desenvolver completamente uma mina sem que a lavra seja executada em
determinados pontos.
Alguns fatores que influenciam diretamente o desenvolvimento da mina, após a fase de exploração,
são organizados em três categorias: localização; geologia e aspectos naturais do local; fatores sociais,
econômicos, políticos e ambientais.
Localização: a existência de uma jazida nem sempre apresenta vantagens. São poucas as jazidas
com localização ideal, do ponto de vista econômico. Portanto, a geografia do local representa uma forte
influência na abertura de uma mina. Os principais efeitos da localização são:
• Facilidade de transporte de insumos e escoamento de produtos para o mercado consumidor;
• Disponibilidade de mão de obra qualificada e serviços de suporte, como moradia, saúde, lazer,
educação, etc.;
• Impactos operacionais e psicológicos causados pelas condições climáticas.
Por serem fatores inerentes à localização da jazida, podem ser minimizados a partir de um gerenciamento
de compensação das desvantagens, a exemplo de benefícios e vantagens para os trabalhadores, etc.
Fatores Geológicos e Naturais: os processos geológicos e naturais são considerados como aspectos-
-chave do desenvolvimento de uma mina, especialmente quanto à abertura dos acessos e à necessida-
de de instalações de superfície. Podemos citar:
• Aspectos topográficos e tipo de solo da superfície;
• Caráter espacial da jazida, como: profundidade, tamanho, altitude, forma, etc.;
• Características geológicas, como: mineralogia, petrografia, estrutura, gênese, gradiente de tempera-
tura, presença de água, etc.;
• Propriedades mecânicas das rochas, como: resistência, elasticidade, plasticidade, dureza, abrasivida-
de, etc., além das propriedades químicas e metalúrgicas do minério.
DESENVOLVIMENTO DE MINA E LAVRA
54
Já percebeu quanta vegetação existe quando você olha para uma paisagem como a descrita na
Figura 15?
Então! Podemos perceber que há uma vegetação bem estruturada e que a área da imagem apresenta
uma diversidade de relevos bem distintos e difíceis de acessar.
Quando a área a ser lavrada apresenta vegetação e material sobreposto (estéril) à jazida a ser explo-
tada, temos que adequar as condições do local para que o corpo mineralizado seja alcançado.
Uma das etapas do desenvolvimento de mina é a supressão vegetal, que compreende a retirada da
vegetação na área a ser lavrada, ou seja, retirar toda a vegetação que está sobre o corpo mineralizado.
4 DESENVOLVIMENTO DE MINA
55
@istockphoto.com/TacioPhilip
Figura 15 - Paisagem
A supressão vegetal pode ocorrer com uso de equipamentos de grande ou médio porte, como tratores
de esteira e ainda com uso de motosserras.
Na mineração, é comum o uso de equipamentos como tratores de esteira (Figura 16), sejam eles de
grande ou médio porte, para a supressão vegetal nos locais a serem lavrados.
Há que se prever as licenças ambientais necessárias para garantir que a supressão seja legal e executada
dentro das condições previstas na lei.
@istockphoto.comEkalunda
Nos casos em que equipamentos como tratores de esteira, não consigam executar a supressão vegetal
por causa das condições do relevo, utilizam-se outros métodos, como o uso de motosserras (Figura 17).
@istockphoto.com/Tinagorny
Figura 17 - Uso de motosserras
Apesar de ser necessário, o uso de motosserras é um método menos eficaz e mais oneroso no desen-
volvimento de mina.
No processo de supressão vegetal, extrai-se muita madeira que pode ser utilizada em outros processos da
mineração, como estacas de topografia, marcação de vias, esteios de placas, limitadores de acesso, cercas, etc.
A utilização das madeiras extraídas é fundamental para que os impactos causados, e também os custos,
sejam minimizados.
8 Turfoso: massa de tecido composto de várias plantas, especialmente de musgos, produzida por lenta decomposição anaeróbica
associada à ação da água, encontrada em várias partes do mundo, com variação de consistência.
4 DESENVOLVIMENTO DE MINA
57
Camada de vegetação
na superfície do terreno
Primeiro horizonte do
solo
Material estéril
Rocha ou corpo
mineralizado compacto
que se deseja extrair
A preparação do local para a lavra de um corpo mineralizado necessita de uma infraestrutura para ga-
rantir a execução da lavra propriamente dita. Essa etapa do desenvolvimento visa à execução de todos
os serviços necessários ligados à segurança e processos da lavra, tais como: vias de acesso, de transporte,
ventilação, drenagem, construção de rede elétrica, etc.
As vias de acesso e sua manutenção visam atingir a jazida conforme sua condição de localização, além
de garantir o escoamento dos materiais úteis lavrados.
A execução das vias de acesso está diretamente ligada ao tipo de lavra a ser feito, subterrâneo ou a céu
aberto.
A seleção do tipo de acesso e vias de escoamento deve ser executada considerando alguns critérios:
• Topografia local;
• Tamanho da jazida;
DESENVOLVIMENTO DE MINA E LAVRA
58
• Condições do capeamento;
• Escala de produção;
• Valor do material lavrado;
• Necessidade de ventilação.
Estradas ou vias com curvas acentuadas e subidas muito íngremes causam demoras e riscos para a
logística da lavra. Velocidades elevadas dos meios de transporte acarretam riscos de paradas do equipa-
mentos por colisão. É necessário planejar e executar os traçados das estradas, rampas, raios de curva, etc.,
visando à segurança e produção.
No Quadro 3, podemos ver os tipos de vias mais comuns na mineração a céu aberto e subterrânea. 9
TIPO DE
TIPO DE VIA DE ACESSO IMAGEM
LAVRA
A
Rampa de
acesso
LAVRA A CÉU ABERTO
Fundo da
abertura C
9 Chute: dispositivo de transferência de minério ou estéril, que utiliza como princípio básico o fluxo por gravidade de
material fragmentado.
4 DESENVOLVIMENTO DE MINA
59
escoamento
dimensões compatíveis às da seção e conduzidos para os
chutes do ádito e levados à superfície.
Torre de Içamento
Plano de
aprofundamento
do poço
Quadro 3 - Tipos de acessos em minas
Fonte: Adaptado de CURI, 2017.
Vale ainda ressaltar que a escolha do tipo de acesso em minas subterrâneas pode ser realizada utilizan-
do o acesso pelo minério ou por meio do estéril, utilizando túnel ou poço e também de modo vertical ou
inclinado, conforme mostra o Quadro 4 com exemplos de acessos.
DESENVOLVIMENTO DE MINA E LAVRA
60
DESCRIÇÃO IMAGEM
Torre de Içamento
Corpo Poço
Poço
Corpo mineralizado no sentido horizontal ou vertical em Mineral
profundidade.
Corpo Mineral
Túnel
Capa
Lapa
Torres de Içamento
Caçamba
1
Corpo Capa Poço
Mineral Inclinado 2
Lapa 3
Corpo mineralizado inclinado: Poços inclinados fora do corpo, no
4
sentido da lapa ou dentro.
Rochas
encaixantes
Rochas
encaixantes
Corpo
Mineral
A escolha do tipo de lavra está diretamente ligada à condição e disposição do corpo mineralizado e ao
planejamento econômico da mina.
A firmeza da via, a inclinação, a largura, a curvatura, a visibilidade e a convexidade são fatores que de-
vem ser avaliados na construção das vias de acesso.
10 Capa: massa encaixante sobrejacente à jazida.
11 Lapa: massa encaixante subjacente à jazida.
4 DESENVOLVIMENTO DE MINA
61
As galerias representam as aberturas de lavra no plano inclinado ou horizontal com a finalidade de atin-
gir a jazida para extração e garantir a logística da mina.
A abertura e manutenção nas galerias são realizadas com equipamentos para perfuração, carregamen-
to, desmonte mecânico, transporte, etc., todos com a finalidade de garantir tanto a abertura quanto a ma-
nutenção e a segurança dentro da mina.
As ligações entre bancos de uma lavra são chamadas de rampas, que têm a finalidade de facilitar os
acessos entre os diversos patamares da mina.
Uma das características fundamentais das rampas de acesso é a declividade, pois, quando elas não são
fortes facilitam a logística dos equipamentos e o escoamento da produção.
Os serviços topográficos são elementos de suporte na construção das rampas permitindo dimensões
adequadas a cada tipo de terreno.
A Agência Nacional de Mineração - ANM define a largura mínima das vias de trânsito, devendo apresen-
tar uma largura equivalente a duas vezes a maior largura, do maior veículo, para as pistas simples, e três
vezes maior, para pistas duplas. A inclinação das rampas deve ser de, no máximo, 12% e são comumente
utilizados valores próximos a 8%.
Em lavras a céu aberto, em flanco ou cava, há necessidade de construção de bancadas, bancos ou de-
graus, chamados de taludes e bermas, que são inclinações na superfície lateral do terreno.
Os termos talude, berma, bancada, pé, crista, corpo do talude, face do talude são comuns na mineração
e apresentam conceitos distintos. Observe a seguir a definição de cada um deles:
Talude: termo topográfico usado, muitas vezes, em geomorfologia para definir a superfície inclinada
do terreno na base de um morro ou de uma encosta, formando um ângulo α (alfa) com o plano horizontal.
Berma: cada um dos trechos elevados praticados em toda a extensão do talude a fim de deter a descida
de águas.
Bancada: parte composta por taludes e bermas até a inter-rampa.
Pé: parte mais baixa do talude.
Crista: parte mais alta do talude, cimo.
Corpo do talude: corpo ou maciço do talude é a parte interna do talude, em que se estudam a cons-
tituição do tipo de material (argila, silte, areia, rocha, etc.) e suas respectivas propriedades como coesão,
limite de plasticidade, etc.
O talude representa um elemento de importância na lavra, pois, interfere diretamente na segurança dos
serviços e auxilia na delimitação das áreas superficiais de uma cava.
Observe, nas Figuras 19 e 20, como os taludes são construídos e as condições em que isso ocorre.
DESENVOLVIMENTO DE MINA E LAVRA
62
Crista
Ta
lude
Corpo do talude
Altura
Pé
Ângulo de inclinação
Legenda:
hB - Altura da bancada ou berma: é a diferença
de cota entre a crista e o pé.
b - Largura da bancada: dimensão linear entre
r αR uma berma e outra.
b αB - Inclinação da face da bancada.
αR - Ângulo de inter-rampa: inclinação formada
entre as rampas.
hB hO hR - Altura máxima da inter-rampa: altura
hR formada entre uma rampa e outra.
r - Largura da rampa.
αO hO - Altura máxima global.
αB αR
αO - Ângulo global.
Projetos de taludes devem ser condicionados à geometria presente nas bancadas de escavação e dos
taludes inter-rampa, pois, é a partir da largura das bancadas que é definido o ângulo da inter-rampa, e
conforme a exploração da mina avança, será possível a manutenção da inclinação de suas faces.
Ainda, a bancada deve possuir uma largura suficiente para conter detritos de rupturas locais, garantindo
a segurança da mina.
Os taludes denominados inter-rampa12 auxiliam a estabilidade do talude global e das rampas. Sua
manutenção é fundamental para garantir a segurança na operação da mina.
É importante ressaltar que o conhecimento das características geológicas do material dos taludes, tais
como: descontinuidades, orientação, persistência, preenchimento das rochas, etc., além das propriedades
específicas de resistência das rochas são essenciais à caracterização do maciço13.
Nos casos em que os maciços rochosos são formados por diferentes tipos litológicos e resistências varia-
das à alteração, é comum que o intemperismo ocorra de modo diferenciado causando rupturas.
DESCRIÇÃO IMAGEM
D
Corrida de lama: D / L 0,5 – 3 %
Superficial: D / L 5 – 10 %
Rotacional: D / L 15 – 30 %
L
Translacional
14 Piezométrico: usado para medir a pressão dos fluidos ou a compressibilidade de substâncias sujeitas a pressões elevadas.
DESENVOLVIMENTO DE MINA E LAVRA
64
As principais técnicas utilizadas para drenagem de minas a céu aberto são agrupadas em duas categorias:
técnicas ativas e técnicas passivas.
Técnicas ativas
Conhecidas como técnicas de rebaixamento do nível freático avançadas que visam à retirada das águas
que podem causar danos aos taludes e bermas.
• Poços de bombeamento: localizados no perímetro dentro e fora da cava da mina. Nesses casos, os
poços funcionam como barreiras externas evitando a entrada de água para o interior da cava. Esse tipo
de configuração é caracterizado como rebaixamento avançado primário. A água é extraída diretamente
da zona de descarga evitando a possível contaminação, podendo ser reutilizada diretamente em outros
processos (Figura 21).
Drenagem superficial
Poço de
Vala
bombeamento
(externo)
Coletor Bomba
Poço de
bombeamento
(interno)
Vala
Dreno horizontais
(despressurização)
Poços de
bombeamento Bomba
Coletor
Estação de
bombeamento
• Ponteiras filtrantes: o rebaixamento é realizado por meio de ponteiras filtrantes. Consiste na inclu-
são de poços com diâmetros de 3 a 4 polegadas, conectados a um coletor que leva a água até a câma-
ra de vácuo, separando a água do ar. (Figura 23)
• Valas: projetadas na cava com a finalidade de captar águas pluviais e residuais em escoamento dos
taludes. Essas valas podem apresentar estruturas fixas construídas entre taludes e bermas ou em es-
truturas temporárias sobre as bermas. Nas bermas, a água é direcionada para a estação de bombea-
mento. (Figura 23)
• Estações de bombeamento: técnica utilizada para remoção de águas das chuvas e de águas subter-
râneas que vertem para a cava. As estações de bombeamento são equipadas a partir de poços coleto-
res e bombas centrífugas localizadas nos pontos mais baixos da cava (Figura 23).
1º estágio
Ponteiras filtrantes
2º estágio
Ponteiras filtrantes
Coletor Bomba
Estação de bombeamento
Técnicas passivas
São técnicas que representam o rebaixamento para coleta de águas em tempo real.
• Paredes cut-off: paredes construídas em formato de trincheira estreita, com espessuras que variam
entre 0,4 a 0,7 m, preenchidas com material impermeável. Sua finalidade é garantir o isolamento de
águas de aquíferos subterrâneos para que não atinjam a cava.
Nível do
Lençol freático
Parede
cut-off
Vala
Coletor Bomba
Estação de bombeamento
Nas minas subterrâneas, são encontradas várias condições em que a água representa riscos diretos para
a operação e a segurança da mina (Figura 24).
Alguns métodos de controle são necessários para a prevenção de problemas com água dentro da mina,
limitando o processo de infiltração das águas ou bombeando a água antes de sua entrada na mina. Mais
comumente, é executado o bombeamento da água do interior da mina.
As técnicas de controle mais utilizadas, aplicáveis a minas subterrâneas e com viabilidade econômica
importante, são:
• Impermeabilização da superfície do terreno: consiste na impermeabilização do terreno e de fontes
de águas na superfície que podem percolar15 para a mina.
• Congelamento do terreno: método com custo elevado e dependente das condições hidrogeológi-
cas locais. Consiste no congelamento da água do solo por meio da circulação, em tubos verticais, com
fluido criogênico16 criando uma parede de gelo impermeável.
• Grouting: ou rejuntamento, é uma técnica que visa eliminar ou reduzir fluxos de águas subterrâneas.
Consiste em perfurações com diâmetro de aproximadamente 90 mm, com profundidades de projeto,
e com adição de cimento de grout (argamassa).
• Drenagem de mina: é o método mais comum no controle de águas de mina subterrânea. Pode ocor-
rer de modo simples, como coleta da água infiltrada por meio de fraturas ou meio poroso, quanto
outros de maior complexidade envolvendo poços de rebaixamento desde a superfície, além de per-
furações dentro da mina ou galerias de drenagem.
Os sumps são caracterizados por uma escavação (normalmente em formato de poço), em pontos
baixos da mina, com a finalidade de bombear a água que tende a entrar para a cava (Figura 25) ou em
minas subterrâneas (Figura 26).
A construção dos sumps é fundamental para garantir o escoamento das águas, sejam elas pluviais ou de
aquíferos do terreno.
Subnível 4
Bacia de
água
Nível de
Estação de
transporte
bombeamento
Coletor Bomba Britador
Os projetos das estradas seguem padrões de largura em função dos equipamentos de transporte. Além
da largura da via, é necessário compor outras características como: canaletas, bueiros, valetas, supereleva-
ção, etc., seguindo padrões habituais na construção de estradas em geral.
As banquetas possuem dispositivos com a finalidade de captação de águas, chamadas de sarjetas, a fim
de conduzir as águas para desaguamento em local seguro (Figura 27).17
Entrada d’água
Sarjeta
de corte
Descida d’água
Caixa coletora
Dissipador
Bueiro de greide 18
Sarjeta de aterro
Sarjeta
Valeta de proteção de aterro
17 Greide: é uma linha imaginária que segue o plano da lavra, podendo ser na horizontal ou com inclinação constante; é a linha que
define qual parte da área de lavra na mina será cortada e qual parte será aterrada.
DESENVOLVIMENTO DE MINA E LAVRA
68
A NRM 13 – Circulação e Transporte de Pessoas e Materiais, no item 13.6, prevê que, para o transporte
em minas a céu aberto, deve-se atentar para os requisitos mínimos:
• Os limites externos das bancadas utilizadas como estradas devem estar demarcados e sinalizados de
forma visível durante o dia e à noite;
• A largura mínima das vias de trânsito deve ser duas vezes maior que a largura do maior veículo
utilizado, no caso de pista simples, e três vezes, para pistas duplas e,
• Nas laterais das bancadas ou estradas, onde houver risco de queda de veículos, devem ser construídas
leiras18 com altura mínima correspondente à metade do diâmetro do maior pneu de veículo que por
elas trafegue, sinalizadas para tráfego diurno e noturno, quando houver, e mantidas sempre em
condições de uso.
O direcionamento das águas por meio de leiras e banquetas é essencial na segurança de estradas
e taludes.
Telhado
Calha Condutor
Grade
Vertical
Limpeza
Reservatório
Extravasor
auto-limpeza
Reservatório de
água da chuva Limpeza
18 Leira: fileira de material depositado ao longo das margens das estradas da mina que tem como finalidade aumentar a segurança
da mina, à medida que protege os equipamentos que circulam próximos da crista do talude.
4 DESENVOLVIMENTO DE MINA
69
No Brasil, a norma ABNT NBR 15.527 prevê o aproveitamento da água de chuva de telhados para fins
não potáveis, ressaltando que não se deve misturar água potável à da chuva.
No ambiente industrial da mineração, é uma prática comum esse tipo de aproveitamento, com pro-
cessos de coleta que utilizam os telhados das edificações e, ainda, as leiras de escoamento de taludes.
Em alguns casos, é necessário tratar a água para o tipo de processo que se deseja, como exemplo, no
processo de flotação19.
@istockphoto.com/DeniseRT
19 Flotação: processo de separação de partículas sólidas de diferentes naturezas pela suspensão em um líquido do qual elas serão
removidas.
DESENVOLVIMENTO DE MINA E LAVRA
70
• Plantio de cercas vivas para inibir o arrasto eólico das partículas de menor tamanho;
• Recobrimento dos montes de estéreis com vegetação rasteira.
Outras ações de correção devem ser tomadas para evitar processos erosivos, pois a vegetação que
existia nos processos iniciais da mineração tem que ser retirada no começo das atividades. O revesti-
mento vegetal serve para corrigir ou diminuir os impactos provocados pela lavra.
Nas imagens a seguir, podemos observar alguns tipos de recuperação de encostas e prevenção de pro-
cessos erosivos. Os mais comuns na mineração são revegetação (Figura 31), manta geotêxtil (Figura 32),
concreto (Figura 33) e uso de muros de gabião (Figura 34).
@istockphoto.com/AlessandraRC
@istockphoto.com/AlessandraRC
Figura 30 - Recuperação de encostas com pneus Figura 31 - Recuperação com vegetação
@istockphoto.com/ThamKC
@istockphoto.com/ThamKC
Todas as áreas da mineração, seja ela a céu aberto ou subterrânea, devem ser devidamente sinalizadas
para garantir os acessos e a segurança dos locais. Essa definição está prevista na Norma Reguladora da
Mineração (NRM) nº 12 - Sinalização de áreas de trabalho e de circulação.
Essa norma apresenta todos os requisitos básicos para sinalização de vias de acesso, circulação de má-
quinas, veículos, pessoas e áreas específicas e restritas.
A seguir (Quadro 6) são apresentadas as informações contidas na NRM 12:
Manutenção da sinalização Toda sinalização deve apresentar perfeito estado de limpeza e conservação.
• Todas as tubulações devem ser pintadas nas cores padrão, conforme definido na Norma
Regulamentadora 26, ou identificadas a cada 100 metros quanto ao conteúdo, fluxo e
Tubulações e rede elétrica pressão de trabalho.
• Tubulações enterradas devem ter sinalização visível para orientação.
• Toda rede de sustentação de cabos elétricos deverá estar sinalizada.
• Em casos de detonações, as vias de acesso devem ser interrompidas e sinais sonoros emitidos
Áreas de detonação e poços
antes do início da detonação.
de pesquisa
• Poços de pesquisa já finalizados deverão estar tampados, cercados e sinalizados.
Vale ressaltar que todas as sinalizações das minas, sejam elas para placas,
FIQUE tubulações, perigos, segurança, inflamáveis, etc., seguem os padrões de cores e
ALERTA definições descritos na NR 26 - Sinalização de Segurança.
Os critérios de iluminação das minas a céu aberto e subterrâneas são definidos pela NRM 11 –
Iluminação, que também prevê as condições de aplicação adequadas para todas as operações dentro
dos processos da mineração.
Visando à segurança dos operadores, a NRM 11 define que: nos casos em que as condições atmosféricas
impedirem a visibilidade, mesmo com iluminação artificial, os trabalhos e o tráfego de veículos e equipa-
mentos móveis devem ser suspensos.
Quanto aos equipamentos, a NRM 11 prevê que todas as máquinas e equipamentos em operação
devem possuir sistemas de iluminação próprios durante o trabalho noturno ou em condições de pouca
visibilidade.
Todo o processo de iluminação, prevista pela referida norma, ainda define que devem haver sistemas
emergenciais no caso de falta de energia elétrica e geradores estacionários para componentes que não
podem sofrer paradas.
@istockphoto.com/lampang_naomark
A qualidade do ar nos processos minerários é um fator primordial e deve ser analisado, quanto às
emissões comuns, sempre que necessário.
4 DESENVOLVIMENTO DE MINA
73
A NRM 9 – Prevenção contra poeiras, define alguns detalhes que auxiliam na prevenção de poeiras
provenientes dos processos de extração e tratamento de minérios.
O uso de caminhões pipa, aspersores, supressores de poeira são elementos importantes para minas a
céu aberto.
Uma medida importante, e que apresenta bons resultados, é a implantação de cortina vegetal (plantio
de árvores no sentido longitudinal das pilhas) com a finalidade de conter o deslocamento de partículas
transportadas pelo vento.
Por sua vez, os sistemas de ventilação, exaustão e controle do ar nas minas subterrâneas são fatores
essenciais para a garantia dos processos em subsolo.
As poeiras são classificadas segundo os efeitos fisiológicos ou propriedades explosivas:
• Poeira fibrogênica (nociva ao sistema respiratório): sílica; silicatos; fumaças de metal; minério de
berílio; minério de estanho; minério de ferro; carvão;
• Poeira carcinogênica: radônio; asbestos; arsênio;
• Poeira incômoda (causa pequenas adversidades): gipsita, caulim, calcário;
• Poeiras tóxicas (venenosas aos órgãos e tecidos do corpo): minérios de berílio, arsênio, chumbo,
rádio, tório, cromo, vanádio, mercúrio, cádmio, antimônio, selênio, manganês, tungstênio, níquel e
prata (principalmente óxidos e carbonatos);
• Poeiras radioativas (prejudicial devido às radiações alfa e beta): minérios de urânio, rádio e tório;
• Poeiras explosivas (combustível quando em suspensão): poeiras metálicas (magnésio, alumínio,
zinco, estanho e ferro), carvão, minérios sulfetados, poeiras orgânicas.
Portanto, é necessário o controle de emissão e a prevenção da dissipação dos materiais particulados
dentro das operações de mina.
Você já passou por uma estrada de terra em tempos de seca e se deparou com muita poeira?
Acredito que sim! Na mineração, essa situação é algo comum, pois as vias, normalmente, não
possuem capeamento e são constituídas do próprio material da mina. Desse modo, a geração de poeira
é muito grande, o que ocorre também devido ao tráfego intenso de caminhões, máquinas e, ainda, pelos
equipamentos de fragmentação do minério.
Uma das formas de amenizar esse problema, é o uso de caminhões pipas. Frequentemente, principal-
mente em mineração a céu aberto, esses caminhões trafegam nas vias aspergindo água para molhar o solo
e umidificar o ar, minimizando assim o levantamento de poeira conforme mostra a Figura 35.
DESENVOLVIMENTO DE MINA E LAVRA
74
@istockphoto.com/photosbyjim
Figura 35 - Caminhão pipa
Outro elemento fundamental em todos os processos de lavra e transporte de minérios é o uso de asper-
sores (Figura 36). Os aspersores têm a função semelhante a dos caminhões pipas, porém, em sua maioria
são fixos. Normalmente, são colocados próximos às fontes de geração de poeira, como na base de equi-
pamentos, ou locais com altura suficiente para umidificar toda a área desejada. A água pode ser aspergida
tanto na vertical, como em forma de leque, formato que consegue abranger uma área maior.
@istockphoto.com/NexTser
O transporte de minérios provoca a emissão de material fino no ambiente em todo o tempo, seja pelo
movimento das máquinas ou pela ação direta do vento.
Alguns tipos de supressores, comuns na mineração, são os orgânicos e os químicos, apresentando
diferenças importantes:
4 DESENVOLVIMENTO DE MINA
75
Nas operações de minas subterrâneas, tem-se uma elevação da temperatura e da umidade, fazendo
necessários sistemas específicos de ventilação.
A NRM nº 09 - Prevenção contra Poeiras Minerais, apresenta uma série de informações pertinentes ao
controle de emissão de poeiras e material particulado dentro da mina subterrânea.
A poeira é um dos meios contaminantes do ar que representa grande preocupação nos processos den-
tro da mineração. Como conceito, a poeira é definida como a dispersão de partículas sólidas ou líquidas,
apresentando tamanhos microscópicos, em um meio gasoso, facilmente aspirada.
Para saber mais sobre as normas reguladoras da mineração – NRM, visite o site do
SAIBA Departamento Nacional de Produção Mineral – DNPM e conheça, na íntegra, cada uma
MAIS delas.
Disponível em: www.anm.gov.br
Na Figura 37, podemos ver um sistema de exaustão e lavagem do ar de uma mina subterrânea que tem
sua “casa de máquinas” na superfície da mina e deve ter potência suficiente para garantir a ventilação e
retirada dos materiais particulados em processo contínuo.
DESENVOLVIMENTO DE MINA E LAVRA
76
@istockphoto.com/Fitzer
Figura 37 - Sistema de lavagem do ar dos exaustores de mina subterrânea
Durante os trabalhos de extração mineral nas minas subterrâneas, há um acúmulo de gás carbônico em
função dos equipamentos e da própria respiração humana. Portanto garantir que o oxigênio chegue até as
frentes de trabalho é fundamental.
Os principais objetivos dos sistemas de ventilação e exaustão de minas subterrâneas são:
• Fornecer oxigênio para a respiração dos trabalhadores (sistema de entrada de ar oxigenado para
dentro da mina);
• Remover da mina gases nocivos aos trabalhadores provenientes de:
»» Operação de detonações;
»» Frente de lavra;
»» Gases provenientes de máquinas;
»» Furos de sondagem e rocha.
• Manter a temperatura mais baixa nos locais de trabalho, visando ao conforto e eficiência dos
trabalhadores;
• Remover o calor produzido pela ação dos trabalhadores, rochas, máquinas, detonações, correias
transportadoras, sondas, entre outros.
O ar oxigenado (novo) é levado para o interior da mina através de dutos de ventilação em sistema
contínuo, conforme mostra a Figura 38.
4 DESENVOLVIMENTO DE MINA
77
@istockphoto.com/p_mikolajczyk
Figura 38 - Duto de ventilação de mina subterrânea
Os sistemas de ventilação de minas subterrâneas têm como objetivos a retirada do ar de “má qualidade”
e fornecer ar puro nas frentes de trabalho, em quantidade suficiente para oferecer aos trabalhadores con-
dições mínimas de higiene e segurança.
A qualidade do ar, dentro de uma mina, pode ser classificada em quatro categorias:
• Ar bom ou fresco: considera-se que a atmosfera no interior da mina apresenta composição similar à
da atmosfera externa.
• Ar irrespirável ou empobrecido: quando a atmosfera no interior da mina apresentar elevada pro-
porção de gases de difícil respiração, como gás carbônico, metano, hidrogênio, nitrogênio, que não
satisfaçam às exigências respiratórias dos trabalhadores.
• Tóxica: quando a atmosfera apresenta, como componentes, substâncias nocivas, como óxido nitroso
ou nítrico, monóxido de carbono e gás sulfídrico.
• Perigosa ou Explosiva: a presença de gases combustíveis como metano e monóxido de carbono
que, quando associados ao ar, podem formar misturas explosivas.
A partir dessas categorias podemos ter uma noção dos diversos problemas que o sistema de ventilação
precisa solucionar.
O monitoramento da quantidade de ar que circula no interior da mina está diretamente ligado ao
número de trabalhadores em atividade na mina. Conforme descrito na NR 22 - SEGURANÇA E SAÚDE
OCUPACIONAL NA MINERAÇÃO, Item 24 - Ventilação em Atividades Subterrâneas, a vazão de ar puro
dentro da mina deve apresentar um mínimo de 3,0 m3 para cada trabalhador, por minuto.
DESENVOLVIMENTO DE MINA E LAVRA
78
Nos processos de extração de bens minerais, torna-se inevitável a geração de quantidades expressivas
de materiais que apresentam pouco ou mesmo nenhum valor econômico, caracterizados como rejeitos e
estéreis.
A remoção desse tipo de material de uma área de lavra e o seu descarte final representam grande parte
dos custos na fase de desenvolvimento de uma mina, ainda com implicações não somente de cunho eco-
nômico, mas também para o meio ambiente, envolvendo significativos impactos.
Você se lembra do estéril? Pois bem, agora iremos abordar um pouco mais sobre ele!
Estéril é o material que não apresenta valor econômico para uma determinada mineração, ou, pela de-
finição do dicionário Houaiss, a parte pobre do minério que não se aproveita comercialmente. A exemplo,
podemos citar a mineração de ferro, que tem como estéril os materiais diferentes do minério de ferro.
A NRM 19 - Disposição de Estéril, Rejeitos e Produtos, apresenta os requisitos básicos de construção e
manutenção das barragens de material estéril e de rejeitos.
4 DESENVOLVIMENTO DE MINA
79
Uma das técnicas utilizadas para disposição de material estéril, extraído das minas, é a disposição de
baixo para cima, formando camadas parecidas com um “bolo de noiva”.
Esse processo consiste, basicamente, na deposição do material em camadas, dispostas de baixo para
cima, conforme mostra a Figura 40.
Disposição de estéril
de baixo para cima
“BOLO DE NOIVA”
Frente de lavra
Extração de minério e estéril
Mina a céu aberto
Quando a lavra avança até exaurir20 a jazida do minério, é possível utilizar o espaço para descarte de
material estéril ou mesmo rejeito de processo de beneficiamento. Na Figura 41, podemos evidenciar
uma parte da mina, com parte da jazida já exaurida, sendo preenchida com estéril extraído de outras
frentes de lavra.
Essa técnica auxilia muito os custos operacionais do desenvolvimento da mina, pois reaproveita espa-
ços que não terão impactos em outras frentes de lavra e na deposição de estéril.
@istockphoto.com/CelilKirnapci
Figura 41 - Poço de mina a céu aberto já lavrada
A NRM 04 - Aberturas Subterrâneas, prevê, no item 4.2.1.7, que poços, planos inclinados, rampas e ou-
tras obras subterrâneas interligados com a superfície, quando abandonados, devem ser obrigatoriamente
tamponados ou preenchidos.
Na medida em que o material útil é extraído, vazios são formados e devem ser preenchidos com outro
material com a finalidade de sustentação do teto. Nesse processo, o desmonte das faces de lavra é integral
e, quando se desloca, o enchimento segue o mesmo ritmo.
4.6.4 EVENTUAL PRESENÇA DE PROTOMINÉRIO OU MINÉRIO DE BAIXO TEOR QUE DEVE SER
ESTOCADO EM SEPARADO PARA O FUTURO
Em muitas frentes de lavra, pode haver a presença de materiais com baixos teores e de difícil benefi-
ciamento para as tecnologias disponíveis. Entretanto, é comum que, nesses casos, esse tipo de material
seja disponibilizado em estoques para possíveis usos futuros, como aconteceu com o minério itabirito
compacto (Figura 42) nas minas de Cauê e Conceição, no município de Itabira, em Minas Gerais.
Carlos Vinicius De Mattos Ribeiro
Protominério é minério que apresenta baixo teor de elemento útil, sem valor econômico no momento,
que pode se tornar viável se for feito um enriquecimento secundário.
Portanto, é importante se atentar para todos os tipos de minério que compõem a jazida em lavra,
podendo eles representarem futuros processos de beneficiamento.
CASOS E RELATOS
21
21 Commodity: qualquer bem em estado bruto, de origem agropecuária, mineral ou vegetal, produzido em larga escala mundial e
com características físicas homogêneas, destinado ao comércio externo.
4 DESENVOLVIMENTO DE MINA
83
RECAPITULANDO
Olá, seja bem-vindo (a) ao capítulo de Perfuração e Desmonte! Com certeza, você já
deve saber do que tratam as operações de perfuração e desmonte de rocha, não é mesmo?!
Mas você conhece os principais tipos de perfuratrizes? Saberia dizer quais os seus prin-
cipais componentes ou até mesmo qual perfuratriz é mais adequada para determinado
tipo de rocha?
Conhece os tipos de desmonte existentes? Quais são as propriedades da rocha que de-
vemos analisar para a fragmentação do maciço rochoso?
Já pensou em como é realizado o desmonte por explosivos? Que tipos de explosivos de-
vemos utilizar? Quais são os principais elementos de um plano de fogo que devemos definir?
Pois bem, essas perguntas e muitas outras que provavelmente irão surgir, vamos responder
no decorrer deste nosso estudo.
Ao final desse conteúdo, como futuro profissional da área, você estará apto a definir a me-
lhor perfuratriz a ser utilizada em virtude do tipo de rocha a ser desmontada, conhecerá as
principais propriedades das rochas e como elas influenciam o processo de quebra da rocha.
Aprenderá a calcular os elementos do plano de fogo, bem como a escolher os explosivos no
desmonte de rocha que envolvam detonações e determinar os parâmetros essenciais para
manter a segurança das operações.
Não perca tempo, vamos conhecer melhor este fascinante universo das operações de
perfuração e desmonte de rocha!
@istockphoto.com/tifonimages
DESENVOLVIMENTO DE MINA E LAVRA
86
5.1 PERFURAÇÃO
Você sabia que a perfuração é uma ação empregada em diversas áreas do nosso cotidiano?! Com certeza,
você já ouviu falar em perfuração de poços de petróleo, perfuração de poços artesianos, perfuração de
fundações na construção civil e, até mesmo, em perfurações cirúrgicas, correto?!
Na mineração, temos a perfuração de rochas, que é uma atividade de extrema importância para um
posterior desmonte (fragmentação da rocha), principalmente quando se utilizam explosivos.
A perfuração consiste na realização de um furo em uma rocha por meio de golpes sucessivos feitos com
uma barra de aço e uma broca (Figura 43). A energia necessária é produzida por um martelo que desliza
sobre a coluna do equipamento utilizado na operação. Assim os impactos produzidos pelo martelo são
transmitidos a outros componentes que estão em contato direto com a rocha para perfurá-la.
@istockphoto.com/Xtrekc
Figura 43 - Perfuratriz
A perfuração das rochas dentro do campo dos desmontes é a primeira operação a ser realizada com
objetivo específico de abrir furos, com a distribuição e geometria adequada, dentro dos maciços para o
subsequente carregamento de cargas explosivas.
Além disso, a atividade de perfuração também pode ser empregada para aberturas de galerias verticais
e chaminés em minas subterrâneas, ou, até mesmo, para a contenção de blocos instáveis usando tirantes22.
Com o desenvolvimento tecnológico, os equipamentos destinados a furar uma superfície rochosa, ou
seja, as perfuratrizes, evoluíram bastante, sendo possível encontrar atualmente no mercado variados e
sofisticados modelos, como veremos a seguir.
A perfuratriz mais antiga, denominada de Singer, foi construída em 1838 para operar
no canal de Illinois, em Michigan. Movida a vapor e pistões, permitia somente
CURIOSI perfurações verticais por meio da gravidade. O conjunto pistão era levantado e o
DADES impacto era gerado pelo peso do próprio equipamento na queda do dispositivo.
Fonte: LEITE, F. F; NOGUEIRA, J. A, 2008.
22 Tirante: peça estrutural composta por um ou mais elementos destinada a resistir a algum esforço, força ou tensão.
5 PERFURAÇÃO E DESMONTE
87
Perfuratrizes de Percussão
As perfuratrizes de percussão correspondem ao grupo de perfuratrizes mais antigas que existem,
englobando as perfuratrizes manuais, como os marteletes.
São equipamentos que utilizam praticamente toda a energia para a percussão. O seu princípio de
funcionamento baseia-se no giro na broca imediatamente após cada golpe.
Composto por um pistão dentro de uma câmara cilíndrica, caracterizada por dois movimentos distintos
e independentes, sendo eles o golpeamento na broca, seguido da sua rotação.
O pistão impulsionado, por exemplo, com ar comprimido, movimenta e bate contra o punho da fer-
ramenta de perfuração, impulsionando-a contra a superfície da rocha. Assim, por meio de componentes
da perfuratriz, promove-se uma rotação parcial a cada movimento que se tem do pistão para cima e para
baixo. Para uma rotação completa, normalmente, necessita-se de cerca de onze percussões do pistão
contra o punho (Figuras 44, 45 e 46).
Válvula oscilante
Descarga Admissão
2 4 5 6 7 8 4
1 3
A
C
4 6 7 11
4 7
B
D
9 10
10 11
Conforme notamos na Figura 46, os tubos de limpeza são necessários e importantes para a remoção
dos resíduos produzidos pelo avanço da perfuratriz. Geralmente, ar ou água são empregados para retirar
os detritos do espaço entre a superfície externa da haste, da broca e do furo.
O acionamento desses equipamentos, normalmente, é realizado por ar comprimido. Porém, em alguns
casos, para a realização de pequenos trabalhos podem ser acionados por um motor a gasolina ou motor
elétrico, e alguns mais modernos já são hidráulicos, para trabalhos pesados.
Perfuratrizes Rotativas
As perfuratrizes rotativas utilizam toda a sua energia para o acionamento de um sistema de rotação
que fornece uma pressão constante sobre a rocha a ser perfurada. Não existem percussões, a perfuratriz
transmite à broca somente movimentos de rotação que podem demolir a rocha por corte, abrasão e/ou
esmagamento (Figura 47).
@istockphoto.com/NIKITOS 77
Na maioria das vezes, essas perfuratrizes são destinadas para atividades de prospecção geológica, como
a sondagem, exploração de poços petrolíferos, abertura de poços artesianos e em furos de rochas brandas,
isto é, de menor dureza, como as sedimentares, ou mesmo em rochas mais abrasivas como as ígneas e as
metamórficas.
Geralmente, para execução desses furos em rochas de baixa dureza, a perfuração é realizada pela que-
bra e esmagamento da superfície, em que brocas especiais, como as denominadas tricônicas, são adapta-
das para facilitar a operação (Figura 48).
@istockphoto.com/Wbprods
As perfuratrizes rotativas são equipamentos empregados para a execução de furos de grande diâmetro
e de grande profundidade, como exemplo, furos acima de seis polegadas.
Podem ser montadas em cima de uma plataforma ou carreta para facilitar a locomoção, e serem aciona-
das por motores a explosão ou elétricos que ativam sistemas hidráulicos de grande potência.
Perfuratrizes Rotativo-Percussivas
Como o próprio nome já sugere, as perfuratrizes rotativo-percussivas utilizam energia para rotação,
mas também para percussão. Cerca de 80% da energia fornecida é destinada à rotação e o restante para
percussão.
São perfuratrizes mais potentes podendo assumir grande porte. Ao contrário das perfuratrizes percus-
sivas, que têm rotação descontínua, essas perfuratrizes possuem rotação contínua, além das percussões
sobre a broca.
O movimento de rotação contínua é introduzido por meio de um motor de pistões colocado no cabe-
çote da perfuratriz ou por um motor independente. Assim, além do movimento vaivém, o pistão confere à
máquina também uma rotação constante (Figura 49).
DESENVOLVIMENTO DE MINA E LAVRA
90
@istockphoto.com/VALLEFRIAS
Perfuratrizes de furo-abaixo
As perfuratrizes de furo-abaixo, conhecidas do inglês como down the hole (DTH), são semelhantes às
perfuratrizes rotativo-percussivas, porém desenvolvidas para execução de furos de grande profundidade,
uma vez que são projetadas para evitar a perda de energia, melhorando assim, a sua eficiência.
Normalmente, quando as perfuratrizes atingem grandes profundidades, o avanço do furo é prejudica-
do, pois o esforço percussivo é transmitido da superfície para hastes até a extremidade do furo, havendo
muita dissipação da energia fornecida inicialmente.
Dessa forma, para evitar esse tipo de problema, as perfuratrizes DTH possuem o mecanismo de per-
cussão acoplado na extremidade da broca, junto à coroa, na parte mais externa, para operar efetivamente
contra a rocha (Figura 50).
5 PERFURAÇÃO E DESMONTE
91
3 2
1 - MOTOR DE ROTAÇÃO
2 - CENTRALIZADOR 4
3 - MOTOR DE AVANÇO
4 - TUBO
5 - MARTELO
6 - COROA
5
1ª Haste
2ª Haste 3ª Haste
1ª Haste 2ª Haste
1ª Haste
Esses equipamentos são indicados para minerações de bancadas elevadas, isto é, bancadas acima de 20
metros, com diâmetros que variam entre 75 a 225 mm. Muitas minerações de grande porte utilizam esse
equipamento para execução de furos em rochas de alta resistência.
As maiores vantagens dessas perfuratrizes são a limpeza do furo, que é mais eficiente, e o rendimento
que é maior para a mesma quantidade de ar comprimido empregada. Porém, a velocidade de operação é
menor, bem como a vida útil das pastilhas.
DESENVOLVIMENTO DE MINA E LAVRA
92
Como você já deve ter percebido, a escolha do melhor tipo de perfuratriz não é simples. Existe uma
grande variedade de perfuratrizes, como também cada tipo pode apresentar variações em função do
diâmetro da coroa, profundidade do furo, tipo de rocha, tipo de serviço, entre outros.
Podemos observar, na Figura 52, um diagrama que fornece uma visão geral de como se pode proce-
der para a escolha da perfuratriz adequada. É claro que casos especiais irão existir e devem ser analisa-
dos e discutidos individualmente.
FUROS DE
ROCHA ROCHAS 100 A 125mm FUROS ABAIXO
ABRASIVA NÃO-ABRASIVAS (4” a 5”) DE 100mm (4”)
FUROS DE
FUROS ABAIXO FUROS DE 75 A ROCHA ROCHAS ROCHA ROCHAS
100 A 125mm
DE 75mm (3”) 100mm (3” a 4”) ABRASIVA NÃO-ABRASIVAS ABRASIVA NÃO-ABRASIVAS
(4” a 5”)
CONDIÇÕES CONDIÇÕES
BOAS CONDIÇÕES
RAZOÁVEIS MUITO DIFÍCEIS
DE PERFURAÇÃO
DE PERFURAÇÃO DE PERFURAÇÃO
Conforme vimos, para se progredir com o furo e obter um elevado rendimento de perfuração, é ne-
cessário que as brocas estejam adequadamente em contato com a rocha no momento em que o pistão
transmite a energia, mediante um esforço realizado sobre a perfuratriz.
Em perfuratrizes manuais, esse esforço é realizado com o peso do próprio operador. Porém, devido aos
avanços tecnológicos e à necessidade do aumento da produção, principalmente na área de mineração,
esses sistemas evoluíram, podendo o equipamento transmitir essa força por meio de um sistema pneumá-
tico, de corrente, de parafuso ou hidráulico.
Avanço pneumático
Denomina-se de avanço pneumático quando o acionamento é realizado por ar comprimido. Normal-
mente, o conjunto cilindro-pistão é ligado diretamente à perfuratriz. Assim, quando o ar comprimido
é injetado, produz-se um esforço devido ao deslocamento do pistão contra o cilindro apoiado em um
ponto fixo.
Sua utilização é muito comum em escavações de mina a céu aberto e em escavações de túneis.
As principais vantagens desse tipo de avanço são economia de mão de obra, pressão de avanço uni-
forme e maior produtividade do equipamento.
Avanço de corrente
No sistema de avanço por corrente, o esforço é transmitido mecanicamente por meio de uma corrente
ligada à perfuratriz, que, tracionada, provoca uma pressão contra a broca, e desta contra a rocha. O motor,
com acionamento pneumático ou hidráulico, possui uma roda dentada a qual faz com que a corrente se
movimente.
Esse tipo de avanço é muito empregado em escavação de céu aberto, principalmente por ter um baixo
preço, facilidade de realização de reparos e possibilidade de grandes longitudes de avanço.
Em contrapartida, possui um maior desgaste das peças quando operam com rochas abrasivas; é menos
seguro, principalmente pelo risco da corrente se romper e tem uma maior dificuldade de conseguir um
avanço suave quando as penetrações são pequenas.
Avanço de parafuso
O avanço de parafuso é similar ao avanço de corrente, uma vez que também é realizado mecanicamen-
te, porém em vez de utilizar uma corrente, usa-se um parafuso. O esforço é obtido pelo giro do parafuso
por meio de um motor com acionamento pneumático.
As vantagens desse avanço são maior velocidade de perfuração; maior vida útil do parafuso, chegando
à ordem de 50.000 metros de perfuração; avanço mais regular e suave; maior resistência ao desgaste e mais
seguro comparado ao sistema de corrente.
Os inconvenientes que apresentam são: o alto preço de aquisição, maior dificuldade de realização de
reparos e furos de profundidade limitada, não ultrapassando muitas vezes 1,8 metros.
DESENVOLVIMENTO DE MINA E LAVRA
94
Avanço hidráulico
Já o avanço hidráulico é semelhante ao avanço pneumático, porém o acionamento é dado por um ci-
lindro hidráulico.
Devido ao aperfeiçoamento desses sistemas, atualmente é um dos sistemas mais empregado, principal-
mente por permitir a perfuração rápida em rochas de grande rigidez. O controle se dá na força de impulso,
bem como apresenta uma velocidade de avanço totalmente uniforme.
Brocas
Você sabe qual é a função de uma broca de uma furadeira, não é mesmo? As brocas são componentes
cortantes que giram e fazem um furo. As brocas utilizadas em perfuratrizes não são diferentes! Elas têm o
mesmo objetivo de uma broca de furadeira, sendo responsáveis por transmitir às rochas os esforços gera-
dos pelas perfuratrizes furando o maciço rochoso.
Assim como para as furadeiras existem brocas específicas para a realização do furo, de acordo com cada
tipo de material madeira, metal, cimento, entre outros, existem também diversos tipos de brocas de perfu-
ratrizes conforme o tipo de rocha que se deseja furar.
As brocas podem ser representadas em monoblocos ou seccionadas, sendo constituídas principalmen-
te por punho, haste e coroa, independente da classificação, e quando seccionadas são compostas, tam-
bém, pelas luvas. Observe a Figura 53 e em seguida, conheça cada um dos componentes de uma broca.
1 2 3 5
1 - Punho 4
2 - Colar
3 - Haste
4 - Coroa
5 - Furo de limpeza
6 - Superfície de impacto
Figura 53 - Componentes da broca
Fonte: Adaptado de UTFPR, 2009.
5 PERFURAÇÃO E DESMONTE
95
• Punho: é parte inicial da broca que se encaixa na perfuratriz por meio da bucha de rotação, res-
ponsável por receber e transmitir os impactos e a rotação do conjunto pistão-bucha aos demais
componentes da coluna.
• Colar: delimita a penetração da broca no interior da perfuratriz, além de absorver a pressão de
avanço necessária para execução do furo.
• Haste: elemento central da broca que permite um maior ou menor furo, em virtude de seu com-
primento.
• Coroa: é a parte inferior da broca em formato de bisel24, a que realmente executa o furo e tem contato
direto com a rocha; normalmente é de aço e, dependendo do tipo de perfuração, sofre tratamentos
especiais a fim de aumentar a resistência a impactos e à abrasão provocada pelo atrito da operação.
• Luvas: componente somente de brocas seccionadas, sendo responsáveis pelo acoplamento entre a
primeira haste e o punho que está ligado à perfuratriz.
Sistema de Limpeza
Após a perfuração, os resíduos da rocha devem ser removidos do furo de forma rápida e eficiente a fim
de se obter a máxima velocidade de penetração.
Na maioria das perfuratrizes, o sistema de limpeza adotado é, a partir de um furo que permite a passa-
gem de um fluido, normalmente ar ou água, por meio da extremidade da broca.
Assim, o fluido é injetado no orifício central e os resíduos removidos pelo espaço existente entre a su-
perfície externa da haste da broca e o furo (Figura 54).
2
4
1 - Rocha
2 - Superfície do Furo
3 - Superfície da haste da broca
4 - Orifício para passagem do fluido
5 - Espaço entre broca e furo
5 3
1
Bucha de rotação
A bucha de rotação é o componente que se liga diretamente à broca ficando exposta aos maiores es-
forços de uma perfuratriz.
24 Bisel: corte ou talhe oblíquo realizado nas bordas de uma peça; formato de cume.
DESENVOLVIMENTO DE MINA E LAVRA
96
A bucha deve ser trocada com maior frequência em comparação com as outras peças da perfuratriz,
principalmente em virtude do maior desgaste. Quando desgastada, não fornece o apoio necessário ao pu-
nho, causando o desalinhamento da broca, e consequentemente, da perfuratriz, prejudicando a operação.
Pistão
Pistão é um cilindro, normalmente de aço, que fornece um impacto contínuo sobre a broca. A falta de lu-
brificação, que é um dos principais problemas dessa peça, deixa a peça azulada e compromete a sua vida útil.
Conforme podemos observar na Figura 55, a operação de perfuração é composta por cinco etapas.
4º - Colação e
@istockphoto.com/Gonzalo1978
remoção de hastes 2º - Emboquilha
3º - Perfuração
@istockphoto.com/Xtreckx
Figura 56 - Operação de perfuração
Na Figura 56, observamos claramente os furos realizados pela perfuratriz, e seu deslocamento de ré
para execução de um novo furo.
A eficiência da operação de perfuração depende diretamente do adequado funcionamento do conjun-
to de força de avanço, de rotação e de limpeza. Porém, apesar de todos esses fatores operarem de forma
adequada, se o operador não for treinado e/ou não tiver muita experiência, alguns erros podem ocorrer
como mostra a Figura 57:
• Erro de marcação no posicionamento dos furos e /ou erro de emboquilhamento;
• Erro de alinhamento da direção e da inclinação do furo;
• Erro devido à flexão das varas no interior do furo;
• Erro de profundidade;
• Erro de encravamento, isto é, obstrução do furo.
1 - Erro de posicionamento
2 - Erro de inclinação do furo
3 - Erro devido a flexão da vara
4 - Erros de profundidade
5 - Erro de obstrução do furo
1 2
5
Real
4 3 Desejado
4
Figura 57 - Erros de perfuração
Fonte: Adaptado de CORREIA, 2011.
DESENVOLVIMENTO DE MINA E LAVRA
98
A seguir, vamos aprender sobre alguns tipos de equipamentos de perfuratrizes mais utilizados no setor
de mineração.
Martelete
É uma perfuratriz que tem diversas aplicações. Pode ser utilizada em minerações de pequeno, médio e
grande porte, obras de construção civil e realização de furos em tetos de túneis e galerias.
Os marteletes podem ser dotados de diversos tipos de brocas, as quais têm a função de transmitir os
esforços para a rocha (Figura 58).
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Sondas
São perfuratrizes específicas para a realização da operação de sondagem na etapa da pesquisa mineral.
Diferentemente das demais perfuratrizes, proporcionam a retirada do material inteiro, isto é, do testemunho.
São muito importantes, pois permitem analisar e prever as condições nas quais a mina irá se desenvol-
ver. Fornecem maior segurança às pessoas e equipamentos por meio da determinação do tipo de esforço
ao qual a superfície rochosa pode ser submetida.
5 PERFURAÇÃO E DESMONTE
99
Jumbos
São equipamentos utilizados basicamente na perfuração de túneis, galerias e reforço de rocha nas mi-
nas subterrâneas (Figura 59).
Essas perfuratrizes são consideradas modernas, podendo possuir até cinco braços e executar quatro furos
por vez. Um dos braços, normalmente, é utilizado para realizar o carregamento dos furos para o desmonte.
A perfuração pode ser realizada com diversos diâmetros e em qualquer plano, ou seja, horizontal e vertical.
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Figura 59 - Jumbo
Fandrill
Fandrill são equipamentos empregados principalmente na lavra vertical, em que se desmonta o nível
superior para extração do minério. A perfuração é 360° ao redor do eixo longitudinal do equipamento, com
inclinação em torno de 75°.
O grande risco fornecido com a perfuração com fandrill é o desplacamento de rochas soltas sobre o
equipamento. Dessa forma, não é recomendado perfurar em cima dele, obedecendo sempre o ângulo de
inclinação de operação do equipamento.
5.2 DESMONTE
Como você já sabe, o desmonte é a operação de mina que visa fragmentar blocos maciços de rochas
em blocos menores, objetivando sempre atender a granulometria necessária que permita a realização do
transporte desse material, bem como possibilitar o beneficiamento do minério de forma eficiente.
O grande desafio é desintegrar o maciço rochoso com o menor custo possível, alcançando a maior pro-
dutividade. Dessa maneira, selecionar o método de desmonte mais adequado é essencial.
DESENVOLVIMENTO DE MINA E LAVRA
100
Como veremos adiante, as operações de desmonte podem ser classificadas em: desmonte por explosi-
vo, mecânico ou hidráulico. O principal critério de escolha do melhor tipo de desmonte se baseia na maior
ou menor dificuldade de desmonte da rocha, ou seja, na resistência que o maciço apresenta.
Um estudo completo da região a ser desmontada deve ser realizado, analisando as características do
material, como tensão e deformação, e verificando a necessidade de reforço ou não após o desmonte.
Desmonte mecânico
O desmonte mecânico, também conhecido como desmonte a frio por não utilizar explosivos, é a
fragmentação da rocha por meio de uma força realizada pela ação de maquinários.
Normalmente, esse é um método utilizado para desmonte de rochas brandas e fraturadas que não
necessitam do uso de uma força maior como a ação dos explosivos, por exemplo: em mineração de
carvão, bauxita, argilominerais, entre outros.
O desmonte mecânico a frio (Figura 61) é aplicado em situações em que se têm limitações do nível de
vibrações e ruídos, no qual não é permitido o uso de explosivos devido aos perigos que podem gerar para
aquela determinada região. Ou ainda, no desmonte de camadas delgadas ou inclinadas, em que a precisão
do corte é relevante.
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Existem diversos equipamentos que podem realizar esse tipo de desmonte, tais como as escavadeiras,
tratores de esteiras, mineradores de superfície (Figura 62), etc. O uso de cada um depende muito do tipo
de rocha, da área a ser desmontada, e do custo-benefício.
Por meio das diferentes garras que podem ser adaptadas a esses equipamentos, eles escarificam25 a
superfície, de forma a produzir pequenos fragmentos de rocha, ou seja, desagregar o material (Figura 63).
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Figura 63 - Desmonte por meio de um Bulldozer
Além disso, como podemos observar na Figura 63, esse tipo de desmonte não é somente aplicado à
escavação da rocha, mas também para a escavação de terra e no setor de construção civil.
Desmonte hidráulico
O desmonte hidráulico, conforme o nome já sugere, é a fragmentação da rocha utilizando água à alta
pressão e velocidade.
Jatos d´água são direcionados na frente de lavra por meio de mangueiras com objetivo de desintegrar,
quebrar e empolpar o material. A polpa formada, isto é, minério mais água e, às vezes estéril, passa a correr
em canais feitos na superfície da lavra acumulando-se num ponto de concentração, para posteriormente
ser bombeada para a estação de tratamento (Figura 64).
25 Escarificar: produzir uma série de arranhões, incisões, pequenos cortes sobre uma determinada superfície.
5 PERFURAÇÃO E DESMONTE
103
Estação de bombeamento
Bombeamento
Peneira
Lama e
areia fina
Cascalho
Bombeamento
Polpa (Dragagem)
Sílica e areia
Muitas vezes, conforme podemos notar na Figura 64, para a aplicação desse tipo de desmonte é
necessário realizar o decapeamento do terreno para remoção do material estéril que fica recobrindo o
minério de interesse.
Argilas, areias e outros materiais dispersos são os minerais mais utilizados em lavras com desmonte
hidráulico, principalmente por terem a capacidade de se fluidizarem rapidamente e formarem polpa de
alta concentração.
Esse método, principalmente quando empregado sozinho, apresenta baixo rendimento em virtude da
grande perda de energia que apresenta. Grande parte da energia é perdida na linha de bombeamento da
água devido às perdas de carga existentes e atrito do fluido com a tubulação.
Em adição, alguns danos ambientais também são inevitáveis, como:
• Poluição das águas superficiais;
• Apropriação das águas superficiais;
• Erosão e assoreamento;
• Remoção da cobertura vegetal;
• Perda de solo vegetal;
• Muitas vezes, inviabilização do solo para outras aplicações.
Segundo a NRM 3.2 que aborda sobre lavra com o desmonte hidráulico, é
FIQUE imprescindível que os trabalhadores e equipamentos situem-se em uma
ALERTA distância adequada da área de desmonte, de modo a se protegerem contra
desmoronamentos e/ou deslizamentos.
DESENVOLVIMENTO DE MINA E LAVRA
104
As operações de perfuração e o desmonte de rochas são influenciadas pelas características das rochas.
As propriedades mecânicas da rocha a ser cortada e fragmentada afetam diretamente o desempenho
de cada equipamento, o consumo de ferramentas de corte, o custo da operação, entre outros fatores.
Nesse contexto, a ciência denominada mecânica das rochas tem objetivo de estudar e analisar o
comportamento mecânico das rochas, ou seja, preocupa-se com a resposta das rochas em virtude dos
campos de força a que estão sujeitos em seu ambiente físico.
Estimar e analisar o comportamento de um maciço rochoso não é uma tarefa fácil. O maciço rochoso
nem sempre se apresenta homogêneo e suas propriedades podem variar muito. Assim, a análise de amos-
tra de rocha sã, isto é, intacta, é: analisar, estimar e caracterizar quantitativamente o comportamento de
um maciço rochoso.
Algumas propriedades, conhecidas também como propriedades-índice, são: peso específico, porosida-
de, teor de umidade, velocidade de propagação do som, permeabilidade, durabilidade e resistência que
refletem a estrutura, a composição e o comportamento mecânico do material intacto composto por mine-
rais mais porosos e microfissuras. Vamos adiante para conhecer melhor essas propriedades.
Peso específico
Representado pela letra ‘’γ’’, é a razão dada pelo peso de determinada substância e o volume que essa
substância ocupa; está diretamente relacionado com o estado de tensões verticais da crosta terrestre
(gravidade).
P Ps + Pw em que P = m * g
c= V = V
m* g
c= V
=p*g
Em que,
P = peso da amostra – unidade em newton (N)
Ps = peso dos constituintes sólidos da amostra - unidade em newton (N)
Pw = peso da água - unidade em newton (N)
V = volume – unidade metro cúbico (m3)
p = massa específica (g/cm3)
g = gravidade (m/s2)
O peso específico também pode ser calculado na base seca, denominado peso específico seco, em que
somente o peso dos constituintes sólidos é contabilizado, podendo ser expresso por:
Ps
cS = V
5 PERFURAÇÃO E DESMONTE
105
Na Tabela 1 podemos notar o peso específico seco para determinados tipos de rochas:
O conhecimento do peso específico da rocha é muito importante, uma vez que influencia diretamente
as operações de desmonte. Quanto maior o peso específico, maior é a resistência da rocha para se deformar.
Porosidade e Permeabilidade
Como o próprio nome sugere, a porosidade é a propriedade que expressa a proporção de vazio (poros)
em relação ao volume total da rocha, ou seja, é o espaço vazio que se tem entre os grãos e cristais. Quanto
mais afastados os grãos de rocha estiverem, maior é o espaço entre eles, e, consequentemente, maior é a
porosidade da rocha. Podemos calcular a porosidade pela fórmula:
Vv
n = V * 100%
Sendo que,
n = porosidade da rocha (%)
Vv = volume correspondente aos vazios (m3)
V = volume (m3)
A porosidade é uma propriedade extremamente variável. Quanto mais antiga a rocha, pode-se inferir
que menor é a porosidade, uma vez que os minerais instáveis já foram alterados, lixiviados ou até subs-
tituídos por outros mais estáveis.
Já a permeabilidade é a propriedade que expressa a interconectividade entre os poros e/ou fissuras da
rocha. O tamanho e a forma que os vazios adquirem é que determinam a maior ou menor permeabilidade
da rocha.
Na Figura 65, notamos, por exemplo, que a rocha D tem alta porosidade, porém baixa permeabilidade,
pois existe uma baixa conexão entre os poros. Esse tipo de rocha é ideal para reter grandes volumes de
água, porém muito difícil de extrair, como as argilas.
DESENVOLVIMENTO DE MINA E LAVRA
106
Permeabilidade crescente A B
C D
Porosidade crescente
A análise da permeabilidade da rocha deve ser feita em laboratório, mas também pode ser feita em
campo. A análise da amostra da rocha intacta contabiliza somente os poros e microfissuras apresentadas
por aquele material. A análise do maciço rochoso in situ permite um valor mais real analisando o sistema de
descontinuidade, ou seja, as juntas, as falhas, as diaclases26 no maciço existentes.
Teor de umidade
Como você sabe, o teor de umidade é a propriedade física que relaciona a quantidade de água que uma
amostra (rocha) possui, estando diretamente ligado com a porosidade.
pw * g
w = Pw * 100% = = pw
Ps ps * g * 100% ps * 100%
Em que,
w = teor de umidade (%)
pw = massa específica da água (g/cm3)
ps = massa específica dos grãos (g/cm3)
É a velocidade de propagação de uma onda sonora. Assim, como em qualquer outro material, as
rochas recebem vibrações que se propagam por meio de ondas mecânicas, em sua maioria longitudinais
e transversais.
26 Diaclases: são fraturas que dividem as rochas em blocos, porém sem haver um movimento considerável.
5 PERFURAÇÃO E DESMONTE
107
Dessa forma, a velocidade que a onda se propaga em cada rocha depende diretamente de suas
propriedades, como:
• Quanto maior a porosidade da rocha, menor é a velocidade de propagação da onda;
• Quanto maior a massa específica (densidade), maior é a velocidade de propagação da onda;
• Quanto maior o teor de umidade, maior é a velocidade de propagação da onda, pois a água preenche
os vazios que dificultam a passagem da onda.
O índice é muito importante, uma vez que é utilizado para determinar as zonas de fraturamento nas
frentes de lavra, e/ou possíveis alterações em minas subterrâneas.
Por meio de um cristal piezelétrico27, que pode ser um emissor de ondas, bem como um receptor de
vibrações, a velocidade da onda pode ser medida. Os cristais são adaptados nas extremidades do corpo
de prova de comprimento L. Assim, o tempo gasto para o percurso é determinado pela diferença de fase
de um osciloscópio (Figura 66).
L
v= t
Em que,
v = velocidade (m/s)
L = comprimento da amostra (m)
t = tempo (s)
A Tabela 2 apresenta alguns valores típicos para a velocidade de propagação da onda de algumas rochas.
27 Piezoelétrico: capacidade que o material apresenta de gerar uma tensão elétrica em virtude de uma pressão mecânica.
DESENVOLVIMENTO DE MINA E LAVRA
108
ROCHA V (m/s)
Arenito e quartzito 6000
Basalto 6500-7000
Calcário 6000-6500
Dolomito 6500-7000
Gabro 7000
Rochas graníticas 5500-6000
Alterabilidade e Durabilidade
Sabemos que todas as rochas estão sujeitas às intempéries como sol e chuva. Elas se aquecem, resfriam,
secam e se umidificam naturalmente.
Esses ciclos de variações afetam ou não diretamente a estrutura de uma rocha, levando-a até mesmo a
se desintegrar. As propriedades que analisam e contabilizam a facilidade de a rocha modificar-se ou não
perante esses fenômenos de tensão são a alterabilidade e durabilidade, sendo uma o inverso da outra.
A alterabilidade é a facilidade que determinada rocha tem de se alterar, enquanto a durabilidade é a
dificuldade que a rocha tem de se modificar.
Os granitos intactos, por exemplo, são considerados rochas duráveis, pois, independente do aqueci-
mento, resfriamento, secagem e/ou umedecimento, não se alteram. Ao contrário, os folhetos e algumas
rochas metamórficas incham e se desintegram em condições atmosféricas adversas, principalmente quan-
do contém o sal anidro.
5.3.1 RESISTÊNCIA
A resistência é uma das propriedades mais relevantes do estudo de mecânica de rochas e principal-
mente para as operações de desmonte e perfuração. Por esse motivo, iremos dar uma ênfase maior ao
estudo dessa propriedade.
As rochas estão expostas constantemente aos diversos tipos de tensões, sejam elas naturais, como as
forças gravitacionais ou estruturais, ou induzidas como as operações de escavação e perfuração.
Nesse contexto, a resistência é a propriedade que mensura a capacidade que a rocha tem de manter o
seu arranjo original, isto é, manter coesos seus componentes e não se fragmentar perante uma determina-
da tensão.
A operação de desmonte de rocha tem como objetivo vencer a resistência da rocha de forma a ultrapas-
sar os limites de elasticidade e plasticidade do material até o seu rompimento.
Devemos lembrar que, a elasticidade é quando o material se deforma quando exposto a uma determi-
nada tensão, porém recupera sua forma ou volume inicial depois de cessada essa força. Já a plasticidade
é permanente, ou seja, a rocha se deforma definitivamente, mas não chega a se romper. Para que ocorra a
ruptura, a tensão tem que ser superior aos limites elástico e plástico da rocha (Figura 67).
5 PERFURAÇÃO E DESMONTE
109
Tensão
Limite de
plasticidade
Limite de Ruptura
elasticidade
Deformação
Elástica Plástica Frágil
O grau de tensão, aplicado para a ruptura da rocha, deve sempre levar em consideração dois fatores
básicos:
• As tensões atuantes no maciço rochoso serão suficientes para vencer a resistência apresentada por ele
e romper a rocha? A ruptura será local ou total do material?
• Quais são os deslocamentos admissíveis? As tensões aplicadas no maciço rochoso provocarão a de-
formação de grandes estruturas de forma a ocasionar danos e/ou comprometer a segurança da mina?
As propriedade-índices são determinadas para que se possa estimar como as tensões já pré-existentes
e induzidas irão influenciar o comportamento mecânico do maciço rochoso.
Nota: Classificação de acordo com a Sociedade Internacional de Mecânica das Rochas (ISRM, do inglês
Internacional Society for Rock Mechanics, 1978).
DESENVOLVIMENTO DE MINA E LAVRA
110
O ensaio de resistência à compressão (σ) tem como objetivo fornecer a caracterização e classificação
dos maciços rochosos, determinado pela carga de ruptura P, isenta de qualquer fenda e defeito, sobre a
área (A) da seção transversal (Figura 68).
P
v=
A
P
Figura 68 - Esquema de ensaio de compressão uniaxial
Fonte: Adaptado de SENAI/MG, 2017.
Apesar de o teste ser de simples execução, em que as tensões são realizadas em uma única direção com
sentidos opostos, conforme demonstra a Figura 68 até a ruptura do material, a preparação dos corpos de
prova pode ser mais cara, devido à necessidade de preparação da amostra.
Diversos fatores podem influenciar o resultado, tais como:
• Velocidade de carregamento: a velocidade de aplicação da carga, isto é, a taxa de deformação deve
ser constante de forma que se obtenha a ruptura da amostra em um período de tempo de 5 a 10 mi-
nutos; sabe-se que quanto maior a velocidade, maior a resistência oferecida pela rocha;
• Teor de água: à medida que o teor de água aumenta na amostra, as tensões e a resistência de forma-
ção diminuem.
O teste de compressão também pode ser realizado pelo ensaio de compressão triaxial. Além da com-
pressão axial do corpo de prova, aplica-se uma pressão confinante na área superficial conforme apresen-
tado na Figura 69.
σ3 σ3
Δσ
+ σ3 σ3
σ1- σ3 = ∆σ
Em que,
σ1 = carga axial aplicada na amostra;
σ3 = pressão confinante aplicada na amostra;
∆σ = tensão desviadora aplicada na amostra.
Pode-se afirmar que quanto maior a pressão confinante suportada pelas rochas antes de se romperem,
maior será sua resistência.
Temos, ainda, outro tipo de teste, o ensaio de tração, que tem por objetivo determinar a resistência à
tração da matriz rochosa (Figura 70).
F
Figura 70 - Ensaio de resistência à tração direta
Fonte: Adaptado SENAI/MG, 2017.
Esse ensaio pode ser realizado de forma direta conforme observado na Figura 70 ou indireta (Figura 71).
Normalmente, devido à dificuldade de execução do ensaio direto, relacionado principalmente com o acopla-
mento das garras e manutenção da força na axialidade, isto é, em um mesmo eixo, o ensaio de tração indireta
é mais empregado.
L
D
FIQUE Os ensaios de restência de rochas são Brasil, são regidos por normas como a ABNT
ALERTA NBR 15845:2015
Como você já deve imaginar, uma das grandes preocupações das operações de perfuração e desmonte
é a estabilidade do maciço rochoso.
Devido ao potencial risco resultante dos fenômenos de instabilidade dos maciços, a análise de estabili-
dade dos maciços rochosos deve ser muito criteriosa. Deve-se obedecer a todas as leis e normas vigentes
de forma a estabelecer um controle rigoroso da operação e minimizar as possíveis ocorrências, como o
escorregamento rochoso.
Não é uma tarefa fácil determinar a estabilidade de um maciço, uma vez que envolve diversos fatores.
De forma simplificada, podemos dizer que a estabilidade está associada a dois fatores: as forças ativas e as
forças de resistência.
As forças ativas correspondem às forças que realmente promovem o movimento do talude rochoso e
seus constituintes. Estão relacionadas com a força gravitacional, bem como à força e peso dos indivíduos,
máquinas, cargas, que atuam sobre ele.
Por outro lado, as forças de resistências são determinadas pelas forças opostas ao movimento, como as
forças de atrito e cisalhamento, que por sua vez estão diretamente relacionadas com a formação do maciço
rochoso e as descontinuidades que apresenta (Figura 72).
Superficie de Ruptura
FA
FR
Legenda:
F A - Forças Ativas
F R - Forças de Resistência
Se as duas forças estiverem em equilíbrio, podemos dizer que o maciço está estável. Caso contrário,
quando essas forças são perturbadas por fatores naturais, como o intemperismo, erosão, presença de
água, ou por fatores humanos, como escavações, cortes longitudinais na rocha, construções habitacio-
nais e edificações, essa estabilidade pode ficar comprometida.
No Quadro 7 observe as principais causas que podem levar à instabilidade um maciço rochoso:
5 PERFURAÇÃO E DESMONTE
113
• Aumento da inclinação dos taludes devido aos processos de escavação ou erosão provocados pelo
vento ou pela água;
• Aplicação de sobrecargas no maciço, principalmente na parte superior;
CAUSAS EXTERNAS • Erosão superficial;
• Aumento da altura do talude por meio da escavação no pé;
• Abalos sísmicos e vibrações induzidas no terreno como o desmonte por explosivo;
• Efeitos de congelamento do terreno, e consequentemente aumento do volume rochoso.
Quando a estabilidade de um maciço rochoso é perturbada devido a alguma das causas estudadas an-
teriormente, ocorre a redução da resistência interna do solo, e, consequentemente, a sua ruptura, ou seja,
movimento de massas de terra.
Esses movimentos, originados devido à instabilidade do maciço rochoso, podem ser classificados em
três categorias de acordo com a velocidade que ocorrem, observe no Quadro 8 e Figura 73.
CLASSIFICAÇÃO VELOCIDADE
>3m/s – Extremamente rápido
Desmoronamento/Queda 0,3m/min a 3m/s
0,3 a 3m/s – Muito rápido
1,5m/dia<v<0,3m/min – Rápido
Escorregamento 1,5m/mês a 1,5m/dia
1,5m/mês<v<1,5m/dia - Moderado
1,5m/ano<v<1,5m/mês – Lento
Fluimento/Rastejo 1,5m/ano a 1,5m/mês 0,06m/ano<v<1,5m/ano – Muito lento
<0,06m/ano Extremamente Lento
Quadro 8 - Tipos de movimento relacionados com a velocidade
Fonte: Adaptado de GEOTECNIA E FUNDAÇÕES, ARQUITECTURA, 2017.
0
Desmoronamento Escorregamento Fluimento
Figura 73 - Classificação dos movimentos em maciço rochoso
Fonte: Adaptado de GEOTECNIA E FUNDAÇÕES, ARQUITECTURA, 2017.
CIRCULAR PLANAR
ESCORREGAMENTO CIRCULAR EM
ESCORREGAMENTO PLANO EM
ROCHA MUITO FRATURADA, SEM
ROCHA ALTAMENTE ESTRUTURADA
MODELO ESTRUTURAL IDENTIFICÁVEL.
Já os rastejos ou fluimentos são movimentos muito lentos que ocorrem nas camadas superficiais no
maciço rochoso. Diferentemente, dos escorregamentos não apresentam uma linha que divide de forma
nítida a porção que se movimentou.
5.4 EXPLOSIVOS
5.4.1 CONCEITOS
Podemos definir explosivos como uma substância ou uma mistura de substâncias químicas, que, quan-
do iniciadas ou ativadas por um fator externo, decompõem-se quimicamente liberando energia e gerando
quantidades significativas de gases em elevadas temperaturas.
A fragmentação da rocha ocorre, em grande parte, em função da quantidade de gases formados pela
detonação, bem como da energia e da pressão provocadas.
Descrevemos o desmonte com explosivos como uma onda de choque, que, inicialmente, percorre o
maciço rochoso com velocidades entre 3000 e 5000m/s, gerando tensões radiais e tangenciais a partir do
furo detonado.
Então, essas tensões geradas abrem microfissuras radiais na rocha, ou seja, ao redor do furo. Devido à vio-
lenta expansão dos gases, a rocha é distendida rompendo o estado elástico e promovendo a fragmentação.
De acordo com a velocidade da reação química, os explosivos podem queimar, deflagrar e/ou detonar.
O tipo de reação, que um determinado explosivo adquirirá, depende muito do tipo de iniciação emprega-
do, confinamento e contaminação.
• Combustão ou queima: a reação decomposição é lenta, na ordem de cm/s até 300m/s. Em adição,
sempre há necessidade da presença de oxigênio para a continuidade da reação. Podemos citar como
exemplo a queima de um pedaço de carvão, gasolina, papel, madeira, entre outros.
• Deflagração: a reação de decomposição é mais rápida do que no processo de combustão, com velo-
cidades de 300 a 1000m/s, não necessitando do oxigênio do ar para que se proceda. Nesse processo,
já existe um aumento tanto da temperatura como da pressão local. A propagação de calor é realizada
por meio da condução térmica, ou seja, o calor é transferido da partícula mais energética para a partí-
cula menos energética. Um exemplo típico da deflagração é a pólvora.
• Detonação: a reação de decomposição é extremamente rápida devido à velocidade da reação que
ocorre entre valores de 1000 até 8000m/s. Além da violenta reação química, gera-se uma onda de
choque que se propaga pelo maciço rochoso. A partícula, ao detonar-se, gera uma onda de alta pres-
são que comprime as outras partículas adjacentes fazendo com que elas se aqueçam e rearranjem.
A maioria dos explosivos empregados em mineração são detonantes, como as emulsões, gelatinas,
dinamites, ANFO, entre outros.
5.4.2 TIPOS
Atualmente, existem diversos tipos de explosivos no mercado. Com a evolução tecnológica e em res-
posta às exigências econômicas e ambientais, os explosivos desenvolvidos industrialmente visam suprir
e atender as demandas da área de mineração.
Vamos, a seguir, conhecer os principais tipos de explosivos empregados para a fragmentação de rochas
e minerais!
Pólvora
É fabricada por meio de carvão vegetal, resultante do processo de coqueificação da madeira, e nitrato
de potássio ou sódio. Pode ser encontrada na forma de pó ou em pelotas.
A inflamação desse explosivo necessita de um iniciador, podendo ser este um choque, elevação de
temperatura ou contato com chama.
Normalmente, a pólvora é aplicada quando se necessita de cortes uniformes, como nas lavras de
granito e mármore, e/ou para fragmentações de matacões28. É muito utilizada ainda, no desmonte de
blocos em zonas urbanas em que é necessário um cuidado especial para a operação de fragmentação
da rocha.
As desvantagens do uso desse explosivo são a elevada sensibilidade à água e quantidade de gases
tóxicos e nocivos produzidos. Em virtude desses fatores, o consumo da pólvora tem caído significativa-
mente no mercado.
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Dinamite
Com certeza você já ouviu falar em dinamites, não é mesmo?! Pois bem, denominam-se dinamites os
explosivos que contém em sua formulação nitroglicerina, que é obtida a partir do processo de nitração da
glicerina, associada a outros compostos químicos.
São explosivos de alta velocidade, podendo atingir velocidades de 5000m/s, e de elevada resistência
à água. Produz uma boa fragmentação das rochas, e é empregada em minas a céu aberto, bem como
escavações subterrâneas e aquáticas.
FIQUE A dinamite provoca um efeito fisiológico nas pessoas que entram em contato direto
ALERTA com a massa nitroglicerinada, provocando fortes dores de cabeça.
A grande desvantagem é que as dinamites são muito sensíveis a abalos, possuindo um elevado risco
de se detonarem acidentalmente. Outro ponto negativo é o tempo de estocagem que deve ser mais curto.
Quando o explosivo é estocado por grandes períodos, a nitroglicerina tem a tendência de se deslocar para
baixo e se separar dos demais compostos, tornando-se altamente perigosa.
Normalmente, as dinamites são fornecidas em cartuchos rígidos de plásticos ou de papelão, de
diâmetros variados, de 7/8’’ a 3 ½’’, e comprimento de 8’’ a 24’’.
@istockphoto.com/Bob_Eastman
Gelatina
A gelatina explosiva, conhecida também como dinamite gelatinosa, é uma evolução da dinamite
comum criada por Nobel em 1875. É uma mistura de 92% de nitroglicerina mais 7% de algodão de
pólvora e 1% de estabilizantes.
É considerada um explosivo extremamente violento, de grande velocidade e ótima fragmentação.
Porém o custo desse explosivo é elevado, limitando a sua aplicabilidade somente para casos especiais.
Outras gelatinas foram desenvolvidas ao longo do tempo a fim de reduzir o preço desses explosivos,
como, por exemplo, as gelatinas amoniacais. Parte da nitroglicerina empregada na fórmula original foi
substituída por nitrato de amônia (NH4NO3), composto comum em fertilizantes. O ponto negativo das no-
vas gelatinas criadas é que a resistência à água também diminuiu.
ANFO
ANFO, nome originado do inglês, Ammonium Nitrate and Fuel Oil, são explosivos fabricados à base de
nitrato de amônio mais óleo combustível, preferencialmente o diesel.
Sua composição, normalmente, é em torno de 94,5% de nitrato de amônio e 5,5% de óleo combustível.
A variação da quantidade de óleo combustível empregada na mistura tem um efeito nocivo e relevante
para o meio ambiente.
5 PERFURAÇÃO E DESMONTE
119
Quantidades maiores do óleo combustível, empregado para fabricação do ANFO geram um excesso
de dióxido de carbono (CO) na detonação, e, já em quantidades menores, acarretam maior formação de
nitrogênio (NO2). Ambos os gases são tóxicos, necessitando assim atingir um equilíbrio para minimizar os
impactos causados.
Atualmente ele é um dos explosivos mais amplamente empregado nas minerações, principalmente
em minas a céu aberto. A substituição da base de nitroglicerina, por nitrato de amônio, confere ao
explosivo uma maior segurança para estocagem e manuseio do produto.
O ANFO, fornecido em cartuchos ou em sacos a granel (Figura 75), pode atingir velocidades de
detonação entre 2500 a 5000m/s sendo aplicado, em sua maioria, para perfurações de grandes diâ-
metros. É comum, em conjunto com o ANFO, utilizar um explosivo mais energético na carga do fundo,
objetivando melhorar a ação de fragmentação das rochas.
As grandes vantagens apresentadas por esse explosivo são a redução do preço global do explosivo e
a insensibilidade ao choque. Em contrapartida, as desvantagens são a falta de resistência à água, não po-
dendo, dessa forma, ser empregado em furos que contenham água; baixa densidade e necessidade de um
iniciador especial, como por exemplo o primer, que será estudado posteriormente.
Figura 75 - ANFO
Fonte: SENAI/MG, 2017.
Emulsão
Você saberia dizer o que é uma emulsão? Quimicamente, as emulsões são definidas como misturas es-
táveis de dois líquidos imiscíveis, isto é, que não se misturam. A mistura só é obtida pela ação de agentes
emulsificantes ou por uma ação mecânica. Por exemplo, a maionese, constituída basicamente de óleo e ovo,
devido à ação mecânica do liquidificador ou batedeira forma uma mistura estável, ou seja, uma emulsão.
As emulsões utilizadas como explosivos no setor mineral são compostas principalmente por nitratos de
amônio e/ou sódio, e óleos especiais que estabilizam o produto tornando-o resistente à água.
DESENVOLVIMENTO DE MINA E LAVRA
120
São explosivos que podem ser encartuchados (Figura 76) ou bombeados (Figura 77). Pode-se usar po-
lietileno para embalar as emulsões formando salsichas plásticas (cartuchos). Quando em minerações de
grande porte, com frentes de escavação de grandes volumes de rocha, a fim de agilizar o processo de car-
regamento, as emulsões podem ser bombeadas diretamente dentro do furo.
• Preço relativamente menor quando comparados com outros explosivos, como os nitroglicerinados;
• Grande segurança na aplicação e manuseio;
• Elevada velocidade de detonação, sendo muito indicados para a fragmentação de maciços resistentes;
• Opção de se ter um produto com maior ou menor densidade;
• Resistentes à água;
• Permitem o completo preenchimento do furo, em virtude de terem um ótimo fator de adensamento.
O desempenho dos explosivos depende diretamente de suas propriedades intrínsecas e das caracterís-
ticas do meio ao qual são submetidos. Dessa forma, conhecer as principais propriedades dos explosivos é
importantíssimo para selecionar e quantificar os explosivos a serem utilizados nas frentes de lavra.
Vejamos a seguir algumas dessas propriedades!
Densidade
Quanto maior a densidade do explosivo maior é a concentração da carga explosiva por metro linear
de furo. Geralmente, no fundo dos furos (onde a rocha é mais compacta) utilizam-se explosivos mais
densos, como as gelatinas, uma vez que se necessita de uma maior concentração de energia para o
arranque das rochas. Já a carga de coluna não necessita de explosivos tão densos, podendo utilizar o
ANFO, como exemplo, que tem densidade menor.
Conforme a Tabela 4, a maioria dos explosivos varia sua densidade entre 0,8 a 1,7g/cm3.
Velocidade de detonação
A velocidade de detonação é uma propriedade de extrema importância nas operações de mina, pois
determina se o explosivo é adequado ou não para determinada condição da rocha. Rochas duras, por
exemplo, requerem um explosivo de elevada velocidade de detonação. Já rochas brandas ou plásticas, se
fragmentam com velocidades menores, podendo ser utilizado um explosivo de baixa velocidade.
Pressão de detonação
É a propriedade que mede a pressão da onda de detonação quando esta caminha ao longo da coluna
de explosivo. Conforme podemos notar, é calculada em função da densidade e velocidade de detonação.
Pd = K x V2 x D
Em que,
Pd = Pressão de detonação (Pa)
K = constante de valor igual a 0,25
V = Velocidade de detonação (m/s)
D = densidade do explosivo (Kg/m3)
O grau de fraturamento da rocha depende diretamente do valor da pressão de detonação. A pressão
que gera a onda é responsável pela fratura do maciço rochoso.
Resistência do explosivo
É a capacidade que o explosivo tem de resistir às condições adversas do meio.
A resistência à água, por exemplo, é a propriedade que mede o período que o produto pode ficar
exposto à água sem comprometer seu desempenho e alterar suas características.
A resistência ao armazenamento está relacionada com a data de validade do explosivo, ou seja, é a
capacidade que o material tem de ficar estocado sem se deteriorar e/ou se decompor.
A resistência ao choque avalia a possibilidade de detonação do explosivo pelo choque que será
provocado.
Sensibilidade
A sensibilidade é outra propriedade dos explosivos muito relevante, pois determina a capacidade que
o produto tem de detonar em virtude de uma determinada condição, ou seja, é a susceptibilidade do ex-
plosivo à iniciação.
Os explosivos podem ser sensíveis não só aos iniciadores, mas ao choque, à fricção, ao calor e até ao di-
âmetro do furo. Por isso, conhecer a sensibilidade dos produtos, que estão operando, é vital para que todo
operador possa evitar acidentes, bem como assegurar a segurança dos trabalhadores.
5 PERFURAÇÃO E DESMONTE
123
Como vimos, os explosivos devem apresentar um grau de estabilidade química mínima que permita
o seu manuseio de forma segura até o momento desejado da detonação. Porém, você já pensou como
promover ou desencadear a detonação após esses explosivos serem inseridos no interior dos furos?
Uma energia de ativação é necessária para dar início à detonação, e, consequentemente, à formação
dos gases. Os acessórios de detonação são os artefatos responsáveis por essa ação. Eles se classificam em:
iniciadores e retardos.
Conforme o nome já sugere, os iniciadores têm a função de provocar a detonação inicial dos explosivos
de forma segura e eficaz, e/ou promover a ligação dos diversos furos a detonar em frentes de lavra.
Já os retardos são responsáveis por retardar a detonação, quando esse efeito for desejável. Criam uma
diferença de tempo (retardo) entre dois segmentos de detonação, e/ou entre furos vizinhos. Além disso,
auxiliam a controlar as reações químicas que ocorrem dentro do furo, de forma que não ocorram de manei-
ra desordenada e/ou coloquem em risco a segurança dos operadores e das instalações.
Vamos conhecer os principais acessórios de detonação empregados na mineração?!
Estopim
Conhecido também como estopim de segurança, é um acessório que tem como objetivo conduzir cha-
ma com velocidade uniforme de queima (em torno de 140 segundos por metro) para a iniciação de cargas,
como a pólvora ou detonação da espoleta simples.
Sua estrutura é composta por um núcleo de pólvora negra enrolada por materiais têxteis, os quais ainda
são revestidos por um plástico, visando à proteção e impermeabilização desse acessório (Figura 78).
Filete de Pólvora
Fios de Algodão
Revestimento de Plástico
O manuseio do estopim não oferece muitos riscos, porém devem-se evitar dobras e torções, ou qual-
quer tratamento que possa danificar seu núcleo ativo.
A sua ativação pode ser realizada por meio de palitos de fósforos ao encostar a chama em uma das ex-
tremidades da pólvora. Quando é necessário iniciar diversos estopins, usam-se recursos mais energéticos
como o acendedor de chumbo ou de vareta.
DESENVOLVIMENTO DE MINA E LAVRA
124
Espoletas
São acessórios destinados a iniciar explosivos de elevado grau de detonação. Podem ser divididos em
espoleta simples, elétrica, de retardo e eletrônica.
Espoleta simples
É um acessório iniciador formado por um tubo de alumínio ou cobre, com uma das extremidades aber-
ta, contendo duas cargas: uma primária, formada por azida de chumbo, e uma carga básica de nitropenta
(C2H4N2O6). Observe esse acessório na Figura 79.
Carga Primária
15,0mm
45,0mm
O espaço vazio é destinado ao amolgamento, isto é, a junção da espoleta ao estopim, o qual é o res-
ponsável pela iniciação da carga primária, que, por sua vez, aciona a nitropenta, e, assim, toda a carga
explosiva é detonada.
Nos últimos anos, devido ao risco da operação de amolgamento, a carga já vem pronta do fornecedor,
evitando a realização dessa operação dentro das minerações.
O estopim deve ser bem acoplado à espoleta, pois, caso contrário, o processo de iniciação pode
ser comprometido. A sua superfície perpendicular deve estar toda encostada na carga fixa conforme
demonstra a Figura 80.
Amolgamento correto
Figura 80 - Amolgamento
Fonte: Adaptado de ORICA MINING SERVICES, [20-?].
5 PERFURAÇÃO E DESMONTE
125
Espoleta elétrica
São espoletas acionadas por meio de uma corrente elétrica. Possuem um dispositivo que forma uma
ponte elétrica de alta resistência, similar às lâmpadas de filamento que, por meio da passagem de corrente
elétrica, aquecem e entram em combustão (Figura 81).
O efeito é instantâneo, isto é, detonam-se diversas cargas simultaneamente. A intensidade da corrente
é o elemento que determina a ruptura da ponte e, consequentemente, da detonação, a qual se fará com
maior ou menor rapidez.
A grande vantagem é que podem ser acionadas à distância, possibilitando uma maior segurança para
os operadores quando comparada com as espoletas simples (Figura 82).
Espoleta de retardo
As espoletas de retardo são semelhantes às espoletas elétricas, porém possuem um elemento de retar-
do responsável por ocasionar o atraso da detonação em um intervalo conhecido. Uma carga pirotécnica de
retardo de queima lenta é adicionada entre a cabeça do acessório e a carga secundária de forma a retardar
o tempo entre o pulso da corrente elétrica e a iniciação da detonação, conforme observado na Figura 83.
Elemento de retardo
As vantagens do uso deste tipo de espoleta são: a maior fragmentação da rocha, a redução dos abalos
dos sísmicos, a direção calculada da rocha detonada e de séries mais extensas de furos e o melhor arran-
chamento do material, principalmente em túneis.
Espoleta eletrônica
São espoletas que empregam alta tecnologia, melhorando significativamente o desempenho das
operações de desmonte. Composto basicamente por dois componentes, a espoleta eletrônica e os me-
canismos computadorizados de acionamento, esse acessório de iniciação proporciona maior segurança,
precisão nos ajustes de tempo (podendo ser de 0 a 8000 milissegundos) e flexibilidade quando compa-
rado com as demais espoletas.
A grande desvantagem desse sistema eletrônico é o elevado custo de implementação e aquisição.
Logo, essas espoletas são utilizadas somente em situações especiais, em que se faz necessário um controle
rigoroso dos tempos de retardo por meio do hardware eletrônico.
Cordel detonante
É um dos acessórios mais utilizados na iniciação de explosivos, principalmente em grandes volumes de
escavação de rocha a céu aberto, em virtude da simplicidade que apresenta, segurança e eficácia.
O cordel é basicamente constituído por um tubo de plástico com núcleo explosivo de alta velocidade
(7000m/s) formado pela nitropenta. O núcleo é envolvido por fios de algodão e plástico que oferecem ao
acessório melhor confinamento, resistência mecânica e resistência à água.
De acordo com a gramatura da carga que possui em seu núcleo, ou seja, a quantidade de nitropenta por
metro, as principais classificações dos cordéis são as observadas no Quadro 9:
Geralmente, esse acessório é colocado no furo juntamente com o carregamento do explosivo, e tam-
bém utilizado para interligar todos os furos, formando um circuito único de iniciação.
O acionamento, então, de todo circuito é realizado com espoletas simples ou elétricas que são fixadas
por meio de fitas adesivas ou amarradas em sua parte ativa na direção da detonação (Figura 84).
Fita Adesiva
Cordel Espoleta
SENTIDO DA DETONAÇÃO
Figura 84 - Esquema de um cordel detonante fixado com espoleta por meio de fita adesiva
Fonte: Adaptado de ORICA MINING SERVICES, [20-?]
5 PERFURAÇÃO E DESMONTE
127
Booster (reforçador)
Você já pensou que, às vezes, quando os furos são de grandes diâmetros ou ainda para explosivos de
baixa sensibilidade, como o ANFO, por exemplo, a energia fornecida por um iniciador pode ser ineficiente?
A onda de detonação, à medida que avança ao longo da coluna de carga, é enfraquecida, podendo
gerar uma detonação ineficiente, e, consequentemente, prejudicar a operação de desmonte.
Dessa forma, os reforçadores, conhecidos também do inglês como booster (Figura 86), são os aces-
sórios empregados com função de aumentar a sensibilidade de um explosivo e auxiliar a operação de
detonação.
A escolha de um reforçador depende diretamente do diâmetro do furo, do explosivo a ser iniciado e do
grau de confinamento. Geralmente, emprega-se de um a dois reforçadores (cartuchos cilíndricos) que são
alocados no fundo e/ou no meio do furo, interligados, por exemplo, pelo cordel detonante.
DESENVOLVIMENTO DE MINA E LAVRA
128
Figura 86 - Booster
Fonte: SENAI/MG, 2017.
Sistema Nonel
Conhecido também como sistema silencioso, o sistema Nonel apresenta como principal característica a
iniciação ou ligação de furos por meio de sistema não elétrico de tubo de choque.
O sistema é composto por uma espoleta que é acionada por pressão. Formado por tubetes de plásticos
de pequeno diâmetro e com comprimentos variados, em função da profundidade e distância dos furos, os
gases que são colocados em seu interior, ao serem comprimidos acionam a espoleta que foi alocada no
interior do furo.
Além, de o processo ser mais silencioso, o sistema Nonel apresenta maior segurança e menores impac-
tos ambientais quando comparado com os outros sistemas.
Você já deve ter imaginado que o transporte e o manuseio dos explosivos e acessórios não são tarefas
fáceis, e muito menos seguras, não é mesmo? Porém, você sabia que a utilização dos explosivos no nosso
país não configura entre as principais causas de acidentes de trabalho?
Existem algumas ocorrências de acidentes com explosivos ocasionados pelo acionamento de espole-
tas elétricas espontâneas em virtude do mau tempo (raios). Contudo, essa não é a principal causa. O fator
preocupante é que a maioria dos acidentes com o transporte e manuseio de explosivos ocorre por falhas
humanas em virtude da negligência das normas e das leis que regem essa atividade.
A seguir, apresentamos algumas ações que devem ser tomadas durante a operação com explosivos:
• Os explosivos devem ser sempre transportados separadamente dos acessórios, a fim de evitar uma
possível iniciação, e depositados em locais de serviço distintos;
• O transporte dos explosivos do armazém até as frentes de lavra e/ou galerias deve ser realizado após
a retirada das máquinas;
• Os veículos de transporte devem ser especializados e estar sempre em boas condições: com bons
freios e com os sistemas elétricos isolados;
5 PERFURAÇÃO E DESMONTE
129
Como você já deve saber, os depósitos são construções destinadas ao armazenamento de explosivos,
acessórios (iniciadores ou retardos), petrechos, entre outros. Podem ser classificados em duas categorias:
• Depósitos rústicos: são aqueles de construção simplificada, em que a renovação do estoque é cons-
tante; geralmente, são construídos de paredes comuns de alvenaria, ventilação natural, piso cimenta-
do e laje de concreto ou telhas, podendo ser fixos ou móveis. São comuns para depósitos em áreas de
demolições, como em pedreiras e em áreas de desmonte.
• Depósitos aprimorados: também conhecidos como paióis, são depósitos que visam à armazenagem
do produto por um longo tempo. São construídos de paredes de alvenaria ou concreto duplas com
ventilação especial que possibilite a permanência prolongada do material estocado.
Os depósitos de explosivos e acessórios devem, necessariamente:
• Ser localizados em terrenos firmes, secos, sem mudanças de temperatura e vento;
• Estar afastados, de acordo com as distâncias especificadas nas normas, de centros povoados, rodovias,
ferrovias, entre outros;
• Obedecer à capacidade máxima de estocagem que é em função das dimensões do depósito;
• Ter disponíveis e de fácil acesso os dispositivos de combate a incêndios;
• Ser acessíveis aos meios comuns de transporte;
• Obedecer à sinalização adequada conforme os ditames das normas e das leis vigentes;
• Possuir piso impermeabilizado e acabamento liso de forma a evitar faíscas;
• No caso de paióis, ser protegidos por para-raios;
• Conter instalação de termômetros e psicrômetros29 que monitorem e controlem as condições do meio;
• Armazenar as caixas de produtos sobre paletes de madeira evitando o contato com o chão (Figura 87);
• Respeitar a altura máxima de empilhamento que é 2 metros e a distância de afastamento entre o teto
(0,7metros) e entre filas (0,6 metros);
• Estocar os lotes de explosivos e acessórios mais antigos na frente, e consumi-los em primeiro lugar.
@istockphoto.com/Gerastd
29 Psicrômetro: instrumento usado para determinar o estado higrométrico da atmosfera, ou seja, a quantidade de vapor existente nela.
5 PERFURAÇÃO E DESMONTE
131
É importante ressaltar, ainda, que a armazenagem de explosivos e acessórios deve ser realizada em
depósitos distintos. Uma iniciação indesejada de um acessório poderia gerar um acidente de grandes
proporções, caso os explosivos estejam armazenados no mesmo paiol.
Em adição, em minerações que utilizam o ANFO, ou seja, explosivos a base de nitrato de amônio,
torna-se necessário ter-se um terceiro depósito para o armazenamento desse produto separadamente.
O nitrato de amônio, em contato com óleos combustíveis, lubrificantes, ou ainda, quando aquecido ou
confinado, torna-se um detonante de elevado grau. Por essas razões, é fundamental armazená-lo separa-
damente de outros componentes e intensificar o controle das condições ambientais do depósito.
Desmontar uma bancada por detonação não é uma tarefa tão fácil, não é mesmo?! É necessário conhe-
cer as diversas propriedades da rocha que se deseja fragmentar, escolher o tipo de explosivo e acessório a
ser aplicado e muito mais.
Todo planejamento de uma detonação envolve a consideração de uma série de parâmetros que in-
fluenciam diretamente o resultado do desmonte. Após a escolha dos explosivos a serem empregados,
devem-se, ainda, dimensionar as cargas e o arranjo geométrico no maciço, determinar a sequência de
detonação, definir os elementos de fogo, como profundidade do furo, afastamento, entre outros.
A esse conjunto de fatores denominamos Plano de Fogo (o qual veremos nas próximas seções) que é
constituído pelo carregamento de fogo e elementos de fogo.
O carregamento do fogo é a introdução dos explosivos nas perfurações realizadas previamente no ma-
ciço rochoso para que este seja detonado e desmontado. Siga em frente para aprendermos sobre as vari-
áveis dessa operação. Vamos lá?!
Após os furos serem executados de acordo com as dimensões estabelecidas pelo plano de fogo, as
cargas explosivas já calculadas devem ser alojadas dentro dos furos. Existem duas formas de fazer a distri-
buição dos explosivos por furo: manualmente ou mecanicamente.
• Operação manual: colocam-se os explosivos no furo e o adensamento é realizado por soque, isto
é, pressiona-se o material por meio do auxílio de uma haste de madeira ou material não condutor
(atacador); normalmente é prática empregada para furos de pequenos diâmetros e explosivos encar-
tuchados, tais como as emulsões. Muitas vezes, realizam-se pequenos cortes longitudinais nos cartu-
chos para ocuparem o máximo de volume no furo.
DESENVOLVIMENTO DE MINA E LAVRA
132
Devemos lembrar que a espoleta ou cordel detonante nunca devem ser forçados
FIQUE ou socados, sem antes existir um cartucho como amortecedor. Dependendo
ALERTA do impacto que sofra, a espoleta pode detonar-se antes do previsto, podendo
ocasionar seríssimos acidentes.
• Operação mecânica: os explosivos são introduzidos nos furos por meio de um sistema pneumático;
utiliza-se um tubo de polietileno ou metálico dentro do furo para conduzir o material até o fundo, e,
assim, com o ar comprimido manter a pressão desejada, e, consequentemente, o adensamento do
material. É a técnica mais utilizada, principalmente por fornecer maiores densidades ao carregamen-
to, podendo ser empregada tanto em cartuchos como para a alocação direta de emulsões.
Assim como a estocagem, o manuseio e o transporte dos explosivos requerem certas precauções.
A eficiência da operação de carregamento dos furos também depende de alguns cuidados especiais,
tais como:
• Limpeza criteriosa dos furos, a fim de eliminar os detritos da perfuração e a água; utiliza-se ar compri-
mido com ‘’espingardas’’ confeccionadas de tubos apropriados para execução de tal tarefa;
• O diâmetro do furo deve ser sempre ligeiramente superior ao dos cartuchos de explosivos em uso;
• No caso de distribuição manual dos explosivos, os cartuchos devem ser introduzidos com compacta-
dores adequados, de forma a evitar choques e/ou movimentos bruscos;
• O atacador, isto é, o bastão para empurrar a carga até o fundo do furo, deve necessariamente ser de
madeira ou de qualquer outro material que não produza faísca ou descarga elétrica quando em con-
tato com os explosivos ou paredes do furo;
• Em terrenos em que a umidade é alta, ou ainda em situações em que não é possível remover toda água
presente no interior dos furos, os cartuchos devem ser feitos de um material impermeável;
• Os cartuchos escorvados30 devem sempre ser colocados numa das extremidades da carga com o fun-
do do detonador voltado para ela;
• Em operações de desmontes em céu aberto, quando necessário, é preciso cobrir os furos com mate-
rial adequado, a fim de minimizar as projeções das partículas na detonação;
• Colocação dos cartuchos sempre em contato com o detonador, ou iniciador de forma a garantir a
detonação de toda a coluna;
• Em caso de encravamento de furos, utilizar o equipamento para desencravamento, desde que não se
tenha ainda carregado nenhum dos furos;
• As emulsões bombeadas ou com ANFO devem ser introduzidas com muito cuidado a fim de evitar
vazios de carga explosiva na coluna;
30 Cartuchos escorvados: explosivos que já estão conectados com um iniciador; escorvamento é a operação de colocação de
iniciador em uma carga explosiva a fim de torná-la apta para a detonação.
5 PERFURAÇÃO E DESMONTE
133
• A profundidade de cada furo deve ser conferida e estar de acordo com o estabelecido no plano de
fogo, preenchendo-se os furos mais longos do que o projetado com material estéril e perfurando os
furos mais curtos.
Veremos, a seguir, que o carregamento de um furo, normalmente, é realizado em três etapas: carga de
fundo, carga de coluna e tampão, como observa-se na Figura 88.
Tampão
IT = A
Carga de coluna
I C - HI - 2,3 A
Carga de fundo
I F = 1,3 A
Legenda:
A = Afastamento
Hcf = A*1,3
ou
Hcf = 0,3 HT
Em que,
Hcf = altura da carga de fundo (metros)
A = afastamento (metros)
HT = altura total da carga de explosivos (metros)
DESENVOLVIMENTO DE MINA E LAVRA
134
Normalmente, a altura da carga de fundo não ultrapassa de 30 a 40% da altura total da carga de explo-
sivos (HT), em que:
HT = Hf – T
ou
HT = Hcc + Hcf
Sendo,
HT = altura total da carga explosiva (metros)
Hf =profundidade total do furo (metros)
T = altura da camada de tamponamento
A tendência, em função dos resultados que se obtém pela prática dos desmontes, é reduzir cada vez
mais as cargas de fundo devido ao elevado custo que apresentam comparados com os explosivos utiliza-
dos em coluna.
Devemos ressaltar que, em detonações de várias linhas de furos de uma só vez, é necessário carregar os
furos mais distantes da face com quantidades maiores de explosivos de carga de fundo. Como esses furos
estão mais afastados da superfície livre e necessitam ainda empurrar o material detonado nas primeiras
linhas, realizam um trabalho maior, o que requer consequentemente, uma energia maior.
É a carga acima da carga de fundo, constituída por explosivos de moderada velocidade de detonação,
e de baixa a média densidade, com concentrações geralmente de 40 a 50% da concentração da carga de
fundo, como os nitrocarbonitratos.
A carga de coluna pode ser calculada como:
Hcc = HT – 2,3A
ou ainda,
Hcc = 0,7HT
Lembrando que,
Hcc = altura da carga de coluna (metros)
HT = altura total da carga se explosivos (metros)
A = afastamento (metros)
A distribuição da carga de coluna no interior do furo, quando viável, pode ser realizada com espaçado-
res de material inerte, de 3 em 3 metros, por exemplo. Além disso, como vimos, o emprego de ‘’boosters’’
(reforçadores) é também muito comum na coluna para auxiliar a operação de detonação dos explosivos
5 PERFURAÇÃO E DESMONTE
135
T = 0,7 A ou até T= A
Em que,
T = altura do tamponamento (metros)
A = afastamento (metros)
Geralmente, para rochas maciças e muito resistentes usa-se o valor de T= 0,7A. Para as demais, o valor
considerado é T=A.
O material que serve de tampão deve oferecer a maior resistência possível para a expulsão dos gases,
sendo utilizados principalmente a areia, o pó de pedra, a argila, e em alguns casos especiais a brita.
O primeiro método é mais arriscado, uma vez que a espoleta fica solta dentro do cartucho. Ao contrário,
o segundo método é mais seguro já que a espoleta não tem como sair, pois fica bem fixada ao explosivo.
Assim, o cartucho explosivo escorvado deve ser o último a entrar no furo, mantendo sempre a espoleta
apontada para o fundo do furo (Figura 90).
Tampão
Cartucho-escorva
Após carregamento de todos os furos com o cartucho-escorva, os estopins são acesos por lampari-
nas ou, ainda, por outro pedaço de estopim. Deve-se ter muito cuidado para acender todos os estopins.
Ao contrário, se uma espoleta não for acendida, tem-se o risco de uma detonação espontânea enquanto
os operadores estejam trabalhando.
Já as espoletas elétricas, isto é, que são acionadas com dispositivos elétricos, tem-se o carregamento
de fogo projetado com circuitos elétricos. Nesse tipo de iniciação de fogo, é fundamental que o pessoal
responsável tenha vasta experiência na área de eletrônica e elétrica (Figura 91).
5 PERFURAÇÃO E DESMONTE
137
LIGAÇÃO EM SÉRIE
6 5 4 3 2 1
Linha de corrente
Explosor
Deve-se escolher o projeto elétrico adequado, fazer o cálculo de rede e as ligações dos fios de proteção
e emendas, verificar e testar o circuito e ainda fazer a proteção do circuito contra eletricidades externas,
fogo, entre outros.
É imprescindível ainda, nessa montagem, que o manuseio das espoletas, o preparo dos cartuchos
escorvas, as emendas diversas e as ligações sejam perfeitos e criteriosamente verificados com aparelhos
apropriados visando evitar possíveis ‘’fogos falhados’’ (falhas do sistema elétrico).
Os retardos permitem que as cargas explosivas detonem em intervalos de tempo diferentes, originando
uma sequência de detonação dos furos em um plano de fogo. Mas como então podemos empregá-los?
Qual o efeito na fragmentação do maciço rochoso?
Pois bem, dependendo das condições do terreno, tipo de rochas, entre outros fatores, os retardos po-
dem ser aplicados de duas formas no plano de fogo: em uma mesma linha de furos ou entre linhas de furos.
Quando utilizados na mesma linha de furos, do inglês inter hole delay, temos as seguintes consequências:
• Criam-se faces livres entre furos vizinhos, melhorando sensivelmente a fragmentação do material;
• Reduz-se a distância de particulados na direção horizontal;
• Reduzem-se diretamente os valores de vibração do terreno e sobrepressão acústica.
Os retardos empregados entre furos não podem ter tempos muito pequenos, pois praticamente não
produzem nenhum efeito. Os valores aconselháveis são entre 15 a 25 ms (milissegundos).
Já quando os retardos são empregados entre linhas distintas de furos, obtemos:
• Um alívio no ‘’peso’’ da rocha a ser deslocada pela linha de trás, uma vez que se torna mais fácil
arremessar o material a sua frente, e, como consequência, tem-se uma pilha de material detonado
mais espalhada e baixa.
DESENVOLVIMENTO DE MINA E LAVRA
138
• Em virtude do alívio, tem-se também uma melhora do arranque da detonação no fundo do furo,
reduzindo os problemas no repé31.
• Redução da ultra quebra (quebra excessiva), devido também à diminuição do ‘’peso’’;
• Redução das ondas de choque, consequentemente diminuição da vibração de terreno, uma vez que
essas são dispersadas no maciço devido à diferença de tempos de detonação entre as linhas.
Para os retardos entre linhas, podemos dizer que, quanto maior os tempos de retardo aplicados, maior
será o alívio obtido.
Agora que já aprendemos sobre a aplicação dos retardos, podemos conhecer melhor sobre a amarração
de fogo, que se refere à sequência de iniciação dos explosivos e à disposição que os retardos devem
ter no plano fogo.
Você sabia que o resultado do desmonte, quando se tem diversos furos, depende diretamente da
interação entre eles? A sequência na qual os furos são iniciados e o intervalo de tempo entre as detona-
ções sucessivas têm uma grande influência no desempenho total do desmonte.
A amarração do fogo pode ser realizada de várias maneiras, uma vez que está atrelada a diversos fatores
que compõem o plano de fogo, como:
• Propriedades do maciço rochoso;
• Geometria do desmonte (disponibilidade de faces livres, afastamento, altura da bancada, entre outros);
• Diâmetro, inclinação e comprimento do furo;
• Altura da coluna de tamponamento e tipo de tamponamento empregado;
• Características do explosivo;
• Sistemas de iniciação;
• Tipo de escorva;
• Restrições ambientais (nível máximo de vibrações permitidas pelo terreno);
• Resultados desejados (nível de fragmentação desejada, deslocamento da pilha de fragmentos, entre
outros).
Apesar de não ser uma ‘’fórmula específica’’ para a amarração do fogo, objetiva-se sempre controlar a
sequência de detonação, em intervalos de tempo adequadamente espaçados para se otimizar o processo.
O importante é projetar a detonação para formação da pilha de fragmentados de acordo com a área
disponível, o grau de quebra desejada, o número de faces livres, entre outros.
Vejamos alguns exemplos. A Figura 92 demonstra uma amarração em linha que favorece o lançamento
e arranque do pé da bancada.
31 Repé: rocha ou bloco na parte inferior da bancada que não foi fragmentado no processo de detonação primário, requerendo
muitas vezes, um novo plano de fogo para seu desmonte.
5 PERFURAÇÃO E DESMONTE
139
70 60 60 60 60 60 60 60 60 60
30 30 30 30 30 30 30
10 0 0 0 0 0 0 0 0
FRENTE
Estopim Espoletado
Retardo p/Cordel de 10ms
Retardo p/Cordel de 30ms
Cordel NP-10 (NP-05)
Furo
Face da Bancada (Crista)
Pelo esquema, podemos notar que a primeira linha de furos irá detonar, seguida da segunda linha de
furos após 30ms. Depois de 60ms da primeira detonação, será a vez da terceira linha furos, que tem um
retardo de tempo relacionado com a segunda linha de furos em 30ms.
Em adição, podemos observar que retardos também foram colocados no canto esquerdo da bancada,
porção mais engastada comparada com o lado direito, para gerar um maior alívio na frente desses furos
melhorando o arranque do maciço e reduzindo a quebra excessiva na lateral.
Na Figura 93, notamos outro tipo de amarração, em “V” aberto. Esse tipo de configuração fornece uma
excelente fragmentação em virtude da redução do afastamento efetivo e a redução do ângulo entre as
diagonais e fileiras de furos, que resultam na diminuição da ultra quebra.
50 50 40 30 30 40 50 60 60
40 30 20 10 20 30 40 50
30 20 20 30 40
10 10
Estopim Espoletado
Retardo p/Cordel de 10ms
Cordel NP-10 (NP-05)
Furo
Face da Bancada (Crista)
Muitas vezes, as amarrações também são projetadas de forma a proteger determinada estrutura local,
evitando um possível ultralançamento das partículas de detonação. Na Figura 94, podemos observar que
a sequência de detonação é planejada de forma a direcionar o lançamento na diagonal oposta do local
habitacional.
DESENVOLVIMENTO DE MINA E LAVRA
140
Direção de lançamento
Local a proteger
Estopim Espoletado
Retardo p/Cordel de 50ms
Cordel NP-10 (NP-05)
Furo
Face da Bancada (Crista)
5.7.9 DETONAÇÃO
A detonação refere-se ao processo de fragmentação da rocha por meio do uso de explosivos. É muito
importante entender como esse processo é realizado para se conseguir bons resultados, seja em relação à
segurança, quanto à própria fragmentação ou na disposição da pilha do material detonado.
O processo pode ser descrito em duas fases distintas:
1) Fase 1: o explosivo, ao ser detonado dentro do furo, muda de estado físico em milésimos de segun-
dos, gerando altíssimas pressões, que são transmitidas por todo maciço rochoso em forma de ondas de
choque com velocidade de 2000 a 6000m/s causando as fraturas na rocha; à medida que a onda de choque
caminha pelo maciço rochoso, a capacidade de deformação cai em intensidade;
2) Fase 2: os gases, formados pela reação, adquirem elevadas pressões e temperaturas (2500 a 4000°),
transportando energia termodinâmica nas fraturas já então abertas; ocasionando fraturas por flexões.
Podemos dizer que o processo da onda de choque e a ruptura da rocha são similares ao jogo de bolas de
bilhar. Quando se joga uma bola contra a primeira da fila, o choque aplicado é transmitido de bola em bola
até que haja o deslocamento da última bola à frente, a qual se movimenta por não encontrar nenhuma
resistência à sua frente (Figura 95).
5 PERFURAÇÃO E DESMONTE
141
Da mesma forma ocorre no interior do furo. A parede do furo corresponde à primeira bola que recebe
o choque, transmitindo às demais partículas que compõem a rocha, até chegar na face livre da bancada, a
qual se deslocará (Figura 96).
As primeiras ondas de choque que se propagam no maciço rochoso são cilíndricas, de forma a triturar
ou pulverizar a rocha formando fissuras radiais. Já, quando a onda de choque atinge a(s) face(s) livre(s),
geram-se ondas de tração e de corte que também fragmentam o material de modo a descamá-lo, por isso,
conhecido também como descamação periférica.
E por fim, com a detonação, a formação dos gases exerce uma tensão sobre o material rochoso e as
fissuras abertas, fragmentando o maciço rochoso por meio da ruptura por flexão. Podemos notar que,
a ação dos explosivos se deve ao conjunto de diversos efeitos que ocorrem em milésimos de segundo
dentro do furo. Observamos na Figura 97, resumidamente um passo a passo do processo de detonação.
DESENVOLVIMENTO DE MINA E LAVRA
142
ESPAÇAMENTO
FASE V FRAGMENTAÇÃO
POR COLISÃO
ANEL DE ROCHA
ZONA DE INTENSO PULVERIZADA
FRATURAMENTO RADIAL
FASE III
FACE LIVRE
FACE LIVRE
ORIGINAL
ONDAS DE CHOQUE
REFLETIDA
A pilha fragmentada, formada pelo processo de detonação, bem como a preservação do maciço re-
manescente, dependem de diversos fatores, são eles: tempo de confinamento dos gases no interior dos
furos até o escape pelas fissuras, amarração de fogo adotada, volume de gases gerados em virtude da
quantidade de explosivos empregada e geometria do plano de fogo.
Detonação secundária
O processo de desmonte por explosivos envolve diversos aspectos e variáveis, tornando-se um pouco
complexo. Por essa razão, algumas vezes, a detonação primária, ou seja, a detonação principal, não é sufi-
ciente, por si só, para se obter o nível de fragmentação desejado da rocha.
Após a detonação, devido principalmente às irregularidades das rochas, podem-se formar grandes blo-
cos, chamados de matacões, os quais ainda não têm o tamanho adequado para uma britagem primária,
necessitando assim, de uma segunda detonação.
O método de bloco perfurado é usualmente bastante empregado para a detonação secundária.
Perfura-se o matacão com martelete e carrega-se o furo somente com a quantidade de carga suficiente
para produzir a fragmentação desejada (Figura 98).
Estopim simples
Explosivo Tampão
Espoleta comum
Algumas vezes, quando não se dispõe de material de perfuração ou quando a rocha é muito dura, di-
ficultando a operação, pode-se usar o método conhecido como ‘’João de Barro” para a fragmentação dos
matacões. Como o próprio nome sugere, o método visa formar uma casinha, similar à do joão de barro,
para acoplar o explosivo na superfície do bloco.
Em quantidades adequadas, o explosivo é adicionado à superfície do bloco, e coberto, então, com um
material inerte como a areia. Assim, com a detonação, a onda de choque gerada fragmenta o ‘’matacão’’ em
questão (Figura 99).
7,5 a 10 cm de argila
Estopim
Espoleta comum
Explosivo
O denominado “Buraco de cobra’’ é outro método, também muito empregado, quando parte do mata-
cão se encontra enterrado. Consiste em cavar um buraco na lateral do bloco, para inserção do explosivo, de
forma que o ‘’matacão’’ e o explosivo fiquem em contato. Normalmente, usa-se uma carga de cerca de um
a dois cartuchos para cada 30 cm de espessura do bloco a ser detonado (Figura 100).
Estopim
Tampão
Espoleta comum
Explosivo
Algumas vezes ainda, quando a detonação primária é ineficiente, gerando um arranque da rocha no
nível da praça incompleto, podem-se originar saliências as quais denominamos repé. Logo, uma nova de-
tonação, conhecida como Fogo de Repé, é necessária para a fragmentação do repé formado.
DESENVOLVIMENTO DE MINA E LAVRA
144
Como vimos, os gases são formados em virtude da reação química que ocorre no processo de detona-
ção, e que está diretamente relacionado ao desempenho desse processo.
Você sabia que os gases devem ser mantidos no interior da rocha pelo maior tempo possível? Quanto
maior a pressão exercida pelos gases nas paredes dos furos, maior será o efeito da detonação do maciço
rochoso. Se a dissipação dos gases for extremamente rápida, a pressão do interior do furo é reduzida, afe-
tando o processo de fragmentação da rocha.
Com a detonação, os pequenos furos, antes com explosivos, são preenchidos pelo imenso volume de
gases formados à alta temperatura. Os gases, então, exercem uma enorme pressão nas paredes dos furos
se espalhando pelas fraturas já existentes, formadas pela onda de choque.
Como a pressão é elevadíssima no interior do furo, a rocha expande como se inflasse até a fratura por re-
flexão do maciço. Podemos dizer que o efeito é similar ao do enchimento de um balão até que ele estoure.
Assim, os fragmentos rochosos são lançados pela dissipação dos gases, podendo ocorrer ainda algum
fraturamento devido à colisão das partículas no momento do lançamento (Figura 101).
@istockphoto.com/Wandee007
Para toda avaliação de desmonte, deve-se também analisar se todas as condições de segurança e os
aspectos ambientais foram cumpridos adequadamente, ou até mesmo se atingiram valores próximos dos
permitidos, configurando um ponto de atenção para a próxima detonação.
Após a detonação, você saberia dizer como é o procedimento para liberação da área desmontada?
Pois bem, o retorno das atividades na área detonada só é permitido pelo pessoal autorizado e respon-
sável, após realizarem algumas ações, como:
• Análise da dissipação dos gases e poeiras, observando o tempo mínimo estipulado no projeto de
ventilação (principalmente em minas subterrâneas) e plano de fogo;
• Teste e confirmação da estabilidade da área, de forma a garantir a segurança dos trabalhadores e
maquinários;
• Marcação e eliminação dos fogos falhados.
Infelizmente, assim como em qualquer outro processo, falhas podem existir e alguns furos podem ficar
sem detonar na operação de desmonte por explosivos, apresentando um grande risco para as pessoas que
irão operar posteriormente naquela região.
Dessa forma, quando os denominados furos falhados forem detectados, a área deve ser imediatamente
isolada, ou o trabalho interrompido, até que o perigo seja eliminado.
Geralmente, tentam-se detonar os furos novamente, escorvando a carga explosiva, quando possível,
com dispositivos que não produzam faíscas. Caso contrário, o procedimento mais indicado é adicionar
água para neutralizar a carga, e utilizar uma espingarda de ar comprimido, não metálica, de forma a soprar
os explosivos remanescentes e limpar o furo.
Agora que você já aprendeu sobre as etapas do processo detonação, podemos estudar os elementos
que compõem o plano de fogo e suas variáveis. E então, vamos lá?!
Como os principais desmontes de rochas com uso de explosivos ocorrem em céu aberto, iremos dar
uma ênfase maior para esse tipo de desmonte, conhecido também como desmonte em bancadas.
As bancadas a serem escavadas devem ser planejadas e projetadas desde o início dos processos da
mina, pois interferem diretamente nas operações de perfuração, detonação, carga e transporte da rocha
detonada.
DESENVOLVIMENTO DE MINA E LAVRA
146
Pode-se definir uma bancada a ser desmontada por três planos de corte, dois horizontais e um vertical.
O plano horizontal superior é o topo da bancada; o inferior é o pé, local no qual se situa a praça; e o plano
vertical é a face (frente) livre da bancada (Figura 102).
Topo
H
Face
Praça
Para que sejam possíveis a perfuração, o carregamento dos explosivos, a detonação, e consequente-
mente o desmonte de uma bancada, diversos elementos devem ser definidos no plano de fogo, tais como:
diâmetro das perfurações, afastamento, espaçamento, inclinação ou não da face da bancada, altura da
bancada, profundidade das perfurações, carga de fundo e de coluna, quantidade de furos e de explosivos
por furo, entre outros.
Na Figura 103, podemos observar resumidamente todos esses elementos que compõem o plano de
fogo do desmonte de uma bancada, os quais estudaremos nas próximas seções.
E
A
DF
FF
UQ
NF
DF
O sucesso da operação de escavação está ligado diretamente à escolha da altura de bancada (Hb)
adequada. Geralmente, consideram-se os seguintes aspectos técnicos e econômicos para a seleção da
altura ideal:
• Condições de estabilidade da rocha que compõe o maciço e a segurança das operações de escavação.
A altura das bancadas pode chegar até 20 metros em condições especiais em algumas pedreiras, mas,
por questões de segurança, o ideal é operar entre 8 a 15 metros;
• Volume de produção almejado, que está diretamente atrelado também ao tipo e ao tamanho dos
equipamentos empregados. Minas de grande porte comumente utilizam bancadas com altura de
15 metros, já minas menores trabalham com bancadas de até 7,5metros.
• Maximização da eficiência de perfuração e desmonte; furos com maior profundidade demandam
mais da operação de perfuração, porém apresentam melhora na fragmentação da rocha. O custo de
ambas as operações pode ser determinado por:
I = q*C + f*M
Em que,
I = custo das operações de perfuração e detonação;
C= consumo de explosivo por m3 de rocha;
M = custo de metro de perfuração de determinado diâmetro;
f = metros de perfuração por m3 de rocha.
O menor valor de ‘’I’’ encontrado corresponde ao menor custo de plano de fogo previsto e a maximiza-
ção das duas operações.
A dimensão dos equipamentos de perfuração, carga e transporte tem uma grande influência na deter-
minação da altura da bancada. As máquinas, necessariamente, devem ser compatíveis com os elementos
do plano de fogo estipulado.
De que adiantaria, por exemplo, determinar uma altura de bancada de 12 metros, se a perfuratriz dis-
ponível é uma Wagon Drill, que tem capacidade de realizar um furo de 3 a 9 metros de profundidade?
Simplesmente, a execução do plano de fogo não seria concretizada da forma planejada e os resultados
seriam prejudicados.
Na Tabela 5, podemos notar exemplo de alguns equipamentos relacionados com suas respectivas ca-
pacidades.
Como você sabe, as praças e estradas de acesso devem ser projetadas de forma a atender o tráfego e a
manobra dos equipamentos de carga e transporte, dependendo também da altura da bancada seleciona-
da. A largura mínima da praça (L) deve ser três vezes maior que o valor da altura da bancada (Hb).
L > 3Hb
Devemos lembrar ainda, que altura da bancada é diferente da altura inclinada da bancada. A altura
inclinada é o valor medido da crista do banco até o pé da bancada, ao longo de uma face inclinada.
A altura da bancada só será igual ao valor da altura inclinada se a frente do banco for vertical (Figura 104).
Hb
H inclinado
A angulação do furo é correspondente ao ângulo de inclinação para bancadas que têm a face inclinada.
Geralmente, o ângulo de inclinação varia entre 0 a 20°, não ultrapassando esses valores por gerar maiores
riscos de desvios e acidentes com as ferramentas de perfuração (Figura 105).
A angulação do furo apresenta algumas vantagens, porém também alguns inconvenientes, quando
comparada com a bancada sem angulação em que o furo é realizado na vertical. A seguir, podemos notar
as principais vantagens:
• Melhor fragmentação da rocha;
• Redução do consumo de explosivos, uma vez que a onda de choque é mais eficiente na base da
bancada;
• Maior segurança para o trabalho e maior estabilidade dos taludes remanescentes;
• Redução da ultraquebra da rocha;
• Aumento na eficiência no arranque do pé da bancada, reduzindo a necessidade de subfuração e
eliminação de repés;
5 PERFURAÇÃO E DESMONTE
149
• Redução das vibrações, uma vez que a onda de choque é mais direcionada para a frente livre;
• Possibilidade de maiores afastamentos e espaçamentos entre os furos.
Já como inconvenientes ou desvantagens da inclinação do furo, temos:
• Maiores chances de ocorrerem desvios na operação de perfuração;
• Maiores cuidados na etapa de emboquilhamento e posicionamento da perfuratriz, acarretando
redução da produtividade da operação;
• Menores velocidades de perfuração;
• Maiores comprimentos de perfuração;
• Maiores desgastes dos acessórios de perfuração.
Nível 01 Nível 01
H H
P P
α
Nível 00
Outro parâmetro muito importante do plano de fogo é a determinação do diâmetro do furo. Conforme
vimos, o diâmetro irá depender dos equipamentos de perfuração, carga e descarga disponíveis, os quais
são selecionados de acordo com as metas de produção estabelecidas.
Quanto maior o diâmetro selecionado, menor a quantidade de furos a serem realizados por metro cúbi-
co de rocha. Apesar disso, o diâmetro do furo (D) deve ser limitado a determinados valores para se evitarem
alguns inconvenientes como: fraturação do maciço rochoso remanescente, elevados níveis de vibrações,
ou projeções de fragmentos rochosos.
O diâmetro do furo, normalmente, varia de 1’’ (uma polegada) podendo chegar até 15’’ (quinze polega-
das) em minerações de grande porte.
Como regra geral, podemos dizer que a altura da bancada deve ser em torno de 2 a 5 vezes o valor do
diâmetro do furo. Dessa forma, pode-se ter uma estimativa razoável do diâmetro do furo correlacionando
os dois parâmetros.
DESENVOLVIMENTO DE MINA E LAVRA
150
É o comprimento total que será perfurado, isto é, altura da bancada acrescida da subfuração.
HF = Hb + S
Em que,
HF = profundidade do furo (metros);
Hb = altura da bancada (metros);
S = comprimento de subfuração (metros).
Se a bancada for inclinada, o comprimento do furo aumenta e deve ser medido em função do ângulo
da inclinação, como:
HF = cos + `1 - 1 00 j S
Hb a
Onde,
α = ângulo de inclinação.
Subfuração
Como o nome já sugere, a subfuração (Figura 106) é uma perfuração ‘’extra’’ do comprimento
perfurado após o nível da altura da bancada (frente livre). É uma extensão do furo necessária para evitar
a formação de repés.
Nível 01
Subfuração
Os explosivos mais densos e velozes são concentrados nessa região, uma vez que se trata da zona de
maior compactação da rocha. O comprimento da subfuração é variável de acordo com o diâmetro, a incli-
nação do furo e o afastamento entre linhas, podendo ser estipulado por:
5 PERFURAÇÃO E DESMONTE
151
S = 0,3 A
Em que,
S = comprimento de subfuração (metros);
A = afastamento (metros).
Se a subfuração for ineficiente, a detonação não irá fragmentar de forma adequada a rocha na base da
bancada, gerando os repés, e consequentemente, aumentará os custos e riscos com operações secundá-
rias de perfuração de detonação.
Porém, se a subfuração também for excessiva, tem-se problemas como aumento dos custos de perfu-
ração, aumento do nível de vibrações do maciço, excesso de fragmentação na base da bancada gerando
problemas de instabilidade dos taludes e aumento da sobrescavação.
5.8.5 AFASTAMENTO
Como vimos, o afastamento (A) é a menor distância que se tem entre duas linhas sucessivas de perfura-
ções, ou a menor distância entre a primeira linha de furos e a face livre da bancada.
De todos os outros parâmetros, o afastamento é a variável mais crítica do plano de fogo, principalmente
em virtude das variações às quais está sujeito, como:
• Erro de posicionamento do furo;
• Deficiência no paralelismo entre o furo e a frente da bancada;
• Desvio do furo ao longo da perfuração, tendo um valor de afastamento maior ou menor no topo da
bancada;
• Irregularidades de frentes de bancadas.
É de extrema importância que o afastamento seja adequado, não sendo nem pequeno demais e nem
excessivo. Um afastamento muito pequeno acarretará em um lançamento a considerável distância da face
da bancada, fragmentação excessivamente fina e elevados níveis de pulsos de ar.
Já um afastamento excessivo pode resultar no aumento da emissão dos gases nos furos gerando um
ultralançamento da rocha, fragmentação grosseira e inconveniente no pé da bancada.
Geralmente, os valores de afastamento devem ser em torno de 33 a 39 vezes o diâmetro do furo (D).
Empiricamente, podemos expressar o afastamento por:
A = 0, 0123 ;2 a pr k + 1, 5E D
pe
Em que,
A = afastamento (metros);
D = diâmetro (milímetros);
pe= densidade do explosivo (K/m3);
pr= densidade da rocha (Kg/m3).
DESENVOLVIMENTO DE MINA E LAVRA
152
Nas equações devemos optar por utilizar todas as unidades de medida no sistema
internacional. Porém, na maioria das vezes, devido ao diâmetro do furo ser dado
em milímetros, na equação do afastamento empregamos essa unidade. Ao utilizar a
constante 0,0123 já estamos transformando a unidade de milímetros para metros.
A fórmula original, utilizando os valores em metros seria:
A = 0,00000123* [2* (ρe/ρr) + 1,5]*D
CURIOSI Para utilizar o diâmetro em milímetros temos que multiplicar por 1000, correto?!
DADES Lembre-se que 1m é igual a 1000mm.
Logo,
A = 0,00000123* [2* (ρe/ρr) + 1,5]*D*1000 A = 0,0123*[2*(ρe/ρr) + 1,5]*D
Desta forma, diâmetro é utilizado em milímetros, e a quantidade de “zeros’’ após a
vírgula é reduzido, simplificando a equação.
Devemos lembrar que, quando o objetivo do desmonte é obter uma maior fragmentação, o afastamen-
to deve ser reduzido. Ao contrário, quando se quer produzir blocos maiores, o afastamento deve ser maior.
5.8.6 ESPAÇAMENTO
O espaçamento é definido como a distância entre furos sucessivos de uma mesma linha. Devemos ter
muita atenção, pois é muito comum confundir os dois conceitos: afastamento e espaçamento.
O espaçamento deve, necessariamente, ser maior do que o afastamento para evitar um número de ma-
tacões excessivos. Normalmente, é expresso em função do afastamento, podendo ser de 15 a 30% maior
do que esse valor dependendo do tipo de rocha e da fragmentação desejada.
E = 1,3*A (rochas brandas)
E = 1,15*A (rochas duras)
M = A*E
Em que,
M = malha de perfuração (m2);
A = afastamento (m);
E = espaçamento (m).
Por exemplo, se o afastamento em um plano de fogo é determinado como 3 metros, podemos estimar que
o espaçamento seja: E=3*1,3=3,90 metros. Logo, a malha de perfuração é dada como: M=3,90*3=11,70m2.
A determinação da malha de perfuração depende diretamente dos elementos do plano de fogo como
o diâmetro de perfuração, propriedades da rocha e explosivos, grau de fragmentação almejado, altura da
bancada, bem como a experiência do operador e análises dos desmontes anteriores.
5 PERFURAÇÃO E DESMONTE
153
Conforme podemos observar na Figura 107, existem diversos tipos de malha em função da geometria
que podem adquirir. Temos malha quadrada, retangular, estagiada (conhecida como pé de galinha), triân-
gulo equilátero e alongada.
A A
E E
Crista Crista
a) Malha quadrada b) Malha retangular
A
E
Crista
c) Malha estagiada (pé de galinha)
Você sabe que, no Brasil, a malha mais utilizada é a alongada? Como grande parte
CURIOSI do produto explotado é friável, a adoção desse tipo de malha é muito comum,
DADES principalmente para reduzir os custos da operação de desmonte.
Fonte: Adaptado de Curso de Formação de Blaster
DESENVOLVIMENTO DE MINA E LAVRA
154
No plano de fogo, é muito importante também determinar qual será o volume da rocha desmontada
por cada furo e o volume total que será escavado, correto?
A conta é simples. Como a malha de perfuração (M) nos fornece a área por furo, multiplicando-se pela
altura da bancada (Hb), obtemos o volume de rocha desmontada por cada furo (VF) em metros cúbicos.
VF = M*Hb
No caso da bancada ser inclinada, o volume por furo é obtido dividindo-se a expressão pelo cosseno do
ângulo de inclinação:
VF = (M*Hb)/cos α
Lembrando que,
VF = volume de rocha a ser desmontada por furo (m3);
M = malha de perfuração (m2);
Hb = altura da bancada (m);
α = ângulo de inclinação do furo.
Assim, o volume total a ser desmontado pode ser calculado multiplicando-se o volume por furo pelo
número de total de furos da frente de lavra:
VT = VF*n
Sendo,
VT = volume total do desmonte (m3);
VF = volume de rocha desmontado por furo (m3);
n = número de furos do plano de fogo.
Geralmente, a razão de carga aplicada no Brasil é em torno de 0,2 a 0,6 g/m3, dependendo do tipo
de rocha. Rochas mais densas e resistentes requerem uma razão de carga maior quando comparada
com rochas mais brandas. Por exemplo, em hematitas compactas, a razão de carga pode chegar até
0,8g/m3 . No Quadro 10, podemos observar alguns minérios e as respectivas faixas de razões de carga
mais empregadas.
A razão linear de carga, ou razão linear de carregamento, é definida como a quantidade de explosivo
que é carregado por metro de furo.
Por exemplo, um furo com 12 metros de profundidade, com tampão igual a 3 metros, terá 9 metros pre-
enchidos com explosivos. Supondo que se gastem 100Kg de explosivos para a carga total, podemos dizer,
então, que razão linear é: 100/9 = 11,11Kg/m.
Outra forma de se fazer o cálculo da razão de carga linear, e até mesmo saber quantos quilos de explo-
sivo serão empregados, é utilizando a densidade do explosivo. Veja:
r de2
RL = 4 pe
Sendo,
de = diâmetro do explosivo (m);
pe = densidade do explosivo (Kg/m3).
Em que a carga total de explosivo é dada por:
CT = RL*HT
Lembrando que,
CT = carga total de explosivos (Kg);
RL = razão linear de carga (Kg/m);
HT = altura total da carga de explosivos (m).
Note que a razão linear de carga é diretamente proporcional à carga total de explosivos utilizada. Logo,
quanto menor for a razão linear de carga, menor será o custo com a detonação, uma vez que a quantidade
de explosivos empregada é também menor. Observe na Figura 108 um modelo de plano de fogo.
DESENVOLVIMENTO DE MINA E LAVRA
156
Conheça mais sobre o plano de fogo e seus elementos lendo o artigo de FRANCISCO, V.
SAIBA R. et al., ‘’Optimização do diagrama de fogo numa exploração de basalto, com objetivos
MAIS industriais e ambientais.’’, acessando o link: http://www.visaconsultores.com/pdf/Enc_
OE_2005_HGVRNF_artigo.pdf.
MINA - OBRA:
NÍVEL - ESTACA - KM:
PLANO DE FOGO Nº:
DATA:
HORA:
OBSERVAÇÕES:
VISTO DO ENCARREGADO:
5.9 SEGURANÇA
A segurança é um aspecto vital na mina, principalmente nas operações que envolvem o manuseio e uso
de explosivos. Todo cuidado tomado ainda é pouco, uma vez que qualquer ação equivocada pode trazer
enormes prejuízos, como lesões graves e/ou a morte de trabalhadores.
Diversas normas, leis e procedimentos padrões de segurança foram criados para preservar a integrida-
de física dos empregados, e evitar danos aos equipamentos e patrimônios da empresa.
Vamos conhecer as normas e alguns riscos relacionados às atividades de mineração, principalmente nas
operações que se empregam explosivos?! Siga em frente!
Você sabia que para exercer atividades que envolvam o manuseio e o uso de explosivos é necessário
obter uma habilitação fornecida pelo órgão responsável?
DESENVOLVIMENTO DE MINA E LAVRA
158
As empresas objetivam limitar, tanto quanto possível, os riscos de acidentes, tornando-se imprescindí-
veis os treinamentos internos. Os trabalhadores necessitam conhecer os riscos de suas funções e/ou ope-
rações da mina, bem como as normas e leis externas e internas aplicáveis ao seu cargo.
Os treinamentos possibilitam qualificar e transmitir as informações e as instruções aos trabalhadores,
visando à preservação da saúde e segurança no decorrer das operações.
Esses treinamentos internos são divididos em introdutórios e específicos. Os introdutórios abordam de
forma geral os riscos do ambiente de trabalho, devendo conter o ciclo de operações de mina, principais
equipamentos e funções, transportes da mina, regras de circulação de equipamentos e pessoas, procedi-
mentos de emergência (normas de evacuação), primeiros socorros, entre outros.
Já os treinamentos específicos consistem no estudo e prática relacionados às atividades que o empre-
gado exerce ou exercerá, contemplando sempre os riscos presentes e a forma de prevenção e os procedi-
mentos adequados para execução das tarefas.
Dependendo do cargo e/ou situações específicas, os treinamentos devem ser ministrados periodica-
mente, prezando para que as atividades sejam executadas de forma segura.
5 PERFURAÇÃO E DESMONTE
159
Devemos lembrar, ainda, que sempre que máquinas, equipamentos e/ou processos forem modificados,
novos treinamentos devem ser realizados de modo a qualificar os operadores na sua utilização.
@istockphoto.com/Kasto80
5.9.4 PROCEDIMENTO DE ISOLAMENTO DA ÁREA DE INFLUÊNCIA DE DETONAÇÃO
Nas minerações que envolvam o uso de explosivos, é de extrema importância o isolamento da área a
ser detonada, incluindo áreas que possivelmente podem ser influenciadas pela detonação, permitindo
somente a entrada da equipe responsável pela execução do plano de fogo.
O primeiro passo é o isolamento da área de risco por meio do uso de sirenes e placas visíveis em todas as
entradas de acesso. Os furos devem ser carregados, e conferidos pelos responsáveis. Novas sirenes devem
ser acionadas indicando que a detonação está próxima a ocorrer.
O Blaster, então, autoriza a detonação e, após alguns minutos, faz a verificação da área desmontada.
Como vimos, somente após a análise e a liberação da área é que as atividades podem ser retomadas.
Por lei, as minerações ainda devem:
• Dispor de um abrigo seguro nas áreas de influência para aqueles operadores encarregados de exe-
cutar o acionamento.
• Estabelecer previamente os horários de detonações, de forma que todos os trabalhadores da mina
conheçam o período em que as explosões estão suscetíveis de ocorrer.
• Proibir detonações noturnas ou em dias de baixa visibilidade, ou ainda em dias de elevadas descargas
elétricas atmosféricas.
DESENVOLVIMENTO DE MINA E LAVRA
160
CASOS E RELATOS
Você sabia que somente parte da energia liberada pela detonação do explosivo atua na fragmentação
e no lançamento do maciço rochoso?
Parte da energia gerada passa sobre o maciço rochoso em formas de ondas de choque de elevada
velocidade (do inglês body waves) que provocam vibrações até que a energia se dissipe. Uma terceira
parte da energia da detonação, ainda é transmitida à atmosfera gerando ruídos e pulsos de ar no meio
ambiente local, ocasionando o problema conhecido como sobrepressão de ar.
5 PERFURAÇÃO E DESMONTE
161
Essas vibrações e a sobrepressão de ar podem trazer diversos problemas para comunidades próximas
às minerações, como trincas e fissuras de paredes e azulejos, infiltrações de lajes, entre outros. Por esse
motivo, é de extrema importância a avaliação das ondas sísmicas nos processos de desmonte com uso de
explosivos.
A probabilidade de danos e mensuração da magnitude das vibrações geradas pelas detonações podem
ser calculadas pelo parâmetro de velocidade da partícula.
K$Q
Vp = 3
R2
Em que,
Vp= vibração da partícula;
Q = quantidade de explosivos em um furo ou em furos interligados e detonados no mesmo instante (Kg);
R = distância entre a frente de escavação e um determinado ponto localizado no mesmo maciço ro-
choso (m);
K = coeficiente aplicado de acordo com o tipo de rocha, sendo valores usuais:
• 500 a 700: granitos, gnaisses e basaltos densos;
• 300 a 500: xistos e rochas metamórficas duras;
• 100 a 300: rochas sedimentares e rochas brandas.
Normas e padrões nacionais e internacionais estabeleceram um limite máximo para a velocidade da
partícula, não podendo esta ultrapassar 50 mm/s. Esse valor previne danos em estruturas e vibrações que
estejam a 50 metros da área central das detonações.
Quando as distâncias das construções são inferiores a 50 metros, como medida de segurança devem-se
adotar velocidades de partículas na ordem de 20 a 30mm/s.
Em relação à sobrepressão do ar, o nível máximo de ruído aceito legalmente é de 134 dB, valores maio-
res a esse não são considerados seguros podendo causar diversos impactos ambientais e danos como
quebras de vidraças e alvenaria.
Os sismógrafos, equipamentos que medem as amplitudes das ondas de choque, são instalados nos
limites das minerações para controlar as vibrações do terreno e do ar oriundas das detonações.
O desmonte de rocha deve ser bem planejado, avaliando-se sempre a influência das ondas sísmicas por
meio do reconhecimento geológico do terreno e estabelecimento adequado de cargas, de forma a reduzir
os níveis de impactos gerados no terreno e no ar.
5.9.6 ULTRALANÇAMENTO
Outro problema muito comum que compromete a segurança das pessoas na mina é o ultralançamento,
o qual é considerado como o lançamento indesejável de fragmentos rochosos além da distância prevista,
ocorrendo de forma anômala, sem direção definida.
DESENVOLVIMENTO DE MINA E LAVRA
162
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MINICURRÍCULO DOS AUTORES
C
Controle de poluição 20, 21
Curto prazo 36, 37, 38
Carregamento de fogo 131, 135, 136, 137, 162
D
Detonação 71, 100, 115, 116, 119, 121, 122, 123, 124, 125, 126, 127, 129, 131, 132, 133, 134, 135,
136, 137, 138, 139, 140, 141, 142, 143, 144, 145, 146, 147, 151, 153, 155, 158, 159, 160,
162, 165
Desmonte 13, 39, 61, 81, 83, 85, 86, 99, 100, 101, 102, 103, 104, 105, 108, 112, 113, 115, 116, 117,
126, 127, 130, 131, 138, 141, 142, 144, 145, 146, 147, 152, 153, 154, 158, 161, 162, 167,
168, 171
Drenagem 13, 21, 23, 34, 48, 51, 52, 57, 59, 64, 65, 66, 67, 79
Decapeamento 35, 52, 56, 57, 83, 103
Desenvolvimento de mina 15, 16, 29, 51, 52, 54, 56, 83
E
Elevação 75, 117
Exploração 16, 26, 30, 39, 45, 46, 52, 53, 62, 89, 156, 166, 167, 168
Explotação 16, 34, 36, 37, 44, 52, 59
Explosivos 13, 22, 71, 78, 85, 86, 100, 101, 115, 116, 117, 118, 119, 120, 121, 122, 123, 124, 126, 127,
128, 129, 130, 131, 132, 133, 134, 138, 140, 141, 142, 143, 144, 145, 146, 148, 150, 152,
155, 157, 158, 159, 161, 162, 165, 166, 167, 168, 169, 170, 171
F
Fauna 19, 23, 29, 31, 40
Flora 19, 23, 29
I
Impacto Ambiental 19, 22, 24, 30, 54
Infraestrutura 13, 23, 34, 35, 45, 48, 51, 57, 83
L
Licenciamento Ambiental 16, 18, 19, 25, 26, 45, 166, 170
Longo prazo 13, 21, 33, 35, 36, 37, 38, 39, 43, 47
M
Mina de céu aberto 39, 93
Mina subterrânea 38, 39, 66, 67, 75, 76, 77
Médio prazo 36, 38, 39, 44
Mina 13, 15, 16, 20, 21, 23, 24, 26, 28, 29, 31, 34, 36, 37, 38, 39, 41, 45, 46, 47, 48, 51, 52, 53, 54, 56,
57, 58, 60, 61, 62, 63, 64, 66, 67, 68, 71, 73, 75, 76, 77, 78 ,79, 80, 81, 82, 83, 93, 98, 99, 109,
113, 122, 145, 157, 158, 159, 160, 161, 167, 170
Mecânica das rochas 104, 109, 165, 168, 170
P
Perfuração 13, 22, 61, 83, 85, 86, 87, 89, 90, 91, 93, 94, 95, 96, 97, 99, 100, 104, 108, 112, 113, 115,
129, 132, 143, 145, 146, 147, 148, 149, 150, 151, 152, 153, 154, 156, 162, 167, 169, 170
Plano de fogo 13, 22, 85, 129, 131, 133, 135, 137, 138, 142, 144, 145, 146, 147, 149, 151, 152, 154,
156, 159, 162, 167
Poeira 19, 20, 23, 24, 72, 73, 74, 75
Planejamento de lavra 33, 34, 43, 48, 167
PRAD (Plano de Recuperação de Áreas Degradadas) 17
Produtividade 38, 93, 99, 149
Procedimentos operacionais 169
Planejamento 23, 33, 34, 47, 54, 165, 173
R
Riscos ambientais 19, 22
S
Segurança 13, 23, 24, 34, 39, 51, 57, 58, 61, 62, 63, 66, 68, 71, 72, 77, 83, 85, 98, 109, 119, 121, 122,
123, 125, 126, 128, 140, 145, 147, 148, 157, 158, 160, 161, 162, 167, 168, 173,
Cláudio Marcassa
Diretor Regional do SENAI
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