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(UERJ) Texto I

Tempo: cada vez mais acelerado


Pressa. Ansiedade. E a sensação de que nunca é possível fazer tudo – além da certeza de que
sua vida está passando rápido demais. Essas são as principais consequências de vivermos num
mundo em que para tudo vale a regra do “quanto mais rápido, melhor”. “Para nós, ocidentais,
o tempo é linear e nunca volta. Por isso queremos ter a sensação de que estamos tirando o
máximo dele. E a única solução que encontramos é acelerá-lo”, afirma Carl Honoré. “É um
equívoco. A resposta a esse dilema é qualidade, não quantidade. ”
Para James Gleick, Carl está lutando uma batalha invencível. “A aceleração é uma escolha que
fizemos. Somos como crianças descendo uma ladeira de skate. Gostamos da brincadeira,
queremos mais velocidade”, diz. O problema é que nem tudo ao nosso redor consegue
atender à demanda. Os carros podem estar mais rápidos, mas as viagens demoram cada vez
mais por culpa dos congestionamentos. Semáforos vermelhos continuam testando nossa
paciência, obrigando-nos a frear a cada quarteirão. Mais sorte têm os pedestres, que podem
apertar o botão que aciona o sinal verde – uma ótima opção para despejar a ansiedade, mas
com efeito muitas vezes nulo. Em Nova York, esses sistemas estão desligados desde a década
de 1980. Mesmo assim, milhares de pessoas o utilizam diariamente. É um exemplo do que
especialistas chamam de “botões de aceleração”. Na teoria, deixam as coisas mais rápidas. Na
prática, servem para ser apertados e só. Confesse: que raios fazemos com os dois segundos, no
máximo, que economizamos ao acionar aquelas teclas que fecham a porta do elevador? E
quem disse que apertá-las, duas, quatro, dez vezes, vai melhorar a eficiência? Elevadores,
aliás, são ícones da pressa em tempos velozes. Os primeiros modelos se moviam a vinte
centímetros por segundo. Hoje, o mais veloz sobe doze metros por segundo. E, mesmo
acelerando, estão entre os maiores focos de impaciência. Engenheiros são obrigados a
desenvolver sistemas para conter nossa irritação, como luzes ou alarmes cuja única função é
aplacar a ansiedade da espera. Até onde isso vai?
Sérgio Gwercman. Adaptado de super.abril.com.br

O texto apresenta palavras de dois especialistas – Carl Honoré e James Gleick – como
defensores de opiniões diferentes em relação à aceleração do tempo. Explicite, sem
transcrever partes do texto, a opinião de cada um deles acerca desse tema

O autor do texto I aborda uma situação que diz respeito a toda a sociedade, envolvendo
tanto ele como o leitor. Nomeie a marca linguística empregada para indicar a inclusão do
autor e dos seus leitores na situação. Em seguida, transcreva um trecho que exemplifique
sua resposta.

Texto II
Lembra-te de que tempo é dinheiro. Aquele que pode ganhar dez xelins por dia com seu
trabalho e vai passear, ou fica vadiando metade do dia, embora não despenda mais do que
seis pence durante seu divertimento ou vadiação, não deve computar apenas essa despesa;
gastou, na realidade, ou melhor, jogou fora, cinco xelins a mais. [...]. Aquele que perde cinco
xelins, não perde somente a soma, mas todo o proveito que, investindo-a, dela poderia ser
tirado, e que durante o tempo em que um jovem se torna velho, integraria uma considerável
soma de dinheiro.
Benjamin Franklin WEBER, Max. Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1985.
Texto III
Dizemos, com frequência, que fomos atropelados pelos acontecimentos – mas quais
acontecimentos têm poder de atropelar o sujeito? Aqueles em direção aos quais ele se
precipita, com medo de ser deixado para trás. Deixamo-nos atropelar, em nossa sociedade
competitiva, porque medimos o valor do tempo pelo dinheiro que ele pode nos render. Nesse
ponto remeto o leitor, mais uma vez, à palavra exata do professor Antônio Candido: “O
capitalismo é o senhor do tempo. Mas tempo não é dinheiro. Isso é uma brutalidade. O tempo
é o tecido de nossas vidas”. A velocidade normal da vida contemporânea não nos permite
parar para ver o que atropelamos; torna as coisas passageiras, irrelevantes, supérfluas.
Maria Rita Kehl
mariaritakehl.psc.br

Os textos II e III apresentam posições opostas sobre a relação com o tempo: para o primeiro,
tempo é dinheiro, porque deve ser empregado em produzir riqueza; para o segundo, tempo
não pode ser resumido ao dinheiro, porque isso é uma brutalidade. Com base na leitura de
todos os textos e de suas elaborações pessoais sobre o tema, escolha uma das duas posições e
a defenda, redigindo um texto argumentativo em prosa, com no mínimo 10 e no máximo 15
linhas. Utilize a norma padrão da língua. Redija o texto no caderno ou em folha avulsa,
conforme orientação do professor.

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Estrutura do artigo de opinião


Em geral, o artigo de opinião apresenta a seguinte estrutura:
• Introdução: contextualização do tema e indicação do ponto de vista que o autor vai
defender.
• Desenvolvimento: apresenta os argumentos necessários à sustentação do ponto de vista a
ser defendido.
• Estratégias argumentativas: causa e consequência, apresentação de dados, exemplos,
contra argumentação, entre outras.
• Conclusão: explicitação/esclarecimento do ponto de vista ou reafirmação do posicionamento
do autor, podendo ser o resumo da opinião defendida, a apresentação de proposição de
ações, de perguntas retóricas (visam estimular a reflexão do leitor e, ao mesmo tempo,
reafirmar o ponto de vista do autor).
• Título e assinatura obrigatórios.
Texto I A liberdade na adolescência
Artigo publicado originalmente no jornal O Globo, em 19/10/2000
Ninguém tem dúvidas de que a juventude, em nossos dias, desfruta de uma liberdade
desconhecida das gerações anteriores. Hoje, o pensamento dominante entre os jovens parece
ser de que limites existem para serem ultrapassados em várias áreas. Acumular o maior
número de experiências no menor espaço de tempo, tudo bem rápido e passageiro, passou a
ser a meta da maioria.
É próprio da época em que vivemos o estímulo constante à busca de emoções fortes e
numerosas, ainda que fugazes. Os jovens, com sua tradicional onipotência, são os que mais
prontamente atendem a esse apelo, vivendo a esbarrar em perigos dos quais nem se dão
conta. Tornando o panorama um pouco mais complexo, temos ainda que nos lembrar que essa
sempre foi a fase da vida marcada pela rebeldia e transgressão. Jamais havíamos assistido,
entretanto, a transgressões tão graves como as que vêm sendo praticadas numa escala
crescente e preocupante.
E os adultos, como estão diante de modificações tão rápidas e drásticas? Em geral, confusos e
Preocupados, embora nem sempre o declarem. Alguns pais ainda se mostram ambíguos diante
das transgressões de seus filhos. [...] Em geral, esses são pais que tiveram eles próprios uma
criação severa, com normas rígidas, numa época de valores mais empedernidos. É como se o
filho realizasse o que ele não pôde, quando passou pela adolescência. Outros pais estão
preocupados com seus filhos, querem se aproximar, mas têm medo de críticas. [..]. Entretanto,
os pais não deveriam desanimar e sim continuar a buscar o diálogo com seus filhos, sempre
que perceberem que têm algo a acrescentar à experiência deles. É possível insistir com os
filhos, quando se tem posições definidas e fundamentadas em argumentação lógica e
coerente. E, sobretudo, quando a direção da conversa for a busca de caminhos mais sensatos e
saudáveis.

Fonte: SOTTO MAYOR, Simone. A liberdade na adolescência.


Disponível em: www.simonesottomayor.com.br/liberdade-na-adolescencia
Acesso em: 24 set. 2019

Texto II
Liberdade × Responsabilidade
É muito importante se procurar ter liberdade com responsabilidade. A liberdade pode ter
muitos sentidos – física, civil, de pensamento e expressão, sexual... filosoficamente, pode se
referir à liberdade moral, a capacidade humana para escolher ou decidir racionalmente as
causas e consequências dos nossos atos. A liberdade e a responsabilidade estão fortemente
ligadas, na medida em que somos realmente livres se formos responsáveis e só podemos ser
responsáveis se formos livres. A responsabilidade implica constantemente escolha e decisão
racional, o que vai de encontro à própria definição de liberdade. Por outro lado, se não
agirmos livremente, não podemos assumir totalmente as consequências dos nossos atos. Só o
sujeito que é capaz de escolher e decidir racionalmente, com consciência, é capaz de assumir
as causas e as consequências da sua ação.
SOARES,Kitah.Disponívelem:www20.opovo.com.br/app/colunas/cartadodia/2011/12/16/
noticiascartadodia,2358304/liberdade-xresponsabilidade.shtml. Acesso em: 19 ago. 2019

Ovo hoje ou galinha amanhã?

Domingo, voltando a São Paulo, assim que o avião tocou o solo, minha vizinha de poltrona
retirou da bolsa e reanimou o celular que ela nunca tinha desligado – contrariando a ordem
expressa de apagar totalmente qualquer aparelho eletrônico.
Naquele exato momento, a aeromoça pediu que os celulares fossem ligados só quando o avião
estivesse de porta aberta. Minha vizinha, já nos seus e-mails, procurou minha cumplicidade:
“Não dá para esperar, hein? ”.
Se você tem simpatia pela minha vizinha e, a essa altura, pensa que o mundo merece ser de
quem não quer esperar, é bom lembrar que o famoso teste do marshmallow diz o contrário.
Proponha a alternativa a crianças de cinco anos: você pode comer um marshmallow (ou outra
guloseima preferida) agora mesmo ou, então, esperar até eu voltar, e aí você terá direito a
dois marshmallows.
Acrescente que, se a criança não aguentar e chamar antes de você voltar, você aparecerá
imediatamente, mas ela ficará com um doce só.
Essa experiência foi realizada numa creche da Universidade Stanford, nos Estados Unidos, no
começo dos anos 1960. Em tese, o teste explorava os meios pelos quais as crianças
conseguiam resistir à tentação imediata (ou, ao contrário, as estratégias que as levavam a
desistir rapidamente).
A pesquisa se tornou um clássico décadas depois, quando seu autor, Walter Mischel,
reencontrou as crianças testadas originalmente para ver como elas tinham evoluído.
Ao longo dos anos, as crianças que tinham sido capazes de esperar e ganhar dois
marshmallows se deram muito melhor do que as outras: nos estudos, no equivalente ao
vestibular, na profissão que escolheram, na estabilidade das uniões afetivas, etc.
Mischel, hoje professor de psicologia na Universidade Columbia, em Nova York, acaba de
publicar The Marshmallow Test (ed. Little, Brown & Co.). No livro, ele expõe a história do teste
(e de seus derivados dos anos 1960 até hoje) e medita sobre os resultados e suas eventuais
consequências pedagógicas.
Mischel, que é também um clínico e bom leitor de Freud, não tira conclusões apressadas da
experiência que o tornou famoso. Mesmo assim, é frequente que os resultados do teste do
marshmallow sejam interpretados como a demonstração do fato de que a exigência de
satisfação imediata e a incapacidade de controlar os apetites prometeriam o fracasso social.
Moral aparente da história: os que não sabem esperar (e preferem um marshmallow já)
acabam mais facilmente nas prisões do que nas pós-graduações. Na fábula de La Fontaine,
quem se dá bem é a formiga, não a cigarra.
Cuidado, essa conclusão é duvidosa. Os resultados do teste do marshmallow não prometem
um futuro tenebroso aos que procuram o prazer. Ao contrário, a criança que consegue esperar
e que terá mais sucesso na vida é a que se controla em vista de um prazer maior (dois
marshmallows), e não em nome dos méritos que ela adquiriria por se privar de um prazer. [...]
Mas voltemos a outro “detalhe”, crucial na hora de perguntar como fazer com que nossas
crianças saibam merecer o segundo marshmallow.
No teste (e na vida), uma criança só consegue se controlar e esperar que o adulto volte com a
condição de acreditar em sua palavra, ou seja, com a condição de confiar nele.
Se presumo que o adulto seja um mentiroso que não voltará, melhor comer meu marshmallow
agora pois quem garante que, no fim, alguém chegará com dois marshmallows?
Não sei se o teste do marshmallow foi repetido no Brasil. Se foi (ou se for), não seria
surpreendente que as crianças brasileiras pareçam mais “imediatistas” do que as americanas
ou as europeias.
Mas que ninguém conclua que os brasileiros seriam mais hedonistas – quem sabe, pela
herança de uma colonização que preferiu saquear a apostar no futuro. Antes disso, melhor
considerar que os brasileiros, desde a infância, têm boas razões para não confiar nos “adultos”
(no caso, leia-se: em quem os governa).
E, obviamente, se os “adultos” são ladrões e mentirosos, melhor comer já o marshmallow que
está na mesa.
CALLIGARIS, Contardo. Folha de S.Paulo. 12 fev. 2015.
Vamos praticar!
1°Para o locutor do texto, é positivo que alguém espere e resista à tentação imediata
para/pelos:
a) méritos que serão adquiridos por se privar de um prazer.
b) obter um prazer maior.
c) angariar a simpatia.
d) escapar de uma vida marginalizada.

2°O locutor do texto nos diz que não seria de se surpreender se as crianças brasileiras
parecessem mais imediatistas do que as americanas ou as europeias, caso o teste fosse
repetido. A conclusão mais plausível do resultado de as crianças brasileiras parecerem mais
imediatistas, para o locutor, é:
a) o fato de serem mais hedonistas.
b) o fato de não terem motivos para apostar no futuro.
c) a falta de confiança nos adultos.
d) a crença de que não adquiririam nenhum mérito se esperassem.

3°De acordo com o texto, por que, a princípio, a história em volta do teste levaria a uma moral
apenas “aparente”?
a) As especificidades que dizem respeito ao entorno político das crianças, como no caso do
Brasil, são irrelevantes para os resultados finais do teste.
b) Alguns aspectos que deveriam ser levados em conta, na análise das conclusões do teste, são
ignorados pelos estudiosos.
c) A heterogeneidade, característica de qualquer ser humano, inclusive das crianças, impede
esse tipo de teste de chegar a qualquer conclusão mais plausível.
d) Os resultados desse tipo de experiência não devem basear-se unicamente numa primeira
conclusão que seja apenas taxativa: há os que se dão bem e aqueles que se dão mal.
5° Entre os enunciados abaixo, retirados do texto, indique o único que não constitui uma
proposta diálogo direto com o leitor.
a) “Proponha a alternativa a crianças de cinco anos [...]”.
b) “Essa experiência foi realizada numa creche [...]”.
c) “Se você tem simpatia pela minha vizinha [...]”.
d) “Cuidado, essa conclusão é duvidosa”.
6°Há um provérbio popular que diz: “É melhor um ovo hoje do que uma galinha amanhã”. Os
provérbios são ditos populares que trazem sinteticamente ensinamentos comuns sobre a vida,
construídos pela vivência. Eles fazem parte do que chamamos “senso comum”. Explique o
sentido do provérbio e compare-o ao que Contardo Calligaris (1948-2021) defendeu em seu
artigo.

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