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Móveis Artesanal: prelúdio à Forma, Oca e Mobilinea
Mina Warchavchik Hugerth
A empresa Móveis Artesanal foi pioneira no país em aliar com sucesso um escritório de
projetos com linguagem moderna, um sistema de fabricação com seriação e espaços
comerciais inovadores, tendo um papel importante na história do design no Brasil. Ela
funcionou em São Paulo entre 1950 e 1955 e por lá passaram alguns dos designers de móveis
mais importantes do país, muitos dos quais em um período de formação profissional anterior
às suas realizações mais conhecidas.
Fundada por Carlo Hauner, que depois se associou à Martin Eisler e Ernesto Wolf, a
Artesanal comercializou móveis projetados pelos primeiros dois, bem como algumas peças
criadas por Ernesto Hauner em outras oficinas. Contou ainda com Sergio Rodrigues no
departamento de planejamento de interiores, e com Georgia Hauner cuidando das vitrines e
da cenografia interna da loja.
Além do interesse em compreender como estes personagens trabalharam juntos e de que
maneira esta experiência influenciou suas trajetórias posteriores, também se faz necessário
analisar os móveis lá produzidos, como eram vendidos e quem os comprava. Finalmente, a
atuação da empresa se deu em um momento muito peculiar da história da cidade do ponto de
vista cultural, econômico e político, em que as diversas instâncias da vida urbana se voltavam
para as massas e para a produção em grande escala, o que também deve ser considerado.
Como são poucos os registros a respeito do empreendimento, será dada especial atenção
aos testemunhos daqueles que participaram ou de alguma maneira puderam acompanhar o
trabalho realizado na empresa, relacionando seus depoimentos a materiais de época, a fim de
confrontar datas e fatos e estabelecer uma cronologia e história coerentes.
Desenhada por Celso Martinez Carrera nos anos , mas produzida pela )ndústria Cama Patente L.
Liscio S.A. após a perda da patente SANTOS, : .
Dentre outros, vale ressaltar os nomes de John Graz, Gregori Warchavchik, Lasar Segall, Cassio de M’Boi
Cassio da Rocha Mattos e Theodor (euberger.
houvesse um lugar apto a produzir estes desenhos. Os marceneiros da fábrica foram trazidos
de Lissoni, Itália, pois os sócios consideravam que não havia mão de obra qualificada no
Brasil. Embora possuíssem maquinário industrial, a produção era manufatureira (cf.
SANTOS, 1995).
O Studio pensava seus móveis pela mesma lógica da arquitetura moderna, com desenhos
apropriados às condições locais e utilizando materiais como tecidos populares, madeiras
nativas, couro e fibras. Além disso, foram os primeiros no país a usar madeira compensada
recortada em folhas paralelas3.
Não obtiveram sucesso comercial porque se por um lado o móvel moderno ainda tinha
uma aceitação relativamente pequena por parte do público consumidor, por outro, seus
desenhos eram indiscriminadamente copiados, o que tornava seu retorno financeiro
insuficiente. Assim, em 1950, seus fundadores decidiram fechar a empresa. Em entrevista a
Maria Cecilia Loschiavo dos Santos, Pietro Maria Bardi declarou:
As coisas não deram certo, a mentalidade era tão antimoderna! O que predominava eram os
móveis da Paschoal Bianco e do pessoal do Brás. Começamos a perder dinheiro e então
passamos a fábrica aos irmãos Hauner, que prosseguiram com o trabalho, mudando o nome
da empresa para Móveis Artesanal. (SANTOS, 1995: 98)
(á de se notar que empresas como a Cimo faziam uso de madeira compensada desde os anos ,
primordialmente como superfície de assentos e encostos de cadeiras e poltronas SANT), : . No
Studio, entretanto, as chapas cortadas eram a própria estrutura e expressão plástica dos móveis em sua
maioria, também cadeiras .
Documento datilografado localizado nos arquivos pessoais de Georgia (auner, catalogado pela autora
em setembro de .
O Conde Leoni Paolo Grasselli era natural de Bergamo, )tália, onde fora marchand. Tinha uma fábrica de
vidros, imigrou para o Brasil após a guerra e participou dos mesmos círculos culturais que os (auner e os
Bardi.
Atual Rua Urussuí.
Neste período, é notável nos móveis da Artesanal o uso de estruturas delgadas de metal e
assentos estofados com maior massa. Este raciocínio seguia um caminho diverso do que
começava a se estabelecer como “design moderno brasileiro” por outros designers do período,
que iam mais de encontro a elementos vernaculares com uso de materiais locais. Assim, não
resta dúvida de que a motivação para a criação e desenvolvimento da empresa não passava
pela busca de uma identidade nacional, mas antes por um desejo de desenvolver produtos
passíveis de produção industrial e apelo universal.
Não foi possível identificar como se deu o desligamento do Conde Grasselli da Móveis
Artesanal, mas parece ter sido simultânea à entrada de Ernesto Wolf e Martin Eisler,
inaugurando o que podemos tomar como uma segunda fase da empresa.
Figura : Propaganda da Móveis Artesanal com novo logo e o slogan móveis modernos de alta qualidade
MÓVE)S, : vii .
ganhariam os móveis expostos), bem como a iluminação e a discrição dos preços nos
anúncios.
Figura : Propaganda da Móveis Artesanal anunciando projetos por encomenda MÓVE)S, : vii .
Fizemos a inauguração da loja, e para você ter uma ideia, ela durou seis meses. Nesses seis
meses eu posso falar sem exagero que as visitas eram constantes, parecia constantemente
que a loja tinha um vernissage. Diariamente, na parte da tarde, vinham curiosos, estudantes,
e muita gente querendo saber de móveis. Mas eles não compravam lá. Sabiam quem eu
estava representando e que eu dava alguma vantagem sobre os móveis comprados em São
Paulo (RODRIGUES, 2013).
Mandei uma carta para o Carlo Hauner em São Paulo, dizendo: “Carlo, eu estou nessa
situação, não tenho onde cair morto, preciso fazer alguma coisa. Se você tiver uma vaga
para fazer qualquer coisa, vou morar em São Paulo”. Aí ele me escreveu uma carta muito
bonita dizendo “venha pra cá, que você vai ser bem recebido”, e fui pra lá (RODRIGUES,
2013).
Sobre a escolha do nome, Rodrigues comenta que deveria ter colocado um nome diferente para que o
público não associasse a loja de Curitiba com a de São Paulo e tomasse os produtos vendidos como
originais, mesmo que fossem trazidos da matriz .
. A Galeria Artesanal
Embora estivesse bastante envolvido com a Artesanal, Carlo Hauner não havia
abandonado inteiramente sua carreira como pintor. Um artigo escrito por P. M. Bardi para
Habitat de setembro de 1953 afirma que ele tinha grande talento no campo, mas que
atualmente estava se dedicando mais ao “industrial design” e que por isso sua produção artística
ainda era pouco numerosa. As obras apresentadas na matéria são figurativas, podendo
dialogar com movimentos expressionistas do início do século.
A capa da revista AD Arquitetura e Decoração de novembro daquele mesmo ano foi feita por
Carlo Hauner, e trata-se de uma composição em preto, vermelho e branco, com o traço de uma
cadeira. Isto mostra primeiramente que ele estava em evidência no período, além de
apresentar uma estética gráfica diversa daquela vista em seus quadros. Nesse período, o
principal investidor da empresa já era Ernesto Wolf; Eisler e Hauner cuidavam da loja e eram
responsáveis por todos os projetos de mobiliário.
No final de 1953, foi inaugurada a Galeria Artesanal na Rua Barão de Itapetininga: uma
loja de três pavimentos em uma das ruas comerciais mais importantes da cidade e que, além
do showroom de móveis, contava também com exposições de arte e vendia quadros e
gravuras. Rodrigues diz que chegaram a expor gravuras de Picasso assinadas, graças aos
contatos de Wolf.
A fábrica continuou no Itaim Bibi. Tinha cerca de 2000 metros quadrados, maquinário
novo importado e funcionários especializados, sendo em sua maioria imigrantes e filhos de
imigrantes italianos. A metalurgia era toda feita lá e, embora a produção não pudesse ser
considerada como rigidamente industrial, era seriada e tudo indica que algumas peças eram
oferecidas a pronta entrega, Mesmo assim, ainda recebiam arquitetos que iam produzir com
eles móveis especiais para seus projetos, como Lina Bo Bardi e Gregori Warchavchik (cf.
CALS, 2000).
Quando Sergio Rodrigues chegou a São Paulo, foi trabalhar na Galeria, encarregado de
fazer projetos de ambientação para clientes. Pouco depois, outro desenhista optou por se
desligar da empresa, e Carlo Hauner pediu que Rodrigues entrevistasse pessoas para ocupar o
cargo vago. Foi colocado um anúncio na porta e algumas pessoas apareceram, dentre as quais,
Georgia Morpurgo.
Georgia, nascida na Croácia, havia imigrado para o Brasil em 1946 após sobreviver a
condições difíceis durante a guerra e estudar um período na Itália. Depois de se formar no
colegial em São Paulo, foi a Los Angeles cursar ilustração e publicidade na Art Center School e
na volta começou a trabalhar em uma agência de publicidade. Apesar disso, sonhava em ir
trabalhar na Artesanal, que para ela representava o que havia de mais moderno na cidade.
Quando viu uma placa procurando desenhistas, tomou coragem e entrou.
A Georgia veio com uma pasta grande trazendo os desenhos e outras coisas ali dentro. E eu
disse “vamos ver o que você tem aí”. Aí ela abriu as pastas e estava engraçado – quem estava
vendo isso era o Martin Eisler e outros da diretoria – ela mostrou só desenhos de peixes,
desenhos de campos, não coisas de arquitetura nem nada. Mas eu achei tão bem feito, com
um acabamento tão bom, soube que ela esteve nos Estados Unidos e que fez cursos lá. E ela
ficou encantada com o meu desenho, com a minha maneira de apresentar e, vamos dizer
assim, defender os projetos (RODRIGUES, 2013).
Georgia foi contratada e passou a ajudar Sergio com as plantas. Suas próprias ideias sobre
ambientes modernos foram reveladas quando Carlo pediu que ela cuidasse da exposição da
loja: começou pelo mezanino para, com a aprovação dos sócios, montar a vitrine.
Ela contou que gostava de preparar ambientes dando a impressão de que alguém acabara
de sair, dando vida à exposição. Suas estratégias incluíam deixar óculos em cima de um livro
aberto, como se alguém estivesse há pouco na poltrona, ou abrir gravuras à venda sobre uma
grande mesa, que imediatamente chamavam a atenção do público. Seu objetivo era criar algo
mais aconchegante, pois percebeu que as pessoas tinham dificuldade em aceitar e desejar
ambientes modernos. Assim, colocar objetos comuns quebrava a rigidez da linguagem
industrial, além de trazer um elemento de surpresa.
Aos poucos, fui ficando mais arrojada. Eu queria atrair o público para a loja e comecei a
fazer coisas mais fora do comum, por exemplo: me lembro de uma fruteira imensa de
cobre, que era um móvel que estava na vitrine, e um dia eu falei que eu queria ir na feira
para comprar frutas e verduras para enchê-la. Então um dos sócios ali me ofereceu o carro
com motorista para ir à feira e eu comprei laranjas, berinjelas e coisas de cores muito
vivas, enchi essa fruteira na vitrine, e começou a atrair gente! (...) todo mundo notou que
havia um movimento novo lá dentro (HAUNER, 2012a).
Ao lembrar-se das vitrines feitas por Georgia e seu trabalho subsequente, Sergio
Rodrigues declarou: “foi realmente a mudança nos interiores de São Paulo. Foi, pra mim, a
mais categorizada, mais perfeita e mais consciente arquiteta de interiores que trabalhou em
São Paulo” (RODRIGUES, 2013). Para ele, este grupo da Artesanal fazia parte do que ele
chama de “missão artística italiana”9, que incluía Georgia, os irmãos Hauner, Lina Bo e
Palanti, Dominici, e outros, e diz que todos circulavam nos mesmo ambientes e faziam
trabalhos colaborativos.
Georgia também se lembrou de como era o clima da época:
Eu gostava de passar feriados na fábrica, vendo as novidades sendo criadas pelos designers.
Eles moravam nos arredores da Artesanal. Carlo morava com Franca e duas crianças perto
da casa da mãe, D. Ida, a qual vivia em outra casinha com Ernesto e a irmã Luciana. Sergio
Rodrigues ocupava um sobrado com a esposa e duas crianças. Os designers se
movimentavam carregando pedaços de madeira, ou outro material, a procura de uma
ferramenta, ou de uma opinião. Todos circulavam entre uma e outra casa para experimentar
a comida no fogão. O ambiente era carregado de criatividade (HAUNER, 2011f).
Sergio recordou-se que menos pessoas frequentavam a Artesanal de São Paulo do que a
loja em Curitiba, mas por estar em uma das principais ruas de comércio da cidade, a
movimentação era boa e os produtos oferecidos eram efetivamente comercializados. Ele se
lembra de clientes com muito dinheiro, diretores de firmas e fábricas e suas esposas, que
pediam orientação na organização interior e que era dada por ele, Georgia e Carlo. Já Georgia
tinha a impressão de que a maior parte da clientela era de arquitetos e artistas, pessoas de
alguma forma próximas ao ramo.
Um editorial de AD Arquitetura e Decoração de janeiro de 1954, mostra fotos do showroom
da empresa, o que é muito valioso para entender sua cenografia. Na foto da vitrine é possível
ver a fruteira que Georgia encheu de frutas (infelizmente vazia), além de cerâmicas
provavelmente feitas pela H. Cerâmica, luminárias da Dominici10, móveis, quadros e gravuras
de motivos variados (ver Figura 4). Outras fotos mostram mais móveis, sendo os únicos cujo
designer é identificado, os de Carlo Hauner. Enquanto duas cadeiras tinham assentos em
palhinha e corda trançada com estrutura metálica, outras eram feitas em compensado
recortado em ângulos fortes e diagonais.
Este grupo de artistas e arquitetos veio a São Paulo depois da Segunda Guerra e estava ligado à
modernização da arquitetura e do mobiliário. O nome é uma brincadeira, em contraponto à Missão
Francesa de .
Supõe‐se que as luminárias sejam de Dominici devido a uma matéria na revista AD Arquitetura e
Decoração de junho de intitulada Algumas lâmpadas de mesa , assinada por Martin Eisler. No
artigo, é dito que as luminárias apresentadas são feitas exclusivamente para a Galeria Artesanal e
produzidas na Dominici. No mesmo número há uma reportagem sobre cerâmica assinada por Milton
Guper, sócio de Carlo (auner na (. Cerâmica, e as peças devem ser de lá. Outras matérias sobre a (.
Cerâmica também denotam a similaridade das peças da empresa com as peças expostas na Galeria
Artesanal.
No número seguinte da revista11, há uma grande reportagem assinada por Eisler sobre a
composição de interiores, onde novas peças da Artesanal são publicadas. Observa-se que eles
criavam uma multiplicidade de peças com poucos elementos, a partir de alguns modelos de
pés combinados a módulos de buffet, estantes e armários.
Foram localizadas ainda reportagens com vários modelos de cadeiras diferentes assinadas
por Eisler e Carlo, mais uma vez usando a estratégia de combinar o mesmo pé em diversos
assentos – de junco, borracha e espuma revestida com tecido escocês (ver Figura 5); e até uma
matéria sobre a Galeria Artesanal que conta com a famosa cadeira Costela, desenhada por
Eisler e normalmente creditada como tendo sido desenvolvida na Forma (ver Figura 6).
Esta edição de AD Arte e Decoração foi um dos poucos volumes encontrados inteiros e possui a seção de
classificados, onde estão listados: Carlo (auner, como decorador, com endereço na fábrica da Artesanal;
Galeria Artesanal, na Rua Barão de )tapetininga, oferecendo projetos de decoração e interiores; Ernesto
(auner, como decorador, com endereço e telefone próprios no )taim Bibi.
Figura : Cadeiras projetadas por Carlo (auner e Martin Eisler para Artesanal LTDA, (., : .
Nessa época, Ernesto Hauner trabalhava na Artesanal, mas ainda mantinha a fábrica de
móveis que fundara em 1952 e cujas peças eram vendidas na loja da Rua Barão de Itapetininga.
Além disso, abriu uma loja com seu irmão Carlo na Rua Augusta, para vender peças da H.
Cerâmica e outros objetos de decoração. Nesse meio tempo, conheceu e se apaixonou por
Georgia Morpurgo, com quem se casou em 1955 tendo Sergio Rodrigues como um dos
padrinhos.
Esta nova loja aberta com Carlo foi batizada de Forma, e aparece em algumas publicações
da época, sempre identificada como sendo apenas dos irmãos Hauner, e focada em cerâmica e
vidros de “gosto moderno”, apropriados para uma cidade cosmopolita como São Paulo (ver
Figura 7). Vale até notar que essa propaganda aparece na mesma página que era
anteriormente reservada para a Galeria Artesanal, embora esta tenha continuado aparecendo
em periódicos normalmente.
Figura : Propaganda da loja de decorações Forma, de Carlo e Ernesto (auner FORMA, : p. vii .
Foram localizadas matérias sobre a Galeria Artesanal e a Móveis Artesanal até abril de
1955, mas depoimentos de Sergio Rodrigues e Georgia Hauner atestam que ela passara a se
chamar Forma ainda em 1954. Enquanto Rodrigues se lembra de que os irmãos Hauner já
tinham aberto esta outra grande loja de decoração na Rua Augusta, Georgia afirmou que:
Às vezes, depois do trabalho, os irmãos Wolf convidavam toda a turma para um restaurante
ou para um aperitivo no apartamento de Ernesto Wolf, para ver um livro raro, ou uma
pintura nova. Estas reuniões eram animadas e interessantes. Um dia, decidiram que a firma
precisava de um nome com mais personalidade. Martin Eisler era muito divertido e
observou que "Artesanal" não era um nome ruim, desde que não fosse usado no plural...
Vários nomes foram sugeridos e rejeitados, e a conversa foi para outro rumo. Ernesto
sempre falou pouco, mas depois de algum tempo interrompeu a conversa com uma palavra:
"Forma". E a Artesanal mudou de nome logo depois (HAUNER, 2011f).
Os nomes anteriores que constam nos documentos de fundação da Forma, conforme consulta aos
arquivos da Junta Comercial de São Paulo, são nesta ordem : Galeria Artesanal Móveis e Objetos de Arte
Ltda., Galeria Artesanal Ltda., Forma S.A. Móveis e Objetos de Arte, Móveis Artesanal Ltda. e Móveis
Artesanal S.A.
)rmã de Carlo e Ernesto, ainda não foi possível compreender porque o nome de Luciana (auner consta
na fundação da empresa. Em depoimentos cedidos à autora, nem sua irmã Ada (auner, nem a cunhada
Georgia sabiam que ela havia participado da fundação e, em todo caso, atestaram que ela nunca
frequentou loja ou fábrica.
Este sofá foi mais tarde produzido por Sergio Rodrigues na Oca e batizado de Sofá (auner.
Associado ao Conde Grasselli e ao seu concunhado, Sergio Rodrigues criou a Oca ainda
em 1955. Nos primeiros anos de funcionamento, a empresa revendeu móveis feitos pela Forma
e pela Ambiente, mas aos poucos Rodrigues foi desenvolvendo seus próprios projetos e
fundou uma fábrica, criando uma identidade forte e que é considerada por muitos como a
mais genuinamente brasileira no design moderno.
Pouco depois de sua saída, o próprio Carlo Hauner, que também vinha se desentendendo
com os outros sócios, decidiu se desligar da Forma e voltar para a Itália, vendendo suas ações
para Ernesto Hauner. De volta ao país de origem, fundou uma loja Forma própria, fabricando
e comercializando móveis modernos projetados por ele e por terceiros. Além disso, trabalhou
para diversas outras empresas europeias desenhando utensílios domésticos, tecidos,
luminárias, entre outros. Apesar do sucesso, acabou desistindo da carreira alguns anos depois
e mudou-se para uma pequena ilha ao sul do país, onde se dedicou à produção de vinhos e
voltou a pintar.
Ernesto e Georgia saíram da empresa em 1955 pois, embora prosperassem
financeiramente, Ernesto também queria produzir os próprios desenhos. Mudaram-se para a
Itália, mas não se adaptaram e retornaram ao Brasil em 1958. No ano seguinte, fundaram a
empresa Ernesto Hauner Decorações e começaram a produzir e vender estantes moduladas
em madeira maciça. Em 1962 buscaram um novo sócio, o engenheiro inglês John de Souza, e
mudaram o nome para Mobilinea, ampliando o escopo de peças, materiais e pontos de venda.
Ao final da década, haviam chegado a uma escala considerável de produção moveleira com
alcance internacional, com uma linguagem pautada nas discussões europeias e norte-
americanas, intentando democratizar o gosto pelo moderno. Ernesto projetou todos os móveis
vendidos e Georgia foi responsável pela cenografia das lojas da Mobilinea, fazendo uso de
objetos insólitos e bem humorados que definiram a identidade de empresa. Ela criou ainda
editoriais de decoração para as revistas Claudia promovendo o design nacional entre 1968 e
1970. Em 1975, contudo, venderam a empresa e também deixaram o Brasil.
Assim, quem permaneceu na Forma foram Eisler e Wolf. Apesar de depoimentos
atestarem que cópias de móveis modernos estrangeiros eram vendidos desde os tempos de
Artesanal, apenas em janeiro de 1959 foi localizada uma propaganda que divulgava
abertamente móveis da Knoll International15 e, de acordo com notícia divulgada na revista Casa
A Knoll foi fundada em Nova )orque em pelo imigrante alemão (ans G. Knoll, como uma fábrica e
loja de móveis para ambientes modernos. A partir de , sua esposa Florence Knoll e ele buscaram
designers proeminentes no período para criar seus produtos. Entre a lista de designers da Knoll estão
& Jardim em dezembro de 1959, oficialmente a empresa só recebeu licença para produção da
empresa americana em outubro daquele ano16. Neste mesmo momento foi fundada a Interieur
Forma por Eisler e dois outros sócios na Argentina, vendendo peças da Forma brasileira e
possivelmente da Forma italiana de Carlo.
. Considerações finais
Eero Saarinen, (arry Bertoia e Mies Van Der Rohe. O lema da empresa à época era bom design é bom
negócio RA)ZMAN, .
Vale notar que embora não tenham sido encontrados registros nos arquivos do MASP, esta matéria
aponta Wolf como um dos diretores do museu, e é provável que ele efetivamente tivesse alguma ligação
com a instituição, o que é mais um dado importante para compreender os círculos sociais em que
transitava.
Bibliografia
Arquivos e acervos
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2012a. Gravação digital (45 min.).
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