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SUMÁRIO
Introdução
GESTÃO
ESTRATÉGICA DA
PRODUÇÃO
Como definir o que produzir? Como
entender de que maneira produzir?
O que vou produzir? identificar esse alguém para então desco- presa, por meio da gestão estraté-
brirmos suas necessidades. Assim, trans- gica das variáveis controláveis de
Uma vez que existem, para uma cer- formarmos essa necessidade em caracte- marketing, a saber: produto, preço,
ta necessidade, inúmeros produtos ou ser- rísticas de produto ou processo, para então promoção e ponto de distribuição;
viços, com uma centena de características, definirmos qual será a melhor maneira de
certamente o melhor deles será o que tiver produzirmos, com que recursos, em que • Processo de planejamento e execu-
a melhor relação dessas características. quantidade, etc. Para isso, precisamos re- ção da concepção, fixação de preço,
capitular alguns conceitos de Marketing. promoção e distribuição de ideias,
Para quem vou produzir? bens e serviços com a finalidade de
Autores renomados tanto no Bra- criar trocas que satisfaçam aos obje-
Exatamente essas características que sil quanto no resto do mundo, como nos tivos individuais e organizacionais;
comentamos anteriormente são a tradução casos de Limeira (2007) e Kotler (1988)
das necessidades de alguém. afirmam o seguinte sobre Marketing: • Atividade humana, dirigida para a
satisfação das necessidades e desejos,
Se bem entendidas as questões aci- • Marketing é a função empresarial através de processos de troca.
ma, devemos estar percebendo que, antes que cria valor para o cliente e gera
de qualquer coisa, precisamos saber como vantagem competitiva para a em-
Marketing é uma
função estratégica da
empresa.
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 6
Independentemente da empresa entender esse relacionamento de forma • Avaliação das necessidades do pú-
ou do negócio, usualmente, a função do mais ampla, principalmente buscando a blico alvo;
Marketing existe, em muitos casos, ainda questão:
não é extremamente formalizada, com um • Compreensão das melhores formas
setor específico, uma pessoa ou grupo de de “Agregar Valor” a esse público
Qual é o Público Alvo?
pessoas específico, mas efetivamente, a através dos produtos ou serviços da
função existe e, em certos momentos, não organização.
parece tão claro, pois a interpretação usu- Dessa forma, o Marketing atua no
al da palavra Marketing, principalmente caso de querer compreender como ele in- O marketing vem sofrendo, mes-
para nós, brasileiros, acaba sendo direcio- fluencia o sistema produtivo da empresa, mo que tendo o mesmo intuito, imensas
nada para algum tipo de anúncio, como como um direcionador dos esforços de modificações no modo e na utilização de
a Propaganda ou algo do gênero, porém relação com o mercado com o qual uma meios de exercer essa relação, isso acontece
o sentido mais correto da concepção de dada empresa quer se relacionar. pelas constantes mudanças dos diferentes
Marketing, ou ainda, a melhor tradução mercados e da maneira que tal mercado
para o contexto que estamos estudando A função do Marketing, desde a dé- espera ser suprido de produtos e serviços.
nesse momento seja: Comercializar. cada de 50, é ser um pilar do pensamento Dentre as modificações, podemos citar:
sistêmico da empresa, uma função estraté-
Quando tratamos dessa comerciali- gica que permeia toda a organização, com • Existem mais ofertas de produtos
zação, estamos querendo entender qual o o intuito de que os mais diversos setores vindos de diferentes fontes, e cada
contexto usado pela empresa ou negócio ou funções, dentro da mesma instituição, vez menos diferenças substanciais
em questão, quanto a “Como esta empresa estejam concatenados, de modo que os que esses produtos possuem em re-
vai se relacionar com seu cliente (ou seu mesmos utilizarão os esforços e recursos lação aos seus concorrentes;
público) ”. E, mais uma vez, vamos en- essenciais para atender as necessidades do
tender que este modo de se relacionar não público definido. Então, podemos enten- • Para alguns segmentos de mercado,
significa, diretamente, a maneira como der que as principais funções do marke- uma parte do grupo de competido-
vamos tratar o público, se vamos ser mais ting, nesse caso, são: res é global e menos local, ou seja,
cordial, se vamos ir até o cliente, ou se existem grandes possibilidades de
o cliente virá até nós, e sim, temos que • Definição do público; estar competindo com concorrentes
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 7
Se bem entendidas as imagens e as melhor valor com o menor custo possível, ser entendida em comparação com
devidas explicações que estavam junto às maximizando o resultado do seu esforço produtos semelhantes para conse-
mesmas, fica agora mais uma questão: produtivo. A estratégia mais bem montada guir realizar uma comparação como,
é aquela que consegue realizar produtos ou por exemplo, podemos dizer que,
serviços que agradem ao público (ou seja, pelos moldes atuais, uma empresa
A maneira de produzir esses
que sejam comprados) e que traga o melhor que produz automóveis em um vo-
itens é a mesma? resultado financeiro para a empresa. lume de cerca de 1000 unidades por
dia, é considerada uma produção de
A resposta para a questão é: não. Podemos entender que, princi- alto volume e uma que produz 50
Visto que, mesmo com as semelhanças palmente ao modo de hoje, as empresas unidades por dia, pode ser conside-
notórias entre alguns dos produtos, os tendem a buscar a maximização dos seus rada de baixo para médio volume.
materiais empregados, a quantidade a ser recursos produtivos (produzir mais), mi- Se no mesmo caso, uma empresa
produzida, o nível de qualidade requerido, nimizando os custos associados a essa do ramo de botões para vestuário
a diversidade entre os modelos, enfim, as produção (enxugar gastos). Sendo assim, produzir 1.000 unidades por dia é
necessidades específicas dos clientes ou o começo de um bom entendimento estra- considerada de baixo volume ante
do público alvo desses produtos acabam tégico do negócio começa com a correta uma que produz cerca de mais de
por modificar, em muito, os aspectos de identificação das características associadas 1.000.000 de unidades por dia, e
produção dos mesmos. ao mercado e produto da empresa. assim por diante. Entendendo que,
quanto maior o volume produzido,
Estrategicamente falando, o Sistema As Dimensões buscam o entendi- menores são os custos de produção,
Produtivo de uma empresa pode ser enten- mento, de maneira que o mercado alvo ou pois os custos de produção tendem
dido, dividindo seus aspectos de mercado público alvo da empresa venha requer o a ser mais facilmente diluídos.
em Dimensões e seus aspectos referentes produto, ou seja, buscam o entendimento
ao produto oferecido em objetivos. É fato dos aspectos mercadológicos, sendo estes: • Variedade: a variedade está relacio-
que, de maneira geral, o cliente busca o nada à quantidade de itens ou pro-
melhor produto ao menor preço, maxi- • Volume: busca o entendimento de dutos diferentes que são produzidos
mizando o resultado da sua compra e do qual o volume requerido do produto pela mesma empresa, entendendo
seu gasto, já a empresa, busca vender pelo da empresa. Essa dimensão deve que, quanto maior a diversidade,
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 12
Implicações quando BAIXO Dimensão Implicações quando ALTO mos pressupor que esta é uma prerrogati-
• Baixa repetição VOLUME • Alta repetitividade va para haver evolução tecnológica, pois
• Funcionário multitarefa • Especialização existe alguma necessidade que não seja
• Menor sistematização • Capital intensivo plenamente atendida e a evolução busca,
• Alto custo unitário • Baixo custo unitário
incessantemente, corrigir essa falha, mas
• Bem definida VARIEDADE • Flexível as necessidades também vão evoluindo,
• Rotineira • Completo
gerando requisitos aos produtos, diferentes
• Padronizada • Atende necessidades dos consumidores
• Regular • Alto custo unitário daqueles até então existentes.
• Baixo custo unitário
• Estável VARIAÇÃO DA • Capacidade mutante Os objetivos quanto aos produtos
• Rotineira DEMANDA • Antecipação podem ser divididos e entendidos sob 5
• Previsível • Flexibilização
diferentes aspectos. São eles:
Fonte: Adaptado de Slack (2009)
maior garantia funcional, ou que tenha boa reputação no mercado, quanto mais • Flexibilidade: o objetivo de flexi-
alta a necessidade de confiabilidade e disponibilidade, geralmente, mais caro é bilidade acaba definindo o quanto
o produto. O quadro a seguir mostra exemplos do que pode ser entendido pelo um produto é vendido de maneira
objetivo de Confiabilidade em diferentes situações: padronizada ou o quão customizá-
vel é esse produto, ou seja, como o
cliente pode modificar ou optar por
Objetivo de Confiabilidade
diferentes versões de produto. En-
Hospital Fábrica de Automóveis tendendo que, quanto mais padrão
for o produto, menor seu custo de
• Proporção de consultas canceladas é • Entrega veiculos aos revendedores no produção, pois se repete sempre a
mínima tempo previsto mesma coisa com o mesmo processo,
• Consultas são realizadas no horário • Entrega peças de reposição aos centros de do contrário, quando mais opções
programado serviços no tempo tem um produto, mais chances o
• Resultados dos exames entregues como mesmo tem de atender a um maior
prometido previsto público possível. Como exemplo,
podemos citar o comparativo de
comprar uma roupa em uma loja
Transporte Coletivo Supermercado popular ou então pedir para um al-
faiate ou costureira fazer uma roupa
• Cumpre o horário fixado em todos os • Previsibilidade do horário de igual, porém totalmente ajustada ao
pontos de trajeto funcionamento tamanho da pessoa, biótipo, tom
• mantém assentos disponíveis para • Proporção de bens em falta é mínima exato de cor que gosta, tipo do te-
passageiros • Tempo em fila é mínimo cido que gosta e assim por diante.
• Disponibilidade de vagas de estacionamento Sendo assim, o Objetivo Flexibilida-
de mede o grau de customização do
produto pelo público alvo, ou seja,
este público alvo “paga” pelo produto
Fonte: Adaptado de Slack (2009) que tem uma maior diferenciação,
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 17
quanto mais alta a necessidade de diferenciação e exclusividade, usualmente • Custo: visto que existem produtos
mais caro é o produto. O quadro a seguir apresenta exemplos do que pode ser que se diferenciam por diferentes
entendido pelo objetivo de Flexibilidade em diferentes situações: maneiras de atender seu público
alvo, uma delas também é o cus-
Objetivo de Flexibilidade to, ou seja, independentemente de
durabilidade, características, prazo
Hospital Fábrica de Automóveis de entrega, customização, existe o
público alvo que visa pagar o menor
• produto/serviço - novos tipos de • produto/serviço - introdução de novos valor possível por um determinado
tratamentos modelos item. Por exemplo, ao se deparar
• composto (mix) - variedade de tratamentos • composto (mix) - variedade de opções com a necessidade da compra de sa-
• volume - ajuste ao número de pacientes disponíveis bão em pó, um determinado cliente
atendidos • volume - ajuste ao número de veículos busca aquele que acredita ter a me-
• entrega - habilidade de reprogramar fabricados lhor performance, enquanto outro
consultas • entrega - habilidade de reprogramar cliente verifica simplesmente o que
prioridades produção é mais barato, independentemente
do que oferece de diferencial. Sendo
Transporte Coletivo Supermercado assim, o Objetivo Custo mede o grau
de valor cobrado pelo produto pelo
• produto/serviço - novas rotas ou excursões • produto/serviço - novos bens e promoções público alvo, ou seja, este público
• composto (mix) - grande número de locais • composto (mix) - variedade de bens alvo “paga” o mínimo pelo produto,
servidos estocados independentemente do que oferece.
• volume - ajuste a frequência dos serviços • volume - ajuste ao número de O quadro que sucede mostra exem-
• entrega - habilidade de reprogramar consumidores atendidos plos do que pode ser entendido pelo
viagens • entrega - habilidade de repor estoques/ objetivo de Flexibilidade em dife-
itens em falta rentes situações:
FASE Produto acaba de ser Produto ou serviço ganha Necessidades do mercado Necessidades do mercado
lançado no mercado aceitação no mercado começam a ser atendidas amplamente atendidas
VOLUME Crescimento lento das Crescimento rápido do volume Redução das vendas, atingindo Declínio das vendas
vendas de vendas um patamar estável
CONSUMIDORES Inovadores Adotantes pioneiros Grande fatia do mercado Retardatários
CONCORRENTES Poucos/nenhum Número crescente Número estável Números em declínio
VARIEDADE DE Possível customização alta Cada vez mais padronizado Surgimento de tipos Possível movimento para
PROJETOS, PRODUTOS ou frequentes mudanças no dominantes a padronização
E SERVIÇOS projeto
PROVÁVEIS Características do produto/ Disponibilidade de produtos ou Preço baixo Preço baixo
GANHADORES DE serviço, desempenho ou serviço de qualidade Fornecimento confiável
PEDIDO novidade
PROVÁVEIS Qualidade Preço Gama de produtos ou serviços Fornecimento confiável
QUALIFICADORES Gama de produtos ou Gama de produtos ou serviços Qualidade
serviços
PRINCIPAIS OBJETIVOS Flexibilidade Rapidez Custo Custo
DE DESEMPENHO DAS Qualidade Confiabilidade Confiabilidade
OPERAÇÕES Qualidade
Fonte: Adaptado de Slack (2009)
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 20
Outro detalhe que vem a ajudar a diversidade de produção possível. Esse é um caso típico da produção de grandes
diferenciar os sistemas produtivos entre embarcações, mineração, construção civil e restaurantes finos, onde qualquer
uma empresa e outra, é a maneira com que processo pode ser praticamente executado a qualquer momento, desde que se
os recursos produtivos são ajustados em desloque até o objeto.
relação à realização do produto, sendo que,
para esse ajuste, dá-se o nome de leiaute
ou arranjo produtivo. Existem alguns ar- Processo
ranjos produtivos clássicos que estaremos
demonstrando a seguir, cada qual produz
efeitos diferentes quanto à velocidade de Processo Processo
produção e seu consequente volume e,
principalmente, quanto à variedade de
produtos que podem ser produzidos:
Objeto
• Arranjo Posicional: também co-
nhecido como dock assembly, o ob-
jeto que está sendo transformado Processo
não se move e sim os recursos trans-
Processo
formadores à sua volta sim, ou seja,
o produto fica parado de maneira Processo
e em local conveniente ao mesmo,
bem como os recursos, tais como: Fonte: Autor
máquina, operadores, matéria pri- • Arranjo por Processo: também conhecido como arranjo convencional, neste
ma, etc. é que vão até o objeto. Esse tipo de arranjo o objeto que está sendo processado, ou seja, o produto, é que se
arranjo proporciona, de maneira ge- desloca em relação aos recursos produtivos que são alocados de maneira con-
ral, um baixo volume de produção, veniente e local apropriado para os mesmos, tais como similaridade, facilidade
mas em contrapartida, proporcio- de operação, espaço físico, etc. Esse é o arranjo mais utilizado nas empresas do
nam também a maior variedade ou ramo metalmecânico (exemplo, existe o setor de prensas, o setor de usinagem, o
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 21
Processo Processo
Objetivo
Processo Processo
Fonte: Autor
Fonte: Autor
Objetivo Objetivo enlatados, restaurante self-service,
etc.
• Arranjo por Produto: também co-
nhecido como leiaute em linha ou Processo Processo
flow shop, este arranjo produtivo é
literalmente montado, de manei-
ra que, o produto específico, seja
processado da forma e na sequência
Processo Processo
mais conveniente, para o melhor
resultado em termos de velocidade
e volume produzido. Nesse caso, a
Fonte: Autor
sequência de processos é obrigatória Objetivo
e a versatilidade ou variedade de
produtos, possíveis de serem pro-
duzidos é mínima, pois é o arranjo Dessa maneira, podemos entender
feito, dedicado para a realização “da- que, dos fatores apresentados como Di-
quele” produto. Nesse caso, deve mensões de Mercado, as mais influentes
ficar claro, que esse arranjo é ado- são a relação entre Volume necessário a
tado somente para produtos onde ser produzido e variedade requerida. Esses
Agora, vamos a um
Autoestudo!
já existentes), Inovações de Mate- acionistas (interesse no lucro que a empresa pode gerar) e a comunidade em
riais (matéria prima alternativa para geral (interesse nos empregos e prosperidade que a empresa pode gerar no seu
substituir as atualmente utilizadas) redor). Sempre que uma inovação é realizada, todas essas partes interessadas
e, de maneira mais ampla, busca- são atingidas, às vezes em maior ou às vezes em menor grau, às vezes positiva,
-se a Inovação de Gestão, ou seja, às vezes negativamente, mas sempre sofrem as consequências da inovação. O
arranjar e ajustar a interação entre importante aqui é entender quem representa essas partes interessadas e saber
os diversos recursos produtivos, de verificar os possíveis efeitos e tomar as melhores definições acerca da inovação
modo a gerar um efeito que tende a proposta ao Sistema.
tornar o Sistema Produtivo melhor,
produzindo um produto melhor, de • Lógica de Processos e Sistemas: um processo é uma operação de transformação,
maneira mais rápida e com custo basicamente, se utilizada das entradas (inputs) que podem ser matéria prima,
menor. insumos, máquinas, pessoas, instruções e devolvendo as saídas (outputs), que
podem ser o serviço, produto, sobras de material, rejeitos, etc. Nesse processo
• Partes Interessadas: também co- de se utilizar das entradas e, ao realizar a operação, transformar a junção das
nhecido na literatura com o nome mesmas em saídas, obrigatoriamente existe um gasto (custo) e agregação de valor
de Stakeholders, o entendimento de (lucro), por isso, não existe agregação de valor sem transformação, do mesmo
partes interessadas está em compre- modo que não se pode chamar de processo uma operação que não agregue valor.
ender que, quando uma inovação é Um sistema tão somente é a ligação de diversos processos, em outras palavras,
realizada, ela afeta positiva ou ne- as saídas de um processo serão as entradas do processo subsequente.
gativamente um ou mais elementos
das partes interessadas. Sendo muito
diferentes os “públicos” que são aten-
didos por uma empresa, composto
dos clientes (interesse no produto
realizado), funcionários (interesse
nos benefícios e salários recebidos),
fornecedores (interesse no consu-
mo de seus produtos pela empresa), Fonte: Autor
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 35
Um processo pode se utilizar como objeto principal de trabalho, tanto Matérias De posse dos conhecimentos dos
Primas (normalmente processos industriais), Informações (tipicamente processos conceitos apresentados até aqui, podemos,
sem uma saída tangível) ou Pessoas (serviços realizados ao consumidor). agora, partir para o entendimento do que
é um sistema de produção, o qual é, ba-
Materiais Informações Consumidores
sicamente, a união dos diversos Subpro-
Fonte: Adaptado de Slack (2009)
Produtos à venda
Dispor os bens
processo ou sistema. Se a análise for algo
Estabelecimento Equipe (vendas/staff)
Aconselhar compra
Produto vendido ao venha generalizar, então, podemos enten-
comercial Registros consumidor
Clientes
Vender produtos der a empresa como um grande processo
com a entrada da matéria prima e a saída
Oficiais de polícia Prevenir crimes Sociedade justa
Polícia Sistema/informações Solucionar crimes Sentimento de de um produto acabado, como exemplo,
Público (criminosos) Prender criminosos segurança mas fatalmente o processo de melhoria
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 36
perde em nível de precisão e oportunida- lº - Divisão do Trabalho possibilitou a medição e estudo das mes-
des de verificação. Já, se a análise for algo mas (Ciência do Trabalho), de forma a
extremamente minucioso, podemos então buscar melhorias nos métodos de traba-
entender a operação de uma máquina como lho. Posteriormente, houve estudos que
processo, porém estaremos incorrendo no 2º - Aumento da Função das Mãos mostraram que, mesmo inseridas dentro
erro de não enxergar as interligações que dos processos produtivos, as pessoas que
este processo tem com os demais. Então, (mecanização e motorização) dele participam possuem necessidades a
podemos ainda, incorreremos por falta de serem atendidas (Necessidades Humanas)
informação para nosso processo de me- e, como são pessoas, naturalmente produ-
lhoria. O mais correto é ir analisando de zem variação. Essa variação é prejudicial
maneira genérica, compreendendo o “Sis- 3º - Ciência do Trabalho ao processo, existe sim a necessidade de
tema”, com isso poderemos compreender haver certo controle sobre as operações e
as interações entre os diversos “Processos” também sobre as pessoas que as realizam,
e assim conseguir compreender quais são mas este controle, quando realizado de
os “Subprocessos” que realmente precisam 4º - Necessidades Humanas maneira opressora, tende a gerar resulta-
de uma análise mais minuciosa, afim do (Hawthorne) dos inconstantes, pois fica extremamente
apontamento de possíveis melhorias. dependente da relação chefe-empregado.
Dessa forma, é que Shingo acaba ressal-
Em uma visão particular, Shingo tando que o Sistema só atinge o patamar
(1996) trata os sistemas de produção e seus de Manufatura Enxuta (produção com
processos de forma evolutiva, partindo
5º - Produção com Estoque Zero estoque zero) quando compreende esse
Fonte: Adaptado de Shingo (1996)
do princípio, conforme comentamos no processo como evolutivo e cria maneiras
As operações artesanais foram divi-
entendimento da Revolução Industrial, para que o “Sistema” faça o controle sob
didas (Divisão do Trabalho) em operações
anteriormente. sua própria variação, e não que este con-
individuais, isso acarretou no aumento de
trole dependa única e exclusivamente das
mão-de-obra, proporcionalmente, atri-
pessoas que comandam o sistema, pois
buída ao produto (Aumento da Função
essas também variam em sua operação.
das Mãos). Essa divisão de operações
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 37
• Setor Secundário: sistemas pro- prias especificações e então disponi- • Projeto sob Encomenda (PTO-
dutivos de transformação e benefi- biliza os mesmos para o mercado, tí- -project to order): a empresa realiza
ciamento de produtos, tipicamente pico caso da indústria de eletrônicos, tanto o projeto quanto a execução, de
atividades de Manufatura. Usual- eletrodomésticos e bens de consumo, acordo com a demanda do mercado,
mente, trabalha-se com produtos de quase não há customização possível, caso típico da construção civil, que
volumes médios para altos e valor produção de altíssimos volumes; tem que realizar um novo projeto a
agregado mediano, sendo a ênfase cada novo produto, altos níveis de
na relação de empresas para em- • Montagem sob Encomenda customização possíveis, produção
presas, com alguma relação com o (ATO-assembly to order): a em- de baixos volumes.
consumidor final; presa fabrica produtos pré-definidos
e realiza a configuração final desse Nos casos dos serviços a classifica-
• Setor Terciário: sistemas produ- produto de acordo com a demanda, ção tem pequenas modificações:
tivos, com ênfase no consumidor caso típico das montadoras automo-
final, o valor agregado está baseado tivas, certo nível de customização • Serviço em Massa: serviço padro-
na aproximação do cliente, ou ainda, controlada em pacotes pré-defini- nizado, de baixo custo relativo, não
na facilidade de aquisição, tipica- dos, produção de grandes volumes; customizado e de altos volumes, caso
mente as empresas de Suprimentos, das companhias de luz, telefônicas,
Transportes e Serviços. • Produção sob Encomenda (MTO- etc.;
-make to order): e empresa realiza
Os sistemas produtivos também seu produto de acordo com as es- • Loja de Serviço: serviço de relativa
podem ser classificados de acordo com a pecificações do cliente, típico caso padronização, certo nível de custo-
forma que interagem com seus clientes, das indústrias de autopeças, que mização e de médios volumes, caso
onde basicamente podemos entender para produzem de acordo com as espe- das assistências técnicas e revende-
o caso de produção de bens materiais: cificações das montadoras, grandes dores autorizados;
níveis de customização possíveis, de
• Fabricação para Estoque (MTS- acordo com predefinições, produção • Serviço Profissional: serviço alta-
-make to stock): a empresa realiza de médios para grandes volumes; mente customizado, baixo volume
seu produto de acordo com suas pró- produzido e altos custos relativos
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 39
O MECANISMO DA FUNÇÃO
PRODUÇÃO
dutivos está realizando) no tempo e Importante compreender que sempre serão realizadas melhorias na função
no espaço; operação, mas estas sempre terão de ser subordinadas à função processo, pois esta é
a função que representa o fluxo de produtos que o sistema está processando. Ou seja,
as melhorias devem ser realizadas no processo, que será avaliado e onde será notada
qual a operação contribui para o resultado indesejado do mesmo, nesse momento, a
operação apontada em questão deverá ser ajustada.
Fonte: Autor
Diversos tipos de processos podem ser retratados, analisados e estudados e as
EXEMPLO: Nesse processo, a operação formas de demonstrar isso variam de pessoa para pessoa ou de organização para or-
em questão é o transporte de objeto de ganização. A literatura também traz diversas formas de realizar esta demonstração, a
massa equivalente a 500 kg por uma isso se dá o nome de diagrama de fluxo de processo, sendo que sua função é entender
distância de 1 km entre os pontos A e B. o processo de manufatura e identificar oportunidades de melhorias com a elimina-
Diante desse processo, onde foi realizada ção dos desperdícios (estes serão tratados em específico no capítulo sobre perdas).
uma modificação, sendo a operação de Shingo (1996) define uma forma de tratar e descrever processo, padronizando uma
transporte modificada de manual para nomenclatura a tipos de operações, conforme segue:
mecanizada, responda:
MODELOS DE
PRODUÇÃO
Quais os conceitos que formaram estes
Modelos Produtivos? Quais as diferenças
entre ambos?
A indústria automotiva, no geral, costuma ter implemen-
tado em seus sistemas produtivos algumas das mais modernas
sistemáticas de produção. Isso se deve ao fato de seu produto
ter presença mundial, sua indústria ser extremamente repre-
sentativa em termos econômicos (grandes somas de valores,
grande número de empregos), movimentar um alto número de
fornecedores em sua cadeia, além do fato do seu produto ter
proporções relativamente grandes, também por ser produzido
Empresas que são reconhecidamente
em um volume considerável, ter certa variedade de configu-
expoentes no ramo de produção de
rações e, certamente, por ser um tanto quanto complexo em
automóveis foram as responsáveis
virtude do número de partes e operações envolvidas na sua
por definir modelos de produção,
totalidade.
cujos conceitos são mundialmente
conhecidos, estudados e utilizados por
Todos esses fatores acabam por gerar uma busca cons-
uma infinidade de corporações, desde
tante, não somente por processos e recursos produtivos mais
pequenas até grandes empresas.
avançados e eficientes, mas também por sistemáticas que
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 50
venham a ajudar o aumento de produ- por não perdurarem da maneira com que Para constar, na época os automóveis
tividade, reduções de custos, vantagens foram concebidos. eram “construídos” por encarroçadores,
competitivas, diferenciais entre sua con- literalmente, empresas que até então fabri-
corrência e etc. Sendo assim, boa parte de cavam carruagens e naturalmente foram
SISTEMA FORD DE
algumas das melhores e mais difundidas evoluindo para o novo meio de transporte.
sistemáticas de produção acabaram sendo PRODUÇÃO Alguns se utilizavam de peças ou partes
geradas ou introduzidas dentro das indús- de outros fabricantes (principalmente mo-
trias automotivas, ou seja, praticamente Praticamente toda a história moder- tores), e outros, literalmente produziam o
a evolução dos padrões e sistemáticas de na do automóvel, como conhecemos, hoje, veículo como um todo. Esses automóveis
produção acabam se confundindo com foi calcada nos conceitos introduzidos pela eram fabricados de maneira bem artesanal,
o próprio crescimento e história dessas empresa Ford Motor Company, vindos das ao gosto do cliente ou ao estilo do designer
empresas. ideias de seu mentor e criador, Henry Ford. que os desenhava, praticamente não se-
Ford (o criador), vendo o que entendeu ser guiam ou utilizam poucos padrões, sendo
Nesse capítulo vamos citar 4 exem- uma maravilha da tecnologia moderna, assim, os automóveis eram extremamente
plos de Modelos Produtivos, que obvia- o automóvel, entendeu que esse seria um customizados e, praticamente, não haviam
mente não são únicos e nem definitivos, grande objeto de necessidade e desejo no dois automóveis iguais. Naquela época,
mas conseguem demonstrar um bom nú- mundo todo, assim resolveu investir na somente nos Estados Unidos, havia mais
mero dessas sistemáticas e foram esco- produção destes automóveis. de 100 fabricantes ou encarroçadores de
lhidos pela sua representatividade, valor automóveis.
histórico e formas de conduzir as questões
de produção. São basicamente os pila- Henry Ford era herdeiro de uma
res do pensamento produtivo moderno, família de fazendeiros, e, àquela altura, já
sendo que, alguns foram extremamente tinha grandes posses, acabou escrevendo,
funcionais durante um período de tempo, por volta de 1920, um livro chamado Hoje
outros mudaram efetivamente os rumos da e Amanhã (Today and Tomorrow), no
história e, também, exemplos de sistemáti- qual retrata suas ideias, (já havia escrito
cas interessantes, mas que, em virtude do outro anteriormente mais autobiográfico),
contexto em que estão inseridos, acabaram não só sobre o automóvel, mas sobre a
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 51
sociedade e o mundo, de maneira geral, poderia render melhor nos períodos onde
lucratividade, desperdícios, padronização, estavam na empresa) e também o fato de
etc. Por volta de 1918, acabou por deixar a que, com 8 horas de trabalho era possí-
companhia e ingressar na carreira política, vel criar 3 diferentes turnos de operação,
onde acabou sendo eleito Senador, mas sendo que, com 9 isso não era possível,
mesmo assim manteve o poder de decisão maximizando o potencial produtivo da
sobre boa parte dos rumos da empresa. empresa. Algumas dessas medidas per-
Como Senador, trabalhou principalmen- manecem ainda em vigor e sua linha de
te em projetos como redução de jornada pensamento norteia, em muito, a maneira
de trabalho (de 9 para 8 horas por dia), de pensar dos Industriais Americanos.
melhora de salários para os funcionários Foi autor de célebres e adaptadas frases,
que fossem qualificados (salário mínimo tais como:
da época era US$2,34 foi elevado para
cerca de US$5,00), diminuição de dias “Se tivesse feito o que meus clien-
da semana trabalhados de 6 para 5, entre tes pediam, teria construído uma car-
outras medidas. ruagem com mais cavalos ao invés do
modelo T”.
Apesar da fama de controlador,
Henry Ford tinha objetivos agressivos e de “O cliente pode ter o carro da cor
natureza social, entendia que a evolução do que quiser, contanto que seja preto”.
país somente se daria com a melhora nas
condições de trabalho e poder de renda, Ford contou com as ideias de outro
para que os mesmos tivessem a possibili- contemporâneo, Frederic Winston Taylor,
dade de poder consumir produtos e assim que era um Engenheiro e se especializou
movimentar a economia. Suas medidas não nas questões de sistemáticas de produção.
tinham somente caráter social, visavam a Suas ideias acabaram por formar o que
produtividade (por exemplo, com mais dias chamamos de Ciência do Trabalho, onde
e horas de descanso, assim o trabalhador procurava estabelecer a melhor, mais pro-
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 52
dutiva e menos fatigante forma de execu- mento do “Modelo T” que, para a época
tar cada tipo de operação, estabelecendo foi um marco nas tecnologias de produto,
padrões com instruções, sistemáticas e processo e gestão de produção, em virtude
tabelas. Para isso, são utilizadas, até os de três grandes fatores e inovações:
dias de hoje, com outros estudos comple-
mentares executados pelo casal Gilbreth, o • Padronização do Produto: como
qual defendia que toda e qualquer operação mencionado anteriormente, cada
necessita, antes de qualquer coisa, de um automóvel da época era único, cus-
estudo para avaliar a melhor forma de ser tomizado, isso denotava que seu
executada e acreditava que toda a opera- tempo de produção era extrema-
ção deveria ser, absolutamente controlada, mente alto, o veículo era caro e,
como forma de eliminar a variabilidade, usualmente, peças de um veículo
principalmente do ser humano, e assim não se acoplavam em outro (o car-
obter os resultados planejados e evitar todo ro deveria ser “restaurado” quando
e qualquer desperdício, seja de recursos, estradado e não consertado ou ter
seja de tempo ou de material. Em con- peças trocadas). A primeira grande
trapartida, promovia que deveria existir melhoria implementada por Ford foi
coparticipação entre capital e trabalho, justamente padronizar o produto,
ou seja, indivíduos mais produtivos ou ou seja, o produto a ser produzido
que conseguiam fazer mais tarefas ou era sempre o mesmo, logo uma peça
que outros deveriam receber mais. A base produzida poderia ser montada ou
fundamental de pagamento de salários na agregada a qualquer um dos veículos
indústria americana continua seguindo a serem realizados, pois eram total-
muitos desses conceitos. mente intercambiáveis. Isso possi-
bilitou a diminuição da variação de
A Ford Motor Company teve seu modelos e uma certeza que ajudaria,
grande crescimento e ficou, inicialmente, primordialmente, nas questões de
conhecida a nível mundial com o lança- qualidade do produto e programa-
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 53
Para buscar sanar esse problema, Todas essas medidas e implemen- carro na quinta-feira da mesma se-
Henry Ford teve a ideia, em torno tações de sistemáticas permitiram a Ford mana.
de 1913, visitando um frigorífico, de atingir números e feitos impressionantes,
alinhar os processos subsequentes, principalmente vistos à época onde foram Um olhar um pouco mais cético
lado a lado, na ordem que deveriam executados (entre 1908 e 1927, ano em que sobre os feitos e fatos acontecidos, reme-
ser realizados e implementar esteiras o Modelo T deixou de ser produzido) e te-nos a analisar algumas questões e nos
que transportavam peças de um pro- são dignos de notas alguns fatos: proporciona uma avaliação do porquê ou
cesso para outro em um tempo har- como foi possível fazer tais feitos naquela
mônico, padronizado e que atendia • Produziu 15.007.034 unidades do época e hoje tais fatos seriam quase impos-
a demanda do produto. Desse modo, Modelo T entre 1908 e 1927 (recor- síveis de serem executados, para tanto, po-
podemos atribuir a Ford o arranjo de de mantido por 45 anos). Foi poste- demos citar algumas razões importantes:
processo por Produto, ou Linha de riormente substituído pelo Modelo
Produção, onde os trabalhadores se A, onde a empresa passou a ser co- • Henry Ford era de família extre-
viam obrigados a executar as tarefas mandada pelo filho de Henry Ford; mamente abastada, dono de um
no ritmo certo, gerando cadência e conglomerado de empresas extre-
diminuindo as incertezas, chegando • Iniciou sua venda do Ford Modelo mamente lucrativas, sendo assim, o
a produzir cerca de 2.000 automó- T a US$826,00 e, ao final de sua fator financeiro nunca foi um grande
veis por dia. produção, era vendido a US$360,00, problema. Soma-se a isso o fato de
onde eram produzidos um a cada também ter recebido investidores
98min; (no começo foram num total de 12,
que aportaram cerca de US$28.000
• Possuía cerca de 80.000 funcioná- na empresa);
rios e a Ford tinha cerca de 10.000
hectares; • A cadeia produtiva era extrema-
mente verticalizada, ou seja, era
• Foi capaz de extrair minério de ferro toda de propriedade da Ford, des-
numa segunda-feira e utilizar este de a extração de minério de ferro,
mesmo minério na produção de um fundição do aço, extração de látex
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 55
(na Amazônia), fabricação dos pró- facilmente sua produção, tanto que atender as novas expectativas do mercado,
prios pneus, fabricação de todos os a literatura praticamente dá conta fato que perdura até os dias atuais.
componentes, ferrovia particular, de que as vendas eram simplesmente
ligando praticamente toda a cadeia limitadas pela capacidade de pro-
SISTEMA TOYOTA DE
produtiva e frota de navios própria dução.
para transbordo de produtos, rece- PRODUÇÃO
bimento de mercadorias, etc.; Apesar de ainda ser considerado um
dos Modelos Produtivos mais eficientes Em um cenário totalmente diferen-
• Na época houve uma grande mi- já implantados no mundo, a hegemonia te da época da fundação da Ford Motor
gração de pessoas para os EUA, da Ford e seu modelo produtivo tem seu Company surge a Toyota Motor Corpo-
principalmente para Detroit (cidade declínio quando acontece a união de algu- ration, subsidiária da Toyota Industries,
onde estava situada a Ford), vindas mas empresas americanas de fabricação de que, em 1918 foi fundada por Sakichi
da Europa (grande número de Irlan- automóveis, formando a General Motors Toyoda para fabricar Teares automatiza-
deses), que iam para os EUA buscar Company. Essa vem ao mercado com uma dos, conhecidos na época como os mais
empregos. Essa mão- de -obra, ape- proposta de modelos diferenciados, que produtivos e eficientes, principalmente
sar de tecnicamente despreparada, denotavam o status do seu proprietário pelo fato de terem acoplados ao seu sistema
era extremamente barata; (não sempre a mesma coisa), incutindo de funcionamento uma espécie de fusível
no mercado o senso de necessidade de mecânico, que era preso à linha tensionada
• A extensão de terras e o tamanho satisfação pessoal, customização do pro- enquanto produzia tecido, sendo que esta
do espaço disponível também não duto e diferenciação. Com isso, o modelo linha, ao se romper, fazia com que esse
foram um problema para a Ford; produtivo de produtos extremamente pa- dispositivo parasse a máquina, evitando
dronizados acaba por quase que ruir no assim a produção de tecidos com falhas.
• Entretanto, o grande detalhe era cenário automotivo, apesar do mesmo ain- O fato de ter este dispositivo permitia que
que, como o mercado não tinha este da ser aplicado a diversos outros produtos somente um operador cuidasse do traba-
produto (automóvel) disponível em e propósitos. Dessa maneira, tanto a Ford lho de 20 teares automáticos, um feito
condições, volumes e preços acessí- como qualquer outra empresa automotiva, fantástico para a época. Esse dispositivo
veis, quando Ford inunda o mercado posteriormente, viram-se com a necessi- é o prercussor da ideia do Jidoka, a qual
com seu produto, o mesmo vende dade de adaptar seus processos de modo a veremos mais adiante.
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 56
e idealizador, tem como famosa a frase: empresa automotiva no Japão (a Toyota) moldes da Ford, pois o considerava extre-
ainda continuava a prosperar. Alguns es- mamente produtivo e eficiente, todavia as
“Fazer uma fábrica funcionar para tudiosos americanos voltaram seus olhos condições em que a Toyota encontrava na
a empresa, exatamente como o corpo para a tal empresa e queriam saber o que época eram bastante diferentes da Ford,
humano funciona para o indivíduo” a tornava, de certa forma, próspera em em seu momento, a saber:
tempos de crise, fazendo com que, na
Na década de 1950 junta-se a Ohno, década de 1980, torna-se famoso o livro • O Japão tem uma extensão de terras
um professor da Universidade de Saga e “A Máquina que Mudou o Mundo”, de muito pequena e esse pouco ainda
Consultor de empresas chamado Shigeo Womack e Jones, onde, pelo menos, visto tem vários pontos inabitáveis, sendo
Shingo, e juntos, desenvolvem os conceitos aos olhos ocidentais, procuravam expli- assim, cada espaço é extremamente
e as técnicas do Sistema Toyota de Produ- car as metodologias e os “Segredos” da valorizado;
ção. Shingo escreveu vários livros em sua empresa para enfrentar os momentos de
carreira, inclusive considera-se que foi a crise. A partir daí os conceitos do Sistema • A mão de obra Japonesa é tida como
primeira pessoa a descrever, por volta da Toyota de Produção rodaram o mundo e extremamente capaz e qualificada,
década de 1980, em forma literária, os ainda hoje são extremamente bem quistos mas é cara e escassa;
conceitos do Sistema Toyota de Produção, e atuais.
mas em virtude de problemas de tradu- • Tanto a Toyota quanto o Japão não
ção do japonês para o inglês somente é viviam tempos de milagres finan-
reconhecido por isso mais tardiamente. É ceiros, bem pelo contrário, o perí-
considerado o grande idealizador de meto- odo de Guerra tornou o Japão todo
dologias tais como o SMED e Poka-Yokes muito pobre;
(que serão descritos no próximo capítulo).
• A essa época o consumidor do mun-
A Toyota ficou mundialmente co- Sr. Shigeo Shingo
do todo já não tinha tanta carência
nhecida após a Crise do Petróleo, de 1979, pelo automóvel quanto na época de
na qual muitos grandes conglomerados Como mencionado anteriormen- Ford, sendo assim, já eram necessá-
industriais tiveram sérias dificuldades, mas te, Ohno tinha Henry Ford como ídolo, rias variedades de produtos, o que
mesmo assim havia notícias de que uma imaginava fazer seu sistema produtivo aos impedia a ideia do modelo Ford na
sua íntegra.
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 58
correias transportadoras e outros), sidades dos clientes, apresentando • Perdas por Movimentação Interna:
o que melhora apenas a atividade características de qualidade fora de perda associada às operações onde
de transporte (operação), sendo que um padrão estabelecido. Essa perda movimentos desnecessários são rea-
o interessante, é a diminuição da é a mais comum e de fácil identifi- lizados por um operador ou recurso
mesma ou eliminação por completo; cação, pois gera retrabalhos ou até produtivo, no momento em que se
mesmo sucateamento de produtos, está realizando esta operação. Os
• Perdas por Processamento em geralmente acontece em virtude da estudos de tempos e movimentos de
Si: o próprio fato do sistema ter falta de processos capazes ou con- Taylor e do Casal Gilbreth, ou seja,
que processar um objeto poder ser fiáveis; o estudo das operações, ajudam na
considerado uma perda, pois nos diminuição dessa perda;
colocamos a pensar as etapas do • Perdas por Estoque: perdas asso-
processo que poderiam ser elimi- ciadas ao processo, que ocorrem pela • P
erda por Espera: também asso-
nadas sem alterar as características existência de estoques de matérias ciada às operações, onde aconte-
ou as funções básicas do produto ou primas, material em processamento cem intervalos de tempo, no quais
serviços. Operar máquinas aquém e produtos acabados. Shingo (1996), o processo ou operação é executado.
das suas capacidades é considera- inclusive, afirma que uma grande Vamos a uma exemplo: um processo
do uma perda por processamento. barreira à diminuição das perdas por ou uma operação é executada por um
Usualmente, pode ser localizada a estoque é a concepção ocidental de operador, esse necessita parar para
partir dos questionamentos de por que o estoque é um “mal necessário”, aguardar a movimentação de uma
que esse tipo de produto ou serviço pois ele funciona como um “retifi- máquina ou recurso, ou ainda, uma
específico deve ser produzido ou por cador” para as oscilações da deman- máquina ou recurso que não pode
que esse método deve ser utilizado da e confiabilidade das máquinas e executar sua tarefa porque está espe-
neste tipo de fabricação; operações. Por isso, quanto maior rando o resultado de outra operação
a variedade necessária de produção ou a chegada de matéria -prima de
• Perdas por Produção de Produtos pelo sistema, maior é a necessidade outro processo, etc.
Defeituosos: é a realização de um de estoques;
produto dentro do processo que não
está em conformidade com as neces- • Veja a forma ilustrada
na próxima página
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 60
SISTEMA VOLVO DE
PRODUÇÃO
empresarial, onde salários e benefícios Um empresa de rolamentos e peças uma grande preocupação com as questões
são direitos adquiridos do trabalhador e, de precisão, a SKF, foi o berço formativo
de segurança automotiva, cabendo a Volvo
numa eventual mudança de emprego, são da Volvo, que começou em meados da algumas primazias a nível Europeu, tais
consigo, carregados e não ficam atrelados década de 1970 como uma subsidiária e como: barras de proteção laterais e sistema
ao empregador, além de um sistema deci- acabou por formar, mais tarde, uma em- que mantém os faróis ligados durante o
sório com ampla participação popular nas presa independente. A empresa foi fundada
dia (o que hoje é praticamente um padrão
questões de tomada de rumo das medidas em Uddewalla, por Gustav Larson e Assar na Europa). Teve seu apogeu na década
governamentais. Apesar do desenvolvi- Gabrielsson, com a idéia inicial de pro-de 1990 e, atualmente, não mais fabrica
mento industrial tardio, a Suécia ficou a duzir um carro tipicamente Sueco, mais automóveis (apesar da marca Volvo auto-
parte da Segunda Guerra Mundial, então, adequado às severas condições climáticasmóveis ainda existir e ser propriedade de
com seu país e indústrias, praticamente, do país, o que costumava ser um problemaoutro grupo automotivo) e acabou por se
intocados no pós-guerra, acabou se uti- para os produtos advindos de outros locais.
dedicar quase que exclusivamente, em ter-
lizando da ocasião para suprir os demais mos rodoviários, ao ramo de Caminhões,
países devastados com uma grande gama A empresa começou com um forte adquirindo, para isso, outras empresas de
de produtos. apelo a esta melhor adequação às neces- renome.
sidades do povo Sueco, além de difundir
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 62
O sistema produtivo da Volvo (ou automóveis por vez), eliminando a ideia de linha de montagem, inicialmente adotada,
chamado também de Volvismo) era carac- pois entendiam que o outro tipo de arranjo valorizava mais as atividades do operador,
terizado por uma ampla participação do funções consideradas por eles menos nobres, tais como fluxo de informação e logística
empregado nas decisões produtivas (refle- de materiais, eram extremamente automatizadas.
xo da política social do país) sendo que,
por conta disso, os funcionários rebem O Modelo Produtivo da Volvo não perdurou dessa maneira por muitos anos
um amplo treinamento antes de iniciarem em virtude das atuais necessidades de mercado, em termos de produtividade, pois,
suas plenas atividades (cerca de 17 meses) entende-se, que apesar de ser considerado extremamente socializado, sofria com as
e acabam por decidir, dentro do grupo incertezas em termos de ritmo de produção, necessidade de estoque e variabilidade
de trabalho aonde pertencem, quem dos nos processos, mesmo que fosse reconhecido como de extremo nível de produtivi-
mesmos irá comandar as atividades da dade. Apesar de tudo, é um caso interessante a ser estudado, visto que, muitos anos
equipe e por qual período. O grupo de depois da indústria automotiva adotar, a nível praticamente global, a ideia de linha
trabalho, formado por cerca de 8 funcio- de produção, a Volvo tomou uma decisão de arranjo produtivo e sistema de produção
nários monta o carro, em arranjo físico bastante diferenciada.
posicional, do início ao fim, sendo que o
grupo também define quem vai fazer qual
tarefa no automóvel e o ritmo de trabalho
empregado.
SISTEMA HYUNDAI DE ados de 1968, montando automóveis da outra empresa coreana, a KIA.
PRODUÇÃO Ford em regime de CKD, na Coréia, (No
CKD, o veículo vem em blocos pré-mon- A Hyundai possui duas gigantescas
tados e peças que são somente acopladas e fábricas de automóveis na Coréia (Assan e
Conhecido também como HPS finalizadas no destino final). Já, em 1970, Ulsan), sendo uma delas construída junto a
(Hyunday Production System) é o Modelo com ajuda de recursos estatais, a Hyundai, um porto (a empresa também constrói seus
Produtivo considerado como objeto de es- em parceria com a Mitsubishi, produz navios), permitindo a vinda de autopeças
tudo mais moderno entre os demais apre- seu primeiro automóvel, chamado Pony. da Alemanha e Japão (pois as empresas de
sentados aqui, apesar da literatura sobre o Em 1975 decide contratar como gestor autopeças coreanas não são confiáveis) e
mesmo ainda se resumir, essencialmente, industrial Seyu Arai, vindo da Mitsubishi também o escoamento de produção para
a artigos acadêmicos, diferentemente do e discípulo de Taiichi Ohno. Na década de o restante do mundo, visto que, fora uma
Sistema Toyota de Produção, que possui 1980, resolve entrar no mercado america- planta fabril de carros populares no Brasil,
inúmeras publicações e citações de suas no, uma tentativa relativamente frustrada todos os demais carros da Hyundai são
metodologias. em virtude da época, fama de carro frágil fabricados na Coréia.
e problemático (não estava bem adaptado
Basicamente, como empresa, a às necessidades do mercado dos EUA). Em A história da Hyundai é recheada de
Hyundai iniciou suas atividades em me- 2005 a Hyundai oficializa a absorção de conflitos com governo e sindicatos, em vir-
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 64
Os Modelos Produtivos são frutos, O Sistema Toyota foi estabelecido em mas visto os mercados atuais, as flutuações
principalmente dos mercados em que atuam uma época de inúmeras incertezas de mer- a que estava suscetível acabam por fazer a
e das definições acerca dos seus objetivos em
cado, mesmo assim, conseguiu definir meto- empresa perder competitividade.
termos de produto, mas, além disso, também dologias que foram suficientes para adequar
são extremamente influenciados por fatores a empresa em virtude dessas necessidades. A Hyundai fez a adoção seletiva de
culturais associados a sua mão -de- obra. Suas ideias foram tão bem desenvolvidas que metodologias do Sistema Toyota em função
servem de base para inúmeras empresas no de particularidades do mercado a que destina
O Sistema Ford foi estabelecido em mundo. seu produto, sua estratégia de posicionamento
uma época de mercado extremamente carente desse produto e de fatores relativos à mão-de-
pelo seu produto, por isso, definiu metodo- O Sistema Volvo foi criado em um am- -obra disponível no país onde está instalada.
logias baseadas na produção de volumes ex- biente social diferenciado, onde, por algum
cepcionais de produção. tempo, conseguiu -se manter competitivos,
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 67
METODOLOGIAS
DA MANUFATURA
ENXUTA
Quais as metodologias utilizadas na
Manufatura Enxuta? Como aplicar?
Como expressamos no capítulo anterior, a Toyota, quan-
do do desenvolvimento implementação, referente à época do
que foi chamado Sistema Toyota de Produção, acabou por
definir diversas metodologias e sistemáticas, que atualmente
são tidas como a linha de pensamento produtivo mais adequada
para os atuais ditames e necessidades de mercado. Visto que,
vivemos tempos de demandas variáveis, de baixos volumes
de altas variedades de produtos. Portanto, essas ferramentas
e sistemas desenvolvidos na Toyota formam o que os espe-
cialistas denominam hoje como Sistemáticas de Manufatura
Enxuta (Lean Manufacturing), as quais vamos explicar neste
capítulo, baseando-nos na estrutura da própria Toyota.
do assunto (Womack, Liker, Antunes, Slack, entre outros tantos) organizaram a ESTABILIDADE OPERACIONAL
mesma de forma didática, estruturada como se fosse uma “Casa” com a lógica que
existe um alicerce (base fundamental), onde podem ser fixados os pilares (sistemá-
ticas e linhas de pensamento estrutural) para a sustentação de um telhado (objetivos Observando a figura acima, pode-
gerais do sistema). mos observar que a “base da mesma” é
formada por quatro diferentes sistemáticas,
estas são as responsáveis pela Estabilidade
Operacional do Sistema.
Cadeia de Valor
Trabalho Standard
TPM
• Visível: Efeito do problema que pode seja, atende situações não previstas e em funcionamento, nesse momento,
facilmente ser identificado, simples- nem planejadas, com isso, existe um é interessante avaliar o impacto de
mente olhando; risco associado às paradas de produ- uma eventual parada da máquina,
ção por período indeterminado. Esse o que pode gerar em termos de di-
• Invisível: Real causador da falha é um caso típico onde um produto ficuldade de renovação, ou ainda, o
visível. estraga e é enviado para “conserto”. quanto “custa” o tempo dessa má-
quina parada. Isso, pelo fato de se
• Manutenção: o termo nasceu junta- • Manutenção Preventiva: tipo es- tomar a decisão de migrar para uma
mente com os primórdios da orga- pecífico de manutenção onde é re- intervenção preventiva ou não, sen-
nização militar (tempos medievais), alizada intervenção em um recurso do assim, usualmente a sistemática é
onde o mesmo indicava “Manter” as produtivo, que não está efetivamente utilizada em máquinas com restrição
tropas (mão de obra) e equipamen- com falha, mas conforme período de capacidade ou de alto grau de
tos (recursos) prontos para combate estipulado, deve ser “renovado”. necessidade para o processo. Esse é
(produção); Como o próprio nome sugere, esta o caso típico que, rotineiramente, a
intervenção é literalmente preven- cada período de tempo ou quilome-
• Manutenção Corretiva: como o tiva, ou seja, está sendo feita a in- tragem, vemos nas trocas de óleos
próprio nome pressupõe, é o tipo de tervenção em momento programa- e filtros de um automóvel, ou seja,
manutenção realizada para colocar do para prevenir o aparecimento de o mesmo estava funcionando, mas
um equipamento ou recurso nova- falhas em momento inoportuno. para evitar uma eventual quebra,
mente em atividade, ou seja, ouve Desse modo, é realizada uma “pa- que custará caro, realizamos preven-
uma falha e deverá acontecer uma rada programada”, mas para isso é tivamente a troca desses insumos,
intervenção de modo a “renovar” o necessário conhecimento das peças prolongando o uso do recurso (neste
recurso (tirar o mesmo do estado de de desgaste e histórico da máquina, caso, o carro);
falha, independentemente de outros também é interessante ter os tempos
defeitos). Esta é a sistemática de ma- de manutenção conhecidos. Existe • Manutenção Preditiva: de manei-
nutenção mais comumente utilizada. o inconveniente de, efetivamente, ra análoga à sistemática de manu-
Tendo também o intuito de atendi- existir investimento em peças que tenção preventiva, a manutenção
mento de panes ou emergências, ou serão trocadas, que ainda estavam preditiva tem a missão de realizar
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 72
didaticamente demonstrada na forma de uma casa com pilares para demonstrar as • Educação e Treinamento: Busca o
diferentes “disciplinas” a serem avaliadas no sistema produtivo. Importante notar que desenvolvimento de habilidades e
nenhum “pilar” é maior ou mais largo do que os outros, portanto, não existe ponto conhecimento das pessoas envolvi-
mais ou menos importante, e sim, que todos devem ser, no mínimo avaliados. das em cada processo, ou seja, antes
de realizar a operação existe a neces-
sidade de, primeiramente, conhecer
a atividade. Busca a “Habilidade” de
poder agir de forma correta e au-
tomática (quase que sem pensar),
com base em conhecimentos ad-
quiridos sobre todos os fenômenos
e utilizá-los durante um grande pe-
ríodo. Para tanto, é necessário um
ambiente propício à propagação do
conhecimento (políticas, cultura,
pró-atividade, etc.). Somente pes-
soas aptas a realizar uma função
devem exercer tal função;
• Manutenção da Qualidade: os • Controle Inicial: Consiste na veri- vas devem ser encaradas do mesmo
equipamentos têm que ter condições ficação prévia de cada novo recurso modo, ou seja, há de se avaliar a
de realizar as tarefas sem produzir produtivo, tendo como base as lições mão de obra e os recursos utilizados
produtos com defeitos, entendendo aprendidas com o próprio processo. (softwares, equipamentos, literatura,
que, ao produzir produtos com defei- Esta verificação consiste no fato de base de informações) estão de acordo
to, o nível de produtividade é redu- avaliar se cada novo recurso produti- com as necessidades dos produtos
zido, pois a peça ou serviço produ- vo está apto a realizar a tarefa à qual e processos, para não incorrer em
zido tem que sofrer mais operações será destinado, qual a necessidade de falhas de produtividade, devido à
para tornar-se bom (necessidade de intervenções de manutenção, nível problemas nestas atividades.
retrabalho) ou então ser descartado de qualidade potencial. Para tanto,
(sucateamento). O conceito, basi- é necessário um projeto do processo O grande entendimento, neste mo-
camente, tem o intuito de realizar bem elaborado, ou seja, é necessária mento, é que a Manutenção Produtiva
a verificação regular das condições uma fase de planejamento adequada. Total não visa tão somente realizar a inter-
do processo como um todo, de modo De maneira análoga, basicamente venção em equipamentos dentro do sistema
a compreender possíveis fontes de se verifica em cada novo recurso produtivo, mas sim, é uma sistemática
geração de defeitos (entendidos usu- produtivo o equivalente a avaliação que visa “MANTER” sempre dentro dos
almente como Mão de Obra, Máqui- de uma nova mão de obra (ver item parâmetros requisitados os níveis de pro-
na, Matéria Prima, Métodos, Meio- Educação e Treinamento anterior), dutividade do sistema. Dessa forma, não
-Ambiente e Medição – ver diagrama onde se busca minimizar o custo do é a atividade de uma pessoa ou um setor
de Ishikawa). As metodologias mais Ciclo de Vida do recurso, sendo esse em específico dentro da empresa, e sim a
atuais defendem o estabelecimento o custo total gerado no processo de proliferação dos conceitos disseminados
de processos robustos e capazes (con- projeto, desenvolvimento, produção, por todas as partes do processo. É muito
ceito de Capabilidade estatística de operação, manutenção e apoio; difícil afirmar se uma empresa realiza ou
máquinas). Resumindo, ao se pro- não o TPM, pois algumas das atividades
duzir somente produtos sem defeito, • Gestão Administrativa: Da mesma são, de certa forma, parte do dia a dia de
todos os produtos produzidos são maneira que as atividades relacio- muitas operações, mas o conhecimento e
aproveitáveis, ou seja, não se diminui nadas aos recursos diretamente pro- aplicação ampla da metodologia é o cerne
a produtividade; dutivos, as atividades administrati- da questão, o mais importante é conseguir
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 76
entender e adaptar os conceitos para cada processo que realiza o mesmo. De posse cesso são as atuais linhas de montagem das
processo produtivo, seja de produto ou deste conhecimento, a ideia central é tor- empresas do ramo automotivo, que, costu-
de serviços, objetivando Zero Avarias, nar o fato de diferentes produtos (na visãomeiramente, produzem produtos variados
Zero Defeitos, Zero Acidentes e Zero do cliente) serem iguais (ou parecidos), (variam em termos de opcionais, cores e, às
Desperdício. no momento da sua execução, (visão do vezes, até modelos) em um mesmo arranjo
processo). Para tanto, é necessária uma físico em linha de produção. Lembrando
grande flexibilidade do arranjo ou do fluxoque esse arranjo por Produto é idealizado
Heijunka
do processo produtivo, traduzindo esta para realizar “um único” tipo de produto
flexibilidade também em forma de, por (conceito de Ford). Os japoneses foram
O último conceito relacionado com exemplo, agilidade de setup (veremos o pródigos a ponto de quererem utilizar tal
a base fundamental para funcionamen- conceito mais adiante). Esta “Flexibili- arranjo em virtude do baixo número de
to do Sistema Toyota de Produção é o dade” do layout é necessária para evitar a perdas associadas e subsequente nível de
Heijunka, palavra japonesa que significa criação de sistemas produtivos ou linhas deprodutividade, mas entenderam que algo
“alisar”, sendo o conceito, justamente, de produção específicas para cada modelo de precisava ser adaptado. Assim, tudo que,
nivelamento da produção, ou seja, tornar produto, e então, evitar o gasto adicional em termos de processo, é igual entre os
as discrepâncias entre diferentes modelos com os mesmos, lembrando que, nesse diversos modelos, acaba sendo realizado na
de produção possíveis de serem fabricadas momento, estamos entendendo que existe linha de produção, já, tudo que é diferente,
em um mesmo layout. a necessidade de Variedade e Flexibilidade é realizado em pré-montagens separadas,
de Produtos, caso contrário, se o produto ou ainda, vindo de fornecedores. Desse
De maneira mais ampla, podemos for sempre o mesmo, o Heijunka torna-se modo, por exemplo, montar dentro de
pensar também em nivelar os diferentes desnecessário. um carro, o seu painel, deve ser diferente
produtos, de modo, que os tempos e outras entre os diversos modelos, mesmo que
discrepâncias produtivas sejam suavizados Tecnicamente falando, necessita-se esse painel seja outra peça e, este sim, é
ao máximo. de estudos aprofundados do arranjo produ- preparado fora da linha de produção.
tivo, programação de produção e técnicas
Para aplicação do conceito, é neces- de cadenciamento de produção (sincroni- Alguns requisitos ou premissas para
sário um profundo conhecimento técnico zação e intercalação de tarefas complexas seu bom funcionamento:
do produto ou serviço em questão e do e simples). Os exemplos típicos desse pro-
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 77
pedido, comprar matéria-prima, receber por prazos de entrega mais curtos. valor vai ser “absorvido” pela margem de
a mesma, operacionalizar o produto ou lucro almejada do produto.
serviço e entregar. Sendo assim, partimos para uma
análise sobre o que mais demanda tempo Outro caso típico é quando a em-
Visto isso, podemos pressupor que o nesse fluxo todo, e fatalmente o primeiro presa decide adquirir sua matéria prima
conceito é bastante simples, pois bastaria a item que vamos nos deparar é nas ques- diretamente do produtor, pois o mesmo,
empresa somente comprar o material exa- tões de suprimentos (matéria-prima) desse por não ter intermediários nessa transa-
to para produzir e entregar a quantidade processo. ção, acaba por cobrar um preço menor, o
exata do pedido, isso tudo, somente após que vai tornar o produto mais barato de
existir o pedido do produto ou serviço. A Uma decisão típica, é que a maté- ser fabricado. Além disso, o que é inte-
pressuposição é realmente válida para casos ria-prima deve ser adquirida de uma fonte ressante, pelo fato de tornar o produto
onde o produto é extremamente customi- que tenha a mesma disponível à pronta mais competitivo ou mais lucrativo. O
zado, e então o “Mercado” entende que entrega, mas, normalmente, para ter esse aspecto negativo está no fato de que este
o eventual “longo prazo”, ocorrido entre produto à disposição essa fonte vai aca- produtor acaba, usualmente, determinan-
pedido e entrega, deve-se, justamente, a bar cobrando por essa disponibilidade. do uma quantidade mínima de produto a
esta alta customização, ou seja, isso é um Nesse sentido, esse é o caso típico de um ser adquirido e costuma ter um prazo de
dos “ônus” da exclusividade. Entretanto, distribuidor de material, que sendo um entrega longo.
usualmente, o “Mercado” compara entre processo de suprimentos, cobra um valor,
dois ou mais concorrentes, justamente, de maneira a “aproximar” o cliente final Visto o exposto acima, a ideia do
além de custo, qualidade, flexibilidade e do produtor (imagine o exemplo de uma Just-in-Time, de certa forma, em alguns
confiabilidade de produto, o quanto terá loja de eletrodomésticos, a mesma cobra momentos, um tanto quanto utópica, está
que esperar para suas necessidades serem um valor para comprar o produto do fa- justamente em verificar qual é o mais
atendidas. Esse fator acaba sendo decisó- bricante e disponibilizar o mesmo para próximo que podemos chegar do fato de
rio, quando entende que as demais neces- avaliação e pronta entrega do seu cliente). realizar todo o ciclo, dentro do prazo ad-
sidades já estão sendo cumpridas pelos que Esse valor cobrado acaba tendo que ser mitido pelo cliente. Lembrando que, em
estão sendo comparados. O mais normal absorvido, ou pelo preço cobrado do item, situações onde a matéria prima, que é com-
de acontecer é que o mercado vai demandar tornando o mesmo mais caro, por outro prada pode ser utilizada em uma grande
cada vez mais por itens mais exclusivos e lado, menos competitivo, ou ainda, esse gama de produtos, a perda por estoques
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 79
(ver capítulo anterior que trata do tema) do que, para sua aplicabilidade, com máxi-
em virtude do risco de obsolescência do mo de resultados, a base Operacional deve
material é bastante diminuído, mas ainda estar sólida e existe a necessidade de pleno
fica o fato de haver a perda por estoque em conhecimento dos conceitos de Takt-Time,
virtude do fato de, normalmente, haver o ou seja, a capacidade de produção deve ser
pagamento pelo material e, usualmente, muito bem conhecida.
espaço para armazenamento desse estoque.
Troca Rápida de Ferramentas
Claro que, em casos onde a ma-
téria prima ao menor custo é disponível
à pronta entrega, casos onde a mesma é A sistemática de Troca Rápida de
consignada (só é paga quando é usada) Ferramentas, conhecida pela sigla em in-
ou ainda quando o espaço necessário não glês SMED (Single Minute Exchange
é um problema, torna-se um pouco mais Die – troca de ferramentas em minutos
simples) teve seus conceitos idealizados e
brando os efeitos ruins referentes aos es-
toques. Casos onde o prazo de entrega descritos por Shigeo Shingo, sendo o livro
é bastante largo, a preocupação com as que o mesmo escreveu sobre o assunto, ain-
ferramentas e metodologias defendidas da é considerada umas das melhores refe-
pelo Just-in-Time não é tão grande, do rências sobre o método. O nome deriva do
mesmo modo aqueles casos onde a va- fato de que a troca de ferramentas, em uma
riedade de produtos a serem produzidos maneira filosófica de pensar, deve acon-
é baixa (produto padrão), a necessidade etecer em minutos simples (1,2,3,4,5,6,7,8
e 9 são minutos simples, a partir do 10 o
aplicabilidade das ferramentas que veremos
a seguir torna-se bastante baixa. número é composto – por dois algarismos)
e, apesar de ainda ser usual, já há métodos
De maneira fundamental, o Just-in- que enfatizam o chamado OTED (One
-Time é o centro de comando operacional Touch Exchange Die – troca de ferramen-
do Sistema Toyota de Produção, lembran- tas com um toque), sendo esse entendido
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 80
como o conceito de troca de ferramentas usinagem, a preparação de um setor para montar um item, a troca de roupa entre cenas
em menos de 1 minuto. de um teatro, a troca de um disco para tocar outro, etc. Claro que, dentre os exem-
plos, existem alguns que são naturais ou, costumeiramente, rápidos de acontecerem,
Independente da linha de raciocínio mas temos que entender o fato que, normalmente, para processos mais complexos e
utilizada, ambos os conceitos são consi- pesados essa transição não é tão fácil.
derados troca rápida de ferramentas, onde
este tempo deve ser medido entre a última A técnica baseia-se, a princípio, em entender que a troca de ferramentas ou
peça ou realização de serviço, considera- setup deve ser pensada, como se fosse um processo. Sendo assim, deve-se, inicial-
da boa (dentro das especificações), até a mente, realizar um fluxo deste processo para compreender as “perdas” que acontecem
primeira peça boa ser produzida referente durante este período.
ao próximo lote.
Depois disso, procura-se entender • Distinção de setup interno e exter- sejam realizadas de maneira mais
quais são as operações da troca, durante no: o processo foi mapeado e foram rápida possível. É nesse momento,
as quais, a máquina efetivamente tem que distintas as operações atuais, que que se acaba buscando pelo maior
estar parada para serem realizadas e quais podem ser executadas sem a máqui- número de soluções físicas e mecâ-
não. De acordo com o que Shingo (1996) na estar parada das que só podem nicas possíveis, ou seja, usualmente
explicava, o setup pode ser divido em dois ser executadas com a máquina nesse esta é a última fase e somente nela é
tipos: as de setup interno, onde as opera- status; que acabam acontecendo os grandes
ções de setup só podem ser executadas com investimentos.
a máquina parada e as de setup externo, • Transformação de setup interno
onde operações como deslocamento de em externo: estudando as perdas Muitas vezes, as tais são compreen-
ferramentas podem ser realizadas enquan- envolvidas no processo de troca, didas como operações consideradas como
to a máquina estiver trabalhando. Shingo busca-se transformar operações setup externo, que podem ser feitas pre-
ainda costumava citar, que dessa forma é denominadas como setup interno viamente à troca de ferramentas:
muito importante identificar exatamente a em operações de setup externo.
divisão dessas atividades, pois elas podem Normalmente, estas modificações • Definição da próxima peça a ser
permitir a redução de 50% do tempo de acabam por ser, em sua maioria, so- produzida;
setup. mente realizadas através de estudos
para melhor gerenciar o processo, • Localização do ferramental de pro-
Para tanto, Shingo citava que o de- eventualmente acontece algum in- dução da próxima peça;
senvolvimento da metodologia se dava em vestimento em soluções físicas e
quatro estágios: mecânicas; • Verificação dos ferramentais auxi-
liares necessários para realização da
• Setup interno e externo não são • Otimização das operações de setup troca de ferramentas;
distinguíveis: ainda não aconteceu interno: por fim, quando opera-
o entendimento da troca de ferra- ções de setup interno não puderem • Busca e aproximação da matéria-
mentas como um processo, simples- mais ser modificadas para opera- prima necessária para produzir a
mente a operação é executada de ções de setup externo, busca-se a próxima peça;
qualquer maneira; otimização das mesmas para que
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 82
• Verificação de documentos neces- operações consideradas como setup externo, as quais podem ser feitas posteriormente
sários, tais como ordem de produ- à troca de ferramentas:
ção, padrão de troca de ferramentas,
instruções de fabricação da próxima • Verificação do ferramental recém-retirado da máquina para deixá-lo em estado
peça a ser produzida; de uso;
Como resultado, basicamente, está a eliminação das perdas por transporte in-
Fluxo de uma peça, fluxo unitário terno, perdas por estoques intermediários e perdas por espera. O melhor exemplo de
de peças ou, do inglês, one piece flow é a Fluxo de Uma Peça foi a linha de produção da Ford, a qual citamos anteriormente.
ideologia empregada pelo Sistema Toyota
de Produção que dita pela busca da produ- Claro que, por alguns motivos técnicos, em certos produtos ou processos pro-
ção de peças sem o arranjo de lotes, ou seja, dutivos não é possível a realização do Fluxo de “Uma” Peça, mas a ideologia está em
uma a uma. Sendo assim, podemos citar buscar o resultado mais próximo possível disso.
que está envolvida a ideia de que a peça
deve ser realizada no recurso produtivo
e logo, enviada para o recurso seguinte,
Controle de Qualidade Zero Defeito
evitando a necessidade de produção de
um lote de peças (certa quantidade) para O Controle de Qualidade Zero Defeito, ou CQZD, Controle de Qualidade
o consecutivo envio ao processo posterior. Total ou ainda, em inglês, Total Quality Management (TQM) foi uma metodologia
adotada pela Toyota. Após, meados da década de 1950, o Governo dos EUA ter
Como prerrogativa para a imple- enviado, como forma de ajuda para o fortalecimento e desenvolvimento da indústria
mentação de um fluxo unitário estão: japonesa, que havia sido bastante devastada, uma série de estudiosos de sistemas de
produção e qualidade, sendo que, entre eles, estavam nomes tais como: Juran, Cros-
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 84
Kanban um determinado produto é realizado, este cartão (que é uma ordem de produção) é
entregue ao setor responsável por produzi-lo e este, por sua vez, realiza tal produção,
abastecendo-se das peças necessárias junto aos setores responsáveis pela produção das
O Kanban (cartão em japonês) é tal- mesmas, sendo que estas também têm um cartão atrelado, e assim por diante. Nesse
vez a sistemática mais conhecida, mais sentido, o cartão cria um fluxo de informação que, literalmente, vem “puxando” a
falada e menos compreendida do Sistema produção e essa informação gera um fluxo produtivo que entrega os produtos (ou
Toyota de Produção. O Kanban (o cartão) peças, ou serviços) nas quantidades e locais definidos.
foi o meio que os japoneses conseguiram
desenvolver para que as informações ne-
cessárias para a produção, tal como o que,
quanto, onde produzir e onde entregar
pudessem ser disseminadas dentro do sis-
tema produtivo, sem que houvesse a usual
necessidade de pessoas o tempo inteiro
definindo o que ser produzido e ainda
controlando estoques, quantidades e etc.
Sendo assim, o Kanban funcionou como
se fosse a “Ordem de Produção” dentro
da Toyota.
• Trabalhar com a lógica de “Estoque ta de Produção é chamado de Jidoka, tra- Convicto desse espírito, Ohno quis
Zero”; duzindo do japonês, autonomação (cuida- se utilizar dos conceitos introduzidos pelo
do para não confundir com automação). fundador da empresa, de modo a fazer
• Ajustar os processos segundo TQC A ideia foi trazer para a Toyota Motor os processos “pensarem” por si (ou terem
– “Zero Defeito”; Company o espírito introduzido por Saki- “inteligência”), para isso, contou com a
chi Toyoda no seu tear, que literalmente, ajuda de Shingo para desenvolver e então
• Utilizar as práticas de TRF; decidia parar automaticamente quando introduzir dispositivos chamados “Poka-
algum tecido estivesse sendo produzido -Yoke” (à prova de erros, em japonês). A
• Ter em mente os princípios do “Não com falha, tornando o sistema autônomo. técnica estava em se utilizar da Sistemática
Custo”; Sendo assim, a ideia do Jidoka é justamen- de Andon para “avisar” os operadores ou
te a de dar autonomia para o “processo” diretamente os processos de que estavam
• Utilizar o Andon como meio de di- decidir por si, em algumas situações pre- realizando algo em desacordo.
vulgação das informações; vistas, sem a necessidade do operador estar
monitorando todo o tempo esse processo,
Poka-Yoke
• Apoio constante dos pilares de Kai- principalmente nos casos de falha e dentro
zen e Jidoka; da medida do possível.
Os dispositivos poka-yoke são arte-
• Aplicar a filosofia do Kanban; Produtivamente falando, a sistemá- fatos produzidos de modo que facilmente
tica prevê dotar cada máquina ou disposi- um operador (ou uma pessoa) possa sozi-
Após essas etapas, cada processo tivo de produção de “inteligência” suficien- nho verificar que uma operação ou produto
estará produzindo “os itens necessários, te, ou seja, que a mesma possa realizar a está equivocado. De maneira mais atual,
na quantidade necessária e no momento operação da maneira mais rápida possível algumas literaturas já sugerem o uso do
necessário”. e sem produzir erros (ou enviar adiante). fonema e conceito do Baka-Yoke (à prova
Assim, a máquina deve poder “parar” o de tolo, do japonês), nesse caso, a evolução
processo ou operação quando executar um do conceito prevê o fato de que, nem se
JIDOKA erro, mas, para isso, deve poder verificar o operador quiser, ele pode realizar tal
automaticamente o erro. tarefa de maneira errada, este é o grande
O segundo “pilar” do Sistema Toyo- conceito seguido hoje pelos dispositivos
de segurança atrelados às máquinas.
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 90
A ideia dos poka-yoke é amplamente o mesmo possibilita a inspeção através de manualmente. No nosso exemplo,
difundida em vários segmentos de merca- controle físico ou mecânico. o operador posiciona o parafuso,
do, principalmente, referente às questões posiciona uma chave de fenda no
de segurança, ou ainda, de modo a evitar Para realizar a autonomação, se- mesmo e rotaciona a mesma, a chave
uso equivocado de produtos. Estes são gundo Shingo (1996), deve ser realizada é somente um meio para concentrar
os típicos casos dos diferentes tipos de a separação da máquina e operador, ou a força do operador no ponto exato
entradas (ou sistema de plug) existentes seja, em cada operação deve ser entendido do parafuso, pois não realiza o tra-
nos computadores, que não permitem qual é tarefa a ser executada pela máqui- balho, somente facilita o mesmo;
que dispositivos equivocados seja ligado na e qual é a tarefa a ser executada pelo
em plugs não recomendados, ou mesmo operador, seguindo os seguintes conceitos • Alimentação e Usinagem Automá-
de maneira errônea (tente ligar um cabo na busca pela autonomação (utilizando ticos: operadores fixam e removem
do tipo VGA de cabeça para baixo, seu como exemplo a operação de aperto de produtos das máquinas e dão partida,
desenho não permite tal operação), do um parafuso): e estas executam a alimentação das
mesmo modo, os sistemas de ignição dos ferramentas e usinagem sozinhas.
automóveis não permitem a retirada da No nosso exemplo, um operador so-
chave sem o motor estar desligado, enfim, mente posiciona uma parafusadeira
existem inúmeros exemplos. elétrica junto ao parafuso e aperta
o gatilho, quem faz o trabalho de
Apesar de Shingo (1996) classificar • Trabalho Manual: operadores dão aperto é a própria máquina;
o poka-yoke não exatamente como uma forma e acabamento aos artigos ma-
inspeção, pois comenta que o mesmo é nualmente, sem ajuda de máquinas. • Semi-automático: Máquina fixa e
mais uma maneira com a qual, facilmente, No nosso exemplo, o operador aper- remove produtos, abastece a usina
o operador consegue detectar defeitos e taria o parafuso manualmente; automaticamente, operadores super-
pode ser usado como forma de satisfazer visionam. Nesse caso, o operador
uma atividade de inspeção, seja ela inspe- • Alimentação manual com usi- acionaria um botão e uma máquina
ção sucessiva, autoinspeção e inspeção na nagem automatizada: operadores de aperto eletrônica, que rotaciona
fonte podem ser todas alcançadas através fixam e removem produtos das sozinha até o parafuso estar cor-
do uso de métodos Poka-yoke, sendo que máquinas e alimentam ferramentas retamente apertado segundo um
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 91
parâmetro estabelecido, cabendo integração e simultaneidade de operações Além das questões de estoques, a
ao operador somente a função de combinadas, de maneira que as mesmas implantação dessa ideia, em muitas vezes,
decidir qual parafuso apertar. sejam sincronizadas (em termos de tempo, nos traz a possibilidade de poder fazer
por exemplo). Dessa maneira, dois proces- um operador trabalhar (supervisionar ou
• Pré-automação: Todas as funções, sos interdependentes e subsequentes são alimentar) mais do que em um processo
inclusive detecção de defeitos rea- ajustados para atuarem juntos, mesmo que, ao mesmo tempo, pois com seus tempos
lizadas pelas máquinas, operadores em dado momento, isso signifique que um sincronizados, podemos realizar a opera-
somente corrigem defeitos. Nesse desses processos necessite trabalhar em um ção de maneira em que, quando uma está
caso, o sistema faz todo o trabalho ritmo mais lento, mas, em contrapartida, sendo realizada pela máquina, a outra está
e o operador somente verifica, de não haverá estoques intermediários entre sendo alimentada pelo operador.
tempos em tempos, se a máquina os dois processos.
está corretamente regulada; Alguns autores tais como Liker
Apesar de bastante simples, a im- (2007) definem o não uso da sincronia
• Automação: Processamento, de- plantação do conceito requer uma avalia- como uma oitava perda do processo.
tecção e correção feitos totalmente ção e vigilância constante sobre os tempos
automáticos. No caso de automação das operações, afim de não se perder seu
na sua essência, não existe a necessi- intuito e poderem ser tomadas decisões
dade de operador (um estágio muito acertadas.
difícil e relativamente caro de ser
alcançado).
Nagara
KAIZEN Sendo assim, sempre que se houve, venir excessos e desordem, verifica-
principalmente no meio empresarial, que ção constante dos resultados obtidos;
Kaizen é um fonema japonês forma- vai ser realizado um kaizen em determi-
do por “kai”, que significa desmontar, e nado local, é porque vai haver a promoção • Senso de Disciplina/Manutenção:
“zen” que significa prosperar, sendo assim, de um estudo com vistas a buscar melhoria manter o sistema, realizar a melho-
filosoficamente, pode ser entendido como de resultados mais positivos, o que é uma ria contínua sobre o mesmo.
“Melhoria Contínua”. É chamado como o prática muito salutar para as organizações,
grande “pano de fundo” por trás da ideia mas não há um método correto ou uma
“UM” SISTEMA
e filosofia do Sistema Toyota de Produ- “receita” para se aplicar kaizen.
ção, de maneira usual, e ao contrário do
que muitas literaturas pregam, não é uma Uma das formas mais simples de se O STP não é um emaranhado de
ferramenta e sim uma grande filosofia. entender o kaizen é a aplicação da meto- técnicas ou sistemáticas descritas, podemos
dologia dos 5S’s, ou seja, 5 sensos ou dis- entender ele de maneira melhor como um
Prevê a verificação constante de to- ciplinas implantadas pelos japoneses, que grande conjunto de pequenos conceitos
dos os processos da organização, verifi- visam uma melhor qualidade de trabalho, que podemos explorar e aplicar a todo e
cando possibilidades de ganhos de tempo, de vida, de resultados, etc., sendo: qualquer sistema de produção, onde o mais
economia de matéria prima, organização e importante é a adaptação dos conceitos
ergonomia, redução de maneira constante. • Senso de seleção: ter somente o ne- para a realidade de cada sistema.
cessário;
Obviamente que um sistema em O objetivo do sistema não se con-
mudança constante não está estável, então • Senso de ordenação: um lugar para cretiza se os diversos conceitos não esti-
este não é o objetivo, e sim que as siste- cada coisa e cada coisa em seu lugar; verem bem dominados e adaptados, mas,
máticas produtivas (ou ainda corporativas) mesmo assim, sempre há possibilidades de
sejam questionadas de tempos em tempos • Senso de Limpeza: manutenção de melhoria, afinal, é uma busca constante
para avaliar se não há melhores maneiras um ambiente limpo (não limpar e e ininterrupta por eliminação de perdas.
de se realizar algo (diminuir perdas, cons- sim não sujar);
tantemente).
• Senso de Saúde/Normalização: pre-
Agora, vamos a um
Autoestudo!
Existe a necessidade de uma Estabili- O Just-in-Time se apoia em diversas Com o sistema estável e trabalhando de
dade Operacional para o bom funcionamento ferramentas para que se possa realizar o pro- acordo com os objetivos da organização, pen-
do sistema, esta base garante que a operação duto dentro do prazo estipulado, compreen- sa-se então na melhoria do mesmo, onde, após
realiza suas tarefas, de modo a cumprir para dendo dentro desse prazo todas as operações, a implementação, buscar-se-á novo período
com os objetivos da organização. Nenhuma desde a aquisição do material até a entrega de estabilidade e, depois, novas melhorias,
outra ferramenta ou sistemática obtêm êxito do produto. de maneira contínua.
total sem um processo estável.
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 95
ÍNDICE DE
RENDIMENTO
OPERACIONAL
GLOBAL
Como entender em que estado o meu
sistema está? Como verificar resultados?
O Índice de Rendimento Operacional Global, na sigla
IROG, ou ainda no inglês Overall Equipment Effectiveness
(OEE) é um indicador que visa o monitoramento da eficiência
de um sistema produtivo. Segundo Antunes et. al. (2008), o
indicador IROG, muito embora a grande maioria das empresas
que o utilize acabe por monitorar o rendimento individual
de cada máquina, tem uma preocupação ampla com o fluxo
global de produção, ou seja, o fluxo de materiais no tempo e
no espaço. Cita ainda que, do ponto de vista da melhoria da
função processo, torna-se necessário focar o monitoramento e
as consequentes melhorias nas restrições do sistema, ou seja,
nos recursos que são críticos para a organização em termos
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 96
de custo operacional, dependência ou ca- eficiência busca fazer certo a coisa, utilização do equipamento em questão e,
pacidade. ou seja, o foco está no processo e de maneira muito interessante, deve ser
está ligado aos recursos aplicados aplicado a cada posto de trabalho.
Historicamente, o IROG acabou para atingir um objetivo (reduzir os
surgindo com a implementação das siste- custos, realizar a mesma produção Basicamente, o IROG é formado
máticas de TPM nos recursos produtivos com menos recursos, com menor de 3 partes:
como forma de verificar o rendimento tempo), sendo assim, relaciona as
desses recursos, o que é bastante interes- entradas consumidas com as metas •ITO – Índice de Tempo Operacio-
sante, visto que a metodologia do TPM estabelecidas. nal: verifica a disponibilidade do equipa-
busca a manutenção da produtividade da mento e corresponde ao tempo em que o
empresa (como bem explicado no capítulo Deve-se entender que não é possí- equipamento ficou disponível, excluindo-
dedicado ao tema). vel ser eficiente sem antes ter sido eficaz, -se as paradas não programadas, sendo as-
portanto, o interessante de um indicador sim, quanto menor o valor do ITO, maior
Existe sim muita confusão entre as que mede eficiência, e que o mesmo vai o número de paradas não programadas.
questões de eficiência e eficácia. Temos, verificar o rendimento em relação a um Usualmente, essa parte do indicador é atre-
de maneira geral: objetivo que fatalmente já foi alcançado, lada ao setor de manutenção de máquinas
ou seja, o IROG é um indicador que tem a das empresas;
• •Eficácia: Normalmente atrelado a finalidade de calcular o “quanto” estamos
fazer a coisa certa, ou seja, o foco utilizando o equipamento. •IPO – Índice de Performance
é no produto ou serviço prestado, Operacional: verifica o desempenho ou
sendo assim, objetiva um resultado Para representar esse quanto, uti- performance do equipamento em questão
a ser alcançado (entregar no prazo, liza-se como variável sistêmica o tempo, e expressa o desempenho do recurso pro-
entregar o produto correto, chegar sendo o indicador a razão entre o tempo dutivo em função do tempo em que ficou
a um determinado ponto), então, de valor agregado (em termos de peças em operação. Normalmente, é suscetível
realiza a relação das saídas geradas ou produtos) pelo tempo total de tempo (falho) a problemas de apontamento nas
com as metas estabelecidas; para realizar a produção no equipamento. operações, operadores mal treinados, re-
Aqui o tempo total pode ser ajustado pela dução de velocidade dos recursos. Sendo
• •Eficiência: De maneira diferente, a empresa de acordo com a necessidade de assim, usualmente essa parte do indicador
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 97
O Índice de Rendimento Operacional Global é um indica- Resultados reais, sólidos e prósperos somente são obtidos
dor que visa demonstrar a real eficiência do sistema, dividindo esse com sistemas eficientes, mas, para isso, é necessário conhecer a real
sistema em três partes distintas, onde a primeira visa demonstrar a situação do mesmo para realizar ações nos locais corretos.
disponibilidade de produção, a segunda demonstra a produtividade
do sistema e a terceira o nível de qualidade do mesmo.
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 101
AUTOMAÇÃO DA
MANUFATURA
Como podemos automatizar certos
processos de manufatura? O que podemos
esperar como resultados?
Do latim Automatus, que significa mover-se por si, a
automação é considerada um sistema automático de controle
pelo qual os recursos produtivos verificam seus próprios re-
sultados, realizando verificações em si próprios e se autocor-
rigindo, sem a necessidade da interferência do homem. Sendo
assim, a automação visa a não dependência do ser humano (ou
uma muito menor dependência), a fim de poder realizar mais
operações, utilizando-se da mesma quantidade de pessoas
disponíveis. Desse modo, a automação visa diminuir os custos
e os tempos de mão de obra e busca aumentar a velocidade de
realização de uma operação.
Existem diversas razões que vêm erros dimensionais, arquivamento, análise do fluxo de fluídos através, por
a justificar a automação de um processo, edição, etc.; entre ou dentro de algum objeto, por
sendo algumas delas: meio de teorias de Análise Cinemática
e Dinâmica de fluídos (CFD).
• Aumentar a produtividade da mão
de obra e reduzir seu custo;
• Sistemas de Manufatura Auxiliado Essa tecnologia, hoje, permite, com um mesmo, podendo prever situações de
por Computador (CAM): softwares número menor de pessoas envolvidas, velocidades de processos, movimenta-
que auxiliam nas questões de análi- realizar o Processo de Projeto, que vai ção, ergonomia, capacidade, simulações
ses, gestão e controles de sistemáticas desde a concepção até ao protótipo em de ritmo, sequenciamento de produção
de manufatura, tais como a transfe- poucos dias, demonstrando tremendos e verificação virtual do funcionamento
rência de arquivos eletrônicos para ganhos de produtividade. dos processos, muito antes do tempo
máquinas (DNC), programação de usualmente conhecido.
máquinas CNC através da simulação Há de se destacar, dentre os softwares
do processo de usinagem, execução considerados CAE, os softwares de • Sistemas de ERP: os sistemas de ERP
de protótipos de peças a partir de Projeto de Processo, onde atualmente (Enterprise Resource Plannning) ou
resinas (Impressoras 3D), simulação é possível operar virtualmente máquinas Planejamento de Recursos Corporativos
de elementos discretos ou eventos de em situações reais de produção, com são uma classe de softwares que abran-
produção (simulação de processos de programação e tempos válidos, simular gem um grande número de processos
fabricação); movimentação de operadores em uma internos da organização, que vão desde
dada situação (MTM) e até fluxos pro- o cadastro de produtos, estruturas de
dutivos, colocando todas estas questões fabricação, necessidades de produção,
lado a lado. De maneira, onde, com planejamento de produção, controle de
um alto grau de certeza, praticamente produção, compra de matéria- prima,
realizar todo o projeto funcional de um pagamentos e custos associados, etc.
processo antes mesmo de ser comprada
a primeira máquina. Fala-se em índi-
ces de acerto de mais de 90%, ou seja,
ainda sobram cerca de 10% de ajustes a
serem feitos no chão de fábrica com as
máquinas instaladas, mas efetivamente
isto é uma situação muito melhor do que
contar única e exclusivamente com a ex-
periência e catálogos de máquinas. Até
Agora, vamos a um
Autoestudo!
A automatização é tida hoje como uma das grandes maneiras O incremento de eficiência, muitas vezes, também vêm com
de aumentar a eficiência de diversas operações, visto que, após a o incremento de velocidade e confiabilidade das ações executadas.
padronização de certos processos, os mesmos podem ser replicados
por sistemas automatizados, sejam a nível de hardware ou software.
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 106
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