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SISTEMAS DE PRODUÇÃO

André Lunardi Steiner


SISTEMAS DE PRODUÇÃO 2

SUMÁRIO

GESTÃO ESTRATÉGICA DA PRODUÇÃO 4 Heijunka 76


Qual é o Público Alvo? 6 JUST-IN-TIME 77
A maneira de produzir esses itens é a mesma? 11 Troca Rápida de Ferramentas 79
Fluxo de Uma Peça 83
Controle de Qualidade Zero Defeito 83
FUNÇÃO PRODUÇÃO 25
Kanban 86
CONCEITOS ASSOCIADOS 32
ANDON 88 CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIFTEC
CLASSIFICAÇÃO DE SISTEMAS PRODUTIVOS 37 Rua Gustavo Ramos Sehbe n.º 107.
Resumo do Just-in-Time 88
O MECANISMO DA FUNÇÃO PRODUÇÃO 42 Caxias do Sul/ RS
JIDOKA 89
Poka-Yoke 89
MODELOS DE PRODUÇÃO 49 Nagara 91 REITOR
SISTEMA FORD DE PRODUÇÃO 50 KAIZEN 92 Claudino José Meneguzzi Júnior
SISTEMA TOYOTA DE PRODUÇÃO 55 “UM” SISTEMA 92 PRÓ-REITORA ACADÊMICA
SISTEMA VOLVO DE PRODUÇÃO 60 Débora Frizzo
PRÓ-REITOR ADMINISTRATIVO
SISTEMA HYUNDAI DE PRODUÇÃO 63
ÍNDICE DE RENDIMENTO OPERACIONAL GLOBAL 95 Altair Ruzzarin
DIRETORA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA (NEAD)
METODOLOGIAS DA MANUFATURA ENXUTA 67 Lígia Futterleib

ESTABILIDADE OPERACIONAL 68 AUTOMAÇÃO DA MANUFATURA 101


Desenvolvido pelo Núcleo de Educação a
Distância (NEAD)
Designer Instrucional
Sabrina Maciel
Diagramação, Ilustração e Alteração de Imagem
Darlan Scheid, Igor Zattera
Revisora
Ana Clara Garcia
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Introdução

Nesta nossa apostila vamos desenvolver um estudo sobre


várias questões ligadas aos sistemas de produção, que é um
vasto universo de estudos ligados à interligação de diferentes
elementos de diversas áreas, os quais, juntos, vão compor um
resultado, que basicamente é o produto gerado por este sistema.
A melhor combinação entre os diversos elementos disponíveis
deverá gerar melhores resultados. Para este estudo, vamos abor-
dar diferentes conceitos que, após, serão interligados, a fim de
que consigamos poder observar os resultados obtidos pelo uso
dos mesmos.

Para desenvolver o conteúdo sobre Sistemas de Produção,


vamos dividir este estudo em algumas etapas, as etapas 1 e 2
serão conceitos mais gerais, as etapas 3 e 4 vão explicar alguns
modelos conhecidos de sistemas produtivos e suas sistemáticas,
enquanto as etapas 5 e 6 vão discutir alguns controles e avanços
no conteúdo visto, até então, de maneira mais aplicada.
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 4

GESTÃO
ESTRATÉGICA DA
PRODUÇÃO
Como definir o que produzir? Como
entender de que maneira produzir?

Se você procurar pela definição da palavra produção


na internet, em um dicionário ou em qualquer outro meio
de busca, verá que existem os mais diversos conceitos para
as mais diversas aplicações do mesmo, pois é uma palavra,
tanto de origem, quanto de significados, muito amplos. Mas
antes mesmo de entendermos o que quer dizer Produzir, pre-
cisamos entender questões um pouco mais fundamentais, até
porque, normalmente esta Produção acaba por realizar algum
produto ou serviço para “alguém”, que tem uma determinada
“necessidade”. Pensando desse modo, primordialmente, para
entendermos as questões de produção acabamos tendo que
responder as seguintes questões:
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O que vou produzir? identificar esse alguém para então desco- presa, por meio da gestão estraté-
brirmos suas necessidades. Assim, trans- gica das variáveis controláveis de
Uma vez que existem, para uma cer- formarmos essa necessidade em caracte- marketing, a saber: produto, preço,
ta necessidade, inúmeros produtos ou ser- rísticas de produto ou processo, para então promoção e ponto de distribuição;
viços, com uma centena de características, definirmos qual será a melhor maneira de
certamente o melhor deles será o que tiver produzirmos, com que recursos, em que • Processo de planejamento e execu-
a melhor relação dessas características. quantidade, etc. Para isso, precisamos re- ção da concepção, fixação de preço,
capitular alguns conceitos de Marketing. promoção e distribuição de ideias,
Para quem vou produzir? bens e serviços com a finalidade de
Autores renomados tanto no Bra- criar trocas que satisfaçam aos obje-
Exatamente essas características que sil quanto no resto do mundo, como nos tivos individuais e organizacionais;
comentamos anteriormente são a tradução casos de Limeira (2007) e Kotler (1988)
das necessidades de alguém. afirmam o seguinte sobre Marketing: • Atividade humana, dirigida para a
satisfação das necessidades e desejos,
Se bem entendidas as questões aci- • Marketing é a função empresarial através de processos de troca.
ma, devemos estar percebendo que, antes que cria valor para o cliente e gera
de qualquer coisa, precisamos saber como vantagem competitiva para a em-
Marketing é uma
função estratégica da
empresa.
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Independentemente da empresa entender esse relacionamento de forma • Avaliação das necessidades do pú-
ou do negócio, usualmente, a função do mais ampla, principalmente buscando a blico alvo;
Marketing existe, em muitos casos, ainda questão:
não é extremamente formalizada, com um • Compreensão das melhores formas
setor específico, uma pessoa ou grupo de de “Agregar Valor” a esse público
Qual é o Público Alvo?
pessoas específico, mas efetivamente, a através dos produtos ou serviços da
função existe e, em certos momentos, não organização.
parece tão claro, pois a interpretação usu- Dessa forma, o Marketing atua no
al da palavra Marketing, principalmente caso de querer compreender como ele in- O marketing vem sofrendo, mes-
para nós, brasileiros, acaba sendo direcio- fluencia o sistema produtivo da empresa, mo que tendo o mesmo intuito, imensas
nada para algum tipo de anúncio, como como um direcionador dos esforços de modificações no modo e na utilização de
a Propaganda ou algo do gênero, porém relação com o mercado com o qual uma meios de exercer essa relação, isso acontece
o sentido mais correto da concepção de dada empresa quer se relacionar. pelas constantes mudanças dos diferentes
Marketing, ou ainda, a melhor tradução mercados e da maneira que tal mercado
para o contexto que estamos estudando A função do Marketing, desde a dé- espera ser suprido de produtos e serviços.
nesse momento seja: Comercializar. cada de 50, é ser um pilar do pensamento Dentre as modificações, podemos citar:
sistêmico da empresa, uma função estraté-
Quando tratamos dessa comerciali- gica que permeia toda a organização, com • Existem mais ofertas de produtos
zação, estamos querendo entender qual o o intuito de que os mais diversos setores vindos de diferentes fontes, e cada
contexto usado pela empresa ou negócio ou funções, dentro da mesma instituição, vez menos diferenças substanciais
em questão, quanto a “Como esta empresa estejam concatenados, de modo que os que esses produtos possuem em re-
vai se relacionar com seu cliente (ou seu mesmos utilizarão os esforços e recursos lação aos seus concorrentes;
público) ”. E, mais uma vez, vamos en- essenciais para atender as necessidades do
tender que este modo de se relacionar não público definido. Então, podemos enten- • Para alguns segmentos de mercado,
significa, diretamente, a maneira como der que as principais funções do marke- uma parte do grupo de competido-
vamos tratar o público, se vamos ser mais ting, nesse caso, são: res é global e menos local, ou seja,
cordial, se vamos ir até o cliente, ou se existem grandes possibilidades de
o cliente virá até nós, e sim, temos que • Definição do público; estar competindo com concorrentes
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de outras partes do mundo, e não Agregado”;


somente das áreas ao nosso redor, tos. Desse modo, o público acaba se
dentro do nosso estado, dentro do • As empresas, hoje, analisam muito relacionando muito mais com aquele
nosso país; mais as situações para entender as que oferece uma melhor relação de
necessidades dos clientes e então custo X benefício. Assim, podemos
• Apesar de existirem muito mais lançarem ou disponibilizarem seus entender que, atualmente, o cliente
competidores, existe também mui- produtos e serviços do que, simples- acaba por participar das definições
to mais possibilidade de estabele- mente, fazer um produto ou serviço dos preços dos produtos;
cimento de parcerias com outras e esperar a sua aceitação ou não;
empresas; • Cada vez menos os moldes de publi-
• O cliente acaba, por vezes, prefe- cidade tradicional surtem os efeitos
• A maneira de se relacionar com o rindo um pacote formado de um almejados, visto a facilidade de se
cliente, para certos produtos e mer- determinado produto, associado a propagar boas ou más informações
cado, é um diferencial, sendo assim, um dado serviço (chamados Pro- sobre um determinado produto ou
o que importa na grande maioria diços) do que os dois de maneira empresa pelos meios eletrônicos,
das vezes, não é somente o produ- desvinculada; mídias sociais, etc.
to, mas toda uma série de situações
que vão desde prazo, atendimento, • Em virtude de globalização e da Veja as imagens a seguir e as expli-
condições, confiança, etc., que aca- superexposição e facilidade de busca cações junto às mesmas:
bam por se somar e pesar a favor ou de informações, hoje acabam por
contra uma empresa, pois são todos deixar os clientes muito mais facil-
componentes do chamado “Valor mente a par dos valores dos produ-
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Veja estas três imagens, todas


representam aviões, que até
tem alguma semelhança entre
si, mas possuem características,
especificações e preços totalmente
distintos em virtude da aplicação e
público alvo a que se destinam.
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Do mesmo modo que as imagens


anteriores, os carros aqui
representados possuem uso
pretendido, valores, durabilidade e
possibilidades de acesso aos mesmos,
totalmente diferente, no entanto,
todos são carros e, em virtude disso,
possuem certas características
semelhantes.
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Outros tantos artigos que podemos


encontrar em nossa casa, em
nosso trabalho, na rua, entre
outros, também têm características
semelhantes e até uso básico
pretendido e semelhantes, porém
tipos de público, capacidade e
funções agregadas, que acabam por
diferenciar, em muito, os mesmos.
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Se bem entendidas as imagens e as melhor valor com o menor custo possível, ser entendida em comparação com
devidas explicações que estavam junto às maximizando o resultado do seu esforço produtos semelhantes para conse-
mesmas, fica agora mais uma questão: produtivo. A estratégia mais bem montada guir realizar uma comparação como,
é aquela que consegue realizar produtos ou por exemplo, podemos dizer que,
serviços que agradem ao público (ou seja, pelos moldes atuais, uma empresa
A maneira de produzir esses
que sejam comprados) e que traga o melhor que produz automóveis em um vo-
itens é a mesma? resultado financeiro para a empresa. lume de cerca de 1000 unidades por
dia, é considerada uma produção de
A resposta para a questão é: não. Podemos entender que, princi- alto volume e uma que produz 50
Visto que, mesmo com as semelhanças palmente ao modo de hoje, as empresas unidades por dia, pode ser conside-
notórias entre alguns dos produtos, os tendem a buscar a maximização dos seus rada de baixo para médio volume.
materiais empregados, a quantidade a ser recursos produtivos (produzir mais), mi- Se no mesmo caso, uma empresa
produzida, o nível de qualidade requerido, nimizando os custos associados a essa do ramo de botões para vestuário
a diversidade entre os modelos, enfim, as produção (enxugar gastos). Sendo assim, produzir 1.000 unidades por dia é
necessidades específicas dos clientes ou o começo de um bom entendimento estra- considerada de baixo volume ante
do público alvo desses produtos acabam tégico do negócio começa com a correta uma que produz cerca de mais de
por modificar, em muito, os aspectos de identificação das características associadas 1.000.000 de unidades por dia, e
produção dos mesmos. ao mercado e produto da empresa. assim por diante. Entendendo que,
quanto maior o volume produzido,
Estrategicamente falando, o Sistema As Dimensões buscam o entendi- menores são os custos de produção,
Produtivo de uma empresa pode ser enten- mento, de maneira que o mercado alvo ou pois os custos de produção tendem
dido, dividindo seus aspectos de mercado público alvo da empresa venha requer o a ser mais facilmente diluídos.
em Dimensões e seus aspectos referentes produto, ou seja, buscam o entendimento
ao produto oferecido em objetivos. É fato dos aspectos mercadológicos, sendo estes: • Variedade: a variedade está relacio-
que, de maneira geral, o cliente busca o nada à quantidade de itens ou pro-
melhor produto ao menor preço, maxi- • Volume: busca o entendimento de dutos diferentes que são produzidos
mizando o resultado da sua compra e do qual o volume requerido do produto pela mesma empresa, entendendo
seu gasto, já a empresa, busca vender pelo da empresa. Essa dimensão deve que, quanto maior a diversidade,
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maiores são os custos de produção, • Visibilidade: esta dimensão está relacio-


associados à complexidade de se pro- nada à necessidade que um determina-
duzir e administrar itens diferentes do mercado tem quanto à realização do
em um sistema; produto ou do serviço de maneira mais
próxima ou, mais “aos de quem compra”.
• Variação da Demanda: está relacio- Por exemplo, é de se esperar que em um
nada ao quão constante é a demanda restaurante que serve à lá carte, produza o
do mercado pelos produtos produ- prato solicitado na hora que foi pedido e a
zidos pela empresa em questão. Por tolerância de espera pelo mesmo é relativa-
exemplo, uma empresa que produz mente pequena, assim, existe um custo alto
itens sazonais, tais como uma estufa associado a disponibilidade de recursos
para condicionamento térmico de de prontidão para atender o público que,
ambientes, em um determinado pe- fatalmente, poderá não comparecer em
ríodo do ano, possui um acréscimo dada ocasião. De modo contrário, quando
na demanda a ser produzida e, em a pessoa opta por comprar um determi-
outro período, a necessidade pelo nado prato de comida congelada, esse foi
produto no mercado que estamos produzido em um determinado tempo e
analisando se reduz bastante. Dessa com quantidades de recursos oportunas, o
maneira, quanto maior for essa va- que acaba por reduzir os custos associados
riação (quanto menos constante for à produção.
a demanda), maiores serão os cus-
tos associados à administração das O quadro a seguir demonstra um compa-
necessidades de produtos a serem rativo das implicações das imposições feitas aos
produzidas, à compra de materiais, negócios pelos mercados que se propõe a atender.
à eventual necessidade de contração Todo o negócio está sujeito aos quatro fatores ao
ou diminuição do quadro funcional, mesmo tempo. Dessa forma, o mercado de uma
etc; empresa é composto por uma dada combinação
desses mercados.
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Implicações quando BAIXO Dimensão Implicações quando ALTO mos pressupor que esta é uma prerrogati-
• Baixa repetição VOLUME • Alta repetitividade va para haver evolução tecnológica, pois
• Funcionário multitarefa • Especialização existe alguma necessidade que não seja
• Menor sistematização • Capital intensivo plenamente atendida e a evolução busca,
• Alto custo unitário • Baixo custo unitário
incessantemente, corrigir essa falha, mas
• Bem definida VARIEDADE • Flexível as necessidades também vão evoluindo,
• Rotineira • Completo
gerando requisitos aos produtos, diferentes
• Padronizada • Atende necessidades dos consumidores
• Regular • Alto custo unitário daqueles até então existentes.
• Baixo custo unitário
• Estável VARIAÇÃO DA • Capacidade mutante Os objetivos quanto aos produtos
• Rotineira DEMANDA • Antecipação podem ser divididos e entendidos sob 5
• Previsível • Flexibilização
diferentes aspectos. São eles:
Fonte: Adaptado de Slack (2009)

• Alta Utilização • Ajustado com a demanda


• Baixo custo unitário • Alto custo unitário
• Tempo entre contrução e consumo VISIBILIDADE • Tolerância de espera limitada • Qualidade: esse objetivo está re-
• Padronização contato com o • Satisfação definida pela percepção do consumidor lacionado às especificações de di-
• Pouca habilidade de contato cliente • Necessidade de habilidade de contato com o consumidor ferentes características (em inglês,
• Alta utilização de funcionários • Variedade recebida é alta
features) requeridas de um produto,
• Centralização • Alto custo unitário
• Baixo custo unitário ou seja, descreve as “qualidades” re-
Entendido que as dimensões relacionam, de maneira geral, o comportamento queridas do produto em questão.
das necessidades do mercado a ser atendido por uma empresa, os objetivos definem Vamos tomar como exemplo um
o que esse mercado, em específico, espera do produto em questão. Os produtos, automóvel qualquer, o público que
como vimos anteriormente, possuem variações, principalmente, quanto ao seu uso adquire aquele produto deseja que o
pretendido, ou seja, o mercado que está sendo atendido com demanda para certas mesmo tenha um determinado nível
“necessidades” aos produtos que lhe são oferecidos. de desempenho, conforto, economia.
Esse automóvel pode estar extrema-
Sendo assim, estrategicamente falando, o melhor produto é aquele que melhor mente adequado a um determinado
consegue entender e equilibrar as necessidades do mercado, pois, certamente, elas tipo de público, mas longe de ser
nunca são totalmente supridas ou atendidas. Do entendimento desse conceito, pode- aceito sob a ótica de outro público ou
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mercado que admite, por exemplo, Objetivo de Qualidade


um nível de desempenho menor,
desde que o conforto seja mantido Hospital Fábrica de Automóveis
e com nível de economia maior. O
mesmo pode ocorrer com outro tipo • Pacientes recebem tratamento adequado • Todos os componentes são fabricados
de produto, por exemplo, o telefone • Tratamento é conduzido de maneira correta conforme as especificações
celular que, para um dado público, • Pacientes são consultados e mantidos • A montagem atende às especificações
basta ter uma boa autonomia de ba- informados • O produto é confiável
teria, bom nível de sinal e realizar • Funcionários corteses, amigáveis e solícitos
facilmente as ligações que estará to- • O produto é atraente e sem defeitos
talmente adequado, no entanto, não Transporte Coletivo Supermercado
serve para atender as necessidades

Fonte: Adaptado de Slack (2009)


de um público que se contenta com • Os ônibus são limpos e arrumados • Produtos estão em boas condições
uma autonomia menor, mas deseja, • Os ônibus são silenciosos e não emitem • Loja limpa e organizada
também, acesso à internet, câmara gases poluentes • Decoração adequada e atraente
fotográfica, etc. Portanto, o Objeti- • O horário é rigoroso e atende as • Funcionários corteses, amigáveis e solícitos
vo Qualidade mede as características necessidades dos usuários
básicas exigidas do produto pelo pú- • Funcionários corteses, amigáveis e solícitos
blico alvo, ou seja, este público alvo
“paga” por um produto que tenha • R
apidez: está relacionado ao prazo de entrega do produto ou do serviço, ou seja,
uma determinada gama de caracte- o quão rápido após o pedido, o produto é entregue ou o serviço é executado.
rísticas, quanto mais alta a necessi- Como forma de exemplo, um determinado documento precisa ser entregue em
dade de características, usualmente, um prazo muito curto à um destinatário de um outro estado, nesse momento,
mais caro é o produto. O quadro mesmo em detrimento de um preço maior, o consumidor opta por um serviço
a seguir mostra exemplos do que de entrega expressa, que costumeiramente tem preço maior, mas a necessidade
pode ser entendido pelo Objetivo de é de uma entrega rápida que, provavelmente, será realizada da mesma maneira
Qualidade em diferentes situações. que a entrega em tempo normal (ou seja, não tem características diferenciadas),
mas acontece em um tempo menor. Outro exemplo que podemos citar são
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as compras de produtos realizadas Objetivo de Rapidez


pela internet, versus as compras dos
mesmos produtos realizadas em uma Hospital Fábrica de Automóveis
loja de um shopping center, onde,
geralmente, o produto costuma ser • Tempo entre solicitação de tratamento e • Tempo entre pedido de um carro específico
mais caro, mas a pessoa acaba levan- realização é mínimo por um revendedor e sua entrega ao
do o mesmo, por ser mais rápido. • Tempo para resultado dos exames é consumidor é mínimo
Até pelo motivo de que na compra mínimo • Tempo de espera pela assistência técnica é
pela internet o consumidor terá que mínimo
esperar alguns dias até o mesmo ser

Fonte: Adaptado de Slack (2009)


entregue. Dessa maneira, o Objetivo Transporte Coletivo Supermercado
Rapidez mede o tempo de entrega
requerido do produto pelo públi- • Tempo total da jornada para usuário atingir • Tempo envolvido na transação total, desde
co alvo, ou seja, este público alvo seu objetivo é mínimo a chegada à loja, realização das compras e
“paga” pelo produto que tem pra- retorno do consumidor à sua casa é mínimo
zo de entrega mais curto (ou está • Imediata disponibilidade de bens
imediatamente disponível), quanto
mais alta a necessidade tempo cur- • Confiabilidade: Diferentemente e facilmente confundido com o objetivo de
to (imediatismo), usualmente, mais Qualidade, a confiabilidade acaba sendo a certeza do funcionamento ou dispo-
caro é o produto. O quadro a seguir nibilidade de um produto, independentemente da quantidade de características
mostra exemplos do que pode ser contidas no mesmo, ou seja, em certos casos é preferível um produto mais simples
entendido pelo objetivo de Rapidez e que tenha confiabilidade pelo tipo do uso pretendido do mesmo. Como por
em diferentes situações: exemplo, um dado consumidor que costuma viajar bastante, mesmo diante de
um automóvel com menor preço e com mais características acaba optando por
um mais simples e mais caro, devido ao nível de garantia e disponibilidade de
assistências técnicas que a marca em questão oferece. Sendo assim, o Objetivo
Confiabilidade mede o grau de certeza de funcionamento correto do produto
pelo público alvo, ou seja, este público alvo “paga” pelo produto que tem uma
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maior garantia funcional, ou que tenha boa reputação no mercado, quanto mais • Flexibilidade: o objetivo de flexi-
alta a necessidade de confiabilidade e disponibilidade, geralmente, mais caro é bilidade acaba definindo o quanto
o produto. O quadro a seguir mostra exemplos do que pode ser entendido pelo um produto é vendido de maneira
objetivo de Confiabilidade em diferentes situações: padronizada ou o quão customizá-
vel é esse produto, ou seja, como o
cliente pode modificar ou optar por
Objetivo de Confiabilidade
diferentes versões de produto. En-
Hospital Fábrica de Automóveis tendendo que, quanto mais padrão
for o produto, menor seu custo de
• Proporção de consultas canceladas é • Entrega veiculos aos revendedores no produção, pois se repete sempre a
mínima tempo previsto mesma coisa com o mesmo processo,
• Consultas são realizadas no horário • Entrega peças de reposição aos centros de do contrário, quando mais opções
programado serviços no tempo tem um produto, mais chances o
• Resultados dos exames entregues como mesmo tem de atender a um maior
prometido previsto público possível. Como exemplo,
podemos citar o comparativo de
comprar uma roupa em uma loja
Transporte Coletivo Supermercado popular ou então pedir para um al-
faiate ou costureira fazer uma roupa
• Cumpre o horário fixado em todos os • Previsibilidade do horário de igual, porém totalmente ajustada ao
pontos de trajeto funcionamento tamanho da pessoa, biótipo, tom
• mantém assentos disponíveis para • Proporção de bens em falta é mínima exato de cor que gosta, tipo do te-
passageiros • Tempo em fila é mínimo cido que gosta e assim por diante.
• Disponibilidade de vagas de estacionamento Sendo assim, o Objetivo Flexibilida-
de mede o grau de customização do
produto pelo público alvo, ou seja,
este público alvo “paga” pelo produto
Fonte: Adaptado de Slack (2009) que tem uma maior diferenciação,
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quanto mais alta a necessidade de diferenciação e exclusividade, usualmente • Custo: visto que existem produtos
mais caro é o produto. O quadro a seguir apresenta exemplos do que pode ser que se diferenciam por diferentes
entendido pelo objetivo de Flexibilidade em diferentes situações: maneiras de atender seu público
alvo, uma delas também é o cus-
Objetivo de Flexibilidade to, ou seja, independentemente de
durabilidade, características, prazo
Hospital Fábrica de Automóveis de entrega, customização, existe o
público alvo que visa pagar o menor
• produto/serviço - novos tipos de • produto/serviço - introdução de novos valor possível por um determinado
tratamentos modelos item. Por exemplo, ao se deparar
• composto (mix) - variedade de tratamentos • composto (mix) - variedade de opções com a necessidade da compra de sa-
• volume - ajuste ao número de pacientes disponíveis bão em pó, um determinado cliente
atendidos • volume - ajuste ao número de veículos busca aquele que acredita ter a me-
• entrega - habilidade de reprogramar fabricados lhor performance, enquanto outro
consultas • entrega - habilidade de reprogramar cliente verifica simplesmente o que
prioridades produção é mais barato, independentemente
do que oferece de diferencial. Sendo
Transporte Coletivo Supermercado assim, o Objetivo Custo mede o grau
de valor cobrado pelo produto pelo
• produto/serviço - novas rotas ou excursões • produto/serviço - novos bens e promoções público alvo, ou seja, este público
• composto (mix) - grande número de locais • composto (mix) - variedade de bens alvo “paga” o mínimo pelo produto,
servidos estocados independentemente do que oferece.
• volume - ajuste a frequência dos serviços • volume - ajuste ao número de O quadro que sucede mostra exem-
• entrega - habilidade de reprogramar consumidores atendidos plos do que pode ser entendido pelo
viagens • entrega - habilidade de repor estoques/ objetivo de Flexibilidade em dife-
itens em falta rentes situações:

Fonte: Adaptado de Slack (2009)


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Objetivo de Custo graus de necessidade das Dimensões de


Mercado, versus as combinações entre os
Hospital Fábrica de Automóveis diferentes enquadramentos dos Objetivos
do Produto geram infinitas maneiras da
• Tecnologia empregada e instalações • Tecnologia empregada e instalações empresa se posicionar, junto ao seu público
• Compra de materiais e serviços • Compra de materiais e serviços alvo. Visto tal situação , é possível afirmar
• Custo de funcionários • Custo de funcionários que não existem dois processos de produ-
ção, ou melhor, dois Sistemas Produtivos
Transporte Coletivo Supermercado idênticos, pois por mínimo que seja, um
vai se diferenciar do outro perante algum
• Tecnologia empregada e instalações • Tecnologia empregada e instalações dos Objetivos ou Características.
• Compra de materiais e serviços • Compra de materiais e serviços
• Custo de funcionários • Custo de funcionários Do mesmo modo, devemos entender
que a estratégia de mercado e produto pode
ir mudando com o passar do tempo, afim
• OBS: Atentar ao fato de "Quanto do meu orçamento total eu destino a cada uma destas de adequar o produto às novas necessida-
contas des, ou ainda, buscar uma sobrevida para
Fonte: Adaptado de Slack (2009)
o mesmo. Produtos maiores, mais com-
Do mesmo modo que nas Dimensões, todo o produto de toda a empresa está
plexos, mais tradicionais, seguem ciclos de
sujeito a se enquadrar dentro desses objetivos, a empresa define em que grau de en-
vida mais longos, enquanto, do contrário,
quadramento dentro de cada um destes objetivos seu produto estará. Dessa forma,
produtos tecnológicos tendem a cada vez
todo o produto atende aos 5 objetivos, em maior ou em menor grau, cada um deles.
mais terem ciclos de vida curtos, mas de
As definições dos objetivos do produto, assim como as dimensões, tendem a modificar
todo modo, a linha do tempo, representa-
drasticamente o Sistema Produtivo, que executará o mesmo, pois é muito diferente
da pelo infográfico que segue, demonstra
produzir um produto de alto nível de qualidade e um produto de baixo custo, ou de
as diferenças estratégicas do produto em
alta necessidade de rapidez.
relação ao mercado com o passar do tempo
dentro do ciclo de vida previsto para o
Deve ser notório que as possibilidades de configuração entre os diferentes
produto em questão.
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Introdução Crescimento Maturidade Declínio

FASE Produto acaba de ser Produto ou serviço ganha Necessidades do mercado Necessidades do mercado
lançado no mercado aceitação no mercado começam a ser atendidas amplamente atendidas
VOLUME Crescimento lento das Crescimento rápido do volume Redução das vendas, atingindo Declínio das vendas
vendas de vendas um patamar estável
CONSUMIDORES Inovadores Adotantes pioneiros Grande fatia do mercado Retardatários
CONCORRENTES Poucos/nenhum Número crescente Número estável Números em declínio
VARIEDADE DE Possível customização alta Cada vez mais padronizado Surgimento de tipos Possível movimento para
PROJETOS, PRODUTOS ou frequentes mudanças no dominantes a padronização
E SERVIÇOS projeto
PROVÁVEIS Características do produto/ Disponibilidade de produtos ou Preço baixo Preço baixo
GANHADORES DE serviço, desempenho ou serviço de qualidade Fornecimento confiável
PEDIDO novidade
PROVÁVEIS Qualidade Preço Gama de produtos ou serviços Fornecimento confiável
QUALIFICADORES Gama de produtos ou Gama de produtos ou serviços Qualidade
serviços
PRINCIPAIS OBJETIVOS Flexibilidade Rapidez Custo Custo
DE DESEMPENHO DAS Qualidade Confiabilidade Confiabilidade
OPERAÇÕES Qualidade
Fonte: Adaptado de Slack (2009)
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Outro detalhe que vem a ajudar a diversidade de produção possível. Esse é um caso típico da produção de grandes
diferenciar os sistemas produtivos entre embarcações, mineração, construção civil e restaurantes finos, onde qualquer
uma empresa e outra, é a maneira com que processo pode ser praticamente executado a qualquer momento, desde que se
os recursos produtivos são ajustados em desloque até o objeto.
relação à realização do produto, sendo que,
para esse ajuste, dá-se o nome de leiaute
ou arranjo produtivo. Existem alguns ar- Processo
ranjos produtivos clássicos que estaremos
demonstrando a seguir, cada qual produz
efeitos diferentes quanto à velocidade de Processo Processo
produção e seu consequente volume e,
principalmente, quanto à variedade de
produtos que podem ser produzidos:
Objeto
• Arranjo Posicional: também co-
nhecido como dock assembly, o ob-
jeto que está sendo transformado Processo
não se move e sim os recursos trans-
Processo
formadores à sua volta sim, ou seja,
o produto fica parado de maneira Processo
e em local conveniente ao mesmo,
bem como os recursos, tais como: Fonte: Autor

máquina, operadores, matéria pri- • Arranjo por Processo: também conhecido como arranjo convencional, neste
ma, etc. é que vão até o objeto. Esse tipo de arranjo o objeto que está sendo processado, ou seja, o produto, é que se
arranjo proporciona, de maneira ge- desloca em relação aos recursos produtivos que são alocados de maneira con-
ral, um baixo volume de produção, veniente e local apropriado para os mesmos, tais como similaridade, facilidade
mas em contrapartida, proporcio- de operação, espaço físico, etc. Esse é o arranjo mais utilizado nas empresas do
nam também a maior variedade ou ramo metalmecânico (exemplo, existe o setor de prensas, o setor de usinagem, o
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setor de montagem) e nos supermercados em geral (área dos laticínios, açougue,


padaria, enlatados). Esse arranjo proporciona, de maneira geral, um bom volume
de produção e uma certa variedade, pois os objetos se movem para os processos
necessários na ordem necessária, não havendo obrigatoriedade de sequência.

Processo Processo

Objetivo

Processo Processo
Fonte: Autor

• Arranjo Celular: neste tipo de arranjo um grupo específico de objetos se move


em relação à um grupo específico de recursos transformadores, ou seja, não é
qualquer produto que pode ser realizado, pois o mesmo fica limitado a uma
certa sequência de recursos transformadores, que foram convenientemente es-
colhidos e alocados, de maneira a melhor processar “aquele” grupo específico
de produtos, sendo que a sequência de produção é quase obrigatória (existe
uma certa liberdade). Nesse caso, a versatilidade ou variedade é diminuída,
mas o volume produzido e a velocidade têm incrementos significativos. Caso
típico utilizado na indústria de autopeças e na maternidade de um hospital
(independentemente do tipo de parto ou da criança, as mesmas seguem uma
certa sequência de situações por onde devem passar).
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 22

existe uma necessidade de volume fatores estratégicos vão modificar, dras-


Processo Processo de produção muito grande, e onde a ticamente, os conceitos táticos da orga-
variedade não é uma necessidade tão nização, à nível de realização do produto
grande do mercado. Desse modo, é o (tais como seu arranjo físico) e os demais
leiaute mais adotado para a produção vão influenciar outros fatores, tais como,
Processo Processo de produtos, onde se requer baixo a localização (no caso da Visibilidade) e
custo produtivo, caso típico das li- tipo de mão de obra e gama de produtos
nhas de montagem de automóveis, a ser produzidos (Variação da Demanda).
processos de produção de produtos

Fonte: Autor
Objetivo Objetivo enlatados, restaurante self-service,
etc.
• Arranjo por Produto: também co-
nhecido como leiaute em linha ou Processo Processo
flow shop, este arranjo produtivo é
literalmente montado, de manei-
ra que, o produto específico, seja
processado da forma e na sequência
Processo Processo
mais conveniente, para o melhor
resultado em termos de velocidade
e volume produzido. Nesse caso, a

Fonte: Autor
sequência de processos é obrigatória Objetivo
e a versatilidade ou variedade de
produtos, possíveis de serem pro-
duzidos é mínima, pois é o arranjo Dessa maneira, podemos entender
feito, dedicado para a realização “da- que, dos fatores apresentados como Di-
quele” produto. Nesse caso, deve mensões de Mercado, as mais influentes
ficar claro, que esse arranjo é ado- são a relação entre Volume necessário a
tado somente para produtos onde ser produzido e variedade requerida. Esses
Agora, vamos a um
Autoestudo!

1. Quais são as dimensões de merca-


do e quais suas implicações quan-
to aos Sistemas de Produção?

2. Quais são os objetivos de produto


e quais suas implicações quanto
aos Sistemas de Produção?

3. De que maneira os arranjos dos


recursos produtivos são influen-
ciados pelas Dimensões de Mer-
cado?

4. Você consegue identificar estas


dimensões e objetivos no âmbito
do seu trabalho?
REVISANDO!!!

O mercado, ou público alvo, de uma O conjunto dessas decisões, associados


organização, define: Volume, Variedade, Va- aos arranjos dos recursos produtivos vão de-
riação de Demanda e Visibilidade em relação finir o Sistema de Produção da empresa em
às decisões da organização. questão, sendo inúmeras as possibilidades
de decisões.
De posse desses fatores, deve ser defi-
nido qual o grau de atendimento do produto Não existem dois Sistemas Produtivos
realizado em relação aos objetivos de Quali- idênticos e nem existe um Sistema melhor
dade, Rapidez, Confiabilidade, Versatilidade ou pior, e sim, mais ou menos adequado às
e Custo. necessidades dos mercados e produtos.
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 25

O nosso mundo mudou e, de


acordo com estas mudanças,
aconteceram mudanças na
maneira de produzir e de
pensar a produção, houve FUNÇÃO
PRODUÇÃO
elevação de volumes, de
resultados, de adequação às
necessidades dos consumidores.
O que é produzir? Como evoluíram os
conceitos de produção?
Vamos conhecê-los?

Os conceitos e as maneiras de produzir, de forma ge-


ral, no mundo, foram sendo modificadas com os anos que se
passaram, sendo que, a grande maioria dessas modificações
só acabou ocorrendo em menos de 200 anos de história da
humanidade. O que se entende, é que grandes mudanças, nessa
maneira de produzir, ainda estão ocorrendo. No entanto, cada
vez mais rápido e em taxas exponencialmente mais altas do
que se modificavam até cerca de um século e meio atrás. Para
melhor compreender estas mudanças gerais, segue um breve
histórico das questões e fatores produtivos, de acordo com o
tempo que foi passando:
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 26

• Produção Artesanal: desde os pri- Assim, desde a escolha e compra da


mórdios o homem “Produz”, enten- matéria prima, realização do pro- O artesão realizava o produto
dendo por produção a transformação duto como um todo e em todas as específico que era sua especialidade,
de certos materiais em produtos para suas fases, venda, etc. De maneira praticamente sozinho, do início ao
seu uso e consumo. Desse modo, geral, como o homem sempre viveu fim. O trabalho era ensinado de
podemos entender como produção em comunidades, dentro de cada
mestre para aprendiz.
desde o plantio de algo e sua colheita comunidade havia uma pessoa ou
para consumo, como também o fato um pequeno grupo de pessoas que
de fazer uma ferramenta para usar se responsabilizava por cada função,
em alguma atividade. Obviamente isto é, havia o padeiro, o costurei-
que, tanto os produtos, como a ma- ro, os agricultores, os criadores de
neira de produzir os mesmos foram gado, o ferreiro, o sapateiro e assim
evoluindo muito desde os primór- por diante. A questão da evolução
dios dos homens das cavernas até o acontece quando, por exemplo, al-
período que estamos agora, anali- gum desses “artesões”, de uma dada
sando que é o início do século XIX. comunidade, acaba por descobrir
Contudo, mesmo assim, em se tra- um meio melhor de fazer um de-
tando de sistemas de produção, essa terminado produto e as pessoas de
evolução foi bastante pequena nesse outra comunidade acabam sabendo
meio tempo, pois, independente- e acabam por buscar tal produto em
mente do produto ou da técnica de outra comunidade que não a sua,
manufatura utilizada, o homem com isso, o negócio do artesão em
produzia estes objetos de maneira questão, acaba crescendo e começam
artesanal, ou seja, os conhecimen- a surgir as primeiras empresas, que
tos eram praticamente passados dos são, de maneira geral, um grande
pais para filhos (eventualmente de conglomerado de artesões que fazem
mestre para aprendiz) e o artesão o mesmo produto.
fazia toda a manufatura do produto.
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 27

• Revolução Industrial: em mea- realizadas. Dessa forma, come-


dos do século XIX, na Inglaterra, çam a surgir os especialistas em
acontece o efeito que a literatura realizar determinada parte do
descreve como a primeira revolu- processo, diferentemente dos es-
ção industrial, que não teve uma pecialistas em realizar o produto
data específica, mas foi sim um fe- como um todo, isso acaba por
nômeno que foi gerado devido ao aumentar, substancialmente, o
fato do crescimento das empresas e a volume daquilo que estava sen-
criação de um elemento tecnológico, do produzido, e em tendo um
inicialmente aplicado na fabricação especialista em cada tarefa, um
de tecidos. eventual acréscimo na qualidade
do produto final. Esse fenômeno
• Com o crescimento das empre- da divisão do produto em tarefa e
sas, os até então artesões acabam da especialização da tarefe acaba
por entender que o volume e a por receber o nome de Manu-
velocidade daquilo que podiam fatura.
produzir é bastante aplicado com
a divisão das tarefas de produção. • Um invento, chamado máqui-
Ou seja, o artesão não faz mais na a vapor (mais tarde conhe-
o produto do início ao fim, mas cido como motor a vapor), que
sim uma parte do seu processo, foi criado em meados do século
então, começa-se a notar que XVII, acaba evoluindo, sendo
certas tarefas rendem mais ou melhorado e, no início do século
menos do que outras e acabam XIX acaba por ganhar popula-
O fenômeno da manufatura
necessitando, para equilíbrio da ridade. Esse invento permite a
com o adendo do motor à vapor quantidade a ser produzida, de- realização de força muito maior
proporcionou o efeito da Revolução mandando mais ou menos mão do que o ser humano é capaz so-
Industrial no século XIX. de obra e recursos para serem zinho, apesar dessa função já ser
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 28

feita pelos moinhos de vento, ro- específico e se responsabilizar por


das d’água e sistemas movidos à todo o mesmo, mas sim, acaba se
tração animal, possui uma dife- tornando um especialista na rea-
rença substancial, o mesmo não lização de determinada tarefa, au-
depende de haver um fenômeno mentando seu potencial de trabalho
natural (vento, água corrente) e e não restringindo seu talento, força
nem da força e presença de um e habilidade a um só produto, con-
animal. O motor à vapor pode sequentemente, o volume de produ-
ser instalado em praticamente tos produzidos sofre um acréscimo
qualquer lugar e acaba por tomar substancial.
um espaço substancialmente me-
nor do que um moinho ou algo • Produção em larga escala: também
parecido, isso proporciona o uso conhecido como fenômeno da pro-
do mesmo em escala industrial, dução em massa ou ainda tido como
pois as empresas agora podiam a Segunda Revolução Industrial foi
se instalar onde lhes fosse mais o efeito de uma nova maneira de
conveniente. pensar e organizar os recursos pro-
dutivos, idealizado e aplicado pelo
Sendo assim, a união do efeito da industrial americano Henry Ford
Manufatura aliada ao uso do Mo- no início do século XX. Ford perce-
tor à Vapor proporcionou o surgi- beu, em dado momento, que deve-
mento de grandes conglomerados ria poder produzir um produto com
de empresas, em diversas partes da baixo preço e, assim, proporcionar
A padronização do produto e a
Inglaterra, denominando isso como que o mesmo fosse comprado por
Revolução Industrial. O que muda uma grande quantidade de pessoas padronização do seu processo de
drasticamente a forma de trabalhar que estariam dispostas a trabalhar produção proporcionaram o efeito
e produzir do homem, o mesmo não para juntar recursos e poder possuir da produção em larga escala de
mais precisa saber fazer um produto os consumir os produtos que seus produtos acessíveis.
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 29

salários pudessem proporcionar a • P


rimeira e Segunda Guerra Mun-
compra. Sendo assim, a indústria dial: a primeira Guerra Mundial
obteria grande lucro com a venda (1914 até 1918) e a segunda Guerra
de produtos em grande quantidade, Mundial (1939 até 1945) produzi-
que seriam comprados pelos pró- ram o efeito de grande desenvol-
prios trabalhadores que trabalhavam vimento tecnológico e produtivo.
nessas indústrias, uma vez que que, Apesar de todo o efeito negativo que
teriam recursos para poderem con- uma guerra proporciona, com suas
sumir esses produtos, desde que re- mortes, grandes somas de dinheiro
cebessem salário justo e tais produtos gasto, destruição e etc., essas duas
fossem possíveis de serem adquiridos guerras em específico, pela propor-
com esse salário. Para viabilizar essa ção que tomaram e número de pa-
percepção, Ford chegou à conclusão íses e pessoas evolvidas acabaram
que a divisão do produto em tarefas, por gerar um efeito sobre as ques-
tão somente não era suficiente, mas tões de produção um tanto curioso.
que seria necessário padronizar este Com o advento da guerra, os paí-
produto para que as tarefas fossem ses participantes se veem, de uma
padronizadas e assim se buscasse a hora para outra, obrigados a gerar
forma mais produtiva de executar recursos bélicos, tais como armas,
as mesmas, isso acabaria por gerar uniformes, mantimentos, munição,
um produto “Padrão”, sempre igual, etc. Dessa forma, o consumo desses
mas, em compensação, esse produto itens cresce de maneira vertiginosa,
poderia ter um processo dedicado rapidamente. Soma-se esse fato ao
somente à execução dele, criando que, de certa forma, é uma grande Muitas indústrias tiveram alto grau
assim, o efeito de redução drástica vantagem competitiva na guerra,
de desenvolvimento de produtos e
do seu custo de produção. o país que tiver os recursos bélicos
mais avançados, sendo assim, nes-
processos motivados pelas Primeira e
te período de guerras os governos Segunda Guerras Mundiais.
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 30

mundiais subsidiaram o desenvol- tempo, acaba por se ouvir falar de


vimento tecnológico em termos de empresas japonesas, mais especifica-
produtos e de processos para diversas mente, a Toyota, que mesmo com o
empresas que, ao final da guerra, advento da crise acaba por não sofrer
não mais produziam recursos béli- todo o efeito devastador da mesma.
cos, mas acabaram utilizando esses Sendo assim, após a crise de 1979
desenvolvimentos tecnológicos em os olhos de grandes conglomerados
prol da produção de produtos mais americanos se voltam para buscar o
avançados e de maior nível de qua- entendimento de uma nova maneira
lidade, em um volume maior e com de pensar as questões de produção,
custos menores. uma maneira que visa a produção
mais racional de bens, com menos
• Manufatura Enxuta: as crises fi- desperdícios materiais, de mão de
nanceiras mundiais que acabaram obra e de recursos produtivos. Este
gerando as quedas das bolsas e crises novo paradigma de produção recebe
do petróleo (1973 e 1979), acabaram o nome de Manufatura Enxuta ou
por surtir um efeito, em termos de ainda Terceira Revolução Industrial.
pensamento dos sistemas produti-
vos, um tanto quanto diferentes. • Abertura no Mercado Nacional: de
Acontece que, com tais crises, a dis- maneira mais específica, as indús-
ponibilidade de dinheiro circulante trias brasileiras se veem na obrigação
no mercado acaba por ser escassa, de repensar seus produtos e, fatal-
fazendo com que a prioridade de mente, seus métodos de produção,
consumo passe a ser, em itens mais devido a abertura de mercado que
Os conceitos de manufatura enxuta
básicos, ou então, em itens de menor foi realizada durante a presidência
acabam por modificar, severamente, valor. Fato que causou um efeito de de Fernando Collor, na década de
a maneira de pensar produção a colapso em grandes empresas ao re- 1990. Quando houve uma grande
nível Mundial. dor do mundo, todavia, nesse meio redução nas taxas de importação
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 31

de produtos prontos para o Brasil. ra de pensar produção, uma vez que, os


O que proporcionou a entrada, no produtos padronizados não mais são tão
nosso mercado, de produtos tec- bem aceitos no mercado, que já requer
nologicamente mais avançados e certa customização, afim de satisfazer suas
com preços muito competitivos em necessidades. A indústria mundial se vê
Inversão da capacidade produtiva
reação aos produtos nacionais, ou com a necessidade de ajustar seus produtos
seja, nosso mercado foi invadido, conforme necessidades da demanda, então
principalmente, por eletrônicos e acontece a competição por objetivos.
automóveis vindos de outras partes Relação entreàerta e demanda
do mundo, o que acabou por obrigar Se entendemos corretamente o que
a indústria nacional, como forma vimos até aqui, produtos padronizados são
de sobrevivência, a melhorar tan- produzidos em altos volumes, reduzindo
to a tecnologia embarcada em seus seus preços. Do contrário, o mercado acaba
produtos, como rever seus processos por exigir diferenciação do mesmo, mas Competitividalde por Objetivos
produtivos, bem como, de modo a isso tenderia a aumentar os custos produti- (Custos, Qualidade, Tempo, Flexibilidade e Inovação)
serem mais competitivos. vos, ou seja, sai-se da Produção em Massa
para a Customização em Massa. Junta-se
Visto o que acabamos de verificar a esse fato o efeito da globalização, onde
em termos históricos, temos como efeito as empresas acabam competindo com seus
o entendimento que a capacidade pro- produtos com produtos vindos de todas as “Produção em Massa” para
dutiva versus a demanda por produtos partes do globo. ”Customização em Massa”
inverte, pois onde, até então, o mundo
era carente por produtos (baixa oferta e Então, aluno, para refletirmos, fica
alta demanda), cria-se um efeito em que a seguinte questão:
acaba por existir alta oferta de produtos e Mercado Global Fonte: Autor
uma demanda decrescente pelos produtos Como aliar diversidade de produ-
ofertados. Nesse sentido, as empresas se ção com baixos custos produtivos?
veem obrigadas a diversificar sua manei-
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 32

CONCEITOS ASSOCIADOS realiza o melhor resultado em re-


lação ao recurso utilizado. Usando Quantidade produzida
Produtividade:
o mesmo exemplo, poderíamos ter, Unidade ou Tempo
Para compreendermos os conceitos consecutivamente, os seguintes re-
dos novos paradigmas produtos, temos sultados comparando quantas frutas • Novo Paradigma de Custos: usu-
que, primeiramente, formatar alguns con- por hectare plantado entre as duas almente, os preços de venda de um
ceitos importantes: empresas, logo a primeira poderia produto eram calculados, de manei-
produzir 1.000 frutas por hectare e ra geral, sendo a soma do custo de
• Produtividade: ao contrário do en- a segunda somente 800 frutas, ou produção com o lucro pretendido,
tendimento geral, a produtividade seja, mesmo produzindo mais, a se- matematicamente, isso está correto
não tem a ver com o volume de pro- gunda empresa não é melhor, pois (contabilidade dos custos). Novas
dutos produzidos, mas sim, a quan- a primeira possui um rendimento linhas de pensamento começaram a
tidade de produtos produzidos em melhor, relacionado aos seus recur- ensinar que, com a competitividade,
relação ao uso de um determinado sos produtivos. Costumeiramente, os preços dos produtos não mais são
recurso produtivo. Então, para en- o recurso produtivo comparado é calculados pelas empresas, são sim
tender, se um Sistema de Produção modificado em relação ao tipo de definidos pelo mercado (se um pro-
é melhor do que outro (ou seja, é empresa, convenientemente àquele duto for muito mais caro que outro
mais produtivo do que outro) de- e não tiver diferencial nenhum em
recurso produtivo que é mais custoso
vemos primeiramente definir uma relação ao mesmo, então o merca-
em virtude do tipo de produto, no
base comparativa entre os mesmos, do deixa de comprar esse produto).
nosso exemplo, usamos para frutas Desse modo, a maneira de pensar
pois, lembrando, não existem sis- a hectare plantado, na construção
temas iguais. Sendo assim, vê-se foi modificada para que o lucro da
civil poderíamos estar comparando empresa fosse o resultado do preço
necessário o estabelecimento de um metros quadrados construídos em
parâmetro de comparação. Como praticado, menos os custos de pro-
relação à quantidade de funcioná- dução, isso também está matema-
exemplo, não adianta dizer que de- rios utilizados ou, ainda assim, a ticamente correto e coerente com
terminada empresa de frutas produz base mais comum de comparação a fórmula anterior (controle dos
5.000 frutas por mês e outra produz é a quantidade de produtos médios custos). As linhas de pensamento
30.000, a melhor empresa é que a realizados por hora. mais modernas já compreendem que
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 33

o lucro de uma empresa é a razão


da mesma existir, ou seja, ou exis-
te o lucro ou não existe a empresa.
Assim, a maneira atual de pensar
é que o custo de um produto deve
ser o resultado do valor praticado
pelo mesmo, junto ao mercado me-
nos o lucro requerido pela empresa,
novamente, está matematicamen-
te correto e coerente com as duas Estudos demonstram que, ao
maneiras anteriores, mas a linha dobrar o volume de produção
de pensamento é que muda. Nesse
caso, se o preço é estabelecido pelo de um produto, seus custos
mercado e o lucro é a razão de existir caem de 15 a 25%, do mesmo
de uma empresa, então a decisão de modo que, ao dobrar a
produzir um produto ou não, está variedade produzida, os custos
em ser possível conseguir realizar aumentam de 20 a 25%.
o produto com o custo resultante
(gerenciamento de custos). Aqui
tornamos a lembrar duma questão • Inovação: tipicamente, o entendimento geral de inovação é o produto mais
interessante, quanto mais padrão moderno, com maior número de características e possibilidades, com design
for o produto, menor seu custo, do mais inovador. Esse conceito é totalmente correto, mas está alicerçado na ideia
contrário, quanto maior variedade de inovação de produto. Pensando dessa maneira, nos vêm à cabeça que po-
de produtos, maior o mercado po- demos inovar, também usando máquinas mais modernas, recursos produtivos
tencial da empresa e possibilidade de mais rápidos e, além disso, esse conceito é correto, mas está alicerçado na ideia
vendas do mesmo, ou seja, existe a de inovação de processos. Quando tratamos de Sistemas Produtivos, em vários
necessidade de achar um meio termo momentos vamos nos deparar com a necessidade de Inovar Produtos e Inovar
entre quantidade e variedade, afim Processos, pois eles fazem parte de uma ideia muito maior, a qual acaba nos
de que o custo seja atendido. remetendo à Inovações de Mercado (buscar mercados diferentes para produtos
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 34

já existentes), Inovações de Mate- acionistas (interesse no lucro que a empresa pode gerar) e a comunidade em
riais (matéria prima alternativa para geral (interesse nos empregos e prosperidade que a empresa pode gerar no seu
substituir as atualmente utilizadas) redor). Sempre que uma inovação é realizada, todas essas partes interessadas
e, de maneira mais ampla, busca- são atingidas, às vezes em maior ou às vezes em menor grau, às vezes positiva,
-se a Inovação de Gestão, ou seja, às vezes negativamente, mas sempre sofrem as consequências da inovação. O
arranjar e ajustar a interação entre importante aqui é entender quem representa essas partes interessadas e saber
os diversos recursos produtivos, de verificar os possíveis efeitos e tomar as melhores definições acerca da inovação
modo a gerar um efeito que tende a proposta ao Sistema.
tornar o Sistema Produtivo melhor,
produzindo um produto melhor, de • Lógica de Processos e Sistemas: um processo é uma operação de transformação,
maneira mais rápida e com custo basicamente, se utilizada das entradas (inputs) que podem ser matéria prima,
menor. insumos, máquinas, pessoas, instruções e devolvendo as saídas (outputs), que
podem ser o serviço, produto, sobras de material, rejeitos, etc. Nesse processo
• Partes Interessadas: também co- de se utilizar das entradas e, ao realizar a operação, transformar a junção das
nhecido na literatura com o nome mesmas em saídas, obrigatoriamente existe um gasto (custo) e agregação de valor
de Stakeholders, o entendimento de (lucro), por isso, não existe agregação de valor sem transformação, do mesmo
partes interessadas está em compre- modo que não se pode chamar de processo uma operação que não agregue valor.
ender que, quando uma inovação é Um sistema tão somente é a ligação de diversos processos, em outras palavras,
realizada, ela afeta positiva ou ne- as saídas de um processo serão as entradas do processo subsequente.
gativamente um ou mais elementos
das partes interessadas. Sendo muito
diferentes os “públicos” que são aten-
didos por uma empresa, composto
dos clientes (interesse no produto
realizado), funcionários (interesse
nos benefícios e salários recebidos),
fornecedores (interesse no consu-
mo de seus produtos pela empresa), Fonte: Autor
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 35

Um processo pode se utilizar como objeto principal de trabalho, tanto Matérias De posse dos conhecimentos dos
Primas (normalmente processos industriais), Informações (tipicamente processos conceitos apresentados até aqui, podemos,
sem uma saída tangível) ou Pessoas (serviços realizados ao consumidor). agora, partir para o entendimento do que
é um sistema de produção, o qual é, ba-
Materiais Informações Consumidores
sicamente, a união dos diversos Subpro-
Fonte: Adaptado de Slack (2009)

Contadores cessos dentro de uma empresa, que têm


Manufatura Cabeleireiros
Matriz de Banco
Mineração e extração Hotéis como objetivo comum, realizar operações
Pesquisa e Marketing
Operações de varejo Transporte de pessoas de transformação em torno de um obje-
Analistas Financeiros
Armazéns
Serviço de notícias
Teatro/Cinema to e, assim, agregar valor ao mesmo. O
Serviços postais Parques entendimento dos sistemas de produção
Institutos de Pesquisa
Transporte Dentista/ Médicos está baseado na compreensão dos diversos
Telecomunicaçõe
processos necessários para compreender
A grande complicação está em reconhecer os processos, suas entradas e suas
como o objeto é transformado. Se quiser-
saídas, para tanto, o quadro a seguir faz a comparação de diferentes processos,
mos entender a empresa como um todo,
suas operações, suas entradas e saídas.
formando um grande processo, isto é to-
Operaçao Entradas Processo Saídas talmente possível, do mesmo modo que,
Matéria prima Usinagem se quisermos compreender a operação de
Indústria Colaboradores Caldeiraria Produto pronto uma única máquina como um processo,
Maquinário/recursos Solda
isso também é possível. O importante está
Avião
em definir qual a abrangência necessária
Equipe de terra Transportar Passageiros e carga
Companhia aérea
Tripulação passageiros e cargas transportados e o grau de precisão que vamos necessi-
Passageiros e carga tar para poder analisar um determinado
Fonte: Adaptado de Slack (2009)

Produtos à venda
Dispor os bens
processo ou sistema. Se a análise for algo
Estabelecimento Equipe (vendas/staff)
Aconselhar compra
Produto vendido ao venha generalizar, então, podemos enten-
comercial Registros consumidor
Clientes
Vender produtos der a empresa como um grande processo
com a entrada da matéria prima e a saída
Oficiais de polícia Prevenir crimes Sociedade justa
Polícia Sistema/informações Solucionar crimes Sentimento de de um produto acabado, como exemplo,
Público (criminosos) Prender criminosos segurança mas fatalmente o processo de melhoria
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 36

perde em nível de precisão e oportunida- lº - Divisão do Trabalho possibilitou a medição e estudo das mes-
des de verificação. Já, se a análise for algo mas (Ciência do Trabalho), de forma a
extremamente minucioso, podemos então buscar melhorias nos métodos de traba-
entender a operação de uma máquina como lho. Posteriormente, houve estudos que
processo, porém estaremos incorrendo no 2º - Aumento da Função das Mãos mostraram que, mesmo inseridas dentro
erro de não enxergar as interligações que dos processos produtivos, as pessoas que
este processo tem com os demais. Então, (mecanização e motorização) dele participam possuem necessidades a
podemos ainda, incorreremos por falta de serem atendidas (Necessidades Humanas)
informação para nosso processo de me- e, como são pessoas, naturalmente produ-
lhoria. O mais correto é ir analisando de zem variação. Essa variação é prejudicial
maneira genérica, compreendendo o “Sis- 3º - Ciência do Trabalho ao processo, existe sim a necessidade de
tema”, com isso poderemos compreender haver certo controle sobre as operações e
as interações entre os diversos “Processos” também sobre as pessoas que as realizam,
e assim conseguir compreender quais são mas este controle, quando realizado de
os “Subprocessos” que realmente precisam 4º - Necessidades Humanas maneira opressora, tende a gerar resulta-
de uma análise mais minuciosa, afim do (Hawthorne) dos inconstantes, pois fica extremamente
apontamento de possíveis melhorias. dependente da relação chefe-empregado.
Dessa forma, é que Shingo acaba ressal-
Em uma visão particular, Shingo tando que o Sistema só atinge o patamar
(1996) trata os sistemas de produção e seus de Manufatura Enxuta (produção com
processos de forma evolutiva, partindo
5º - Produção com Estoque Zero estoque zero) quando compreende esse
Fonte: Adaptado de Shingo (1996)
do princípio, conforme comentamos no processo como evolutivo e cria maneiras
As operações artesanais foram divi-
entendimento da Revolução Industrial, para que o “Sistema” faça o controle sob
didas (Divisão do Trabalho) em operações
anteriormente. sua própria variação, e não que este con-
individuais, isso acarretou no aumento de
trole dependa única e exclusivamente das
mão-de-obra, proporcionalmente, atri-
pessoas que comandam o sistema, pois
buída ao produto (Aumento da Função
essas também variam em sua operação.
das Mãos). Essa divisão de operações
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 37

CLASSIFICAÇÃO DE SISTEMAS de bens de consumo ou que serão da natureza, onde originalmente se


PRODUTIVOS utilizados para consumo em ou- encontram, tais como companhias
tros produtos, tais como a indústria mineradoras, companhias petrolí-
metal mecânica, beneficiamento de feras, etc.;
A fim de proporcionar um melhor alimentos, fábricas de automóveis;
entendimento ou compreensão dos siste- • Cultivo: parecido com a extração,
mas produtivos, a literatura acaba por criar • Serviços: produtos intangíveis, que mas difere-se pelo fato de que, nesse
uma classificação entre os mesmos. Claro não podem ser tocados, mas que são tipo de sistema, o local para exe-
que um sistema não pode e nem deve ser realizados de forma a satisfazer uma cução da extração é escolhido de
analisado diretamente de acordo com esta necessidade específica, tais como maneira conveniente aos produtos,
classificação. Entretanto, esta é sim, uma instituições financeiras, serviços de tais como a agricultura e a pecuária.
maneira de compreender, de forma geral, telefonia, etc.;
os fenômenos gerais produzidos por tais Já, de acordo com a representativi-
processos, compreendendo que um Sistema • Transportes: o produto desse tipo dade econômica dos mesmos, podem ser
Produtivo é tão somente a forma como de sistema é o deslocamento de car- divididos da seguinte forma:
organizam-se os recursos para a produção gas ou pessoas, tais como compa-
de produtos e serviços. nhias aéreas, companhia de trans- • Setor Primário: sistemas produtivos
porte rodoviário, etc.; de base, usualmente trabalham com
Os sistemas produtivos são, primei- produtos padronizados, de grande
ramente, divididos pela sua função, ou seja, • Suprimento: basicamente está na volume, e relativamente baixos va-
de maneira geral pela missão primordial aproximação de bens entre a ma- lores agregados, muitos dos produ-
que se prestam a cumprir e, novamente, nufatura e o consumidor, tais como tos desses processos são controlados
deve-se entender que o sistema não faz, centros de distribuição, supermer- pelos governos através de padrões
usualmente, uma só função, mas aqui tra- cados, lojas de comércio, etc.; de valor de venda, a ênfase está nas
tamos da função primária do mesmo: relações do governo com empresas
• Extração: como o próprio nome ou ainda de empresas com empre-
• Manufatura: sistemas que tem sugere, sistemas que tem como sas, tipicamente estão as atividades
como função principal a produção função a extração de material base de Cultivo e Extração nesse grupo;
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 38

• Setor Secundário: sistemas pro- prias especificações e então disponi- • Projeto sob Encomenda (PTO-
dutivos de transformação e benefi- biliza os mesmos para o mercado, tí- -project to order): a empresa realiza
ciamento de produtos, tipicamente pico caso da indústria de eletrônicos, tanto o projeto quanto a execução, de
atividades de Manufatura. Usual- eletrodomésticos e bens de consumo, acordo com a demanda do mercado,
mente, trabalha-se com produtos de quase não há customização possível, caso típico da construção civil, que
volumes médios para altos e valor produção de altíssimos volumes; tem que realizar um novo projeto a
agregado mediano, sendo a ênfase cada novo produto, altos níveis de
na relação de empresas para em- • Montagem sob Encomenda customização possíveis, produção
presas, com alguma relação com o (ATO-assembly to order): a em- de baixos volumes.
consumidor final; presa fabrica produtos pré-definidos
e realiza a configuração final desse Nos casos dos serviços a classifica-
• Setor Terciário: sistemas produ- produto de acordo com a demanda, ção tem pequenas modificações:
tivos, com ênfase no consumidor caso típico das montadoras automo-
final, o valor agregado está baseado tivas, certo nível de customização • Serviço em Massa: serviço padro-
na aproximação do cliente, ou ainda, controlada em pacotes pré-defini- nizado, de baixo custo relativo, não
na facilidade de aquisição, tipica- dos, produção de grandes volumes; customizado e de altos volumes, caso
mente as empresas de Suprimentos, das companhias de luz, telefônicas,
Transportes e Serviços. • Produção sob Encomenda (MTO- etc.;
-make to order): e empresa realiza
Os sistemas produtivos também seu produto de acordo com as es- • Loja de Serviço: serviço de relativa
podem ser classificados de acordo com a pecificações do cliente, típico caso padronização, certo nível de custo-
forma que interagem com seus clientes, das indústrias de autopeças, que mização e de médios volumes, caso
onde basicamente podemos entender para produzem de acordo com as espe- das assistências técnicas e revende-
o caso de produção de bens materiais: cificações das montadoras, grandes dores autorizados;
níveis de customização possíveis, de
• Fabricação para Estoque (MTS- acordo com predefinições, produção • Serviço Profissional: serviço alta-
-make to stock): a empresa realiza de médios para grandes volumes; mente customizado, baixo volume
seu produto de acordo com suas pró- produzido e altos custos relativos
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 39

associados, caso dos profissionais • Processo por Projeto: estes tipos


liberais, tais como mecânicos, ele- de sistemas de produção são carac-
tricistas, encanadores, pedreiros, etc. terizados por produzirem produtos
altamente customizados e com tem-
A classificação mais importante no po de produção longos, mas, apesar
âmbito do estudo dos sistemas produtivos disso, costumeiramente possuem
se dá pelo tipo de processo que a empresa início e fim de produção muito
utiliza, basicamente, pode-se entender os bem definidos. Isto é, sendo pre-
sistemas de produção sob duas óticas: visto um começo e um encerramento
da atividade. Por causa do nível de
• Sistemas Contínuos: sistemas com customização, requerem recursos
f luxo contínuo de produção, altos produtivos, altamente f lexíveis, e
volumes de produção e baixas va- é notório o fato que estes recur-
riedades; sos passam por grandes períodos
de ociosidade, geralmente. Esses
• Sistemas Discretos: sistemas com recursos transformadores, quando
fluxo intermitente, onde o tempo de estão executando o produto, são
setup (preparação e ajuste do pro- extremamente dedicados e acabam
cesso) é grande em relação ao tempo por, usualmente, serem arranjados.
de operação. Assim, diferentemente, de maneira
mais conveniente para cada produto,
Com o passar do tempo, essa clas- sendo o posicional, tipo de leiaute
sificação foi evoluindo, essencialmente, mais utilizado. Tipicamente, esse
refinando o entendimento sobre os siste- tipo de processo é usado em esta-
mas de produção discretos, sendo assim, leiros, construção civil, fabricação
ficamos com as seguintes classificações: de aeronaves.
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 40

• Processo do tipo Jobbing: costuma


ser utilizado na produção de pro-
dutos com grande grau de custo-
mização, porém onde pode haver
certo grau de repetição. Os recursos
transformadores, muitas vezes, são
flexíveis e podem ser compartilha-
dos com mais do que um produto
por vez. Por vezes, utiliza-se de ar-
ranjos por processo ou, em alguns
casos, arranjos físicos posicionais,
sendo esse o caso típico da produção
de moldes e matrizes (Matrizarias)
e também de Alfaiatarias;

• Processo do tipo Batch: caracte-


rizado pela produção de produtos
em lotes (ou bateladas) onde, após
a produção desse lote (que pode ser
caracterizado pelo modelo de um
ano específico, modelo sazonal,
linha de produtos do ano, etc) o
mesmo não mais se repetirá. Nesse
momento, podemos observar que
existe repetição, mas a mesma será
por um tempo finito e planejado
(usualmente um ano, uma estação ou
6 meses), ou seja, temos uma quanti-
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 41

dade limitada de produto e um ciclo • Processo de Produção Contínuo:


de vida relativamente curto, em que neste momento, estamos falando
se utilizam de arranjos celulares ou, de processos de produtos altamente
em algumas vezes, arranjos físicos padronizados, produzidos por es-
por processo. Esse é o caso típico da paços de tempo muito longos, que
indústria calçadista e da fabricação permitem pouquíssima ou nenhu-
de eletrodomésticos; ma variedade, cujos investimentos
no processo produtivo demandam
• Processo de produção em Mas- de altos investimentos, assim são
sa: caracterizado pela produção de produzidos produtos de custo re-
produtos com alto grau de padro- lativamente baixos. Utilização de
nização, altos volumes e com ciclo arranjos por produto (linha de pro-
de vida longo. Nesse caso são ad- dução) onde, em certos momentos,
mitidas algumas variações, mas es- o processo é literalmente contínuo,
sas não podem afetar o processo de ou seja, não para. Caso típico da
produção básico, pois utiliza-se de indústria petrolífera e geradoras de
recursos transformadores dedicados energia elétrica.
e, usualmente, busca-se a automa-
tização como forma de aumento Visto o que acabamos de compreen-
de produtividade. Normalmente, o der entre os diversos processos, o gráfico
arranjo produtivo está entre os do a seguir nos demonstra uma escala entre
tipo celular e os arranjos por produto as possibilidades de variedade, as quais
(linha de produção), é o caso típico podem ser proporcionadas por cada um
da produção de produtos enlatados, destes tipos de processos versus os volumes
produtos de limpeza, produção de de produção.
automóveis, etc.
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 42

O MECANISMO DA FUNÇÃO
PRODUÇÃO

Tendo compreendido o material até


aqui, agora, estamos aptos a compreender
o Mecanismo da Função produção, ou
seja, de que maneira funciona a função ou
fato de produzir. Basicamente, dividimos
a função produção em dois momentos, a
Função Processo e a Função Operação,
sendo que todo e qualquer processo, im-
Fonte: Autor
pendentemente do produto ou serviço que
Do mesmo modo, o quadro comparativo, que sucede essa breve explicação, está se realizando, pode ser compreendido
demonstra as principais características dos processos em comparação com os demais dessa forma.
apresentados.

Projeto Jobbing Batch Massa Contínuo • Função Processo: esta é a função


que observa o f luxo do “objeto”
Tempo de setup/tempo de operação Alto Baixo que está sendo processado dentro
do processo e, consequentemente,
volume Baixo Alto dentro do sistema produtivo. Nesse
Variedade Alto Baixo momento é importante entender a
sequência de etapas que o objeto
Grau de padronização do produto Baixo Alto que está sendo processado sofre, em
Ciclo de vida do produto Curto Longo outras palavras, o que mais importa
é de onde vem e para onde vai o
Flexibilidade dos recursos Alto Baixo objeto que está sendo processado.
Dedicação dos recursos Alto Baixo Não importando, nesse momento,
Fonte: Adaptado de Slack (2009)
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 43

qual é o tipo de operação que está


1-O processo consegue realizar a demanda
sendo realizada, e sim, compreender 3- Trocar a máquina A por uma de melhor
necessária?
que, para chegar ao final do processo performance (15pç/h), melhora o processo
em questão, o objeto necessita re- Resposta: Não consegue, pois se é ou a operação?
alizar esta operação. Sendo assim, necessário passar pela sequência de
observe no exemplo que segue, pro- Resposta: neste caso, haverá uma melhoria
operações e a operação B só atinge 5
cure observar o fluxo do objeto de na operação A, mas ela não vai refletir
peças/h, então já é possível compreender
trabalho (seja ele material, pessoas, melhoria no processo como um todo, pois
que o processo em questão não atende à
informação) no tempo e no espaço; o mesmo continua sendo limitado pela
demanda necessária.
operação B. Sendo assim, precisamos
2-Qual é a taxa de produção total do compreender a função operação, que é
processo? o caminho por onde o objeto passa, não
haverá melhoria se não houver melhora no
Resposta: O processo tão somente caminho como um todo.
Fonte: Autor consegue executar uma taxa de 5 peças/h • Função Operação: esta é a fun-
EXEMPLO: Nesse processo, o objeto passa no total. Nesse ponto, é importante notar ção que observa o objeto proces-
pela operação A, que consegue realizar que a operação A consegue produzir 10 sado dentro da operação, ou seja,
uma taxa de produção de 10 peças em uma peças /h, quando estas peças chegam na o que acontece com este objeto na
hora, depois passa para a operação B, que operação B, esta só consegue executar operação que está sendo realizada.
consegue realizar uma taxa de produção 5 peças/h, ou seja, metade dos objetos Importante entender, que sempre
de 5 peças por hora e, finalmente, passa que estão sendo processados ficam que realizarmos uma melhoria qual-
por uma operação C, que realiza uma taxa parados na operação B. Após isso, tais quer, a mesma será feita na função
de produção de 8 peças por hora. Diante peças passam para a operação C, que tem Operação, ou seja, a melhoria se
desse processo que, conforme informado, capacidade de 8 peças/h, no entanto, só dá, pontualmente, em cada opera-
tem uma demanda de 10 peças por hora. chegam 5 oriundas da operação anterior, ção do processo. Dessa forma, no
Agora, reflita, procure ver se compreendeu e independentemente da taxa de produção exemplo a seguir, procure observar
as questões que seguem: de cada recurso, o Sistema como um todo o fluxo do sujeito de trabalho (o que
está limitado à menor delas. as máquinas, pessoas, recursos pro-
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 44

dutivos está realizando) no tempo e Importante compreender que sempre serão realizadas melhorias na função
no espaço; operação, mas estas sempre terão de ser subordinadas à função processo, pois esta é
a função que representa o fluxo de produtos que o sistema está processando. Ou seja,
as melhorias devem ser realizadas no processo, que será avaliado e onde será notada
qual a operação contribui para o resultado indesejado do mesmo, nesse momento, a
operação apontada em questão deverá ser ajustada.

Fonte: Autor
Diversos tipos de processos podem ser retratados, analisados e estudados e as
EXEMPLO: Nesse processo, a operação formas de demonstrar isso variam de pessoa para pessoa ou de organização para or-
em questão é o transporte de objeto de ganização. A literatura também traz diversas formas de realizar esta demonstração, a
massa equivalente a 500 kg por uma isso se dá o nome de diagrama de fluxo de processo, sendo que sua função é entender
distância de 1 km entre os pontos A e B. o processo de manufatura e identificar oportunidades de melhorias com a elimina-
Diante desse processo, onde foi realizada ção dos desperdícios (estes serão tratados em específico no capítulo sobre perdas).
uma modificação, sendo a operação de Shingo (1996) define uma forma de tratar e descrever processo, padronizando uma
transporte modificada de manual para nomenclatura a tipos de operações, conforme segue:
mecanizada, responda:

1-Trocar o sistema de transporte de


manual para mecanizado melhora o
processo ou a operação?
Resposta: Sendo a distância e a carga
inalteradas e não havendo dados sobre,
por exemplo, o tempo ou o custo que esta
operação tem, não é possível dizer se
houve melhoria na operação. Do mesmo
modo que, se não houve melhoria na
operação, não há como ter havido melhoria
no processo.
Fonte: Shingo (1996)
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 45

• Processamento: mudança na forma, sendo executada no lote anterior,


mudança nas propriedades, mon- até que a máquina, dispositivo e/
tagem ou desmontagem, operação ou operador estejam disponíveis
onde há real agregação de valor ao para o início da operação (pro-
objeto; cessamento, inspeção ou trans-
porte);
• Inspeção: comparação com um pa-
drão que não agrega valor, medição, * Esperando lote: é a espera a que Fonte: Autor
verificação dos resultados de opera- cada peça componente de um lote Também é importante compreender
ções anteriores; é submetida, até que todas as pe- os conceitos de como são tratados os tem-
ças do lote tenham sido proces- pos necessários para mapear um processo:
• Transporte: mudança de posição sadas para, então, seguir para o
que não agrega valor, deslocamento próximo passo ou operação; • Lead Time: tempo total transcor-
entre operações. Não confundir com rido entre a entrada do produto em
o produto Transporte; * Espera ou estocagem dos produ- produção dentro do processo e a saí-
tos acabados. da do produto ao final desse mesmo
• Espera ou Estocagem: passagem de processo, também conhecido como
tempo sem a execução de qualquer Sendo a simbologia aplicada a se- tempo de atravessamento. De ma-
outro tipo de operação. A espera guinte: neira prática, usualmente é o tempo
pode ser classificada em quatro ca- total do processo.
tegorias:
• Tempo de Ciclo: tempo “transcor-
* Espera ou estocagem de maté- rido” (executado) entre a repetição
ria-prima: esperas anteriores ao de um mesmo evento (saída de um
início do processo; produto até a saída do próximo pro-
duto), ou seja, o intervalo entre a
* Espera do processo: aguardo do saída de dois produtos de dentro
término da operação que está do processo produtivo. Usualmente,
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 46

depende dos tempos unitários de


processamento em cada operação
(tempo padrão) e do número de tra-
balhadores alocados no processo.

• Takt Time: tempo “requerido” (te-


órico) entre a saída de um produto
pronto e a saída do próximo produto
pronto do processo. Normalmente,
deve ser regulado a partir da de-
manda necessária de produtos, ou
seja, a quantidade de produto a ser
fabricado e o tempo de entrega es-
perado para a produção do mesmo.
Geralmente, determina o “ritmo da
produção”.
Agora, vamos a um
Autoestudo!

1. Qual o efeito que o aumento de


volume e o aumento de variedade
criam nos Sistemas Produtivos?

2. O que é e como se caracteriza um


processo?

3. Que diferenças podemos com-


preender entre as Funções Pro-
cesso e Operação no Mecanismo
da Função Produção?

4. É possível identificar o Lead Time,


O Tempo de Ciclo e o Takt Time
dos processos no âmbito do seu
trabalho?

5. Você consegue identificar as en-


tradas, operações e saídas no seu
âmbito de trabalho?
REVISANDO!!!

A organização e a maneira de produzir O acréscimo de volume e o acréscimo


foram modificadas com o tempo, em virtu- de variedade são, taticamente, os dois ele-
de de fatores históricos e da demanda por mentos que mais criam variações sistêmicas
produtos. de custos produtivos.

Sistemas Produtivos são avaliados con- Ainda, é importante compreender em


forme sua eficácia, ou seja, uso de recursos um processo ou sistema, seu fluxo produtivo
para o fim desejado. para então, ao compreender suas operações,
identificar quais as que devem passar por
As melhorias fundamentais dos siste- processo de melhoria, a fim de melhorar o
mas produtivos visam, atualmente, a redução sistema como um todo.
dos custos associados à produção.
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 49

MODELOS DE
PRODUÇÃO
Quais os conceitos que formaram estes
Modelos Produtivos? Quais as diferenças
entre ambos?
A indústria automotiva, no geral, costuma ter implemen-
tado em seus sistemas produtivos algumas das mais modernas
sistemáticas de produção. Isso se deve ao fato de seu produto
ter presença mundial, sua indústria ser extremamente repre-
sentativa em termos econômicos (grandes somas de valores,
grande número de empregos), movimentar um alto número de
fornecedores em sua cadeia, além do fato do seu produto ter
proporções relativamente grandes, também por ser produzido
Empresas que são reconhecidamente
em um volume considerável, ter certa variedade de configu-
expoentes no ramo de produção de
rações e, certamente, por ser um tanto quanto complexo em
automóveis foram as responsáveis
virtude do número de partes e operações envolvidas na sua
por definir modelos de produção,
totalidade.
cujos conceitos são mundialmente
conhecidos, estudados e utilizados por
Todos esses fatores acabam por gerar uma busca cons-
uma infinidade de corporações, desde
tante, não somente por processos e recursos produtivos mais
pequenas até grandes empresas.
avançados e eficientes, mas também por sistemáticas que
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 50

venham a ajudar o aumento de produ- por não perdurarem da maneira com que Para constar, na época os automóveis
tividade, reduções de custos, vantagens foram concebidos. eram “construídos” por encarroçadores,
competitivas, diferenciais entre sua con- literalmente, empresas que até então fabri-
corrência e etc. Sendo assim, boa parte de cavam carruagens e naturalmente foram
SISTEMA FORD DE
algumas das melhores e mais difundidas evoluindo para o novo meio de transporte.
sistemáticas de produção acabaram sendo PRODUÇÃO Alguns se utilizavam de peças ou partes
geradas ou introduzidas dentro das indús- de outros fabricantes (principalmente mo-
trias automotivas, ou seja, praticamente Praticamente toda a história moder- tores), e outros, literalmente produziam o
a evolução dos padrões e sistemáticas de na do automóvel, como conhecemos, hoje, veículo como um todo. Esses automóveis
produção acabam se confundindo com foi calcada nos conceitos introduzidos pela eram fabricados de maneira bem artesanal,
o próprio crescimento e história dessas empresa Ford Motor Company, vindos das ao gosto do cliente ou ao estilo do designer
empresas. ideias de seu mentor e criador, Henry Ford. que os desenhava, praticamente não se-
Ford (o criador), vendo o que entendeu ser guiam ou utilizam poucos padrões, sendo
Nesse capítulo vamos citar 4 exem- uma maravilha da tecnologia moderna, assim, os automóveis eram extremamente
plos de Modelos Produtivos, que obvia- o automóvel, entendeu que esse seria um customizados e, praticamente, não haviam
mente não são únicos e nem definitivos, grande objeto de necessidade e desejo no dois automóveis iguais. Naquela época,
mas conseguem demonstrar um bom nú- mundo todo, assim resolveu investir na somente nos Estados Unidos, havia mais
mero dessas sistemáticas e foram esco- produção destes automóveis. de 100 fabricantes ou encarroçadores de
lhidos pela sua representatividade, valor automóveis.
histórico e formas de conduzir as questões
de produção. São basicamente os pila- Henry Ford era herdeiro de uma
res do pensamento produtivo moderno, família de fazendeiros, e, àquela altura, já
sendo que, alguns foram extremamente tinha grandes posses, acabou escrevendo,
funcionais durante um período de tempo, por volta de 1920, um livro chamado Hoje
outros mudaram efetivamente os rumos da e Amanhã (Today and Tomorrow), no
história e, também, exemplos de sistemáti- qual retrata suas ideias, (já havia escrito
cas interessantes, mas que, em virtude do outro anteriormente mais autobiográfico),
contexto em que estão inseridos, acabaram não só sobre o automóvel, mas sobre a
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 51

sociedade e o mundo, de maneira geral, poderia render melhor nos períodos onde
lucratividade, desperdícios, padronização, estavam na empresa) e também o fato de
etc. Por volta de 1918, acabou por deixar a que, com 8 horas de trabalho era possí-
companhia e ingressar na carreira política, vel criar 3 diferentes turnos de operação,
onde acabou sendo eleito Senador, mas sendo que, com 9 isso não era possível,
mesmo assim manteve o poder de decisão maximizando o potencial produtivo da
sobre boa parte dos rumos da empresa. empresa. Algumas dessas medidas per-
Como Senador, trabalhou principalmen- manecem ainda em vigor e sua linha de
te em projetos como redução de jornada pensamento norteia, em muito, a maneira
de trabalho (de 9 para 8 horas por dia), de pensar dos Industriais Americanos.
melhora de salários para os funcionários Foi autor de célebres e adaptadas frases,
que fossem qualificados (salário mínimo tais como:
da época era US$2,34 foi elevado para
cerca de US$5,00), diminuição de dias “Se tivesse feito o que meus clien-
da semana trabalhados de 6 para 5, entre tes pediam, teria construído uma car-
outras medidas. ruagem com mais cavalos ao invés do
modelo T”.
Apesar da fama de controlador,
Henry Ford tinha objetivos agressivos e de “O cliente pode ter o carro da cor
natureza social, entendia que a evolução do que quiser, contanto que seja preto”.
país somente se daria com a melhora nas
condições de trabalho e poder de renda, Ford contou com as ideias de outro
para que os mesmos tivessem a possibili- contemporâneo, Frederic Winston Taylor,
dade de poder consumir produtos e assim que era um Engenheiro e se especializou
movimentar a economia. Suas medidas não nas questões de sistemáticas de produção.
tinham somente caráter social, visavam a Suas ideias acabaram por formar o que
produtividade (por exemplo, com mais dias chamamos de Ciência do Trabalho, onde
e horas de descanso, assim o trabalhador procurava estabelecer a melhor, mais pro-
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 52

dutiva e menos fatigante forma de execu- mento do “Modelo T” que, para a época
tar cada tipo de operação, estabelecendo foi um marco nas tecnologias de produto,
padrões com instruções, sistemáticas e processo e gestão de produção, em virtude
tabelas. Para isso, são utilizadas, até os de três grandes fatores e inovações:
dias de hoje, com outros estudos comple-
mentares executados pelo casal Gilbreth, o • Padronização do Produto: como
qual defendia que toda e qualquer operação mencionado anteriormente, cada
necessita, antes de qualquer coisa, de um automóvel da época era único, cus-
estudo para avaliar a melhor forma de ser tomizado, isso denotava que seu
executada e acreditava que toda a opera- tempo de produção era extrema-
ção deveria ser, absolutamente controlada, mente alto, o veículo era caro e,
como forma de eliminar a variabilidade, usualmente, peças de um veículo
principalmente do ser humano, e assim não se acoplavam em outro (o car-
obter os resultados planejados e evitar todo ro deveria ser “restaurado” quando
e qualquer desperdício, seja de recursos, estradado e não consertado ou ter
seja de tempo ou de material. Em con- peças trocadas). A primeira grande
trapartida, promovia que deveria existir melhoria implementada por Ford foi
coparticipação entre capital e trabalho, justamente padronizar o produto,
ou seja, indivíduos mais produtivos ou ou seja, o produto a ser produzido
que conseguiam fazer mais tarefas ou era sempre o mesmo, logo uma peça
que outros deveriam receber mais. A base produzida poderia ser montada ou
fundamental de pagamento de salários na agregada a qualquer um dos veículos
indústria americana continua seguindo a serem realizados, pois eram total-
muitos desses conceitos. mente intercambiáveis. Isso possi-
bilitou a diminuição da variação de
A Ford Motor Company teve seu modelos e uma certeza que ajudaria,
grande crescimento e ficou, inicialmente, primordialmente, nas questões de
conhecida a nível mundial com o lança- qualidade do produto e programa-
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 53

ção de produção. A padronização so era tão padronizado que até um


do produto foi tanta que, em dado agricultor poderia realizar, fato
momento, como forma de reduzir principalmente atribuído ao desen-
custo, diminuir tempo de cura e volvimento de maquinário, extrema-
ajudar a esconder eventuais imper- mente, específico para realizar cada
feições, inclusive a cor do produto foi operação, tanto que era praticamente
padronizada, o preto, sendo assim, impossível produzir qualquer coisa
o cliente não tinha nem a opção de diferente do que as peças a que se
definir algo diferente do padrão. destinava com os mesmos. Esse foi
o principal fato gerador dos gran-
des níveis de produtividade e incre- • Padronização do Ritmo de Pro-
mento na qualidade do produto, as dução: esta é considerada a últi-
chamadas máquinas agrícolas. Isso ma grande e definitiva sistemática
também possibilitou o uso de mão- implementada pela Ford naquela
de- obra inexperiente e barata, aju- época. A grande situação era que as
dando também na redução do custo máquinas e demais recursos mecâni-
de produção, além de estabelecer cos e insumos de produção tinham
um controle direto sobre a opera- vazão e capacidade de produção para
• Padronização do Processo: tendo ção, uma vez que, praticamente, o atender as expectativas. O ponto
padronizado o produto, tornou-se operador só abastecia e desabastecia fundamental era que o ritmo dos
relativamente menos complicado o processo e as máquinas realizam trabalhadores não era constante,
padronizar o processo. Nesse mo- a operação, o operador só precisava hora aceleravam demais, hora de-
mento, foram colocadas em prática ser rápido para alimentar as mesmas. moravam a realizar a operação, isto
todas as ideias e ditames das teorias causava instabilidade e incerteza nos
de Taylor, buscando o desenvolvi- processos, além de gerar, por exem-
mento de processos extremamente plo, grandes estoques em um ponto
padronizados, rápidos e eficientes. e, principalmente, falta de peças em
Costumava-se dizer que o proces- outro, diminuindo a produtividade.
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 54

Para buscar sanar esse problema, Todas essas medidas e implemen- carro na quinta-feira da mesma se-
Henry Ford teve a ideia, em torno tações de sistemáticas permitiram a Ford mana.
de 1913, visitando um frigorífico, de atingir números e feitos impressionantes,
alinhar os processos subsequentes, principalmente vistos à época onde foram Um olhar um pouco mais cético
lado a lado, na ordem que deveriam executados (entre 1908 e 1927, ano em que sobre os feitos e fatos acontecidos, reme-
ser realizados e implementar esteiras o Modelo T deixou de ser produzido) e te-nos a analisar algumas questões e nos
que transportavam peças de um pro- são dignos de notas alguns fatos: proporciona uma avaliação do porquê ou
cesso para outro em um tempo har- como foi possível fazer tais feitos naquela
mônico, padronizado e que atendia • Produziu 15.007.034 unidades do época e hoje tais fatos seriam quase impos-
a demanda do produto. Desse modo, Modelo T entre 1908 e 1927 (recor- síveis de serem executados, para tanto, po-
podemos atribuir a Ford o arranjo de de mantido por 45 anos). Foi poste- demos citar algumas razões importantes:
processo por Produto, ou Linha de riormente substituído pelo Modelo
Produção, onde os trabalhadores se A, onde a empresa passou a ser co- • Henry Ford era de família extre-
viam obrigados a executar as tarefas mandada pelo filho de Henry Ford; mamente abastada, dono de um
no ritmo certo, gerando cadência e conglomerado de empresas extre-
diminuindo as incertezas, chegando • Iniciou sua venda do Ford Modelo mamente lucrativas, sendo assim, o
a produzir cerca de 2.000 automó- T a US$826,00 e, ao final de sua fator financeiro nunca foi um grande
veis por dia. produção, era vendido a US$360,00, problema. Soma-se a isso o fato de
onde eram produzidos um a cada também ter recebido investidores
98min; (no começo foram num total de 12,
que aportaram cerca de US$28.000
• Possuía cerca de 80.000 funcioná- na empresa);
rios e a Ford tinha cerca de 10.000
hectares; • A cadeia produtiva era extrema-
mente verticalizada, ou seja, era
• Foi capaz de extrair minério de ferro toda de propriedade da Ford, des-
numa segunda-feira e utilizar este de a extração de minério de ferro,
mesmo minério na produção de um fundição do aço, extração de látex
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 55

(na Amazônia), fabricação dos pró- facilmente sua produção, tanto que atender as novas expectativas do mercado,
prios pneus, fabricação de todos os a literatura praticamente dá conta fato que perdura até os dias atuais.
componentes, ferrovia particular, de que as vendas eram simplesmente
ligando praticamente toda a cadeia limitadas pela capacidade de pro-
SISTEMA TOYOTA DE
produtiva e frota de navios própria dução.
para transbordo de produtos, rece- PRODUÇÃO
bimento de mercadorias, etc.; Apesar de ainda ser considerado um
dos Modelos Produtivos mais eficientes Em um cenário totalmente diferen-
• Na época houve uma grande mi- já implantados no mundo, a hegemonia te da época da fundação da Ford Motor
gração de pessoas para os EUA, da Ford e seu modelo produtivo tem seu Company surge a Toyota Motor Corpo-
principalmente para Detroit (cidade declínio quando acontece a união de algu- ration, subsidiária da Toyota Industries,
onde estava situada a Ford), vindas mas empresas americanas de fabricação de que, em 1918 foi fundada por Sakichi
da Europa (grande número de Irlan- automóveis, formando a General Motors Toyoda para fabricar Teares automatiza-
deses), que iam para os EUA buscar Company. Essa vem ao mercado com uma dos, conhecidos na época como os mais
empregos. Essa mão- de -obra, ape- proposta de modelos diferenciados, que produtivos e eficientes, principalmente
sar de tecnicamente despreparada, denotavam o status do seu proprietário pelo fato de terem acoplados ao seu sistema
era extremamente barata; (não sempre a mesma coisa), incutindo de funcionamento uma espécie de fusível
no mercado o senso de necessidade de mecânico, que era preso à linha tensionada
• A extensão de terras e o tamanho satisfação pessoal, customização do pro- enquanto produzia tecido, sendo que esta
do espaço disponível também não duto e diferenciação. Com isso, o modelo linha, ao se romper, fazia com que esse
foram um problema para a Ford; produtivo de produtos extremamente pa- dispositivo parasse a máquina, evitando
dronizados acaba por quase que ruir no assim a produção de tecidos com falhas.
• Entretanto, o grande detalhe era cenário automotivo, apesar do mesmo ain- O fato de ter este dispositivo permitia que
que, como o mercado não tinha este da ser aplicado a diversos outros produtos somente um operador cuidasse do traba-
produto (automóvel) disponível em e propósitos. Dessa maneira, tanto a Ford lho de 20 teares automáticos, um feito
condições, volumes e preços acessí- como qualquer outra empresa automotiva, fantástico para a época. Esse dispositivo
veis, quando Ford inunda o mercado posteriormente, viram-se com a necessi- é o prercussor da ideia do Jidoka, a qual
com seu produto, o mesmo vende dade de adaptar seus processos de modo a veremos mais adiante.
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 56

A empresa, inicialmente, começou Em 1943 Kiichiro Toyoda convida


com o nome de Toyoda, sobrenome cor- um engenheiro industrial que trabalhava
reto da família fundadora, mas acabou na fábrica de teares, Taiichi Ohno para as-
modificando o mesmo para Toyota, para sumir a área de produção da área de auto-
melhorar a fonética entre os ocidentais. móveis. Ohno havia já formado a ideia do
Em torno de 1933, Kiichiro Toyoda, fi- Just in Time (o qual veremos mais adiante)
lho do fundador, resolve criar um setor em torno de 1937, mas acabou implantan-
em separado da empresa do pai, com a do suas teorias mais tarde. Tinha como
finalidade de produzir um automóvel Ja- ídolo o industrial americano Henry Ford
ponês (o Modelo A) e, em 1937 funda e suas ideias revolucionárias a respeito do
oficialmente a Toyota Motor Company. processo produtivo. Ideias que estudou
Uma empresa em separado e pertencente para compreender sua essência, tanto que
ao grupo Toyota. Esta época foi bastante aperfeiçoou a própria ideia de Ford a res-
turbulenta a nível mundial, principalmente peito dos desperdícios. Em torno de 1956
em virtude da Segunda Guerra Mundial, visita os EUA e, ao observar o fluxo de
na qual o Japão entrou como aliado da mercadorias de um Supermercado, acaba
Alemanha e Itália e acabou sendo, seve- idealizando os conceitos do que mais tarde
ramente, bombardeado por volta de 1945, viria a ser o Kanban (o qual também vere-
inclusive a fábrica da Toyota que, por volta mos mais adiante). Trabalhou com afinco
desta época, quase faliu. para progredir a fábrica de automóveis da
Toyota, chegando a cargos Executivos e
deixando a empresa em torno de 1980.
Em torno de 1988 publica um livro cha-
mado “O Sistema Toyota de Produção
– Além da Produção em Larga Escala”,
onde busca explicar a filosofia por trás
do famoso Sistema Toyota de Produção,
Sr. Taiichi Ohno
do qual é considerado o principal mentor
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 57

e idealizador, tem como famosa a frase: empresa automotiva no Japão (a Toyota) moldes da Ford, pois o considerava extre-
ainda continuava a prosperar. Alguns es- mamente produtivo e eficiente, todavia as
“Fazer uma fábrica funcionar para tudiosos americanos voltaram seus olhos condições em que a Toyota encontrava na
a empresa, exatamente como o corpo para a tal empresa e queriam saber o que época eram bastante diferentes da Ford,
humano funciona para o indivíduo” a tornava, de certa forma, próspera em em seu momento, a saber:
tempos de crise, fazendo com que, na
Na década de 1950 junta-se a Ohno, década de 1980, torna-se famoso o livro • O Japão tem uma extensão de terras
um professor da Universidade de Saga e “A Máquina que Mudou o Mundo”, de muito pequena e esse pouco ainda
Consultor de empresas chamado Shigeo Womack e Jones, onde, pelo menos, visto tem vários pontos inabitáveis, sendo
Shingo, e juntos, desenvolvem os conceitos aos olhos ocidentais, procuravam expli- assim, cada espaço é extremamente
e as técnicas do Sistema Toyota de Produ- car as metodologias e os “Segredos” da valorizado;
ção. Shingo escreveu vários livros em sua empresa para enfrentar os momentos de
carreira, inclusive considera-se que foi a crise. A partir daí os conceitos do Sistema • A mão de obra Japonesa é tida como
primeira pessoa a descrever, por volta da Toyota de Produção rodaram o mundo e extremamente capaz e qualificada,
década de 1980, em forma literária, os ainda hoje são extremamente bem quistos mas é cara e escassa;
conceitos do Sistema Toyota de Produção, e atuais.
mas em virtude de problemas de tradu- • Tanto a Toyota quanto o Japão não
ção do japonês para o inglês somente é viviam tempos de milagres finan-
reconhecido por isso mais tardiamente. É ceiros, bem pelo contrário, o perí-
considerado o grande idealizador de meto- odo de Guerra tornou o Japão todo
dologias tais como o SMED e Poka-Yokes muito pobre;
(que serão descritos no próximo capítulo).
• A essa época o consumidor do mun-
A Toyota ficou mundialmente co- Sr. Shigeo Shingo
do todo já não tinha tanta carência
nhecida após a Crise do Petróleo, de 1979, pelo automóvel quanto na época de
na qual muitos grandes conglomerados Como mencionado anteriormen- Ford, sendo assim, já eram necessá-
industriais tiveram sérias dificuldades, mas te, Ohno tinha Henry Ford como ídolo, rias variedades de produtos, o que
mesmo assim havia notícias de que uma imaginava fazer seu sistema produtivo aos impedia a ideia do modelo Ford na
sua íntegra.
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 58

Então, o que houve na Toyota, capi-


taneada pela filosofia produtiva de Ohno, A base filosófica fundamental do quebra constante de máquinas, re-
foi a adoção seletiva das melhoras práticas Sistema Toyota de Produção está calcada trabalhos, ou falta de confiança nos
produtivas, encontradas e conhecidas, bem na identificação, observação e combate fornecedores. São divididos em dois
como a adaptação de conceitos para os no- aos desperdícios. Tanto Shingo (1996), tipos de superprodução:
vos paradigmas de mercado. Os japoneses quanto Ohno (1997) chamaram estes
foram extremamente sábios em conseguir desperdícios de PERDAS (MUDA, em • Perda por produzir antecipada-
adotar as sistemáticas produtivas de Ford, Japonês) e concordam em seus livros, que mente (antecipação), os produ-
adaptadas a sua realidade, juntar as novas os movimentos dos trabalhadores podem tos processados ficam estocados
e boas práticas disseminadas pelas missões ser desdobrados em trabalho (operações) aguardando o momento certo de
americanas de reconstrução industrial do e perdas, podendo o trabalho ainda ser serem consumidos no processo
Japão, após a Segunda Guerra, por fim, dividido em aquele que agrega valor (no posterior;
criando metodologias para melhor apro- qual gera algum tipo de mudança na for-
veitar os parcos recursos de que tinham ma/característica ou montagem do produto • Perda por produzir além da ne-
disponibilidade. ou serviço) e o outro que não agrega valor cessidade (quantidade). É um
(sendo muitas vezes uma atividade neces- tipo de perda inaceitável em
Japão parcialmente destruído fim sária para dar suporte ao processamento, é qualquer hipótese.
Segunda Guerra Mundial (1945) uma perda que pode ser eliminada através
de mudanças das condições de trabalho). • Perda por Transporte: toda a ati-
As perdas, segundo esses autores, podem vidade de movimentação de mer-
Invasão do ”sistema americano” de produção ser classificadas em sete: cadorias entre as diversas fases do
processo, é a típica atividade ne-
• Perda por Superprodução: perda cessária, que não agrega valor e
Crescimento econômico Japonês (1959 - 1974) associada ao processo produtivo é normalmente é associada a estu-
considerada por Ohno a perda mais dos de arranjos produtivos, mal di-
prejudicial do sistema, pois pode mensionados ou pouco funcionais.
Crise do Petróleo de 1979
esconder outras perdas e é a mais Um ponto importante é que muitas
difícil de ser eliminada. Normal- empresas implantam melhorias na
Disseminação do Sistema Toyota de Produção mente, tem suas causas atreladas à função transporte (empilhadeiras,
Fonte: Autor
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 59

correias transportadoras e outros), sidades dos clientes, apresentando • Perdas por Movimentação Interna:
o que melhora apenas a atividade características de qualidade fora de perda associada às operações onde
de transporte (operação), sendo que um padrão estabelecido. Essa perda movimentos desnecessários são rea-
o interessante, é a diminuição da é a mais comum e de fácil identifi- lizados por um operador ou recurso
mesma ou eliminação por completo; cação, pois gera retrabalhos ou até produtivo, no momento em que se
mesmo sucateamento de produtos, está realizando esta operação. Os
• Perdas por Processamento em geralmente acontece em virtude da estudos de tempos e movimentos de
Si: o próprio fato do sistema ter falta de processos capazes ou con- Taylor e do Casal Gilbreth, ou seja,
que processar um objeto poder ser fiáveis; o estudo das operações, ajudam na
considerado uma perda, pois nos diminuição dessa perda;
colocamos a pensar as etapas do • Perdas por Estoque: perdas asso-
processo que poderiam ser elimi- ciadas ao processo, que ocorrem pela • P
erda por Espera: também asso-
nadas sem alterar as características existência de estoques de matérias ciada às operações, onde aconte-
ou as funções básicas do produto ou primas, material em processamento cem intervalos de tempo, no quais
serviços. Operar máquinas aquém e produtos acabados. Shingo (1996), o processo ou operação é executado.
das suas capacidades é considera- inclusive, afirma que uma grande Vamos a uma exemplo: um processo
do uma perda por processamento. barreira à diminuição das perdas por ou uma operação é executada por um
Usualmente, pode ser localizada a estoque é a concepção ocidental de operador, esse necessita parar para
partir dos questionamentos de por que o estoque é um “mal necessário”, aguardar a movimentação de uma
que esse tipo de produto ou serviço pois ele funciona como um “retifi- máquina ou recurso, ou ainda, uma
específico deve ser produzido ou por cador” para as oscilações da deman- máquina ou recurso que não pode
que esse método deve ser utilizado da e confiabilidade das máquinas e executar sua tarefa porque está espe-
neste tipo de fabricação; operações. Por isso, quanto maior rando o resultado de outra operação
a variedade necessária de produção ou a chegada de matéria -prima de
• Perdas por Produção de Produtos pelo sistema, maior é a necessidade outro processo, etc.
Defeituosos: é a realização de um de estoques;
produto dentro do processo que não
está em conformidade com as neces- • Veja a forma ilustrada
na próxima página
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 60

SISTEMA VOLVO DE
PRODUÇÃO

Um sistema produtivo, além da


inf luência das Dimensões de Mercado
e Objetivos de Produto, sofre grandes
inf luências também da cultura local. A
Volvo é uma empresa Sueca e o estudo do
seu Modelo Produtivo consegue traduzir
muito bem essas questões de influências
culturais.

A Suécia é um país da Europa que,


ao contrário da grande maioria dos demais
países a sua volta, teve um processo mais
tardio de industrialização, a qual começou
de maneira mais contundente na década
de 1930 e acabou carregando uma cultura
organizacional, fruto da sua sociedade
calcada na sócia-democracia de tempos
mais longínquos. Apesar de pagarem altos
níveis de impostos, o governo Sueco dispo-
nibiliza ao cidadão uma série de benefícios,
tais como: Saúde, Educação, Saneamento
Básico, entre outros. Praticamente, na sua
Representação das totalidade com recursos do estado. Essa
política social também se reflete no meio
7 PERDAS em cadeia
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 61

empresarial, onde salários e benefícios Um empresa de rolamentos e peças uma grande preocupação com as questões
são direitos adquiridos do trabalhador e, de precisão, a SKF, foi o berço formativo
de segurança automotiva, cabendo a Volvo
numa eventual mudança de emprego, são da Volvo, que começou em meados da algumas primazias a nível Europeu, tais
consigo, carregados e não ficam atrelados década de 1970 como uma subsidiária e como: barras de proteção laterais e sistema
ao empregador, além de um sistema deci- acabou por formar, mais tarde, uma em- que mantém os faróis ligados durante o
sório com ampla participação popular nas presa independente. A empresa foi fundada
dia (o que hoje é praticamente um padrão
questões de tomada de rumo das medidas em Uddewalla, por Gustav Larson e Assar na Europa). Teve seu apogeu na década
governamentais. Apesar do desenvolvi- Gabrielsson, com a idéia inicial de pro-de 1990 e, atualmente, não mais fabrica
mento industrial tardio, a Suécia ficou a duzir um carro tipicamente Sueco, mais automóveis (apesar da marca Volvo auto-
parte da Segunda Guerra Mundial, então, adequado às severas condições climáticasmóveis ainda existir e ser propriedade de
com seu país e indústrias, praticamente, do país, o que costumava ser um problemaoutro grupo automotivo) e acabou por se
intocados no pós-guerra, acabou se uti- para os produtos advindos de outros locais.
dedicar quase que exclusivamente, em ter-
lizando da ocasião para suprir os demais mos rodoviários, ao ramo de Caminhões,
países devastados com uma grande gama A empresa começou com um forte adquirindo, para isso, outras empresas de
de produtos. apelo a esta melhor adequação às neces- renome.
sidades do povo Sueco, além de difundir
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 62

O sistema produtivo da Volvo (ou automóveis por vez), eliminando a ideia de linha de montagem, inicialmente adotada,
chamado também de Volvismo) era carac- pois entendiam que o outro tipo de arranjo valorizava mais as atividades do operador,
terizado por uma ampla participação do funções consideradas por eles menos nobres, tais como fluxo de informação e logística
empregado nas decisões produtivas (refle- de materiais, eram extremamente automatizadas.
xo da política social do país) sendo que,
por conta disso, os funcionários rebem O Modelo Produtivo da Volvo não perdurou dessa maneira por muitos anos
um amplo treinamento antes de iniciarem em virtude das atuais necessidades de mercado, em termos de produtividade, pois,
suas plenas atividades (cerca de 17 meses) entende-se, que apesar de ser considerado extremamente socializado, sofria com as
e acabam por decidir, dentro do grupo incertezas em termos de ritmo de produção, necessidade de estoque e variabilidade
de trabalho aonde pertencem, quem dos nos processos, mesmo que fosse reconhecido como de extremo nível de produtivi-
mesmos irá comandar as atividades da dade. Apesar de tudo, é um caso interessante a ser estudado, visto que, muitos anos
equipe e por qual período. O grupo de depois da indústria automotiva adotar, a nível praticamente global, a ideia de linha
trabalho, formado por cerca de 8 funcio- de produção, a Volvo tomou uma decisão de arranjo produtivo e sistema de produção
nários monta o carro, em arranjo físico bastante diferenciada.
posicional, do início ao fim, sendo que o
grupo também define quem vai fazer qual
tarefa no automóvel e o ritmo de trabalho
empregado.

Fisicamente, a planta apresentava


ambiente extremamente agradável ao tra-
balho, com jardins, iluminação natural,
baixo nível de ruído e preocupação com
a ergonomia, tinha um layout bem dife-
renciado, onde o almoxarifado ficava ao
centro da área de montagem, e era cir-
cundado pelos boxes de montagem das
equipes (que executava a montagem de 3
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 63

SISTEMA HYUNDAI DE ados de 1968, montando automóveis da outra empresa coreana, a KIA.
PRODUÇÃO Ford em regime de CKD, na Coréia, (No
CKD, o veículo vem em blocos pré-mon- A Hyundai possui duas gigantescas
tados e peças que são somente acopladas e fábricas de automóveis na Coréia (Assan e
Conhecido também como HPS finalizadas no destino final). Já, em 1970, Ulsan), sendo uma delas construída junto a
(Hyunday Production System) é o Modelo com ajuda de recursos estatais, a Hyundai, um porto (a empresa também constrói seus
Produtivo considerado como objeto de es- em parceria com a Mitsubishi, produz navios), permitindo a vinda de autopeças
tudo mais moderno entre os demais apre- seu primeiro automóvel, chamado Pony. da Alemanha e Japão (pois as empresas de
sentados aqui, apesar da literatura sobre o Em 1975 decide contratar como gestor autopeças coreanas não são confiáveis) e
mesmo ainda se resumir, essencialmente, industrial Seyu Arai, vindo da Mitsubishi também o escoamento de produção para
a artigos acadêmicos, diferentemente do e discípulo de Taiichi Ohno. Na década de o restante do mundo, visto que, fora uma
Sistema Toyota de Produção, que possui 1980, resolve entrar no mercado america- planta fabril de carros populares no Brasil,
inúmeras publicações e citações de suas no, uma tentativa relativamente frustrada todos os demais carros da Hyundai são
metodologias. em virtude da época, fama de carro frágil fabricados na Coréia.
e problemático (não estava bem adaptado
Basicamente, como empresa, a às necessidades do mercado dos EUA). Em A história da Hyundai é recheada de
Hyundai iniciou suas atividades em me- 2005 a Hyundai oficializa a absorção de conflitos com governo e sindicatos, em vir-
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 64

tude dos ditames e regime de trabalho da um produto arrojado tecnologica-


Coréia. Dessa maneira, após uma tentativa mente;
falha de emular (na verdade, praticamente • Inspeções frequentes dentro dos
copiar) as ideias e o Modelo Produtivo da processos e junto ao produto final
Toyota, que é extremamente calcado na (fala-se em torno de 1.000 inspeto-
confiança, conhecimento e participação res de qualidade na empresa);
dos operadores, resolveu, então, ao final da • Automatização em todas as opera-
década de 1990, oficializar as definições ções possíveis, sendo que, para isso,
de um Modelo Produtivo próprio, onde a empresa desenvolveu uma fábrica • Utilização de MRP ao invés de
decidiu, pela adaptação das metodologias de robôs para se abastecer e, onde Kankan como controle de produção,
da Toyota, de forma a melhor se ajustar as é possível trocar mão-de-obra por utilização de sistema de produção
suas necessidades como empresa. robôs ou outras formas de automa- puxada ao invés de empurrada (caso
ção, ela é executada (praticamente da Toyota), onde se busca o nível de
Sendo assim, o chamado Sistema as áreas de estampagem e solda são produção máxima todo o tempo, in-
Hyundai de Produção tem como carac- 100% automatizadas); dependentemente de haver demanda
terísticas principais: ou não para a produção.

Apesar dos níveis de automação


(cerca de 15% maiores que a Toyota) e
outras medidas tidas como mais modernas,
consta que os resultados de produtividade,
nível de confiança e nível de utilização de
recursos ainda são maiores na Toyota, mas
• Modularização como forma de o exemplo do Sistema Hyundai demonstra,
• Sistema de produção moldado de promover a variedade no sistema mais uma vez a necessidade de adoção
acordo com as definições de enge- produtivo, sistemática, atualmen- seletiva e adaptação das ideias referentes
nharia, ou seja, a ideia não é ter um te, adotada por inúmeras empresas à manufatura enxuta.
produto fácil de produzir, mas sim automotivas;
Agora, vamos a um
Autoestudo!

1. Quais são os principais fatores


que ajudam a definir um Sistema
de Produção?

2. Quais são as principais caracterís-


ticas de cada um dos quatro mo-
delos de produção apresentados?

3. O que as principais diferenças en-


tre os modelos podem denotar
em termos de diferenciais com-
petitivos?

4. No seu âmbito de trabalho, conse-


gue ver semelhança com algumas
das práticas aqui apresentadas e
adotadas por esses Modelos?
REVISANDO!!!

Os Modelos Produtivos são frutos, O Sistema Toyota foi estabelecido em mas visto os mercados atuais, as flutuações
principalmente dos mercados em que atuam uma época de inúmeras incertezas de mer- a que estava suscetível acabam por fazer a
e das definições acerca dos seus objetivos em
cado, mesmo assim, conseguiu definir meto- empresa perder competitividade.
termos de produto, mas, além disso, também dologias que foram suficientes para adequar
são extremamente influenciados por fatores a empresa em virtude dessas necessidades. A Hyundai fez a adoção seletiva de
culturais associados a sua mão -de- obra. Suas ideias foram tão bem desenvolvidas que metodologias do Sistema Toyota em função
servem de base para inúmeras empresas no de particularidades do mercado a que destina
O Sistema Ford foi estabelecido em mundo. seu produto, sua estratégia de posicionamento
uma época de mercado extremamente carente desse produto e de fatores relativos à mão-de-
pelo seu produto, por isso, definiu metodo- O Sistema Volvo foi criado em um am- -obra disponível no país onde está instalada.
logias baseadas na produção de volumes ex- biente social diferenciado, onde, por algum
cepcionais de produção. tempo, conseguiu -se manter competitivos,
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 67

METODOLOGIAS
DA MANUFATURA
ENXUTA
Quais as metodologias utilizadas na
Manufatura Enxuta? Como aplicar?
Como expressamos no capítulo anterior, a Toyota, quan-
do do desenvolvimento implementação, referente à época do
que foi chamado Sistema Toyota de Produção, acabou por
definir diversas metodologias e sistemáticas, que atualmente
são tidas como a linha de pensamento produtivo mais adequada
para os atuais ditames e necessidades de mercado. Visto que,
vivemos tempos de demandas variáveis, de baixos volumes
de altas variedades de produtos. Portanto, essas ferramentas
e sistemas desenvolvidos na Toyota formam o que os espe-
cialistas denominam hoje como Sistemáticas de Manufatura
Enxuta (Lean Manufacturing), as quais vamos explicar neste
capítulo, baseando-nos na estrutura da própria Toyota.

Em tempo, é interessante comentar que a própria Toyota


não reconhece a estrutura de sistemáticas apresentada da ma-
neira que veremos adiante, esta foi a forma que os estudiosos
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 68

do assunto (Womack, Liker, Antunes, Slack, entre outros tantos) organizaram a ESTABILIDADE OPERACIONAL
mesma de forma didática, estruturada como se fosse uma “Casa” com a lógica que
existe um alicerce (base fundamental), onde podem ser fixados os pilares (sistemá-
ticas e linhas de pensamento estrutural) para a sustentação de um telhado (objetivos Observando a figura acima, pode-
gerais do sistema). mos observar que a “base da mesma” é
formada por quatro diferentes sistemáticas,
estas são as responsáveis pela Estabilidade
Operacional do Sistema.

Cadeia de Valor

Esta primeira sistemática está jus-


tamente ligada ao entendimento das ne-
cessidades dos clientes, ou seja, o estudo
das Dimensões de Mercado e Objetivos
de Produto, que se bem entendidos, defi-
nem para a empresa que posicionamento
tomar em função do seu Sistema Produtivo
(entre outras coisas). Portanto, o correto
entendimento dos volumes, os quais são
necessários de serem produzidos, a varie-
dade de diferentes produtos que é reque-
rida, o comportamento das oscilações ou
Fonte: Liker (2005)
variações de demanda e a necessidade de
visibilidade ou proximidade de execução
do processo junto ao cliente. Juntam-se a
isso as percepções dos corretos graus de
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 69

qualidade a ser atingido pelo produto, a


necessidade de prazo ou rapidez de aten-
dimento, nível de confiabilidade exigida
para a aplicação do produto ou serviço,
necessidade de flexibilidade do produto
ou serviço, e ainda, qual o custo que tanto
mercado como o próprio negócio consegue
suportar ou absorver.

Trabalho Standard

Aqui, basicamente, temos a aplica-


ção, na íntegra, dos conceitos sugeridos
e aplicados pela Ciência do Trabalho, a
necessidade de estudo dos processos e ope-
rações envolvidas na execução do produto
ou do serviço, a fim de definir uma base
sistemática de execução do mesmo. Cabe
ressaltar que, quanto mais padrão for o
produto, mais aplicável são as metodolo-
gias descritas pela Ciência do Trabalho
(lembre do caso do produto da Ford) e,
quanto menos padronizado for o produto,
mais complexo se tornará o fato de defi-
nir uma maneira padronizada de executar
as operações. Dessa maneira, os padrões
tornar-se-ão mais flexíveis e a incerteza so-
bre o sistema também, tornar-se-á maior.
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 70

Independentemente do caso, a pior situa-


ção é a simples execução do processo sem
padrão ou sistemática nenhuma aplicada,
isso vai gerar problemas de repetitividade
(qualidade e confiabilidade), incerteza so-
bre o resultado final (problemas no que-
sito rapidez), ou seja, o sistema produtivo
torna-se um grande artesanato.

TPM

O TPM, sigla para Manutenção

Fonte: Pereira (2011)


Produtiva Total (do inglês, Total Produc-
tive Maintenance) foi uma abordagem
introduzida com o intuito de garantir a
produtividade esperada do sistema produ-
tivo. Apesar de, em alguns momentos, ser
entendida como uma abordagem, estrita- • Falha: classe de defeito apresentado no sistema, que impede o seu funciona-
mente. No mesmo sentido, a Manutenção mento. Diferentemente do entendimento simples de defeito, que normalmente
de equipamentos, tem um sentido muito é uma reclamação ou algo tido como não aceitável, sendo assim, tem um caráter
mais amplo afim de assegurar (manter) os mais amplo (por exemplo, um risco na pintura de um automóvel é um defeito,
níveis de produtividade do sistema. Para mas não impede seu funcionamento). Portanto, falha é o momento em que um
uma melhor compreensão, a seguir vere- defeito impede a função primordial requerida do sistema. Para tanto, é neces-
mos alguns pequenos conceitos associados sário entender qual é o requisito do produto. Em outras palavras, defeito está
às falhas e manutenção de equipamentos associado à qualidade e falha está associado à confiabilidade. Também pode
para depois compreendermos o sentido ter uma subdivisão, de acordo com a percepção do usuário, sendo:
completo da sistemática.
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 71

• Visível: Efeito do problema que pode seja, atende situações não previstas e em funcionamento, nesse momento,
facilmente ser identificado, simples- nem planejadas, com isso, existe um é interessante avaliar o impacto de
mente olhando; risco associado às paradas de produ- uma eventual parada da máquina,
ção por período indeterminado. Esse o que pode gerar em termos de di-
• Invisível: Real causador da falha é um caso típico onde um produto ficuldade de renovação, ou ainda, o
visível. estraga e é enviado para “conserto”. quanto “custa” o tempo dessa má-
quina parada. Isso, pelo fato de se
• Manutenção: o termo nasceu junta- • Manutenção Preventiva: tipo es- tomar a decisão de migrar para uma
mente com os primórdios da orga- pecífico de manutenção onde é re- intervenção preventiva ou não, sen-
nização militar (tempos medievais), alizada intervenção em um recurso do assim, usualmente a sistemática é
onde o mesmo indicava “Manter” as produtivo, que não está efetivamente utilizada em máquinas com restrição
tropas (mão de obra) e equipamen- com falha, mas conforme período de capacidade ou de alto grau de
tos (recursos) prontos para combate estipulado, deve ser “renovado”. necessidade para o processo. Esse é
(produção); Como o próprio nome sugere, esta o caso típico que, rotineiramente, a
intervenção é literalmente preven- cada período de tempo ou quilome-
• Manutenção Corretiva: como o tiva, ou seja, está sendo feita a in- tragem, vemos nas trocas de óleos
próprio nome pressupõe, é o tipo de tervenção em momento programa- e filtros de um automóvel, ou seja,
manutenção realizada para colocar do para prevenir o aparecimento de o mesmo estava funcionando, mas
um equipamento ou recurso nova- falhas em momento inoportuno. para evitar uma eventual quebra,
mente em atividade, ou seja, ouve Desse modo, é realizada uma “pa- que custará caro, realizamos preven-
uma falha e deverá acontecer uma rada programada”, mas para isso é tivamente a troca desses insumos,
intervenção de modo a “renovar” o necessário conhecimento das peças prolongando o uso do recurso (neste
recurso (tirar o mesmo do estado de de desgaste e histórico da máquina, caso, o carro);
falha, independentemente de outros também é interessante ter os tempos
defeitos). Esta é a sistemática de ma- de manutenção conhecidos. Existe • Manutenção Preditiva: de manei-
nutenção mais comumente utilizada. o inconveniente de, efetivamente, ra análoga à sistemática de manu-
Tendo também o intuito de atendi- existir investimento em peças que tenção preventiva, a manutenção
mento de panes ou emergências, ou serão trocadas, que ainda estavam preditiva tem a missão de realizar
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 72

intervenções antes de acontecerem rápida e simples, o manual indica


as falhas, mas com a diferença, que um período, mas orienta que seja
neste momento, a peça que será tro- avaliada a espessura do disco, afim
cada é antes avaliada, buscando o de definir, se efetivamente a peça
melhor momento da troca, de modo será trocada. Visto o que explicamos,
a tentar prolongar a vida útil não a manutenção preventiva prevê uma
só da máquina, mas da peça a ser avaliação periódica das máquinas
trocada também. Em um exemplo antes da troca das peças, que estão
hipotético, aproveitando a situação na eminência de serem trocadas,
anteriormente explanada, a cada pe- para tanto, é necessário pessoal qua-
ríodo de tempo, o manual de um lificado e equipamentos específicos
veículo define que deve ser trocado para a realização da análise e histó-
o óleo, simplesmente assim, não se rico, com a finalidade de “Estender”
avalia se esse óleo poderia aguardar a vida da peça ao máximo, antes da
mais algum período para ser troca- quebra, claro que isso tudo, median-
do. Isso acontece porque para fazer te critérios estabelecidos. As típicas
essa análise é utilizado um equipa- atividades de manutenção preventiva
mento caro e, em virtude do custo estão relacionadas à termografia de
da troca do óleo e tempo de análise, componentes eletrônicos, análise
simplesmente o mesmo é trocado. de vibração em sistemas rotativos
Fato que acontece, diferentemente, (eixos de alta velocidade de rotação)
por exemplo, numa eventual orien- e análise de partículas de óleo.
tação do mesmo manual, quanto
ao período de troca dos discos de Vistos os conceitos anteriormente
freio do automóvel, que, como são relacionados, podemos agora compreender
peças caras, relativamente demo- a ideia da Manutenção Produtiva Total,
radas de serem trocadas e a análise que da mesma forma que a própria estru-
da necessidade de troca ou não, é tura do Sistema Toyota de Produção, foi
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 73

didaticamente demonstrada na forma de uma casa com pilares para demonstrar as • Educação e Treinamento: Busca o
diferentes “disciplinas” a serem avaliadas no sistema produtivo. Importante notar que desenvolvimento de habilidades e
nenhum “pilar” é maior ou mais largo do que os outros, portanto, não existe ponto conhecimento das pessoas envolvi-
mais ou menos importante, e sim, que todos devem ser, no mínimo avaliados. das em cada processo, ou seja, antes
de realizar a operação existe a neces-
sidade de, primeiramente, conhecer
a atividade. Busca a “Habilidade” de
poder agir de forma correta e au-
tomática (quase que sem pensar),
com base em conhecimentos ad-
quiridos sobre todos os fenômenos
e utilizá-los durante um grande pe-
ríodo. Para tanto, é necessário um
ambiente propício à propagação do
conhecimento (políticas, cultura,
pró-atividade, etc.). Somente pes-
soas aptas a realizar uma função
devem exercer tal função;

• Manutenção Autônoma: Basi-


camente, é o entendimento que a
Fonte: Pereira (2005)
própria pessoa que executa certas
Para manter estoques baixos é necessário que as máquinas estejam funcionan- operações pode realizar pequenas
do, pois em caso contrário, não teremos a garantia do tempo de entrega em virtude “manutenções” nos recursos produti-
da baixa capacidade de absorção de perdas por espera imposta ao sistema. Para um vos. Apesar de, principalmente, em
melhor entendimento, a seguir vamos comentar cada um dos “pilares”, ou discipli- virtude da nossa legislação, existi-
nas, abordados pela sistemática de Manutenção Produtiva Total, de acordo com os rem certos conflitos em termos de
conceitos definidos por Shingo (1996): função, é possível pensar em certas
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 74

atividades que ajudam na manuten- • Melhorias Específicas: Compre- gramada ou não.


ção dos postos produtivos, tais como: endido como ajustes e melhorias
manter o ambiente e os recursos lim- pontuais nos recursos produtivos, Podemos, inclusive, entender essa
pos e organizados, fazer pequenas visando eliminar as consideradas disciplina como a busca por pro-
verificações (checklists referentes a oito perdas em um equipamento: cessos mais dedicados possíveis a
alarmes e indicações de máquinas, realizar os produtos ou serviços a
etc.). Essa metodologia exige grande • Falha: paralisação por quebra ou que se dispõe, tendo, no limite, re-
nível de disciplina, mudança cultural deterioração; cursos específicos para o processo
e controle rígido sobre os recursos • Set-up e ajustes: paradas por tro- em questão (mesmo conceito das
produtivos e, dentro da medida do cas de dispositivo; Máquinas Agrícolas de Ford);
possível, deve ser executada através
de padrões pré-estabelecidos; • Troca de ferramenta: troca de • Segurança e Meio Ambiente: Ob-
inserto, broca, etc; jetiva o Acidente-Zero ou doença-
• Manutenção Planejada: De ma- -zero relacionado ao processo em
neira prática, objetiva a implanta- • Acionamento: tempo para atingir questão, ou seja, as condições de
ção de sistemática de manutenção velocidade, temperatura; higiene e segurança devem propor-
baseada em históricos, controles, • Paradas e ociosidade: parada por cionar um trabalho seguro e salubre,
tempo de vida útil recomendado, descompasso de linha ou produtos com o objetivo de evitar oscilações
análise de possíveis falhas, utili- com defeito; nos níveis de produtividade pela fal-
zando os conceitos de Manutenção ta de pessoas no trabalho, entenden-
Preventiva e Preditiva. Em outras • Velocidade: diferença entre velo- do, que torna-se desnecessário ter
palavras, compreender o que pode cidade nominal e real de uso do qualquer mão de obra desnecessária
ser feito, de modo a prevenir falhas equipamento; ao atendimento da capacidade de
relativas a todos os recursos produ- execução do processo, lembrando
tivos (máquinas, pessoas, insumos, • Defeitos ou retrabalhos: geração que, principalmente pelo fato de ha-
matéria prima, ambiente, sistemas de peças não conforme; ver escassez de mão de obra, este
de verificação e medição, etc.); • Desligamento: inatividade pro- item tornava-se algo crítico para os
Japoneses;
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 75

• Manutenção da Qualidade: os • Controle Inicial: Consiste na veri- vas devem ser encaradas do mesmo
equipamentos têm que ter condições ficação prévia de cada novo recurso modo, ou seja, há de se avaliar a
de realizar as tarefas sem produzir produtivo, tendo como base as lições mão de obra e os recursos utilizados
produtos com defeitos, entendendo aprendidas com o próprio processo. (softwares, equipamentos, literatura,
que, ao produzir produtos com defei- Esta verificação consiste no fato de base de informações) estão de acordo
to, o nível de produtividade é redu- avaliar se cada novo recurso produti- com as necessidades dos produtos
zido, pois a peça ou serviço produ- vo está apto a realizar a tarefa à qual e processos, para não incorrer em
zido tem que sofrer mais operações será destinado, qual a necessidade de falhas de produtividade, devido à
para tornar-se bom (necessidade de intervenções de manutenção, nível problemas nestas atividades.
retrabalho) ou então ser descartado de qualidade potencial. Para tanto,
(sucateamento). O conceito, basi- é necessário um projeto do processo O grande entendimento, neste mo-
camente, tem o intuito de realizar bem elaborado, ou seja, é necessária mento, é que a Manutenção Produtiva
a verificação regular das condições uma fase de planejamento adequada. Total não visa tão somente realizar a inter-
do processo como um todo, de modo De maneira análoga, basicamente venção em equipamentos dentro do sistema
a compreender possíveis fontes de se verifica em cada novo recurso produtivo, mas sim, é uma sistemática
geração de defeitos (entendidos usu- produtivo o equivalente a avaliação que visa “MANTER” sempre dentro dos
almente como Mão de Obra, Máqui- de uma nova mão de obra (ver item parâmetros requisitados os níveis de pro-
na, Matéria Prima, Métodos, Meio- Educação e Treinamento anterior), dutividade do sistema. Dessa forma, não
-Ambiente e Medição – ver diagrama onde se busca minimizar o custo do é a atividade de uma pessoa ou um setor
de Ishikawa). As metodologias mais Ciclo de Vida do recurso, sendo esse em específico dentro da empresa, e sim a
atuais defendem o estabelecimento o custo total gerado no processo de proliferação dos conceitos disseminados
de processos robustos e capazes (con- projeto, desenvolvimento, produção, por todas as partes do processo. É muito
ceito de Capabilidade estatística de operação, manutenção e apoio; difícil afirmar se uma empresa realiza ou
máquinas). Resumindo, ao se pro- não o TPM, pois algumas das atividades
duzir somente produtos sem defeito, • Gestão Administrativa: Da mesma são, de certa forma, parte do dia a dia de
todos os produtos produzidos são maneira que as atividades relacio- muitas operações, mas o conhecimento e
aproveitáveis, ou seja, não se diminui nadas aos recursos diretamente pro- aplicação ampla da metodologia é o cerne
a produtividade; dutivos, as atividades administrati- da questão, o mais importante é conseguir
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 76

entender e adaptar os conceitos para cada processo que realiza o mesmo. De posse cesso são as atuais linhas de montagem das
processo produtivo, seja de produto ou deste conhecimento, a ideia central é tor- empresas do ramo automotivo, que, costu-
de serviços, objetivando Zero Avarias, nar o fato de diferentes produtos (na visãomeiramente, produzem produtos variados
Zero Defeitos, Zero Acidentes e Zero do cliente) serem iguais (ou parecidos), (variam em termos de opcionais, cores e, às
Desperdício. no momento da sua execução, (visão do vezes, até modelos) em um mesmo arranjo
processo). Para tanto, é necessária uma físico em linha de produção. Lembrando
grande flexibilidade do arranjo ou do fluxoque esse arranjo por Produto é idealizado
Heijunka
do processo produtivo, traduzindo esta para realizar “um único” tipo de produto
flexibilidade também em forma de, por (conceito de Ford). Os japoneses foram
O último conceito relacionado com exemplo, agilidade de setup (veremos o pródigos a ponto de quererem utilizar tal
a base fundamental para funcionamen- conceito mais adiante). Esta “Flexibili- arranjo em virtude do baixo número de
to do Sistema Toyota de Produção é o dade” do layout é necessária para evitar a perdas associadas e subsequente nível de
Heijunka, palavra japonesa que significa criação de sistemas produtivos ou linhas deprodutividade, mas entenderam que algo
“alisar”, sendo o conceito, justamente, de produção específicas para cada modelo de precisava ser adaptado. Assim, tudo que,
nivelamento da produção, ou seja, tornar produto, e então, evitar o gasto adicional em termos de processo, é igual entre os
as discrepâncias entre diferentes modelos com os mesmos, lembrando que, nesse diversos modelos, acaba sendo realizado na
de produção possíveis de serem fabricadas momento, estamos entendendo que existe linha de produção, já, tudo que é diferente,
em um mesmo layout. a necessidade de Variedade e Flexibilidade é realizado em pré-montagens separadas,
de Produtos, caso contrário, se o produto ou ainda, vindo de fornecedores. Desse
De maneira mais ampla, podemos for sempre o mesmo, o Heijunka torna-se modo, por exemplo, montar dentro de
pensar também em nivelar os diferentes desnecessário. um carro, o seu painel, deve ser diferente
produtos, de modo, que os tempos e outras entre os diversos modelos, mesmo que
discrepâncias produtivas sejam suavizados Tecnicamente falando, necessita-se esse painel seja outra peça e, este sim, é
ao máximo. de estudos aprofundados do arranjo produ- preparado fora da linha de produção.
tivo, programação de produção e técnicas
Para aplicação do conceito, é neces- de cadenciamento de produção (sincroni- Alguns requisitos ou premissas para
sário um profundo conhecimento técnico zação e intercalação de tarefas complexas seu bom funcionamento:
do produto ou serviço em questão e do e simples). Os exemplos típicos desse pro-
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 77

• Preferencialmente, o arranjo deve a chamada Estabilidade Operacional do da observação do funcionamento de um


ser nivelado em relação aos itens Sistema Toyota, podemos notar que, supermercado americano. Desde o mo-
mais frequentes e de maior volume como “base de sustentação” do sistema, mento em que os clientes retiravam mer-
de produção; ela proporciona confiabilidade, para que, cadorias das prateleiras e logo as mesmas
a despeito de oscilações de mercado, ins- eram abastecidas, do mesmo modo que
• O ritmo de produção (takt time) e o tabilidades políticas ou qualquer outro os fornecedores, dependendo do tipo de
tamanho dos intervalos de produção fato a que a empresa está sujeita, o sistema material, acabavam por, rotineiramente,
devem ser estabelecidos e mantidos possa produzir resultados necessários para entregar produtos na área de estocagem
atualizados, ou seja, a cada mudan- a consecução das atividades esperadas para central do estabelecimento.
ça, os valores devem prontamente o mesmo.
ser atualizados para evitar falhas de A razão de existir do Just-in-Time é
planejamento; o fato de haver necessidade de ser realiza-
JUST-IN-TIME
da a chamada “customização em massa”,
• Deve ser estabelecida uma frequ- ou seja, grandes quantidades de produtos
ência de produção dos itens e uma Entendendo que temos agora uma diferenciados (ou com certas diferenças
quantidade de estoque final regu- “base” sólida, vamos estudar o primeiro significativas). Desse modo, existe uma in-
ladora (mínimo possível); pilar que nela está calcado, e justamente é certeza muito grande, associada ao fato de
assim que começa o conceito, é impossível produzir produtos que não terão demanda,
• Os tempos de setup devem ser man- implantar uma real sistemática de Just-in- ou ainda, de ter matéria prima que ficará
tidos baixos (apoio das sistemáticas -Time sem ter estabilidade operacional, já muito tempo parada ou ainda obsoleta. Daí
de Troca Rápida de Ferramentas); que a mesma não é sustentável, e estará então, vem a ideia de produzir “somente a
extremamente sujeita às instabilidades e tempo” de entregar, ou seja, basicamen-
• Deve-se trabalhar, obviamente, com variações, sendo assim, a base garante es- te, busca-se produzir somente itens que
operações padronizadas e bem de- tabilidade para os pilares. tem demanda, apenas contra pedido, de
finidas, como pouca margem para maneira que esta atividade seja realizada
variação. O Just-in-Time foi idealizado por dentro do prazo de entrega aceito pelo
Taiichi Ohno, que conforme conta a his- mercado. Para isso, temos que entender a
Vistas as metodologias que formam tória, teria idealizado a sistemática quando atividade de produzir, envolvendo receber
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 78

pedido, comprar matéria-prima, receber por prazos de entrega mais curtos. valor vai ser “absorvido” pela margem de
a mesma, operacionalizar o produto ou lucro almejada do produto.
serviço e entregar. Sendo assim, partimos para uma
análise sobre o que mais demanda tempo Outro caso típico é quando a em-
Visto isso, podemos pressupor que o nesse fluxo todo, e fatalmente o primeiro presa decide adquirir sua matéria prima
conceito é bastante simples, pois bastaria a item que vamos nos deparar é nas ques- diretamente do produtor, pois o mesmo,
empresa somente comprar o material exa- tões de suprimentos (matéria-prima) desse por não ter intermediários nessa transa-
to para produzir e entregar a quantidade processo. ção, acaba por cobrar um preço menor, o
exata do pedido, isso tudo, somente após que vai tornar o produto mais barato de
existir o pedido do produto ou serviço. A Uma decisão típica, é que a maté- ser fabricado. Além disso, o que é inte-
pressuposição é realmente válida para casos ria-prima deve ser adquirida de uma fonte ressante, pelo fato de tornar o produto
onde o produto é extremamente customi- que tenha a mesma disponível à pronta mais competitivo ou mais lucrativo. O
zado, e então o “Mercado” entende que entrega, mas, normalmente, para ter esse aspecto negativo está no fato de que este
o eventual “longo prazo”, ocorrido entre produto à disposição essa fonte vai aca- produtor acaba, usualmente, determinan-
pedido e entrega, deve-se, justamente, a bar cobrando por essa disponibilidade. do uma quantidade mínima de produto a
esta alta customização, ou seja, isso é um Nesse sentido, esse é o caso típico de um ser adquirido e costuma ter um prazo de
dos “ônus” da exclusividade. Entretanto, distribuidor de material, que sendo um entrega longo.
usualmente, o “Mercado” compara entre processo de suprimentos, cobra um valor,
dois ou mais concorrentes, justamente, de maneira a “aproximar” o cliente final Visto o exposto acima, a ideia do
além de custo, qualidade, flexibilidade e do produtor (imagine o exemplo de uma Just-in-Time, de certa forma, em alguns
confiabilidade de produto, o quanto terá loja de eletrodomésticos, a mesma cobra momentos, um tanto quanto utópica, está
que esperar para suas necessidades serem um valor para comprar o produto do fa- justamente em verificar qual é o mais
atendidas. Esse fator acaba sendo decisó- bricante e disponibilizar o mesmo para próximo que podemos chegar do fato de
rio, quando entende que as demais neces- avaliação e pronta entrega do seu cliente). realizar todo o ciclo, dentro do prazo ad-
sidades já estão sendo cumpridas pelos que Esse valor cobrado acaba tendo que ser mitido pelo cliente. Lembrando que, em
estão sendo comparados. O mais normal absorvido, ou pelo preço cobrado do item, situações onde a matéria prima, que é com-
de acontecer é que o mercado vai demandar tornando o mesmo mais caro, por outro prada pode ser utilizada em uma grande
cada vez mais por itens mais exclusivos e lado, menos competitivo, ou ainda, esse gama de produtos, a perda por estoques
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 79

(ver capítulo anterior que trata do tema) do que, para sua aplicabilidade, com máxi-
em virtude do risco de obsolescência do mo de resultados, a base Operacional deve
material é bastante diminuído, mas ainda estar sólida e existe a necessidade de pleno
fica o fato de haver a perda por estoque em conhecimento dos conceitos de Takt-Time,
virtude do fato de, normalmente, haver o ou seja, a capacidade de produção deve ser
pagamento pelo material e, usualmente, muito bem conhecida.
espaço para armazenamento desse estoque.
Troca Rápida de Ferramentas
Claro que, em casos onde a ma-
téria prima ao menor custo é disponível
à pronta entrega, casos onde a mesma é A sistemática de Troca Rápida de
consignada (só é paga quando é usada) Ferramentas, conhecida pela sigla em in-
ou ainda quando o espaço necessário não glês SMED (Single Minute Exchange
é um problema, torna-se um pouco mais Die – troca de ferramentas em minutos
simples) teve seus conceitos idealizados e
brando os efeitos ruins referentes aos es-
toques. Casos onde o prazo de entrega descritos por Shigeo Shingo, sendo o livro
é bastante largo, a preocupação com as que o mesmo escreveu sobre o assunto, ain-
ferramentas e metodologias defendidas da é considerada umas das melhores refe-
pelo Just-in-Time não é tão grande, do rências sobre o método. O nome deriva do
mesmo modo aqueles casos onde a va- fato de que a troca de ferramentas, em uma
riedade de produtos a serem produzidos maneira filosófica de pensar, deve acon-
é baixa (produto padrão), a necessidade etecer em minutos simples (1,2,3,4,5,6,7,8
e 9 são minutos simples, a partir do 10 o
aplicabilidade das ferramentas que veremos
a seguir torna-se bastante baixa. número é composto – por dois algarismos)
e, apesar de ainda ser usual, já há métodos
De maneira fundamental, o Just-in- que enfatizam o chamado OTED (One
-Time é o centro de comando operacional Touch Exchange Die – troca de ferramen-
do Sistema Toyota de Produção, lembran- tas com um toque), sendo esse entendido
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 80

como o conceito de troca de ferramentas usinagem, a preparação de um setor para montar um item, a troca de roupa entre cenas
em menos de 1 minuto. de um teatro, a troca de um disco para tocar outro, etc. Claro que, dentre os exem-
plos, existem alguns que são naturais ou, costumeiramente, rápidos de acontecerem,
Independente da linha de raciocínio mas temos que entender o fato que, normalmente, para processos mais complexos e
utilizada, ambos os conceitos são consi- pesados essa transição não é tão fácil.
derados troca rápida de ferramentas, onde
este tempo deve ser medido entre a última A técnica baseia-se, a princípio, em entender que a troca de ferramentas ou
peça ou realização de serviço, considera- setup deve ser pensada, como se fosse um processo. Sendo assim, deve-se, inicial-
da boa (dentro das especificações), até a mente, realizar um fluxo deste processo para compreender as “perdas” que acontecem
primeira peça boa ser produzida referente durante este período.
ao próximo lote.

Em tempo, cabe explicar, que o


termo troca de ferramentas foi utilizado
por remeter ao fato de que uma peça (por
exemplo, em uma prensa, maquinário bas-
tante utilizado na indústria automotiva)
geralmente necessita que a ferramenta de
prensagem seja removida e colocada outra
em seu lugar, para deixar de produzir um
item e passar a produzir um próximo. De
maneira mais correta, o termo, hoje, é
denominado Setup Rápido. Entendendo
por Setup o ajuste necessário ao processo
para cessar a produção de um produto para
preparar o mesmo para produzir outro,
seja isso, a troca de um ferramental de Fonte: o Autor

estampagem, a troca de ferramentas de


SISTEMAS DE PRODUÇÃO 81

Depois disso, procura-se entender • Distinção de setup interno e exter- sejam realizadas de maneira mais
quais são as operações da troca, durante no: o processo foi mapeado e foram rápida possível. É nesse momento,
as quais, a máquina efetivamente tem que distintas as operações atuais, que que se acaba buscando pelo maior
estar parada para serem realizadas e quais podem ser executadas sem a máqui- número de soluções físicas e mecâ-
não. De acordo com o que Shingo (1996) na estar parada das que só podem nicas possíveis, ou seja, usualmente
explicava, o setup pode ser divido em dois ser executadas com a máquina nesse esta é a última fase e somente nela é
tipos: as de setup interno, onde as opera- status; que acabam acontecendo os grandes
ções de setup só podem ser executadas com investimentos.
a máquina parada e as de setup externo, • Transformação de setup interno
onde operações como deslocamento de em externo: estudando as perdas Muitas vezes, as tais são compreen-
ferramentas podem ser realizadas enquan- envolvidas no processo de troca, didas como operações consideradas como
to a máquina estiver trabalhando. Shingo busca-se transformar operações setup externo, que podem ser feitas pre-
ainda costumava citar, que dessa forma é denominadas como setup interno viamente à troca de ferramentas:
muito importante identificar exatamente a em operações de setup externo.
divisão dessas atividades, pois elas podem Normalmente, estas modificações • Definição da próxima peça a ser
permitir a redução de 50% do tempo de acabam por ser, em sua maioria, so- produzida;
setup. mente realizadas através de estudos
para melhor gerenciar o processo, • Localização do ferramental de pro-
Para tanto, Shingo citava que o de- eventualmente acontece algum in- dução da próxima peça;
senvolvimento da metodologia se dava em vestimento em soluções físicas e
quatro estágios: mecânicas; • Verificação dos ferramentais auxi-
liares necessários para realização da
• Setup interno e externo não são • Otimização das operações de setup troca de ferramentas;
distinguíveis: ainda não aconteceu interno: por fim, quando opera-
o entendimento da troca de ferra- ções de setup interno não puderem • Busca e aproximação da matéria-
mentas como um processo, simples- mais ser modificadas para opera- prima necessária para produzir a
mente a operação é executada de ções de setup externo, busca-se a próxima peça;
qualquer maneira; otimização das mesmas para que
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 82

• Verificação de documentos neces- operações consideradas como setup externo, as quais podem ser feitas posteriormente
sários, tais como ordem de produ- à troca de ferramentas:
ção, padrão de troca de ferramentas,
instruções de fabricação da próxima • Verificação do ferramental recém-retirado da máquina para deixá-lo em estado
peça a ser produzida; de uso;

• Instrumentação necessária para con- • Guarda do ferramental retirado em local padronizado;


ferência da próxima peça.
• Guarda do ferramental auxiliar, instrumentos utilizados para verificação e
As próximas, são compreendidas documentação da peça anteriormente produzida.
como operações consideradas como setup
interno, que normalmente só podem ser
feitas com a máquina parada:

• Troca da ferramenta da peça que es-


tava sendo realizada pela nova peça
a ser produzida;

• Ajuste dos novos parâmetros de pro-


dução da máquina para realização
da nova peça a ser produzida;

• Conferência da nova peça produzida


a fim de verificar se as característi-
cas necessárias para a mesma foram
atingidas.

Usualmente compreendidas como


Fonte: o Autor
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 83

Após a aplicação, na íntegra da sis- • Necessidade de um setup eficiente (TRF);


temática de troca rápida de ferramentas,
a necessidade de aumento de lotes para • Aproximação dos recursos produtivos no arranjo físico (leiaute em linha);
“aproveitamento” do tempo de setup aca-
ba por se tornar irrelevante, sendo assim, • Ajuste nos tempos produtivos, afim de equalizar as operações (Heijunka);
a necessidade de realização de produtos
variados é garantida sem causar grandes
perdas para o sistema produtivo.

Fluxo de Uma Peça


Fonte: o Autor

Como resultado, basicamente, está a eliminação das perdas por transporte in-
Fluxo de uma peça, fluxo unitário terno, perdas por estoques intermediários e perdas por espera. O melhor exemplo de
de peças ou, do inglês, one piece flow é a Fluxo de Uma Peça foi a linha de produção da Ford, a qual citamos anteriormente.
ideologia empregada pelo Sistema Toyota
de Produção que dita pela busca da produ- Claro que, por alguns motivos técnicos, em certos produtos ou processos pro-
ção de peças sem o arranjo de lotes, ou seja, dutivos não é possível a realização do Fluxo de “Uma” Peça, mas a ideologia está em
uma a uma. Sendo assim, podemos citar buscar o resultado mais próximo possível disso.
que está envolvida a ideia de que a peça
deve ser realizada no recurso produtivo
e logo, enviada para o recurso seguinte,
Controle de Qualidade Zero Defeito
evitando a necessidade de produção de
um lote de peças (certa quantidade) para O Controle de Qualidade Zero Defeito, ou CQZD, Controle de Qualidade
o consecutivo envio ao processo posterior. Total ou ainda, em inglês, Total Quality Management (TQM) foi uma metodologia
adotada pela Toyota. Após, meados da década de 1950, o Governo dos EUA ter
Como prerrogativa para a imple- enviado, como forma de ajuda para o fortalecimento e desenvolvimento da indústria
mentação de um fluxo unitário estão: japonesa, que havia sido bastante devastada, uma série de estudiosos de sistemas de
produção e qualidade, sendo que, entre eles, estavam nomes tais como: Juran, Cros-
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 84

by, Demin, Feighenbaum, que acabaram, características.


através de consultorias, ensinar a indústria
japonesa uma série de sistemáticas base- • Auto inspeção: após a primeira fase
adas em controle estatístico de processos e já com o processo e seus operadores
(conhecido pela sigla CEP). maduros e conscientes o suficiente,
passa-se ao estágio de autoinspeção,
A metodologia busca, basicamente, ou seja, o próprio processo e seus
o controle do processo através de ferra- operadores conferem o resultado
mentas estatísticas, que visam demonstrar daquilo que produziram, não en-
o quão confiável e robusto é o processo de viado para frente produtos que não
produção de determinado item. Entretan- atendem as especificações. Nesse
to, para isso, o controle deste processo deve caso, o custo de inspeção ainda é
passar por uma série de etapas: alto, mas acaba por não existir, ou
ser bastante diminuída, a necessi-
• Inspeção sucessiva: entendemos dade de conferentes (inspetores de
como o controle total sobre a quali- qualidade);
dade de um processo, que inicia pela
inserção de inspeções realizadas pelo • Inspeção na fonte: com uma base
processo que recebe o resultado do sólida de histórico de resultados, é
processo anterior, ou seja, o processo possível determinar quais processos
seguinte confere os produtos ou ser- produzem maiores níveis de falhas e
viços realizados pelo processo ante- concentrar as questões de inspeção
rior. Este tipo de técnica garante um somente nesses processos, ou seja, na
nível de qualidade e proteção para sua origem, e não realizar a inspeção
o cliente, muito alto, mas costuma após o produto pronto, como até
ser bastante dispendioso, visto que então. O foco agora é a verificação
sempre haverá inspeção de todas as das fontes geradoras de eventuais
peças produzidas sobre todas as suas produtos com defeito. Ainda existe
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 85

o enfoque da inspeção, mas esta fica • Os colaboradores têm que entender a


bastante diminuída; real importância de manter a qualida-
de em níveis controlados e de expor
• Controle estatístico de processo: informações fidedignas (resultados
agora, com dados históricos e bem reais dos problemas associados aos seus
focados nas fontes de geração de even- processos);
tuais defeitos, é possível realizar uma
análise através de estudos estatísticos, • Ter uma base histórica confiável;
verificando qual é o nível de segu-
rança ou confiabilidade dos processos • Conhecer os níveis de Capabilidade
(Capabilidade de processos, ou Cpk). de um processo (Cpk) são primordiais
Tendo esses resultados, é possível defi- para se utilizar o nível apropriado de
nir frequências de verificação a fim de controle para o mesmo;
diagnosticar mudanças nos processos,
não sendo mais necessária a inspeção •
de 100% dos produtos. Ainda assim,
é possível prever uma quantidade de •
possíveis falhas que podem ser geradas.
• De todo modo, é importante observar,
Esses estudos estatísticos puderam que níveis de qualidade de 100% de
ajudar a Toyota a diminuir, em muito, suas certezas de produtos sem falhas ou
operações de inspeção, focando somente nos defeitos, somente são possíveis com
possíveis geradores de problemas, aumentan- inspeção em 100% dos produtos, uma
do muito o nível de qualidade e confiabili- vez que, todas as outras técnicas vão
dade dos produtos realizados, diminuindo produzir resultados dentro de um nível
bastante as perdas pela geração de produtos aceitável de qualidade determinado
defeituosos. Como premissas para este nível pela organização.
de qualidade temos:
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 86

Kanban um determinado produto é realizado, este cartão (que é uma ordem de produção) é
entregue ao setor responsável por produzi-lo e este, por sua vez, realiza tal produção,
abastecendo-se das peças necessárias junto aos setores responsáveis pela produção das
O Kanban (cartão em japonês) é tal- mesmas, sendo que estas também têm um cartão atrelado, e assim por diante. Nesse
vez a sistemática mais conhecida, mais sentido, o cartão cria um fluxo de informação que, literalmente, vem “puxando” a
falada e menos compreendida do Sistema produção e essa informação gera um fluxo produtivo que entrega os produtos (ou
Toyota de Produção. O Kanban (o cartão) peças, ou serviços) nas quantidades e locais definidos.
foi o meio que os japoneses conseguiram
desenvolver para que as informações ne-
cessárias para a produção, tal como o que,
quanto, onde produzir e onde entregar
pudessem ser disseminadas dentro do sis-
tema produtivo, sem que houvesse a usual
necessidade de pessoas o tempo inteiro
definindo o que ser produzido e ainda
controlando estoques, quantidades e etc.
Sendo assim, o Kanban funcionou como
se fosse a “Ordem de Produção” dentro
da Toyota.

Para seu funcionamento, não ne- Fonte: o Autor

O segredo da técnica está em definir quantos cartões e com que quantidade de


cessariamente existia a necessidade da produtos que devem ser produzidos, sendo esta quantidade disponibilizada, observan-
existência de um cartão físico, mas sim do a razão entre seu consumo versus tempo de Reposição. Usualmente, este número
da indicação clara das informações de pro- de cartões disponibilizados é diferenciado por cores, e essas indicam a prioridade de
dução, da maneira mais simples possível. produção e entrega (estas cores são uma definição de cada empresa). Além do mais, o
Dessa maneira, cada produto ou peça que Kanban, por se tratar de um sistema manual, exige um nível de disciplina muito alto
deve ser produzido tem sua contrapartida para que o controle realizado seja coerente com os resultados almejados. De maneira
em um cartão que, quando o pedido de prática, acaba por exigir que as “regras” sejam cumpridas:
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 87

Quando existir a necessidade de podem ser melhorados. Um dos inconve-


consumir algum item, deve-se retirar no nientes do método é que ele prevê a exis-
quadro (ou estoque, ou supermercado) do tência de uma certa quantidade de estoque,
setor fornecedor os itens que deseja, na mesmo que as prerrogativas filosóficas do
quantidade indicada pelo cartão (não se Sistema Toyota digam que existe a busca
pode pegar itens além ou a menos do que pelo estoque zero, sendo esta uma meta
o indicado); a ser atingida, algo que é almejado pelo
sistema, ou seja, o estoque definido pelo
• O setor fornecedor deve produzir Kanban deve ser o mínimo possível (o mais
os itens na quantidade indicada no próximo de zero que o processo em questão
cartão e na sequência definida pelas permitir, para o bom funcionamento dos
prioridades ou quadros indicativos demais). Além disso, o Kanban possibi-
(código de cores); lita a adaptação do sistema à pequenas
variações de demanda, sendo que grandes
• Produtos defeituosos não são con- variações exigem a revisão da quantidade
tados e, portanto, não podem ser de cartões e peças que ordenam produzir.
enviados para o cliente;

• Dentro da medida do possível, o


número de cartões devem ser dimi-
nuídos ao longo do tempo;

• Nenhum item pode ser produzido


ou transportado sem um cartão que
o solicite (sem ordem).

O Kanban, como quase toda sis-


temática, tem pontos fortes e pontos que
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 88

o andon é a técnica que aborda os avisos Um dos grandes responsáveis pelo


necessários que existem dentro do processo bom funcionamento do Sistema Toyota
produtivo para que as pessoas sejam infor- de Produção é justamente o funcionário,
madas das informações relevantes à produ- que é extremamente dedicado e conscien-
ção ou as suas tarefas. Além disso, para que te daquilo que pode e deve fazer, tanto
saibam, dentro da medida do necessário, que as sistemáticas adotadas pelo Mode-
o que está acontecendo na produção, tal lo Produtivo da Toyota são consideradas
como quantas peças foram produzidas até extremamente baseadas na confiança n as
o momento, quantas faltam produzir, nível pessoas e suas responsabilidades, algo que
de produtividade que está sendo atingido, é culturalmente muito notório no povo
máquinas que estão paradas, existência de japonês, a disciplina para com aquilo que
produtos não conformes, interrupções de realiza, independente do que.
produção, avisos de emergência, alarmes
e assim por diante (existem andon visuais
Resumo do Just-in-Time
e sonoros).

Os japoneses entendem que envolver Vistas as práticas e ferramentas asso-


os funcionários com estas informações ciadas ao Just-in-Time, entende-se a sim-
ajuda no comprometimento dos mesmos plicidade com o qual foram desenvolvidas
com a busca dos resultados desejados, e a profundidade de significados que elas
bem como, manter todos informados da trazem, de modo a induzir, em qualquer
ANDON eventual necessidade de tomada de algu- meio ou aplicação, o pensamento sistê-
ma ação. Atualmente, esta é uma prática mico de buscar formas mais inteligentes
relativamente comum em várias empresas, e eficientes de produzir, sendo assim, de
O Andon (aviso em japonês) é uma não para com toda e qualquer informação, maneira resumida, temos que:
sistemática adotada pela Toyota que tinha mas para aquilo que julgam ser relevante,
uma tarefa bastante simples e que produzia porém a Toyota foi pioneira em entender • Mapear os processos e eliminar as
um efeito bastante positivo. Basicamente, esta necessidade. perdas constantemente;
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 89

• Trabalhar com a lógica de “Estoque ta de Produção é chamado de Jidoka, tra- Convicto desse espírito, Ohno quis
Zero”; duzindo do japonês, autonomação (cuida- se utilizar dos conceitos introduzidos pelo
do para não confundir com automação). fundador da empresa, de modo a fazer
• Ajustar os processos segundo TQC A ideia foi trazer para a Toyota Motor os processos “pensarem” por si (ou terem
– “Zero Defeito”; Company o espírito introduzido por Saki- “inteligência”), para isso, contou com a
chi Toyoda no seu tear, que literalmente, ajuda de Shingo para desenvolver e então
• Utilizar as práticas de TRF; decidia parar automaticamente quando introduzir dispositivos chamados “Poka-
algum tecido estivesse sendo produzido -Yoke” (à prova de erros, em japonês). A
• Ter em mente os princípios do “Não com falha, tornando o sistema autônomo. técnica estava em se utilizar da Sistemática
Custo”; Sendo assim, a ideia do Jidoka é justamen- de Andon para “avisar” os operadores ou
te a de dar autonomia para o “processo” diretamente os processos de que estavam
• Utilizar o Andon como meio de di- decidir por si, em algumas situações pre- realizando algo em desacordo.
vulgação das informações; vistas, sem a necessidade do operador estar
monitorando todo o tempo esse processo,
Poka-Yoke
• Apoio constante dos pilares de Kai- principalmente nos casos de falha e dentro
zen e Jidoka; da medida do possível.
Os dispositivos poka-yoke são arte-
• Aplicar a filosofia do Kanban; Produtivamente falando, a sistemá- fatos produzidos de modo que facilmente
tica prevê dotar cada máquina ou disposi- um operador (ou uma pessoa) possa sozi-
Após essas etapas, cada processo tivo de produção de “inteligência” suficien- nho verificar que uma operação ou produto
estará produzindo “os itens necessários, te, ou seja, que a mesma possa realizar a está equivocado. De maneira mais atual,
na quantidade necessária e no momento operação da maneira mais rápida possível algumas literaturas já sugerem o uso do
necessário”. e sem produzir erros (ou enviar adiante). fonema e conceito do Baka-Yoke (à prova
Assim, a máquina deve poder “parar” o de tolo, do japonês), nesse caso, a evolução
processo ou operação quando executar um do conceito prevê o fato de que, nem se
JIDOKA erro, mas, para isso, deve poder verificar o operador quiser, ele pode realizar tal
automaticamente o erro. tarefa de maneira errada, este é o grande
O segundo “pilar” do Sistema Toyo- conceito seguido hoje pelos dispositivos
de segurança atrelados às máquinas.
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 90

A ideia dos poka-yoke é amplamente o mesmo possibilita a inspeção através de manualmente. No nosso exemplo,
difundida em vários segmentos de merca- controle físico ou mecânico. o operador posiciona o parafuso,
do, principalmente, referente às questões posiciona uma chave de fenda no
de segurança, ou ainda, de modo a evitar Para realizar a autonomação, se- mesmo e rotaciona a mesma, a chave
uso equivocado de produtos. Estes são gundo Shingo (1996), deve ser realizada é somente um meio para concentrar
os típicos casos dos diferentes tipos de a separação da máquina e operador, ou a força do operador no ponto exato
entradas (ou sistema de plug) existentes seja, em cada operação deve ser entendido do parafuso, pois não realiza o tra-
nos computadores, que não permitem qual é tarefa a ser executada pela máqui- balho, somente facilita o mesmo;
que dispositivos equivocados seja ligado na e qual é a tarefa a ser executada pelo
em plugs não recomendados, ou mesmo operador, seguindo os seguintes conceitos • Alimentação e Usinagem Automá-
de maneira errônea (tente ligar um cabo na busca pela autonomação (utilizando ticos: operadores fixam e removem
do tipo VGA de cabeça para baixo, seu como exemplo a operação de aperto de produtos das máquinas e dão partida,
desenho não permite tal operação), do um parafuso): e estas executam a alimentação das
mesmo modo, os sistemas de ignição dos ferramentas e usinagem sozinhas.
automóveis não permitem a retirada da No nosso exemplo, um operador so-
chave sem o motor estar desligado, enfim, mente posiciona uma parafusadeira
existem inúmeros exemplos. elétrica junto ao parafuso e aperta
o gatilho, quem faz o trabalho de
Apesar de Shingo (1996) classificar • Trabalho Manual: operadores dão aperto é a própria máquina;
o poka-yoke não exatamente como uma forma e acabamento aos artigos ma-
inspeção, pois comenta que o mesmo é nualmente, sem ajuda de máquinas. • Semi-automático: Máquina fixa e
mais uma maneira com a qual, facilmente, No nosso exemplo, o operador aper- remove produtos, abastece a usina
o operador consegue detectar defeitos e taria o parafuso manualmente; automaticamente, operadores super-
pode ser usado como forma de satisfazer visionam. Nesse caso, o operador
uma atividade de inspeção, seja ela inspe- • Alimentação manual com usi- acionaria um botão e uma máquina
ção sucessiva, autoinspeção e inspeção na nagem automatizada: operadores de aperto eletrônica, que rotaciona
fonte podem ser todas alcançadas através fixam e removem produtos das sozinha até o parafuso estar cor-
do uso de métodos Poka-yoke, sendo que máquinas e alimentam ferramentas retamente apertado segundo um
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 91

parâmetro estabelecido, cabendo integração e simultaneidade de operações Além das questões de estoques, a
ao operador somente a função de combinadas, de maneira que as mesmas implantação dessa ideia, em muitas vezes,
decidir qual parafuso apertar. sejam sincronizadas (em termos de tempo, nos traz a possibilidade de poder fazer
por exemplo). Dessa maneira, dois proces- um operador trabalhar (supervisionar ou
• Pré-automação: Todas as funções, sos interdependentes e subsequentes são alimentar) mais do que em um processo
inclusive detecção de defeitos rea- ajustados para atuarem juntos, mesmo que, ao mesmo tempo, pois com seus tempos
lizadas pelas máquinas, operadores em dado momento, isso signifique que um sincronizados, podemos realizar a opera-
somente corrigem defeitos. Nesse desses processos necessite trabalhar em um ção de maneira em que, quando uma está
caso, o sistema faz todo o trabalho ritmo mais lento, mas, em contrapartida, sendo realizada pela máquina, a outra está
e o operador somente verifica, de não haverá estoques intermediários entre sendo alimentada pelo operador.
tempos em tempos, se a máquina os dois processos.
está corretamente regulada; Alguns autores tais como Liker
Apesar de bastante simples, a im- (2007) definem o não uso da sincronia
• Automação: Processamento, de- plantação do conceito requer uma avalia- como uma oitava perda do processo.
tecção e correção feitos totalmente ção e vigilância constante sobre os tempos
automáticos. No caso de automação das operações, afim de não se perder seu
na sua essência, não existe a necessi- intuito e poderem ser tomadas decisões
dade de operador (um estágio muito acertadas.
difícil e relativamente caro de ser
alcançado).

Nagara

Nagara é um fonema japonês que,


traduzido, teríamos como significado a
palavra simultaneidade (ou simultaneida-
de de duas ações). Nesse caso, busca-se a
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 92

KAIZEN Sendo assim, sempre que se houve, venir excessos e desordem, verifica-
principalmente no meio empresarial, que ção constante dos resultados obtidos;
Kaizen é um fonema japonês forma- vai ser realizado um kaizen em determi-
do por “kai”, que significa desmontar, e nado local, é porque vai haver a promoção • Senso de Disciplina/Manutenção:
“zen” que significa prosperar, sendo assim, de um estudo com vistas a buscar melhoria manter o sistema, realizar a melho-
filosoficamente, pode ser entendido como de resultados mais positivos, o que é uma ria contínua sobre o mesmo.
“Melhoria Contínua”. É chamado como o prática muito salutar para as organizações,
grande “pano de fundo” por trás da ideia mas não há um método correto ou uma
“UM” SISTEMA
e filosofia do Sistema Toyota de Produ- “receita” para se aplicar kaizen.
ção, de maneira usual, e ao contrário do
que muitas literaturas pregam, não é uma Uma das formas mais simples de se O STP não é um emaranhado de
ferramenta e sim uma grande filosofia. entender o kaizen é a aplicação da meto- técnicas ou sistemáticas descritas, podemos
dologia dos 5S’s, ou seja, 5 sensos ou dis- entender ele de maneira melhor como um
Prevê a verificação constante de to- ciplinas implantadas pelos japoneses, que grande conjunto de pequenos conceitos
dos os processos da organização, verifi- visam uma melhor qualidade de trabalho, que podemos explorar e aplicar a todo e
cando possibilidades de ganhos de tempo, de vida, de resultados, etc., sendo: qualquer sistema de produção, onde o mais
economia de matéria prima, organização e importante é a adaptação dos conceitos
ergonomia, redução de maneira constante. • Senso de seleção: ter somente o ne- para a realidade de cada sistema.
cessário;
Obviamente que um sistema em O objetivo do sistema não se con-
mudança constante não está estável, então • Senso de ordenação: um lugar para cretiza se os diversos conceitos não esti-
este não é o objetivo, e sim que as siste- cada coisa e cada coisa em seu lugar; verem bem dominados e adaptados, mas,
máticas produtivas (ou ainda corporativas) mesmo assim, sempre há possibilidades de
sejam questionadas de tempos em tempos • Senso de Limpeza: manutenção de melhoria, afinal, é uma busca constante
para avaliar se não há melhores maneiras um ambiente limpo (não limpar e e ininterrupta por eliminação de perdas.
de se realizar algo (diminuir perdas, cons- sim não sujar);
tantemente).
• Senso de Saúde/Normalização: pre-
Agora, vamos a um
Autoestudo!

1. Qual é a ideia do funcionamento


do Just-in-Time?

2. Qual a importância da Estabilida-


de Operacional para o Sistema?

3. De que maneira as várias ferra-


mentas do Sistema proporcionam
o funcionamento do mesmo?

4. Você consegue identificar algu-


mas dessas ferramentas aplicadas
no âmbito do seu trabalho?
REVISANDO!!!

Existe a necessidade de uma Estabili- O Just-in-Time se apoia em diversas Com o sistema estável e trabalhando de
dade Operacional para o bom funcionamento ferramentas para que se possa realizar o pro- acordo com os objetivos da organização, pen-
do sistema, esta base garante que a operação duto dentro do prazo estipulado, compreen- sa-se então na melhoria do mesmo, onde, após
realiza suas tarefas, de modo a cumprir para dendo dentro desse prazo todas as operações, a implementação, buscar-se-á novo período
com os objetivos da organização. Nenhuma desde a aquisição do material até a entrega de estabilidade e, depois, novas melhorias,
outra ferramenta ou sistemática obtêm êxito do produto. de maneira contínua.
total sem um processo estável.
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 95

ÍNDICE DE
RENDIMENTO
OPERACIONAL
GLOBAL
Como entender em que estado o meu
sistema está? Como verificar resultados?
O Índice de Rendimento Operacional Global, na sigla
IROG, ou ainda no inglês Overall Equipment Effectiveness
(OEE) é um indicador que visa o monitoramento da eficiência
de um sistema produtivo. Segundo Antunes et. al. (2008), o
indicador IROG, muito embora a grande maioria das empresas
que o utilize acabe por monitorar o rendimento individual
de cada máquina, tem uma preocupação ampla com o fluxo
global de produção, ou seja, o fluxo de materiais no tempo e
no espaço. Cita ainda que, do ponto de vista da melhoria da
função processo, torna-se necessário focar o monitoramento e
as consequentes melhorias nas restrições do sistema, ou seja,
nos recursos que são críticos para a organização em termos
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 96

de custo operacional, dependência ou ca- eficiência busca fazer certo a coisa, utilização do equipamento em questão e,
pacidade. ou seja, o foco está no processo e de maneira muito interessante, deve ser
está ligado aos recursos aplicados aplicado a cada posto de trabalho.
Historicamente, o IROG acabou para atingir um objetivo (reduzir os
surgindo com a implementação das siste- custos, realizar a mesma produção Basicamente, o IROG é formado
máticas de TPM nos recursos produtivos com menos recursos, com menor de 3 partes:
como forma de verificar o rendimento tempo), sendo assim, relaciona as
desses recursos, o que é bastante interes- entradas consumidas com as metas •ITO – Índice de Tempo Operacio-
sante, visto que a metodologia do TPM estabelecidas. nal: verifica a disponibilidade do equipa-
busca a manutenção da produtividade da mento e corresponde ao tempo em que o
empresa (como bem explicado no capítulo Deve-se entender que não é possí- equipamento ficou disponível, excluindo-
dedicado ao tema). vel ser eficiente sem antes ter sido eficaz, -se as paradas não programadas, sendo as-
portanto, o interessante de um indicador sim, quanto menor o valor do ITO, maior
Existe sim muita confusão entre as que mede eficiência, e que o mesmo vai o número de paradas não programadas.
questões de eficiência e eficácia. Temos, verificar o rendimento em relação a um Usualmente, essa parte do indicador é atre-
de maneira geral: objetivo que fatalmente já foi alcançado, lada ao setor de manutenção de máquinas
ou seja, o IROG é um indicador que tem a das empresas;
• •Eficácia: Normalmente atrelado a finalidade de calcular o “quanto” estamos
fazer a coisa certa, ou seja, o foco utilizando o equipamento. •IPO – Índice de Performance
é no produto ou serviço prestado, Operacional: verifica o desempenho ou
sendo assim, objetiva um resultado Para representar esse quanto, uti- performance do equipamento em questão
a ser alcançado (entregar no prazo, liza-se como variável sistêmica o tempo, e expressa o desempenho do recurso pro-
entregar o produto correto, chegar sendo o indicador a razão entre o tempo dutivo em função do tempo em que ficou
a um determinado ponto), então, de valor agregado (em termos de peças em operação. Normalmente, é suscetível
realiza a relação das saídas geradas ou produtos) pelo tempo total de tempo (falho) a problemas de apontamento nas
com as metas estabelecidas; para realizar a produção no equipamento. operações, operadores mal treinados, re-
Aqui o tempo total pode ser ajustado pela dução de velocidade dos recursos. Sendo
• •Eficiência: De maneira diferente, a empresa de acordo com a necessidade de assim, usualmente essa parte do indicador
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 97

é utilizada para verificar a performance do


setor de produção, então também pode ser
utilizado como índice de produtividade do
equipamento.

• IPA – Índice de Produtos


Aprovados: verifica o nível de qualidade
dos produtos produzidos, sendo calculado
em função do tempo real de produção e do
tempo gasto com refugos ou retrabalhos,
é a parte de mais fácil visualização dentre
as 3 partes do indicador, mas necessita
de um mecanismo de detecção acurado Fonte: o Autor
Algumas observações:
(quanto maior a quantidade de produtos
inspecionados, mais real será o valor do
• Tempo Total (TT): pode ser entendido como todo o tempo disponível de uma
indicador, usualmente acaba sendo ligado
empresa (365 dias por ano e 24 horas por dia);
à área de qualidade de uma empresa).
• Tempo Não-Planejado (TNP): é a quantidade de horas que a empresa não
As três partes, da maneira com que
planejou produzir (por exemplo, não planejou produzir 365 dias por ano, não
foi definido o indicador, acabam geran-
planejou produzir 24 horas por dia);
do resultados percentuais, sendo assim, o
resultado do IROG será simplesmente a
• Tempo Total de Operação (TTO): definido pela subtração de TNP do TT, ou
multiplicação dos três índices.
seja, a parcela de tempo que a empresa decidiu por operar;
Uma visão um pouco mais ampla
• Paradas Planejadas (PP): soma de todas as paradas definidas como corretas (ou
e global das possibilidades de avaliação
planejadas) pela empresa, normalmente formada de horário de refeições, tempo
que este indicador pode trazer é visto na
de manutenção preventiva/preditiva, pausas para descanso, lanche, setup, etc.;
figura a seguir:
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 98

• Tempo Planejado de Produção para produzir o volume de produtos


(TPP): definido pela subtração de que foi realizado;
PP do TTO, ou seja, a parcela de
tempo que a empresa tem planeja- • Perdas de Qualidade (PQ ): a soma,
mento de produzir; equivalente em tempo, de produ-
tos falhados, ou ainda, o número
• Paradas Não Programadas (PNP): de produtos com problema;
é a quantidade de tempo em que fi-
caram máquinas paradas de maneira • Tempo Útil de Produção: total de
não planejada, usualmente, quebra produtos bons produzidos e que
de maquinas; podem ser enviados para clientes,
ou ainda, o equivalente em tem-
• Tempo Bruto de Produção (TBP): po teórico dos produtos que foram
definido pela subtração de PNP do produzidos.
TPP, ou seja, a parcela de tempo
que a empresa realmente produziu; O interessante do indicador é que o
mesmo pode ser aplicado a todos os recur-
• Perdas de Eficiência (PE): são os sos produtivos individualmente, ou ainda,
tempos não produtivos, tais como há um setor específico (multiplicando os
setups e ajustes não planejados, re- valores de IROG de todos os equipamen-
trabalhos, tempo de produção maior tos que compõe o setor), ou ainda aplicar
do que o definido para o item, etc.; o mesmo para a área fabril como um todo
(multiplicando os valores de IROG entre
• Tempo Real de Produção (TRP): os diversos setores).
definido pela subtração de PE do
TBP, é o equivalente ao real tempo
que a empresa produziu, em alguns
casos, considerados o tempo teórico
Agora, vamos a um
Autoestudo!

1. O que visa medir o IROG?

2. Quais as diferenças entre suas


diversas partes formadoras?

3. Que tipo de conclusões podemos


verificar com os resultados do
IROG?

4. Você consegue identificar a apli-


cação desse conceito no âmbito
do seu trabalho?
REVISANDO!!!

O Índice de Rendimento Operacional Global é um indica- Resultados reais, sólidos e prósperos somente são obtidos
dor que visa demonstrar a real eficiência do sistema, dividindo esse com sistemas eficientes, mas, para isso, é necessário conhecer a real
sistema em três partes distintas, onde a primeira visa demonstrar a situação do mesmo para realizar ações nos locais corretos.
disponibilidade de produção, a segunda demonstra a produtividade
do sistema e a terceira o nível de qualidade do mesmo.
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 101

AUTOMAÇÃO DA
MANUFATURA
Como podemos automatizar certos
processos de manufatura? O que podemos
esperar como resultados?
Do latim Automatus, que significa mover-se por si, a
automação é considerada um sistema automático de controle
pelo qual os recursos produtivos verificam seus próprios re-
sultados, realizando verificações em si próprios e se autocor-
rigindo, sem a necessidade da interferência do homem. Sendo
assim, a automação visa a não dependência do ser humano (ou
uma muito menor dependência), a fim de poder realizar mais
operações, utilizando-se da mesma quantidade de pessoas
disponíveis. Desse modo, a automação visa diminuir os custos
e os tempos de mão de obra e busca aumentar a velocidade de
realização de uma operação.

Quando tratamos de automação de manufatura não


A automação dos processos estamos buscando a automação de um processo de fabricação,
vem como uma das grandes e sim, buscando automatizar uma operação de gestão, controle
maneiras de ganhar em ou execução de uma tarefa ligada ao ato de produzir.
eficiência de recursos.
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 102

Existem diversas razões que vêm erros dimensionais, arquivamento, análise do fluxo de fluídos através, por
a justificar a automação de um processo, edição, etc.; entre ou dentro de algum objeto, por
sendo algumas delas: meio de teorias de Análise Cinemática
e Dinâmica de fluídos (CFD).
• Aumentar a produtividade da mão
de obra e reduzir seu custo;

• Realizar tarefas que não podem ser


feitas manualmente;

• Minimizar os efeitos da variação


produzida pela mão de obra;

• Melhorar a segurança do trabalha-


dor; • S i s t e m a s d e E n g e n h a r i a
Auxiliada por Computador (CAE):
• Melhorar a qualidade do produto. softwares que auxiliam em questões
mais avançadas de projeto. Muitos dos
Atualmente, existem diversos sis- sistemas de CAE, hoje, (normalmente
temas computadorizados de suporte às atrelados a algum software de CAD) já
questões de manufatura, em que os mais fazem análise de massas de produtos,
conhecidos são: verificação de interferência de monta-
gem de produtos distintos, análise de
• Sistemas de Projeto Auxiliado por tolerâncias simulando a funcionalidade
Computador (CAD): softwares do produto em situações de medidas
que auxiliam a desenhar produtos, de execução diferentes, análise de fa-
evitando o uso de papel, canetas diga dos produtos utilizando teorias de
especiais, diminuindo questões de Análise de Elementos Finitos (FEA),
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 103

• Sistemas de Manufatura Auxiliado Essa tecnologia, hoje, permite, com um mesmo, podendo prever situações de
por Computador (CAM): softwares número menor de pessoas envolvidas, velocidades de processos, movimenta-
que auxiliam nas questões de análi- realizar o Processo de Projeto, que vai ção, ergonomia, capacidade, simulações
ses, gestão e controles de sistemáticas desde a concepção até ao protótipo em de ritmo, sequenciamento de produção
de manufatura, tais como a transfe- poucos dias, demonstrando tremendos e verificação virtual do funcionamento
rência de arquivos eletrônicos para ganhos de produtividade. dos processos, muito antes do tempo
máquinas (DNC), programação de usualmente conhecido.
máquinas CNC através da simulação Há de se destacar, dentre os softwares
do processo de usinagem, execução considerados CAE, os softwares de • Sistemas de ERP: os sistemas de ERP
de protótipos de peças a partir de Projeto de Processo, onde atualmente (Enterprise Resource Plannning) ou
resinas (Impressoras 3D), simulação é possível operar virtualmente máquinas Planejamento de Recursos Corporativos
de elementos discretos ou eventos de em situações reais de produção, com são uma classe de softwares que abran-
produção (simulação de processos de programação e tempos válidos, simular gem um grande número de processos
fabricação); movimentação de operadores em uma internos da organização, que vão desde
dada situação (MTM) e até fluxos pro- o cadastro de produtos, estruturas de
dutivos, colocando todas estas questões fabricação, necessidades de produção,
lado a lado. De maneira, onde, com planejamento de produção, controle de
um alto grau de certeza, praticamente produção, compra de matéria- prima,
realizar todo o projeto funcional de um pagamentos e custos associados, etc.
processo antes mesmo de ser comprada
a primeira máquina. Fala-se em índi-
ces de acerto de mais de 90%, ou seja,
ainda sobram cerca de 10% de ajustes a
serem feitos no chão de fábrica com as
máquinas instaladas, mas efetivamente
isto é uma situação muito melhor do que
contar única e exclusivamente com a ex-
periência e catálogos de máquinas. Até
Agora, vamos a um
Autoestudo!

1. O que significa automatizar pro-


cessos?

2. Que tipos de ferramentas são


indicadas na automatização de
processos de manufatura?

3. Quais são as vantagens da auto-


matização dos processos?

4. Você consegue identificar a apli-


cação desse conceito no âmbito
do seu trabalho?
REVISANDO!!!

A automatização é tida hoje como uma das grandes maneiras O incremento de eficiência, muitas vezes, também vêm com
de aumentar a eficiência de diversas operações, visto que, após a o incremento de velocidade e confiabilidade das ações executadas.
padronização de certos processos, os mesmos podem ser replicados
por sistemas automatizados, sejam a nível de hardware ou software.
SISTEMAS DE PRODUÇÃO 106

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