Atualmente os surdos possuem uma língua reconhecida, a de sinais. Há muitos
projetos de inclusão, e até mesmo muitos ouvintes tem interesse pela linguagem. Porém nem sempre foi assim. Na antiguidade surdos eram tratados como animais. Não tinham oportunidade de serem ensinados, obter conhecimento. Eram privados até mesmo direitos como casar, herdar bens, e segundo a igreja católica, não iriam para o reino de Deus após a morte. O monge Ponce de Leon, também surdo, iniciou a mudança desse cenário, quando começou a ensinar outros surdos. Havia o pressuposto de que o surdo precisava falar para ser humanizado. Então surgiram outros defensores desse pensamento. Dentre eles: Juan Pablo Bonet, que usava o alfabeto manual para ensinar leitura. E a língua se sinais para ensinar gramática. Jacob Rodrigues Pereire, educador que fazia uso e era fluente já língua de sinais. No entanto defensor da oralidade seu objetivo era fazer os surdos falarem. Johann Conrad Amman, era opositor a lingua de sinais, porém a utilizava como meio para que os surdos adquirissem a fala. John Wallis, fundador do oralismo na Inglaterra, utilizava língua de sinais, no entanto possuiu pouca experiência com surdo. Thomas Braidwood, seu objetivo era fazer ao surdos falarem. Moura, faz a seguinte observação, que aparentemente, o oralismo tinha como argumento, a necessidade de humanizar o surdo. Porém na verdade escondia interesses particulares, dos que a defendiam, como prestígio social e lucro. Inicialmente o fracasso em “humanizar” os surdos se dava pela não utilização da língua de sinais. Havia discussões de como “curar” os surdos, pois a surdez era vista como doença. Apesar de muitos contra, ainda haviam quem intercedia junto a necessidade dos surdos. Charles Michel de L'Epée, se aproximou dos surdos por motivos religiosos, aprendeu a língua e sinais, a fim de que os surdos tivessem acesso aos ensinamentos do catolicismo, posteriormente, além da religião, L'Epée, passou a educar os surdos com conhecimentos a nível escolar. Algo que tornou esses ensinamentos um sucesso, foi a presença de um intérprete de língua de sinais em sala de aula. A partir de então os surdos viviam um marco em sua história. Estavam finalmente se relacionando, aprendendo e sendo ouvidos. Com o auge da língua de sinais, foram surgindo mais escolas para surdos. No entanto neste processo, os surdos não foram tão aceitos como esperavam. L'epée morre em 1789, tendo como brilhante sucessor Abbé Sicard, seu sucesso, despertou os defensores do oralismo. Com a morte de Sicard em 1822, Baron Joseph Marie de Gerando nomeou Jean Marc Itad como sucessor, e juntos foram grandes opositores a língua de sinais. Dando início a uma época muito difícil para os surdos. Itard não tinha preparo para educar surdos, na verdade era cirurgião. Passou a se dedicar a encontrar a causa da surdez, realizava experiências desumanas e cruéis. Moura (2000,p.). “[...] Para realizar seus estudos, ele dissecou cadáveres de Surdos e tentou vários procedimentos: aplicar cargas elétricas nos ouvidos de Surdos, usar sanguessugas para provocar sangramentos, furar as membranas timpânicas de alunos (sendo que um deles morreu por este motivo). Fez várias experiências e publicou vários artigos sobre uma técnica especial para colocar cateteres no ouvido de pessoas com problemas auditivos, tornando -se famoso e dando nome à Sonda de Itard” Para Itard tudo era válido para “curar” os surdos não importavam os caminhos. Acreditava que os surdos precisavam ser salvos, atrás da fala. Posteriormente Itard ate conseguiu com que seus alunos falassem, porém não o faziam de forma natural, e fluente. E passou a culpar a língua de sinais. Após de dezesseis anos de fracasso em suas experiências de oralização, reconheceu que os surdos só podiam ser educados através da língua de sinais. A língua de sinais permitiu aos surdos o uso de suas capacidades intelectuais e emocionais. Em 1789, ano da morte do abade de L'Epée, haviam criado cerca de vinte e uma escolas para surdos na França e Europa. Com o fracasso das tentativas de restaurar a audição dos surdos, mais uma vez Itard passou a treinar a fala, sem obter sucesso. Com a falta de fluência entre surdos e ouvintes , a língua se sinais passou a ser associada a este fracasso, pois se não existisse, os surdos não teriam outra forma de se comunicar e seriam forçados a falar. Mesmo Itard tendo se rendido a idéia de que o surdo precisava da língua de sinais, posteriormente outro influente defensor do oralismo, Alexander Graham possuidor de autoridade e prestígio, votou a favor da oralidade, no congresso Internacional de educadores surdos, em 1880, em Milão. Como sempre os surdos tiveram seus direitos massacrados, a começar pelo fato de professores terem sido excluídos da votação. Era negado ao surdo o direito de opinar sobre seu próprio futuro. Assim começou um fase de grande agonia para os surdos, pois o uso da língua de sinais passou a ser proibido, a fim de forçar a oralização. O que novamente não teve muito êxito, os surdos mal conseguiam se comunicar e ser compreendidos. E contudo, a defesa a oralização ainda persistia. Os surdos viveram então, momentos de humilhação e repreensão, quando tentavam usar língua de sinais. Foram prejudicados no aprendizado. Foram inferiorizados. Nada comparado ao passado, mas atualmente os surdos, ainda enfrentam dificuldades. Mas já conseguiram ser ouvidos e mostar sua capacidade. Capazes de pensar, agir, interagir, exercer cidadania. Ainda falta um pouco de parceria da comunidade ouvinte. Ainda é preciso mudar seu olhar em relação ao surdo abrindo mão dos preconceitos. Em alguns aspectos apenas os surdos não são e nem serão igual aos ouvintes, mais devem ser ouvidos e respeitados tanto quanto. A língua de sinais e tão rica e expressiva quanto a falada.